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MG: R$ 3 ●
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66 PÁGINAS ●
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FECHAMENTO DA EDIÇÃO: 20H
ARTE DE VALF E ÁLVARO DUARTE SOBRE FOTOS DE GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS
INDIGNAÇÃO
MANIFESTANTES
VOLTAM ÀS
RUAS HOJE
Quase 30 mil pessoas são
esperadas no protesto em BH
contra a presidente Dilma. Da Praça
da Liberdade, elas sairão em
passeata até a Praça da Estação.
Pelo menos 51 cidades do interior
de Minas vão engrossar o coro
contra a corrupção. Os insatisfeitos
com a gestão da petista foram
convocados a ocupar as ruas dos 26
estados e do Distrito Federal, além
de pontos em outros 12 países.
PÁGINAS 3 E 4
MANDEL NGAN/AFP
A saga de quem cruza as rodovias brasileiras para ganhar a vida, encara
perigos em trechos malcuidados, dribla custos e sofre com a saudade de casa
NOVA ERA
Cuba e EUA deram passo a
caminho de restaurar a
diplomacia. Os presidentes
Raúl Castro e Barack Obama
se reuniram na Cúpula das
Américas, no Panamá.
Obama disse querer “virar a
página”. E Raúl afirmou estar
pronto para discutir questões
sensíveis. Não foram
anunciados a esperada
retirada de Cuba da lista de
países terroristas e o fim do
bloqueio econômico.
PÁGINAS 14 E 15 E
EDITORIAL, NA 6
PAUSA PARA
O CLÁSSICO
Com as atenções divididas com a
Libertadores, Atlético e Cruzeiro
fazem o primeiro duelo pela
semifinal do Mineiro às 16h, no
Independência. Será o 500º jogo
de Levir Culpi à frente de times do
estado. CAPA E PÁGINA 3
TOMBENSE E CALDENSE
EMPATAM SEM GOLS
PÁGINA 2
ROTA DO LIXO
POLUIÇÃO ENGOLE
MANANCIAIS
NO RODOANEL
PÁGINAS 17 E 18
Jorge, um brasileiro nunca foi tão atual. Os problemas relatados pelo protagonista do romance publicado em 1967 ainda desafiam a
rotina dos caminhoneiros e põem freio no crescimento econômico do país. É o famoso custo-Brasil, que joga no ralo um valor
incalculável com o encarecimento da produção, o fechamento de negócios e o aumento do desemprego. Inspirado no premiado livro
do mineiro Oswaldo França Júnior, o Estado de Minas publica a partir de hoje série de matérias sobre o dia a dia dos carreteiros, que
somam mais de 1 milhão de autônomos e transportam 58% das mercadorias consumidas no país. Os repórteres
Paulo Henrique Lobato e Gladyston Rodrigues refizeram trajetos da ficção e se depararam com situações e queixas de quase 50 anos
atrás: pistas sem manutenção, pavimentação precária, carga com sobrepeso, combustível caro e sonegação fiscal.
CASSIANO GRANDI/DIVULGAÇÁO
Desfile de luz e cor
Requinte em laranja, amarelo e
vermelho nas passarelas do Minas
Trend, com as tendências para o
verão. Uma profusão de decotes,
fendas, assimetrias e texturas.
CAPA E PÁGINAS 4 A 8
Com roteiro desconhecido,
estreia nesta noite a quinta
temporada de Game of thrones.
Série de TV mais assistida do
mundo promete dominar o
noticiário pop durante as
próximas 10 semanas. CAPA
BEM VIVER
MARCOS VIEIRA/EM/D.A PRESS
FEM ININO
& MASCULINO
PÁGINAS 10 E 11
Feliz com o corpo
Pior que estar acima do peso é o
sedentarismo, apontam estudos. A
modelo Rafa Coelho (foto) que o diga.
Ex-magra, sente-se hoje muito mais
saudável e sensual.CAPA E PÁGINAS 3 E 4
ISSN 1809-9874
99 771809 987014
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ECONOMIA
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EDITORA: Liliane Corrêa
EDITOR-ASSISTENTE: Marcílio de Moraes
E-MAIL: [email protected]
TELEFONE: (31) 3263-5103
W h at s A p p : ( 3 1 ) 8 5 0 2 - 4 0 2 3
FOTOS: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS
“E EU TENDO QUE PENSAR EM COMO IA DESCOBRIR UMA ESTRADA PARA PASSAR COM AS OITO
CARRETAS, CADA UMA COM UM PESO QUE ERA CAPAZ DE AFUNDAR MUITA ESTRADA BOA”
Ponto de partida de desperdício incalculável que encarece a produção, o posto de pesagem no Km 282 da BR-381 está fechado, descumprindo as funções de coibir sonegação fiscal e sobrepeso
MENSAGEIROS DO ASFALTO
Como no premiado romance Jorge, um brasileiro, publicado há quase 50 anos pelo mineiro
Oswaldo França Júnior, cruzar as rodovias brasileiras transformou-se numa epopeia perigosa
PAULO HENRIQUE LOBATO
Enviado especial
Caratinga, Belo Oriente e Coronel Fabriciano – “E digo para
você que não gosto mais nem de
me lembrar dessas coisas, e só
me lembro mesmo, quando alguém chega e a gente fica batendo papo.” O lamento de Jorge,
um caminhoneiro tão apaixonado pela profissão quanto por rabos de saia, é um desabafo aos
entraves ao desenvolvimento
econômico e social do país que
ele ajudou a construir. Seu último frete, programado para seis
dias e que se estendeu por quase
duas semanas, se transformou
numa epopeia conhecida até no
estrangeiro. A missão de guiar o
comboio de oito carretas – cada
uma com 30 toneladas de milho
– de Caratinga, no Vale do Aço, a
BH foi um martírio: ele e os amigos percorreram rodovias precárias, abriram desvios e improvisaram pontes. Durante a viagem,
discutiram a alta dos juros, o déficit de mão de obra qualificada, a
carência de logística, o desvio de
dinheiro e a greve da categoria.
Comentaram até sobre a popularidade do chefe da República.
O chofer de caminhão é o
personagem mais famoso do romancista mineiro Oswaldo
França Júnior (1936-1989). Jorge,
um brasileiro foi publicado em
1967, e, quase 50 anos depois, os
problemas relatados pelos carreteiros são os mesmos que
freiam o crescimento econômico do país. É o chamado custoBrasil, um conjunto de mazelas
que joga no ralo um valor incalculável com o encarecimento da
produção, o fechamento de empresas e o fomento do desemprego. A partir de hoje, o EM e o
em.com.br publicam a série Os
homens da estrada, inspirada no
livro. As matérias tratam do dia
a dia da categoria, mostram o
contraste social Brasil afora e
apontam obstáculos ao avanço
do Produto Interno Bruto (PIB).
A voz dos caminhoneiros deveria ser mais ouvida pelo poder
público; afinal, eles somam mais
de um milhão de autônomos e
transportam 58% das mercadorias consumidas no país.
A jornada dos personagens
começa em Caratinga, onde, na
ficção de França Júnior, um trecho da Rio–Bahia foi destruído
pela chuva. A Polícia Rodoviária
interrompeu o trânsito e os carreteiros buscaram rotas alternativas. Jorge relatou o drama: “A
barreira estava exatamente à altura da última rua que dava para
a estrada”. Oficialmente, a
Rio–Bahia é a 116, a BR mais extensa do Brasil – seus 4,5 mil quilômetros, de Fortaleza (CE) a Jaguarão (RS), cortam Minas e nove
estados. Por ironia, na vida real,
um exemplo de como o poder
público desperdiça o dinheiro do
contribuinte ocorre justamente
no trecho imaginado pelo escritor. A balança que o poder público construiu em Caratinga para
fiscalizar notas fiscais (combate à
sonegação de impostos) e o sobrepeso de caminhões (a medida
reduz o desgaste do asfalto) está
fechada há seis meses.
Situação semelhante vive a
381, em Jaguaraçu, no Vale do
Aço, por onde o comboio de Jorge seguiu depois de o trânsito na
116 ser interrompido. Balanças
fechadas são porteiras abertas ao
transporte de carga acima do peso permitido. Num primeiro momento, a infração reduz o custo
com o frete, gerando uma pseudoeconomia. Depois, a despesa
com o serviço aumenta, pois o
sobrepeso cobra a conta no asfalto: buracos e ondulações danifi-
O LIVRO QUE VIROU
BEST-SELLER
À espera de uma ponte, balsa serve até para comprar pão no Vale do Aço
Na ponte que liga Fabriciano a Timóteo, tráfego de carga interrompido
cam a frota, elevam o preço com
manutenção dos veículos e
põem a vida dos usuários em risco. Na 381, o piso ao lado de um
posto desativado foi tomado por
“costelas”, aumentando a possibilidade de acidentes na BR rotulada de Rodovia da Morte.
O sobrepeso é herança antiga
no Brasil, como a reflexão de
Jorge citada em destaque no alto desta página. Em outra oportunidade, o protagonista admi-
tiu que “só pensava em como
fazer para os caminhões darem
mais viagens e carregarem mais
peso”. A qualidade do pavimento da malha nacional é uma espécie de granada prestes a ser
detonada. Pesquisa da Confederação Nacional do Transporte
(CNT) apurou que 49,9% do asfalto nacional tem alguma deficiência. O sobrepeso e a falta de
manutenção, dizem moradores
do Vale do Aço (onde se passa a
Criação de Oswaldo França Júnior,
mineiro do Serro, Jorge, um brasileiro venceu oWalmap de 1967,
principal concurso literário da época, com Guimarães Rosa e Jorge
Amado no júri. A obra inspirou a
série de tevê Carga Pesada, com
Antônio Fagundes e Stênio Garcia.
Foi exibida no cinema, em produção de 1988, dirigida por Paulo
Thiago e estrelada por Carlos Alberto Riccelli. Entre uma crítica e
outra ao custo-Brasil, Jorge comenta casos pitorescos, como
uma viagem de ônibus ao Leste de
Minas: “Aí a mulher que estava na
minha frente e que era a mesma
que me havia feito ficar com o
cheiro de salame na mão e no cabelo começou a vomitar. A primeira leva não houve tempo dela
abrir a janela, e aquilo veio de embrulhada e bateu no vidro. E você
sabe, a coisa não é na sua direção,
mas sempre há aqueles respingos.
E além do cheiro, tem a impressão
que dá. E a mulher abriu a janela,
e aí, até mesmo a chuva entrando,
para você, não é mais a chuva, é
resto do que ela jogou para fora”.
maior parte da narrativa do romance), danificaram a estrutura da antiga ponte sobre o Rio
Piracicaba que liga Coronel Fabriciano a Timóteo. O trânsito
de carga foi interrompido na estrutura. O desvio compromete a
economia nas imediações.
“Investi R$ 600 mil em dois
galpões e não consigo alugá-los,
porque caminhões e ônibus não
podem passar na estrutura. O
desvio, de 11 quilômetros, au-
menta a despesa com o diesel.
Outro agravante é o tempo perdido na volta até o centro de Fabriciano. Donos de restaurantes
em que ônibus paravam também estão no prejuízo”, reclama
o empresário Warley de Moura
Domingos. No livro, o comboio
transpôs a estrutura: “Passamos
por Coronel Fabriciano e depois
por uma ponte comprida, e por
um lugar onde eu sabia que os
homens iriam gostar se a gente
parasse”. O mesmo não ocorreu
num lugarejo que hoje é distrito de Belo Oriente: “Depois de
Cachoeira Escura havia uma
ponte que eu olhei debaixo de
chuva e que deixei o farol aceso
para examinar melhor. Não me
pareceu boa (...)”.
A tal ponte, na verdade, só
existe na ficção de França Júnior.
Cachoeira Escura é separada de
São Lourenço, povoado de Bugre, pelo Rio Doce. Cerca de 800
pessoas moram nas duas localidades e dependem de uma antiga balsa para a travessia. A falta
da estrutura causa prejuízo às
famílias, sobretudo, de São Lourenço, onde o comércio é dependente do varejo de Cachoeira Escura para sobreviver. Há exemplos surreais, como o do mecânico industrial Epaminondas Pereira, que precisa recorrer à balsa
para ir à padaria.
Na última semana, ele desembolsou R$ 3 por um saco com
pães e mais R$ 12 para atravessar
o seu carro na barca (R$ 6 na ida e
R$ 6 na volta). “O pão saiu bem
mais caro. Gastei R$ 15 no total”,
indignou-se. A balsa, com capacidade para dois veículos e 40 passageiros, funciona das 5h30 às
18h. Quem chegar ao local fora
desse horário precisará recorrer a
um bote ou dar uma volta de 40
quilômetros para chegar ao outro lado do leito.
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ECONOMIA
“O QUE PODIA DAR ALGUMA CONFUSÃO E QUE ERA DIFÍCIL DE CONTROLAR ERA O COMBUSTÍVEL.
MAS DEIXEI ORDEM DE SÓ ABASTECEREM NO POSTO ESTRELA, E ABASTECEREM POR VALE”
CARGA PESADA NO BOLSO
A alta tributação no Brasil, que engole 40,5% dos preços do óleo diesel, e a sonegação fiscal, em
meio a fretes informais avaliados em R$ 60 bilhões, achatam os rendimentos dos caminhoneiros
FOTOS: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS
PAULO HENRIQUE LOBATO
Enviado especial
Timóteo e Caratinga – Benedito Oliveira, dono de
um 1620 vermelho, a cor das carretas guiadas pelos personagens de Jorge, um brasileiro, prefere perder o carreto a receber uma carta-frete, prática proibida no Brasil
desde 2010 e que ainda abastece o mercado informal, alimentando a sonegação fiscal em mais de R$ 10 bilhões
por ano. Trata-se de um “documento” emitido pela contratante ao carreteiro autônomo com o valor do carreto.
De posse dele, o chofer o troca em postos de combustíveis selecionados pela transportadora ou embarcadora
na compra de diesel ou outros produtos. Os postos, contudo, exigem que os estradeiros gastem pelo menos 40%
da carta-frete, cobram ágio no diesel, em outros produtos e no “troco”, sob a alegação de que só vão receber a
quantia do emissor num prazo superior a 30 dias.
Na prática, a carta-frete é uma espécie de cheque prédatado. Ela beneficia o emissor, que não recolhe impostos e usa a quantia que será paga a prazo para capital de
giro. Fortalece, também, o caixa dos postos, que ganham no ágio. Por sua vez, prejudica o caminhoneiro,
que paga a mais pelo diesel e precisa consumir produtos dos quais, às vezes, não necessita para atingir o mínimo de 40% exigido pelos postos. A sociedade é outra
que perde, uma vez que a sonegação de tributos reduz,
na teoria, o investimento público em obras e serviços
essenciais. A Polícia Federal instaurou diversos inquéritos para apurar denúncias de crime.
“Muitos caminhoneiros aceitam a carta-frete para não
ficarsemocarreto”,explicaAlfredoPeres,presidentedaAssociaçãodosMeiosdePagamentoEletrônicodeFrete(Ampef). A entidade recorre a uma pesquisa da empresa de auditoriaeconsultoriaDeloitteparaesclarecerocálculodasonegação. De acordo com esse levantamento, o frete informal movimenta mais de R$ 60 bilhões no país. Já um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
apurou que a movimentação formal com o frete foi de R$
16 bilhões. A diferença de R$ 44 bilhões é o volume que o
governo, segundo a Ampef, não enxergou e, numa projeção modesta de recolhimento de impostos sobre a arrecadação, diz Peres, R$ 12 bilhões são mais do que críveis.
“Se eu recebesse a carta-frete, ficaria refém dos postos. E
pagaria a mais pelo diesel”, diz Oliveira, o dono do caminhão vermelho. Ele leva bobinas de Timóteo, no Vale do
Aço, para Campinas (SP). Em algumas viagens, tem a companhia da esposa, Rosimeire, de 49, e a do filho Fernando,
de 10. O sobrenome do estradeiro é o mesmo de um dos
personagens de França Júnior. No livro, Oliveira é um homemresmungão.JáomaridodedonaRosimeireébemdiferente do xará da ficção. Porém, ele também sai do sério
quando o assunto é o preço do diesel. “Subiu muito nos últimos meses.” Lamento partilhado por Geraldo Carlos Pinto,de58,queconduzumFH380doValedoAçoparaoNordeste. Ele fica ainda mais indignado ao se lembrar de que
40,5% do preço do combustível é composto por tributos,
uma palavra que parece lhe causar um enjoo tão grande
quanto a disparada da carga tributária no Brasil, um dos
maiores entraves ao crescimento da economia.
SEM RETORNO Desde 1988, quando a atual Constituição
Federal foi sancionada, a participação percentual da soma
dos impostos no Produto Interno Bruto (PIB) do país avançou de 20,01% para 36%. “O combustível não para de aumentar”, reclama Geraldo. Nos últimos seis meses, o valor
médio do litro no estado encareceu 8%, de R$ 2,61 para R$
2,82, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural
eBiocombustíveis(ANP)–opercentualéquaseodobrodo
centro da meta da inflação projetada pelo governo para
2015 (4,5%). O combustível representa 40% do custo com o
frete e 58% das mercadorias transportadas no Brasil são levadas em caminhões.
A carga tributária nacional (36%) é semelhante à de países do primeiro mundo. Já o retorno que o brasileiro tem
com os impostos é parecido ao de nações subdesenvolvidas,comomostraestudodoInstitutoBrasileirodePlanejamentoTributário(IBPT).AentidadecriouoÍndicedeRetorno de Bem-Estar à Sociedade (Irbes), indicador que compara a relação entre os impostos e o PIB com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 30 países. A carga tributária no Brasil representa 36% do PIB, acima da apurada no
Canadá(30,07%),ReinoUnido(35,2%)enosEstadosUnidos
(24,3%), entre outras nações.
Por sua vez, o Irbes – quanto mais alta a nota, melhor o
retorno à população – ficou em 135,34 pontos, o pior resultado no ranking, atrás dos vizinhos Uruguai (8º lugar) e Argentina (24ª posição). “Quem acaba pagando a conta é o
consumidorfinal”,dizJoãoEloiOlenike,presidentedoIBPT.
O último frete de Geraldo durou 16 dias. Justamente
na semana do aniversário dele: “Passei a data na companhia de Deus. Estava longe de casa, em Fortaleza (CE)”.
Morador de Caratinga, no Vale do Aço, a 2,2 mil quilômetros da capital cearense, o chofer esperou na fila quase
uma semana para descarregar o FH 380, com capacidade
para 26 toneladas. Durante a viagem, longe de casa, ele
sentiu saudades da família, sentimento que Jorge nutria
pela namorada com frequência.
❚❚
❚
LEIA AMANHÃ
O DRAMA DOS ESTRADEIROS PARA CUMPRIR
O PRAZO DO FRETE, ANTE O ESTADO DE
ABANDONO DAS RODOVIAS BRASILEIRAS
❚
❚❚
Na estrada, com a mulher, Rosimeire, e o filho, Fernando, o chofer Benedito Oliveira prefere perder um frete a receber as cartas-frete ainda oferecidas
Crítico dos impostos altos do país, Geraldo Carlos, que já passou o aniversário em fila para descarregar mercadorias, reclama dos preços do diesel
O PREÇO DO BANHO
Vida de estradeiro não é fácil. Muitos sofrem
para manter a própria higiene em dia. Jorge,
o narrador-protagonista, tratou do assunto
na ficção de França Júnior: “(…) Falei para o
Teo que ia dar uma urinada. E fui e entrei no
banheiro que estava entupido e parecendo
uma lagoa”. Em Minas, muitos postos de
combustíveis cobram para que o
caminhoneiro use o chuveiro. “Cheguei a
pagar R$ 10 por um banho próximo a Ouro
Branco (Região Central do estado)”, recorda
Wanderson Marcelino, de 40 anos (foto). Na
última semana, em Caratinga, a chuveirada
saiu mais em conta (R$ 4). É comum donos
de postos concederem um vale-banho ao
carreteiro que abastecer pelo menos 100 litros
de diesel no estabelecimento.
NA INTERNET
VÍDEO
Veja o relato sobre o trabalho nas estradas
dos voluntários do grupo Anjos da Guarda
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EDITORA: Liliane Corrêa
EDITOR-ASSISTENTE: Marcílio de Moraes
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“INSISTIU QUE HAVIA DADO A PALAVRA E QUE AQUELAS CARRETAS TINHAM QUE CHEGAR A TEMPO,
E QUE ERA PARA EU IR LÁ EM CARATINGA E TRAZÊ-LAS DE UM JEITO OU DE OUTRO”
O PERIGO PEDE PASSAGEM
Pressionados pelo prazo estipulado pelas transportadoras, os caminhoneiros enfrentam o perigo
a cada curva das rodovias, sem a devida manutenção. Deficiências afetam 62% da malha viária
PAULO HENRIQUE LOBATO
Enviado especial
Naque e João Monlevade –
“Atrasei a entrega de uma mercadoria em quatro horas e a empresa me descontou R$ 700 no frete.
Tentei justificar, dizer que foram
coisas na estrada. Não teve jeito.
Havia multa estipulada no contrato”, recorda Francisco Ferreira,
de 53 anos. Chofer de caminhão
há quase duas décadas, ele reclama do antagonismo entre a rigidez de transportadoras no cumprimento do prazo do carreto e o
desleixo do poder público na manutenção e revitalização das rodovias. Esse é o tema da segunda
reportagem da série Os homens
da estrada, baseada no romance
Jorge, um brasileiro, de Oswaldo
França Júnior. Em muitos trechos
do livro, o protagonista-narrador
faz a mesma crítica de Francisco,
como a frase em destaque no alto desta página.
Jorge liderou um grupo de estradeiros que deveriam levar milho do Vale do Aço a BH em seis
dias. O comboio chegou ao destino quase uma semana depois do
prazo previsto, por causa das más
condições da malha, como descreveu o personagem: “Havia trechos em que não estávamos indo
nem a dois, ou três quilômetros
por hora. Era aquela vagareza,
passando devagar nas curvas, devagar nas subidas, devagar nas
descidas. E parando”. De acordo
com a Confederação Nacional dos
Transportes (CNT), 62% da malha
viária nacional tem alguma deficiência no pavimento, na sinalização ou na geometria.
Jorge, o personagem, percorreu e ajudou a construir estradas Brasil afora. Em Minas, o
comboio por ele guiado enfrentou problemas em trechos que,
na vida real, pertencem às BRs
381, 116 e 458. Quase 50 anos depois da publicação da primeira
edição do livro, em 1967, as três
rodovias foram classificadas
com a nota “regular” no estudo
da CNT. A 458, sobre a qual o
protagonista comentou que “o
pior trecho era de Ipaba até Bugre”, tem pista simples, ausência de acostamento em alguns
trechos e, segundo os critérios
da CNT, uma geometria “ruim”.
A geometria e o pavimento da
116, de acordo com a pesquisa,
são “regulares”. O mesmo ocorre com a 381. Esta última, apelidada em Minas de Rodovia da
Morte, começou a ser duplicada
ano passado. Contudo, as obras
entre Ipatinga e Governador Valadares foram paralisadas em janeiro. As empreiteiras subcontratadas pelo consórcio que
venceu a licitação alegaram que
não receberam o pagamento.
O Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes
(Dnit), por sua vez, informou que
repassou o valor ao consórcio. A
interrupção do serviço aumentou o risco de acidentes, pois pla-
A multa contratual não perdoou o atraso involuntário de Francisco Ferreira, que almoça a comida feita pela mulher, Arizete
Experiente nas armadilhas da BR-381, José de Souza repete as críticas do escritor Oswaldo França Júnior à negligência do poder público
cas de sinalização que haviam sido retiradas das margens da via
para o alargamento da pista não
foram recolocadas. Situação
oposta ao elogio que França Júnior fez à mesma rodovia no romance: “E depois disto, entrar numa outra (BR) nova, de asfalto novo, e larga, com as listras brancas e
as placas de sinalização todas pintadas, era coisa de você nem acreditar”. A realidade agora é outra.
“Está um perigo (transitar) por
aqui”, alerta dona Rosicler Euzébio Costa, sócia do restaurante e
pousada Beira Rio, em Naque, no
Vale do Aço.
A paralisação da obra de duplicação causou prejuízos à economia da região. Muitos fornecedores não receberam pelas mercadorias e serviços vendidos às empreiteiras. Os credores estimam
que o calote some cerca de R$ 14
milhões. O restaurante em que
dona Rosicler é sócia, por exemplo, tem R$ 12 mil a receber: “Servimos marmitex para os operários. Telefonamos várias vezes para a firma (que nos deve), mas nos
disseram que a empresa ainda
não havia recebido do consórcio”.
O descaso com o trecho também
preocupa Aureliano Oliveira, chofer há seis anos. Ele percorre a 381
com frequência e tem uma opi-
nião pessimista: “Acho que os acidentes vão aumentar”.
Por causa de problemas na BR,
Aureliano se recorda que entregou um frete com atraso. Resultado: “Descontaram R$ 150 no
valor do carreto”. A quantia lhe
fez falta, pois o valor corresponde a 15% da prestação mensal de
seu 1113, fabricado em 1973. “Financiei-o em 36 vezes. Quitei 20
parcelas. Levo ferragem de Ipa-
tinga (Vale do Aço) para São Paulo e recebo R$ 1,2 mil pelo frete.
Se der uma zebra no caminho,
como faço?”, questiona.
Para recuperar o tempo perdido com a precária manutenção da malha, muitos estradeiros
autônomos pisam no acelerador
e dirigem várias horas seguidas,
aumentando o risco de acidentes. Foi o que Jorge e seus amigos
ameaçaram fazer na 381: “Perto
de Monlevade entramos na estrada nova e começamos a correr. Tive que me lembrar e diminuir aquela correria, porque com
carros pesados como estavam
aqueles, isso não era coisa boa”.
Por uma trágica coincidência, 22
anos depois de publicar o romance, França Júnior perdeu a
vida num desastre de carro no
mesmo trecho da 381. O Escort
que ele dirigia passou reto numa
curvas em João Monlevade, onde
o escritor participou de um encontro literário.
Francisco, o chofer que deixou de receber R$ 700, considera
o trecho um dos mais perigosos
do país. “Toda precaução com as
curvas é pouca”, disse o estradeiro enquanto ajudava a esposa,
Arizete, que o acompanha na
viagem e prepara o almoço. “A
pessoa não pode bobear. O governo tem que melhorar as estradas”, acrescenta José de Souza,
de 71. Diversas vezes, no romance, Jorge ironiza a negligência do
poder público com as estradas
brasileiras. Tanto que os personagens precisaram abrir desvios
em diferentes trechos: na vida
real, o fato se repetiu em março
passado, quando o trânsito no
trecho da 381 batizado de Fernão
Dias (BH-SP) ficou fechado por
14 horas em razão de pane num
caminhão que integrava um
comboio de 540 toneladas e mais
de seis metros de largura.
A pista só foi liberada porque
motoristas presos no congestionamento quebraram a mureta
que divide os dois sentidos da pista, alterando o tráfego nas direções opostas. A medida ajuda a
entender uma das várias ironias
feitas por Jorge, há quase 50 anos,
mas que ainda soam como críticas atuais: “Depois falei que
quando a gente chegasse em Belo Horizonte, iríamos cobrar do
Departamento de Estradas de Rodagem os nossos serviços”.
❚❚
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VEJA AMANHÃ
FALTA DE MÃO DE OBRA
QUALIFICADA AFETA O
CUSTO-BRASIL
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NA INTERNET
VÍDEO
No em.com.br, entenda como
os caminhoneiros se
comunicam nas estradas
BEBIDA E VOLANTE
Em Caratinga, a estátua do Menino Maluquinho, do escritor Ziraldo
Alerta, Mário Soares guarda as recordações de um acidente na BR-116
Chapa do bons, Mário Gonçalves cobra R$ 30 por tonelada
descarregada. Ele oferece seus serviços na BR-116, em Caratinga,
próximo à grande imagem do Menino Maluquinho, personagem do
escritor Ziraldo, que nasceu na cidade: “Tem vez que viajo para
descarregar. Daí o preço é maior”. Numa dessas viagens, Mário foi
vítima de acidente. O caminhão em que ele estava derrapou e bateu
numa árvore. “Eu fiquei ferido. O motorista nada sofreu. Já o outro
chapa morreu. O caminhoneiro havia tomado conhaque antes de pegar
o volante.”No livro de França Júnior, Jorge recordou de quando o amigo
Jocimar capotou uma carreta: “E pensava que ele tinha dirigido bêbado
e tão ruim que passou a noite dormindo dentro do carro virado”.
E STA D O D E M I N A S
●
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ECONOMIA
EM DIA COM O
LEÃO
“E PERGUNTEI QUAIS OS MOTORISTAS QUE ESTAVAM COM ELE, E ELE FOI DIZENDO, E
DOS OITO, DOIS EU NÃO CONHECIA. DISSE-ME QUE OS DOIS ERAM ‘MAIS OU MENOS’”
E-mail para esta coluna:
i r. m g @ d i a r i o s a s s o c i a d o s . c o m . b r
BALANÇO
DA RECEITA
Até as 17h de ontem,
mais de 10,12 milhões
de declarações foram
recebidas pela Receita
Federal. O prazo de
entrega termina em 30
de abril e são esperadas
27,5 milhões de
declarações.
PGBL – RESGATE
O saque efetuado no
PGBL tem a tributação
de 15%, ao ser realizado.
Como fazer, na
Declaração de Ajustes
Anual, para pagar o
restante do imposto
devido?
Roberto Macri
Belo Horizonte
No plano PGBL,
quando do
pagamento/benefício
ou crédito, tributa-se
a totalidade do
rendimento, sendo
adotado o regime de
tributação, conforme
a opção do
contribuinte. Caso ele
seja optante pelo
regime previsto no
art. 1º da Lei 11053 de
2004, o resgate estará
sujeito à tributação
exclusiva na fonte,
com a alíquota de 15%
para recursos com
prazo de acumulação
superior a oito anos e
inferior ou igual a 10
anos. Se este for o seu
caso, lance o valor do
resgate na ficha de
rendimentos
tributados
exclusivamente na
fonte. Caso não seja
optante por esse
regime de tributação,
os resgates parciais ou
totais, em virtude de
desligamento do
participando do
plano, sujeitam-se à
incidência do imposto
de renda na fonte à
alíquota de 15% e na
declaração de ajuste
anual (tabela
progressiva). Nessa
hipótese, lançar o
valor do resgate como
rendimentos
tributáveis e deduzir
o imposto retido.
INDENIZAÇÃO
AO LOCADOR
Ao término do contrato
de locação, recebi do
locatário um valor para
consertar o piso que foi
danificado por ele. Este
valor será tributável
junto com o aluguel
recebido no período?
Célia Vieira
Belo Horizonte
Não. Esta indenização,
destinada
exclusivamente aos
reparos necessários e
indispensáveis à
recuperação do
imóvel locado, não
constitui rendimento
tributável. Deverá ser
informado na ficha
“Rendimentos Isentos
e Não Tributáveis”,
linha “24 – Outros”,
especificando nome e
CPF da fonte
pagadora, descrição e
o valor recebido.
● Envie suas dúvidas para o e-mail
[email protected]. As
perguntas, que devem ser identificadas
com o nome completo e a cidade do
remetente, serão respondidas por Janir
Adir Moreira, membro da Associação
Brasileira de Direito Tributário (Abradt),
e pela advogada tributarista Alessandra
Camargos Moreira. Esta coluna será
publicada às terças-feiras, quintasfeiras e aos sábados, até 30 de abril.
Canal imposto
de renda
www.uai.com.br
LONGE DA NOTA 10
Falta de mão de obra qualificada está entre os problemas do setor.
Programas da CNT têm como meta formar 60 mil profissionais este ano
GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS
PAULO HENRIQUE LOBATO
Enviado especial
João Monlevade – É na boleia do caminhão da família que Luiz Guilherme,
de 9 anos, gosta de acompanhar o pai,
Gentil de Souza, de 35, pelo interior de
Minas. As idas e vindas do garoto só ocorrem em época de férias ou feriados escolares, pois, conforme ele mesmo destaca,
sua “prioridade é o estudo”. A educação
de qualidade, responsável pela redução
da desigualdade social e econômica em
qualquer país, ainda é um grande desafio
no Brasil, embora os indicadores tenham
melhorado nas últimas décadas. Para se
ter ideia, a taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais está em um dígito (8,5%), contudo, o percentual corresponde a um exército de 13,3 milhões de
homens e mulheres. A parcela de quem
tem o terceiro grau completo não atingiu
ainda dois em cada 10 brasileiros: 13,9%.
Os números são do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
O problema na formação educacional
compromete a geração de mão de obra
qualificada, um dos freios da economia.
O tema, que abre o terceiro dia da série
Os homens da estrada, inspirada no livro
Jorge, um brasileiro, do romancista mineiro Oswaldo França Júnior, é problema
tão antigo no país quanto a invenção da
roda. A chaga foi alertada pelo protagonista da estória, publicada pela primeira
vez em 1967, como a citação em destaque no alto da página. A baixa instrução
educacional prejudica a concorrência e
trava o avanço de vários setores.
No ramo de transporte de carga rodoviária, onde a leitura é requisito para o
chofer obter a carteira de motorista, o déficit gira em torno de 100 mil vagas. Para
amenizá-lo, a Confederação Nacional do
Transporte (CNT) lançou dois programas: primeira habilitação para o transporte e troca de habilitação. A meta é formar 60 mil profissionais até o fim deste
ano. Na prática, a entidade vai financiar
o documento aos interessados, desde
que se comprometam a trabalhar, por
um período, no setor.
“O Brasil tem carência de formação de
trabalho em todas as áreas. Em nosso setor, um fato que gerou uma demanda
maior que foi o incremento do nível tecnológico dos próprios caminhões, o que
fezcomquemotoristasquetiverammuito tempo de prática com tecnologia antiga se deparassem com outra realidade”,
diz Bruno Batista, diretor-executivo da
entidade.Essastecnologiassurgirampara
preservaromeioambienteegerareconomia com combustível, por exemplo. “Há
controle para abertura de porta, rastreamento,sobreemissãodepoluentes,entre
outros.”Ageraçãodeeconomiacomatecnologiaamenizaasperdascomamácondiçãodamalharodoviárianacional.“Aelevação do custo operacional varia de acordo com a extensão e região. A média no
Brasiléemtornode30%.Ocondutortem
quetrafegarnumavelocidadeinferior,fazer frenagens com maior frequência, gasto com pneus, suspensão etc..”
DOMÍNIO COMPLETO Saber dominar as
ferramentas de trabalho, portanto, é indispensável ao profissional qualificado.
“A produtividade de trabalho no Brasil é
um terço de um trabalhador sul-coreano,
um quinto do norte-americano e um
quarto do alemão. Por essa comparação,
não estamos tão bem. Isso é resultado da
baixa qualidade do sistema educacional
e de um problema que temos em nossa
matriz, com pequeno percentual de homens que fazem educação profissional”,
avaliou Rafael Luchesi, diretor-geral do
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), o maior sistema de educação profissional do planeta. Vale lembrar que a economia em retração fomenta o desemprego, aumentando a concorrência pela conquista de uma vaga no
mercado formal de trabalho.
Também é preciso destacar que a taxa de desocupação fechou o último trimestre avaliado pelo IBGE, encerrado em
fevereiro, em 7,4%, acima do mesmo período do ano anterior (6,8%). O percentual corresponde a 7,4 milhões de pessoas.
A disputa por um posto no mercado formal fica mais acirrada com a economia
em crise – especialistas acreditam que o
Produto Interno Bruto (PIB) vai encolher
Gentil de Souza só deixa o filho Luiz Guilherme acompanhá-lo nas viagens durante as férias ou em feriados: estudo como prioridade
FOTOS: SEST SENAT/DIVULGAÇÃO
Sala de aula do
projeto de formação
de novos motoristas
em Petrolina (PE):
necessidade
em 2015. A realidade ajuda a entender a
corrida do brasileiro por cursos de qualificação. No Senai, por exemplo, o total de
matrículas praticamente dobrou de 2011
para 2014. “Foram 3,8 milhões de matrículas”, disse Luchesi.
O varejo nacional também sofre com
a falta de mão de obra qualificada. “Um
dosprincipaisproblemasparaacontratação está relacionado à questão educacional.Infelizmente,emmuitoscasos,observamos que a base do trabalhador é limitada, o que implica diretamente em
sua qualidade como profissional. Além
disso,pareceexistircertaacomodaçãopor
parte de alguns trabalhadores, principalmente no período em que estão recebendo o seguro-desemprego. A sensação é de
quenãoexisteumapreocupaçãoembuscar uma nova oportunidade de trabalho.
Isso diminui ainda mais as possibilidades
de se encontrar bons profissionais no
mercado”, disse Davidson Cardoso, vicepresidentedaCâmaradeDirigentesLojistas de Belo Horizonte (CDL-BH).
Luiz Guilherme, o garoto que viaja
com o pai nas folgas escolares, torce para que o país volte a apurar bons indicadores sociais e econômicos. É o mesmo
desejo do pai dele, que não faz cerimô-
nia para dirigir o caminhão sem camisa
em época de calor. “Fica muito quente
aqui dentro”, justifica o estradeiro, durante um descanso em João Monlevade,
na Região Central. No livro, Jorge fazia o
mesmo em dias com temperatura elevada: “Eu estava dirigindo sem camisa,
que o calor era muito grande e todo
mundo trabalhava só de calça”.
❚❚
LEIA AMANHÃ
DÉFICIT NA MALHA
FERROVIÁRIA
❚❚
AVALIAÇÃO DO PRESIDENTE
Publicado em 1967, durante o regime
militar, Jorge, um brasileiro abordou a
popularidade do chefe da República.
Na ficção, um bêbado perguntou a
estradeiros que almoçavam num bar
qual era o maior homem do mundo.
Um caminhoneiro respondeu que era
o Pelé. Outro disse que era o Tostão.
Um terceiro sustentou que era o papa.
O bêbado discordou: “Aquele é que é
o maior homem do mundo”. Na
parede, havia um retrato de Juscelino.
França Júnior não citou o sobrenome
do político, mas o romancista mineiro
se referiu ao ex-presidente JK (19021976). E fez o elogio em plena
ditadura, três anos depois de o
mandato de JK como senador por
Goiás ser cassado. Nesta semana, o
Brasil voltou a discutir a popularidade
do chefe da República. Dilma Rousseff
teve uma das piores avaliações de seu
governo, segundo o Datafolha: 60%
dos brasileiros consideram o governo
da presidenta ruim ou péssimo.
Ótimo ou bom foram 13%. Regular,
27%. No domingo, uma multidão
foi às ruas protestar contra a
corrupção no governo.
Caminhão foi adquirido para o treinamento dos interessados em ganhar a vida na estrada
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ECONOMIA
GIRO
ECONÔMICO
“E NEM SEI POR QUE É QUE ELES, O PESSOAL DA REFINAÇÃO,
NÃO TINHA MANDADO AQUELE MILHO VIR DE TREM”
INADIMPLÊNCIA
Menos pessoas
limpando o nome
A FALTA QUE O TREM FAZ
Transporte por estradas de ferro no país cresce, mas está longe do que seria
ideal para reduzir o custo-Brasil. Projetos importantes não saem do papel
PAULO H ENRIQUE LOBATO
Enviado especial
Bugre e Caratinga – Seu João Gomes, de 74 anos, ganhou a
vida como construtor de vagões por duas décadas: “Fui maçariqueiro em Itabira, no Paraguai
e até na Bolívia. Tenho experiência para afirmar que o melhor transporte terrestre para
grãos é o trem de ferro, que puxa centenas de vagões de uma
só vez, retirando um tanto de
caminhões das estradas”.
A opinião de João Gomes,
morador de Bugre, no Vale do
Aço, é respaldada por qualquer
especialista na condução de
cargas. Embora divulgada há
cinco anos, uma pesquisa da
Confederação Nacional do
Transporte (CNT) mostra que a
movimentação total dos produtos por caminhos de ferro
subiu 85,6% de 1997, quando
boa parte dos trilhos foi privatizada, a 2010. Já a movimentação
de carga geral cresceu 86,1%.
Mas, ainda assim, o país pena
com o déficit da extensão da
malha ferroviária, um dos
exemplos do custo-Brasil, o
conjunto de mazelas que deixa
a produção mais cara e freia o
avanço do Produto Interno Bruto (PIB). Esse é o tema da penúltima reportagem da série “Os
homens da estrada”, inspirada
no livro Jorge, um brasileiro, do
mineiro Oswaldo França Júnior.
A trama principal é a jornada de oito carretas – cada uma
com 30 toneladas de milho – de
Caratinga, no Vale do Aço, a BH.
Por causa da má condição das
estradas e da chuva, os estradeiros do livro concluem o trajeto
em quase duas semanas – o
prazo previsto era de seis dias.
O romance foi publicado em
1967 e, quase 50 anos depois,
mostra que muitos dos problemas citados pelos estradeiros
durante a viagem ainda alimentam o custo-Brasil. Jorge, o protagonista, tratou do transporte
férreo, como a citação em destaque no alto desta página.
Em 2012, num evento divulgado com pompa, a União
anunciou o Programa de Investimento em Logística (PIL), o
qual, entre aportes da iniciativa
privada e pública, um total de
R$ 99 bilhões estavam previstos
para a construção de 12 ferrovias (10 mil quilômetros). A maior
parte do recurso seria aplicada
em até cinco anos, mas as obras
ainda não saíram do papel.
O governo está refazendo os
chamados modelos de negócios, como o tipo de parceria e a
taxa de retorno. Duas das linhas
anunciadas passarão por Mi-
nas: BH-Salvador e Uruaçu
(GO)-Corinto (MG)-Campos (RJ).
Essa última passará no Vale do
Aço, onde Jorge tentou embarcar o milho tão logo percebeu
que não deveria conseguir
cumprir o prazo no frete.
Num trecho, na estação em
Governador Valadares, ele perguntou ao funcionário da ferrovia como fazia para colocar as
toneladas do grão nos vagões.
Não conseguiu, como explicou
Jorge: “(O ferroviário) me disse,
depois de ter feito as contas de
quantas sacas eram, e qual o peso total (240 toneladas), que só
poderia garantir o transporte
daí a uns dois meses”.
FOTOS: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS
O indicador de recuperação
de crédito do consumidor
da Boa Vista SCPC teve
queda de 4,7% em março
ante fevereiro. Na
comparação com o mesmo
mês de 2014, a retração foi
de 2,9%. Em 12 meses, ante
igual intervalo do ano
anterior, a baixa é de 4,3%. E
no primeiro trimestre o
indicador caiu 3,6% em
relação ao mesmo período
de 2014. A queda de 4,3%
no acumulado em 12
meses é a maior da série
histórica, iniciada em
janeiro de 2005. “Em 2015,
além da menor intensidade
das transações no mercado
de crédito, observa-se
maior deterioração do
cenário macroeconômico
no Brasil – especialmente
para o mercado de
trabalho”, infomra a Boa
Vista em nota.
CRÉDITO DESACELERA
Em relação
ao mercado de
crédito, nos anos
mais recentes
temos observado
uma desaceleração
gradual do seu
ritmo de expansão
para ritmos de
crescimentos mais
sustentáveis
■ Alexandre Tombini,
presidente do Banco Central,
durante o BBA Macro Vision –
International Conference 2015,
ontem, em São Paulo
● GÁS EM ALTA
O consumo brasileiro de gás
natural atingiu em 2014 a
marca de 100 milhões de
metros cúbicos por dia, até
então inédita no país. O
volume representa uma
expansão de 11,6% em relação
ao ano anterior, conforme
dados do Ministério de Minas e
Energia (MME). O resultado foi
impulsionado principalmente
pelo consumo da categoria
composta pelas termelétricas e
por consumidores livres.
Programa de Investimento em Logística (PIL) foi lançado em 2012 e previa a construção de 12 ferrovias. Investimentos somariam R$ 99 bi, com concentração de aportes em 5 anos
Freio na eficiência
MILHO EM QUEDA
A forte estiagem que castiga o país nos últimos anos prejudicou a
produção de milho, produto transportado pelo comboio em Jorge,
um brasileiro. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento
(Conab), a primeira safra teve redução de 4,3% em relação à anterior
(31,6 milhões de toneladas). O fazendeiro Elson Américo Luiz (foto),
morador de Santa Rita de Minas, por onde os estradeiros do romance
passaram, esperava colher 4,5 mil quilos do grão, mas retirou
“apenas”mil quilos. “Uso o milho para tratar da criação. Tive de
comprar ração para o gado, galinhas e porcos. Uma pena.”
TRATOR A PREÇO
DE BANANA
122cv, econômico,
resistente, pouco uso.
Compre e fique com
a colheita. Motivo:
mudança. Do campo pro
campo de futebol.
Todo dia, uma boa oportunidade
pode aparecer.
Leia sempre o Vrum.
Para anunciar, ligue (31) 3228-2000
“A malha ferroviária tem
pouca abrangência. Hoje, o caminhão transporta carga que, a rigor, não é o (meio de transporte)
mais eficiente, como grãos. Um
exemplo é para levar as safras de
Mato Grosso ou Goiás até os portos. O ideal é levá-las de trem.
Mas a extensão das ferrovias não
cresceu. O governo lançou o PIL
e, na prática, nada saiu do papel.
Pior: ficou sem previsão”, criticou Bruno Batista, diretor-executivo da Confederação Nacional
do Transporte (CNT). Ele continua o desabafo em tom de alerta: “Postergar investimento é
correr risco de o projeto já nascer
subdimensionado. Adiar a conta
só aumenta o problema”.
Em março, representantes
do setor de infraestrutura (ferrovia, rodovia, portos, aeroportos) entregaram ao governo
pleitos para melhorias na logística. Os projetos são o resumo
do Pacto pela Infraestrutura
Nacional e Eficiência Logística
(Painel), evento do Instituto
Besc de Humanidades e Economia, que reúne dezenas de conselheiros de diferentes segmentos da indústria e dos serviços
com objetivo de garantir o desenvolvimento da infraestrutura nacional dos transportes.
Uma das propostas é o aporte
em ferrovias. Os empresários defendem licitação open-acess ferroviário, na qual os operadores in-
dependentes usufruem das malhas atuais e novas linhas a serem
construídas. Também a padronização de bitolas e melhor integração com outros modais. Esses e
outros gargalos dificultam o
chamado private equity. Muitas
empresas não conseguem entrar na bolsa para receber investimentos por meio dela. “Vontade de investidores estrangeiros
é o que não falta”, alertou Aurélio Murta, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e
presente no encontro. (PHL)
❚❚
LEIA AMANHÃ
A DESIGUALDADE NO
CAMINHO DOS ESTRADEIROS
❚❚
João Gomes
foi construtor
de vagões e
garante que
eles são os
campeões no
transporte de
algumas
cargas, como
as de grãos
● VOO PARA CUBA
A Agência Nacional de Aviação
Civil (Anac) alocou três
frequências semanais da VRG
Linhas Aéreas, subsidiária da
Gol, entre Brasil e Cuba. A
autorização consta de portaria
publicada no Diário Oficial da
União (DOU) e vale para
realização de voos mistos entre
os dois países.
VIRTUAIS
52%
das transações bancárias no
país já são feitas via meios
digitais, como internet e
celular. Essa é uma das
conclusões da pesquisa
Febraban de Tecnologia
Bancária referente a 2014.
● DIVERSIFICAÇÃO
Em busca da diversificação da
pauta econômica mineira, o
secretário de Desenvolvimento
Econômico de Minas Gerais,
Altamir Rosso, afirmou ontem
que, entre as opções para
diminuir o peso de mineração
e metalurgia, estão o setor
automotivo, a construção
pesada e a tecnologia do Sul
de Minas. Segundo ele, o
governo está com “um canal
aberto com as empresas”.
Sem o PIB mineral, a soma
das riquezas produzidas no
estado ocupa apenas a 10ª
posição no ranking nacional.
Por isso também os dois
setores mais representativos
da economia não serão
colocados de lado. Rosso
disse ter conversas com pelo
menos três empresas para
grandes investimentos em
mineração. Sem citar nomes,
ele afirma serem projetos, em
fase de estudo. Seriam mais
de R$ 1 bilhão de
investimento cada.
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ECONOMIA
GIRO
ECONÔMICO
“(...) VI O LUGAR ONDE A GENTE TINHA PARADO A CAMIONETA PARA OS RAPAZES E O MOÇO DA EMPRESA IREM VER SE O DELEGADO ESTAVA ATRÁS DOS LADRÕES DE CABRITOS – NO TAL LUGAR QUE SE CHAMAVA CALADINHO E QUE NÃO TINHA LUZ”
CRESCIMENTO
Prévia do PIB
volta a crescer
O TEMPO PASSOU, OS PROBLEMAS FICARAM
Depois de uma queda de 0,11% em janeiro de 2015 no
Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBCBr), o país voltou a crescer em fevereiro e registrou
expansão de 0,36% ante o mês imediatamente
anterior. Apesar da melhora entre um mês e outro, a
previsão da autoridade monetária para o ano fechado
ainda é de retração de 0,5%, como consta no último
Relatório Trimestral de Inflação. O índice de atividade
calculado pelo BC passou de 145,50 pontos no
primeiro mês do ano para 146,03 pontos agora na
série dessazonalizada. Na série observada, é possível
identificar uma queda de 0,97% nos 12 meses
encerrados em fevereiro.
Motoristas que cortam o país se deparam com contrastes. Em alguns lugares, há progesso. Em outros, falta energia e estradas são de chão batido
Enviado especial
Coronel Fabriciano e Bugre – O aposentado Ataíde Cruz, de 65 anos, nasceu
num povoado em que o córrego garantia
o banho diário da garotada. Era um lugar
cercado pelo verde e as casas não tinham
energia elétrica. O lugarejo surgiu às margens da BR-381, a poucos minutos do
Centro de Coronel Fabriciano, no Vale do
Aço. O nome de lá é Caladinho. “Há quase 60 anos, a gente acendia velas e tomava
banho frio”, recorda.
Hoje, boa parte do verde deu lugar à
expansão imobiliária. Caladinho agora é
um dos principais bairros da cidade. Indústrias e um diversificado comércio garantem centenas de empregos. O ex-povoado tem até universidade: a Unileste
oferece dezenas de cursos. “A realidade é
outra”, compara Ataíde.
O progresso, contudo, não chegou a 50
quilômetros dali. Em Boachá, área rural de
Bugre, Júlio César Gomes, de 27, pena para
assistir TV: “Preciso puxar a luz da rede que
leva energia à casa de um amigo que mora
em outra rua, porque não há postes na minha via. Coloquei um padrão no quintal
desse colega. Minha rua também não tem
saneamento básico e é de chão batido”.
A diferença entre a infraestrutura de Caladinho e Boachá é um dos exemplos de
como a desigualdade social ainda é grande
no Brasil. Esse é o tema da última reportagem da série “Os homens da estrada”, inspirada em Jorge, um brasileiro, do romancista mineiro Oswaldo França Júnior e que
o Estado de Minas publica desde domingo.
O livro, narrado pelo protagonista por
Jorge, conta a saga dele e oito caminhoneiros durante uma viagem de Caratinga a
BH. O comboio passou por Caladinho, como descreveu o protagonista na frase em
destaque no alto da página, e também percorreu a estrada que passa por Boachá.
PRECARIEDADE Em 1967, quando o ro-
mance foi publicado, o protagonista se referiu àquele caminho como uma estrada
“ruim que doía”. Júlio César, o rapaz que
EM DIA
COM O
só tem luz em casa porque colocou um
padrão no quintal de um amigo, percorre
o trecho diariamente. “Vou de moto, porque trabalho em Bugre. Eu pago R$ 17,16
em minha conta de luz sob a rubrica iluminação pública. Mas minha rua não tem
postes”, reclama o jovem, enquanto faz
um carinho na filha, Ana Júlia, de 3.
É o mesmo problema do qual queixa,
indignado, Joaquim Rodrigues, de 71, e
sua esposa, Dolores Barros, de 68. “Há 12
famílias na mesma situação em Boachá”,
reclama Joaquim, que ganha um salário
mínimo como aposentado. Ele faz parte
dos 25,2% de brasileiros que ganham até
o piso dos rendimentos no país (R$ 788),
de acordo com o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística.
O percentual foi divulgado no fim de
2014 pelo IBGE na pesquisa que também
trata do Índice de Gini, indicador que mede
a riqueza e a pobreza – a taxa oscila de zero
a um e quanto mais alta, maior a desigualdade. O resultado mostrou que a desigualdade social caiu no Brasil: o Índice de Gini
de todas as rendas caiu de 0,505 em 2012
para 0,501 em 2013. Mas ainda há muito o
que melhorar.
MEDO DA FOME A mesma pesquisa, por
exemplo, revelou que o total de domicílios
no país com algum grau de insegurança alimentar continua em dois dígitos (22,6%).
De acordo com o IBGE, “52 milhões de pessoas tinham alguma restrição alimentar ou
pelo menos alguma preocupação com a
possibilidade de ocorrer restrição, devido à
falta de recursos para adquirir alimentos”.
É por isso que muitas famílias carentes
aproveitam o vaivém nas estradas para engordar a renda. Na ficção de França Júnior,
Jorge tocou no assunto: “Apareceu uma casa e um menino veio para a luz do farol, na
beirada da estrada, com uma coisa na mão
que depois eu vi que era um ovo. Estava
chovendo, e eu pensei que ia ser até engraçado a gene parar uma carreta naquela subida, só para comprar ovos. Depois que
passei, olhei para trás e o menino continuava na chuva, com o braço estendido e
mostrando o ovo”.
LEÃO
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FOTOS: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS
No Caladinho, de
Coronel
Fabriciano, o
desenvolvimento
é visível. O
lugarejo que só
tinha luz de velas
agora conta
até com
universidade
REPRODUÇÃO
Desde domingo, o EM publica a série “Os homens da estrada”, inspirada na obra do escritor mineiro Oswaldo França Júnior
Já em Boachá,
Júlio César, com a
filha Ana Júlia, e
os vizinhos
Dolores Barros e
Joaquim
Rodrigues sofrem
com a completa
escassez de
estrutura
AS MENSAGENS DA SÉRIE
A série “Os homens da estrada”
tratou de temas comentados pelos
personagens do livro Jorge, um brasileiro, do mineiro Oswaldo França
Júnior, numa viagem de Caratinga a
BH: rodovias precárias, carência de linhas férreas, falta de mão de obra
qualificada, inflação e até uma paralisação de caminhoneiros.
Jorge, o protagonista, se recordou
de quando um grupo cruzou os braços: “Um dia o Fefeu, que tinha três
caminhões, me chamou e mais aos
outros que trabalhavam junto com a
gente para a Companhia, e falou que
ia parar os caminhões (...)”.
O personagem continuou: “E ficamos nós ali parados, e os encarrega-
dos gritando para a gente sair com os
carros. (...) Chamaram a polícia, e nós
havíamos tirado as chaves e uma peça do motor para que os caminhões
não pegassem”. O movimento ainda
é comum nas manifestações feitas
pelos caminhoneiros nos dias de
hoje. Os anos passam, mas muitos
dos problemas continuam os mesmos, apenas com contornos diferentes e máquinas mais possantes.
A série destaca que os estradeiros
– são mais de 1 milhão de autônomos, responsáveis pelo transporte de
58% da carga consumida no país –
formam uma categoria importante
que deveria ser ouvida com maior
atenção pelo governo.
Ataíde Cruz
comemora
a evolução:
banhos
frios
ficaram no
passado
CALOTE
Inadimplência aumenta
Uma pesquisa da Serasa Experian mostrou que o
brasileiro já começou o ano mais inadimplente, antes
mesmo de o desemprego aumentar e o salário real cair. O
indicador de inadimplência do consumidor, divulgado
nesta quarta-feira, 15, pela empresa, cresceu 15,8% no
primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo
período do ano passado. Em março, os calotes ficaram
praticamente estáveis, com aumento de 0,2% em relação a
fevereiro. Na comparação com março do ano passado, o
aumento foi de 13,4%.
JOSH EDELSON/AFP – 23/3/15
PAULO HENRIQUE LOBATO
● IPHONE
Um relatório anual feito pelo
Deutsche Bank e pelo Fundo
Monetário Internacional (FMI
) que compara o poder
aquisitivo em diferentes
países mostra que o Brasil
está no primeiro lugar na
lista de preço de iPhone
(foto), que compara 20 das
principais economias. Os US$
1.254 mencionados no
estudo para a compra do
modelo mais barato do
celular da Apple, o iPhone 6
com 16 Gbytes de
capacidade, são 34,5%
superiores aos US$ 932 na
Rússia, segundo lugar mais
caro para adquirir o
aparelho. A cotação do dólar levada em consideração pelas
instituições financeiras, contudo, era de R$ 2,79
● COMÉRCIO EXTERIOR
A Receita Federal tornou mais fácil o acesso ao programa que
simplifica a tributação para empresas importadoras de insumos
que serão industrializados e posteriormente exportados. Desde
ontem, ficam reduzidas as exigências de ingresso ao Regime
Aduaneiro Especial de Entreposto Industrial sob Controle
Informatizado (Recof). O Recof suspende o pagamento de
tributos que incidem na importação dos insumos. As empresas
ficam livres de pagar o imposto de importação, o IPI vinculado
à importação e o PIS Cofins de importação por um prazo de até
dois anos. Se os insumos forem usados na produção de
produtos industrializados que serão exportados, há isenção do
pagamento.
PENSÃO ALIMENTÍCIA
CHINA
Sou pai solteiro e pago pensão alimentícia para minha filha.
Posso deduzir esse valor? É necessário apresentar cópia do
acordo judicial?
Demian Franklin
Belo Horizonte
Foi o crescimento da economia chinesa no primeiro trimestre
deste ano em relação a igual período do ano passado.
Desde que decorrente de acordo ou decisão judicial, o valor da
pensão alimentícia poderá ser deduzido em sua declaração. Os
valores pagos deverão ser informados na ficha “Pagamentos
Efetuados”, código 30 – Pensão Judicial Paga a Residente no Brasil.
Informar ainda na ficha “Alimentandos” o nome, CPF e data de
nascimento do beneficiário da pensão. O contribuinte deverá
guardar cópia do acordo para apresentação à fiscalização, caso seja
intimado para tal.
RENDIMENTOS RECEBIDOS
ACUMULADAMENTE – RRA
Sou funcionário público estadual e no ano de 2014 recebi
rendimentos do trabalho, acumuladamente por força de decisão
judicial. Estou com dúvidas em relação ao lançamento e não sei
onde lançar a dedução da contribuição previdenciária oficial,
além do que também não sei o que fazer com a informação
relativa à quantidade de meses e data do pagamento RRA.
Carlos E. Silva
Vitória – ES
Os rendimentos provenientes do trabalho, recebidos
acumuladamente relativos a anos anteriores ao do recebimento
serão lançados na ficha “RRA – Rendimentos Recebidos
Antecipadamente, através do acesso ao menu “fichas da
declaração”. O imposto de renda nessa hipótese enquadra-se
como tributação exclusiva na fonte, sendo que na respectiva ficha
deverá lançar os rendimentos, a quantidade de meses e a data do
recebimento. Se o contribuinte houver exercido a opção irretratável
de tributação na declaração anual, deverá marcar essa situação na
ficha respectiva.
● Envie suas dúvidas para o e-mail [email protected]. As perguntas,
que devem ser identificadas com o nome completo e a cidade do remetente, serão
respondidas por Janir Adir Moreira, membro da Associação Brasileira de Direito
Tributário (Abradt), e pela advogada tributarista Alessandra Camargos Moreira. Esta
coluna será publicada às terças-feiras, quintas-feiras e aos sábados, até 30 de abril.
CONFIRA NO UAI
Canal imposto de renda ● www.uai.com.br
7%
● PELA INTERNET
A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou
ontem a proposta de emenda à Constituição que divide entre
os estados a arrecadação com as vendas pela internet e por
telefone. O texto ainda precisa passar pelo plenário do Senado
para entrar em vigor. O PMDB conseguiu aprovar mecanismo
que vai acelerar a votação da PEC pelo plenário. A proposta
terá uma tramitação especial e não vai precisar passar por três
comissões do Senado, como é determinado pelas regras da
Casa. A expectativa é que a proposta seja analisada pelo
plenário nas próximas semanas.
● ARROCHO
O Fundo Monetário Internacional (FMI) considera factível o
cumprimento da meta de superávit primário (economia para
pagamentos de juros) de 1,2% do Produto Interno Bruno (PIB)
este ano e de 2% em 2016. No entanto, o organismo
multilateral alerta que é preciso concluir a implementação do
plano de ajuste anunciado pelo ministro da Fazenda, Joaquim
Levy, para que o objetivo seja alcançado e a trajetória da dívida
pública volte a ser declinante.
● ENERGIA
O diretor da Fitch Ratings Mario Storino, responsável pelo
segmento de energia, considera que o risco de racionamento
caiu este ano, mas que as condições para 2016 ainda terão de
ser provadas, já que as estimativas são de que se feche o ano
com os reservatórios em 20%. Storino observou, durante
evento organizado pela agência em São Paulo, que as
distribuidoras se beneficiam da estimativa de que não haverá
racionamento, mas que a inadimplência é um fator a ser
observado. “Não haver racionamento para as distribuidoras é
positivo, mas um risco ainda a ser verificado é como, num
cenário de pressão inflacionária, e eventual desemprego, os
consumidores se comportarão”, afirmou.
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NOVA ERA - Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais