LAN HOUSE NA PERIFERIA: LUGAR PARA ACESSAR A REDE, LUGAR DE ENCONTRO. Aldenilson dos Santos Vitorino Costa1 Resumo: Examina-se a ligação entre as novas tecnologias de informação e comunicação e as formas de interação social urbana na periferia, a partir da lan house. A globalização entendida enquanto processo de mundialização da economia e da cultura aponta para um período histórico onde tempo e espaço são experienciados de diversas formas. Além disso, a informação no atual período histórico torna-se fundamental e indispensável, e as cidades são adaptadas a esta nova característica. Contudo, é no domínio do urbano, que transcende a cidade, que a internet mais trás implicações, pois o que muda é a cotidianidade, as formas de perceber o tempo e o espaço, as formas de interação social. Palavras-Chave: lan house, periferia, globalização, sociabilidade, internet. Abstract: It examines the link between new information and communication technologies and forms of social interaction in the urban periphery, from the cyber cafe. Globalization understood as a process of globalization of economy and culture points to a historical period where time and space are experienced in different ways. Furthermore, the information in the current historical period becomes essential, indispensable, and cities are adapted to this new feature. However, it is in the urban area, which transcends the city, the implications behind the internet more, since what changes is the daily life, ways of perceiving time and space, forms of social interaction. Keywords: lan house, suburbs, globalization, sociability, internet. Introdução O processo de globalização impõe inúmeros desafios, que abrangem diversas dimensões, sobretudo, as dimensões do vivido e da experiência, o que põe em questão as atuais formas de interação social em função da internet. E mais que isto, atentar para os novos espaços de encontro, de sociabilidade, visto que há uma forma de sociabilidade contemporânea em função da internet, que não apaga as formas passadas, mas que as potencializa. Hoje, com a consolidação do processo de urbanização, que faz com que as cidades sejam verdadeiros aglomerados humanos, e ao mesmo tempo, aglomerados de casas, 1 Geógrafo e mestrando em Planejamento Urbano e Regional – IPPUR/UFRJ. Membro do Laboratório Estado, Sociedade, Tecnologia e Espaço. E-mail: [email protected] construções, bairros, avenidas, mais do que nunca ela se torna ponto de encontro. Aliás, a cidade concentra diversos pontos de encontro. Lugares onde é possível a interação social. Seja num samba de roda pelas ruas dos centros históricos, seja numa mesa de bar, seja numa igreja, seja numa instituição de ensino, a cidade dispõe de diversos lugares que promovem o encontro social. Ao mesmo tempo, a expansão do comércio de lan houses, hoje mais comum nas periferias urbanas, faz surgir um novo lugar de encontro, com características peculiares. As lan houses que são empreendimentos comerciais que permitem o acesso à internet, e hoje este tipo de estabelecimento é um tipo de empreendimento popular cujo valor de acesso à internet é relativamente baixo. São comunidades, bairros populares, que hoje mais têm este tipo de estabelecimento, que atende, na sua maioria, ao público adolescente, jovens e adultos. Por outro lado, a lan house hoje tornou-se lugar de encontro entre os jovens, principalmente para aqueles que dispões de computador e acesso à internet em suas residências. Contudo, o públicos das lan houses difere com relação ao tipo de serviço oferecido, o que vai definir também se a lan house será ponto de encontro ou não. Entre uma partida de jogo e outra surgem conversar sobre jogos, situações da vida cotidiana entre outros. Entre um grito e outro a relação vai se desenrolando, e os sujeitos interagem a partir do jogo online. Além disso, a relação com o proprietário do estabelecimento, em geral, é de amizade. Diante disto, a sociabilidade na contemporaneidade tem outros contornos, e a rede mundial de computadores influencia bastante na produção desses novos contornos, e a lan house é hoje um dos lugares que promovem o encontro social, o que deve ser analisado. Encontros e desencontros na cidade Onde se encontrar na cidade? Mais precisamente, onde se encontrar na cidade contemporânea? Medo, angústia, perigo. Estas e outras tantas são as sensações existentes na cidade, que fazem pensar que há mais desencontros do que encontros, sobretudo nas metrópoles, onde tais sensações se exacerbam. A cidade já não parece ter um lugar seguro, ou que expresse segurança. Os indivíduos que por ela transitam estão perdidos? Lugar de encontro, lugar do comércio, espaço para habitação, indústria, diversão. Concentração de casas, edifícios, empresas, pessoas. A cidade há alguns anos contempla um múltiplo de funções, que para alguns, torna-a mais atraente, e ao mesmo tempo complexa. Mesmo com todos os problemas existentes nas cidades, sobretudo relacionados a sensação de insegurança, ainda há nela espaço para encontros, tanto quanto para o desencontro. A cidade na modernidade, ou como diria Giddens (1992) na modernidade radicalizada, ainda permite o encontro de pessoas, todavia tais encontros ocorrem em outros moldes. Numa cidade será que os encontros ocorrem nas praças, ruas, parques apenas? Ou melhor, ainda são esses espaços os únicos a deterem a qualidade de lugar de encontro? Como e onde interagir socialmente na cidade na era da globalização? Vejamos o caso de inúmeros espaços na cidade do Rio de Janeiro que em tempos pretéritos eram principalmente espaços de encontro como a Praça Tiradentes, Praça Mauá, entre outras. Hoje tais lugares tornaram-se também espaços de passagem, e menos de encontro, sobretudo pela transformação ocorrida na cidade do Rio de Janeiro ao longo dos últimos anos. E no caso de Brasília, cidade modernista segundo os padrões do alto modernismo de Le Curbusier (BAUMAN, 1999), onde estão os lugares de encontro? Parque Sarah Kubitschek ou a parte de lazer dos prédios do Plano Piloto? Ou mesmo em São Paulo, com toda a sua imensidão e gigantismo, onde estão os espaços de encontro? Praças, jardins, parques, shoppings centers? A cidade em si ao mesmo tempo que é o lugar da aglomeração tanto humana quanto física, é também um lugar de encontros e desencontros. E quanto maior a cidade mais complexo o seu sistema de lugares de encontro. Tal complexidade se exprime justamente pelo fato dos lugares de encontro tomarem as características do público que deles fazem uso, o que muita das vezes não permite o uso deste mesmo espaço por pessoas alheias àquele lugar. Exemplo: quem faz uso do Parque Laje na zona sul do Rio de Janeiro? Intelectuais, estudiosos, acadêmicos na sua maioria, além dos moradores das redondezas. Por outro lado, será que esse mesmo público faz uso da praça Barão de Drumond, no bairro de Vila Isabel, do mesmo modo? Citemos outro caso, já no norte do Brasil: Em Palmas, capital do Estado do Tocantins, a maior parte das quadras residenciais têm praças, que servem como área de lazer para os moradores. Contudo, não é muito comum que os moradores frequentem a praça da quadra que não residem, ou se o fazem, em geral é em quadras limítrofes a que residem. Não há frequência de outros moradores em outras praças de quadras. (SILVA, 2008). Mais ainda, seguem-se outras questões, como: e a periferia, tem lugar de encontro urbanizado e territorialmente ordenado como em pontos turísticos e em bairros de classe média? Como os indivíduos de baixo poder aquisitivo e que habitam as áreas mais adensadas dos espaços urbanos se encontram? Somente ao passarem pelas ruas, no ir e vir cotidiano? Os habitantes da periferia urbana criaram ao longo do tempo lugares de encontro que não se limitam ao ir e vir das ruas, feiras, etc. Mesmo sem a ação governamental no sentido de construir espaços de encontro coletivos na periferia, a própria população cria lugares onde se encontrar, onde conversar, onde compartilhar histórias, momentos, passagens da vida cotidiana. São nesses espaços em que a dimensão da vida ganha novos contornos. A porta de uma casa é um espaço de encontro, todavia este ainda é muito limitado aos moradores vizinhos. No entanto, ao ampliarmos a visão, percebe-se, por exemplo, que um campo de futebol, no qual homens, crianças e adolescentes, e em menor grau mulheres, jogam torna-se um espaço de encontro mais amplo, não se limitando a uns poucos usuários. Além disso, uma praça num bairro da periferia também é um espaço de encontro, pois é onde moradores de distintas áreas do bairro se encontram. Todos estes elementos ajudam a compreender que se há lugares de encontro em bairros de classe média e alta, há também espaços como estes, não no que diz respeito a estrutura física, em áreas periféricas. Os espaços públicos de encontro são também lugar de exercício da sociabilidade, forma pura de relação social (SIMMEL, 2006). É o ambiente onde se “joga conversa fora”, onde a “fofoca” torna-se um costume cotidiano. Mas que expressa mais que isto; ou seja, expressa a natureza da relação social urbana. Não obstante, além da praça, do campo de futebol, da porta de casa, a periferia criou outro espaço de encontro. E mais precisamente, um espaço de sociabilidade, a saber, a lan house (BORGES, 2009; PEREIRA, 2007). Não significa o fim dos demais pontos de encontro, mas sim que a relação social, a natureza da interação humana ganhou novos moldes no contexto da globalização. Com certeza, alguns dirão: mas não é a lan house um lugar de acesso a internet? Certamente. Contudo, na periferia a lan house ganha outras funcionalidade, servindo, entre outras coisas, como ponto de encontro entre jovens principalmente. Essa geração de nativos digitais (PALFREY & GASSER, 2011), diferentemente de outras tem a lan house como um dos seus pontos de encontro. É o lugar onde além de acessar a internet, os adolescentes conversam, trocam experiência sobre jogos, entre outros. Lan house: lugar para acessar a rede Dando continuidade ao proposto, comecemos pela primeira dimensão da lan house que é um espaço para acessar a rede. A lan house é um tipo de estabelecimento, comercial por excelência, que além de oferecer acesso a internet cobrando um preço acessível a maior parcela da população, oferece também outros serviços como impressão, fax, Xerox, entre outros (MATEUS, 2006). Há inclusive uma outra dimensão deste empreendimento comercial, que é chamado de cibercafé, que por sua vez já oferece serviços de lanchonete aos usuários, bem como assistência técnica, além dos outros já citados aqui. “Nesses tipos de estabelecimentos encontramos a venda de salgadinhos, doces, lanches rápidos, refrigerantes, café” além disso, é possível ter também “serviços de reposição de cartucho para impressora, venda de artigos e produtos associados à informática, manutenção de equipamentos de informática, cursos na área de tecnologia e a venda de outros diversos artigos que possam atender a demanda local”. (BORGES, 2009, p. 223) Figura 1 Lan House Fonte: http://raiobrasil.com/photo/mega-one-lan-house-cyber-cafe-6 O termo lan house nasce na Coréia do Sul em 1998, momento em que tais estabelecimentos comerciais tornam-se muito comuns no país, permitindo o acesso rápido e fácil a internet, aos mais diversos indivíduos. No Brasil, este tipo de estabelecimento muito incipiente na década de 1990, se populariza a partir da década 2000, onde há um crescimento e uma queda muito expressiva. O crescimento da lan house no Brasil do ínicio do século XXI se explica pelo grande “boom” da internet, promovido pelo atual processo de globalização, onde começa a haver uma popularização da internet nas mais diversas cidades brasileiras. Evidentemente que a estrutura da rede urbana interferiu neste processo (SPÓSITO, 2008), onde as metrópoles foram as primeiras a participarem deste processo, passando pelas cidades médias até chegar as pequenas cidades, bem como a zona rural. No início dos anos 2000 não havia tanta disponibilidade de internet residencial, devido o alto custo deste serviço, limitando a quantidade de usuários residenciais. A partir da política governamental de popularização da banda larga, iniciada em 2000, através do Livro Verde (MCT, 2000) onde o governo federal reconhece a importância de inserção e mais precisamente da popularização da banda larga, passou a haver uma ação no sentido de promover a ampliação deste serviço. Planejamento, propostas concretas, execução e acompanhamento passaram a fazer parte da realidade do Programa Sociedade da Informação. No entanto, mesmo com este processo, a popularização da banda larga, sobretudo residencial, ocorreu a partir de meados da década de 2000. Mas anteriormente este serviço era oferecido pelas lan houses a maior parcela da população, com custos relativamente altos a depender da localização do empreendimento, sendo eu a periferia não dispunha tão bem desse tipo de comércio. Pode-se afirmar que até meados da década de 2000, a lan house se configurava enquanto um empreendimento localizado nas áreas centrais da cidade, pois eram as áreas onde havia as melhores velocidades de internet, que é um dos atrativos da lan house. Além disso, a lan house funcionava mais como cibercafé, pois a maioria delas oferecia serviços de lanchonete, assistência técnica, além do acesso a internet. Esse período caracteriza o boom não só da internet, mas, sobretudo da lan house, onde esta era o principal meio de acesso ao mundo virtual. Em seus primórdios a lan house era mais funcionalmente usada. Ou seja, as pessoas que dela se utilizavam, participavam de um momento de transição econômica, política e social, em que a internet e não apenas o computador, passaram a fazer parte do cotidiano das pessoas para a execução de diversas tarefas, sobretudo vinculadas ao exercício de suas atividades laborais (EGLER, 2004). Por outro lado, em função da popularização da internet banda larga residencial, há uma queda significativa de empreendimentos deste tipo, pois deixou de oferecer lucratividade a muitos dos proprietários. Vejamos o que alguns proprietários de lan house disseram sobre este processo (COSTA, 2011): “Lan house já foi uma coisa que dava renda. Antigamente. Porque cada vez mais o computador e a internet estão mais acessíveis. E eu pretendo manter a lan house até formar, e depois que formar pretendo vender e montar outra coisa”. W.C. 19 anos “Lan house é só um passatempo. O vídeo-game ainda está dando, lan house não dá mais”. L.A. 29 anos “Porque quando eu abri, há 3 anos atrás era uma expectativa muito boa pela necessidade. Hoje é mais uma necessidade na questão de serviços, de coisa rápida, mandar e-mail, imprimir, porque a maioria das pessoas tem computador e internet em casa, mas não tem os serviços que temos aqui”. Z.C. 21 anos “Não somente lan house. Lan house é o “chama”, mas o produto forte mesmo é Xerox, cartão, foto, currículo, faz, etc. E trabalho com ele porque é um ramo defasado sem muita gente especializada para atender as pessoas que querem o problema solucionado”. J.M. 24 anos De acordo com a pesquisa realizada pelo Comitê Gestor da Internet em diversas cidades brasileiras, 31% das lanhouses pesquisadas funcionam há menos de um ano, enquanto outros 27% funciona entre um e dois anos. A maioria das lanhouses está em funcionamento há até dois anos, período crítico do ciclo de vida do negócio, e carecem de auxílio e incentivos para que sejam viáveis economicamente no médio e longo prazo. (2010, p. 18) Ora, a partir deste processo há uma nova configuração territorial destes empreendimentos na cidade, pois deixam de ser centrais para se localizarem principalmente nas áreas periféricas da cidade, com características mais parecidas com o território no qual estão inseridas, sem tanto requinte como aquelas situadas no centro. Ao mesmo tempo, parcela significativa desses empreendimentos ainda está na condição de informalidade. (CGI, 2010) A lan house na periferia também é um espaço para acessar a internet, bem como para outros serviços. Contudo algumas características da lan house na periferia são diferentes das lan houses situadas no centro das cidades, tais como o tipo de uso feito, horário de funcionamento, serviços oferecidos. Isto se comprova a partir de observação da lan house no centro e na periferia das cidades de Palmas (capital do Estado do Tocantins) (COSTA, 2011a). A lan house no centro das cidades é, em geral, funcional. Isto quer dizer que não há mais do que a relação comercial em si, onde se paga para utilizar um serviço, que no caso é o acesso a internet ou fax, cópias, impressões. São ambientes que promovem a individualidade, não havendo sequer contato entre os indivíduos. Trata-se de um ambiente solitário onde a relação expressa é a do ato comercial. Ao mesmo tempo, os usuários deste comércio também são diferenciados. São indivíduos que necessitam de acesso rápido para atividades vinculadas às atividades trabalhistas, que não passam longas horas na internet, e que muitas vezes dispõem deste serviço em suas residências. São executivos, funcionários das mais diversas empresas situadas no centro das cidades, estudantes universitários, entre outros os principais usuários deste tipo de lan house. A lan house neste sentido, ganha a qualidade de lugar de passagem, pois não há permanência, sequer fidelidade por parte dos usuários, que muitas das vezes utilizam aquele lugar apenas por estarem passando ali no momento. Na periferia, ao contrário, as relações ao mesmo tempo em que são comerciais, ganham novos moldes (BORGES, 2009; PEREIRA, 2007). Ou seja, não é apenas comercial, sendo para muitos um lugar de interação social, lugar de encontro. Além disso, a lan house na própria periferia tem distinção, isto porque a sua localização definirá a característica dos seus usuários. No caso de Palmas (COSTA, 2011a), as lan houses situadas em avenidas principais dos bairros periféricos tendem a ser semelhantes àquelas situadas no centro da cidade. Em geral o valor cobrado é maior e os serviços oferecidos mais complexos. Por sua vez, o público atendido também será diferenciado, sendo em menor escala daqueles que procuram a lan house para jogos. Em lan house situadas em pontos menos centrais dos bairros periféricos o público é bem diverso, sendo o carro-chefe do empreendimento tanto o uso da internet como os jogos online. O publico engloba mais jovens e adolescentes que conhecem na sua maioria o atendente ou o proprietário da lan house. Quando não, o atendente é o proprietário. Além disso o ambiente é menos privativo e individual, pois há um fluxo maior de pessoas, muitas das quais compartilham computadores com várias outras. Figura 2 Compartilhamento de computador na lan house Fonte: Trabalho de campo realizado em fevereiro de 2012 na cidade de Palmas Tanto em Palmas como em outras cidades do Brasil, esta é uma realidade muito comum nas periferias, o que revela que a natureza do empreendimento é modificada, deixando de ser meramente comercial e passando a uma dimensão que envolve a sociabilidade, a interação social. Somado a isto tem o fato de que alguns usuários criam círculos de amizades que se tornam vínculos para além da lan house. Ao mesmo tempo, as formas de interação na cidade passam a ser medidas, para esse grupo, também pelas novas tecnologias e a lan house torna-se lugar de encontro. Lan house: lugar de encontro Estamos na era digital, da modernidade, em que o meio virtual, ou ciberespaço para muitos faz parte do cotidiano, sobretudo urbano (LEMOS, 2004). Ao mesmo tempo, as cidades são adaptadas para a inserção das novas tecnologias (SANTOS, 2008a), que promovem transformações em todas as dimensões da cotidianidade. A sociedade em rede como afirma Castells (1999) implica em transformações que são econômicas, políticas, territoriais e sociais (EGLER, 2003, 2004). Além disso, esta sociedade tem exigindo cada vez mais uma inserção de elementos do mundo digital virtual (OLIVEIRA, 2003) em tarefas cotidianas. Ao mesmo tempo, no tecido social as transformações promovidas pelas novas tecnologias de comunicação também são notáveis. Do mesmo modo que a cidade é transformada na sua dimensão territorial face as novas tecnologias, de igual modo o tecido social se transforma, e na cidade esta transformação é percebida a partir das formas de interação social, com novos moldes. A globalização na cidade exacerba as maneiras de experienciar as relações sociais. A técnica, por seu turno, é usada gerando novas sensações, que criam a sensação de um presente que foge, e de uma busca incessante por uma presentificação (RIBEIRO, 2005, 2007). Neste sentido, percebe-se que o processo de globalização impõe inúmeros desafios, que não se limitam à esfera econômica nem política apenas, mas que abrangem outras dimensões, sobretudo, as dimensões do vivido e da experiência, e principalmente da experiência urbana. São produtos, imagens, linguagens que surgem e desaparecem com muita facilidade, revelando assim o caráter do processo de globalização. A técnica inserida no contexto social ao promover transformações físicas e sociais, implica também em mudanças nas maneiras de interagir socialmente. O ser social muda a forma de interagir entre os indivíduos (RIBEIRO,2005; EGLER, 2003). Nesta direção, uma nova forma de sociabilidade emerge no seio social, que não apaga as formas passadas, mas que se sobrepõe a elas, e que tem sua representação nos sujeitos que utilizam as novas tecnologias. Todavia, há também inúmeras formas, hoje, de interação social que são potencializadas com as novas tecnologias de informação e comunicação. Não se trata de um vislumbre com as novas ferramentas de comunicação, ou uma superestima pelas novas tecnologias, mas trata-se de reconhecer que há novas maneiras de interagir socialmente. O real está sendo modificado, ou melhor, potencializado com as novas tecnologias de informação e comunicação, e seus efeitos sociais já não são invisíveis. Há uma mudança nos códigos comportamentais que implica em novas maneiras de vivenciar o cotidiano nas cidades contemporâneas. O lugar não é vivido da mesma forma, o simbólico alteou-se profundamente em razão das técnicas. A linguagem toma novos contornos e dá novos contornos a estrutura social. O tecido social está embebido numa lógica técnica. Corpo e mente experienciam novas técnicas a cada momento, sendo a fugacidade, o efêmero, o transitório, a velocidade, o movimento as sensações mais comuns na contemporaneidade (BERMAN, 1986). Mumford (1992, p. 63) afirma que “el ritmo de trabajo se acelero, las magnitudes aumentaron, conceptualmente, la cultura moderna se lanzó al espacio y se entrego al movimiento”. Nesta direção, surgem espaços na cidade em que técnica e sociedade, espaço e tempo dão novas formas ao tecido social. E o encontro? O encontro ainda é possível na cidade. As novas tecnologias promoveram o surgimento de novas formas de encontrar-se na cidade que revelam que a natureza do tecido social, que mesmo frente a uma aceleração espaço-temporal, ainda dispõe de enredos com ações que não esfacelaram as relações entre as pessoas, mas que deram novos contornos. Dentre esse novos espaços de encontro criados no contexto do globalização acelerada situam-se as lan houses, e especificamente as lan houses da periferia. A lan house hoje tornou-se lugar de encontro entre os jovens, principalmente para aqueles que dispões de computador e acesso à internet em suas residências. Contudo, o públicos das lan houses difere com relação ao tipo de serviço oferecido, o que vai definir também se a lan house será ponto de encontro ou não. Ou seja, se houver jogos o público torna-se mais comum ser jovens, entre 12 e 25 anos. Além disso, o ambiente da lan house é mais conturbado, barulhento, não sendo aprazível aos que buscam somente acesso à internet e outros serviços. Figura 3 Interação social e compartilhamento na lan house Fonte: Costa. A.S.V. trabalho de campo realizado em fevereiro de 2012. Enquanto isso, caso a lan house não tenha jogos online, ai o público muda, mesmo mantendo uma faixa etária parecida com a das lan houses com jogos, há também a presença de indivíduos mais velhos. Pereira (2007, p. 332) afirma que “a lan ingressou num contexto de “controle territorial” demarcado pelos jovens.”. Mais que isto, a lan house é na contemporaneidade o lugar onde ocorrem encontros, ou seja, é na lan house que muitos jovens marcam para se encontrar. Borges (2009, p. 219) ao analisar a inserção da lan house na periferia de São Paulo diz que “encontramos um cenário oposto nas lan houses das periferias: são pontos de encontros, conversa, contato, relacionamento e sociabilidade de grupos jovens, principalmente entre 14 e 20 anos de idade”. Em Palmas (COSTA, 2011b), acontece o mesmo processo, conforme afirmam alguns proprietários deste tipo de estabelecimento: “Eu tinha outra lan house que tinha jogos, que eram máquinas de jogos, que o público era mais jovem e adolescentes. Hoje não, o público é mais de pessoas que vem rápido, que vem para fazer um serviço rápido. Pessoal que está trabalhando e estudando e que passam aqui rapidamente.” Z.C, 21 anos. “O meu ambiente não é muito visível. Meu público é mais jovem, mas as meninas (patricinhas) não frequentam aqui, pois exigem um ambiente mais adequado com ar condicionado, mais organizado.” L.A, 29 anos. “São moradores da quadra, que muitas vezes tem computador em casa, mas que vem para a lan house para encontrar amigos, para jogar em rede, para não jogar sozinho em casa.” W.S, 19 anos. Entre uma partida de jogo e outra surgem conversas sobre jogos que foram lançados recentemente, situações da vida cotidiana, uso do MSN, Orkut, Facebook, e outras páginas da internet. Entre um grito e outro2 a relação vai se desenrolando, e os sujeitos interagem mutuamente a partir do jogo online, que é jogado na lan house face ao isolamento promovido pelo computador residencial, que muitas vezes mesmo com acesso à internet não deixa os jogadores confortáveis para jogar, sendo necessária a troca de experiências pessoalmente. É interessante justamente o fato de que na lan house a individualidade promovida pelas cabines é rompida pela relação social. Ou seja, há troca de experiência, compartilhamento de computadores, diga-se de passagem, não apenas quando se trata de jogos, mas até de outras páginas da internet. Mesmo com todas as ideias vinculadas de que as novas tecnologia criam isolamento, na periferia, fez surgir uma nova forma de sociabilidade (COSTA, 2011a). A sociabilidade consiste nas formas de interação social que os sujeitos sociais utilizam para manter seus vínculos. Simmel (2006) define a sociabilidade como um exemplo de sociologia pura ou formal. Ao mesmo tempo, Frúgoli Júnior (2007) ao examinar Simmel, aponta que a sociabilidade consiste num modo de organização social, sendo “um tipo ideal entendido como “social puro”, forma lúdica arquetípica de toda a socialização humana” (FRÚGOLI JÚNIOR, 2007, p. 9). A sociabilidade expressa a forma de interação social, ela “cria, caso se queira, um mundo sociologicamente ideal: nela, a alegria do indivíduo está totalmente ligada à felicidade dos outros.” (SIMMEL, 2006, p. 69). Ou seja, o outro tem que existir para que a sociabilidade seja possível. Ao mesmo tempo, a sociabilidade aponta para os contextos de formação dessa interação social, porquanto, se há interação não se pode desvincular do meio físico, do território, pois são estes que possibilitam a efetivação dos encontros e da sociabilidade. Para tanto, a cidade neste sentido torna-se agente de interação social. Isto é, as cidades desde muito sempre exerceram a função de atrair sujeitos por ser um lugar onde o comércio era possível, onde o governo se materializava, onde os sujeitos sociais se encontravam para as mais diversas ações, mas hoje, em especial, a troca é de informações, que é o novo tipo de capital (BOURDIEU, 1999). Ora, a sociabilidade em era de redes e na rede e por meio da rede, não se põe como uma contraposição as formas tradicionais de sociabilidade. Ao contrário, se põe como uma nova perspectiva do social, da relação social, pois se um fato acontece constantemente em todos os lugares do mundo é sinal que a sociedade está em transformação e vale a pena refletir essa mudança, não sob o ponto de vista otimista nem pessimista exclusivamente, mas de modo holístico que busque contemplar a totalidade dos processos sociais. Segundo Lévy (1998. p. 40) “cada dispositivo de transporte e de comunicação modifica o espaço prático”. Neste contexto, o ciberespaço conduz a uma nova extensão espaço, e por assim dizer da atual 2 Entre os jogadores é comum a conversa na hora do jogo. Neste contexto, são proferidos xingametos, que expressam um descontentamento em algum momento do jogo. Além disso, expressões de alegria são possíveis de se visualizar. sociedade em rede, “onde os fluxos definem novas formas de relações sociais”. (SILVA E TANCMAN, 1999, p.56). Na lan house da periferia a interação social é muito mais notável, não somente entre os usuários, como também entre usuários e proprietário ou atendentes. Alguns dos usuários criam círculos de amizade a partir da lan house, outros tantos levam suas amizades de fora da lan house para dentro dela, ampliando seus vínculos sociais. A relação com o proprietário do estabelecimento, em geral, é de amizade, fazendo o proprietário, em alguns casos, arte do grupo de jovens que se encontram para jogar. Sobre as relações que ocorrem nas lan houses, sobretudo as de caráter não capitalista, Pereira (2007, p. 332) ao estudar a realidade da lan house em Porto Alegre, afirma que: A objetividade das relações mercadológicas “prestador – cliente” era pouco visível. Esse modo objetivo de tratar o cliente só funcionava com aqueles que usavam o computador funcionalmente, jovens desconhecidos ou pessoas mais velhas (acima de 25 anos) que precisavam ler e-mails, consultar algo na web, ou falar com alguém distante. Essas pessoas não passavam de transeuntes, e simplesmente “pipocavam” na lan, apareciam uma ou duas vezes (talvez, como eu, por conta do micro estragado em casa), e depois sumiam, sem deixar marca de sua presença. Entravam sem serem notados (se fosse uma bela mulher até notavam) e saíam assim também, não passavam de sombras que rendiam alguns tostões. A lan house como se percebe, ao contrário do que muitos imaginam, é um espaço de encontro para os jovens, para aqueles que se interessam pelos jogos, e até mesmo outras páginas on line como músicas, filmes, entre outros. É um lugar de encontro criado a partir da questão das novas técnicas, que não extingue outros lugares, mas que torna-se peculiar àquele grupo social. A lan house é sim um lugar de encontro, com características próprias para um determinado grupo social, tal como em tempos pretéritos os outros espaços de encontro expressavam o grupo social que dele se apropriava. Trata-se de um espaço para a sociabilidade dos “nativos digitais”, indivíduos com vasta intimidade no uso das novas tecnologias para as mais diversas atividades. Não se trata de um vislumbre sobre as novas tecnologias, mas temos que reconhecer o seu potencial, e mais ainda, questionar as formas de sociabilidade engendradas pelas técnicas no período que Santos (2008) denominou de meio técnico-científico-informacional, em que a informação é o motor deste novo período. E complementamos dizendo que neste período, os indivíduos interagem entre si usando as mesmas possibilidades disponíveis para outras atividades através da tecnologia avançada. Não obstante, para que exista a interação entre indivíduos são exigidos espaços para que ela ocorra, e na periferia atualmente, a lan house expressa essa qualidade. Lugar de acesso e lugar de encontro. Lugar de interação social. Lugar de sociabilidade. Considerações finais A globalização implica em transformações em vários domínios da sociedade. Para muitos trata-se de um processo de natureza econômica, mas no limite, a globalização engendra transformações econômicas, sociais, culturais, psicológicas e outros (SANTOS, 2008b; RIBEIRO, 2000; EGLER, 2003). São transformações que se verificam no cotidiano do tecido social e que tem na cidade e no urbano a sua maior expressão. São formas de agir, pensar e ser, que modificam o habitus social (BOURDIEU, 2006) e que revelam a natureza do processo de globalização para além de uma simples questão econômica. Neste processo engendrado pela globalização há também a mudança nas formas de relacionamento social. A postura frente ao outro, indispensável à relação social modificou-se substancialmente em função do processo de globalização que inseriu a tecnologia no contexto social, alterando o modo como nos comunicamos e interagimos. Comunicação e interação, elementos essenciais da dinâmica social, têm sido potencializados em função dos elementos técnicos cada vez mais comuns. Ao mesmo tempo o contato pessoal para muitos tem diminuído face a aparente velocidade e conforto promovidos pelas novas tecnologias. Para muitos trata-se de um lado negativo das novas tecnologias, todavia este processo levou, como apontado, ao surgimento de novas formas de interação social, e por sua vez, de novos lugares para a interação social. A lan house expressa hoje um estabelecimento comercial que ganhou novas características em função dos usos feitos dela. Ou seja, além da sua dimensão econômica enquanto estabelecimento comercial por natureza, a lan house tem também uma dimensão social, e é hoje um espaço de sociabilidade, de encontro, de interação social. Jovens e adolescentes da era digital constituem o principal grupo social que utiliza a lan house para fins além do simples uso da internet. São indivíduos que tem círculos de amizade criados tanto fora quanto dentro da lan house, o que revela as diversas faces da apropriação social e dos usos feitos deste tipo de estabelecimento. E na periferia das cidades brasileiras esta característica se exacerba. É na periferia, hoje, que a lan house tem maior expressividade. Outrora era um empreendimento localizado nas principais áreas da cidade, mas que com a popularização da internet banda larga, migrou para as áreas onde é menor o índice de usuários da internet residencial, a saber a periferia das cidades. Mais que isto, tal como a cidade dispõe de lugares de encontro, a lan house é hoje um lugar de encontro, tal qual a rua do bairro, a praça, o parque, sobretudo na periferia, onde as formas de lazer e interação social são reinventadas cotidianamente. Na cidade são inventados e reinventados cotidianamente vários lugares de encontro. Os grupos sociais criam e recriam lugares e formas de interagir socialmente, e mesmo quando não se tem estrutura pública para tal ação, estes são criados em lugares jamais imaginados, como no caso das lan houses na periferia das cidades brasileiras. Nesta direção, entender a lan house para além da sua dimensão comercial na periferia permite uma visão mais completa da dimensão social das novas tecnologias de informação e comunicação, que estão sendo apropriadas pelos mais diferentes grupos sociais e ganhando as particularidades de cada grupo. Determinismos a parte, é necessário atentar para este processo social e tecnológico que utiliza os novos produtos técnicos de modo a reinventar o mundo, a vida, a relação e a interação social. Referências bibliográficas BAUMAN, Z. Globalização: as consequências humanas. Zahar. Rio de Janeiro. 1999 BERMAN, M. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. Companhia das letras. São Paulo. 1986 BORGES, F.M. Sociabilidade nas lan houses das periferias. Ponto e vírgula. São Paulo. n.6. jul/dez. 2009. Disponível em: http://www.pucsp.br/ponto-evirgula/n6/indexn6.htm BOURDIEU, P. O poder simbólico. Bertrand Brasil. Rio de Janeiro. 2006 BRASIL. Pesquisa sobre o uso das tecnologias da informação e da comunicação no Brasil: TIC lan houses 2010. São Paulo. Comitê Gestor da Internet no Brasil. 2010 CASTELLS, M. A sociedade em rede. Paz e Terra. São Paulo. 1999 COSTA, A.S.V. Interação social na era das redes. Anais da XVII Semana PUR. IPPUR/UFRJ, Rio de Janeiro. 2011a COSTA, A.S.V. Novas tecnologias de informação no espaço urbano em Palmas. Qualificação de mestrado (mestrado em planejamento urbano e regional). UFRJ. Rio de Janeiro. 2011b EGLER, T.T.C. A imagem no espaço numérico. Cadernos IPPUR. v, 27, n 2. Rio de Janeiro. p. 123 – 137, ago/dez. 2003 EGLER, T.T.C. Refletindo a transição da sociedade industrial para a sociedade da comunicação. IN: RIBEIRO, Ana Clara Torres (org). El rostro urbano de América Latina. CLACSO. Buenos Aires. 2004 GIDDENS, A. As consequências da modernidade. Editora Unesp. São Paulo. 1991 LEMOS, A. Cibercultura, tecnologia e vida social na cultura contemporânea. 2.ed. Sulina. Porto Alegre. 2004 LÉVY, P. A revolução contemporânea em matéria de comunicação. Revista Famecos. n. 9. Porto Alegre. p. 37 – 49. Dezembro. 1998 MATEUS, C. Lan house e cibercafé. [S.I]. Verbo Jurídico. 2006. Disponível em http://www.verbojuridico.com/doutrina/tecnologia/lanhouse_cibercafe.pdf. MUMFORD, L. Técnica y civilización. Alianza Editorial. Madri. 1992 OLIVEIRA, F.M.A. Cidade Arte. Dissertação de mestrado (mestrado em arte e tecnologia). UNB. Brasília. 2003 PALFREY, J & GASSER, U. Nascidos na Era Digital: Entendendo a Primeira Geração de Nativos Digitais. Artmed. Porto Alegre. 2011 PEREIRA, V.A. Entre games e folgações: apontamentos de uma antropóloga na lan house. Revista Etnográfica. v. 11. n. 2. Lisboa. p. 327-352. Novembro. 2007 RIBEIRO, A.C.T. A natureza do poder: técnica e ação social. InterfaceComunicação, Saúde, Educação, v.4, n.7, p.13-24. 2000 RIBEIRO, A.C.T. Sociabilidade, hoje: leitura da experiência urbana. Caderno CRH. , v. 18. n. 45, Salvador, p. 411-422, Set/Dez. 2005 RIBEIRO, A.C.T. Presentificação, impulsos globais e espaço urbano: o novo economicismo. In. POGGIESE, H & EGLER, T.T.C. Outro desarrollo urbano: ciudad incluyente, justicia social y gestión democrática. CLACSO. Buenos Aires. 2009 SANTOS, M. A natureza do espaço. EDUSP. São Paulo. 2008a SANTOS, M. Técnica, Espaço, Tempo: Globalização e meio técnico-científicoinformacional. 5.ed. EDUSP. São Paulo. 2008b SILVA, V. C. P. “Girassóis de Pedra”: Imagens e Metáforas de uma cidade em busca do tempo. 2008. 239 páginas. Tese (Doutorado em Geografia Humana). FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA, Universidade Estadual Paulista. Presidente Prudente. 2008 SILVA, C.A.F; TANCMAN, M. A dimensão socioespacial do ciberespaço: uma nota. Revista Geographia: Rio de Janeiro. n. 2. p. 55 – 66. 1999 SIMMEL, G. Questões fundamentais da sociologia. Zahar Editor. Rio de Janeiro. 2006 SPÓSITO, E.S. Redes e cidades. Editora Unesp. São Paulo. 2008