AVALIAÇÃO DO MÉTODO DO FORNO MICROONDAS PARA A DETERMINAÇÃO DE UMIDADE DO SOLO EM RELAÇÃO AO MÉTODO PADRÃO DE ESTUFA Fonseca, S.O., Araújo, G.L., Faria, B.H.G., Liparizi Junior, A., Costa, J., Reis, E.F. Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias/Departamento de Engenharia Rural, CEP 29500-000, Alegre, ES, Brasil, [email protected] Resumo- O conhecimento da umidade é muito importante para o manejo de irrigação, pois ela indica em que condições hídricas o solo se encontra. A umidade do solo, embora seja um conceito físico simples, apresenta dificuldades na sua determinação, de forma a se obter um valor representativo devido à inerente variabilidade espacial e temporal das características físicas do solo. O método do forno microondas é um processo de secagem do solo através do emprego da radiação eletromagnética. As principais vantagens são a redução no consumo de energia e a significativa redução no tempo de secagem. O objetivo do trabalho foi comparar o método do forno de microondas com o método padrão de estufa, a fim de comprovar sua confiabilidade na determinação de umidade do solo. Os resultados evidenciaram que o método do forno microondas para a determinação de umidade do solo não difere estatisticamente do método padrão de estufa, constituindo uma metodologia confiável e que pode ser facilmente utilizada no manejo de irrigação. Palavras-chave: umidade do solo, método Área do Conhecimento: Ciências Agrárias do forno microondas, manejo de irrigação. Introdução O crescimento populacional mundial acelerado, junto com a degradação cada vez mais crescente dos recursos naturais, dentre eles a água, com certeza vem se tornando um desafio presente na vida de agricultores e pesquisadores, os quais buscam tecnologias que proporcionem um uso racional dos recursos naturais, reduzindo amplamente o consumo de água e energia, sobretudo na agricultura irrigada (OLIVEIRA, 2008). Nesse contexto, destaca-se o correto manejo de irrigação. O manejo de irrigação consiste em monitorar e quantificar periodicamente o consumo de água pelos vegetais, possibilitando determinar a deficiência nas atividades fisiológicas da planta, para a aplicação da lamina de irrigação necessária á cultura, no momento correto. O manejo de irrigação não pode ser considerado uma prática isolada, é sim um conjunto de técnicas que busquem determinar o momento coreto da aplicação da lamina de irrigação requerida pelas culturas, melhorando a eficiência no uso da água e respeitando o meio ambiente (SALOMÃO, 2007). A determinação da umidade do solo constitui uma importante ferramenta nos estudos relacionados á movimentação de água no solo e manejo de irrigação (MIRANDA et al., 2001) é o controle de irrigação associado a sistemas de manejo mais eficientes no uso da água, levam a resultados de produção com maior economia deste recurso (OLIVEIRA et al., 2000). O conhecimento de sua umidade é muito importante para o manejo de irrigação, pois ele indica em que condições hídricas o solo se encontra, (quantidade de água armazenada). A umidade do solo, embora seja um conceito físico simples, apresenta dificuldades na sua determinação, de forma a se obter um valor representativo devido à inerente variabilidade espacial e temporal das características físicas do solo (GONÇALVES et al., 1999). Existem várias maneiras de se medir a umidade de um solo, segundo métodos diretos ou indiretos, cada qual apresentando determinada precisão, tempo de resposta e custo do equipamento envolvido. O método padrão de estufa é um método de elevada precisão e serve de referência para a calibração de outros métodos (EMBRAPA, 1997). Seu principal inconveniente é a demora no tempo de resposta (24 horas), além da necessidade de utilizar estufa e balança de precisão. O método do forno microondas é um processo de secagem do solo através do emprego da radiação eletromagnética que se baseia no fato das moléculas de água serem dipolos elétricos naturais, os quais sofrem rotação quando expostos a um campo eletromagnético (TAVARES et al., 2008). Segundo Aguilar (2001), o atrito molecular resultante gera calor instantânea e uniformemente na amostra de solo, reduzindo a umidade. As principais vantagens são a redução XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1 no consumo de energia e a significativa redução no tempo de secagem (SOUZA et al., 2002). O objetivo do trabalho foi comparar o método do forno de microondas com o método padrão de estufa, a fim de comprovar sua confiabilidade na determinação de umidade do solo. Metodologia O trabalho foi conduzido no Laboratório de Análises Físicas do Solo do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo. Para comparar os diferentes métodos de determinação de umidade do solo, foram coletadas 2 amostras de solo, sendo um neossolo quartzarênico, de textura arenosa, e um latossolo vermelho-amarelo, de textura argilosa. Cada uma dessas amostras foi fracionada em três subamostras, que por sua vez foram incubadas por um período de 24 horas sob três diferentes umidades. Dessa forma, o trabalho constou de dois tipos de solo, sob três teores de umidade. Os métodos de determinação utilizados foram o método padrão de estufa (PE) e o método do forno microondas (FM). Para cada método, foram executadas três repetições. Para o método Padrão de Estufa (PE), foram retiradas três cápsulas de solo para determinação do teor médio de umidade em estufa a 105ºC por 24 horas, para efeito de comparação, segundo Embrapa (1997). Determinou-se a massa de cada amostra e estas foram então levadas à estufa. Após a secagem, determinou-se novamente a massa da amostra e calculou-se a porcentagem de umidade do solo pela equação: %Ubs = (M1 - M2) 100 (M2 - M3) Em que: M1 = Peso do solo + Peso da Cápsula; M2 = Peso do solo seco + Peso da Cápsula; M3 = Peso da Cápsula. Para o método do Forno Microondas (FM), inicialmente pesou-se os béquers de 250 mL onde seriam acondicionadas as amostras de solo. Pesou-se então aproximadamente 15 g de amostra de solo e adicionou-se nos béquers. Os recipientes foram levados ao forno de microondas doméstico com a seguinte rampa de aquecimento: 7 min a 100% da potência e 3 min a 50% da potência (SOUZA et al., 2002). Cada bateria constou de 6 amostras. Retiraram-se os frascos do forno, esperou-se esfriar em dessecador e pesou-se a amostra seca. Calculou-se a porcentagem de umidade do solo pela equação: %Ubs = (M1 - M2) 100 (M2 - M3) Em que: M1 = Peso do solo + Peso do béquer; M2 = Peso do solo seco + Peso do béquer; M3 = Peso do béquer. Foram obtidos as equações de regressão linear simples e os respectivos valores do coeficiente de determinação da umidade estimada pelo método do forno microondas comparativamente com o método Padrão de Estufa Termogravimétrico. A análise do desempenho do método para estimar a umidade do solo em % foi feita comparando-se os resultados obtidos no método a ser testado com o método Padrão de Estufa Termogravimétrico. A metodologia adotada para comparação dos resultados foi aquela proposta por Allen et al. (1989), a qual se fundamenta no erro-padrão da estimativa (SEE), calculado pela equação: 1 ∑ (y − ŷ ) 2 2 SEE = n −1 Em que: SEE = erro-padrão da estimativa; y = ŷ umidade Padrão de Estufa Termogravimétrico; = umidade obtida pelo método a ser testado; n = número de observações. A hierarquização das estimativas de umidade foi feita com base nos valores do erro-padrão da estimativa (SEE), do coeficiente de determinação (r2) e do coeficiente angular (b) das respectivas regressões lineares simples. Sendo que quanto maior o r² melhor, quanto menor o SSE melhor e o b deve estar próximo de 1. A precisão foi dada pelo coeficiente de determinação, a qual indica o grau em que a regressão explica a soma do quadrado total. A exatidão está relacionada à aproximação dos valores estimados em relação aos observados. Matematicamente, essa aproximação é dada por um índice designado de concordância ou ajuste, representado pela letra “d” (WILLMOTT et al., 1985). Seus valores variam de zero para nenhuma concordância a 1 para a concordância perfeita. O índice é dado pela seguinte expressão: N d =1− ∑ (Pi ∑ [( Pi N i =1 − O i =1 − Oi )2 )+ (Oi − O )] 2 Em que: d = índice de concordância ou ajuste; Pi = umidade obtida pelo método a ser testado; Oi = umidade obtida pelo Padrão de Estufa Termogravimétrico; O = média dos valores obtidos pelo Padrão de Estufa Termogravimétrico; n = número de observações. XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 2 Solo argiloso Metodo Forno Eletrico Resultados 38 Tabela 1 – Umidade média do solo nos diferentes tratamentos obtidas por ambos os métodos de determinação de umidade. solo Umidade Arenoso 1 2 3 1 2 3 Argiloso UMIDADE (%) PE FM 1,609 1,257 5,855 5,305 6,782 6,245 25,705 25,281 32,001 31,749 36,074 35,831 36 Umidade metodo Forno Eletrico As umidades médias determinadas pelos métodos padrão de estufa e forno microondas estão dispostas na tabela 1. 34 32 30 28 ŷ = 0,9905x - 0,0272 26 r² = 0.9865 24 24 26 28 30 32 34 36 38 Umidade Metodo Padrão de Estufa % Figura 2 – Método forno elétrico x método padrão de estufa para o solo argiloso. Os resultados para o solo arenoso estão dispostos na figura 1 complementada pela análise estatística da regressão disposta na tabela 2. Os resultados para o solo argiloso estão dispostos na figura 2 complementada pela análise estatística da regressão disposta na tabela 3. Tabela 3 - Valores do erro-padrão da estimativa (SEE), índice de concordância de Willmott (d), coeficiente de determinação (r2), coeficiente angular (b). SEE d r2 b 0,55927 0,962343 0,9906 1,0182 Solo arenoso Metodo Microondas Observa-se que o método do forno microondas não se diferiu estatisticamente do método padrão de estufa, constituindo-se em um método confiável e eficiente na determinação de umidade do solo. Umidade Forno microondas % 8 6 Discussão 4 2 yˆ = 0,9607x - 0,2936 r ² = 0,9988 0 0 2 4 6 8 Umidade Padrão de estufa % Figura 1 – Método forno microondas x método padrão de estufa para o solo arenoso. Tabela 2 - Valores do erro-padrão da estimativa (SEE), índice de concordância de Willmott (d), coeficiente de determinação (r2), coeficiente angular (b). SEE d r2 b 0,52360 0,938161 0,9988 0,9607 Resultados similares foram obtidos por Souza et al. (2002), concluindo que o procedimento proposto apresenta-se como uma alternativa ao método convencional de secagem (método padrão de estufa). Segundo Tavares et al. (2008), o processo de secagem no forno de microondas tem maior efeito sobre solos argilosos em relação àqueles arenosos. Vinholis et al. (2008), avaliando o potencial econômico, social e ambiental do microondas doméstico para determinação de matéria seca e do teor de água em solos e plantas, concluiu que o uso de microondas para determinação do conteúdo de água em solo permite otimizar atividades de irrigação em sistemas intensivos de produção agrícola, gerando impacto positivo do ponto de vista econômico, social e ambiental nos sistemas de controle da qualidade e de produção agrícola. Além disso, o método do microondas apresenta-se como um método rápido para determinação de umidade, sendo que cada bateria tem capacidade de 6 amostras e o tempo gasto XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 3 em cada bateria é de aproximadamente 20 minutos. Conclusão O método do forno microondas é um método eficiente para a determinação de umidade do solo, podendo ser utilizado em análises de rotina para o manejo de irrigação. Referências - AGUILAR, J.A.G. Procesamiento de materiales por medio de microondas em la FIME. Ingenierías, Nuevo León, v.4, n.13, p.32-39, 2001. - ALLEN, R.G.; JENSEN , M.E. ; BORNAN, R.D. Operational estimates of reference evapotranspiration. Agronomy Journal, Madison , v.81, p.650-662, 1989. - EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Manual de métodos de análise de solos. 2.ed. Rio de Janeiro: Centro Nacional de Pesquisa de Solos, 1997. - SOUZA, G.B.; NOGUEIRA, A.R.A.; RASSINI, J.B. Determinação de matéria seca e umidade em solos e plantas com forno de microondas doméstico. EMBRAPA: São Carlos, 2002. (Circular Técnica Nº 33). TAVARES, M.H.F.; CARDOSO, D.L.; GENTELINI, D.P.; GABRIEL FILHO, A.; KONOPATSKI, E.A. Uso do forno de microondas na determinação da umidade em diferentes tipos de solo. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v.29, n.3, p.529-538, 2008. - VINHOLIS, M.M.B.; SOUZA, G.B.; NOGUEIRA, A.R.A.; PRIMAVESI, O. Uso do microondas doméstico para determinação de matéria seca e do teor de água em solos e plantas: Avaliação econômica, social e ambiental. Custos e Agronegócio on line, v.4, n.2, 2008. Disponível em: www.custoseagronegocioonline.com.br. Acesso em: 23 mai. 2009. - WILLMOTT, C.J.; CKLESON, S.G.; DAVIS, R.E. Statistics for evaluation and comparasion of models. Journal of Geophysical Research, Ottawa , v.90, n.C5, p.8995-9005, 1985. - GONÇALVES, A.C.A. et al. Estabilidade temporal da distribuição espacial da umidade do solo em área irrigada por pivô central. Rev. Bras. Cienc. Solo, Viçosa, v.23, p.155-164, 1999. - MIRANDA, L.N.; AZEVEDO, J.A.; MIRANDA, J.C.C.; GOMES, A.C. Produtividade do feijoeiro em resposta a adubação fosfatada e a regimes de irrigação em solos do cerrado. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.35, n.4, p.703-10, 2001. - OLIVEIRA, H.F.E. Modelagem semi-empírica da distribuição da água de aspersores autopropelidos sob diferentes condições de vento. 2008. 74p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola. Engenharia da Água e Solo) – Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG. - OLIVEIRA, L.F.C.; NASCIMENTO, J.L.; STONE, L.F. Demanda total de água do feijoeiro nos sistemas de plantio convencional e direto. In: CONGRESO BRASILEIRO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA, 30. 2000, Fortaleza. Anais... Fortaleza: Sociedade Brasileira de Engenharia Agrícola, 2000. p.12-16. - SALOMÃO, L.C. Parâmetros que devem ser observados no manejo de irrigação. Ipameri, 2007. Disponível em: http://br.monografias.com/trabalhos 3/parametro-observados-irrigacao/parametro-obse rvados-irrigacao2.shtml. Acesso em: 09 jul. 2009. XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 4