2012 O início de uma nova era? Por Marcelo Lambert 21 de dezembro de 2012 é apenas uma data emblemática? Uma mudança de ciclo calendárico? Final dos tempos? Vamos pensar um pouco sobre essas questões e buscar coerência em nossa análise. Os Maias, filosoficamente, pensavam e viviam sob a perspectiva circular e não retilínea, a questão do tempo era fundamental para essa civilização. Pensar o tempo era buscar a consciência da vida e da morte, principalmente buscar a constante superação humana em relação ao fatalismo da matéria imposta pela vida cotidiana. A sociedade Maia possuía vários calendários lineares e circulares, sempre constituídos para atender necessidades sociais, políticas e principalmente religiosas. É importante ressaltar que os Maias se constituíram como uma civilização ritual, sendo assim é fundamental afirmar que o universo religioso era determinante em seu cotidiano, a vida para os Maias era a busca constante pelo sagrado, através da matemática, astronomia, filosofia e seus ritos que iam ao encontro de sua cosmogonia. Outra questão a ser registrada é o fato de que o conceito de “mundo” para os Maias significava ciclo, portanto, o final do “mundo” significava final de ciclo e dentro da perspectiva de circularidade do tempo, todo ciclo ou mundo significava objetivamente final e início de um novo tempo. Desta forma podemos afirmar que 2012 é o final de um ciclo e início de novo tempo. Pensando desse modo, podemos analisar algumas questões de suma importância no contexto de 2012. Sabemos que os Maias enquanto civilização, colapsaram por volta do ano 900 de nossa era. Assim temos que avaliar alguns dos possíveis causadores desse fato: principalmente como estamos tratando o nosso planeta e os seres humanos. Outra polêmica quanto às profecias, entre os especialistas, é o fato de que elas tenham uma referência direta aos eventos que desencadearam o colapso da civilização no final do período clássico, portanto, 900 de nossa era e não a profecias que remetem ao nosso tempo ou especificamente a 2012. Todas as teorias que hoje são discutidas quanto à estrutura física e mecânica de nosso planeta e sistema solar passam ainda por profundas divergências científicas, não nos dando subsídios concretos e consistentes que determinem uma visão apocalíptica de nosso planeta. Hoje, através de documentos, pesquisas, monumentos e a fabulosa escrita Maia, não foi encontrada nenhuma citação clara quanto ao fato dos Maias terem afirmado que o mundo acabaria em 2012, muito menos nos calendários cíclicos desse povo. Para uma melhor compreensão dessa contagem de tempo, seguem os principais ciclos que normatizavam toda a sociedade Maia: Calendários Circulares Ciclos Haab (civil): 18 meses x 20 dias = 360 + 5 dias = 365 dias. Tzolkin (sagrado): 13 meses x 20 dias = 260 dias. Convergência dos Dois Ciclos 52 anos x 365 dias = 18.980 dias – ciclo de 52 anos. 73 anos x 260 dias = 18.980 dias – ciclo de 52 anos. ªª Crises ambientais e climáticas; ªª Superpopulação; ªª Crise na agricultura; ªª Guerras entre cidades-estado; ªª Doenças e pestes; ªª Crise e ruptura de fé nas instituições religiosas. Observem que os possíveis eventos causadores do colapso da civilização são extremamente contemporâneos, nos levam a uma profunda reflexão sobre o momento que a nossa humanidade está vivendo, talvez um dos alertas que os Maias nos deixaram foi exatamente a necessidade de perceber para onde estamos caminhando com nossa civilização, e Calendário Tsolkin e Haab Pirâmide Kukulcán (Serpente emplumada) nome de uma das maiores divindades da civilização Maia. Ela também representa um calendário Haab - possui 91 degraus de cada lado (pontos cardeais), somando os quatro lados 364, mais o patamar superior somando 365 dias. Fica na cidade de Chichén Itzá, Peninsula do Yucatán, México. Naturale dezembro/janeiro - 2012 Fotos: arquivo pessoal Observatório Astronomico de Mayapan, Peninsula do Yucatán, México. Prof. Dr. Carlos Viera da Universidad Autonoma de Yucatan e Marcelo Lambert. Diante disso afirmo, que a maior parte dos pesquisadores aceita o fato de que o calendário de longa duração que iniciou seu último ciclo em agosto de 3113 a.C para terminar 5125 anos e 132 dias depois, no solstício de inverno de 21 de dezembro de 2012, compõe a data mais polêmica do tempo Maia, pois partindo dessa data teríamos o início de um novo ciclo, tendo como o último katum (unidade de tempo que compõem 7200 dias), o período de maiores transformações para o Planeta. Essa data seria do ano de 1992 até dezembro de 2012. Claro que se observamos a nossa civilização de 1992 para o momento atual, vamos encontrar vários subsídios quanto às problemáticas sociais, ambientais, políticas e humanas, que vivenciamos e experimentamos em nosso mundo globalizado, mas em hipótese alguma sob a luz da civilização Maia, muito menos sobre a perspectiva de seus calendários, podemos efetivamente afirmar que o final dos tempos será em 2012, mesmo porque se observarmos a história da humanidade, vamos encontrar constantes situações em que o mundo parece estar à beira do caos e de seu fim. Pensem no que foi o século XX, definitivamente os 100 anos mais extremos que a humanidade passou, vivenciando guerras, revoluções, golpes, crises sociais, econômicas, políticas e ambientais, sem contar as grandes mudanças de paradigmas que estavam cristalizados há séculos. Gostaria de compartilhar uma experiência interessante que tive na minha última expedição (EXPEDIÇÃO ODISSEIA NO MUNDO MAIA – www.mundomaia. com.br), durante as pesquisas feitas pela rota Maia. Fiz várias entrevistas e conversei muito com pessoas de ascendência Maia, inclusive anciões de alguns povoados por onde fiquei trabalhando. Aprendi profundamente com essas pessoas e sempre perguntava quanto à questão do ano 2012. As respostas eram várias, mas quase todos respondiam que Naturale dezembro/janeiro - 2012 a maior preocupação era se iria chover para um bom cultivo e colheita, se eles teriam melhores condições sociais, se teriam maior participação política na sociedade e alguns até se teriam como viver com dignidade no próximo ano de 2012. Nas muitas reflexões sobre isso, conclui que, sem dúvida, o mais importante para eles é a manutenção real de sua cultura, tradições e principalmente de buscar condições mínimas para suprir suas necessidades humanas. Entendo que estamos passando por grandes transformações em nosso planeta, também acredito que a mudança de ciclo sob a perspectiva do calendário Maia em 2012, trará profundas reflexões e mudanças para nossas vidas, mas como será isso? Em minha opinião, o maior legado deixado pela civilização Maia para nós é um grande SINAL, ou melhor, um ALERTA, pois o mundo hoje “pensa” 2012, cada um da sua forma e maneira, mas essa reflexão está levando um grande número de pessoas a avaliarem os nossos problemas humanos e planetários. Tenho certeza de que as grandes transformações pelas quais a humanidade passou ao longo da história, foram pautadas por ideias que produziram uma energia tal, que movimentou e mudou o mundo. Outro aspecto importante é dizer que temos que viver em uma sociedade em que haja a possibilidade do SONHO, pois é terrível viver em um mundo fadado a terminar. Pensar que 2012 será o fim, nos faz deixar de viver o hoje e principalmente de lutar por um mundo melhor para todos. Tirar das pessoas a possibilidade do amanhã é matar o hoje. Definitivamente temos que entender e acreditar, que 2012 será o advento de um novo tempo para todos nós, um tempo sem guerras, sem explorações e principalmente um tempo onde os verdadeiros valores sejam os humanos e não do capital. Marcelo Lambert, especialista na cultura Maia, historiador, escritor e palestrante. [email protected]