Descobrir vermes crípticos para conservar habitats biodiversos Júlio Francisco Hisada Pedroni1, Celso Barbieri Júnior1, Ana Laura Almeida1, Yasmin Patrícia Oliveira1, Marcos Santos Silva1, Amanda Cseh1, Marta Álvarez-Presas2, Alejandro Sánchez-García2, Marta Riutort2, Julio Rozas2 e Fernando Carbayo1 1 Laboratório de Ecologia e Evolução, EACH, USP, São Paulo, SP, Brasil 2 Departamento de Genética, Universitat de Barcelona, Espanha Brasil, país megabiodiverso, abriga na mata Atlântica uma enorme riqueza de endemismos biológicos. O seu desmatamento causou a extinção de milhares de espécies, mesmo antes de terem sido conhecidas. Uma medida eficaz para frear a extinção de espécies é a implementação dos chamados corredores ecológicos. Os corredores são faixas de vegetação criadas para reconectar manchas florestais que outrora formavam um continuum de vegetação; facilitam o fluxo gênicos e de organismos entre as manchas e, assim, asseguram a conservação das espécies. Nosso trabalho está atualmente voltado para o estudo das planárias terrestres (Platyhelminthes) em três vertentes: (a) descoberta e descrição de novos táxons; (b) detecção de áreas de endemismo; e (c) avaliação da efetividade do Corredor da Serra do Mar. As planárias terrestres são animais crípticos de microhabitats úmidos do solo. Possuem limitações fisiológicas que impedem sua sobrevivência em ambientes secos e dificultam sua dispersão. Seu elevado grau de endemicidade geográfica espelha a riqueza biótica local. Por estes motivos são animais ótimos em estudos filogeográficos aplicados à bioconservação e para a detecção de regiões de excepcional riqueza biótica. Em 2007 empreendemos os trabalhos de campo na mata Atlântica do Estado do ES até o do RS. Coletamos ca. 4000 animais de ca. 200 espécies. Gradualmente estamos descrevendo as espécies desconhecidas pela ciência, ao menos 70. Algumas espécies são crípticas -anatômica e histologicamente semelhantes-, e foram apenas ser reconhecidas por suas sequências únicas de ADN. Os primeiros resultados da distribuição geográfica das espécies indicam que as florestas do ES, RJ e parte de SP têm extrema importância biológica em razão do grande número de espécies ocorrentes exclusivamente em cada área. Para a avaliação da efetividade do Corredor sequenciamos dois genes (COI e ITS-1) de 200 indivíduos da planária Cephaloflexa bergi, coletados nos estados abrangidos pelo Corredor (RJ, SP, PR) e também no ES e SC. Com as sequências reconstruímos a genealogia dos espécimes. Obtivemos três grandes linhagens, isoladas entre si faz ca. 7-10 milhões de anos por barreiras geológicas, estas localizadas dentro e fora do Corredor. Isto significa que, no passado, a área do atual Corredor possuia barreiras internas que obstaculizavam o fluxo gênico. Portanto (a) o Corredor deveria ser redimensionado; e (b) não deveriam ser prioritariamente reconectadas manchas de floresta adjacentes que abriguem linhagens diferentes, mas manchas nas que ocorrem animais da mesma linhagem. Palavras-chave: Tricladida, planárias, filogeografia, taxonomia, bioconservação Autor correspondente: Fernando Carbayo, Tel: (11)30918102, E-mail: [email protected]