w w w. e m . c o m . b r B E L O H O R ● I Z O N T E , MG: R$ 3 ● D O M I NÚMERO 26.725 ● N G O , 1 2 66 PÁGINAS ● D E A B R I L D E 2 0 1 5 FECHAMENTO DA EDIÇÃO: 20H ARTE DE VALF E ÁLVARO DUARTE SOBRE FOTOS DE GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS INDIGNAÇÃO MANIFESTANTES VOLTAM ÀS RUAS HOJE Quase 30 mil pessoas são esperadas no protesto em BH contra a presidente Dilma. Da Praça da Liberdade, elas sairão em passeata até a Praça da Estação. Pelo menos 51 cidades do interior de Minas vão engrossar o coro contra a corrupção. Os insatisfeitos com a gestão da petista foram convocados a ocupar as ruas dos 26 estados e do Distrito Federal, além de pontos em outros 12 países. PÁGINAS 3 E 4 MANDEL NGAN/AFP A saga de quem cruza as rodovias brasileiras para ganhar a vida, encara perigos em trechos malcuidados, dribla custos e sofre com a saudade de casa NOVA ERA Cuba e EUA deram passo a caminho de restaurar a diplomacia. Os presidentes Raúl Castro e Barack Obama se reuniram na Cúpula das Américas, no Panamá. Obama disse querer “virar a página”. E Raúl afirmou estar pronto para discutir questões sensíveis. Não foram anunciados a esperada retirada de Cuba da lista de países terroristas e o fim do bloqueio econômico. PÁGINAS 14 E 15 E EDITORIAL, NA 6 PAUSA PARA O CLÁSSICO Com as atenções divididas com a Libertadores, Atlético e Cruzeiro fazem o primeiro duelo pela semifinal do Mineiro às 16h, no Independência. Será o 500º jogo de Levir Culpi à frente de times do estado. CAPA E PÁGINA 3 TOMBENSE E CALDENSE EMPATAM SEM GOLS PÁGINA 2 ROTA DO LIXO POLUIÇÃO ENGOLE MANANCIAIS NO RODOANEL PÁGINAS 17 E 18 Jorge, um brasileiro nunca foi tão atual. Os problemas relatados pelo protagonista do romance publicado em 1967 ainda desafiam a rotina dos caminhoneiros e põem freio no crescimento econômico do país. É o famoso custo-Brasil, que joga no ralo um valor incalculável com o encarecimento da produção, o fechamento de negócios e o aumento do desemprego. Inspirado no premiado livro do mineiro Oswaldo França Júnior, o Estado de Minas publica a partir de hoje série de matérias sobre o dia a dia dos carreteiros, que somam mais de 1 milhão de autônomos e transportam 58% das mercadorias consumidas no país. Os repórteres Paulo Henrique Lobato e Gladyston Rodrigues refizeram trajetos da ficção e se depararam com situações e queixas de quase 50 anos atrás: pistas sem manutenção, pavimentação precária, carga com sobrepeso, combustível caro e sonegação fiscal. CASSIANO GRANDI/DIVULGAÇÁO Desfile de luz e cor Requinte em laranja, amarelo e vermelho nas passarelas do Minas Trend, com as tendências para o verão. Uma profusão de decotes, fendas, assimetrias e texturas. CAPA E PÁGINAS 4 A 8 Com roteiro desconhecido, estreia nesta noite a quinta temporada de Game of thrones. Série de TV mais assistida do mundo promete dominar o noticiário pop durante as próximas 10 semanas. CAPA BEM VIVER MARCOS VIEIRA/EM/D.A PRESS FEM ININO & MASCULINO PÁGINAS 10 E 11 Feliz com o corpo Pior que estar acima do peso é o sedentarismo, apontam estudos. A modelo Rafa Coelho (foto) que o diga. Ex-magra, sente-se hoje muito mais saudável e sensual.CAPA E PÁGINAS 3 E 4 ISSN 1809-9874 99 771809 987014 Assinaturas e serviço de atendimento: Belo Horizonte: (31) 3263-5800 - Outras localidades: 0800 031 5005 Assinatura Uai: 0800 031 5000 WhatsApp: (31) 8502-4023 10 E STA D O D E M I N A S ● D O M I N G O , 1 2 D E A B R I L D E ECONOMIA 2 0 1 5 EDITORA: Liliane Corrêa EDITOR-ASSISTENTE: Marcílio de Moraes E-MAIL: [email protected] TELEFONE: (31) 3263-5103 W h at s A p p : ( 3 1 ) 8 5 0 2 - 4 0 2 3 FOTOS: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS “E EU TENDO QUE PENSAR EM COMO IA DESCOBRIR UMA ESTRADA PARA PASSAR COM AS OITO CARRETAS, CADA UMA COM UM PESO QUE ERA CAPAZ DE AFUNDAR MUITA ESTRADA BOA” Ponto de partida de desperdício incalculável que encarece a produção, o posto de pesagem no Km 282 da BR-381 está fechado, descumprindo as funções de coibir sonegação fiscal e sobrepeso MENSAGEIROS DO ASFALTO Como no premiado romance Jorge, um brasileiro, publicado há quase 50 anos pelo mineiro Oswaldo França Júnior, cruzar as rodovias brasileiras transformou-se numa epopeia perigosa PAULO HENRIQUE LOBATO Enviado especial Caratinga, Belo Oriente e Coronel Fabriciano – “E digo para você que não gosto mais nem de me lembrar dessas coisas, e só me lembro mesmo, quando alguém chega e a gente fica batendo papo.” O lamento de Jorge, um caminhoneiro tão apaixonado pela profissão quanto por rabos de saia, é um desabafo aos entraves ao desenvolvimento econômico e social do país que ele ajudou a construir. Seu último frete, programado para seis dias e que se estendeu por quase duas semanas, se transformou numa epopeia conhecida até no estrangeiro. A missão de guiar o comboio de oito carretas – cada uma com 30 toneladas de milho – de Caratinga, no Vale do Aço, a BH foi um martírio: ele e os amigos percorreram rodovias precárias, abriram desvios e improvisaram pontes. Durante a viagem, discutiram a alta dos juros, o déficit de mão de obra qualificada, a carência de logística, o desvio de dinheiro e a greve da categoria. Comentaram até sobre a popularidade do chefe da República. O chofer de caminhão é o personagem mais famoso do romancista mineiro Oswaldo França Júnior (1936-1989). Jorge, um brasileiro foi publicado em 1967, e, quase 50 anos depois, os problemas relatados pelos carreteiros são os mesmos que freiam o crescimento econômico do país. É o chamado custoBrasil, um conjunto de mazelas que joga no ralo um valor incalculável com o encarecimento da produção, o fechamento de empresas e o fomento do desemprego. A partir de hoje, o EM e o em.com.br publicam a série Os homens da estrada, inspirada no livro. As matérias tratam do dia a dia da categoria, mostram o contraste social Brasil afora e apontam obstáculos ao avanço do Produto Interno Bruto (PIB). A voz dos caminhoneiros deveria ser mais ouvida pelo poder público; afinal, eles somam mais de um milhão de autônomos e transportam 58% das mercadorias consumidas no país. A jornada dos personagens começa em Caratinga, onde, na ficção de França Júnior, um trecho da Rio–Bahia foi destruído pela chuva. A Polícia Rodoviária interrompeu o trânsito e os carreteiros buscaram rotas alternativas. Jorge relatou o drama: “A barreira estava exatamente à altura da última rua que dava para a estrada”. Oficialmente, a Rio–Bahia é a 116, a BR mais extensa do Brasil – seus 4,5 mil quilômetros, de Fortaleza (CE) a Jaguarão (RS), cortam Minas e nove estados. Por ironia, na vida real, um exemplo de como o poder público desperdiça o dinheiro do contribuinte ocorre justamente no trecho imaginado pelo escritor. A balança que o poder público construiu em Caratinga para fiscalizar notas fiscais (combate à sonegação de impostos) e o sobrepeso de caminhões (a medida reduz o desgaste do asfalto) está fechada há seis meses. Situação semelhante vive a 381, em Jaguaraçu, no Vale do Aço, por onde o comboio de Jorge seguiu depois de o trânsito na 116 ser interrompido. Balanças fechadas são porteiras abertas ao transporte de carga acima do peso permitido. Num primeiro momento, a infração reduz o custo com o frete, gerando uma pseudoeconomia. Depois, a despesa com o serviço aumenta, pois o sobrepeso cobra a conta no asfalto: buracos e ondulações danifi- O LIVRO QUE VIROU BEST-SELLER À espera de uma ponte, balsa serve até para comprar pão no Vale do Aço Na ponte que liga Fabriciano a Timóteo, tráfego de carga interrompido cam a frota, elevam o preço com manutenção dos veículos e põem a vida dos usuários em risco. Na 381, o piso ao lado de um posto desativado foi tomado por “costelas”, aumentando a possibilidade de acidentes na BR rotulada de Rodovia da Morte. O sobrepeso é herança antiga no Brasil, como a reflexão de Jorge citada em destaque no alto desta página. Em outra oportunidade, o protagonista admi- tiu que “só pensava em como fazer para os caminhões darem mais viagens e carregarem mais peso”. A qualidade do pavimento da malha nacional é uma espécie de granada prestes a ser detonada. Pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) apurou que 49,9% do asfalto nacional tem alguma deficiência. O sobrepeso e a falta de manutenção, dizem moradores do Vale do Aço (onde se passa a Criação de Oswaldo França Júnior, mineiro do Serro, Jorge, um brasileiro venceu oWalmap de 1967, principal concurso literário da época, com Guimarães Rosa e Jorge Amado no júri. A obra inspirou a série de tevê Carga Pesada, com Antônio Fagundes e Stênio Garcia. Foi exibida no cinema, em produção de 1988, dirigida por Paulo Thiago e estrelada por Carlos Alberto Riccelli. Entre uma crítica e outra ao custo-Brasil, Jorge comenta casos pitorescos, como uma viagem de ônibus ao Leste de Minas: “Aí a mulher que estava na minha frente e que era a mesma que me havia feito ficar com o cheiro de salame na mão e no cabelo começou a vomitar. A primeira leva não houve tempo dela abrir a janela, e aquilo veio de embrulhada e bateu no vidro. E você sabe, a coisa não é na sua direção, mas sempre há aqueles respingos. E além do cheiro, tem a impressão que dá. E a mulher abriu a janela, e aí, até mesmo a chuva entrando, para você, não é mais a chuva, é resto do que ela jogou para fora”. maior parte da narrativa do romance), danificaram a estrutura da antiga ponte sobre o Rio Piracicaba que liga Coronel Fabriciano a Timóteo. O trânsito de carga foi interrompido na estrutura. O desvio compromete a economia nas imediações. “Investi R$ 600 mil em dois galpões e não consigo alugá-los, porque caminhões e ônibus não podem passar na estrutura. O desvio, de 11 quilômetros, au- menta a despesa com o diesel. Outro agravante é o tempo perdido na volta até o centro de Fabriciano. Donos de restaurantes em que ônibus paravam também estão no prejuízo”, reclama o empresário Warley de Moura Domingos. No livro, o comboio transpôs a estrutura: “Passamos por Coronel Fabriciano e depois por uma ponte comprida, e por um lugar onde eu sabia que os homens iriam gostar se a gente parasse”. O mesmo não ocorreu num lugarejo que hoje é distrito de Belo Oriente: “Depois de Cachoeira Escura havia uma ponte que eu olhei debaixo de chuva e que deixei o farol aceso para examinar melhor. Não me pareceu boa (...)”. A tal ponte, na verdade, só existe na ficção de França Júnior. Cachoeira Escura é separada de São Lourenço, povoado de Bugre, pelo Rio Doce. Cerca de 800 pessoas moram nas duas localidades e dependem de uma antiga balsa para a travessia. A falta da estrutura causa prejuízo às famílias, sobretudo, de São Lourenço, onde o comércio é dependente do varejo de Cachoeira Escura para sobreviver. Há exemplos surreais, como o do mecânico industrial Epaminondas Pereira, que precisa recorrer à balsa para ir à padaria. Na última semana, ele desembolsou R$ 3 por um saco com pães e mais R$ 12 para atravessar o seu carro na barca (R$ 6 na ida e R$ 6 na volta). “O pão saiu bem mais caro. Gastei R$ 15 no total”, indignou-se. A balsa, com capacidade para dois veículos e 40 passageiros, funciona das 5h30 às 18h. Quem chegar ao local fora desse horário precisará recorrer a um bote ou dar uma volta de 40 quilômetros para chegar ao outro lado do leito. E STA D O D E M I N A S ● D O M I N G O , 1 2 D E A B R I L D E 2 0 1 5 11 ECONOMIA “O QUE PODIA DAR ALGUMA CONFUSÃO E QUE ERA DIFÍCIL DE CONTROLAR ERA O COMBUSTÍVEL. MAS DEIXEI ORDEM DE SÓ ABASTECEREM NO POSTO ESTRELA, E ABASTECEREM POR VALE” CARGA PESADA NO BOLSO A alta tributação no Brasil, que engole 40,5% dos preços do óleo diesel, e a sonegação fiscal, em meio a fretes informais avaliados em R$ 60 bilhões, achatam os rendimentos dos caminhoneiros FOTOS: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS PAULO HENRIQUE LOBATO Enviado especial Timóteo e Caratinga – Benedito Oliveira, dono de um 1620 vermelho, a cor das carretas guiadas pelos personagens de Jorge, um brasileiro, prefere perder o carreto a receber uma carta-frete, prática proibida no Brasil desde 2010 e que ainda abastece o mercado informal, alimentando a sonegação fiscal em mais de R$ 10 bilhões por ano. Trata-se de um “documento” emitido pela contratante ao carreteiro autônomo com o valor do carreto. De posse dele, o chofer o troca em postos de combustíveis selecionados pela transportadora ou embarcadora na compra de diesel ou outros produtos. Os postos, contudo, exigem que os estradeiros gastem pelo menos 40% da carta-frete, cobram ágio no diesel, em outros produtos e no “troco”, sob a alegação de que só vão receber a quantia do emissor num prazo superior a 30 dias. Na prática, a carta-frete é uma espécie de cheque prédatado. Ela beneficia o emissor, que não recolhe impostos e usa a quantia que será paga a prazo para capital de giro. Fortalece, também, o caixa dos postos, que ganham no ágio. Por sua vez, prejudica o caminhoneiro, que paga a mais pelo diesel e precisa consumir produtos dos quais, às vezes, não necessita para atingir o mínimo de 40% exigido pelos postos. A sociedade é outra que perde, uma vez que a sonegação de tributos reduz, na teoria, o investimento público em obras e serviços essenciais. A Polícia Federal instaurou diversos inquéritos para apurar denúncias de crime. “Muitos caminhoneiros aceitam a carta-frete para não ficarsemocarreto”,explicaAlfredoPeres,presidentedaAssociaçãodosMeiosdePagamentoEletrônicodeFrete(Ampef). A entidade recorre a uma pesquisa da empresa de auditoriaeconsultoriaDeloitteparaesclarecerocálculodasonegação. De acordo com esse levantamento, o frete informal movimenta mais de R$ 60 bilhões no país. Já um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apurou que a movimentação formal com o frete foi de R$ 16 bilhões. A diferença de R$ 44 bilhões é o volume que o governo, segundo a Ampef, não enxergou e, numa projeção modesta de recolhimento de impostos sobre a arrecadação, diz Peres, R$ 12 bilhões são mais do que críveis. “Se eu recebesse a carta-frete, ficaria refém dos postos. E pagaria a mais pelo diesel”, diz Oliveira, o dono do caminhão vermelho. Ele leva bobinas de Timóteo, no Vale do Aço, para Campinas (SP). Em algumas viagens, tem a companhia da esposa, Rosimeire, de 49, e a do filho Fernando, de 10. O sobrenome do estradeiro é o mesmo de um dos personagens de França Júnior. No livro, Oliveira é um homemresmungão.JáomaridodedonaRosimeireébemdiferente do xará da ficção. Porém, ele também sai do sério quando o assunto é o preço do diesel. “Subiu muito nos últimos meses.” Lamento partilhado por Geraldo Carlos Pinto,de58,queconduzumFH380doValedoAçoparaoNordeste. Ele fica ainda mais indignado ao se lembrar de que 40,5% do preço do combustível é composto por tributos, uma palavra que parece lhe causar um enjoo tão grande quanto a disparada da carga tributária no Brasil, um dos maiores entraves ao crescimento da economia. SEM RETORNO Desde 1988, quando a atual Constituição Federal foi sancionada, a participação percentual da soma dos impostos no Produto Interno Bruto (PIB) do país avançou de 20,01% para 36%. “O combustível não para de aumentar”, reclama Geraldo. Nos últimos seis meses, o valor médio do litro no estado encareceu 8%, de R$ 2,61 para R$ 2,82, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural eBiocombustíveis(ANP)–opercentualéquaseodobrodo centro da meta da inflação projetada pelo governo para 2015 (4,5%). O combustível representa 40% do custo com o frete e 58% das mercadorias transportadas no Brasil são levadas em caminhões. A carga tributária nacional (36%) é semelhante à de países do primeiro mundo. Já o retorno que o brasileiro tem com os impostos é parecido ao de nações subdesenvolvidas,comomostraestudodoInstitutoBrasileirodePlanejamentoTributário(IBPT).AentidadecriouoÍndicedeRetorno de Bem-Estar à Sociedade (Irbes), indicador que compara a relação entre os impostos e o PIB com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 30 países. A carga tributária no Brasil representa 36% do PIB, acima da apurada no Canadá(30,07%),ReinoUnido(35,2%)enosEstadosUnidos (24,3%), entre outras nações. Por sua vez, o Irbes – quanto mais alta a nota, melhor o retorno à população – ficou em 135,34 pontos, o pior resultado no ranking, atrás dos vizinhos Uruguai (8º lugar) e Argentina (24ª posição). “Quem acaba pagando a conta é o consumidorfinal”,dizJoãoEloiOlenike,presidentedoIBPT. O último frete de Geraldo durou 16 dias. Justamente na semana do aniversário dele: “Passei a data na companhia de Deus. Estava longe de casa, em Fortaleza (CE)”. Morador de Caratinga, no Vale do Aço, a 2,2 mil quilômetros da capital cearense, o chofer esperou na fila quase uma semana para descarregar o FH 380, com capacidade para 26 toneladas. Durante a viagem, longe de casa, ele sentiu saudades da família, sentimento que Jorge nutria pela namorada com frequência. ❚❚ ❚ LEIA AMANHÃ O DRAMA DOS ESTRADEIROS PARA CUMPRIR O PRAZO DO FRETE, ANTE O ESTADO DE ABANDONO DAS RODOVIAS BRASILEIRAS ❚ ❚❚ Na estrada, com a mulher, Rosimeire, e o filho, Fernando, o chofer Benedito Oliveira prefere perder um frete a receber as cartas-frete ainda oferecidas Crítico dos impostos altos do país, Geraldo Carlos, que já passou o aniversário em fila para descarregar mercadorias, reclama dos preços do diesel O PREÇO DO BANHO Vida de estradeiro não é fácil. Muitos sofrem para manter a própria higiene em dia. Jorge, o narrador-protagonista, tratou do assunto na ficção de França Júnior: “(…) Falei para o Teo que ia dar uma urinada. E fui e entrei no banheiro que estava entupido e parecendo uma lagoa”. Em Minas, muitos postos de combustíveis cobram para que o caminhoneiro use o chuveiro. “Cheguei a pagar R$ 10 por um banho próximo a Ouro Branco (Região Central do estado)”, recorda Wanderson Marcelino, de 40 anos (foto). Na última semana, em Caratinga, a chuveirada saiu mais em conta (R$ 4). É comum donos de postos concederem um vale-banho ao carreteiro que abastecer pelo menos 100 litros de diesel no estabelecimento. NA INTERNET VÍDEO Veja o relato sobre o trabalho nas estradas dos voluntários do grupo Anjos da Guarda 10 E STA D O D E M I N A S ● S E G U N D A - F E I R A , 1 3 D E A B R I L ECONOMIA D E 2 0 1 5 EDITORA: Liliane Corrêa EDITOR-ASSISTENTE: Marcílio de Moraes E-MAIL: [email protected] TELEFONE: (31) 3263-5103 W h at s A p p : ( 3 1 ) 8 5 0 2 - 4 0 2 3 “INSISTIU QUE HAVIA DADO A PALAVRA E QUE AQUELAS CARRETAS TINHAM QUE CHEGAR A TEMPO, E QUE ERA PARA EU IR LÁ EM CARATINGA E TRAZÊ-LAS DE UM JEITO OU DE OUTRO” O PERIGO PEDE PASSAGEM Pressionados pelo prazo estipulado pelas transportadoras, os caminhoneiros enfrentam o perigo a cada curva das rodovias, sem a devida manutenção. Deficiências afetam 62% da malha viária PAULO HENRIQUE LOBATO Enviado especial Naque e João Monlevade – “Atrasei a entrega de uma mercadoria em quatro horas e a empresa me descontou R$ 700 no frete. Tentei justificar, dizer que foram coisas na estrada. Não teve jeito. Havia multa estipulada no contrato”, recorda Francisco Ferreira, de 53 anos. Chofer de caminhão há quase duas décadas, ele reclama do antagonismo entre a rigidez de transportadoras no cumprimento do prazo do carreto e o desleixo do poder público na manutenção e revitalização das rodovias. Esse é o tema da segunda reportagem da série Os homens da estrada, baseada no romance Jorge, um brasileiro, de Oswaldo França Júnior. Em muitos trechos do livro, o protagonista-narrador faz a mesma crítica de Francisco, como a frase em destaque no alto desta página. Jorge liderou um grupo de estradeiros que deveriam levar milho do Vale do Aço a BH em seis dias. O comboio chegou ao destino quase uma semana depois do prazo previsto, por causa das más condições da malha, como descreveu o personagem: “Havia trechos em que não estávamos indo nem a dois, ou três quilômetros por hora. Era aquela vagareza, passando devagar nas curvas, devagar nas subidas, devagar nas descidas. E parando”. De acordo com a Confederação Nacional dos Transportes (CNT), 62% da malha viária nacional tem alguma deficiência no pavimento, na sinalização ou na geometria. Jorge, o personagem, percorreu e ajudou a construir estradas Brasil afora. Em Minas, o comboio por ele guiado enfrentou problemas em trechos que, na vida real, pertencem às BRs 381, 116 e 458. Quase 50 anos depois da publicação da primeira edição do livro, em 1967, as três rodovias foram classificadas com a nota “regular” no estudo da CNT. A 458, sobre a qual o protagonista comentou que “o pior trecho era de Ipaba até Bugre”, tem pista simples, ausência de acostamento em alguns trechos e, segundo os critérios da CNT, uma geometria “ruim”. A geometria e o pavimento da 116, de acordo com a pesquisa, são “regulares”. O mesmo ocorre com a 381. Esta última, apelidada em Minas de Rodovia da Morte, começou a ser duplicada ano passado. Contudo, as obras entre Ipatinga e Governador Valadares foram paralisadas em janeiro. As empreiteiras subcontratadas pelo consórcio que venceu a licitação alegaram que não receberam o pagamento. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), por sua vez, informou que repassou o valor ao consórcio. A interrupção do serviço aumentou o risco de acidentes, pois pla- A multa contratual não perdoou o atraso involuntário de Francisco Ferreira, que almoça a comida feita pela mulher, Arizete Experiente nas armadilhas da BR-381, José de Souza repete as críticas do escritor Oswaldo França Júnior à negligência do poder público cas de sinalização que haviam sido retiradas das margens da via para o alargamento da pista não foram recolocadas. Situação oposta ao elogio que França Júnior fez à mesma rodovia no romance: “E depois disto, entrar numa outra (BR) nova, de asfalto novo, e larga, com as listras brancas e as placas de sinalização todas pintadas, era coisa de você nem acreditar”. A realidade agora é outra. “Está um perigo (transitar) por aqui”, alerta dona Rosicler Euzébio Costa, sócia do restaurante e pousada Beira Rio, em Naque, no Vale do Aço. A paralisação da obra de duplicação causou prejuízos à economia da região. Muitos fornecedores não receberam pelas mercadorias e serviços vendidos às empreiteiras. Os credores estimam que o calote some cerca de R$ 14 milhões. O restaurante em que dona Rosicler é sócia, por exemplo, tem R$ 12 mil a receber: “Servimos marmitex para os operários. Telefonamos várias vezes para a firma (que nos deve), mas nos disseram que a empresa ainda não havia recebido do consórcio”. O descaso com o trecho também preocupa Aureliano Oliveira, chofer há seis anos. Ele percorre a 381 com frequência e tem uma opi- nião pessimista: “Acho que os acidentes vão aumentar”. Por causa de problemas na BR, Aureliano se recorda que entregou um frete com atraso. Resultado: “Descontaram R$ 150 no valor do carreto”. A quantia lhe fez falta, pois o valor corresponde a 15% da prestação mensal de seu 1113, fabricado em 1973. “Financiei-o em 36 vezes. Quitei 20 parcelas. Levo ferragem de Ipa- tinga (Vale do Aço) para São Paulo e recebo R$ 1,2 mil pelo frete. Se der uma zebra no caminho, como faço?”, questiona. Para recuperar o tempo perdido com a precária manutenção da malha, muitos estradeiros autônomos pisam no acelerador e dirigem várias horas seguidas, aumentando o risco de acidentes. Foi o que Jorge e seus amigos ameaçaram fazer na 381: “Perto de Monlevade entramos na estrada nova e começamos a correr. Tive que me lembrar e diminuir aquela correria, porque com carros pesados como estavam aqueles, isso não era coisa boa”. Por uma trágica coincidência, 22 anos depois de publicar o romance, França Júnior perdeu a vida num desastre de carro no mesmo trecho da 381. O Escort que ele dirigia passou reto numa curvas em João Monlevade, onde o escritor participou de um encontro literário. Francisco, o chofer que deixou de receber R$ 700, considera o trecho um dos mais perigosos do país. “Toda precaução com as curvas é pouca”, disse o estradeiro enquanto ajudava a esposa, Arizete, que o acompanha na viagem e prepara o almoço. “A pessoa não pode bobear. O governo tem que melhorar as estradas”, acrescenta José de Souza, de 71. Diversas vezes, no romance, Jorge ironiza a negligência do poder público com as estradas brasileiras. Tanto que os personagens precisaram abrir desvios em diferentes trechos: na vida real, o fato se repetiu em março passado, quando o trânsito no trecho da 381 batizado de Fernão Dias (BH-SP) ficou fechado por 14 horas em razão de pane num caminhão que integrava um comboio de 540 toneladas e mais de seis metros de largura. A pista só foi liberada porque motoristas presos no congestionamento quebraram a mureta que divide os dois sentidos da pista, alterando o tráfego nas direções opostas. A medida ajuda a entender uma das várias ironias feitas por Jorge, há quase 50 anos, mas que ainda soam como críticas atuais: “Depois falei que quando a gente chegasse em Belo Horizonte, iríamos cobrar do Departamento de Estradas de Rodagem os nossos serviços”. ❚❚ ❚ VEJA AMANHÃ FALTA DE MÃO DE OBRA QUALIFICADA AFETA O CUSTO-BRASIL ❚❚ ❚ NA INTERNET VÍDEO No em.com.br, entenda como os caminhoneiros se comunicam nas estradas BEBIDA E VOLANTE Em Caratinga, a estátua do Menino Maluquinho, do escritor Ziraldo Alerta, Mário Soares guarda as recordações de um acidente na BR-116 Chapa do bons, Mário Gonçalves cobra R$ 30 por tonelada descarregada. Ele oferece seus serviços na BR-116, em Caratinga, próximo à grande imagem do Menino Maluquinho, personagem do escritor Ziraldo, que nasceu na cidade: “Tem vez que viajo para descarregar. Daí o preço é maior”. Numa dessas viagens, Mário foi vítima de acidente. O caminhão em que ele estava derrapou e bateu numa árvore. “Eu fiquei ferido. O motorista nada sofreu. Já o outro chapa morreu. O caminhoneiro havia tomado conhaque antes de pegar o volante.”No livro de França Júnior, Jorge recordou de quando o amigo Jocimar capotou uma carreta: “E pensava que ele tinha dirigido bêbado e tão ruim que passou a noite dormindo dentro do carro virado”. E STA D O D E M I N A S ● T E R Ç A - F E I R A , 1 4 D E A B R I L D E 2 0 1 5 11 ECONOMIA EM DIA COM O LEÃO “E PERGUNTEI QUAIS OS MOTORISTAS QUE ESTAVAM COM ELE, E ELE FOI DIZENDO, E DOS OITO, DOIS EU NÃO CONHECIA. DISSE-ME QUE OS DOIS ERAM ‘MAIS OU MENOS’” E-mail para esta coluna: i r. m g @ d i a r i o s a s s o c i a d o s . c o m . b r BALANÇO DA RECEITA Até as 17h de ontem, mais de 10,12 milhões de declarações foram recebidas pela Receita Federal. O prazo de entrega termina em 30 de abril e são esperadas 27,5 milhões de declarações. PGBL – RESGATE O saque efetuado no PGBL tem a tributação de 15%, ao ser realizado. Como fazer, na Declaração de Ajustes Anual, para pagar o restante do imposto devido? Roberto Macri Belo Horizonte No plano PGBL, quando do pagamento/benefício ou crédito, tributa-se a totalidade do rendimento, sendo adotado o regime de tributação, conforme a opção do contribuinte. Caso ele seja optante pelo regime previsto no art. 1º da Lei 11053 de 2004, o resgate estará sujeito à tributação exclusiva na fonte, com a alíquota de 15% para recursos com prazo de acumulação superior a oito anos e inferior ou igual a 10 anos. Se este for o seu caso, lance o valor do resgate na ficha de rendimentos tributados exclusivamente na fonte. Caso não seja optante por esse regime de tributação, os resgates parciais ou totais, em virtude de desligamento do participando do plano, sujeitam-se à incidência do imposto de renda na fonte à alíquota de 15% e na declaração de ajuste anual (tabela progressiva). Nessa hipótese, lançar o valor do resgate como rendimentos tributáveis e deduzir o imposto retido. INDENIZAÇÃO AO LOCADOR Ao término do contrato de locação, recebi do locatário um valor para consertar o piso que foi danificado por ele. Este valor será tributável junto com o aluguel recebido no período? Célia Vieira Belo Horizonte Não. Esta indenização, destinada exclusivamente aos reparos necessários e indispensáveis à recuperação do imóvel locado, não constitui rendimento tributável. Deverá ser informado na ficha “Rendimentos Isentos e Não Tributáveis”, linha “24 – Outros”, especificando nome e CPF da fonte pagadora, descrição e o valor recebido. ● Envie suas dúvidas para o e-mail [email protected]. As perguntas, que devem ser identificadas com o nome completo e a cidade do remetente, serão respondidas por Janir Adir Moreira, membro da Associação Brasileira de Direito Tributário (Abradt), e pela advogada tributarista Alessandra Camargos Moreira. Esta coluna será publicada às terças-feiras, quintasfeiras e aos sábados, até 30 de abril. Canal imposto de renda www.uai.com.br LONGE DA NOTA 10 Falta de mão de obra qualificada está entre os problemas do setor. Programas da CNT têm como meta formar 60 mil profissionais este ano GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS PAULO HENRIQUE LOBATO Enviado especial João Monlevade – É na boleia do caminhão da família que Luiz Guilherme, de 9 anos, gosta de acompanhar o pai, Gentil de Souza, de 35, pelo interior de Minas. As idas e vindas do garoto só ocorrem em época de férias ou feriados escolares, pois, conforme ele mesmo destaca, sua “prioridade é o estudo”. A educação de qualidade, responsável pela redução da desigualdade social e econômica em qualquer país, ainda é um grande desafio no Brasil, embora os indicadores tenham melhorado nas últimas décadas. Para se ter ideia, a taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais está em um dígito (8,5%), contudo, o percentual corresponde a um exército de 13,3 milhões de homens e mulheres. A parcela de quem tem o terceiro grau completo não atingiu ainda dois em cada 10 brasileiros: 13,9%. Os números são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O problema na formação educacional compromete a geração de mão de obra qualificada, um dos freios da economia. O tema, que abre o terceiro dia da série Os homens da estrada, inspirada no livro Jorge, um brasileiro, do romancista mineiro Oswaldo França Júnior, é problema tão antigo no país quanto a invenção da roda. A chaga foi alertada pelo protagonista da estória, publicada pela primeira vez em 1967, como a citação em destaque no alto da página. A baixa instrução educacional prejudica a concorrência e trava o avanço de vários setores. No ramo de transporte de carga rodoviária, onde a leitura é requisito para o chofer obter a carteira de motorista, o déficit gira em torno de 100 mil vagas. Para amenizá-lo, a Confederação Nacional do Transporte (CNT) lançou dois programas: primeira habilitação para o transporte e troca de habilitação. A meta é formar 60 mil profissionais até o fim deste ano. Na prática, a entidade vai financiar o documento aos interessados, desde que se comprometam a trabalhar, por um período, no setor. “O Brasil tem carência de formação de trabalho em todas as áreas. Em nosso setor, um fato que gerou uma demanda maior que foi o incremento do nível tecnológico dos próprios caminhões, o que fezcomquemotoristasquetiverammuito tempo de prática com tecnologia antiga se deparassem com outra realidade”, diz Bruno Batista, diretor-executivo da entidade.Essastecnologiassurgirampara preservaromeioambienteegerareconomia com combustível, por exemplo. “Há controle para abertura de porta, rastreamento,sobreemissãodepoluentes,entre outros.”Ageraçãodeeconomiacomatecnologiaamenizaasperdascomamácondiçãodamalharodoviárianacional.“Aelevação do custo operacional varia de acordo com a extensão e região. A média no Brasiléemtornode30%.Ocondutortem quetrafegarnumavelocidadeinferior,fazer frenagens com maior frequência, gasto com pneus, suspensão etc..” DOMÍNIO COMPLETO Saber dominar as ferramentas de trabalho, portanto, é indispensável ao profissional qualificado. “A produtividade de trabalho no Brasil é um terço de um trabalhador sul-coreano, um quinto do norte-americano e um quarto do alemão. Por essa comparação, não estamos tão bem. Isso é resultado da baixa qualidade do sistema educacional e de um problema que temos em nossa matriz, com pequeno percentual de homens que fazem educação profissional”, avaliou Rafael Luchesi, diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), o maior sistema de educação profissional do planeta. Vale lembrar que a economia em retração fomenta o desemprego, aumentando a concorrência pela conquista de uma vaga no mercado formal de trabalho. Também é preciso destacar que a taxa de desocupação fechou o último trimestre avaliado pelo IBGE, encerrado em fevereiro, em 7,4%, acima do mesmo período do ano anterior (6,8%). O percentual corresponde a 7,4 milhões de pessoas. A disputa por um posto no mercado formal fica mais acirrada com a economia em crise – especialistas acreditam que o Produto Interno Bruto (PIB) vai encolher Gentil de Souza só deixa o filho Luiz Guilherme acompanhá-lo nas viagens durante as férias ou em feriados: estudo como prioridade FOTOS: SEST SENAT/DIVULGAÇÃO Sala de aula do projeto de formação de novos motoristas em Petrolina (PE): necessidade em 2015. A realidade ajuda a entender a corrida do brasileiro por cursos de qualificação. No Senai, por exemplo, o total de matrículas praticamente dobrou de 2011 para 2014. “Foram 3,8 milhões de matrículas”, disse Luchesi. O varejo nacional também sofre com a falta de mão de obra qualificada. “Um dosprincipaisproblemasparaacontratação está relacionado à questão educacional.Infelizmente,emmuitoscasos,observamos que a base do trabalhador é limitada, o que implica diretamente em sua qualidade como profissional. Além disso,pareceexistircertaacomodaçãopor parte de alguns trabalhadores, principalmente no período em que estão recebendo o seguro-desemprego. A sensação é de quenãoexisteumapreocupaçãoembuscar uma nova oportunidade de trabalho. Isso diminui ainda mais as possibilidades de se encontrar bons profissionais no mercado”, disse Davidson Cardoso, vicepresidentedaCâmaradeDirigentesLojistas de Belo Horizonte (CDL-BH). Luiz Guilherme, o garoto que viaja com o pai nas folgas escolares, torce para que o país volte a apurar bons indicadores sociais e econômicos. É o mesmo desejo do pai dele, que não faz cerimô- nia para dirigir o caminhão sem camisa em época de calor. “Fica muito quente aqui dentro”, justifica o estradeiro, durante um descanso em João Monlevade, na Região Central. No livro, Jorge fazia o mesmo em dias com temperatura elevada: “Eu estava dirigindo sem camisa, que o calor era muito grande e todo mundo trabalhava só de calça”. ❚❚ LEIA AMANHÃ DÉFICIT NA MALHA FERROVIÁRIA ❚❚ AVALIAÇÃO DO PRESIDENTE Publicado em 1967, durante o regime militar, Jorge, um brasileiro abordou a popularidade do chefe da República. Na ficção, um bêbado perguntou a estradeiros que almoçavam num bar qual era o maior homem do mundo. Um caminhoneiro respondeu que era o Pelé. Outro disse que era o Tostão. Um terceiro sustentou que era o papa. O bêbado discordou: “Aquele é que é o maior homem do mundo”. Na parede, havia um retrato de Juscelino. França Júnior não citou o sobrenome do político, mas o romancista mineiro se referiu ao ex-presidente JK (19021976). E fez o elogio em plena ditadura, três anos depois de o mandato de JK como senador por Goiás ser cassado. Nesta semana, o Brasil voltou a discutir a popularidade do chefe da República. Dilma Rousseff teve uma das piores avaliações de seu governo, segundo o Datafolha: 60% dos brasileiros consideram o governo da presidenta ruim ou péssimo. Ótimo ou bom foram 13%. Regular, 27%. No domingo, uma multidão foi às ruas protestar contra a corrupção no governo. Caminhão foi adquirido para o treinamento dos interessados em ganhar a vida na estrada E STA D O D E M I N A S 10 ● Q U A R T A - F E I R A , 1 5 D E A B R I L D E 2 0 1 5 ECONOMIA GIRO ECONÔMICO “E NEM SEI POR QUE É QUE ELES, O PESSOAL DA REFINAÇÃO, NÃO TINHA MANDADO AQUELE MILHO VIR DE TREM” INADIMPLÊNCIA Menos pessoas limpando o nome A FALTA QUE O TREM FAZ Transporte por estradas de ferro no país cresce, mas está longe do que seria ideal para reduzir o custo-Brasil. Projetos importantes não saem do papel PAULO H ENRIQUE LOBATO Enviado especial Bugre e Caratinga – Seu João Gomes, de 74 anos, ganhou a vida como construtor de vagões por duas décadas: “Fui maçariqueiro em Itabira, no Paraguai e até na Bolívia. Tenho experiência para afirmar que o melhor transporte terrestre para grãos é o trem de ferro, que puxa centenas de vagões de uma só vez, retirando um tanto de caminhões das estradas”. A opinião de João Gomes, morador de Bugre, no Vale do Aço, é respaldada por qualquer especialista na condução de cargas. Embora divulgada há cinco anos, uma pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) mostra que a movimentação total dos produtos por caminhos de ferro subiu 85,6% de 1997, quando boa parte dos trilhos foi privatizada, a 2010. Já a movimentação de carga geral cresceu 86,1%. Mas, ainda assim, o país pena com o déficit da extensão da malha ferroviária, um dos exemplos do custo-Brasil, o conjunto de mazelas que deixa a produção mais cara e freia o avanço do Produto Interno Bruto (PIB). Esse é o tema da penúltima reportagem da série “Os homens da estrada”, inspirada no livro Jorge, um brasileiro, do mineiro Oswaldo França Júnior. A trama principal é a jornada de oito carretas – cada uma com 30 toneladas de milho – de Caratinga, no Vale do Aço, a BH. Por causa da má condição das estradas e da chuva, os estradeiros do livro concluem o trajeto em quase duas semanas – o prazo previsto era de seis dias. O romance foi publicado em 1967 e, quase 50 anos depois, mostra que muitos dos problemas citados pelos estradeiros durante a viagem ainda alimentam o custo-Brasil. Jorge, o protagonista, tratou do transporte férreo, como a citação em destaque no alto desta página. Em 2012, num evento divulgado com pompa, a União anunciou o Programa de Investimento em Logística (PIL), o qual, entre aportes da iniciativa privada e pública, um total de R$ 99 bilhões estavam previstos para a construção de 12 ferrovias (10 mil quilômetros). A maior parte do recurso seria aplicada em até cinco anos, mas as obras ainda não saíram do papel. O governo está refazendo os chamados modelos de negócios, como o tipo de parceria e a taxa de retorno. Duas das linhas anunciadas passarão por Mi- nas: BH-Salvador e Uruaçu (GO)-Corinto (MG)-Campos (RJ). Essa última passará no Vale do Aço, onde Jorge tentou embarcar o milho tão logo percebeu que não deveria conseguir cumprir o prazo no frete. Num trecho, na estação em Governador Valadares, ele perguntou ao funcionário da ferrovia como fazia para colocar as toneladas do grão nos vagões. Não conseguiu, como explicou Jorge: “(O ferroviário) me disse, depois de ter feito as contas de quantas sacas eram, e qual o peso total (240 toneladas), que só poderia garantir o transporte daí a uns dois meses”. FOTOS: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS O indicador de recuperação de crédito do consumidor da Boa Vista SCPC teve queda de 4,7% em março ante fevereiro. Na comparação com o mesmo mês de 2014, a retração foi de 2,9%. Em 12 meses, ante igual intervalo do ano anterior, a baixa é de 4,3%. E no primeiro trimestre o indicador caiu 3,6% em relação ao mesmo período de 2014. A queda de 4,3% no acumulado em 12 meses é a maior da série histórica, iniciada em janeiro de 2005. “Em 2015, além da menor intensidade das transações no mercado de crédito, observa-se maior deterioração do cenário macroeconômico no Brasil – especialmente para o mercado de trabalho”, infomra a Boa Vista em nota. CRÉDITO DESACELERA Em relação ao mercado de crédito, nos anos mais recentes temos observado uma desaceleração gradual do seu ritmo de expansão para ritmos de crescimentos mais sustentáveis ■ Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, durante o BBA Macro Vision – International Conference 2015, ontem, em São Paulo ● GÁS EM ALTA O consumo brasileiro de gás natural atingiu em 2014 a marca de 100 milhões de metros cúbicos por dia, até então inédita no país. O volume representa uma expansão de 11,6% em relação ao ano anterior, conforme dados do Ministério de Minas e Energia (MME). O resultado foi impulsionado principalmente pelo consumo da categoria composta pelas termelétricas e por consumidores livres. Programa de Investimento em Logística (PIL) foi lançado em 2012 e previa a construção de 12 ferrovias. Investimentos somariam R$ 99 bi, com concentração de aportes em 5 anos Freio na eficiência MILHO EM QUEDA A forte estiagem que castiga o país nos últimos anos prejudicou a produção de milho, produto transportado pelo comboio em Jorge, um brasileiro. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a primeira safra teve redução de 4,3% em relação à anterior (31,6 milhões de toneladas). O fazendeiro Elson Américo Luiz (foto), morador de Santa Rita de Minas, por onde os estradeiros do romance passaram, esperava colher 4,5 mil quilos do grão, mas retirou “apenas”mil quilos. “Uso o milho para tratar da criação. Tive de comprar ração para o gado, galinhas e porcos. Uma pena.” TRATOR A PREÇO DE BANANA 122cv, econômico, resistente, pouco uso. Compre e fique com a colheita. Motivo: mudança. Do campo pro campo de futebol. Todo dia, uma boa oportunidade pode aparecer. Leia sempre o Vrum. Para anunciar, ligue (31) 3228-2000 “A malha ferroviária tem pouca abrangência. Hoje, o caminhão transporta carga que, a rigor, não é o (meio de transporte) mais eficiente, como grãos. Um exemplo é para levar as safras de Mato Grosso ou Goiás até os portos. O ideal é levá-las de trem. Mas a extensão das ferrovias não cresceu. O governo lançou o PIL e, na prática, nada saiu do papel. Pior: ficou sem previsão”, criticou Bruno Batista, diretor-executivo da Confederação Nacional do Transporte (CNT). Ele continua o desabafo em tom de alerta: “Postergar investimento é correr risco de o projeto já nascer subdimensionado. Adiar a conta só aumenta o problema”. Em março, representantes do setor de infraestrutura (ferrovia, rodovia, portos, aeroportos) entregaram ao governo pleitos para melhorias na logística. Os projetos são o resumo do Pacto pela Infraestrutura Nacional e Eficiência Logística (Painel), evento do Instituto Besc de Humanidades e Economia, que reúne dezenas de conselheiros de diferentes segmentos da indústria e dos serviços com objetivo de garantir o desenvolvimento da infraestrutura nacional dos transportes. Uma das propostas é o aporte em ferrovias. Os empresários defendem licitação open-acess ferroviário, na qual os operadores in- dependentes usufruem das malhas atuais e novas linhas a serem construídas. Também a padronização de bitolas e melhor integração com outros modais. Esses e outros gargalos dificultam o chamado private equity. Muitas empresas não conseguem entrar na bolsa para receber investimentos por meio dela. “Vontade de investidores estrangeiros é o que não falta”, alertou Aurélio Murta, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e presente no encontro. (PHL) ❚❚ LEIA AMANHÃ A DESIGUALDADE NO CAMINHO DOS ESTRADEIROS ❚❚ João Gomes foi construtor de vagões e garante que eles são os campeões no transporte de algumas cargas, como as de grãos ● VOO PARA CUBA A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) alocou três frequências semanais da VRG Linhas Aéreas, subsidiária da Gol, entre Brasil e Cuba. A autorização consta de portaria publicada no Diário Oficial da União (DOU) e vale para realização de voos mistos entre os dois países. VIRTUAIS 52% das transações bancárias no país já são feitas via meios digitais, como internet e celular. Essa é uma das conclusões da pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária referente a 2014. ● DIVERSIFICAÇÃO Em busca da diversificação da pauta econômica mineira, o secretário de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, Altamir Rosso, afirmou ontem que, entre as opções para diminuir o peso de mineração e metalurgia, estão o setor automotivo, a construção pesada e a tecnologia do Sul de Minas. Segundo ele, o governo está com “um canal aberto com as empresas”. Sem o PIB mineral, a soma das riquezas produzidas no estado ocupa apenas a 10ª posição no ranking nacional. Por isso também os dois setores mais representativos da economia não serão colocados de lado. Rosso disse ter conversas com pelo menos três empresas para grandes investimentos em mineração. Sem citar nomes, ele afirma serem projetos, em fase de estudo. Seriam mais de R$ 1 bilhão de investimento cada. E STA D O D E M I N A S 12 ● Q U I N T A - F E I R A , 1 6 D E A B R I L D E 2 0 1 5 13 ECONOMIA GIRO ECONÔMICO “(...) VI O LUGAR ONDE A GENTE TINHA PARADO A CAMIONETA PARA OS RAPAZES E O MOÇO DA EMPRESA IREM VER SE O DELEGADO ESTAVA ATRÁS DOS LADRÕES DE CABRITOS – NO TAL LUGAR QUE SE CHAMAVA CALADINHO E QUE NÃO TINHA LUZ” CRESCIMENTO Prévia do PIB volta a crescer O TEMPO PASSOU, OS PROBLEMAS FICARAM Depois de uma queda de 0,11% em janeiro de 2015 no Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBCBr), o país voltou a crescer em fevereiro e registrou expansão de 0,36% ante o mês imediatamente anterior. Apesar da melhora entre um mês e outro, a previsão da autoridade monetária para o ano fechado ainda é de retração de 0,5%, como consta no último Relatório Trimestral de Inflação. O índice de atividade calculado pelo BC passou de 145,50 pontos no primeiro mês do ano para 146,03 pontos agora na série dessazonalizada. Na série observada, é possível identificar uma queda de 0,97% nos 12 meses encerrados em fevereiro. Motoristas que cortam o país se deparam com contrastes. Em alguns lugares, há progesso. Em outros, falta energia e estradas são de chão batido Enviado especial Coronel Fabriciano e Bugre – O aposentado Ataíde Cruz, de 65 anos, nasceu num povoado em que o córrego garantia o banho diário da garotada. Era um lugar cercado pelo verde e as casas não tinham energia elétrica. O lugarejo surgiu às margens da BR-381, a poucos minutos do Centro de Coronel Fabriciano, no Vale do Aço. O nome de lá é Caladinho. “Há quase 60 anos, a gente acendia velas e tomava banho frio”, recorda. Hoje, boa parte do verde deu lugar à expansão imobiliária. Caladinho agora é um dos principais bairros da cidade. Indústrias e um diversificado comércio garantem centenas de empregos. O ex-povoado tem até universidade: a Unileste oferece dezenas de cursos. “A realidade é outra”, compara Ataíde. O progresso, contudo, não chegou a 50 quilômetros dali. Em Boachá, área rural de Bugre, Júlio César Gomes, de 27, pena para assistir TV: “Preciso puxar a luz da rede que leva energia à casa de um amigo que mora em outra rua, porque não há postes na minha via. Coloquei um padrão no quintal desse colega. Minha rua também não tem saneamento básico e é de chão batido”. A diferença entre a infraestrutura de Caladinho e Boachá é um dos exemplos de como a desigualdade social ainda é grande no Brasil. Esse é o tema da última reportagem da série “Os homens da estrada”, inspirada em Jorge, um brasileiro, do romancista mineiro Oswaldo França Júnior e que o Estado de Minas publica desde domingo. O livro, narrado pelo protagonista por Jorge, conta a saga dele e oito caminhoneiros durante uma viagem de Caratinga a BH. O comboio passou por Caladinho, como descreveu o protagonista na frase em destaque no alto da página, e também percorreu a estrada que passa por Boachá. PRECARIEDADE Em 1967, quando o ro- mance foi publicado, o protagonista se referiu àquele caminho como uma estrada “ruim que doía”. Júlio César, o rapaz que EM DIA COM O só tem luz em casa porque colocou um padrão no quintal de um amigo, percorre o trecho diariamente. “Vou de moto, porque trabalho em Bugre. Eu pago R$ 17,16 em minha conta de luz sob a rubrica iluminação pública. Mas minha rua não tem postes”, reclama o jovem, enquanto faz um carinho na filha, Ana Júlia, de 3. É o mesmo problema do qual queixa, indignado, Joaquim Rodrigues, de 71, e sua esposa, Dolores Barros, de 68. “Há 12 famílias na mesma situação em Boachá”, reclama Joaquim, que ganha um salário mínimo como aposentado. Ele faz parte dos 25,2% de brasileiros que ganham até o piso dos rendimentos no país (R$ 788), de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. O percentual foi divulgado no fim de 2014 pelo IBGE na pesquisa que também trata do Índice de Gini, indicador que mede a riqueza e a pobreza – a taxa oscila de zero a um e quanto mais alta, maior a desigualdade. O resultado mostrou que a desigualdade social caiu no Brasil: o Índice de Gini de todas as rendas caiu de 0,505 em 2012 para 0,501 em 2013. Mas ainda há muito o que melhorar. MEDO DA FOME A mesma pesquisa, por exemplo, revelou que o total de domicílios no país com algum grau de insegurança alimentar continua em dois dígitos (22,6%). De acordo com o IBGE, “52 milhões de pessoas tinham alguma restrição alimentar ou pelo menos alguma preocupação com a possibilidade de ocorrer restrição, devido à falta de recursos para adquirir alimentos”. É por isso que muitas famílias carentes aproveitam o vaivém nas estradas para engordar a renda. Na ficção de França Júnior, Jorge tocou no assunto: “Apareceu uma casa e um menino veio para a luz do farol, na beirada da estrada, com uma coisa na mão que depois eu vi que era um ovo. Estava chovendo, e eu pensei que ia ser até engraçado a gene parar uma carreta naquela subida, só para comprar ovos. Depois que passei, olhei para trás e o menino continuava na chuva, com o braço estendido e mostrando o ovo”. LEÃO E - m a i l p a r a e s t a c o l u n a : i r. m g @ d i a r i o s a s s o c i a d o s . c o m . b r FOTOS: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS No Caladinho, de Coronel Fabriciano, o desenvolvimento é visível. O lugarejo que só tinha luz de velas agora conta até com universidade REPRODUÇÃO Desde domingo, o EM publica a série “Os homens da estrada”, inspirada na obra do escritor mineiro Oswaldo França Júnior Já em Boachá, Júlio César, com a filha Ana Júlia, e os vizinhos Dolores Barros e Joaquim Rodrigues sofrem com a completa escassez de estrutura AS MENSAGENS DA SÉRIE A série “Os homens da estrada” tratou de temas comentados pelos personagens do livro Jorge, um brasileiro, do mineiro Oswaldo França Júnior, numa viagem de Caratinga a BH: rodovias precárias, carência de linhas férreas, falta de mão de obra qualificada, inflação e até uma paralisação de caminhoneiros. Jorge, o protagonista, se recordou de quando um grupo cruzou os braços: “Um dia o Fefeu, que tinha três caminhões, me chamou e mais aos outros que trabalhavam junto com a gente para a Companhia, e falou que ia parar os caminhões (...)”. O personagem continuou: “E ficamos nós ali parados, e os encarrega- dos gritando para a gente sair com os carros. (...) Chamaram a polícia, e nós havíamos tirado as chaves e uma peça do motor para que os caminhões não pegassem”. O movimento ainda é comum nas manifestações feitas pelos caminhoneiros nos dias de hoje. Os anos passam, mas muitos dos problemas continuam os mesmos, apenas com contornos diferentes e máquinas mais possantes. A série destaca que os estradeiros – são mais de 1 milhão de autônomos, responsáveis pelo transporte de 58% da carga consumida no país – formam uma categoria importante que deveria ser ouvida com maior atenção pelo governo. Ataíde Cruz comemora a evolução: banhos frios ficaram no passado CALOTE Inadimplência aumenta Uma pesquisa da Serasa Experian mostrou que o brasileiro já começou o ano mais inadimplente, antes mesmo de o desemprego aumentar e o salário real cair. O indicador de inadimplência do consumidor, divulgado nesta quarta-feira, 15, pela empresa, cresceu 15,8% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Em março, os calotes ficaram praticamente estáveis, com aumento de 0,2% em relação a fevereiro. Na comparação com março do ano passado, o aumento foi de 13,4%. JOSH EDELSON/AFP – 23/3/15 PAULO HENRIQUE LOBATO ● IPHONE Um relatório anual feito pelo Deutsche Bank e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI ) que compara o poder aquisitivo em diferentes países mostra que o Brasil está no primeiro lugar na lista de preço de iPhone (foto), que compara 20 das principais economias. Os US$ 1.254 mencionados no estudo para a compra do modelo mais barato do celular da Apple, o iPhone 6 com 16 Gbytes de capacidade, são 34,5% superiores aos US$ 932 na Rússia, segundo lugar mais caro para adquirir o aparelho. A cotação do dólar levada em consideração pelas instituições financeiras, contudo, era de R$ 2,79 ● COMÉRCIO EXTERIOR A Receita Federal tornou mais fácil o acesso ao programa que simplifica a tributação para empresas importadoras de insumos que serão industrializados e posteriormente exportados. Desde ontem, ficam reduzidas as exigências de ingresso ao Regime Aduaneiro Especial de Entreposto Industrial sob Controle Informatizado (Recof). O Recof suspende o pagamento de tributos que incidem na importação dos insumos. As empresas ficam livres de pagar o imposto de importação, o IPI vinculado à importação e o PIS Cofins de importação por um prazo de até dois anos. Se os insumos forem usados na produção de produtos industrializados que serão exportados, há isenção do pagamento. PENSÃO ALIMENTÍCIA CHINA Sou pai solteiro e pago pensão alimentícia para minha filha. Posso deduzir esse valor? É necessário apresentar cópia do acordo judicial? Demian Franklin Belo Horizonte Foi o crescimento da economia chinesa no primeiro trimestre deste ano em relação a igual período do ano passado. Desde que decorrente de acordo ou decisão judicial, o valor da pensão alimentícia poderá ser deduzido em sua declaração. Os valores pagos deverão ser informados na ficha “Pagamentos Efetuados”, código 30 – Pensão Judicial Paga a Residente no Brasil. Informar ainda na ficha “Alimentandos” o nome, CPF e data de nascimento do beneficiário da pensão. O contribuinte deverá guardar cópia do acordo para apresentação à fiscalização, caso seja intimado para tal. RENDIMENTOS RECEBIDOS ACUMULADAMENTE – RRA Sou funcionário público estadual e no ano de 2014 recebi rendimentos do trabalho, acumuladamente por força de decisão judicial. Estou com dúvidas em relação ao lançamento e não sei onde lançar a dedução da contribuição previdenciária oficial, além do que também não sei o que fazer com a informação relativa à quantidade de meses e data do pagamento RRA. Carlos E. Silva Vitória – ES Os rendimentos provenientes do trabalho, recebidos acumuladamente relativos a anos anteriores ao do recebimento serão lançados na ficha “RRA – Rendimentos Recebidos Antecipadamente, através do acesso ao menu “fichas da declaração”. O imposto de renda nessa hipótese enquadra-se como tributação exclusiva na fonte, sendo que na respectiva ficha deverá lançar os rendimentos, a quantidade de meses e a data do recebimento. Se o contribuinte houver exercido a opção irretratável de tributação na declaração anual, deverá marcar essa situação na ficha respectiva. ● Envie suas dúvidas para o e-mail [email protected]. As perguntas, que devem ser identificadas com o nome completo e a cidade do remetente, serão respondidas por Janir Adir Moreira, membro da Associação Brasileira de Direito Tributário (Abradt), e pela advogada tributarista Alessandra Camargos Moreira. Esta coluna será publicada às terças-feiras, quintas-feiras e aos sábados, até 30 de abril. CONFIRA NO UAI Canal imposto de renda ● www.uai.com.br 7% ● PELA INTERNET A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou ontem a proposta de emenda à Constituição que divide entre os estados a arrecadação com as vendas pela internet e por telefone. O texto ainda precisa passar pelo plenário do Senado para entrar em vigor. O PMDB conseguiu aprovar mecanismo que vai acelerar a votação da PEC pelo plenário. A proposta terá uma tramitação especial e não vai precisar passar por três comissões do Senado, como é determinado pelas regras da Casa. A expectativa é que a proposta seja analisada pelo plenário nas próximas semanas. ● ARROCHO O Fundo Monetário Internacional (FMI) considera factível o cumprimento da meta de superávit primário (economia para pagamentos de juros) de 1,2% do Produto Interno Bruno (PIB) este ano e de 2% em 2016. No entanto, o organismo multilateral alerta que é preciso concluir a implementação do plano de ajuste anunciado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para que o objetivo seja alcançado e a trajetória da dívida pública volte a ser declinante. ● ENERGIA O diretor da Fitch Ratings Mario Storino, responsável pelo segmento de energia, considera que o risco de racionamento caiu este ano, mas que as condições para 2016 ainda terão de ser provadas, já que as estimativas são de que se feche o ano com os reservatórios em 20%. Storino observou, durante evento organizado pela agência em São Paulo, que as distribuidoras se beneficiam da estimativa de que não haverá racionamento, mas que a inadimplência é um fator a ser observado. “Não haver racionamento para as distribuidoras é positivo, mas um risco ainda a ser verificado é como, num cenário de pressão inflacionária, e eventual desemprego, os consumidores se comportarão”, afirmou.