Técnicas para a determinação do diagrama de irradiação de antenas de microfita esféricas circularmente polarizadas Daniel Basso Ferreira* Neste trabalho, apresentam-se duas técnicas numericamente eficientes para a determinação do diagrama de irradiação de antenas de microfita esféricas circularmente polarizadas. A primeira delas é o modelo de fenda, já bastante utilizado na análise de antenas de microfita planas e cilíndricas eletricamente finas; a outra técnica é o método da corrente elétrica superficial, que emprega as funções de Green no domínio espectral. Ambas as técnicas são associadas ao modelo da cavidade ressonante com o objetivo de garantir sua eficiência computacional. Faz-se uso do Teorema da Reciprocidade para derivar os campos do modelo de fenda e utiliza-se um modelo circuital de onda completa para avaliar as funções de Green espectrais. Além disso, é introduzido um novo procedimento, que dispensa análise gráfica, para automatizar o cálculo e a ordenação das raízes da equação transcendental que define os modos de ressonância que podem se estabelecer na cavidade equivalente. As antenas estudadas ao longo do artigo são simuladas no software CST como forma de validar os resultados obtidos com as duas técnicas de análise ora descritas. Palavras-chave: Antenas de microfita esféricas. Polarização circular. Modelo de fenda. Método da corrente elétrica superficial. Modelo da cavidade. Introdução O conceito de irradiadores de microfita foi primeiramente apresentado por Deschamps em 1953, durante o 3° Simpósio sobre Antenas patrocinado pela Força Aérea Americana (DESCHAMPS; SICHAK, 1953). Na ocasião, Deschamps propôs o uso de linhas de microfita, em vez de guias de onda – tradicionais à época –, para compor o circuito de alimentação de algumas redes de antenas, e destacou as suas principais vantagens. Entre elas, estavam o menor volume ocupado, o peso reduzido, o menor custo de fabricação e a possibilidade de as linhas de microfita assumirem várias formas e poderem ser empilhadas. Contudo, os elementos impressos da rede empregada por Deschamps não eram antenas de microfita, mas sim cornetas planas alargadas. Apesar do trabalho apresentado por Deschamps, o desenvolvimento efetivo das antenas de microfita só ocorreu cerca de 20 anos mais tarde, na década de 70, quando houve uma evolução dos modelos teóricos para a análise dessas antenas e também se tornaram disponíveis laminados para frequências de micro-ondas com baixas tangentes de perdas e com características mecânicas e térmicas atrativas (GARG et al., 2001). A primeira antena de microfita com a topologia que é hoje amplamente difundida foi introduzida por Munson em 1972, num trabalho apresentado no 22° Simpósio sobre Antenas, também patrocinado pela Força Aérea Americana. Esse trabalho foi seguido de um artigo publicado em 1974 (MUNSON, 1974) na revista IEEE Transactions on Antennas and Propagation, sendo referência na área de irradiadores impressos e tratando de antenas de microfita com patch wraparound e com patch retangular, dedicadas, por exemplo, a aplicações em mísseis (VOLAKIS, 2007). A geometria mais simples de uma antena de microfita é composta por um patch metálico, em geral, com forma retangular, localizado sobre um substrato dielétrico que possui um plano de terra na sua face inferior, conforme ilustrado na Figura 1. Patch Plano de terra Figura 1 Antena de microfita plana com patch retangular Atualmente, existem antenas de microfita com estruturas de maior complexidade, porém mais versáteis, o que possibilita, por exemplo, sua utilização no campo aeroespacial, mais especificamente, como antenas para navegação de aeronaves, antenas de satélites, antenas de veículos espaciais, etc. Ademais, as antenas de microfita podem ser encontradas em telefones celulares, em radares de abertura sintética (SAR) aplicados em sensoriamento remoto, em *Autor a quem a correspondência deve ser dirigida: [email protected]. Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 9, n.1, p. 47-64, jan./jun. 2013 Técnicas para a determinação do diagrama de irradiação de antenas de microfita esféricas circularmente polarizadas receptores de navegação por satélite e até mesmo em irradiadores de aplicação biomédica. Esse amplo uso da antena de microfita se deve, entre outras razões, ao seu baixo peso, seu volume reduzido, sua compatibilidade com circuitos integrados em micro-ondas e também à sua conformabilidade às superfícies curvas, fato este que acaba lhe conferindo um baixo perfil aerodinâmico (GARG et al., 2001). Embora em muitas aplicações o uso de apenas uma única antena de microfita garanta o ganho e o diagrama de irradiação desejados, frequentemente, para se conseguir maiores ganhos e diagramas de irradiação com características particulares, é necessário o projeto de redes de antenas de microfita. Porém, uma característica das redes de antenas de microfita montadas sobre superfícies planas ou cilíndricas é o fato de apresentarem apontamento de feixe limitado. Já as redes de antenas de microfita conformadas sobre superfícies esféricas permitem apontar um ou mais feixes em direções arbitrárias, e por isso são candidatas a aplicações em serviços de comando para satélites de comunicações de órbitas baixas e médias, em telemetria e em rastreamento (SIPUS et al., 2006). Desse modo, vê-se que o desenvolvimento de técnicas para análise e síntese de antenas e de redes de antenas de microfita montadas sobre superfícies esféricas, que sejam numericamente eficientes, é bastante relevante, dado o seu potencial de uso. Além disso, caso esses irradiadores sejam utilizados nos enlaces com satélites de comunicações móveis, é interessante que eles sejam circularmente polarizados, de forma a evitar rastreio de polarização e a rotação Faraday (BASARI et al., 2010). Assim, a proposta deste trabalho é apresentar duas técnicas computacionalmente eficientes para a determinação do diagrama de irradiação de antenas de microfita esféricas circularmente polarizadas. Em particular, serão analisadas antenas alimentadas por duas e por quatro pontas de prova coaxiais com rotação e alimentação sequenciais. Na literatura, já existem alguns trabalhos dedicados à análise desses irradiadores. Por exemplo, no trabalho de SIPUS e autores (2006), utiliza-se o método dos momentos (MoM) para efetuar a análise de antenas e redes de antenas de microfita esféricas linearmente polarizadas. Embora a solução fornecida pelo MoM seja acurada, ela demanda elevado esforço computacional. Por isso, neste artigo, em vez de se usar o MoM, propõe-se empregar tanto o modelo de fenda (DERNERYD, 1978) quanto o método da corrente elétrica superficial (TAM; LUK, 1991), associados ao modelo da cavidade ressonante (LIMA; DESCARDECI; GIAROLA, 1991; LO; SOLOMON; RICHARDS, 1979), para 48 realizar a análise das antenas de microfita esféricas, dada a eficiência numérica que exibem e o fato de que também conseguem estimar, com relativo grau de acurácia, a irradiação traseira dessas antenas. Isso acontece porque as estruturas que compõem esses irradiadores não são truncadas, diferentemente do que ocorre nas antenas de microfita planas ou cilíndricas, cuja estrutura de terra, por exemplo, é truncada. No desenvolvimento do modelo de fenda, o Teorema da Reciprocidade (HARRINGTON, 1961) será utilizado para derivar, de maneira direta, os coeficientes presentes na expressão que descreve o campo eletromagnético irradiado pela antena. E no método da corrente elétrica superficial, propõe-se o uso de um modelo circuital de onda completa (GIANG, 2005) para a determinação da função diádica de Green espectral da estrutura multicamada que modela as antenas sob análise. Esse modelo circuital de onda completa também pode ser aplicado ao cálculo das funções de Green espectrais de outras topologias de antenas de microfita esféricas, como, por exemplo, aquelas que possuem uma camada dielétrica para a proteção do patch, ou seja, ele sistematiza o cálculo dessas funções. Como essas técnicas de análise serão associadas ao modelo da cavidade, neste artigo será introduzido um procedimento, que dispensa análise gráfica, para calcular e ordenar as raízes da equação transcendental que define os modos de ressonância que podem se estabelecer no interior da cavidade equivalente. Para verificar os resultados determinados com os métodos de análise propostos, as antenas estudadas no artigo também são simuladas no software comercial de análise de onda completa CST® (CST, 2012). Na Seção 2, apresentam-se os resultados dessas comparações. 1 Teoria Nesta seção, serão descritas, em detalhes, as duas técnicas, propostas neste artigo, para a avaliação do campo elétrico distante irradiado por uma antena de microfita esférica. Primeiramente, deriva-se a expressão para o cálculo do campo elétrico distante, através do modelo de fenda e, em seguida, por meio do método da corrente elétrica superficial. Cabe destacar que a principal vantagem do modelo de fenda reside no fato de ele demandar baixo esforço computacional, conforme será constatado na seção de resultados. Já o método da corrente elétrica superficial é adequado quando se busca maior acurácia nos resultados obtidos. 1.1 Campo elétrico distante irradiado Conforme exposto anteriormente, existem algumas formas para se avaliar o campo elétrico distante irradiado por uma antena de microfita Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 9, n.1, p. 47-64, jan./jun. 2013 Técnicas para a determinação do diagrama de irradiação de antenas de microfita esféricas circularmente polarizadas esférica. Entre elas estão o modelo de fenda e o método da corrente elétrica superficial. Essas duas técnicas têm a vantagem de serem numericamente eficientes, frente aos métodos de análise de onda completa, e.g., o método dos momentos – MoM (GIANG, 2005), ao mesmo tempo em que proveem dados com relativo grau de acurácia, principalmente quando se analisam irradiadores eletricamente finos. A seguir, apresenta-se o formalismo proposto neste trabalho para determinar expressões em forma fechada, destinadas ao cálculo do campo elétrico distante irradiado por uma antena de microfita esférica, primeiro utilizando-se o modelo de fenda e, na sequência, empregando-se o método da corrente elétrica superficial. Vale ressaltar que, no desenvolvimento subsequente, foram selecionadas antenas de microfita esféricas com patch circular; todavia, o formalismo teórico descrito também é válido para outras formas geométricas regulares de patch, a exemplo das formas anular, retangular e triangular. Na Figura 2, visualiza-se a geometria geral de uma antena de microfita esférica. Essa antena é composta por uma esfera de terra (condutor elétrico perfeito) de raio a, recoberta por um substrato dielétrico de espessura h, permissividade elétrica complexa ε e permeabilidade magnética complexa µ. Na face externa desse substrato há um patch metálico que pode ser alimentado, por exemplo, por ponta de prova coaxial ou linha de transmissão de microfita – também impressa na face externa do substrato. z h Patch Substrato dielétrico a y b Esfera de terra x Figura 2 Geometria geral de uma antena de microfita esférica 1.1.1 Modelo de fenda Do ponto de vista da irradiação, uma antena de microfita eletricamente fina pode ser tratada como um arranjo de fendas eletromagnéticas estreitas localizadas ao longo das bordas do patch da antena (DERNERYD, 1978; HAMMER et al., 1979). A validação desse modelo de fenda foi apresentada por Derneryd (1978), que Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 9, n.1, p. 47-64, jan./jun. 2013 descreveu um experimento no qual uma tela de cristal líquido era colocada próxima ao patch retangular de uma antena de microfita plana, que operava no modo fundamental. Na tela, foram identificadas duas regiões semelhantes de campo intenso, localizadas ao longo dos lados não ressonantes do patch, as quais tinham uma largura próxima à espessura do substrato. Assim, o campo elétrico distante irradiado pela antena de microfita plana, com patch retangular e que operava no modo fundamental, pôde ser estimado a partir do campo irradiado por uma rede linear de duas fendas eletromagnéticas uniformemente iluminadas e separadas por uma distância igual ao lado que controlava a ressonância do patch. Para essa geometria de antena, o diagrama de irradiação estimado através desta técnica não prevê a irradiação na região traseira da antena, ou seja, parâmetros como a relação frente-costas não podem ser avaliados. Estendendo o modelo de fenda aplicado às antenas de microfita planas para as antenas de microfita esféricas, tem-se que, em termos de irradiação, estas também podem ser modeladas por meio de um arranjo de fendas eletromagnéticas estreitas localizadas ao longo das bordas do patch e posicionadas na superfície de uma esfera metálica perfeitamente condutora. É interessante notar que, no caso da geometria esférica, como não há truncamento do plano de terra e do substrato dielétrico da antena, o modelo de fenda permite estimar sua irradiação em todo o espaço, possibilitando, dessa forma, avaliar a relação frente-costas da antena, por exemplo. Cabe ressaltar que as larguras dessas fendas coincidem com as extensões dos campos de franja da antena. Além disso, suas distribuições de campo elétrico equivalem à projeção dos campos de franja na direção tangente à esfera condutora. Sendo assim, para determinar o campo elétrico distante irradiado por uma antena de microfita esférica, valendo-se do modelo de fenda, primeiro é necessário calcular o campo elétrico distante irradiado por uma fenda eletromagnética estreita posicionada na superfície de uma esfera perfeitamente condutora de raio b. Para tanto, lança-se mão da teoria de potenciais auxiliares (BALANIS, 1989), pois pode-se mostrar que uma onda eletromagnética que se propaga num meio linear, homogêneo e isotrópico, denominado meio simples, e livre de fontes (de origem elétrica e magnética) pode ter seus campos decompostos em parcelas do tipo TE e do tipo TM. Os vetores potenciais auxiliares Ae e Am (símbolos em negrito indicam grandezas vetoriais), para um meio simples de características eletromagnéticas ε e µ, que originam os campos dessas parcelas, são dados por: 49 Técnicas para a determinação do diagrama de irradiação de antenas de microfita esféricas circularmente polarizadas Ae = ∞ ∞ ∑ ∑ {A m n Ĥ (1) n ( kr ) (1) m =−∞ n =|m| } | m| jm φ r, + Bnm Ĥ (2) n ( kr ) Pn (cos θ)e Am = ∞ ∞ ∑ ∑ {C Ĥ (kr )} P m n Ĥ (1) n ( kr ) (2) m =−∞ n =|m| + Dnm jm φ | m| r, n (cos θ)e (2) n onde Ĥn(1)(.) e Ĥn(2)(.) representam as funções esféricas de Hankel do tipo Schelkunoff de ordem n, de 1ª e 2ª espécies, respectivamente. Pn|m|(.) indica a função associada de Legendre de 1ª espécie, de grau n e ordem |m|, k = ω {µ ε}1/2 , os coeficientes Anm, Bnm, Cnm e Dnm são dependentes do contorno do problema, r > 0 e consideram-se variações harmônicas da forma e j ωt . Como observado, os vetores Ae e Am são dependentes da função associada de Legendre de 1ª espécie e das funções esféricas de Hankel do tipo Schelkunoff. Por isso, é imprescindível ter boas rotinas numéricas para avaliar essas funções, de ∑ ∑ {A ∞ Er = − jω ∞ m n m =−∞ n =|m| Eθ = ∞ modo a não comprometer a acurácia dos resultados e a não restringir o conjunto de antenas passíveis de serem analisadas. Neste trabalho, utilizou-se o pacote Mathematica® (Mathematica 8, 2012) para conduzir esses cálculos, uma vez que ele possibilita calcular essas funções para graus e ordens elevados. Tendo em vista os potenciais (1) e (2), expressa-se, em forma fechada, o campo eletromagnético que se estabelece no meio simples e sem fontes em questão (equações presentes na parte inferior desta página) (BALANIS, 1989). Uma vez conhecidas as expressões que descrevem esse campo, passase à determinação do campo eletromagnético distante irradiado por uma fenda localizada na superfície de uma esfera perfeitamente condutora de raio b. Para que as componentes de campo (3)-(8) estejam univocamente determinadas, é necessário avaliar os coeficientes Anm, Bnm, Cnm e Dnm , que são funções do contorno do problema. Neste artigo, com o objetivo de realizar estes cálculos de forma direta, será empregado o Teorema da Reciprocidade, proposto por Lorentz (CARSON, 1929). De acordo com esse Teorema, } H ˆ (1) ′′(kr ) + H ˆ (1) (kr ) + B m H ˆ (2) ′′(kr ) + H ˆ (2) (kr ) P|m| (cos θ)e jm φ n n n n n n (3) ∞ 1 1 m ˆ (1) ′ ˆ (2) ′(kr ) d P|m| (cos θ) An H n (kr ) + Bnm H n d θ n r j µε m =−∞ n =|m| ∑∑ (4) | m| jm φ m ˆ (1) (kr ) + D m H ˆ (2) (kr ) Pn (cos θ) e + Cnm H n n n jε sen θ ∞ ∞ Pn|m| (cos θ) 1 m m ˆ (1) ′ m ˆ (2) ′ + H ( ) H ( ) A kr B kr n n n n sen θ r µε m =−∞ n =|m| ∑∑ Eφ = (5) 1 jm φ ˆ (1) (kr ) + D m H ˆ (2) (kr ) d P|m| (cos θ) + Cnm H e n n n dθ n ε H r = − jω ∑ ∑ {C ∞ ∞ m n m =−∞ n =|m| Hθ = + Hφ = } H ˆ (1) ′′(kr ) + H ˆ (1) (kr ) + D m H ˆ (2) ′′(kr ) + H ˆ (2) (kr ) P|m| (cos θ)e jm φ n n n n n n ∞ ∞ | m| jm m ˆ (1) 1 ˆ (2) (kr ) Pn (cos θ) An H n (kr ) + Bnm H n sen θ r µ m =−∞ n =|m| ∑∑ (7) 1 m ˆ (1) ′ jm φ ˆ (2) ′(kr ) d P|m| (cos θ) Cn H n (kr ) + Dnm H e n n dθ j µε ∞ ∞ 1 1 ∑ ∑ r − µ A m =−∞ n =|m| + 50 (6) m n ˆ (1) (kr ) + B m H ˆ (2) (kr ) d P|m| (cos θ) H n n n dθ n m m ˆ (1) ′ ˆ (2) ′(kr ) Cn H n (kr ) + Dnm H n µε Pn|m| (cos θ) sen θ e (8) jm φ Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 9, n.1, p. 47-64, jan./jun. 2013 Técnicas para a determinação do diagrama de irradiação de antenas de microfita esféricas circularmente polarizadas para dois campos quaisquer (E1, H1 e E2, H2) de mesma frequência, livres de fontes e que satisfazem as equações de Maxwell num dado volume V, vale a igualdade: ∫ E ×H 1 ⋅ ndS = 2 ∂V ∫E 2 × H1 ⋅ ndS , (9) ∂V onde ∂V representa a superfície do volume V e n é um versor normal a essa superfície, orientado para o exterior de V. Para o problema em questão, o volume V corresponde à região externa à esfera condutora (espaço livre de características eletromagnéticas µ0 e ε0) e, portanto, é limitado por superfícies esféricas de raio b (Si) e de raio ∞ (Se), tal como representado na Figura 3. Considerando que o campo E1, H1 tenha componentes transversais dadas por (4), (5) e (7), (8), e que E2, H2 seja o campo eletromagnético de um modo TE ou TM de coeficiente unitário, que pode se estabelecer em V, a igualdade (9) se reduz a: ∫(E 1φ H 2 θ − E1θ H 2 φ ) dS Si = ∫(E 2 φ H1θ na parte inferior desta página. Agora, considerando que E2 , H2 seja o campo eletromagnético de um modo TMNM esférico de coeficiente unitário, presente em r > b (espaço livre), e realizando as integrações de (10), chegase ao coeficiente Bnm, descrito pela equação (14), localizada na parte inferior desta página. Desse modo, o campo elétrico irradiado por uma fenda eletromagnética posicionada na superfície de uma esfera condutora de raio b está univocamente determinado. Para calcular o campo distante, basta utilizar a seguinte aproximação assintótica: (15) Ĥ (2) (k r ) → j n +1e − jk0 r . n 0 r →∞ Vale destacar que o formalismo teórico anterior não particularizou a forma geométrica da fenda, nem a distribuição de campo elétrico nela presente, e por isso pode ser aplicado na análise de antenas de microfita esféricas com patches circulares, anulares, retangulares, triangulares, etc. Na Seção 2, será exemplificado o cálculo do diagrama de irradiação de antenas de microfita esféricas com patch circular, e será possível verificar a sua elevada eficiência computacional. (10) − E2 θ H1φ ) dS , Si onde já foi levado em conta que os campos E1, H1 e E2, H2 satisfazem às condições de irradiação de Sommerfeld (ELLIOTT, 2003). Dessas condições, também resulta que Anm = 0 e Cnm = 0 na região do espaço livre, ou seja, nesse meio, há apenas a onda que se propaga no sentido positivo de r. Como a superfície Si coincide com a superfície da esfera condutora onde está localizada a fenda eletromagnética, tem-se que em r = b valem as igualdades: (11) E =E , 1θ aθ E1φ = Eaφ , (12) em que Eaθ e Eaφ são as componentes nas direções θ e φ, respectivamente, do campo elétrico presente na fenda. Adotando que E2 , H2 seja o campo eletromagnético de um modo TENM esférico de coeficiente unitário, que se estabelece em r > b (espaço livre), e efetuando as integrações de (10), o coeficiente Dnm fica expresso por (13), apresentado 2π Dnm = 1.1.2 Método da corrente elétrica superficial Outra forma numericamente eficiente de avaliar o campo elétrico distante irradiado por uma antena de microfita esférica se dá por meio do método da corrente elétrica superficial (TAM; LUK, 1991). π Pn|m| (cos θ) b ε0 d | m| jm Eaθ + Pn (cos θ) Eaφ e− jm φ sen θd θd φ (2) ˆ ( k b) sen θ dθ 2π S(n, m) H 0 n φ= 0 θ= 0 ∫∫ 2π Bnm Figura 3 Volume para aplicação do Teorema da Reciprocidade (13) π d | m| jb µ 0 ε 0 P|m| (cos θ) = Pn (cos θ) Eaθ − jm n Eaφ e− jm φ sen θd θd φ (2) ˆ ′ ( k b) sen θ dθ 2π S(n, m) H 0 n φ= 0 θ= 0 ∫∫ Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 9, n.1, p. 47-64, jan./jun. 2013 (14) 51 Técnicas para a determinação do diagrama de irradiação de antenas de microfita esféricas circularmente polarizadas Essa técnica permite contabilizar, sem aproximações, o efeito que o substrato dielétrico desempenha na estrutura, diferentemente do modelo de fenda apresentado na seção anterior. Por isso, o método da corrente elétrica superficial fornece resultados mais acurados, por exemplo, na análise de antenas de microfita esféricas eletricamente espessas, desde que haja uma boa estimativa para a densidade de corrente elétrica superficial que se estabelece sobre o patch. Além disso, como nessa antena nem o substrato dielétrico nem a esfera de terra são truncados, este método, tal como o modelo de fenda, também provê uma boa estimativa para a irradiação traseira da antena, possibilitando, por exemplo, a estimativa da sua relação frentecostas. Para o método da corrente elétrica superficial, a antena de microfita da Figura 2 é modelada com base em uma estrutura de três camadas – mais especificamente, camada da esfera de terra, camada do substrato dielétrico e camada do espaço livre. Além disso, na interface entre as camadas do substrato dielétrico e do espaço livre, há uma densidade de corrente elétrica superficial, para levar em conta a presença do patch metálico da antena. A análise dessa estrutura de três camadas será iniciada com a determinação das componentes transversais do campo eletromagnético presente na camada do substrato dielétrico. Sendo assim, adotando que a permissividade elétrica do substrato dielétrico seja εs , a sua permeabilidade magnética seja µ0 , e tendo em vista que o campo eletromagnético (3)-(8) também pode representar o campo existente nessa camada, sendo que, no presente caso, os coeficientes Anm e Cnm são não nulos – diferentemente do campo na região do espaço livre –, pois há uma onda estacionária nessa camada, as componentes transversais em (3)-(8) são reescritas na seguinte forma compacta: Et = ∞ ∞ ∑ ∑ Lɶ(n, m, θ) ⋅ (r, n)e jm φ t m =−∞ n =|m| ∞ ∞ ∑ ∑ Lɶ(n, m, θ) ⋅ (r, n)e jm φ t , (17) m =−∞ n =|m| onde ks = ω {µ0 εs}1/2, t (r, n) e t (r, n) são expressos em (19) e (20), localizadas na parte inferior desta página, a ≤ r ≤ b, o subscrito t indica que o referido vetor possui apenas componentes transversais, segundo as direções θ e φ, e: d |m| Pn (cos θ) dθ Lɶ = Pn|m| (cos θ) jm sen θ Pn|m| (cos θ) sen θ (18) . d |m| Pn (cos θ) dθ − jm As formas compactas (16) e (17) suscitam a definição de um par de transformadas de Legendre vetorial (SIPUS et al., 2006), apresentado a seguir, que viabiliza a solução das antenas de microfita esféricas no domínio espectral – tal como é feito para as antenas de microfita planas (POZAR, 1986) e cilíndricas, nas quais se emprega a transformada de Fourier: X ( r , θ, φ) = ∞ ∞ ∑ ∑ Lɶ(n, m, θ) ⋅ (r , n)e jm φ , (21) m =−∞ n =|m| ( r , n ) = 1 2π S(n, m) 2π π ∫ ∫ Lɶ(n, m, θ) φ= 0 θ= 0 (22) ⋅ X (r , θ, φ)sen θe − jm φ d θd φ , onde X (r, θ , φ) representa uma grandeza vetorial no domínio espacial, que tem somente componentes transversais segundo as direções θ representa a grandeza e φ, (r, n) correspondente no domínio espectral e: S( n, m) = 2n(n + 1)(n + | m |)! , (2n + 1)(n − | m |)! (23) que também figura em (13) e (14). Portanto, (19) e (20) denotam os campos elétrico e magnético espectrais na camada do substrato dielétrico, respectivamente. A vantagem de se trabalhar no domínio espectral reside no fato de que as funções de Green associadas à estrutura da antena são escritas em forma fechada, diferentemente das funções correspondentes no domínio espacial, que são representadas através ω m ˆ (1) ′ ˆ (2) ′(k r ) An H n (k s r ) + Bnm H n s jk s r 1 m ˆ (1) m ˆ (2) H ( ) + H ( ) C k r D k r n n s n n s εs r (19) ω m ˆ (1) ′ m ˆ (2) ′ jk r Cn H n (k s r ) + Dn H n ( ks r ) s t ( r , n) = 1 (1) (2) m m ˆ ˆ An H n (ks r ) + Bn H n (ks r ) − µ0 r (20) t ( r , n) = 52 , (16) Ht = Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 9, n.1, p. 47-64, jan./jun. 2013 Técnicas para a determinação do diagrama de irradiação de antenas de microfita esféricas circularmente polarizadas de integrais e/ou somatórios, dependendo da geometria em questão. Vale lembrar que as funções de Green podem ser interpretadas como as funções de transferência do problema, ou seja, o campo eletromagnético que se estabelece na estrutura se relaciona com as densidades de corrente presentes nessa mesma estrutura através das funções de Green. Para simplificar e sistematizar o cálculo das funções de Green espectrais, neste trabalho, lança-se mão de um modelo circuital de onda completa (GIANG, 2005), que permite avaliar os campos espectrais transversais nas interfaces da estrutura multicamada que modela a antena em questão. O uso do referido circuito evita, por exemplo, os erros associados à determinação das funções de Green efetuada manualmente, visto que a solução do circuito pode ser realizada com o auxílio de um computador. Além disso, o modelo circuital pode ser utilizado na análise de estruturas que tenham mais de três camadas – por exemplo, as antenas de microfita que possuem uma cobertura dielétrica para proteção do patch. Uma vez que a camada do substrato dielétrico possui duas interfaces, uma em r = a e outra em r = b, ela é representada no modelo circuital por meio de um quadripolo (duas portas), cuja matriz de transmissão (ou matriz (ABCD)) seja conhecida. Para determinar essa matriz, primeiro se avaliam (19) e (20) na interface r = b, de onde se derivam os coeficientes Anm, Bnm, Cnm e Dnm em função dos campos transversais em r = b. Em seguida, calculam-se as componentes de campo transversais espectrais em r = a, de forma que: t (a, n) Vɶ Zɶ t (b, n) ⋅ = , t (a, n) Yɶ Bɶ t (b, n) (24) onde b 0 j 2 a pn , Vɶ = Bɶ = b rn 0 j 2a bηs qn 0 2 a ɶ , Z = bηs s 0 n 2a b 0 − qn 2 aη s , Yɶ = b sn 0 − 2 a ηs ˆ (2) (k a) H ˆ (1) ′(k b) − H ˆ (1) (k a ) H ˆ (2) ′(k b), (30) rn = H n s n s n s n s ˆ (2) (k b) H ˆ (1) ( k a) − H ˆ (1) ( k b) H ˆ (2) ( k a), (31) sn = H n s n s n s n s com ηs = {µ0 / εs}1/2 denotando a impedância intrínseca do substrato dielétrico. Assim, a matriz de transmissão do quadripolo (Figura 4(a)) que representa circuitalmente a camada do substrato dielétrico é expressa por: Vɶ Zɶ ( ABCD) = . ɶ ɶ Y B De forma semelhante ao procedimento adotado anteriormente, escreve-se a seguir, em forma compacta, o campo eletromagnético espectral transversal no espaço livre: ωEnm (2) Ĥ n ′(k0 r ) jk0 r , 0t (r , n) = m F n Ĥ (2) k r ( ) 0 n ε r 0 (33) ωFnm (2) Ĥ n ′(k0 r ) jk r , 0t (r , n) = 0 m E − n Ĥ (2) ( k r ) µ r n 0 0 (34) em que as condições de irradiação de Sommerfeld (ELLIOTT, 2003) já foram consideradas e os coeficientes Enm e Fnm estão associados à onda que se propaga no sentido positivo de r. Como a região do espaço livre possui uma única interface, localizada em r = b, os campos elétrico e magnético transversais espectrais (33) e (34) são relacionados nessa interface, de onde decorre que: (35) (b, n) = Yɶ ⋅ (b, n), 0t (25) (26) (27) sendo: ˆ (2) (k b)H ˆ (1) ′(k a ) − H ˆ (1) (k b)H ˆ (2) ′(k a), (28) pn = H n s n s n s n s ˆ (2) ′(k a )H ˆ (1) ′(k b) − H ˆ (1) ′(k a )H ˆ (2) ′( k b), (29) qn = H n s n s n s n s Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 9, n.1, p. 47-64, jan./jun. 2013 (32) 0 0t onde 0 Yɶ0 = (2) Ĥ n (k0b) (2) jη0 Ĥ n ′( k0 b) ′ Ĥ (2) n ( k0 b ) jη0 Ĥ(2) n ( k0 b) (36) , 0 sendo η0 = {µ0 / ε0}1/2 a impedância intrínseca do espaço livre. Então, como (35) pode ser associada à Lei de Ohm, a camada do espaço livre é modelada através de uma admitância de carga Ỹ0 (Figura 4(b)) no modelo circuital para o cálculo da função diádica de Green espectral transversal. Por outro lado, tendo em vista que o campo elétrico tangente à superfície da camada da esfera de terra (condutor perfeito) deve ser nulo, i.e., Egt (a, θ , φ) = 0, vem que gt (a, n) = 0. Logo, no modelo circuital a camada da esfera de terra é 53 Técnicas para a determinação do diagrama de irradiação de antenas de microfita esféricas circularmente polarizadas representada por meio de um curto-circuito (Figura 4(c)). E, como a condição de contorno para o campo magnético (BALANIS, 1989) em r = b exige que: (37) r × ( H (b, θ, φ) − H (b, θ, φ) ) = J , 0 s onde Js é a densidade de corrente elétrica superficial sustentada pelo patch, tem-se que a relação entre os campos magnéticos transversais transformados na interface r = b fica: (38) 0t (b, n) − t (b, n) = sφ θ − sθ φ . Portanto, uma vez que (38) pode ser relacionada à Lei dos Nós, a densidade de corrente elétrica superficial que se estabelece sobre o patch é representada através de uma fonte de corrente ideal (Figura 4(d)) no circuito de onda completa. Então, combinando-se os elementos da Figura 4, chega-se ao modelo circuital de onda completa (Figura 5) para o cálculo da função diádica de Green espectral transversal da estrutura multicamada esférica que modela a antena da Figura 2. Resolvendo o circuito da Figura 5, determina-se o campo elétrico transversal transformado na interface r = b, em função da densidade de corrente elétrica superficial transformada, i.e.: ( 0t (b, n) = Yɶ0 + Zɶ −1 ⋅ Vɶ ) −1 ⋅ sφ , − sθ (39) ou seja, a função diádica de Green procurada é dada por: ( ɶ −1 Gɶ (b, n) = Yɶ0 + Z ⋅ Vɶ Gθφ = Gφφ ) −1 −Gθθ , −Gφθ (40) em que: Gθθ = ′ − jη0 qn Ĥ (2) n ( k0 b) , (41) ˆ (2) ′(k b) + q H ˆ (2) (k b) ε rs pn H 0 0 n n n Gφφ = jη0 sn Ĥ (2) n ( k0 b) , (42) (2) ˆ ˆ (2) ′(k b) εrs rn H n ( k0 b) + sn H n 0 Gθφ = Gφθ = 0, (43) sendo εrs = εs / ε0 . Cabe ressaltar que, no presente desenvolvimento, apenas as funções de Green transversais foram avaliadas, dado que a densidade de corrente elétrica superficial Js , localizada na interface r = b, possui somente componentes nas direções θ e φ. Ademais, devese notar que, pela forma como a transformada de Legendre vetorial foi definida, as componentes θ e φ da função diádica Green espectral estão desacopladas, diferentemente do que ocorre no estudo das estruturas planas correspondentes, nos quais se utiliza a transformada dupla de Fourier (POZAR, 1986). 54 A partir de (39), derivam-se os coeficientes Enm e Fnm, que figuram em (33) e (34), em função de sθ e sφ . Então, transformando (33) para o domínio espacial – usando (21) – e levando em conta que r → ∞, determina-se uma expressão para avaliar o campo elétrico distante irradiado pela antena de microfita esférica, mais especificamente: E0 ≅ ∞ ∞ ∑∑ ɶ⋅G ɶ ⋅ e jm φ e Lɶ(n, m, θ) ⋅ A s m =−∞ n =|m| − jk0 r r , (44) em que: −1 n ˆ (2) ′ ɶ = j b [H n ( k0 b)] A 0 , (45) n +1 (2) −1 ˆ j b [H n (k0b)] 0 s = sφ . − sθ (46) Desse modo, conhecida a densidade de corrente elétrica superficial Js sustentada pelo patch, automaticamente o campo irradiado está determinado. Na próxima seção, essa densidade Js será estimada a partir do modelo da cavidade ressonante. Cabe ainda destacar que a formulação anterior possui caráter geral, pois a forma geométrica do patch, que está atrelada a Js , não foi particularizada. 1.2 Modelo da cavidade ressonante Uma maneira eficiente de estimar a densidade de corrente elétrica superficial que se estabelece no patch das antenas de microfita esféricas eletricamente finas, bem como a distribuição de campo necessária à aplicação do modelo de fenda, é empregar o modelo da cavidade ressonante (LIMA; DESCARDECI; GIAROLA, 1991; LO; SOLOMON; RICHARDS, 1979), bastante utilizado na análise de antenas de microfita planas e cilíndricas. Antes de aplicar o modelo da cavidade às antenas de microfita esféricas, será feita uma breve revisão das principais características desse modelo, quando utilizado na análise de antenas de microfita planas eletricamente finas. Fazendo referência à antena de microfita da Figura 1 e supondo que ela seja eletricamente fina (h << λ (comprimento de onda no dielétrico)), tem-se que: a) a proximidade entre o patch e o plano de terra sugere que o campo elétrico presente entre essas estruturas tem apenas a componente z e, por conseguinte, o campo magnético associado é paralelo ao plano xy; b) o campo eletromagnético presente entre o patch e o plano de terra é independente da coordenada z para o intervalo de frequências Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 9, n.1, p. 47-64, jan./jun. 2013 Técnicas para a determinação do diagrama de irradiação de antenas de microfita esféricas circularmente polarizadas (a) (b) (c) (d) Figura 4 Elementos que constituem o modelo circuital de onda completa Figura 5 Modelo circuital de onda completa de interesse, pois a antena é considerada eletricamente fina; c) o vetor densidade de corrente elétrica superficial no patch não deve ter componente normal à borda do patch em qualquer ponto da borda – isso implica uma componente de campo magnético tangente à borda desprezível. Assim, a região entre o patch e o plano de terra pode ser tratada como uma cavidade ressonante limitada por paredes magnéticas no perímetro do patch e por paredes elétricas nas partes inferior e superior. Cabe salientar que, na construção da antena, a extensão do patch é reduzida em relação à da cavidade equivalente, visto que esta leva em conta o campo de franja da antena em função do que é afirmado na alínea (c). Estendendo as assertivas anteriores para a antena de microfita esférica com patch circular da Figura 6, e considerando que o interior da cavidade equivalente é um meio simples na ausência de fontes, as equações de Maxwell para o problema em questão são escritas como a seguir: (47) ∇ ⋅ E = 0, ∇ ⋅ H = 0, (48) ∇ × E = − jωµ0 H , (49) ∇ × H = jωε s E . (50) Uma vez que o campo elétrico no interior da Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 9, n.1, p. 47-64, jan./jun. 2013 cavidade equivalente possui apenas a componente radial e esta é invariante com r, de (49) e (50) segue que Hr = 0; portanto, os modos presentes na cavidade são do tipo TMr e a equação de onda para a componente Er fica: ∂E 1 1 ∂ sen θ r + 2 ∂θ a sen 2 θ a sen θ ∂θ 2 ∂2 E × 2r + k s2 Er = 0, ∂φ (51) que na forma compacta é escrita segundo: ∇t2 Er + ks2 Er = 0, (52) A equação (51) pode ser resolvida pelo método de separação de variáveis (BUTKOV, 1973), de onde resulta que: Er (θ, φ) = [ A Pℓmn (cos θ) + B Qℓmn (cos θ)] ×[C cos(mφ) + D sen(mφ)], (53) sendo que A, B, C e D são coeficientes a determinar, dependentes das condições de contorno associadas à cavidade equivalente e da alimentação dessa mesma cavidade, Qℓnm(.) indica a função associada de Legendre de 2ª espécie de grau ℓn e ordem m, e: (54) ℓ (ℓ + 1) = k 2 a . n n s A partir de (54), derivam-se as frequências de ressonância fnm dos modos TMrnm que podem se estabelecer na cavidade equivalente: 55 Técnicas para a determinação do diagrama de irradiação de antenas de microfita esféricas circularmente polarizadas ℓ n (ℓ n + 1) f nm = 2πa µ 0 ε s . (55) z a necessidade de traçar o gráfico de Pℓnm' (cos θ1c) para definir os valores de partida da rotina numérica de busca de raízes, já que se trata de uma equação transcendental, adotou-se a seguinte estratégia neste artigo: primeiro, determinam-se as raízes ℓn' da equação: Pℓm′n +1 (cos θ1c ) = 0. Para tanto, os valores de partida da rotina de busca de raízes empregada são estimados a partir da seguinte fórmula aproximada (GRADSHTEYN; RYZHIK, 2007), que é válida para ângulos θ1c próximos a 0°: h θ1 a y 2 θ1c sen 2 1− θ 6 2sen 1c 2 4n 2 − 1 × 1 − , zn2 1 ℓ′n ≅ − + 2 x Figura 6 Antena de microfita esférica com patch circular Até este ponto do formalismo teórico não se particularizou a forma geométrica do patch da antena; por isso, a expressão (55) para o cálculo das frequências de ressonância tem caráter geral. Neste trabalho, conforme já afirmado, o foco será a análise das antenas de microfita com patch circular (Figura 6). Todavia salienta-se novamente que a abordagem empregada pode ser facilmente estendida para antenas com patch anular, retangular ou triangular, por exemplo. Para a antena com patch circular da Figura 6, supondo que o seu alimentador esteja posicionado no plano xz, (53) se reduz a: (56) E (θ, φ) = E P m (cos θ) cos( mφ), r nm ℓn sendo Enm um coeficiente dependente da alimentação da antena, 0 ≤ θ ≤ θ1c e 0 ≤ φ < 2π, com θ1c (θ1c > θ1) denotando a dimensão da cavidade equivalente segundo a direção θ. A função associada de Legendre de 2ª espécie não figura em (56), pois é ilimitada em θ = 0°, coordenada presente no domínio da cavidade equivalente da antena com patch circular da Figura 6. Em termos numéricos, essa característica é bastante interessante, pois as rotinas para o cálculo dessa função exibem convergência lenta. Ainda de acordo com o modelo da cavidade, em θ = θ1c , há uma parede magnética, portanto, o campo magnético tangente a ela deve se anular, logo: (57) P m ′(cos θ ) = 0, ℓn 1c sendo m = 0, 1, 2, … , dada a simetria circular da cavidade em questão, e n = 1, 2, 3,... Para calcular e ordenar as raízes ℓn de (57), sem 56 (58) zn (59) onde zn é a n-ésima raiz positiva da função de Bessel de 1ª espécie e ordem m + 1, Jm + 1 (z), que pode ser aproximada por (GRADSHTEYN; RYZHIK, 2007): zn ≅ ( 4n + 2m + 1) − π 4(m + 1) 2 − 1 − 4 2π ( 4n + 2m + 1) [4(m + 1) 2 − 1][28(m + 1)2 − 31] 6 ( 4n + 2m + 1) π 3 (60) . Conhecidas as raízes ℓn' de (58), estas são utilizadas como estimativa inicial da rotina de busca de raízes empregada para resolver (57). Assim, não é necessário realizar nenhuma inspeção gráfica para o cálculo e a ordenação das raízes ℓn . Vale mencionar que o procedimento de cálculo de raízes proposto anteriormente também poderia ser utilizado no estudo de antenas de microfita esféricas embutidas com patch circular (flush-mounted spherical-circular microstrip antennas), sendo realizado através do MoM, pois, neste caso, é necessário determinar os índices dos modos TEr e TMr presentes no interior de uma cavidade de paredes laterais metálicas, e esses modos são regidos por equações características semelhantes a (57) e (58). Outra forma de gerar os valores de partida da rotina de busca de raízes para a solução de (57) poderia ser através do emprego de polinômios de interpolação, tal como é apresentado por Ferreira e Lacava (2010). Apesar de também dispensar inspeções gráficas, essa alternativa de cálculo demanda relativo esforço para a construção dos referidos polinômios. Por isso, o seu tempo de codificação é maior. Tendo em vista o campo (56) e a Lei de Faraday Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 9, n.1, p. 47-64, jan./jun. 2013 Técnicas para a determinação do diagrama de irradiação de antenas de microfita esféricas circularmente polarizadas expressa por (49), chega-se a uma aproximação para a densidade de corrente elétrica superficial que se estabelece no patch da antena, mais especificamente: (61) J s = −r × H . E a partir das considerações feitas para o desenvolvimento do modelo de fenda, as componentes transversais do campo elétrico Ea presente na fenda anular são aproximadas por: (62) E = E P M (cos θ )cos( M φ), aθ NM ℓN 1c Eaφ = 0, (63) supondo que a cavidade equivalente opera no modo TMrNM e que ele está suficientemente afastado dos demais modos de operação, ou seja, é um modo dominante. Todavia, seja para o uso de (61) seja para o de (62), necessita-se de uma expressão para quantificar a dimensão θ1c da cavidade equivalente e, por conseguinte, a extensão θ1c – θ1 do campo de franja. Neste trabalho, seguindo Kishk (1993), utilizou-se uma equação (64) derivada daquela empregada na análise de antenas de microfita planas com patch circular, a qual exibe bons resultados, conforme será constatado na próxima seção: θ1c = θ1 1 + 2hF , πbθ1ε rs (64) em que: bθ F = ℓn 1 + 1, 41ε rs + 1,77 2h h + (0,268εrs + 1,65). bθ1 2 antena. Neste trabalho, a razão axial das antenas analisadas será calculada por meio da seguinte expressão (BALANIS, 2005): RA = 1+ | E0 φ / E0 θ |2 +T 1+ | E0 φ / E0 θ |2 −T , onde: T = {1+ | E0φ / E0 θ |4 +2 | E0 φ / E0 θ |2 × cos(2ζ )} 1/ 2 Resultados Na Seção 1, foram apresentadas duas técnicas para o cálculo do campo elétrico distante irradiado por uma antena de microfita esférica com patch circular. Nesta seção, os resultados derivados anteriormente serão utilizados para determinar as características de irradiação de duas configurações de antenas de microfita esféricas circularmente polarizadas; na primeira delas, a antena é alimentada por duas pontas de prova e, na outra, por quatro pontas de prova excitadas sequencialmente. Para avaliar o desempenho de uma antena circularmente polarizada, lança-se mão de algumas figuras de mérito. Entre elas, estão a razão axial, o diagrama de irradiação spinado (diagrama de irradiação obtido por meio da técnica do dipolo girante) e os diagramas de irradiação circularmente polarizados. A razão axial (RA) é a figura de mérito que exprime a relação entre os semieixos maior e menor da elipse de polarização da onda irradiada pela Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 9, n.1, p. 47-64, jan./jun. 2013 (67) , com ζ denotando a defasagem entre as componentes de campo E0φ e E0θ . Alternativamente, a razão axial de uma antena, num dado plano φ constante, pode ser expressa através do diagrama de irradiação traçado segundo a técnica do dipolo girante, também chamado de diagrama de irradiação spinado (HECKLER, 2003). Nesta técnica, um dipolo elétrico (antena linearmente polarizada), que opera como antena transmissora, gira com uma velocidade ωd em torno de um eixo virtual que é normal à sua estrutura e passa pelo seu centro. A antena de teste, por sua vez, gira com uma velocidade angular ωµ (ωd >> ωµ) em torno de um eixo fictício normal ao plano φ constante (onde se deseja traçar o diagrama), que passa pelo seu centro. A magnitude Ed do campo elétrico medido valendo-se desse procedimento se relaciona com as componentes de campo E0θ e E0φ através de: Ed (θ, φ) = {| E0 θ (θ, φ) |2 cos 2 (ωd t ) (65) (66) + | E0 φ (θ, φ) |2 cos 2 (ωd t + ζ )}1/ 2 , (68) em que θ = ωµ t e t é o tempo. Por fim, o desempenho de uma antena circularmente polarizada pode ser caracterizado através dos diagramas de irradiação circularmente polarizados, visto que toda onda elipticamente polarizada pode ser decomposta em uma onda circularmente polarizada à esquerda (L) e em outra circularmente polarizada à direita (R) (BALANIS, 1989). O campo elétrico das referidas ondas circularmente polarizadas é expresso em termos das componentes de campo E0θ e E0φ, de acordo com: 1 E L (θ, φ) = (| E0 θ (θ, φ) | 2 − j | E0 φ (θ, φ) | e jζ )(θ + jφ), (69) 1 E R (θ, φ) = (| E0 θ (θ, φ) | 2 + j | E0 φ (θ, φ) | e jζ )(θ − jφ), (70) onde EL e ER representam o campo elétrico da onda circularmente polarizada à esquerda e à direita, respectivamente. Assim, se uma antena é projetada para irradiar uma onda circularmente polarizada à esquerda, por exemplo, o campo ER 57 Técnicas para a determinação do diagrama de irradiação de antenas de microfita esféricas circularmente polarizadas 2.1 Diagramas de irradiação A primeira antena de microfita esférica circularmente polarizada a ser analisada nesta seção é alimentada através de dois conectores SMA de 50 Ω de impedância característica (diâmetro do condutor interno = 1,27 mm; diâmetro do condutor externo = 4,25 mm; dielétrico PTFE), cujos centros estão localizados nos planos xz e yz, com x > 0 e y > 0 (Figura 6), e são excitados por correntes de mesma magnitude e defasadas de 90°, sendo que a excitação do conector no plano yz está adiantada em relação à do conector no plano xz. Assim, este é um irradiador circularmente polarizado à esquerda. Além disso, a esfera de terra dessa antena tem raio a = 120,0 mm, e o substrato dielétrico empregado possui εrs = 2,5, tangente de perdas = 0,0019 e h = 0,762 mm. Essa antena foi projetada para operar na faixa de frequências de 3400 a 3410 MHz (faixa destinada pela Anatel ao serviço limitado privado – administração pública), no modo fundamental – TMr11 , de acordo com o procedimento de síntese proposto em Ferreira e Lacava (2011). Dessa forma, seu patch metálico exibe a dimensão θ1 = 7,46° e as pontas de prova foram posicionadas segundo θp1 = θp2 = 2,01°. O campo elétrico distante irradiado por essa antena foi avaliado tanto pelo modelo de fenda (MF) quanto pelo método da corrente elétrica superficial (MCES) e, em ambos os casos, esse cálculo foi realizado superpondo-se os campos irradiados devidos a cada uma das pontas de prova, considerando-as isoladas. Essa antena esférica também foi simulada no software CST®, com o propósito de validar os resultados determinados a partir das duas técnicas supracitadas, uma vez que o modelo de fenda é um procedimento de análise empírico e o método da corrente elétrica superficial é semiempírico, ao passo que o CST® utiliza uma técnica de análise de onda completa para resolver as estruturas. A geometria simulada no CST® está ilustrada na Figura 7. Deve-se notar que as partes esféricas foram modeladas através de poliedros convexos multifacetados, para evitar problemas durante a etapa de discretização (mesh) da antena, dado que no CST® foi adotada 58 uma malha de discretização tetraédrica para a resolução deste conjunto. Na Figura 8, encontra-se o gráfico da razão axial RA dessa antena, avaliada na frequência central da faixa de operação – f0 = 3405 MHz, no plano xz, para x > 0, determinada através do modelo de fenda (MF), do método da corrente elétrica superficial (MCES) e da simulação conduzida no CST®. Como observado, há uma boa concordância entre as curvas calculadas das três maneiras distintas, principalmente nas vizinhanças da direção broadside (θ = 0°), onde a antena é circularmente polarizada. Na Tabela 1, foram registradas as larguras de feixe de RA = 3 dB no plano xz, para a frequência f0 , determinadas por meio das três maneiras citadas. Como se constata nesta tabela, os valores fornecidos pelas técnicas desenvolvidas neste artigo exibem pequeno desvio em relação à previsão dada pelo CST®. Figura 7 Antena esférica simulada no CST® 60 MF MCES ® CST 45 RA (dB) é interpretado como a polarização cruzada desta antena. Cabe mencionar que, nos radioenlaces onde se utilizam antenas circularmente polarizadas, o descasamento de polarização causado pela razão axial tem de ser levado em consideração no dimensionamento dos radioenlaces. Geralmente, o projeto desses irradiadores é feito para se obter uma razão axial inferior a 3 dB (BASARI et al., 2010), de modo que esse descasamento não degrade o desempenho do enlace. Por isso, esse limiar será adotado na análise das antenas, na seção subsequente. 30 15 0 0 30 60 90 120 150 180 θ (graus) Figura 8 Razão axial da antena com duas provas – Plano xz – x > 0 Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 9, n.1, p. 47-64, jan./jun. 2013 Técnicas para a determinação do diagrama de irradiação de antenas de microfita esféricas circularmente polarizadas 0° Tabela 1 Largura de feixe de RA = 3 dB no plano xz Largura de feixe de RA = 3 dB Desvio relativo 130° 3% 136° 8% 126° – MCES ® CST Nas Figuras 9 a 11 são apresentados os diagramas de irradiação spinados da antena, bem como os diagramas de irradiação das componentes de campo E0θ e E0φ , traçados no plano xz e calculados na frequência f0 . Conforme já afirmado, os diagramas spinados são uma forma alternativa para caracterizar a razão axial da antena, e isso pode ser constatado nessas figuras. Ademais, os diagramas avaliados das três formas distintas também exibem elevada correlação. Na Tabela 2, são relacionadas as larguras de feixe de -3 dB dos diagramas de irradiação das componentes de campo E0θ e E0φ , no plano xz e em f0 , determinadas através das três formas de análise tratadas nesta seção. Nota-se nessa tabela que as larguras de feixe fornecidas, tanto pelo modelo de fenda quanto pelo método da corrente elétrica superficial, são bem próximas àquelas dadas pelo CST®, validando mais uma vez o uso das técnicas de análise empírica e semiempírica para as antenas de microfita esféricas. Tabela 2 Largura de feixe de -3 dB no plano xz Técnica Diagrama da componente E0θθ Diagrama da componente E0φφ MF 97° 83° 96° 83° 97° 82° MCES ® CST -10 Diagrama normalizado (dB) 60° -30 -40 90° 270° -30 -20 240° 120° E0θ -10 0 150° 210° 180° 90° 270° -30 -20 240° 120° E0θ -10 E0φ 150° 210° 0 Ed 180° Figura 10 Diagrama spinado da antena com duas provas – Plano xz – MCES 0° 0 330° 30° -10 300° -20 60° -30 -40 270° 90° -30 -20 240° 120° E0θ -10 210° 150° E0φ Ed Figura 11 Diagrama spinado da antena com duas provas – Plano xz – CST® 30° 300° -40 180° 0° -20 -30 0 0 330° 60° 300° -20 Diagrama normalizado (dB) MF 30° 330° -10 Diagrama normalizado (dB) Técnica 0 E0φ Ed Figura 9 Diagrama spinado da antena com duas provas – Plano xz – MF Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 9, n.1, p. 47-64, jan./jun. 2013 Por fim, na Figura 12, são ilustrados os diagramas de irradiação circularmente polarizados dessa antena de microfita esférica com patch circular, determinados sob as mesmas condições que os gráficos precedentes. Desta figura, constata-se que, realmente, a antena é circularmente polarizada à esquerda (L) na direção broadside, e que o efeito das pontas de provas no campo irradiado – que não foi contabilizado nem pelo MF, nem pelo MCES, mas foi considerado pelo CST® – faz com que haja uma componente de polarização cruzada reduzida, -27 dB, nessa mesma direção. Novamente, os diagramas obtidos com o MF, o MCES e o CST® estão concordantes, confirmando a validade das técnicas estudadas. A outra antena de microfita esférica com patch circular analisada nesta seção possui as mesmas características de construção que a antena anterior. Todavia, foram acrescentados mais dois alimentadores, simétricos àqueles já presentes no irradiador. Os novos alimentadores foram excitados por correntes com a mesma amplitude 59 Técnicas para a determinação do diagrama de irradiação de antenas de microfita esféricas circularmente polarizadas 0° 60 MF MCES ® CST 0 330° 30° -10 45 60° -20 -30 RA (dB) Diagrama normalizado (dB) 300° 270° 90° 15 -20 240° -10 210° 0 150° 180° L-MF 120° R-MF L-MCES R-MCES ® L-CST ® R-CST 0 0 Tabela 3 Largura de feixe de RA = 3 dB no plano xz Técnica Largura de feixe de RA = 3 dB Desvio relativo MF 132° 0% MCES 136° 3% 132° – ® CST 60 90 120 150 180 Figura 13 Razão axial da antena com quatro provas – Plano xz – x > 0 0° 0 330° 30° -10 300° Diagrama normalizado (dB) -20 60° -30 -40 270° 90° -30 -20 240° 120° E0θ -10 210° 0 E0φ 150° Ed 180° Figura 14 Diagrama spinado da antena com quatro provas – Plano xz – MF 0° 0 330° 30° -10 300° -20 Diagrama normalizado (dB) que a dos outros dois conectores e com fase progressiva (180° e 270°). Assim, os quatro conectores são excitados com a seguinte sequência de fases: 0°, 90°, 180° e 270°. Esta técnica de alimentação foi primeiramente utilizada em antenas de microfita planas (CHIBA; SUZUKI; MYIANO, 1982) para reduzir o nível de polarização cruzada nos planos principais. Como será constatado a seguir, essa redução também se verifica nas antenas de microfita esféricas, quando estas são alimentadas por quatro pontas de prova coaxiais com rotação e alimentação sequenciais. Nas Figuras 13 a 17 são apresentados os gráficos da RA, os diagramas spinados e os diagramas circularmente polarizados dessa antena, calculados na frequência f0 e no plano xz. Observa-se que o campo circularmente polarizado à direita é bastante reduzido na direção broadside e nas suas vizinhanças, devido à disposição e às excitações dos alimentadores da antena. Na Tabela 3, registram-se as larguras de feixe de RA = 3 dB no plano xz, para a frequência f0 , e, na Tabela 4, são relacionadas as larguras de feixe de -3 dB dos diagramas de irradiação das componentes de campo E0θ e E0φ , também no plano xz e em f0 . Conforme observado, tanto nas figuras quanto nas tabelas, os dados provenientes do MF e do MCES exibem ótima correspondência com aqueles fornecidos pela simulação desse irradiador no CST®, o que reforça a validade dos procedimentos de análise desenvolvidos neste trabalho. 30 θ (graus) Figura 12 Diagramas de irradiação circularmente polarizados da antena com duas provas – Plano xz 60 30 60° -30 -40 270° 90° -30 -20 240° 120° E0θ -10 0 210° 150° 180° E0φ Ed Figura 15 Diagrama spinado da antena com quatro provas – Plano xz – MCES Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 9, n.1, p. 47-64, jan./jun. 2013 Técnicas para a determinação do diagrama de irradiação de antenas de microfita esféricas circularmente polarizadas 0° 0 30° 330° -10 Diagrama normalizado (dB) 60° 300° -20 -30 -40 90° 270° -30 -20 240° 120° E0θ -10 E0φ 150° 210° 0 Ed 180° Figura 16 Diagrama spinado da antena com quatro provas – Plano xz – CST® 0° 0 330° 30° Para avaliar um ponto do diagrama de irradiação, o código do MF gasta cerca de 30 ms (componente E0θ ou E0φ); já o código do MCES requer cerca de 550 ms (componente E0θ ou E0φ). Assim, considerando que o diagrama de irradiação – num dado plano e para uma certa frequência – seja traçado com passo de 1,0°, o MF executaria essa tarefa em torno de 10 s e o MCES, num período próximo a 3 min. Por outro lado, para analisar a antena na frequência f0 , o CST® levou 1h10min. Por isso, a eficiência computacional, tanto do MF quanto do MCES, é bem maior do que a dos métodos de análise de onda completa, ou seja, o uso dessas duas técnicas como direcionadores dos projetos é bastante relevante para a economia de tempo e de custo, sendo que este último fator se deve ao fato de os métodos dispensarem, por exemplo, máquinas com elevada capacidade de processamento e armazenamento para rodarem. Conclusão -10 Diagrama normalizado (dB) 300° 60° -20 -30 270° 90° -20 240° -10 210° 0 150° 180° L-MF 120° R-MF L-MCES R-MCES ® L-CST ® R-CST Figura 17 Diagramas de irradiação circularmente polarizados da antena com quatro provas – Plano xz Tabela 4 Largura de feixe de -3 dB no plano xz Técnica Diagrama da componente E0θθ Diagrama da componente E0φφ MF 97° 83° 96° 82° 99° 82° MCES ® CST Antes de encerrar esta seção, será apresentado um comparativo entre os tempos demandados pelo MF, pelo MCES e pelo CST®, para determinar o diagrama de irradiação das antenas de microfita esféricas com patch circular. Para tanto, a antena com dois conectores analisada anteriormente será tomada como referência. O computador utilizado para executar os códigos do MF e do MCES, implementados no pacote Mathematica®, possui um processador Intel® CoreTM i7 e memória instalada de 16,0 GB. Para rodar o CST®, empregou-se uma workstation com dois processadores Intel® Xeon® (6 núcleos cada) e memória instalada de 48,0 GB. Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 9, n.1, p. 47-64, jan./jun. 2013 Neste artigo, foram apresentadas duas técnicas computacionalmente eficientes para traçar o diagrama de irradiação de antenas de microfita esféricas circularmente polarizadas. Primeiramente, estabeleceu-se o formalismo teórico para o modelo de fenda, baseado no emprego do Teorema da Reciprocidade. Esse mesmo formalismo pode ser estendido à análise de antenas de microfita esféricas embutidas (flushmounted spherical microstrip antennas), realizada através do MoM. Neste caso, o Teorema da Reciprocidade é aplicado em duas regiões: no volume externo à antena, semelhante ao desenvolvimento feito neste trabalho, e no interior da cavidade da antena. Na sequência, descreveu-se o método da corrente elétrica superficial. Essa técnica faz emprego das funções de Green espectrais e, a partir dela, pode-se construir a solução do MoM para as antenas de microfita esféricas. Em particular, para o cálculo das funções de Green espectrais, utilizou-se um modelo circuital de onda completa, cuja estratégia de construção pode ser aplicada a outras topologias de estruturas multicamadas esféricas, evitando, dessa forma, os erros associados aos cálculos executados manualmente. Para estimar a distribuição do campo de franja do patch da antena, na direção tangente à esfera de terra, bem como a densidade de corrente elétrica superficial sustentada pelo patch, empregou-se o modelo da cavidade ressonante, dada a sua simplicidade numérica. Introduziu-se um novo procedimento – que dispensa inspeção gráfica – para o cálculo e a ordenação das raízes da equação característica transcendental que define os modos que podem se estabelecer na cavidade equivalente. Esse procedimento também é passível de ser 61 Técnicas para a determinação do diagrama de irradiação de antenas de microfita esféricas circularmente polarizadas utilizado na análise de antenas de microfita esféricas embutidas com patch circular (flushmounted spherical-circular microstrip antennas), para enumerar os modos TE e TM presentes na cavidade da antena. Duas configurações de antenas circularmente polarizadas foram analisadas: uma alimentada por duas pontas de prova e outra alimentada por quatro pontas de prova, excitadas sequencialmente. Conforme observado, a configuração com maior número de alimentadores exibiu menor nível de polarização cruzada na direção broadside. Os resultados fornecidos pelo MF e pelo MCES foram validados por meio da comparação de seus dados de saída com aqueles gerados em simulações conduzidas no software CST®. Como notado, há elevada correlação entre eles. Todavia, o tempo computacional demandado tanto pelo modelo de fenda quanto pelo método da corrente elétrica superficial é bem menor do que aquele requerido pelo CST® para analisar os irradiadores em questão. Além disso, os códigos implementados não necessitam ser executados em computadores com grandes capacidades de processamento e armazenamento, diferentemente dos simuladores de onda completa, como é caso do CST®. Por isso, contribuem para a redução do tempo e do custo de projeto. Agradecimentos O autor agradece o apoio dado a este trabalho, desenvolvido no âmbito do Projeto Antenas Adaptativas e Módulos de Radiofrequência para Redes Sem Fio Banda Larga Aplicadas à Segurança Pública, que contou com recursos do Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações – FUNTTEL, do Ministério das Comunicações, através do Convênio nº 01.09.0634.00 com a Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP/MCTI. Referências BALANIS, C. A. Advanced Engineering Electromagnetics. 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The first technique consists of the aperture model – widely used for the analysis of electrically thin planar and cylindrical microstrip antennas –; the other is the electric surface current method, which uses the Green's functions in the spectral domain. Both techniques are associated with the cavity model in order to guarantee their computational efficiency. The Reciprocity Theorem is employed to derive the aperture model equations, as well as a full-wave circuital model is used to evaluate the spectral Green's functions. Besides, a new procedure – which avoids graphical inspection – is introduced to accelerate the calculation of the roots of the transcendental characteristic equation that establishes the resonant modes in the equivalent cavity. The antennas studied along the paper are also simulated in the CST package to validate the results obtained with the techniques addressed. Key words: Spherical microstrip antennas. Circular polarization. Aperture model. Electric surface current method. Cavity model. Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 9, n.1, p. 47-64, jan./jun. 2013 63