Laudo de Cobertura Vegetal – Bairro Bosque Lucas Araújo, Passo Fundo, RS. 1. Apresentação e objetivo do estudo O levantamento pretende fornecer elementos de cunho técnico que venham a subsidiar a tomada de decisões pelos órgãos competentes quanto à forma de ocupação da área, bem como o planejamento do uso futuro. O estudo envolve o reconhecimento das espécies vegetais e sua estruturação na floresta, identifica as espécies imunes ao corte e ameaçadas de extinção e o estágio sucessional dos locais de amostragem de acordo com a legislação vigente. Este trabalho foi realizado por iniciativa da Associação dos Moradores do Bairro Bosque Lucas Araújo, Passo Fundo, RS, em um esforço conjunto com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente. 2. Descrição do ecossistema onde está inserida a área A região de Passo Fundo está inserida no bioma Mata Atlântica segundo a lei número 11.428 de 2006. Nesta região, ocorrem as formações fitoecológicas da Floresta Ombrófila Mista e Estepe (Teixeira et al. 1986; Veloso et al. 1991; IBGE 2004). A Floresta Ombrófila Mista segundo a classificação de Veloso et al. (1991), caracteriza-se por mesclar elementos de duas floras distintas, a tropical afro-brasileira e a temperada austro-brasileira. Essa mistura de floras distintas ocorre principalmente devido às condições ambientais peculiares observadas no Planalto Meridional Brasileiro, onde fatores associados à altitude e latitude criam uma situação especial dentro da região Neotropical. A Floresta com Araucária pode ser subdividida em Montana (entre 500 e 900 m) e Alto Montana (acima de 900 m ou 1.000 m) (IBGE 2004), estando restrita, praticamente, à Região Sul e centro-sul da Região Sudeste. A formação ocorre em manchas mais ou menos esparsas em meio ao campo ou em manchas mais contínuas e extensas quando nos vales dos rios do Planalto, na metade norte do Rio Grande do Sul. Neste Estado, as maiores extensões estão localizadas, especialmente, nos vales dos rios Pelotas e das Antas (Hueck 1972; Veloso & Góes-Filho 1982; Jarenkow & Baptista 1987). No âmbito das formações de Floresta Ombrófila Mista, predomina nas imediações do da área de estudo em questão a formação “Montana”, característica por ocorrer em altitudes entre 500 e 1.000 metros s.n.m (Teixeira et al. 1986). A fisionomia típica desta formação florestal apresenta pinheiros-brasileiros (Araucaria angustifolia) despontando por sobre um dossel contínuo, no qual se destacam árvores pertencentes às espécies como imbuia 1 (Ocotea porosa), megapotamica), canela-amarela canela-fogo (Nectandra (Cryptocarya lanceolata), aschersoniana), canela-preta (Nectandra canela-lageana (Ocotea pulchella), canela-fedida (Ocotea corymbosa), camboatá-vermelho (Cupania vernalis), camboatá-branco (Matayba elaeagnoides), casca d’anta (Drimys brasiliensis), pinho-bravo (Podocarpus lambertii), pimenteira (Capsicodendron dinisii), sapopema (Sloanea lasiocoma), erva-mate (Ilex paraguariensis), guabiroba (Campomanesia xanthocarpa) e diversas espécies das famílias Myrtaceae e Aquifoliaceae (Leite & Klein, 1990). As florestas secundárias referentes a esta tipologia são constituídas predominantemente por espécies como bracatinga (Mimosa scabrella), canela-guaicá (Ocotea puberula), vassourão-branco (Piptocarpha angustifolia), vassourão-preto (Vernonia discolor) e chá-de-bugre (Casearia sylvestris), entre outras (Leite & Klein, 1990). 3. Descrição específica da área Em todo o seu redor, o fragmento estudado limita-se por áreas urbanizadas ou fortemente antropizadas, de modo que se encontra praticamente desconectado dos demais fragmentos da região. Estendendo-se de leste a sul a presença de uma lavoura reduz a pressão humana sobre a floresta, o que se reflete na fisionomia da vegetação nesta porção da área. A vegetação florestal da área como um todo é bastante desenvolvida, com alta diversidade de espécies, com muitas árvores altas formando um dossel contínuo, característico de florestas antigas. 4. Métodos 4.1. Localização da área A área objeto do estudo localiza-se no município de Passo Fundo, RS, bairro Bosque Lucas Araújo. 4.2. Levantamento da vegetação A amostragem quantitativa da vegetação foi realizada em parcelas circulares de 100 m2 (raio=5,64 cm). A disposição destas unidades amostrais (UA’s) segue o modelo apresentado na figura 1. Em cada UA, foram registrados todos os indivíduos arbóreos e arbustivos com diâmetro à altura do peito (DAP; a 1,30 m do nível do solo) igual ou superior a 5 cm. Os indivíduos foram identificados no nível de espécie, e além do DAP, tiveram estimada sua altura máxima. O levantamento contou com 25 UA’s, totalizando 2.500 m2 de área amostral. 2 Figura 1: Distribuição das unidades amostrais de vegetação no Bosque Lucas Araújo, Passo Fundo, RS. As bandeiras indicam à posição geográfica das parcelas (com erro máximo de 6 m) e os códigos a sequência de amostragem, de Pf1 a Pf25. Em todos os locais visitados foi realizado um levantamento qualitativo das espécies arbóreas e arbustivas, sendo incluídas na lista florística as espécies que porventura não tenham sido registradas nas parcelas. Adicionalmente, foi feita uma descrição de cada local, considerando aspectos da estrutura da vegetação como presença de lianas, plantas epífitas e características dos estratos da vegetação (dossel e subosque), assim como observações quanto à serapilheira e influência de atividades humanas. 4.3. Análise dos dados Os dados obtidos em campo foram tabulados e submetidos a cálculos de parâmetros fitossociológicos e índice de diversidade. A análise fitossociológica permite detectar relações quantitativas entre as diferentes espécies da comunidade analisada, estabelecendo medidas relativas de importância ecológica para cada táxon, além de possibilitar uma avaliação da complexidade da comunidade arbórea, mediante informações básicas de sua estrutura e diversidade. Para as análises fitossociológicas da vegetação florestal foram consideradas todas as parcelas amostradas e os seguintes parâmetros: densidade relativa e absoluta, freqüência relativa e absoluta, dominância relativa e absoluta e valor de importância 3 (detalhes em Mueller-Dombois & Ellenberg 1974). Os parâmetros analisados são apresentados abaixo: DTA = densidade total de indivíduos de todas as espécies (ind/ha) N × 10000 , A DTA = onde N = número total de indivíduos amostrados 2 A = área total amostrada (=2.500 m ) DAi = densidade absoluta da espécie i (ind/ha) n DAi = i × DTA , N DRi = DAi × 100 , ∑ DA j FAi = i × 100 , k FRi = FAi × 100 , ∑ FA ABind = πD 2 4 onde onde ni = número de indivíduos amostrados da espécie i 2 DTA = densidade total por área (ind/m ) DAi = densidade relativa da espécie i (%) DA = densidade absoluta de todas as espécies FAi= freqüência absoluta da espécie i (%) onde ji = número de parcelas com presença da espécie i k = número total de parcelas FRi = freqüência relativa da espécie i (%) onde FA = somatório da freqüência absoluta de todas as espécies 2 , onde ABind = área basal do indivíduo (m ) D = DAP do indivíduo (m) 2 DoAi = (∑ ABind i / n i ) × DAi , DoRi = DoAi × 100 , ∑ DoA IVI i = DRi + FRi + DoRi , onde DoAi = dominância absoluta da espécie i (m /ha) 2 ABind i = área basal do indivíduo da espécie i (m ) onde DoRi = dominância relativa da espécie i (%) onde IVIi = valor de importância da espécie i H’ = índice de diversidade de Shannon H ' = −∑ pi ln pi , onde pi = proporção de indivíduos da i-ésima espécie; pi = ni/N 4 5. Resultados O levantamento quali-quantitativo registrou a presença de 95 espécies arbustivoarbóreas, distribuídas em 35 famílias (tabela1). Não foi possível à identificação de duas espécies e uma não foi possível identificar a família. Duas famílias destacaram-se em número de espécies, sendo elas Myrtaceae (12 spp.) e Fabaceae (10 spp.). Do total de espécies, cinco são exóticas, ou seja, não nativas do Brasil. Quatro destas espécies são muito comuns no cultivo de frutíferas (amoreira, abacateiro, ameixa-do-japão e citrus). Tabela 1: Relação das espécies vegetais nativas e exóticas (nomes científicos e populares) encontradas na área Família Espécie Nome-popular Lithraea brasiliensis Marchand aroeira Schinus terebinthifolia Raddi aroeira-vermelha Annonaceae Rollinia sylvatica (A. St.-Hil.) Martius araticum Aquifoliaceae Ilex paraguariensis A. St.-Hil. erva-mate Araucariaceae Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze** *** pinheiro-brasileiro Asteraceae Dasyphyllum spinescens (Less.) Cabrera sucará Piptocarpha angustifolia Dusén ex Malme vassourão-branco Anacardiaceae Vernonia discolor (Spreng.) Less. vassourão-branco Bignoniaceae Jacaranda micrantha Cham. caroba Boraginaceae Cordia americana (L.) Gottschling & J.S. Mill. guajuvira Cordia ecalyculata Vell. maria-preta Celtis iguanaea (Jacq.) Sarg. esporão-de-galo Trema micrantha (L.) Blume grandiúva Cannabaceae Cardiopteridaceae Citronella paniculata (Mart.) R.A. Howard Maytenus aquifolia Mart. Celastraceae congonha cancorosa Maytenus dasyclada Mart. - Cunoniaceae Lamanonia ternata Vell. guaperê Elaeocarpaceae Sloanea monosperma Vell. sapopema Erythroxylaceae Erythroxylum deciduum A. St.-Hil. cocão Euphorbiaceae Fabaceae Lauraceae Gymnanthes concolor (Spreng.) Müll. Arg. laranjeira-do-mato Sapium glandulosum (L.) Morong leiteiro Sebastiania brasiliensis Spreng. braquilho Sebastiania commersoniana (Baill.) L.B.Sm. & Downs braquilho Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F. Macbr.*** grápia Ateleia glazioviana Baill. timbó Dalbergia frutescens (Vell.) Britton rabo-de-bugio Erythrina falcata Benth.** corticeira-da-serra Inga marginata Kunth ingá Inga vera Kunth - Lonchocarpus campestris Mart. ex Benth. rabo-de-bugio Machaerium paraguariense Hassl. farinha-seca Machaerium stipitatum (DC.) Vogel farinha-seca Parapiptadenia rigida (Benth.) Brenan angico-vermelho Nectandra lanceolata Nees canela-amarela 5 Nectandra megapotamica (Spreng.) Mez canela-amarela Ocotea puberula (Rich.) Nees canela-guaicá Persea americana Mill.* abacateiro Loganiaceae não identificada Strychnos brasiliensis (Spreng.) Mart. esporão-de-galo Malvaceae Ceiba speciosa (A. St.-Hil.) Ravenna paineira Luehea divaricata Mart. & Zucc. açoita-cavalo Melastomataceae Miconia cinerascens Miq. Cabralea canjerana (Vell.) Mart. Meliaceae - pixirica canjerana Cedrela fissilis Vell. cedro Trichilia claussenii C. DC. catiguá Trichilia elegans A. Juss. pau-de-ervilha Moraceae Ficus luschnathiana (Miq.) Miq.** figueira amoreira Myrsinaceae Morus sp.* Sorocea bonplandii (Baill.) W.C. Burger, Lanj. & Wess. Boer Myrsine coriacea (Sw.) R. Br. ex Roem. & Schult. Myrsine loefgrenii (Mez) Otegui capororoca Myrsine lorentziana (Mez) Arechav. capororoca Calypthranthes conccina DC. guamirim Campomanesia guazumifolia sete-capotes Campomanesia xanthocarpa gubiroba Eugenia involucrata DC. cerejeira Eugenia ramboi D. Legrand batinga-branca Myrtaceae cincho capororoquinha Eugenia uniflora O. Berg pitangueira Myrcia palustris DC. guamirim Myrcianthes gigantea (D. Legrand) D. Legrand araçá-gigante Myrcianthes pungens (O. Berg) D. Legrand guabijú Myrciaria delicatula (DC.) O. Berg camboim Plinia trunciflora (O. Berg) Kausel jaboticabeira - Phytolaccaceae não identificada Phytolacca dioica L. umbú Seguiera aculeata Jacq. limoeiro-do-mato Piperaceae Piper aduncum L. pariparoba Rhamnaceae Hovenia dulcis Thunb.* uva-do-japão Rosaceae Eriobotrya japonica* (Thunb.) Lindl. ameixa-do-japão Prunus myrtifolia (L.) Urb. pessegueira-do-mato Psychotria carthagenensis Jacq. cafeeiro-do-mato Psychotria leiocarpa Mart. cafeeiro-do-mato Rudgea parquioides (Cham.) Müll. Arg. jasmin-do-mato Rubiaceae Rutaceae Salicaceae Citrus sp.* Zanthoxylum kleinii (R.S. Cowan) P.G. Waterman mamica-de-cadela Zanthoxylum rhoifolium Lam. mamica-de-cadela Banara parviflora (A. Gray) Benth. farinha-seca Banara tomentosa Clos farinha-seca Casearia decandra Jacq. guaçatunga Casearia sylvestris Sw. chá-de-bugre 6 Sapindaceae Sapotaceae Xylosma pseudosalzmanii Sleumer sucará Allophylus edulis (A. St.-Hil., A. Juss. & Cambess.) Radlk. chal-chal Allophylus guaraniticus Radlk. chal-chal Cupania vernalis Cambess. camboatá-vermelho Matayba elaeagnoides Radlk. camboatá-branco Chrysophyllum gonocarpum (Mart. & Eichler ex Miq.) Engl. aguaí Chrysophyllum marginatum (Hook. & Arn.) Radlk. aguaí-vermelho Simaroubaceae Picrasma crenata (Vell.) Engl.*** pau-amargo Solanaceae Brunfelsia pilosa Plowman manacá Cestrum intermedium Sendtn. coerana Solanum mauritianum Scop. fumo-bravo Solanum pseudoquina A. St.-Hil. coerana Solanum sanctaecatharinae Dunal joá-manso Styracaceae Styrax leprosus carne-de-vaca não identificada não identificada - *espécie exótica/ **espécie imune ao corte/ ***espécie ameaçada de extinção 5.1. Fitossociologia No levantamento quantitativo foram registrados 304 indivíduos, e a densidade total de árvores com DAP maior ou igual a 5 cm estimada para um hectare foi de 1.216 indivíduos. As espécies que apresentaram maior densidade foram Gymnanthes concolor e Casearia sylvestris (tabela 2). Por outro lado, Araucaria angustifolia e Ocotea puberula apresentaram maior área basal devido ao seu grande porte. Estas quatro espécies citadas, juntamente com Prunus myrtifolia, foram as cinco com maior índice de valor de importância perfazendo um total de 33,35% do total da comunidade. Desta forma, estas espécies predominam e destacam-se fisionomicamente e estruturalmente nas comunidades florestais. Quanto ao diâmetro dos indivíduos, a maioria está inserida na classe entre 5 a 25 cm (figura 2), porém a média foi de 21,21 cm. Pode-se observar na área de estudo, indivíduos com mais de um metro de diâmetro como a Sloanea monosperma. Com relação à altura, grande parte dos indivíduos atinge valores superiores a 8 m (figura 3), com uma média geral de 9,3 m. 7 Tabela 2: Parâmetros fitossociológicos das espécies com indivíduos ≥ 5 cm de DAP, amostradas em 2 25 parcelas de 100 m no bairro Bosque Lucas Araújo, Passo Fundo, RS. ni = número de indivíduos amostrados; NP= número de parcelas com presença da espécie; DA = densidade absoluta (indivíduos/ha); FA = freqüência absoluta (%); DoA = dominância absoluta (m²/ha); DR = densidade relativa (%); FR = freqüência relativa (%); DoR = dominância relativa (%); IVI = índice de valor de importância. Espécies ordenadas por IVI decrescente. Espécie ni NP DA DR FA FR DoA DoR IVI Araucaria angustifolia 10 8 40 3,29 32 3,54 146366,84 20,01 8,95 Ocotea puberula 15 12 60 4,93 48 5,31 81783,04 11,18 7,14 Casearia sylvestris 26 18 104 8,55 72 7,96 22349,81 3,06 6,52 Prunus myrtifolia 19 11 76 6,25 44 4,87 46952,94 6,42 5,85 Gymnanthes concolor 29 10 116 9,54 40 4,42 5091,37 0,70 4,89 Sloanea monosperma 4 4 16 1,32 16 1,77 54168,07 7,41 3,50 Sorocea bonplandii 16 10 64 5,26 40 4,42 4488,17 0,61 3,43 Machaerium paraguariense 9 7 36 2,96 28 3,10 28311,44 3,87 3,31 Cabralea canjerana 12 8 48 3,95 32 3,54 11752,32 1,61 3,03 Nectandra megapotamica 11 8 44 3,62 32 3,54 13200,31 1,80 2,99 Lauraceae 7 6 28 2,30 24 2,65 27128,91 3,71 2,89 Allophylus edulis 12 9 48 3,95 36 3,98 4086,46 0,56 2,83 Nectandra lanceolata 7 5 28 2,30 20 2,21 24801,43 3,39 2,64 Myrsine lorentziana 9 6 36 2,96 24 2,65 14260,92 1,95 2,52 Banara tomentosa 9 8 36 2,96 32 3,54 3149,99 0,43 2,31 Apuleia leiocarpa 5 4 20 1,64 16 1,77 24769,92 3,39 2,27 Ateleia glazioviana 6 3 24 1,97 12 1,33 25532,91 3,49 2,26 Cupania vernalis 8 8 32 2,63 32 3,54 4425,78 0,61 2,26 Luehea divaricata 3 3 12 0,99 12 1,33 31710,35 4,34 2,22 Jacaranda micrantha 5 5 20 1,64 20 2,21 17935,49 2,45 2,10 Plinia trunciflora 7 5 28 2,30 20 2,21 10203,42 1,40 1,97 Cedrela fissilis 5 4 20 1,64 16 1,77 17800,53 2,43 1,95 Trichilia claussenii 5 4 20 1,64 16 1,77 10809,80 1,48 1,63 Casearia decandra 5 5 20 1,64 20 2,21 6448,64 0,88 1,58 Phytolacca dioica 5 4 20 1,64 16 1,77 5593,02 0,76 1,39 Sapium glandulosum 2 2 8 0,66 8 0,88 16685,80 2,28 1,27 Chrysophyllum marginatum 4 3 16 1,32 12 1,33 7075,07 0,97 1,20 Styrax leprosus 4 4 16 1,32 16 1,77 2161,01 0,30 1,13 Eugenia ramboi 4 4 16 1,32 16 1,77 1460,72 0,20 1,10 Sebastiania brasiliensis 5 3 20 1,64 12 1,33 1526,93 0,21 1,06 Hovenia dulcis 2 1 8 0,66 4 0,44 12819,61 1,75 0,95 Lonchocarpus campestris 2 2 8 0,66 8 0,88 7586,60 1,04 0,86 Campomanesia xanthocarpa 3 3 12 0,99 12 1,33 1416,16 0,19 0,84 Myrsine loefgrenii 3 3 12 0,99 12 1,33 928,51 0,13 0,81 Trichilia elegans 3 3 12 0,99 12 1,33 383,56 0,05 0,79 Sebastiania commersoniana 2 2 8 0,66 8 0,88 5471,43 0,75 0,76 Não identificada Picrasma crenata 1 1 4 0,33 4 0,44 10313,24 1,41 0,73 2 2 8 0,66 8 0,88 1011,91 0,14 0,56 Cordia americana 2 2 8 0,66 8 0,88 916,73 0,13 0,56 8 Dalbergia frutescens 2 2 8 0,66 8 0,88 302,08 0,04 0,53 Strychnos brasiliensis 1 1 4 0,33 4 0,44 4136,76 0,57 0,45 Piptocarpha angustifolia 1 1 4 0,33 4 0,44 3921,90 0,54 0,44 Myrcianthes pungens 1 1 4 0,33 4 0,44 3311,70 0,45 0,41 Eugenia involucrata 1 1 4 0,33 4 0,44 1696,27 0,23 0,33 Dasyphyllum spinescens 1 1 4 0,33 4 0,44 1145,92 0,16 0,31 Vernonia discolor 1 1 4 0,33 4 0,44 1108,04 0,15 0,31 Celtis iguanea 1 1 4 0,33 4 0,44 644,58 0,09 0,29 Lithraea brasiliensis 1 1 4 0,33 4 0,44 644,58 0,09 0,29 Campomanesia guazumifolia 1 1 4 0,33 4 0,44 561,50 0,08 0,28 Parapiptadenia rigida 1 1 4 0,33 4 0,44 325,95 0,04 0,27 Inga vera 1 1 4 0,33 4 0,44 267,70 0,04 0,27 Myrtaceae 1 1 4 0,33 4 0,44 198,94 0,03 0,27 Rollinia sylvatica 1 1 4 0,33 4 0,44 114,91 0,02 0,26 Myrcianthes gigantea 1 1 4 0,33 4 0,44 103,13 0,01 0,26 Número de indivíduos 250 200 150 100 50 0 5 a 25 26 a 45 46 a 65 66 a 85 Intervalo das classes de diâmetro (cm) > 86 Figura 2: Distribuição do número de indivíduos amostrados por classes de diâmetro do tronco. 9 número de indivíduos ϭϰϬ ϭϮϬ ϭϬϬ ϴϬ ϲϬ ϰϬ ϮϬ Ϭ ϮĂϱ ϱ͕ϭĂϴ ϴ͕ϭĂϭϭ ϭϭ͕ϭĂϭϰ ϭϰ͕ϭĂϭϳ ϭϳ͕ϭĂϮϭ intervalo de classes de altura (m) Figura 3: Distribuição do número de indivíduos amostrados por classes de altura total. O índice de diversidade de Shannon foi de 3,54, valor considerado bastante alto em comparação a outras florestas com araucária do estado (Jarenkow & Baptista, 1987; Nascimento et al.,2001; Mauhs, 2002; Neto et al., 2002). A comparação entre índices de diversidade de Shannon serve como um bom indicador de diversidade de espécies entre formações vegetais (Jurinitz & Jarenkow, 2003). Este alto índice de diversidade encontrado no presente estudo, demonstra que o fragmento florestal não apresenta uma forte dominância de poucas espécies, e sim a co-ocorrência de muitas espécies em cada local. 5.2. Espécies ameaçadas e/ou imunes ao corte De acordo com a legislação (Lei Estadual n° 9.519/92, modificada pela Lei n° 11.026/97; Decreto Estadual 42.099/03), o presente estudo registrou duas espécies imunes ao corte (Erythrina falcata e Ficus organensis) e três espécies ameaçada de extinção (Apuleia leiocarpa, Araucaria angustifolia e Picrasma crenata), todas na categoria vulnerável (tabela 1). 5.3. Estágios sucessionais da vegetação De acordo com as informações obtidas com o estudo da vegetação, baseado na Resolução CONAMA nº 33/94, convalidada pela Resolução CONAMA 388/07, a vegetação do bairro Bosque Lucas Araújo no município de Passo Fundo, RS, é considerada como secundária em estágio avançado de regeneração. 10 A vegetação apresenta fisionomia arbórea com dossel fechado, uniforme, de grande amplitude diamétrica, apresentando altura superior a 8 (oito) metros (média de 9,3 m) e diâmetro a altura do peito (DAP) médio de 21,21 cm (superior ao limite de 15 cm estabelecido na legislação). Ocorrem espécies emergentes, dossel com copas superiores, horizontalmente amplas, sobre os estratos arbustivos e herbáceos, e a presença de trepadeiras lenhosas de grande diâmetro é frequente. Outros aspectos ecológicos que indicam o avançado estágio sucessional é a grande diversidade de espécies arbóreo/arbustivas e o baixo número de indivíduos adultos com ramificações baixas, indicando crescimento vertical e baixo grau de perturbação em longa data. 6. Considerações finais Apesar do bom estado de conservação de sua maior parte, o bairro Bosque Lucas de Araújo necessita de grande atenção no que diz respeito ao impacto humano. Grande parte dos locais é utilizado como depósito de lixo, bem como são comuns resíduos de rituais religiosos. São igualmente notáveis os efeitos negativos de roçadas periódicas sobre o subosque, principalmente na metade norte da área. Esta situação, bem como a presença de ruas no interior da área, tende a alterar significativamente as condições ambientais da floresta e reduzir gradativamente a diversidade biológica, comprometendo a capacidade natural de regeneração. Por se tratar de um raro fragmento florestal deste tamanho e com tal grau de conservação em uma paisagem há muito tempo antropizada, se faz urgente à adequação da ocupação da área à legislação ambiental. 7. Bibliografia CESTARO, L. A.; WAECHTER, J. L. & BAPTISTA, L. R. M. 1986. Fitossociologia do estrato herbáceo da mata de Araucária da Estação Ecológica de Aracuri, Esmeralda, RS. Hoeh., 13: 59-72. HUECK, K. 1972. As florestas da América do Sul. São Paulo: Polígono/Universidade de Brasília. 466 p. IBGE. 2004. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e estatística. Diretoria de Geociências. Mapa de Vegetação do Brasil. 3 ed. 1:5.000.000. Rio de Janeiro. JARENKOW, J. A. & BAPTISTA, L. R. M. 1987. Composição florística e estrutura da mata com Araucária na Estação Ecológica de Aracuri, Esmeralda, Rio Grande do Sul. Napaea 3: 9-18. JURINITZ C. F. & JARENKOW J. A. 2003. Estrutura do componente arbóreo de uma floresta estacional na Serra do Sudeste, Rio Grande do Sul, Brasil. Revista Brasileira de Botânica 26: 475485. LEITE, P.F.; KLEIN, R.M. 1990. Vegetação. In: Geografia do Brasil: Região Sul. Rio de Janeiro: IBGE. p. 113-150. v.2. MAUHS, J. & BACKES, A. 2002. Fitossociologia e regeneração natural de um fragmento de Floresta Ombrófila Mista exposto a perturbações antrópicas. Pesquisas, Série Botânica, 52: 89-109. 11 MUELLER-DOMBOIS, D. & ELLEMBERG, H. Aims ans methods of vegetation ecology. New York: Wiley & Sons. 547 p. 1974. NASCIMENTO, A. R. T.; LONGHI, S. J. & BRENA, D. A. 2001. Estrutura e padrões de distribuição espacial de espécies arbóreas em uma amostra de Floresta Ombrófila Mista, em Nova Prata, RS. Ciência Florestal, 11: 105-119. NETO, R. M. R.; WATZLAWICK, L. F.; CALDEIRA, M. V. W.; SHOENINGER, E. R. 2002. Análise florística e estrutural de um fragmento de floresta ombrófila mista montana, situado em Criúva, RS – Brasil. Ciência Florestal 12: 29-37. TEIXEIRA, M.B.; COURA-NETO A.B.; PASTORE U. & RANGEL FILHO A.L.R. 1986. Vegetação. In: Levantamento de recursos naturais (Folha SH.22 Porto Alegre e parte das Folhas SH.21 Uruguaiana e SI.22 Lagoa Mirim (ed. IBGE). IBGE: Rio de Janeiro, pp. 541-632. VELOSO, H.P.; RANGEL-FILHO, A.L.R; LIMA, J.C. 1991. Classificação da vegetação brasileira adaptada a um sistema universal. Rio de Janeiro: IBGE. 123 p. VELOSO, H.P. & GÓES-FILHO, L. 1982. Fitogeografia brasileira - classificação fisionômico-ecológica da vegetação neotropical. Boletim Técnico do Projeto RADAMBRASIL, Série Vegetação 1:1-80. WAECHTER, J. L.; CESTARO, L A. & MOITO, S. T. S. 1984. Vegetation types in the Ecological Station of Aracuri, Esmeralda, Rio Grande do Sul, Brasil. Phytocoenol., 12: 261-269. 7.1. Legislação BRASIL. Resolução CONAMA n° 33 de 07 de dezembro de 1994. Define estágios sucessionais das formações vegetais que ocorrem na região de Mata Atlântica do Rio Grande do Sul, visando viabilizar critérios, normas e procedimentos para o manejo, utilização racional e conservação da vegetação natural. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, n.248, p.21352, 30 dez. 1994. Seção 1. BRASIL. Resolução CONAMA n° 388 de 23 de fevereiro de 2007. Dispõe sobre a convalidação das Resoluções que definem a vegetação primária e secundária nos estágios inicial, médio e avançado de regeneração da Mata Atlântica para fins do disposto no art. 4o § 1o da Lei no 11.428, de 22 de dezembro de 2006. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, n.38, p.21352, 26 fev. 2007. RIO GRANDE DO SUL. Lei Estadual n° 9.519 de 21 de janeiro de 1992. Institui o Código Florestal do Estado do Rio Grande do Sul e dá outras providências. RIO GRANDE DO SUL. Lei Estadual n° 11.026 de 05 de novembro de 1997. Dá nova redação aos artigos 33 e 34 da LEI Nº 9.519, de 21 de janeiro de 1992, que institui o Código Florestal do Estado. RIO GRANDE DO SUL. Decreto Estadual 42.099 de 01 de janeiro de 2003. Lista final das espécies da flora ameaçadas – RS. 12 8. Relatório Fotográfico Foto 1: Evidência de corte seletivo na área de estudo. Foto 2: Aspecto da porção sul da floresta vista de fora. Destaca-se a araucária como espécie emergente. Foto 3: Aspecto do interior da porção sul da floresta com sobosque denso. Foto 4: Área com roçada recente, frequente em algumas partes do bairro. 13 Foto 5: diâmetro. Trepadeira lenhosa com grande Foto 6: Sapopema (Sloanea monosperma) com mais de 1 metro de diâmetro. Foto 7: Borda da floresta observada da rua. Foto 8: Área de cultivo agícola em torno da área. 14 Equipe técnica Rafael Engelman Machado CRBio 34.686-03D Rodrigo Scarton Bergamin CRBio 58.287-03D Porto Alegre, 10 de Janeiro de 2011. 15