8CIDADES A GAZETA SEGUNDA-FEIRA, 6 DE JULHO DE 2015 GUILHERME FERRARI O aposentado Carlos Nascimento não se preocupou com a idade e aproveitou o tempo livre para realizar e concluir, com orgulho, a faculdade de Direito aos 66 anos SEM IDADE PARA ENTRAR EM UM CURSO SUPERIOR Proporção de idosos nas faculdades cresceu 40% em dois anos RAFAEL JOSÉ Nada de ficar em casa reclamando da vida, assistindo televisão, jogando baralho ou relembrando os bons tempos que já se passaram. De olho no futuro, os aposentados Carlos Nascimento, 66, e Edna Albertino, 62, decidiram voltar à faculdade e concluí-la muitos anos depois de terem abandonado a sala de aula. “A gente tem que nascer aprendendo e morrer aprendendo. É só com conhecimento que a vida tem sentido”, aconselha o aposentado que se formou em Direito e, hoje, é exemplo para toda a família e amigos. Levantamento feito pelo Ministério da Educação (MEC) revelou que houve uma elevação de 40% na proporção de pessoas da terceira idade cursando o ensino superior nos últimos dois anos. Em 2012, havia cerca de 21 milhões de pessoas com 60 anos ou mais em todo o país.Aexpectativa,deacordo com o Instituto Brasilei- EXPECTATIVA 32 milhões É o número esperado de pessoas com 60 anos ou mais até 2025 rodeGeografiaeEstatística (IBGE), é de que esse número chegue a 32 milhões até 2025, colocando o Brasil em 6° lugar no mundo em número de idosos. A melhor idade tem cada vez mais interesse, tempo e disposição para engajar-se em cursos, explica o coordenador de relacionamento da Estácio Vila Velha, Vitor Delai. “Hoje, existe a perspectiva da educação ao longo da vida. Tempos atrás, isso não existia. Você nascia com a vida definida: a in- fância e a adolescência eram épocas de se aprender e a velhice, a de se aposentar”, destaca. SURPRESA Educado e simpático, Carlos contou que no primeiro dia de aula, lá em 2011, todos se surpreenderam ao ver ele colocar os pés na sala de aula. “Durante a apresentação do curso, pensaram que eu fosse dar aula. Mas quando sentei, abri meu caderno e prestei atenção nas discipli- nas, viram que eu eram aluno”, lembra. E como será que o senhor Carlos encarou a convivência com os mais novos? “Se para eles foi um impacto, para mim, então, ver um garoto de 17 anos sentado ao meu lado foi uma realidade totalmente diferente. Foi relembrar meus tempos de jovem – eles, com o ar de juventude, com os olhos brilhando para um novo mundo que se abre. E eu, com a experiência”, relembra o aposentado. GUILHERME FERRARI Perda do marido não a fez parar de estudar A aposentada Edna Albertino também aceitou o desafio de retornar à sala deaulanoaugedos60anos e não deu outra: está feliz com o resultado. “Sempre deixei os estudos de lado. Queria cuidar da casa e dos filhos. Tinha medo de deixá-los sozinhos. Agora, com todos criados, resolvi fazer uma faculdade e aprendi que nunca é tarde para estudar. Idade não define capacidade e garra. Se você quer vencer, sempre vai conseguir”, diz. A aposentada teve o apoio da família para cursar Turismo, principalmente do marido, com quem já trabalhava realizando excursões de viagens. “Trabalhávamos jun- tos. Eu ajudava na parte administrativa, na definição de roteiros e na prospecção de clientes. No entanto, meu companheiro faleceu no início do ano passado, faltando ainda doisperíodosparaconcluir o curso. A perda veio como um golpe”, desabafa. Dona Edna até pensou emdesistir,masteveoapoio dos colegas de turma e dos professores para continuar estudando. “Minha mente teve um bloqueio naquele período, não conseguia mais aprender. Mas, graças a Deus, saí daquela zona de depressão e consegui me formar. Se eu soubesse que estudar era bom, teria ingressado quando ainda era mais nova”, brinca. Edna Albertino, 62 anos, se formou em Turismo