Última Página Madeira: Vamos pagar para que nos visitem? M andam as boas regras de gestão, tal como o simples bom-senso, que a política de desenvolvimento de novas rotas, tal como a promoção turística, tem de ser coerente com a orientação estratégica do nosso destino. Só assim se garante sustentabilidade. Há pois que definir claramente qual a nossa Visão para o destino, qual o posicionamento, público alvo, e que plano estratégico, em conformidade, necessitamos implementar. Defina-se, depois, uma política de transporte aéreo que lhes seja também coerente e consistente, e que atenda a alguns factos que o conhecimento e a prática nos têm revelado: a) As companhias aéreas, sejam de rede ou de baixo custo, movem-se por lógicas de negócio e por isso só operam rotas rentáveis. Promovem “Rotas Aéreas” e não “Destinos Turísticos”. b) Só com elevados investimentos em promoção é que se consegue notoriedade nos mercados emissores e, consequentemente, mais procura. E esta procura deve ser potenciada através de publicidade directa ao consumidor final – turista - valorizando por esta via a marca do destino. c) A RAM tem recursos financeiros limitados, pelo que se impõe focalize e concentre as verbas nos mercados emissores estratégicos. Na realidade, não é a EasyJet ou qualquer outra companhia, seja “Low Cost” ou “Tradicional” que irá resolver os problemas da Madeira. Se existir procura há aviões, há companhias interessadas em investir, ao invés de cobrar! Tudo o mais é fantasia. Naturalmente, o ideal é trabalhar a procura e o fomento das novas rotas em conjunto, mas é à procura que se deve atribuir prioridade. A diferença entre a capacidade hoteleira e o número de lugares de aviões não é a razão dos nossos males, mas sim um sinto50 João Welsh Delegado da APAVT na Madeira ma da doença. Se considerarmos que o problema é só a falta de aviões e todas as atenções forem para aí viradas (pensamento dominante), corremos o risco de não atrairmos o público alvo correcto, de as novas rotas não ganharem consistência por falta de procura sustentável e os resultados serem receitas baixas, como tem acontecido. Por outro lado, esta linha de pensamento afasta-nos dos reais problemas do destino Madeira que, têm a ver, isso sim, com a falta de um plano estratégico e com a falta de aposta na qualificação do destino. Vejamos: com o apoio dado à EasyJet, 50% das verbas do fundo foram entregues a uma única companhia para operar dois aeroportos do Reino Unido, sendo que um deles é Londres, que já é operado por duas companhias aéreas com voos diários. Não foi aprovado nenhuma campanha promocional ao consumidor final desses mercados numa lógica Co-Branding (pro- moção conjunta das marcas Madeira + Companhia Aérea dirigida ao cliente final turista) definida pela Madeira de acordo com os seus objectivos de crescimento da receita acima do crescimento de entrada de turistas. Ao contrário, vamos ter uma campanha definida pela transportadora, orientada para a promoção da rota Low Cost utilizando a imagem de um garrafão de vinho. Ou seja, caso amanhã esta companhia decida abandonar a rota – como já aconteceu com a Ryanair no Porto e Faro, o que fica da notoriedade do destino Madeira junto dos consumidores desse mercado, é nulo. O apoio, ao contrário do que alguns alegam, intencionalmente ou por desconhecimento, é por passageiro transportado, o que é um mau princípio. Por outro lado, onde está justiça às outras companhias que operavam a mesma rota? E se amanhã a Easy Jet canibalizar o negócio da BA e da TAP, ficar só nesta linha, e exigir mais dinheiro por passageiro para manter a operação, o que vamos dizer? Já aconteceu noutros destinos de pequena dimensão, como é o caso de Génova. Esta lógica de pagar por passageiro transportado significa, acima de tudo, que não se acredita nas valências do produto Madeira. É errado, pois há que ter noção que os Canais de distribuição, sejam eles operadores ou companhias aéreas, não são passíveis de controlo. Têm interesses, objectivos e vida própria. A única variável que controlamos é, efectivamente, o nosso Produto Turístico. Com esta política de subsídio ao passageiro estamos a abrir a “caixa de pandora”. Hoje são apoios para 20.000 passageiros da EasyJet, amanhã são 100.000 e no futuro podemos estar condicionados a subsidiar todos os passageiros transportados ou seja mais de dois milhões. Dirão, que visão improvável? Responderei, já iniciamos o caminho nesse sentido. REVISTA APAVT • MARÇO/ABRIL 2008 REVISTA APAVT • MARÇO/ABRIL 2008 51 52 REVISTA APAVT • MARÇO/ABRIL 2008