PAULO RIBEIRO OS 7 PILARES DO APRENDIZADO Usando a ciência para aprender mais e melhor A meus pais, que me criaram para amar a educação e respeitar ao próximo. Sem eles não seria quem eu sou. A Sebastian Marshall, um mentor, que com um exemplo de vida, me fez acreditar na construção de um mundo melhor e de uma vida significativa. sumário Introdução 08 Capítulo 1 14 1. A Arquitetura da mente: como o conhecimento é armazenado Para relembrar e pôr em prática 16 25 26 27 30 33 34 36 38 Capítulo 2 39 1.1 A teoria do multiarmazenamento 1.2 Conhecimento declarativo 1.2.1 Reconhecimento sensorial 1.2.2 Strings: associações simples como a base 1.2.3 Ideias 1.2.4 Schemas: como as ideias se relacionam 1.2.5 Modelos mentais: executando realidades virtuais 1.3 Conhecimento procedural 2. Os principais fatores que influenciam o aprendizado 2.1 O poder de uma base sólida 2.1.1 Como ativar e acelerar o aprendizado 2.1.2 O perigo de saber sem saber 2.2 O impacto de organizar o conhecimento da maneira correta 2.2.1 O que fazemos (de errado) no automático 41 43 47 52 54 sumário Para relembrar e pôr em prática 58 61 62 66 71 75 Capítulo 3 77 2.2.2 Diferenças entre o modo de um expert e de um principiante 2.3 A motivação e o aprendizado 2.3.1 Como desativar o modo automático de enrolação 2.3.2 Alinhando os valores de sua jornada 2.3.3 Criando confiança de modo saudável 3. A caixa de ferramentas do autodidata 3.1 O que é possível fazer sozinho? 3.2 Desenvolvendo hábitos e rotinas de sucesso 3.2.1 Força de vontade não é infinita 3.2.2 Os 4 passos para criar qualquer hábito 3.2.2.1 Identifique a rotina 3.2.2.2 Experimente com as recompensas 3.2.2.3 Isole a deixa e possíveis barreiras 80 85 86 89 92 93 94 3.2.2.4 Tenha um plano 96 3.2.3 Desenvolvendo os sistemas ideias 98 3.3 A mentalidade certa importa. E muito 100 sumário Para relembrar e pôr em prática 103 109 Capítulo 4 111 3.4 Um guia para superar a sobrecarga cognitiva 4. A arte de estudar o problema certo Para relembrar e pôr em prática 113 116 119 119 122 124 125 128 135 136 138 141 Capítulo 5 143 4.1 Trazendo a eficiência para o mundo do aprendizado 4.2 Modulando seu objetivo 4.2.1 Duas técnicas para modular seus objetivos 4.2.1.1 Referências 4.2.1.2 Entrevistas 4.3 A regra de pareto acelerando o aprendizado 4.3.1 Selecionando para acelerar 4.3.2 Utilizando os critérios certos 4.4 A ordem importa? 4.4.1 Aprendendo a falar antes de escrever 4.4.2 Dominando as finalizações antes das aberturas 5. A captura eficiente do conhecimento 5.1 Tomando notas de maneira eficiente 5.1.1 Erro comum ao fazer anotações 145 146 sumário Para relembrar e pôr em prática 149 154 156 159 166 Capítulo 6 168 5.1.2 Duas técnicas para melhorar suas anotações 5.2 Como extrair o máximo de um livro 5.2.1 Os quatro tipos de leitura 5.3 Um guia para extrair o máximo da leitura 6. Como processar o conhecimento 6.1 Flip Learning ou "indo de fora para dentro" 6.2 Transferência e a busca por conexões 6.3 Técnicas mnemônicas 6.3.1 Técnicas para processar conceitos 6.3.1.1 Metáforas 6.3.1.2 Técnica Goldfish 6.3.1.3 Mapas mentais 6.3.2 Técnicas para processar informações 6.3.2.1 Sistema Link 6.3.2.2 Sistema Peg 170 176 182 183 184 187 190 201 201 203 sumário 6.3.2.3 Palácios de memória Para relembrar e pôr em prática Capítulo 7 205 209 211 7. Desenvolva a maestria e crie a memória perfeita 7.1 O significado da maestria 7.2 A mente de um expert 7.2.1 Conhecimento em chunks 7.2.2 Padrões significativos 7.2.3 Automatismo por causa da experiência 7.2.4 Schemas e modelos mentais 7.3 As 3 características da prática deliberada 7.4 Repetição espaçada e a memória perfeita 7.4.1 Como esquecemos das coisas 7.4.2 Usando um sistema para maximizar lembranças Para relembrar e pôr em prática Conclusão Agradecimentos Referências 214 218 219 219 220 221 222 219 226 229 234 236 247 248 3. introdução T “Grande parte dos resultados vem dos métodos e das técnicas de estudo.”” estudo. odo mundo quer aprender melhor e mais rápido. Seja para melhorar o desempenho em escolas e faculdades, passar em concursos e certificações, aprender novas línguas ou dominar hobbies: aprender melhor traz resultado direto em nossas vidas. O problema é que parecemos estar fadados a depender de escolas, cursos e materiais cada vez mais caros a fim de aprender melhor. Afinal de contas, todo mundo estuda da mesma maneira e o que vai diferenciar os resultados é a qualidade dos materiais de sua preparação, certo? Errado. Aprender é uma habilidade como outra qualquer e depende muito pouco de sua capacidade original; grande parte dos resultados vem dos métodos e das técnicas de estudo. Não é conhecimento comum, mas há um corpo inteiro de pesquisas científicas em torno do aprendizado, em busca de entender como o processo acontece e como podemos fazê-lo melhor. 08 M eu interesse pelo aprendizado começou há mais de seis anos e tem permeado minha vida desde então. Na época, eu era um estudante prestes a entrar no terceiro ano do ensino médio e em um ponto-chave da vida: a preparação para entrar na universidade. Como eu venho de uma família humilde, não tinha escolha: ou aprendia da melhor maneira possível para entrar numa (concorrida) faculdade pública, ou não faria ensino superior. Não teríamos dinheiro para uma faculdade particular. Comecei, então, uma jornada pesada de estudos. E não apenas de conteúdo do colégio, mas também um tema incomum: aprendizado. Eu comecei a ativamente experimentar com técnicas diferentes de aprendizado em busca dos melhores resultados, para que eu pudesse absorver e aplicar na minha jornada de preparação. Experimentei bastante, principalmente com meus (então) calcanhares de Aquiles: história e redação. Hoje, olhando para trás, eu vejo como essa fase de experimentação com o aprendizado foi importante. Usei o conhecimento que adquiri para ser aprovado em 1º lugar nas duas maiores universidades do meu estado, o que me permitiu cursar engenharia. 09 O s resultados obtidos depois de eu ter refinado as melhores técnicas de estudo que encontrei não teriam existido se eu não tivesse investido tempo nesse garimpo. Saber a melhor forma de aprender foi essencial naquele momento da minha vida. E tem sido assim desde então. De lá para cá, já usei essas técnicas para: aprender inglês por conta própria ao nível de fluência, estudar negócios e marketing, tendo trabalhado com empreendedores de sucesso ao redor do mundo em startups e organizações filantrópicas, melhorar minha escrita a um nível profissional, aprender programação, dança de salão e tudo aquilo que me interessa. Até que chegou o momento de ensinar o que aprendi às outras pessoas, de modo que elas pudessem ficar mais perto de seus sonhos como eu fiquei. Sempre tivesse essa vontade de causar impacto, o que se traduziu em alguns projetos e blogs que se acabaram com o tempo. Exceto um, desde 2011, escrevo em um portal sobre estilo de vida e sucesso chamado Estrategistas, onde compartilho o conhecimento que tem funcionado na minha vida e na vida de mentores. No final de 2012, em uma conversa com Eduardo, com quem eu fundei o Estrategistas, durante o evento TEDxRecifeAntigo, algo clicou na minha cabeça. 10 E u já tinha um projeto sobre desenvolvimento pessoal para causar impacto na forma como as pessoas vivem suas vidas. Eu poderia fundar um projeto sobre aprendizado, agora para compartilhar conhecimento e técnicas a fim de ajudá-las a aprender melhor, um passo essencial na busca de qualquer objetivo. A partir dali, mergulhei na ciência do aprendizado. Minha ideia foi refinar todos os conceitos e técnicas que eu tinha adquirido ao longo dos anos com o conhecimento científico, atual, a respeito do processo. Fiz cursos, li vários livros, dezenas de artigos científicos, sites na internet, vi palestras, enfim, mergulhei de cabeça na área. Oficialmente, o Aprendizado Acelerado nasceu no segundo semestre de 2013. Desde então, tem sido uma jornada fantástica. Tenho conhecido muita gente, levado esse conhecimento sobre aprendizado para dezenas de milhares de pessoas pelo Brasil e pelo mundo e impactado muitas vidas no processo. Nossa comunidade não para de crescer e as pessoas estão aplicando as técnicas do Aprendizado Acelerado nas mais diversas áreas e obtendo resultados reais. Desde faculdades, escolas, concursos até aprendizado de línguas, de música e hobbies como o pôquer. Essa semana até recebi a excelente notícia que Fábio, um de nossos leitores assíduos, foi aprovado em engenharia na terceira melhor faculdade do país! Um email que fez meu dia. 11 N o final de 2013, as pessoas começaram a me pedir por um livro. Um livro sobre aprendizado, que falasse da ciência por trás do processo e contivesse as técnicas de melhor resultado em um lugar só, praticamente um manual. Comecei, então, a trabalhar na pesquisa e na escrita desse projeto. Se eu fosse escrever um livro recheado sobre aprendizado, ele precisaria ter: - Uma linguagem acessível. Afinal de contas, uma barreira grande para o acesso ao conhecimento científico atual sobre o aprendizado é o fato dele ser, bem, científico. Há muitas pesquisas e resultados interessantes na área, mas eles estão espalhados e escritos em artigos acadêmicos pela internet. Se fosse para escrever um livro, eu teria que reunir essas informações em um só lugar e fazer uso de uma linguagem acessível. - Fundamentação científica. A área do aprendizado é vastamente povoada por mitos e confusões a respeito de conceitos importantes, ocorridos principalmente quando eles vão para a mídia pelas mãos de jornalistas sem uma background científico. Não adiantaria escrever um livro com base em "achismo", por isso fui refinar minhas técnicas com uma pesquisa profunda na área. 12 - Uma abordagem prática. Conhecimento teórico é importante para entendermos como as coisas funcionam, mas a pegada de um livro útil sobre aprendizado é a parte prática. Esse livro teria que ter sido preparado, desde a concepção, com a ideia de que o leitor, ao concluí-lo, tivesse uma compreensão geral e fosse capaz de aplicar na hora o que aprendeu. Este é exatamente o e-book que você está lendo agora. Espero que ele seja útil, ajudando-o a aprender melhor, deixando você mais perto de seus sonhos. Um grande abraço, Paulo Ribeiro 13 CAPÍTULO 01 A ARQUITETURA DA MENTE: COMO O CONHECIMENTO É ARMAZENADO “U m homem deve manter seu pequeno cérebro-sótão abastecido com todos os móveis que são de provável uso e o resto ele pode pôr de lado na sala de sua biblioteca, onde ele pode pegá-los se quiser.” Arthur Conan Doyle “Um homem deve manter seu pequeno cérebro-sótão abastecido com todos os móveis que são de provável uso e o resto ele pode pôr de lado na sala de sua biblioteca, onde ele pode pegá-los se quiser ” A melhor maneira de estudar qualquer atividade é entender os princípios por trás dela. Enquanto raciocínio por comparações e a partir de exemplos é algo extremamente útil se quisermos fazer avanços significativos em qualquer área, é preciso raciocinar com base em princípios para dominar os fundamentos. Construir nossa imagem mental do que estamos estudando a partir de suas bases, de modo que obtenhamos o modelo mais realista possível e possamos trabalhar dentro dele. Para nosso estudo do aprendizado, não vai ser diferente. Começaremos mergulhando em um dos modelos mais bem aceitos pela academia para explicar o armazenamento de informações no cérebro e então estudamos a própria estrutura do conhecimento em nossa mente. Esse capítulo é essencial para compreender em que as técnicas apresentadas ao longo do livro são eficientes e por que elas funcionam. 15 1.1 A teoria do multiarmazenamento H á dezenas de teorias que visam a explicar o funcionamento da memória humana e suas particularidades. Conforme nosso entendimento de psicologia cresceu no século passado, especialmente com o surgimento do campo de estudo cognitivo e com os avanços em neurociência, as teorias inadequadas foram ficando para trás e as mais eficientes continuaram a ser selecionadas. O modelo do multiarmazenamento, também conhecido como modelo modal ou multimemória, foi apresentado pela primeira vez em 1968 por Richard Atkinson e Richard Shiffrin . Ele propõe que possuímos não um, mas alguns tipos de memória, que são diferentes em termos de duração e capacidade de armazenamento de informações. 16 O primeiro nível é a memória sensorial, a mais externa, cuja existência foi demonstrada por Sperling (1960). Ela é a nossa conexão com a realidade, ou seja, uma pequena região onde nossos sentidos, principalmente o sistema auditivo e o visual, mantêm um grande volume de informações antes de ocorrer a filtração para a região de atenção consciente, como sugerido por Coltheart em 1974. “Memória sensorial está relacionada com a transformação dos estímulos externos, que existem em várias formas.” Essa memória sensorial está relacionada com a transformação dos estímulos externos, que existem em várias formas (fótons, vibrações, cheiros, etc.) em impulsos elétricos, a "linguagem" dos neurônios. Para a visão, a duração é extremamente curta, entre meio e um segundo, até sumir da sua mente. Para a memória auditiva, a duração é entre 1 e 3s. O segundo tipo de memória é a de curto prazo, também chamada de memória de trabalho. Embora os termos sejam utilizados como significassem a mesma coisa, há uma pequena diferença: aquela se refere a nossa capacidade biológica e esta ao que o cérebro faz com essa capacidade. 17 A memória de trabalho está diretamente relacionada à nossa consciência sobre as coisas, ao nosso foco de atenção. Ela só consegue manter entre 5 e 9 itens ao mesmo tempo, dependendo da familiaridade com eles. O fato dela ser tão reduzida é apenas um dos problemas; outra dificuldade é o tempo curto que a informação passa dentro do sistema, entre 5 e 20 segundos. Isso explica o porquê das coisas escaparem de nossa atenção quando somos distraídos tentando memorizar um número de telefone, por exemplo. Para reter a informação, você precisa mantê-la ativa dentro de um buffer chamado ciclo articulatório. Estudos de laboratório mostram que o loop natural da mente dura 1,5s, ou seja, o que você conseguir repetir para si mesmo em blocos de 1,5s vai ficar gravado indefinidamente. A alternativa, muito mais prática, é fazer a transferência da informação para a memória de longo prazo. 18 A memória de longo prazo é o lugar de armazenamento permanente de informações na sua mente. Embora certamente ela esteja a mercê de doenças e acidentes com o cérebro, ela não passa pelos mesmos problemas de transiência nem de limitação da memória de trabalho. Mesmo o processo natural de envelhecimento não causa danos per se ao volume de informações que você guarda, apenas reduz a velocidade de recuperação das memórias. “Quanto mais informações absorvemos, mais fácil será absorver mais.” Tudo o que você já vivenciou, fez ou pensou na vida está guardado lá. Não só conteúdo relacionado a conhecimento/estudo explícito, mas experiências de vida, situações, pessoas, em suma, seu entendimento geral do mundo. Não há limitações conhecidas à capacidade de armazenamento de informações nessa memória. Na realidade, o princípio do conhecimento de base (que veremos no capítulo 2) nos leva a concluir que quanto mais informações absorvermos, mas fácil será absorver mais. Se essa capacidade é ilimitada e dura indefinidamente, por que ela não resolve todos os problemas? Ou seja, por que esquecemos coisas? 19 H á dois grandes problemas: a dificuldade em carregar conteúdo nessa memória, nos obrigando a desenvolver estratégias para codificar a informação de maneira adequada a conectar com o que já está armazenado, e a necessidade de utilizar estratégias para recuperar o que foi guardado lá. O principal motivo pelo qual as pessoas esquecem é o fato delas não terem aprendido direito em primeiro lugar. É natural as pessoas serem super confiantes em suas capacidades de lembrar o que é preciso, mesmo sem entender como funciona o processo de memorização ou sem nunca ter desenvolvido estratégias para codificar a informação da maneira adequada. As principais estratégias para processar o conhecimento, ou seja, transferi-lo permanentemente da memória de trabalho para a memória de longo prazo envolvem um C.R.I.M.E . 20 ° Chunking– Agrupar informações de uma maneira original de modo a fazer sentido ° Repetição– Sim, repetição é uma das formas pela qual podemos fazer essa transferência. Toda técnica tem um pouco de repetição, mas focaremos nesse tópico em si no capítulo 7 deste livro. Criar imagens mentais ° Imagens– envolvendo a informação a ser guardada. ° Mnemônicos– Qualquer metodologia que aplicamos de modo consciente a formar memórias de melhor qualidade, como criação de músicas, uso de siglas e afins. ° Elaboração– Explanar, explicar, abordar o mesmo tópico por vários ângulos, aprofundando o entendimento a respeito. N Para ficar mais claro, podemos comparar o cérebro com um computador. ão existe um equivalente direto para a memória sensorial, mas digamos que haja um termômetro medindo a temperatura da sala conectado ao computador. O espaço em que as informações obtidas pelo termômetro são convertidas em sinais elétricos e enviadas à maquina seria o equivalente à memória sensorial. 21 I ndo além, a memória RAM da máquina seria nossa memória de trabalho. No entanto, embora você sempre possa adicionar mais memória RAM a um PC, isso não acontece com a memória de trabalho, que é severamente limitada para novas informações (quando trabalhando com informações retiradas da memória de longo prazo, essas limitações somem). Por fim, há o HD do computador, responsável pelo armazenamento permanente. Lá, as informações estão guardadas de modo organizado e há protocolos de busca e recuperação de dados, fazendo do processo algo totalmente controlado. No caso da memória de longo prazo, a organização do conteúdo não é nem de perto tão estruturada e a busca é um processo pouco conhecido. A grande vantagem é: uma vez que você aprender a dominar o sistema, você tem uma capacidade ilimitada a sua disposição. A memória é apenas o espaço em si onde as informações são guardadas. Se há tipos diferentes de memória, a próxima pergunta é: há tipos diferentes de informações? Como elas se organizam dentro da memória? 22 Os tipos de conhecimento classe Procedural Declarativo tipo termos relacionados Conhecimento Procedural - Habilidades - Análise de tarefas - Conhecimento Condicional funções Para qualquer situação no ambiente, você precisa desenvolver uma série de respostas, a fim de alcançar seus objetivos Reconhecimento sensorial - Memória visual - Julgamento Táctil Você faz uso das informações sensoriais para fazer julgamentos específico sobre estímulos externos. Strings - Sequências - Cadeias - Associações simples Acessar pedaços de informações sem a necessidade de elaboração. Ideias - Proposições - Sujeito e Predicado - Fatos Permite que unidades de informações sejam armazenadas como relacionamento entre entidades discretas. exemplos - Saber como nadar - O que fazer quando se tem febre - Como trocar uma lâmpada. - Conhecer a textura e o formato dos objetos comuns - Diferenciar água morna para banho e água fervente - Saber julgar distâncias - Versos de poemas - Números de telefones - Tábuas de multiplicação - Churrasco é feito com carne. - O Brasil é um país em desenvolvimento. - Recife é a capital de Pernambuco. 23 Os tipos de conhecimento classe tipo termos relacionados Schemas - Conceitos - Abstrações - Visão geral Modelos Mentais - Solução de problemas - Pensamento hipotético funções exemplos Ideias não estão isoladas, mas organizadas em torno de estruturas abstratas de alto nível, que fornecem uma estrutura para armazenamentodos fatos. - Todos os países têm povos, leis, dinheiro, capitais etc. - Qualquer ferramenta usada para envio e recebimento de mensagem é um meio de comunicação. Como celulares e pombos correios. Ideias e schemas são usados para simular diferentes possibilidades, a fim de se resolver problemas. - O que acontece com o motor se eu demorar para passar marcha? - O que pode acontecer quando o gelo dos pólos derreterem? Declarativo Visible learning and the Science of How We Learn, John Hattie and Gregory Yates. 24 1.2 Conhecimento declarativo Em termos simples, conhecimento declarativo envolve sempre as respostas para as perguntas “O quê?”, “Por quê?” e “Quando?”. Fatos, sensações, ideias... tudo se encaixa sob a classe declarativa. É através dessa base de informações que conhecemos um pouco sobre a realidade externa (fatos, estímulos sensoriais) e interna (ideias, sensações). ? É importante saber separar o conhecimento declarativo do conhecimento procedural (este mais ligado à pergunta ‘como?’). Um problema comum que atrapalha o aprendizado, como veremos, é o estudante reter um tipo inadequado de conhecimento. Por exemplo, ele pode precisar fazer uma prova de solução de problemas “sabendo o assunto”, mas só de modo declarativo; ele não sabe o como e por isso se dá mal. Ou o contrário, ele sabe a parte operacional do assunto, aplicar as fórmulas para resolver os problemas, mas não entende o porquê ou quando aplica-las, tendo dificuldades em questões teóricas ou muito contextualizadas. 25 1.2.1 Reconhecimento sensorial O conhecimento de reconhecimento sensorial se refere a como nossa mente se relaciona com as informações dentro de nossa experiência sensorial imediata. Não temos dificuldade em diferenciar azul de preto, liso de áspero ou até processar tarefas como "preste atenção, quando o pôr do sol assumir essa tonalidade, pode bater a foto". “Reconhecimento sensorial se refere a como nossa mente se relaciona com as informações.” A tendência natural é discriminar informações que possuem significado pessoal para nós, filtrando tudo de irrelevante do plano de fundo. Nossos sentidos funcionam como qualquer outro equipamento que precisa de calibragem, o que só pode vir de experiências anteriores. Ao tocar algo muito quente ou algo muito frio, somos capazes de identificar tons entre os extremos e aprendemos o significado daquela informação sensorial. Com experiência, podemos fazer julgamentos extremamente precisos, como saber qual o "ponto em neve" de batida da clara de ovo, o quanto girar um volante para fazer uma curva e prever a trajetória de uma bola de futebol ao observar um chute. 26 O aprendizado dessa área é tipicamente não verbal. Você não consegue falar a uma pessoa que nunca cozinhou qual é exatamente o ponto em que um peru está pronto para sair do forno. A habilidade de reconhecimento sensorial depende da estimulação progressiva do estímulo (tocar na água cada vez mais quente) com o feedback correspondente (água boa, morna, quente, perigosa). Por isso algumas instruções como "bata a massa do bolo até desenvolver a consistência certa" parecem não fazer sentido para principiantes, pois elas fazem referência a um conhecimento sensorial que eles não possuem. 1.2.2 Strings: associações simples como a base. O Brasil é o ______ país mais populoso da Terra. A E I O _____ A seleção brasileira tem ____ títulos da copa do mundo. O átomo de carbono faz ______ ligações. 27 S trings, também conhecidas como ordenamento serial ou associações, são informações guardadas de modo breve, com um ponto de começo e um pequeno fluxo de dados. A habilidade de guardar informações na sequência correta é essencial para sobrevivência e, ao longo da vida, adquirimos centenas de milhares de associações, como exemplificado acima. “A habilidade de guardar informações na sequência correta é essencial para sobrevivência” Para aprender uma associação, usamos repetição simples de modo focado. Com a mente vazia, repetimos a informação em nossa memória de trabalho várias vezes, em diferentes momentos, de diferentes modos e velocidades. O velho método do olhe-diga-cubra-escreva-cheque vem a ser útil aqui. Justamente por não compreender como o aprendizado se processa em um nível global, as pessoas utilizam técnicas ineficientes de estudo. Elas cometem o erro de "quebrar" áreas inteiras do conhecimento a um punhado de associações a serem memorizadas. É isso que acontece quando tentamos apenas decorar o assunto: selecionamos pedaços de conteúdos e repetimos ad nauseum. De longe, um dos modos mais ineficientes de estudar. 28 P rimeiro, repetição em massa não é a melhor maneira de garantir que a memória seja duradoura. A comunidade científica já tem uma boa ideia de como as informações são esquecidas e a que velocidade. Com um modelo matemático com base nesses estudos, há aplicativos que te ajudam a prever quando você vai esquecer as coisas e te auxiliam a revisar. E ssa prática de repetir a associação de modo espaçado no tempo (para atingir a memória quando ela está prestes a ser esquecida) consiste o sistema de repetição espaçada, o qual discutiremos com profundidade no capítulo 7. Segundo, dividir o conhecimento em (dezenas ou até centenas de) associações não é o modo ótimo de fazer seu cérebro processá-lo. Como veremos a seguir, as informações são organizadas de uma maneira bem mais abstrata do que uma simples sequências de dados. Para que você maximize o aprendizado, é necessário aprender a organizar o assunto de outra, normalmente mais de uma, maneira (discutiremos isso no capítulo 2). 29 1.2.3 Ideias Ideias são o próximo nível de complexidade. Elas são transmitidas através de sentenças que têm propriedades como sujeito e predicado. Ideias são proposições sobre coisas, normalmente descritivas, explicitando características do 'algo' estudado ou relacionamentos daquele algo com outras partes da realidade. Por exemplo, a sentença "a bola é azul" contém uma ideia, mas "minha bola é azul" contém duas: a cor da bola e o fato de que eu possuo uma bola. P or isso, frases normalmente contêm várias ideias em conjunto. Dizer "O maior centro populacional do oeste da Austrália é a bela cidade de Perth" é transmitir várias ideias: a Austrália tem várias cidades, populações vivem em cidades, Perth é uma cidade, daí em diante. A noção de ideia implica conexões no nível conceitual, algo que vai muito além de simplesmente informação encadeada, como é o caso das associações. As coisas precisam fazer sentido para serem uma ideia, ao contrário de simplesmente memorizar frases inteiras, como fazemos ao abordar um assunto em termos de strings. 30 U m fato interessante é que as pessoas processam as informações no nível das ideias quando elas não lembram as palavras exatas que foram usadas na ocasião. Ou seja, quando a memória exata (de uma string, por exemplo) falha, lembramos da ideia que ela queria dizer. Q “Para aprendermos ideias, precisamos ser expostos a informações factuais” uando relatamos ideias para outras pessoas, usamos nossa linguagem - conjunto de palavras com as quais estamos acostumados - e não exatamente como estava escrito. Esse é o motivo de dar tanto trabalho memorizar algo palavra por palavra: precisamos quebrar em strings e usar "força bruta". Por exemplo, você pode ler agora que "A maior cidade do oeste da Austrália é Perth, que é um lugar amável". Você pode ver como a mesma sentença que leu mais cedo, mas se olhar de perto e comparar, verá que são diferentes. Para aprendermos ideias, precisamos ser expostos a informações factuais. Não importa se nos é dada de modo verbal ou escrito, mas é importante que se respeite o limite de atenção, já que o foco é requerido. O quanto você pode processar é uma função do modo como você vai processar: o fator de conexão é relevante aqui. 31 N ovas ideias se tornam significativas ao passo que elas se relacionam com o conhecimento prévio, o que permite uma certa elaboração ser aplicada à nova sentença. P ense sempre em nosso conhecimento como algo ativo, nunca como estantes vazias esperando livros. Cada pedaço novo de informação pode ser explicado e relacionado ao que sabemos de uma alguma forma. Qualquer esforço feito para empurrar a ideia mais fundo nessa rede de informações é recompensado com o aumento da resistência ao esquecimento. O truque para criar ideias persistentes é se perguntar "por que isso é verdade?". Ao responder essa pergunta, você está adensando as conexões entre o novo e o velho e "explicando com suas próprias palavras" aquele conceito. 32 1.2.4 Schemas : como as ideias se relacionam Schemas são a unidade básica através da qual organizamos nosso conhecimento. Eles fornecem a estrutura necessária que precisamos para extrair sentido de nossas ideias e fatos que de outro modo existiriam como pontos isolados, como ilhas de conhecimento. H á um schema para várias coisas em sua mente, desde objetos, situações, lugares ou qualquer coisa que precise de abstração baseada em partes. Exemplo: você tem um schema para descrever um país, de modo que quando você lê a ideia "Brasília é a capital do Brasil", fica mais fácil de guardar como parte de seu conhecimento sobre o Brasil. Schemas não são facilmente aprendidos, já que o nível de organização se torna mais complexo. Enquanto que ideias são facilmente aprendidas depois de, digamos, explicações dentro de 3 ou 4 diferentes contextos, schemas implicam um refinamento do que já sabemos, que adquirimos com nossas experiências passadas, em descrições mais fiéis do mundo a nossa volta. 33 Por exemplo, quanto mais informações sobre geografia você estuda, mais seu schema de país é refinado e melhor você entende aquilo; o que leva a surgir um schema para nação e outro para povo, refinando seus conceitos anteriores. A maneira de organizarmos a informação influencia também, discutiremos mais a respeito no capítulo 2. 1.2.5 Modelos mentais: executando realidades virtuais. Movendo-se um nível acima na hierarquia da organização do conhecimento no cérebro, chegamos aos modelos mentais. Eles são o equivalente a um programa de computador, algo que você pode simular exclusivamente em sua mente, te permitindo simular a realidade. Esse é o tipo de conhecimento que te permite engajar em resolução de problemas de verdade extraindo conteúdo de todos os schemas disponíveis. Por exemplo, se você é da área de direito, tem um modelo mental de como se procede o julgamento de um recurso, de modo que você pode adicionar informações pertinentes ao 34 caso que está trabalhando no momento e "rodar o programa". Assim, você poderá simular o que pode acontecer e agir de acordo. Claro, enquanto que modelos mentais permitem que as pessoas liberem o pensamento hipotético, o processo só será acurado na medida em que você dispuser de bastantes dados a respeito de sua situação. Por mais que você modele, digamos, a biosfera, você nunca vai conseguir extrair fatos sobre localidades específicas pois isso iria requerer informação demais. P “Pessoas diferentes possuem modelos mentais com refinamentos diferentes sobre o mesmo assunto” or outro lado, pessoas diferentes possuem modelos mentais com refinamentos diferentes sobre o mesmo assunto. Enquanto para crianças, carros são pequenos brinquedos, para um cidadão mediano é algo em que colocamos gasolina e que responde se movendo quando aceleramos. Já para um mecânico, é um sistema complexo composto pela interação de outros sistemas separados: hidráulico, mecânico, elétrico, daí em diante. As condições sob as quais os modelos mentais são adquiridos não são claramente compreendidas. Com certeza você precisa de fatos e schemas sobre os quais construir os modelos, mas exposição a experiências de desafio e exposição a indivíduos com 35 avançado nível de abstração de raciocínio (algo para você emular) parece ajudar. Conforme você se torna expert em uma área com o tempo, você se torna capaz de ativar seus modelos mentais com certa facilidade e manipular modelos inteiros na memória de trabalho, já que esta não possui limitações quando as informações são extraídas do próprio cérebro. 1.3 Conhecimento procedural Como o nome sugere, conhecimento procedural é a habilidade de realizar algum procedimento. Por exemplo, uma pessoa que nunca trocou um pneu de carro mas já leu a respeito não tem o conhecimento procedural, mas um conjunto de instruções. Se ela for trocar um pneu sozinha, é bem provável que se machuque. O conhecimento procedural vem da experiência de primeira mão em realizar alguma coisa. De um certo modo, isso termina implicando um conjunto de submetas. Cada submeta corresponde a certas atividades que precisam ser realizadas, com uma cadeia de cenários se-então. 36 Se o pneu furou, então encoste em uma área segura. Se você consegue chegar à mala, então cheque a pressão do pneu reserva. Se a pressão está boa, então remova o estepe e busque pelo macaco no carro. Daí em diante. N ão só de atividades físicas é composto o conhecimento procedural; o conceito se expande para habilidades cognitivas. Resolver equações matemáticas, por exemplo, ou realizar diferentes procedimentos enquanto se lê diferentes tipos de gêneros(uma maneira de ler poesia, outra para ler história, outra para matemática). Como ocorre a aquisição do conhecimento procedural? Através de experiência de primeira mão na qual a pessoa responde a problemas reais. Ajuda bastante a interação social, observar outras pessoas realizando, para clarificar pontos que não foram bem explicados durante a instrução. Em termos de procedimentos cognitivos, exemplos resolvidos têm um impacto grande no aprendizado, como mostram vários estudos, como aqueles de Sweller e Cooperem em 1985, e edePaas e Van Merrienboer em 1994. Em certos cenários, eles dispensam até a utilização do professor para adicionar instrução verbal extra. 37 PARA RELEMBRAR E PÔR EM PRÁTICA - Uma das teorias mais bem aceitas divide a memória humana em três tipos: sensorial, curto-prazo e longo prazo. - A memória sensorial está ligada aos sentidos; é muito curta, durando apenas alguns segundos. - A memória de curto-prazo, também chamada de memória de trabalho, é onde reside nossos pensamentos. Ela retém poucas informações ao mesmo tempo, de 4 a 7 coisas diferentes, e não é durável. - A memória de longo prazo é onde fica armazenado tudo que sabemos. - Como não é um lugar bem organizado como um computador, facilita o aprendizado desenvolvermos métodos para guardar e buscar informações nela claramente. - Saber os tipos diferentes de conhecimento é importante para entender como as memórias se organizam no cérebro. - O conhecimento pode ser dividido em procedural, relacionado com procedimentos e passo-a-passos, e declarativo, relacionado com fatos e informações. - O conhecimento declarativo se divide em: reconhecimento sensorial, strings, ideias, schemas (unidade básica da memória) e modelos mentais. 38 CAPÍTULO 02 OS PRINCIPAIS FATORES QUE INFLUENCIAM O APRENDIZADO 2. Os principais fatores que influenciam o aprendizado “O todo é mais do que a soma de suas partes” Aristóteles P “Para aprender melhor, é essencial saber o que você pode fazer para melhorar o processo.” ara aprender melhor, é essencial saber o que você pode fazer para melhorar o processo. Ao entender como o sistema funciona e quais são suas partes principais, você pode fazer um esforço consciente nas atividades que trarão os melhores resultados no estudo. E, como Aristóteles colocou de modo perspicaz, o esforço separado em melhorar cada um dos fatores, já que eles interagem positivamente entre si, vai dar em retorno mais do que a soma de suas partes. Um investimento e tanto. Neste capítulo, estudaremos os principais fatores que influenciam no aprendizado de modo aprofundado e o que você pode fazer de melhor em cada ponto. São eles: a influência do conhecimento de base, a forma de organizar as informações enquanto as aprende e a relação da motivação com o aprendizado. 40 2.1 O poder de uma base sólida "Se eu tivesse que reduzir toda a psicologia educacional a apenas um princípio, eu diria que o fator mais importante influenciando o aprendizado é o que o aprendiz já sabe. Averigue isso e ensine de acordo." David Ausubel Um grande determinante da velocidade do aprendizado é o conhecimento prévio, o que a mente já sabe. É muito mais fácil trazer novas informações para um conhecimento bem organizado e já construído do que começar do zero. O conhecimento prévio é mais importante do que QI ou estilos de aprendizado em termos de efeitos sobre o aprendizado. Um estudo focado em memória, feito por Peter Morris e sua equipe em 1981, contou com estudantes com vários níveis de conhecimento sobre futebol. Ao serem pedidos para memorizar placares de jogos, os estudantes com mais conhecimento prévio sobre o jogo tiveram maiores taxas de sucesso. Em outra pesquisa, por Alice Healy e James Cole em 2007, estudantes de universidade mostraram uma taxa de memorização 100% maior quando pedidos para memorizar a mesma quantidade de fatos sobre pessoas conhecidas do que sobre pessoas desconhecidas. 41 A s pessoas entendem a importância de ter uma base bem feita, mas parecem ser incapazes de determinar o quão importante é. Normalmente só levam em consideração quando a ausência da base está incapacitando o aprendizado; não conseguem imaginar o quanto o processo pode ser acelerado se o conhecimento priori for reforçado. Digamos, por exemplo, que eu pergunte a alguém o que é preciso saber para resolver uma equação do 2º grau. A resposta é algo como "ah, essa é fácil, é só saber fazer conta e usar a fórmula de Bháskara". Bem, não é só isso. Você precisa estar confortável com expressões numéricas, potenciação, sistemas de equações, fatoração de expressões e operações básicas. Uma pessoa com todas essas áreas cobertas se torna muito mais eficiente ao resolver equações do 2º grau, possuindo um schema mais acurado do processo. Isso é só um exemplo de como as pessoas não pensam até o final quando se trata de conhecimento de base. Além de servir como terreno sobre o qual as ideias futuras serão sedimentadas, ele serve, ao mesmo tempo, como filtro de informações importantes. 42 A final de contas, com base no que sabemos, realizamos julgamentos a respeito da relevância de novos fatores durante o momento do estudo. No entanto, não ter o conhecimento necessário, ou tê-lo de modo deficiente, pode se provar desastroso. Estudaremos como contornar esses casos a seguir, começando por como ativar o conhecimento prévio caso você já o tenha. 2.1.1 Como ativar e acelerar o aprendizado Mesmo que tenhamos o adequado conhecimento de base, nem sempre o ativamos como deveríamos ou quando precisamos. Por exemplo, em um famoso estudo feito por Gyck e Holoyakem 1980, estudantes de faculdade foram apresentados a dois conjuntos de problemas para serem resolvidos aplicando o conceito de convergência. Mesmo sabendo a solução para o primeiro problema, os estudantes não aplicavam o princípio automaticamente para a segunda situação. Contudo, quando foram solicitados para pensar como o segundo problema se relacionava com o primeiro, 80% dos estudantes foram capazes de resolvê-lo. 43 D urante o processo do estudo, se perguntar o porquê de algo ser verdadeiro ou inesperado, se for o caso, foi o modo como os experimentadores conseguiram que adultos lembrassem mais fatos de parágrafos estudados. Esse procedimento auxiliou estudantes a gerar conhecimento prévio condizente com o material, melhorando a performance em comparação com os demais. Não apenas basear-se em conhecimento passado, mas também em prévias experiências pessoais trouxe resultados interessantes ao processo do aprendizado, como mostra o estudo feito por Joan Garfield e sua equipe em 2007. Perguntar-se como aquele conceito se aplica a situações pelas quais você passou ou que são próximas a você também ajuda gerar conhecimento prévio relevante, acelerando o processo do aprendizado. 44 E sse efeito ocorreu mesmo com os estudantes sendo apresentados às situações no mesmo dia, com menos de uma hora de diferença. O modo de resolver estava ali, só não havia sido ativado. É algo que faz você se perguntar: "Quantos problemas eu conseguiria resolver se ativasse o conhecimento que já tenho? Obtido dois anos atrás, ou em outra disciplina, ou em um livro perdido que li em algum lugar?". Seu conhecimento está ali, só precisa ser usado. A pergunta é: como ativá-lo? Uma quantidade grande de pesquisas mostra como pequenos empurrões, lembretes simples (como a feita por Bransford & Johnson, 1972), ou perguntas elaboradas (estudo feito por Woloshyn, Paivio, e Pressleyem 1994) ajudam a ativar o conhecimento prévio do estudante. Interessante, sem dúvida, quando estamos na posição de estudante, com alguém competente para nos guiar no processo. Todavia, o que fazer quando estamos estudando sozinhos para obter efeitos parecidos? 45 Adaptamos essa estratégia, chamada elaboração interrogativa, e aplicamo-na a nós mesmos. Durante o processo do estudo, se perguntar o porquê de algo ser verdadeiro ou inesperado, se for o caso, foi o modo como os experimentadores conseguiram que adultos lembrassem mais fatos de parágrafos estudados. Esse procedimento auxiliou estudantes a gerar conhecimento prévio condizente com o material, melhorando a performance em comparação com os demais. Não apenas basear-se em conhecimento passado, mas também em prévias experiências pessoais trouxe resultados interessantes ao processo do aprendizado, como mostra o estudo feito por Joan Garfield e sua equipe em 2007. Perguntar-se como aquele conceito se aplica a situações pelas quais você passou ou que são próximas a você também ajuda gerar conhecimento prévio relevante, acelerando o processo do aprendizado. 46 2.1.2 O perigo de saber sem saber A situação é a seguinte: você está fazendo uma prova importante e, no meio dos questionamentos, se depara com uma pergunta sobre um assunto que você estudou, mas não sabe como responder. É aquela sensação familiar de "eu sei isso, estudei dia tal e tal", mas por algum motivo, você não consegue lembrar exatamente o ponto perguntado. Sensação bastante frustrante. O que não é conhecimento geral é que 'competência' em determinado tópico varia numa escala que vai além da binária (sabe/não sabe). Varia de familiaridade superficial ("Eu já ouvi falar sobre isso"), a conhecimento factual ("Eu poderia definir esse ponto"), a conhecimento conceitual ("Eu poderia explicar a alguém"), a aplicação("Eu consigo usar para resolver problemas"). No caso do exemplo anterior, apenas familiaridade não é suficiente para resolver questões objetivas, aquelas de marcar X - exceto as mais triviais, claro. “Ter visto algo sobre aquilo em algum lugar” não é domínio suficiente para acertar uma pergunta. 47 N o caso de provas discursivas, quando você estará respondendo por extenso aos questionamentos, o requerimento é ainda maior: é preciso um domínio no nível conceitual e, caso sejam contextualizadas, no de aplicação. É essencial saber qual o seu nível de conhecimento nos tópicos de base para julgar se será preciso reforçá-lo ou não. Ter um tipo de conhecimento e precisar de outro pode ser igualmente um problema. É o perigo de achar que sabe sem saber. É comum, por exemplo, estudantes possuírem conhecimento declarativo, mas não saber executar (procedural). Estudos na ciência do aprendizado, como o realizado por John Clement, em 1982, mostram que mesmo se estudantes dominam fatos, por exemplo, sendo capaz de afirmar "Força é igual a massa vezes aceleração", normalmente são fracos em aplicá-los. Esses estudantes ao seguirem para outro assunto, como o estudo de polias, serão incapazes de aprender. Insistência,nesse caso, não vai ajudar, mesmo que eles "saibam" a segunda lei de newton, pois eles possuem o conhecimento no nível errado. 48 Para lidar com isso, uma boa estratégia: 1 Faça uma pesquisa bem feita do conhecimento necessário para abordar o tópico que você está tentando aprender. Conversar com professores e pessoas que já aprenderam o que você deseja ajuda. 2 Faça uma lista de tudo o que é preciso saber junto com o respectivo nível requerido (Conceitual? Factual? Procedural?). 3 Para cada tópico necessário, faça uma avaliação correspondente. Se for preciso um nível factual, basta checar as informações mais importantes. Se uma compreensão conceitual é requerida, monte explicações como se estivesse ensinando o conteúdo a alguém; daí em diante. Desse modo, você poderá julgar se detém o nível necessário para estudar o que deseja. 4 Dê um passo atrás, corrija o que encontrou de deficiência para então começar o assunto alvo. 49 C laro, você não precisa realizar o procedimento acima de modo detalhado para tudo que quiser aprender (embora esse seja cenário ideal). Se você está na faculdade estudando Fisiologia 3 é porque foi aprovado nos pré-requisitos existentes, então se assume que você tem o estudo prévio preciso. Você encontrará o método acima mais útil quando sair de sua área direta. Por exemplo, um estudante de serviço social que precisa estudar uma disciplina de estatística (e há anos não estuda matemática). Outro problema em potencial com o conhecimento que você já possui é utilizá-lo de modo errado. O raciocínio análogo (comparação com o que você já sabe) é útil e uma ferramenta poderosa, mas precisa ser acompanhado de limites; caso contrário, torna-se contraproducente. Por exemplo, músculos esqueléticos e cardíacos são parecidos em sua constituição; logo, extrair analogias entre eles faz sentido até certo ponto. Contudo, as diferenças no funcionamento deles são sensíveis e vitais para entender melhor suas respectivas operações e isso precisa ser destacado; o que normalmente não é. 50 T anto que a equipe de pesquisa de Rand Spiro em 1989 descobriu que muitos estudantes de medicina possuem uma informação incorreta sobre uma potencial causa de falha cardíaca que pode ser rastreada à distinção deficiente entre esses dois tipos de músculos. A boa notícia é que, mesmo sendo um erro comum que passa despercebido, a solução é simples. Os estudos, como o trabalho do próprio Spiro, mostram que garantir que os estudantes conheçam os limites para as analogias, sabendo onde falham e quando não podem ser utilizadas, ajuda a evitar o erro. 51 2.2 O impacto de organizar o conhecimento da maneira correta Se o conhecimento prévio é um fator relevante ao aprendizado pois determina a base sobre a qual se absorve novos conteúdos, a maneira como organizamos esse conhecimento prévio e o novo está relacionada à facilidade com que aprendemos. O cérebro humano anseia por padrões e sentidos em todo tipo de informação que encontra; ele evoluiu para isso. “O cérebro humano anseia por padrões e sentidos em todo tipo de informação que encontra; ele evoluiu para isso.” Quer um exemplo simples? Olhe para cima em um dia ensolarado e observe o céu por alguns instantes. Não vai levar um minuto para observar alguma nuvem com formato conhecido passando. A parte curiosa? Nuvens não possuem forma intrínseca, elas não foram desenhadas; ao olhar para uma configuração aleatória, nosso cérebro automaticamente imprime algum tipo de sentido naquilo que vemos. Daí surgem as nuvens com formato de sorvete, de passarinho e afins. Como vimos no capítulo passado, a unidade básica de organização das informações no cérebro são os schemas, estruturas de abstração que contém fatos e ideias para representar pedaços da realidade. 52 S e manipulamos a informação de modo a ficar mais similar ao nosso "formato padrão", temos muito mais chance de lembrar o que desejamos. Ou seja, a forma como organizamos, caracterizamos e conectamos os fatos entre si influencia diretamente nossa taxa de aprendizado e memorização. Por exemplo, em 1982, Gary Bradshaw e Jonh Anderson pediram para um grupo de estudantes memorizar vários fatos sobre algumas figuras históricas. Metade do grupo recebeu fatos históricos não-relacionados, como "Newton se tornou emocionalmente inseguro e instável quando criança","Newton foi nomeado diretor do London Mint" e "Newton participou da Trinity College em Cambridge".A outra metade recebeu fatos relacionados entre si de alguma forma, como "Newton se tornou emocionalmente inseguro e instável quando criança", "O pai de Newton morreu quando ele nasceu" e "a mãe de Newton se casou novamente e deixou-o com a avó". 53 R esultado? O grupo que recebeu as informações que possuíam alguma relação significativa entre si teve uma taxa de memorização muito maior. Olhando mais de perto, vemos o resultado como a diferença entre tentar memorizar fatos como strings, e fatos relacionados, como schemas. 2.2.1 O que fazemos (de errado) no automático. Durante o aprendizado no dia a dia, não prestamos muita atenção consciente a questões como "organização do conhecimento". No modo automático, assumimos que a maneira apresentada pelo livro que escolhemos é a única e pronto; lemos, tentamos memorizar, fazemos exercícios e seguimos em frente sem entender porque esquecemos a informação tão facilmente. O fato é que organização não só ajuda, mas organização deficiente ou inadequada atrapalha. 54 N o modo automático, terminamos por juntar os fatos em contiguidade temporal (uma coisa depois da outra em termos de quando aconteceram) porque, de algum modo, isso é intuitivo para gerar relações de causa e consequência (apertou o interruptor, a luz apagou). Contudo, isso nos causa bastante dor de cabeça quando fazemos de modo impensado. Digamos, por exemplo, que você quer estudar os pensadores iluministas. A lista é enorme (várias dezenas) e cada um possui um período associado, um país de origem, ideias principais e obras importantes. A pior maneira de fazer isso seria sem organização alguma, simplesmente memorizando a lista completa e os atributos relacionados (um punhado de strings). Separar os pensadores por países seria menos ruim, mas só isso não ajuda tanto. Já categorizar pelo foco das ideias - separar o grupo que se concentrou em refutar religiões, do grupo que questionou os valores sociais, daquele preocupado com o avanço científico é bem mais útil para entender a relação entre os participantes e conectar o conhecimento aprendido (alguns schemas bem ricos). 55 U m estudo clássico feito pelo conhecido Anders Ericsson e sua equipe em 1980 (falaremos mais dele no capítulo 7) demonstra isso, ainda que numa escala menor. Ele documentou como alguns estudantes de faculdade com memórias normais puderam desenvolver a habilidade incríveis de memorizar longas sequências de dígitos ao organizar o que estavam aprendendo em uma estrutura hierárquica de vários níveis. Os estudantes eram também competidores de atletismo, então ao se deparar com uma sequência de números, eles quebravam em pedaços e davam sentido a eles (uma técnica chamada chunking, falamos dela no capítulo 1), organizando-os depois disso. Por exemplo, "....3432..." podia ser lembrado como "34:32, o recorde mundial para ..." e "...12456..." como "1:24:56, o recorde olímpico feminino de ...". A seguir, eles organizavam isso em grupos, como "recordes olímpicos", "recordes nacionais para a prova z", etc.. Esse procedimento empoderou estudantes normais a lembrar sequências de até 100 dígitos sem auxílio externo algum! 56 O utro estudo com resultados impressionantes sobre o poder da organização adequada foi feito por Gordon Bower e sua equipe em 1969. Ao receberem uma lista de minerais a ser memorizada, os estudantes aos quais os itens foram fornecidos em hierarquia (metais versus pedras como categorias, e subcategorias dentro delas) tiveram resultados de 60 a 350% melhores do que aqueles com apenas a lista de minerais. A pergunta, então, fica no ar: como podemos replicar esse tipo de resultado quando estudamos por conta própria, sem ter quem nos forneça diretamente esse tipo de organização? A resposta para isso está em entender as diferenças entre as mentes de experts e de principiantes, replicando técnicas úteis desde o princípio. 57 2.2.2 Diferenças entre o modo de um expert e de um principiante O A C B D s quadros A e B são exemplo de organizações mentais que provavelmente utilizamos quando começamos a estudar um assunto. Ou não integramos os conceitos, fatos e exemplos o suficiente, como no quadro A, ou utilizamos categorizações simples, lineares (como a separação temporal de nosso exemplo sobre iluminismo), que são insuficientes para nos dar uma compreensão aprofundada do assunto. Já os quadros C e D são exemplos de como experts organizam o conhecimento (ainda que inconscientemente). A figura acima representa alguns exemplos de organizações do conhecimento em nossa mente. 58 N a figura C, vemos uma hierarquia clara, de modo que é fácil entender como os pontos se relacionam. Já a figura D, embora possa parecer o mais aleatório de todos os quadros, é na realidade o mais poderoso: o fato de tudo estar conectado fornece ao expert a possibilidade de usar múltiplas organizações, adequando-se à situação e usando o conteúdo de modo mais eficiente. Dois grandes fatores chamam atenção: a quantidade e a densidade de conexões. Na hora de estudar, podemos conscientemente fazer uso de procedimentos que nos permitam, como iniciantes na área, desenvolver mais rapidamente esse tipo de organização e, por conseguinte, obter resultados mais rápidos no aprendizado. Como fazer isso? O procedimento é: focar primeiro no cenário geral e só então buscar absorver detalhes. Vejamos a aplicação disso em nosso exemplo. Um grupo de estudantes, como vimos, está estudando os pensadores iluministas. 59 E les já descobriram que certos modos de agrupar os pensadores são melhores do que outros (que são melhores do que estudar sem organização). O que eles podem fazer para abordar o tema como experts e acelerar o aprendizado? Eles poderiam começar analisando fatores históricos e geopolíticos dos países envolvidos durante o período do Iluminismo. Como estavam economicamente? Qual era o estado geral da população, havia guerras externas, guerras civis? O que levou certos pensadores a se revoltarem especificamente contra religiões, as crenças predominantes eram opressoras? Os pensadores focados em ciência viviam em países com mais recursos a serem destinados a pesquisas? Ao investir um pouco de energia estudando o cenário no qual os iluministas estavam imersos ao invés de pular direto para a memorização, os estudantes terão uma visão muito mais rica dos pensadores e a necessidade de memorização direta vai cair porque haverá compreensão. "Quais os principais ícones do Iluminismo na Alemanha?". 60 2.3 A motivação e o aprendizado "Motivação faz referência ao investimento pessoal que um indivíduo tem em buscar um estado ou objetivo desejado" Martin Maehre Heather Meyer, 1997. No contexto do aprendizado, a motivação influencia a direção, a intensidade, a persistência e a qualidade dos comportamentos de aprendizado nos quais os estudantes se engajam. Não é necessário espressar o quão importante alinhar a motivação do estudante é, pois no final das contas, ela controla o grau de esforço (consciente e inconsciente) é investido no processo. Para quem está estudando por conta própria, a motivação assume uma importante dimensão. Enquanto quem está usando escolas, cursos e treinamentos também precisa ajustar a motivação para melhorar o processo de aprendizado, quem estuda sozinho precisa estar motivado até mesmo para sentar e estudar, já que não há pressão externa para isso. Portanto, trataremos da motivação cuidadosamente. 61 2.3.1 Como desativar o modo automático de enrolação Uma das maneiras mais comuns (e desconhecidas) de autossabotagem é a sinalização. A pior parte é que ela está tão enraizada em nosso cérebro primitivo que é difícil julgar quando está acontecendo, afetando a vida de muita gente sem nem que elas saibam. S inalizar, como a palavra sugere, é dar alguma forma de indicação que você está realizando determinada atividade, para si mesmo e para os outros. Por exemplo, um adolescente pode passar a tarde inteira na internet, navegando a esmo e se distraindo nas redes sociais, mas quando os pais passam pelo corredor para checar seu quarto, ele fecha tudo e abre os livros. Desse modo, ele sinaliza para os pais que está estudando sem realmente fazê-lo. O modo como isso afeta nossas vidas é que normalmente engajamos em atividades que sinalizam características desejadas, que nos fazem parecer fazer algo, sem ser necessariamente o melhor caminho para alcançar o objetivo. 62 N o fundo, é a necessidade de nosso cérebro social em busca de validação externa. O adolescente precisa que os pais pensem que ele está estudando, por isso ele engaja em atividades que envolvem mais sinalizar do que realmente estudar. Esse fenômeno pode, inclusive, assumir o formato de autossinalização, quando inconscientemente sinalizamos para nós mesmos alguma característica desejada, sem persegui-la de verdade. Nina Mazar e Chen-bo Zong, em 2009, trouxeram à tona um caso interessante de autossinalização. Eles mostraram que pessoas que compram produtos "verdes" (ambientalmente saudáveis) são mais propensas a trapacear e roubar depois da compra, o que supostamente ocorre porque elas já fizeram a "boa ação moral" do dia. Richard Beck, um teologista experimental, encontrou um fenômeno similar entre os religiosos: eles são menos propensos a fazerem boas ações depois de irem à igreja, por exemplo, pelo mesmo motivo. 63 N o aprendizado, isso se manifesta de diversas formas. Ir para aulas em escolas, faculdades ou cursos é uma delas: a maioria das pessoas não aprende tanto quanto poderia nesses contextos, mas continua frequentando pois é o "papel" esperado pela sociedade de um estudante. Outra é quando as pessoas preferem vídeo-aulas a livros, já que elas são mais 'fáceis' de consumir e passam a impressão de que o aprendizado está ocorrendo. Para corrigir esse problema, não há um antídoto óbvio. É necessário que você esteja analisando constantemente as tarefas nas quais se engaja em busca do melhor método para fazer aquilo. Não o mais tradicional, não o que é esperado de você no processo, mas o melhor método para fazer a coisa acontecer. O curioso é que as evidências apontam que nosso estado natural seja essa enrolação. 64 E m um estudo feito por Carol Dweck e Ellen Leggett em 1988, foi observado que que quando guiados por objetivos de performance (foco em tirar boas notas ou ser aprovado em concursos), que é o caso mais comum, estudantes se preocupam com padrões normativos e tentam fazer o que é necessário para demonstrar competência a fim de parecer inteligente, ganhar status e adquirir reconhecimento. “Ao invés de focar apenas no objetivo, valorize a jornada” O objetivo final, o aprendizado, passa a ser coadjuvante no processo de sinalizar aprendizado, dar a entender que está fazendo o que se espera, o que é um problema considerável para quem está de fato interessado em alcançar o que se propôs. Felizmente, a correção para o problema é fácil. Ao invés de focar apenas no objetivo, valorize a jornada. Claro, isso não quer dizer “deixar de querer passar naquele concurso de seus sonhos”. Não! Isso quer dizer entender que para passar no concurso, você precisa aprender bem o que for necessário estudar, seja português, direito ou matemática. Você passa a cultivar um interesse real pelo que estuda, a nutrir a vontade de ficar bom naquilo, não apenas se concentrar aonde quer chegar. 65 E isso funciona. As evidências são amplas de como usar objetivos de aprendizado, ao invés de objetivos de performance, melhora o rendimento do estudante. É mais provável que eles usem estratégias de estudo que levem a uma compreensão profunda do tópico, que busquem ajuda quando precisam e que se sintam confortáveis com tarefas desafiadoras, como mostram os estudos de Carter e Elliot em 2000 e de Mcgregor e Elliot em 2002. 2.3.2 Alinhando os valores de sua jornada “A importância de um objetivo, frequentemente referida como seu valor subjetivo, influencia a motivação.” Se fôssemos desconstruir a motivação para o processo de aprendizado, o que encontraríamos como espinha dorsal? Embora haja várias teorias para tratar disso, boa parte delas contêm dois fatores principais: o valor subjetivo da meta e as expectativas de ter sucesso no objetivo (como apontado por John Atkinson em 1964 e outros pesquisadores). Comecemos, então, discutindo o valor subjetivo de uma meta. A importância de um objetivo, frequentemente referida como seu valor subjetivo, influencia a motivação, já que só perseguimos metas com alto valor percebido. 66 P or exemplo, você estará bem mais motivado para estudar inglês, se for requisito para ser promovido, do que para estudar uma língua aleatória, como o esperanto, sem razão alguma. 'Valor' em si pode ser derivado de várias fontes diferentes. Allan Wigfield e Jacquelynne Eccles sugerem três categorias amplas: de obtenção, intrínseco e instrumental. Estudemos cada uma separadamente e vejamos como alinhá-las para maximizar nossa motivação durante os estudos. Primeiro, o valor de obtenção representa a satisfação que a pessoa obtém da maestria e do alcance do objetivo ou da tarefa. É aquela sensação boa que temos quando concluímos algo difícil, seja passar de nível no jogo do computador ou a resolução de um problema complicado de física. A segunda fonte é o valor intrínseco, que representa a satisfação que obtemos em realizar a tarefa em si, independente do resultado final do processo. 67 E le aparece quando estamos fazendo algo que gostamos, como gastar horas para aprender aquela música na bateria ou quebrar a cabeça estudando astronomia. A fonte final é o valor instrumental, que representa o quanto uma atividade ou um objetivo ajuda a alcançar outros objetivos importantes, levando ao recebimento de recompensas extrínsecas. Reconhecimento, dinheiro, bens materiais, carreiras interessantes ou bons salário são todos objetivos de longo prazo que podem fornecer valor instrumental para objetivos de curto prazo (esudar inglês – curto prazo – a fim de se mudar para Londres – longo prazo). Vejamos um exemplo para classificar o alinhamento dos três valores. Digamos que eu objetive ser aprovado em uma prova de certificação, a fim de aplicar para uma nova posição na empresa em que trabalho. Para tanto, preciso estudar várias disciplinas, algumas das quais não me interessam nem um pouco. Como alinhar meus valores para me manter motivado ao máximo enquanto estudo? 68 E m primeiro lugar, eu preciso extrair o máximo de valor de obtenção possível (o prazer que temos ao alcançar coisas), principalmente no que toca às disciplinas que não gosto. Para tanto, eu vou atrás das "frutas mais baixas da árvore"; em outras palavras, persigo as vitórias fáceis. Começando debaixo, com os conceitos mais simples, eu inicio um ciclo de vitórias para me manter motivado. Eu ataco o tópico mais simples da disciplina, domino-o, e uso a sensação boa de estar progredindo para alimentar meu avanço a tópicos um pouco mais complicados. Aos poucos, eu vou cobrindo o assunto inteiro, mantendo o moral alto. Quanto ao valor intrínseco, parece não haver muito o que fazer. Afinal de contas, ou você sente prazer executando uma tarefa ou não, certo? 69 V ocê está fadado a gostar de estudar as matérias que te agradam e não apreciar as matérias que não te interessam? Os resultados de alguns estudos dizem que não. Suzanne Hidi e Ann HIDI &Renninger, em 2006, mostraram que uma tarefa que inicialmente só possui valor instrumental para o estudante (aprender para passar na certificação e obter aumento) pode vir a desenvolver valor intrínseco (prazer em praticar) com o tempo, conforme ele absorve conhecimento e fica melhor naquilo. Em palavras simples, não gostar não é desculpa para não começar; você vai começar a aproveitar a atividade uma vez que comece a ficar bom naquilo. Então comece! Resta-nos cobrir o conjunto de valores instrumentais. Por que você quer essa certificação? Pense até o final. Seu objetivo de vida, qual é? Se você deseja melhorar sua renda pois está se preparando para ter um filho, tirar a certificação faz todo sentido. 70 P orém, se seu interesse é apenas financeiro, já que você nem gosta mais da carreira que persegue e quer apenas aumentar a renda, por mais que você se force a estudar, é bem provável que sua motivação quebre ao longo do caminho. Afinal de contas, as motivações não estão muito bem alinhadas, você precisa pensar num objetivo que conecte tudo de modo a se manter motivado a vencer as adversidades naturais de aprender uma grande quantidade de conteúdo para obter uma certificação. 2.3.3 Criando confiança de modo saudável “Confiança genuína é uma maneira de pensar sobre si mesmo e suas habilidades.É sua percepção de seu próprio potencial; é um tipo de pensamento de longo prazo que te empodera através de obstáculos e momentos difíceis, te ajudando a resolver problemas e te colocando no caminho do sucesso.” John Eliot John Eliot é um expert mundial da área de performance de alto nível. Ele trabalha com atletas campeões, homens de negócio de grandes empresas, médicos respeitados e músicos famosos. Dentro de minhas pesquisas, ele é uma das poucas pessoas que realmente entendem o que é confiança. 71 N ão se tratar de repetir para si mesmo que é possível ou que aquilo vai dar certo. Não, você não é bobo o suficiente para acreditar em algo só porque é repetido várias vezes. Confiança se trata de olhar objetivamente para o que você quer alcançar, reconhecer a dificuldade real do caminho e acreditar que, se você colocar o esforço necessário, é possível. Não tem nada de esotérico ou surreal a respeito; é algo bem conectado com a realidade. Todo esse conceito de confiança se conecta bem com a ideia de expectativas em torno de sua meta de aprendizado. Como vimos, motivação pode ser resumida a alto valor esperado (que aprendemos como alinhar os vários tipos de modo a maximizá-lo) mais expectativas ajustadas em relação à linha de chegada. 72 O ponto é que a motivação para aprender não acontece se o estudante não possui uma expectativa de resultado positivo, ou seja, se ele não acredita que é possível conseguir o que deseja, como explicado por Charles Carvere Michael Scheierem 1998. “Só acreditar que é possível não é suficiente para manter a motivação de pé.” Aquela tática de "encorajamento reverso", quando você diz à pessoa que ela está tentando algo difícil demais para o potencial dela não funciona se a pessoa realmente acreditar no que você está dizendo.Ela não se sentirá extramotivada por ser julgada incapaz como nos filmes. Por outro lado, só acreditar que é possível não é suficiente para manter a motivação de pé.Albert Bandura, em seu livro “Self-efficacy: The exercise of control” confirma isso, que o estudante precisa desenvolver o que chamamos de expectativa de eficácia; em outras palavras, ele precisa se sentircapaz de identificar, organizar, iniciar e executar um plano que vai trazer o resultado esperado. Se você não acredita ser possível, vai desenvolver comportamento 'vitimista' na situação. 73 S e acredita que é possível mas não confia na sua capacidade de executar, vai atrapalhar com sua autoestima. Novamente, esse não é um tipo de situação com antídoto claro, mas boas práticas incluem (1) procurar pessoas que já alcançaram algo parecido com o que você almeja e (2) buscar entender a eficácia das estratégias delas para montar a sua de modo adequado. “Se acredita que é possível mas não confia na sua capacidade de executar, vai atrapalhar com sua autoestima.” 74 PARA RELEMBRAR E PÔR EM PRÁTICA - Ter um conhecimento de base robusto e aplicá-lo de maneira adequada é o fator de maior influência no aprendizado. Por isso, tente sempre buscar algo que você já sabe que possa ajudar no estudo do novo assunto. - Interrogar-se a respeito do porquê de algo acontecer ou ser diferente do esperado tem um impacto grande em ativar o conhecimento de base e solidificar o aprendizado. - É preciso ser capaz de classificar o quanto você domina o assunto, caso contrário você pode não alcançar seu objetivo mesmo sabendo o assunto, como alguém que conhece a teoria, mas é incapaz de resolver questões. - Ao fazer uso de comparações para entender melhor certo tópico, faça o possível para entender as limitações da comparação, ou seja, o que os pontos comparados têm de diferente. - Não se prenda a organizar conceitos de modo temporal (em que ordem as coisas surgem), algo que realizamos do modo automático. Busque a melhor maneira de organizar as informações, de modo que os pontos façam sentido juntos. O uso de categorias é bem vindo, com resultado comprovado na taxa de memorização. - A diferença do expert para o principiante é que aquele usa múltiplas organizações de conceitos e escolhe a mais adequada para cada situação. 75 PARA RELEMBRAR E PÔR EM PRÁTICA - Motivação é parte essencial do aprendizado e precisa ser estabelecida de modo consciente. - Retire o foco exclusivo do objetivo final e valorize também a jornada. Revise seu método de estudo para se certificar que ele realmente promova o aprendizado, ao invés de apenas parecer promover aprendizado (o perigo da sinalização). - É preciso acreditar que é possível e que você consegue fazer o que é necessário para alcançar o que deseja. Conversar com pessoas que já sucederam em seu objetivo e realizar uma preparação bem são boas maneiras de internalizar isso. - Busque alinhar os valores da meta e sua expectativa de alcançá-la, criando confiança de modo sustentável para te mover na jornada. 76 Essa é uma amostra do livro Os 7 Pilares do Aprendizado - Usando a ciência para aprender mais e melhor. Para adquirir a versão completa, clique aqui.