UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ COORDENADORIA DE CONCURSOS – CCV Evento: Seleção para o Semestre I das Casas de Cultura Estrangeira 2015.1 Edital N° 04/2014/CCV PARECER A Comissão Examinadora da Prova de Língua Portuguesa I efetuou a análise do recurso administrativo e emitiu seu parecer nos termos a seguir. Questão 01 A questão aborda interpretação. É correta a alternativa (D). No trecho "Tenho uma convicção crescente de que os anos não acabam mais. Não há mais aquela zona de transição e a troca de calendário, assim como de agendas, é só mais uma convenção que, se é que um dia teve sentido, reencena-se agora apenas como gesto esvaziado (linhas 01-04), a autora afirma que os anos não acabam mais porque a troca de calendário virou mera convenção. As demais alternativas são falsas. A alternativa (B), por exemplo, é falsa, porque a impressão de que o ano de 2013 não terminou é apresentada como exemplo de que não há mais zona de transição, de que o final de um ano no calendário não representa mais o final de um ciclo, mas uma mera convenção. A afirmação no caput da questão é genérica, aplicável a todos os anos e não apenas a um ano específico. Ora, o fato de um ano específico não ter acabado não é motivo de os anos em geral não acabarem mais. Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o gabarito oficial. Questão 02 A questão 02 analisa a aparente contradição presente nos dois primeiros períodos do texto: "Não tenho certeza se esse ano vai acabar. Tenho uma convicção crescente de que os anos não acabam mais" (linhas 01-02). É correta a alternativa (D). Inicialmente, a autora assume uma postura de dúvida: "Não tenho certeza", para, em seguida, adotar uma posição de certeza: "Tenho uma convicção". O que dá coerência a esse trecho é o fato de a autora ter afirmado que sua convicção era crescente, ou seja, não atingiu o grau máximo de certeza, mas caminhava para isso. Ao dizer: "Tenho uma convicção crescente...", a autora disse algo como "Estou cada vez mais convencida", o que é muito diferente de dizer "Tenho convicção de que..." ou "Estou convencida de que...", o que tornaria a sequência incoerente. As demais alternativas são falsas. A alternativa (C), por exemplo, é falsa porque o emprego da conjunção integrante se não ameniza a contradição entre as duas frases, já que apenas introduz o complemento nominal de "certeza", sem afetar o foco da contradição. Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o gabarito oficial. Questão 03 A questão 03 exige que o candidato identifique uma informação pressuposta pelo uso de um elemento linguístico. É correta a alternativa (A). No trecho "Não há mais aquela zona de transição e a troca de calendário" (linha 02), o emprego do "mais" pressupõe que já houve zona de transição e troca de calendário. Quando se diz que algo não há mais, pressupõe-se que anteriormente houve. As demais alternativas são falsas, porque não condizem com a interpretação possível ao texto. A alternativa (D), por exemplo, é falsa, porque nesse trecho não se faz uma comparação entre zona de transição e troca de calendário, afirmando-se que anteriormente havia mais a primeira que a segunda. Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o gabarito oficial. Questão 04 A questão 04 trata de referência. É correta a alternativa (D). No trecho "E talvez, pelo menos no Brasil, poderíamos já afirmar que 2013 começou em junho e não em janeiro, junto com as manifestações, e continua até hoje. Mas esse é um tema para outra coluna, ainda por ser escrita" (linhas 05-07), o termo "esse" faz referência à continuação de 2013. Trata-se de uma referência anafórica que retoma não um termo específico, mas todo o enunciado anterior, constituindo o que a Linguística Textual denomina encapsulamento anafórico. Nesse tipo de anáfora, retoma-se não um referente específico, mas uma sequência de informações anteriores de caráter abstrato. Nesse retomada, categoriza-se por meio de nominalização, no caso analisado, o enunciado é categorizado como "tema". O tópico da frase anterior é a continuidade de 2013 e não as manifestações, que figuram na frase anterior apenas como um marco delimitador do tempo. Tampouco é tema o mês de janeiro ou o ano de 2013, referentes específicos. Portanto, as alternativas (A), (B) e (C) são falsas. Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o gabarito oficial. Questão 06 A questão 06 aborda referência exofórica. É correta a alternativa (A). No trecho " Algo que nos assusta, ou pelo menos assusta a muitos" (linha 10), a autora admite que o leitor pode não estar incluso na afirmação, o que se depreende do uso da ressalva "ou pelo menos". As demais alternativas são falsas. A alternativa (D), por exemplo, é falsa, porque a autora não se exclui do grupo das pessoas assustadas, como se depreende do uso do pronome de 1ª pessoa do plural. Esta pessoa assume dois significados: o falante associado a uma segunda pessoa ou o falante associado a uma terceira pessoa. Portanto, em qualquer circunstância, o uso da 1ª pessoa do plural sempre inclui o falante. Além disso, o próprio sentido do texto apresenta a autora como uma das pessoas assustadas com as mudanças. A alternativa (E) é falsa, porque a autora não atribui o medo a "algumas pessoas bem definidas", mas a pessoas indefinidas, como demonstra o uso do vocábulo "muitos". Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o gabarito oficial. Questão 07 A questão 07 aborda interpretação de um trecho do texto. É correta a alternativa (E). Na frase " sentir-se mal pode ser um sinal claro de excelente saúde mental" (linhas 17-18), a autora considera ter consciência das coisas sinal de saúde mental. Isto é confirmado da leitura do segundo parágrafo, especialmente, quando a autora afirma que "É preciso se desconectar totalmente da realidade para não ser afetado por esse mundo que ajudamos a criar e que nos violenta" (linhas 21-22), ou seja, sentir-se mal pode ser um sinal de saúde mental, porque quem tem consciência das coisas, da realidade que nos circunda, será afetado. As demais alternativas são falsas. A alternativa (D), por exemplo, é falsa, porque a autora não faz ironia com o fato de deprimidos terem boa saúde mental. Na verdade, ela argumenta em prol de as pessoas com problemas emocionais terem boa saúde mental, já que eles têm clareza sobre a realidade que os cerca. Destaque-se ainda como reforço o fato de o texto não aludir apenas à depressão, mas também a outros problemas, como ansiedade. Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o gabarito oficial. Questão 08 A questão 08 aborda uma relação de comparação. É correta a alternativa (B), como se deduz da leitura do trecho "Não acho que os felizes e saltitantes sejam mais reais do que o Papai Noel e todas as suas renas, mas, se existissem, seriam estes os alienados mentais do nosso tempo" (linhas 22-24). Nesse trecho a autora nega a existência de pessoas felizes e saltitantes, comparando-as ao Papai Noel, figura claramente irreal. As demais alternativas são falsas por apresentarem uma relação de comparação que não condiz com o texto. Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o gabarito oficial. Questão 10 A questão 10 trata de sinonímia. É correta a alternativa (D). A palavra "danação", segundo Houaiss (2009) pode assumir qualquer um dos significados indicados na alternativa. Todavia, o significado adequado ao trecho "Mas em especial pela nossa redução de pessoas a consumidores, pela subjugação de nossos corpos – e almas – ao mercado e pela danação de viver num tempo acelerado" (linhas 35-36) é "sacrifício", como se depreende da leitura do trecho, em que a autora discute uma situação de mal-estar geral, provocado pelas mudanças do mundo moderno. A propósito, esta noção de sofrimento, de sacrifício se manifesta em vários pontos do texto, em especial, pelo uso de termos e expressões do mesmo campo semântico, como "dolorosamente" (linha 09), "sentir-se mal" (linha 17), "sofrem (linha 15), mal-estar" (linha 25) etc. As demais alternativas são falsas, por apresentarem significados não adequados ao contexto que discute os motivos do mal-estar atual. As alternativas (A) e (C) são falsas, porque t ravessura e estripulia não são adequados ao contexto que fala de uma situação desagradável. Não há, em nenhuma passagem do texto, qualquer apoio a esse sentido da palavra danação, que conota brejeirice e desenvoltura. Além disso, uma travessura ou estripulia pressupõe um agente, alguém em condições de provocar algo. Já um sacrifício pressupõe passividade, exatamente a noção que subjaz ao texto, a do homem moderno diante das mudanças que ele mesmo criou. A alternativa (B) é também falsa. O termo danação é usado no sentido de desordem, agitação, balbúrdia noutros contextos, conotando sempre agentividade. Por fim, a alternativa (E) é falsa, porque hidrofobia é termo técnico, aplicável a animais. Não caberia no contexto referente a humanos. Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o gabarito oficial. Questão 11 A questão 11 aborda interpretação. É correta a alternativa (E). O texto 2 relata figurativamente um diálogo argumentativo entre o eu lírico e o tempo, como se depreende dos versos "Eu bebo um pouquinho Pra ter argumento" (versos 3-4). As demais alternativas são falsas. A alternativa (B), por exemplo, é falsa, porque o texto 2 não relata uma lembrança do eu lírico perdida no tempo. No verso 15, o eu lírico faz alusão a uma lembrança, no meio do seu diálogo com o tempo, mas o relato do texto não é dessa lembrança em si. A alternativa (D) também é falsa, porque a conversa entre o eu lírico e o tempo não assume tom amistoso, mas argumentativo, como indicam os versos "Ele zomba do quanto eu chorei" (versos 07-08). Há, em toda a canção, uma tensão crescente no diálogo entre o tempo e o eu lírico que não caracteriza uma conversa amistosa. Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o gabarito oficial. Questão 14 A questão 14 aborda as relações de comparação. É correta a alternativa (C). O tempo e o eu lírico são semelhantes porque ambos estão sempre mudando, como se depreende dos versos: "Diz que somos iguais/se eu notei/pois não sabe ficar e eu também não sei" (versos 17-20), em que o tempo destaca a semelhança dos dois pelo fato de ambos serem transitórios, mutáveis. As demais alternativas são falsas. A alternativa (B), por exemplo, é falsa, porque apenas o eu lírico guarda recordações. O tempo "sabe passar" (verso 09) e "apaga os caminhos" (verso 22). Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o gabarito oficial. Questão 16 A questão 16 exige interpretação, correlacionando um verso da canção com um ditado popular. É correta a alternativa (A). O verso ""Sussurra que apaga os caminhos" (v.22) tem o mesmo sentido que o do ditado popular que diz "O tempo não anda para trás", ou seja, o tempo não deixa rastros, ele "apaga os caminhos", não tem volta. As demais alternativas são falsas. A alternativa B) é falsa, porque o ditado "É preciso dar tempo ao tempo" significa que é necessário ser paciente, esperar com calma pelo futuro. A ideia que aponta, portanto, é para um tempo futuro e não um tempo passado, como o verso destacado na questão. A alternativa (C) também é falsa, porque o verso não alude a sofrimento, apenas diz que o tempo não tem volta, o que pode ser positivo ou negativo, conforme o passado seja alegre ou triste. Já o ditado se refere ao fato de o tempo curar todo sofrimento, ou seja, curar eventos tristes. Por fim, a alternativa (D) é falsa, porque o ditado, similar ao da alternativa (B), também menciona a paciência, a fé e a esperança, significados que não condizem com o verso. Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o gabarito oficial. Questão 17 A questão 17 pede que o candidato caracterize a atitude do tempo perante o amor. É correta a alternativa (B), como indica os versos "Que amores terminam no escuro/sozinhos" (versos 23-24). Na canção toda, o tempo se mostra indiferente ao amor, pois zomba do eu lírico ao saber de seu sofrimento — "Ele zomba do quanto eu chorei" (versos 07-08) — e "adormece as paixões" (verso 27). As demais alternativas são falsas. A alternativa (E), por exemplo, é falsa, porque o tempo não sofre por amor, porque ele "sabe passar" (verso 09). Na verdade, o sofrimento por amor é um mistério para o tempo que chega a ter inveja do eu lírico, não pelo sofrimento em si, mas pelo fato de esse sofrer estar ligado ao "reviver" (versos 29-33). Portanto, se o tempo quer aprender a ser como o eu lírico, ou seja, a sofrer por amor para tentar reviver, é lógico concluir que o tempo não sofre por amor. Nem sabe o que isso significa, daí querer aprender, ter curiosidade. Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o gabarito oficial. Questão 19 A questão 19 aborda a caracterização do tempo. É correta a alternativa (B). A atitude do tempo que condiz com a de ser criança é o fato de desejar aprender: "Me vigia querendo aprender" (verso 31). As demais alternativas são falsas. A alternativa (A), por exemplo, é falsa, porque o tempo não deseja passar, ele passa invariavelmente. Não é um desejo que ele busque alcançar, é uma característica dele: "Porque sabe passar" (verso 09). Além disso, passar, deixar para trás não é característica de criança. Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o gabarito oficial. Questão 20 A questão 20 requer que o candidato caracterize a atitude do eu lírico na última estrofe. É correta a alternativa (A). Após a apresentação de argumentos das duas partes, o eu lírico conclui, com condescendência e compreensão, que o tempo é "uma eterna criança que não soube amadurecer". Ao concluir que o tempo é uma criança, o eu lírico encontra uma desculpa para as atitudes do tempo, porque criança não sabe o que faz. É como se o eu lírico dissesse a si mesmo para não se importar com os argumentos e atitudes do tempo, pois seriam resultado de imaturidade. As outras alternativas são falsas. A alternativa (B), por exemplo, é falsa, porque o eu lírico não demonstra ressentimento no final da canção. Ao contrário, mostra compreensão das atitudes do tempo e uma leve superioridade que não condiz com a ideia de ressentimento: "Eu posso/ele não vai poder me esquecer" (versos 36-37). Em face da argumentação apresentada, a Comissão indefere o recurso e ratifica o gabarito oficial. Fortaleza, 27 de janeiro de 2015. Profa. Maria de Jesus de Sá Correia Presidente da Coordenadoria de Concursos – CCV