COMÉRCIO EXTERIOR: QUAIS AS BARREIRAS E DIFICULDADES PARA EXPORTAÇÃO DE CACHAÇA ARTESANAL EM MINAS GERAIS? Fabiana Alves Bahia¹ Lorena Gontijo Silva¹ Rafael Minami Suzuki² RESUMO O comércio exterior existe desde as civilizações mais antigas, quando se iniciaram as práticas de trocas de mercadorias entre países, devido às suas diferenças. Com o passar dos anos e a globalização, essas trocas se intensificaram seja pra conseguir vantagens competitivas ou para sobrevivência no mercado. A cachaça, originada no Brasil no período da colonização, é muito apreciada no país e vem ganhando espaço no exterior. Contudo os produtores da bebida vêm enfrentando grandes dificuldades para adentrar no mercado externo. Este trabalho tem como objetivo mostrar a importância do conhecimento sobre processos de exportação e da inserção das organizações no mercado externo e a realidade dos produtores de cachaça artesanal de Minas Gerais neste cenário. A metodologia utilizada foi através da realização de entrevistas semiestruturadas indutiva com produtores mineiros de cachaça artesanal, por meio de técnica de observação direta intensiva. PALAVRAS-CHAVE: Comércio Exterior, Exportação, Cachaça. 1 INTRODUÇÃO O homem, desde a antiguidade, precisa obter bens. Entretanto, ele não é capaz de produzir todos os bens que necessita. Assim surgiu a divisão do trabalho, onde cada indivíduo produz um tipo de objeto e realiza trocas por outros objetos. Essas trocas são chamadas de comércio. O comércio que atinge níveis mundiais é o denominado internacional e sendo uma de suas interações a exportação. Segundo Blank e Palmeira (2006), o comércio internacional sofreu um crescimento acelerado com o processo de globalização. Como resultado as __________________________ ¹ Aluna do 8º período do curso de Administração – FACED. E-mail: [email protected] ¹ Aluna do 8º período do curso de Administração – FACED. E-mail: [email protected] ² Professor da Faculdade Divinópolis – FACED. E-mail: [email protected] fronteiras geográficas passaram a não causar mais obstáculos para a comercialização. Em um mundo com novas tecnologias e rotas compradores e vendedores ficaram próximos. A cachaça, um produto tradicionalmente brasileiro, é produzido em praticamente todo o território nacional. Porém, de toda essa produção, apenas 1% chega ao mercado exterior. Em Minas Gerais é produzida a cachaça artesanal, que é uma cachaça de maior qualidade e muito valorizada pelos consumidores. Este trabalho busca responder ao questionamento: Quais barreiras e dificuldades para exportação de cachaça artesanal em Minas Gerais? O artigo tem como objetivo geral investigar quais as dificuldades que os produtores de Minas Gerais encontram para a exportação de cachaça e como objetivos específicos analisar as barreiras protecionistas enfrentadas, descrever sobre o processo de exportação, analisar as dificuldades de adequação por parte das empresas e descrever o mercado de cachaça no Brasil e no mundo. Segundo Sakai, conforme o PBDAC (Programa Brasileiro de Desenvolvimento da Aguardente de Cana, Caninha e Cachaça) a produção anual brasileira de cachaça tem representado aproximadamente 1,3 bilhão de litros. Esta produção gera um faturamento de mais de U$ 600 milhões, empregando mais de 400 mil pessoas diretamente e arrecadando aproximadamente R$ 76,5 milhões em impostos por ano. No entanto, o mercado de cachaça apresentou uma desaceleração do seu crescimento devido à queda do consumo no mercado interno. É preciso ademais tomar conhecimento das barreiras e saber como lidar com elas para que se alcancem níveis maiores de exportação de cachaça no Brasil, a fim de gerar maior crescimento no mercado de cachaça, aquecimento da economia e mais empregos. A cachaça também desperta a atenção dos pesquisadores, que têm interesse conhecer mais a fundo o produto, que é originalmente e tradicionalmente brasileiro, representando a cultura do Brasil pelo mundo. Existem estudos relacionados à exportação de destilados, porém os estudos que abordam o tema específico da exportação de cachaça são escassos, o que sugere uma oportunidade para a realização do estudo. 2 A CACHAÇA A cachaça é uma bebida alcóolica original e tipicamente brasileira e é produzida da cana-de-açúcar. Segundo Santana, a cana-de-açúcar é uma planta pertencente à família das gramíneas –Saccharumoffinarum- originária da Ásia. A cachaça artesanal, produzida em alambique, está sendo muito valorizada no mundo inteiro, sendo reconhecida como bebida de qualidade. Minas Gerais se tornou referência mundial na produção de cachaça artesanal, de acordo com Neves (2004). Conforme o decreto 73.267, de 06/12/73, estabelecido pelo Presidente da República, Portaria 371 do Ministério da Agricultura, publicada no D.O.U. de 19/09/74, o teor alcoólico da cachaça de cana-de-açúcar deve variar entre 38 e 54% vol. Julga-se que existam mais de 5 mil marcas de cachaça e cerca de 30 mil produtores no Brasil, gerando cerca de 400 mil empregos diretos e indiretos. (NEVES, 2004). 2.1 A história da cachaça A origem da cachaça se inicia por volta da época da colonização brasileira e surgiu nos engenhos de açúcar. No início, era apenas um caldo azedo que embebedava os escravos. Os senhores de engenho perceberam o efeito que o tal caldo causava e passaram a fornecer esse produto no desjejum dos escravos. Logo a bebida foi aperfeiçoada e passou a ser consumida por senhores e outras pessoas de posses, vindo a tomar mercado da bagaceira de origem portuguesa, fato que resultou na emissão de legislação restritiva à montagem de engenhos por volta do século XVIII (CASCUDO, 2006). Até a década de 60 a bebida sofria uma espécie de discriminação por parte da alta sociedade, embora com larga aceitação histórica entre as categorias C e D, conforme declaraçãodos profissionais e empresários do setor. A partir dos anos 70, a cachaça começou a ser utilizada para fazer batida, o que contribuiu para a sofisticação da bebida passando a ser oferecida de outra forma, acompanhada de frutas tropicais, principalmente as da região Nordeste. Com este acontecimento o setor passou a investir mais na produção, venda e em sofisticação, com linhas premium de cachaças envelhecidas em barris de carvalho e outras madeiras nobres. 2.2 Processo de fabricação da cachaça Segundo os estudos de OLIVEIRA (2010), o processo de fabricação da cachaça pode ser feito de forma industrializada ou artesanal. O processo de produção industrial possui maior capacidade de produção, fazendo com que a cachaça industrializada seja vendida por menos. O processo artesanal ou de alambique requer mais tempo e cuidado, a capacidade de produção cai mas a qualidade do produto é maior, podendo ser vendida por valores mais altos. O processo de fabricação da cachaça artesanal ocorre da seguinte forma: Cana-de-açúcar: É a matéria-prima mais comum para produção de cachaça, por conter muito açúcar e a fermentação do caldo ocorrer com facilidade. Moagem: Depois de cortada, a cana madura, fresca e limpa deve passar pela moagem em até 36 horas. Neste processo é separado o caldo do bagaço, este último é usado para aquecer as fornalhas do alambique. Filtração: Nesta etapa o caldo passa por um processo de filtração, pois apresenta grande quantidade de impurezas. É realizada por meio de filtros e um pequeno tanque de decantação. Fermentação: Há variação no teor de açúcar entre cada tipo de cana, portanto é necessário padronizar o caldo para depois adicionar as substâncias nutritivas que mantêm o fermento ativo. A mistura fica por cerca de 24 horas nas dornas. Destilação: O material fermentado passa a ser denominado vinho e está pronto para ser destilado, originando a cachaça. Envelhecimento: É a etapa final do processo de fabricação da cachaça. Este processo aprimora a qualidade de sabor e aroma da bebida. É recomendável que a estocagem seja feita em barris de madeira, onde ainda acontecem reações químicas. 2.3 Produção de cachaça no Brasil A cachaça é produzida em todos os Estados brasileiros, mesmo onde o cultivo da cana-de-açúcar não é favorável.No Brasil são produzidos cerca de 1,3 bilhões de litros de cachaça por ano compreendendo cerca de 30 mil produtores. Desse total, 70% da produção é representada pela cachaça industrial e 30% pela cachaça de alambique ou artesanal (SEBRAE, 2008). Os maiores produtores de cachaça são: São Paulo (45%), Pernambuco (12%), Ceará (11%), Rio de Janeiro (8%), Minas Gerais (8%), Goiás (8%), Paraná (4%), Paraíba (2%) e Bahia (2%), sendo os três primeiros responsáveis por quase toda produção de cachaça industrial. A produção de cachaça artesanal ou de alambique está em maior parte nos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e São Paulo, sendo que os estados mineiro e fluminense contribuem com quase 50% de toda a produção de cachaça de alambique do Brasil. 2.3.1 Produção de cachaça em Minas Gerais O estado de Minas Gerais é responsável pela produção de 180 milhões de litros por ano/safra de cachaça. De acordo com estimativas do Sebrae (2008), em Minas Gerais estão instalados cerca de 8.500 alambiques, mas muitos atuam na clandestinidade, o que pode comprometer a qualidade da cachaça.Esse índice é consequência da alta tributação sobre a cachaça artesanal, sendo o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) o que mais prejudica sua competitividade. A cachaça artesanal já conquistou os consumidores tanto por questão de sabor, quanto de qualidade. Mas vem perdendo para a cachaça industrial por preço. Segundo Valverde (2013), a cachaça artesanal tem custos mais elevados no processo de produção que a cachaça industrial e seu IPI gira em torno de R$ 2,80 por garrafa de 700ml, enquanto sobre a cachaça industrial gira em torno de R$ 0,70 o litro. Na cidade de Salinas, em Minas Gerais, encontra-se a maior quantidade de produtores de cachaça de alambique do estado e do Brasil. A aguardente é produzida e comercializada no município desde o início do século XX. Cerca de 33% de sua atividade econômica é fruto da produção de cachaça. Também é o único lugar do Brasil que oferece curso de nível superior relacionado à cachaça. (JENKEL, 2011) 3 EXPORTAÇÃO O homem, para satisfazer as suas necessidades, precisa obter bens. Entretanto, ele não é capaz de produzir todos os bens que necessita. Deste modo surgiu a divisão do trabalho, onde cada indivíduo produz um tipo de objeto e realiza trocas do que é produzido por outros objetos que necessita. Estas trocas são chamadas de comércio e se iniciaram em épocas préhistóricas (MAIA, 2000). Com a evolução do relacionamento humano estas trocas, atualmente, alcançam níveis mundiais. Essas trocas de bens e serviços entre países são chamadas de comércio internacional (exportação e importação). A desigual distribuição de minerais; diferenças de solos e climas, que diversifica a produção agrícola; e as diferenças dos estágios de desenvolvimento econômico são fatores que tornaram o Comércio Internacional uma necessidade. O Comércio Internacional também contribui para a criação de riquezas de um país, de acordo com o saldo da balança de comércios. O comércio exterior controla a Balança Comercial de um país através da diferença entre exportações e importações de mercadorias e serviços, desta forma se espelha a criação de riquezas positiva ou negativa de um país. (IUSIFDAINEZ; MORINI; SIMÕES, 2010) Desta forma, os países estão sempre em busca de participação no comércio exterior para ampliarem seus fluxos de riqueza. O resultado esperado sempre será o superávit comercial, ou seja, o saldo positivo da balança comercial. Quando o resultado obtido for o déficit comercial significa dizer que o país importou mais do que exportou, gastando mais com o resto do mundo do que recebeu dele. 3.1 – Por que exportar? Segundo Resende e Garcia (1978), as empresas devem ter um objetivo ao iniciarem a exportação e não recorrê-la sem planejamento, como tábua de salvação para os negócios. Para isso, elas devem definir primeiramente sua política de exportação como se entende a seguir: Por que exportar? O que exportar? Como exportar? Para onde exportar? Para quem exportar? As exportações são classificadas em exportações diretas e indiretas. Quando o produto exportado é faturado diretamente pelo produtor e o mesmo faz a exportação, se caracteriza como exportação direta. Quando a empresa precisa de terceiros para realizar a exportação, se caracteriza a exportação indireta. Existem vários motivos para uma empresa exportar, mas todos possuem um objetivo comum que é sobreviver e crescer. Segundo Dabbah (1998, p. 1): A exportação é uma escolha estratégica para empresas brasileiras, uma vez que são constantemente atingidas por vários planos econômicos, e uma empresa que exporta será afetada de uma forma diferente em relação à empresa que apenas comercializa no mercado interno. A globalização rompeu fronteiras com a desregulamentação de mercados, propiciou a criação de parcerias entre empresas. A globalização permite que as empresas alcancem distâncias maiores e realizem trocas com mercados de todo o mundo para atingir seus objetivos.Além da globalização, outro motivo forte para a exportação é o aprimoramento da qualidade, uma vez que o mercado externo exige mais qualidade que o mercado interno, forçando a empresa a melhorar seus bens e/ou serviços, aumentando sua competitividade. Ainda segundo Dabbah (1998), as dificuldades de vendas no mercado interno é outro motivo para exportar, apesar de não ser o melhor. Contudo, permite que as empresas introduzam produtos no mercado exterior em caso de desaquecimento no mercado interno. Este problema é bastante enfrentado pelas empresas brasileiras. A imagem da empresa no mercado é sua identidade. A implantação de marca internacional é outro motivo para exportar, pois a fortalece. A exportação também permite a extensão do ciclo de vida do produto. Exportando para países menos desenvolvidos seu ciclo de vida é prolongado, já que no país de origem o produto se encontra obsoleto. A sazonalidade também é um fator muito importante, pois permite que o produto seja vendido em outros mercados que estão na inversão da estação. O mercado brasileiro está muito aberto a produtos estrangeiros. Exportar é uma forma de dar um equilíbrio. Além de outras vantagens, a empresa que exporta passa a ter mais prestígio em diversas instituições como bancos, fornecedores e entre os próprios consumidores. Existem produtos que possuem mais valor no mercado externo, portanto exportar possibilita que a empresa utilize preços mais rentáveis. 3.2 A exportação de cachaça Em 2001, o Brasil exportou US$ 8,7 milhões de cachaça, enquanto o mercado mundial absorveu US$ 10,9 bilhões em bebidas destiladas (NEVES, 2004). O PBDAC foi criado em 1997 pela Abrabe (Associação Brasileira de Bebidas) para apoiar as exportações do setor, dar capacitação técnica ao produtor de cachaça e valorizar sua imagem como um produto originalmente nacional. A cachaça é a bebida destilada mais consumida no Brasil e a terceira no ranking mundial, conforme mostra a Figura 1. milhões de litros Ranking mundial do consumo de destilados 1800 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 Figura 1: Ranking mundial do consumo de destilados Fonte: PBDAC A maioria das exportações foram feitas para a Europa, em destaque para a Alemanha, maior mercado da bebida no exterior, conforme a Figura 2: Figura 2. Principais países importadores de cachaça. Fonte: Rodrigues et al. (2006). A chegada de turistas europeus ao litoral brasileiro deu início à propagação da cachaça no mercado internacional, principalmente em países como a Alemanha. A bebida pode ser encontrada em restaurantes e bares dos mais sofisticados, normalmente sendo consumida em coquetéis de frutas. (RODRIGUES, 2006). Como a cachaça é servida predominantemente através da caipirinha, a maior parte do consumo concentra-se na cachaça clara, a industrial, o que implica no crescimento da demanda do produto. A cachaça mais escura, a artesanal, também é importada, mas representa apenas cerca de 10% do mercado. Portanto, a cachaça artesanal ainda é pouco conhecida no mercado externo pelo fato de raramente servir o destilado puro (OLDONI, 2013). A cachaça industrial é comercializada no Brasil por um preço muito inferior ao da cachaça artesanal, contudo é consumida em larga escala tanto no mercado interno, quanto no mercado externo. A produção artesanal é muito valorizada pelos consumidores. Em lojas especializadas ela é vendida a preços muito elevados, de acordo com sua marca, ultrapassando, em alguns casos, o valor de R$200,00 a garrafa. Os certificados de qualidade e os socioambientais também agregam valor ao produto. Segundo, a primeira cachaça a conseguir certificado de indicação geográfica como denominação de origem foi a cachaça produzida em Paraty – RJ. (SAKAI) De acordo com o PBDAC, a qualidade da cachaça brasileira vem melhorando muito, motivo pelo qual acredita-se aumentar as exportações da bebida, chegando a 100 milhões de litros em dez anos. As feiras de exposição de cachaça são uma oportunidade para pequenos produtores encontrarem os grandes distribuidores nacionais e internacionais. Estiveram na última edição da feira Brasil Cachaça, que acontece em São Paulo, importadores da Argentina, Estados Unidos, África do Sul, Portugal e Rússia (NEVES, 2004). A produção de cachaça artesanal tem um grande potencial e é projetado um aumento efetivo das exportações. Conforme Rodrigues (2006), Albernaz, da feira Brasil Cachaça, declarou que o grande problema dos produtores artesanais de cachaça é a distribuição, o gargalo do setor. As empresas maiores monopolizam a distribuição e só agora os pequenos produtores começam a se organizar em associações estaduais e cooperativas para melhorar os resultados. 3.2.1 Algumas exigências importadoras do mercado alemão Segundo Oldoni (2013), no caso da exportação da cachaça já engarrafada exige-se que as garrafas contenham 0,7 ou 1,0 litro, sejam rotuladas e estejam empacotadas em caixas de papelão, com 6 ou 12 garrafas cada. Devem ser exportadas em tanque ou em contêiners. As garrafas devem ter o pescoço longo, para manuseio mais seguro de “barmens” e suas tampas não devem conter partes metálicas, afim de evitar ferimentos. Quanto aos rótulos o importador desenvolve um projeto a ser analisado pelo exportador. Devem respeitar certo tamanho das letras, conter descrição dos ingredientes e teor alcoólico e já deve conter o código de barras. Também deve conter o selo chamado “GrünerPunkt” (traduzido como “Ponto Verde”). Este selo comprova a participação do produtor no “Sistema Dual” da Alemanha, este é obrigado a participar desse sistema. O sistema cobra uma taxa que depende do peso e do material da embalagem usada. Em troca, responsabiliza-se pela coleta e reciclagem destas embalagens. (OLDONI, 2013) 4 METODOLOGIA A obtenção dos dados do estudo foi feita por meio de técnica de observação direta intensiva, através de entrevista semi-estruturadaindutiva com quatro produtores de cachaça do interior de Minas Gerais. O contato destes foi obtido através de um docente do curso de Administração da Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis de Divinópolis. O método foi escolhido por ter uma estrutura sistemática, roteiros interligados; por possuir estilo de diálogo, o que deixa a entrevista mais descontraídacomo um bate-papo facilitando a coleta de dados; e por ser situacional, atendendo um certo contexto. 5 ANÁLISE DE DADOS Através de entrevistas semi-estruturadas, em anexo, foram extraídos dados da realidade de quatro produtores de cachaça artesanal em Minas Gerais. Quadro 1: Comparativo de respostas entre produtores de cachaça. PRODUTORES Cachaça Portal do Engenho – Membro da Cooperativa Diretor da Cooperativa Cachaça Morro Vermelho Cachaça Germana Quanto tempo atua no setor Desde 2000. Desde 2004. Desde 2001. Desde 1984. Motivo de escolha do negócio O pai consumia cachaças ruins e resolveu aprender a fazer cachaça de qualidade. Tradição familiar. O avô produzia cachaça. Tradição familiar. O pai tinha um alambique em Goiás. Tradição familiar paterna e visão empreendedora. Público que mais consome a cachaça Hoje em dia todos os públicos consomem a cachaça. O que varia é a qualidade. A modernização do processo permitiu o consumo da cachaça por todos os públicos. Classes C e D. É consumida por todas as classes, inclusive jovens e mulheres. Exporta ou pensa em exportar os produtos e para onde é exportado Não exporta. Há negociações. Busca apoio do Sebrae e aguarda aprovação da Receita Federal. Não exporta. Há negociações, aguardando aprovação da Receita Federal. Exporta pequenas quantidades para Holanda, Bélgica e Alemanha. Exporta desde 1999 para o Reino Unido, Itália, Dinamarca, França, Suíça, Austrália, África do Sul e Canadá. Existem negociações com Estados Unidos e Alemanha. Faz planejamento para exportação É feito um planejamento com apoio do Sebrae. É feito um planejamento com apoio do Sebrae. Sim. As exportações são planejadas com 1 ano de antecedência em relação a insumos, produtos e logística. As maiores dificuldades do mercado externo Encontrar um comprador com seriedade e partes burocráticas. No mercado externo nada que dificulte muito. A cachaça não é muito conhecida fora do Brasil. A cachaça é pouco conhecida fora do Brasil e questão de preços, devido ao câmbio. Barreiras tarifárias Não causam empecilhos, pois alguns impostos são ausentes. São ausentes de tarifas. O governo permite isenção de alguns impostos para exportar a cachaça. Impostos sobre bebidas alcoólicas são altos em todo o mundo. Porém o governo beneficia os exportadores de cachaça, os isentando de alguns impostos. Cachaça Portal do Engenho – Membro da Cooperativa Diretor da Cooperativa Cachaça Morro Vermelho Cachaça Germana Barreiras nãotarifárias As questões burocráticas causam muitos empecilhos Causam empecilhos. Para exportar são feitos uma série de exigências por parte do governo. Não há problemas. Há muitas exigências por parte dos países importadores. Tem que conhecê-las para que não causem empecilhos. Modelo de distribuição Tentam exportar através de empresas terceirizadas. Acreditase que seja mais fácil por terem experiência. Tentam exportar através de empresas terceirizadas. Acredita-se que seja mais fácil por terem experiência. A cachaça é vendida para distribuidores, os quais fazem a exportação. Tem obtido sucesso até o momento. A exportação é feita de forma direta. Após muitas tentativas e erros, adquiriram experiência e tem obtido sucesso. Estes dados retratam que a cachaça é um produto tradicional no Brasil e, atualmente, está sendo muito valorizada e consumida por todas as classes sociais, gêneros e até por jovens. Ela vem conquistando, aos poucos, o mercado externo. Muitos produtores que ainda não conseguiram exportar a cachaça tem este objetivo. As exportações, para que se obtenha sucesso, devem ser bem planejadas, pois quando se trata de negociação com outros países que têm costumes, exigências e legislações diferentes, possuem grandes chances de falhas.Deve-se escolher o modelo de distribuição que melhor atende ao produtor. A forma indireta é mais indicada àqueles que não possuem muita experiência em exportação. Uma das dificuldades ao exportar a cachaça é que a mesma é pouco conhecida no mercado externo, por ser muito servida como caipirinha. Encontrar, em país desconhecido, um comprador confiável também é uma dificuldade e um receio dos produtores. A infraestrutura portuária é precária, o que dificulta um pouco o processo. Por parte do país exportador muitos dos tributos sobre a exportação de cachaça são isentos, como forma de incentivo do governo. Os produtores devem ter maior preocupação com os tributos cobrados pelos países importadores, entretanto estes não têm intenção de prejudicar a entrada do produto, pois se referem à produtos para consumo humano e requerem certo cuidado. Os produtores devem estar devidamente registrados nos órgãos exigidos. É um processo um tanto quanto burocrático. É necessário se informar sobre as exigências dos países de destino em relação ao produto e ao produtor para adentrar no mercado externo. 6 CONCLUSÃO Pôde-se concluir que as tarifas de exportação, taxas de valoração aduaneira entre outras são consideradas baixas, pelo fato do governo incentivar a exportação da cachaça isentando os exportadores de alguns impostos. As taxas cobradas pelos países importadores não têm o objetivo de dificultar a entrada do produto no país, não causando muitos empecilhos. As barreiras não-tarifárias, como embalagens, teor alcoólico, rótulo, entre outros, não causam muitos empecilhos desde que tome conhecimento das regras de cada país importador.No Brasil existe um processo burocrático para se iniciarem as práticas de exportação. O estabelecimento e o produto devem estar devidamente registrados no MAPA, registro na Receita Federal e a empresa deve possuir CNPJ. Caso a empresa não esteja regular de acordo com os requisitos acima, estas podem impedir ou dificultar as práticas de exportação. A escolha do modelo de distribuição mais adequado é fundamental para o sucesso da exportação. Até a empresa adquirir conhecimento e experiência ela pode ter fracassos. Os produtos podem não conseguir sair do país, ou correm o risco de sair, mas não descerem do navio, impedindo que o cliente não receba a mercadoria ou até que não pague por ela. As empresas que não realizam um planejamento do processo de exportação, além de encontrarem dificuldades para se manter no mercado externo, correm o risco de não conseguirem entrar nele. É necessário ter ideia dos custos com produção, embalagem, certificação, transporte e logística, tarifas e exigências dos países destino, câmbio, etc. 7REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BLANK, Marcos Cezar; PALMEIRA, Eduardo Mauch. Internacionalização de Micro e Pequenas Empresas - uma visão crítica quanto a eficiência dos incentivos do governo. 2006. Disponível em: <http://eumed.net/cursecon/ecolat/br/06/mcb.pdf>. Acesso em: 26 maio 2014. CASCUDO, Luís da Câmara. Prelúdio da cachaça. 1. ed. Global, 2006. DABBAH, Steven. A solução para a sua empresa : exportação. São Paulo. 1998. JENKEL, Patrícia. O Museu da Cachaça de Salinas – Minas Gerais. 2011. Disponível em <http://www.mapadacachaca.com.br/artigos/o-museu-da- cachaca-de-salinas/>. Acesso em: 05 maio 2014. 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This work has as objective to show the importance of the knowledge on exportation processes and of the insertion of the organizations in the external market and the reality of the producers of craftmade cachaça in Minas Gerais. The used methodology was through the accomplishment of interviews semistructuralized inductive with local producers of craftmade cachaça, by means of technique of intensive direct comment. KEYWORDS: International Business. Exportation. Cachaça. ANEXO I ENTREVISTAS Entrevista com José Francisco – Cachaça Portal do Engenho 1) Há quanto tempo atua no setor? Atuo no setor desde 2000, antes mesmo da cooperativa. Fiz uns cursos para produzir cachaça e através destes cursos que surgiu a ideia da cooperativa, que foi criada por volta de 2001 ou 2002. 2) Porque escolheu esse tipo de negócio? Meu pai sempre gostou de cachaça, mas bebia cachaça muito ruim que dava mal-estar e ressaca. Então me interessei por cachaça e procurei um meio de produzir uma cachaça boa. 3) A cachaça é de produção industrial ou artesanal? A cachaça que produzo é artesanal, feita em alambique. Ela é mais gostosa e mais pura. 4) Que tipo de público mais consome este tipo de produto? Hoje em dia não tem publico diferenciado, nem classe social... Todo mundo consome a cachaça, o que varia é a qualidade, o tipo da cachaça. Inclusive as mulheres consomem muito também. 5) Quais regiões consomem mais seus produtos? Eu vendo pouca cachaça por não possuir o selo ainda. Eu tenho meus fregueses que vão até meu alambique e comprar minha cachaça. Eles são aqui da região mesmo. 6) Você exporta ou pretende exportar seus produtos? Exportação é um pouco complicado, primeiramente por causa do volume de produção que deve ser grande. E para entrar no comércio de exportação tem muitos requisitos. Agora contamos com a ajuda do Sebrae para efetuar uma exportação para a China, mas é um processo que exige muita seriedade. 7) Se sim, é feito um planejamento para as atividades de exportação? O Sebrae está nos apoiando nessa questão. 8) E para quais países exporta? Já negociamos com Estados Unidos e Alemanha, mas não pôde ser efetuado por impedimentos da Receita Federal. 9) Quais as maiores dificuldades encontradas no mercado externo? As maiores dificuldades são achar o comprador certo e a parte burocrática. 10) As barreiras tarifárias causam muito empecilhos para a exportação? As tarifas para exportação não são muito pesadas. 11) E as barreiras não-tarifárias? As questões burocráticas, legislação causam muitos empecilhos. Por isso não exportamos ainda. 12) Como é o modelo de distribuição? É eficaz? Vamos exportar a granel, a qual os compradores buscarão a mercadoria aqui. E exportaremos engarrafadas através de empresas especializadas em exportação, por terem mais experiência e devido à idoneidade. 13) Teve ou tem alguma dificuldade para o reconhecimento da marca no mercado nacional e/ou internacional? Não tenho dificuldade. Quem prova minha cachaça se torna fiel à marca. Mas para ser reconhecida basta a cachaça ser de qualidade e investir no marketing. Entrevista com Camilo 1) Há quanto tempo atua no setor? Atuo no setor há 10 anos em uma cooperativa. 2) Porque escolheu esse tipo de negócio? A decisão de escolha do tipo de negocio foi de tradição, pois meu avô, de Carmo da Mata, tinha uma pequena usina de produção de açúcar e ele aproveitava o melado e fazia cachaça e dei continuidade ao negócio com a produção de cachaça. 3) A cachaça é de produção industrial ou artesanal? A cachaça é artesanal, produzida em alambique em escala menor e de boa qualidade. 4) Que tipo de público mais consome este tipo de produto? Com a modernização dos alambiques e a higienização no processo de produção da cachaça, esta está sendo consumida por todas as classes sociais. 5) Quais regiões consomem mais seus produtos? A cachaça é consumida em todo o Brasil. Não existe uma região com maior predominância no consumo. 6) Você exporta ou pretende exportar seus produtos? Ainda não exportamos. Tem uma exportação pra China em andamento, dependendo apenas dos parâmetros exigidos pelo país importador, como a analise laboratorial. 7) Se sim, é feito um planejamento para as atividades de exportação? É feito um planejamento com apoio de uma empresa especializada em exportação, através do Sebrae. 8) E para quais países exporta? Houve uma negociação com a Alemanha, mas não houve exportação devido a impedimentos da Receita Federal. 9) Quais as maiores dificuldades encontradas no mercado externo? Não houve dificuldades para o consumo da cachaça em outros países, só não houve a exportação devido a barreiras legais. 10) As barreiras tarifárias causam muito empecilhos para a exportação? Não, pois é ausente de tarifas. 11) E as barreiras não-tarifárias? Essas causam muitos empecilhos, pois é necessário o selo da Receita Federal, e para isso é necessário que a produção de cachaça seja feita por pessoa jurídica e como somos uma cooperativa não houve a liberação do selo para a exportação. 12) Como é o modelo de distribuição? É eficaz? O modelo de distribuição é indireto, é feito através de empresas que são especializadas em exportação, fica mais fácil. 13) Teve ou tem alguma dificuldade para o reconhecimento da marca no mercado nacional e/ou internacional? Ainda não comercializei a cachaça, mas em todas as feiras de degustação que nossa marca esteve presente foi um sucesso, ficando entre as três melhores. Entrevista com André – Cachaça Morro Vermelho 1) Há quanto tempo atua no setor? Atuo no setor desde 2001 . 2) Porque escolheu esse tipo de negócio? Meu Pai tinha uma fazenda em Goiás com o alambique e resolvemos aprimorar o mesmo em Minas Gerais. 3) A cachaça é de produção industrial ou em alambique? A cachaça é artesanal produzida em alambique de cobre. 4) Que tipo de público mais consome a cachaça? Classes C e D. 5) Quais regiões consomem mais seus produtos? Região Sudeste. 6) Você exporta ou pensa em exportar seus produtos? Exporto pequena quantidade para Europa. 7) Se sim, é feito um planejamento para as atividades de exportação? Sim . E enviamos amostras para cada possível comprador. 8) E para quais países exporta? Holanda, Bélgica e Alemanha. 9) Quais as maiores dificuldades encontradas no mercado externo? Quase não se conhece cachaça fora do Brasil. É uma grande dificuldade. 10) As barreiras tarifárias causam muito empecilhos para a exportação? No nosso caso não pagamos imposto quando exportamos. O governo, como forma de incentivo, libera os exportadores de impostos, desta forma pagaremos apenas os impostos dos países de destino. 11) E as barreiras não-tarifárias? Não temos problemas. 12) Como é o modelo de distribuição? É eficiente? Vendemos a distribuidores que revendem a nossa cachaça para o mercado externo. Até o momento tem se mostrado eficiente. 13) Teve ou tem alguma dificuldade para o reconhecimento da marca no mercado nacional e/ou internacional? Sempre que se lança um novo produto é difícil até que se torne conhecido,tanto nacional, quanto internacional. Entrevista com Dirlene – Cachaça Germana 1)Há quanto tempo atua no setor? Atuamos a 30 anos no setor. 2) Porque escolheu esse tipo de negócio? Vários motivos nos levaram a escolher esse negócio como continuidade por tradição paterna, acomodação em terra dos pais, visão de empreendedorismo, enfim... 3) A cachaça é de produção industrial ou em alambique? Nossa cachaça é produzida em alambique de cobre. 4) Que tipo de público mais consome a cachaça? A cachaça, antigamente, era consumida apenas por um público masculino, de baixa renda e também escravos, trabalhadores rurais,assalariados, bóias frias... Era considerada uma bebida marginalizada,ao ponto de ser a única culpada pelos males causados pelo excesso de consumo das bebidas alcoólicas em geral.Entretanto, com o advento da AMPAQ, em MG,foi criada uma cultura de se começar a valorizar a nossa bebida, para que ela viesse um dia a ser respeitada, como qualquer bebida alcoólica o é.Assim, passados 30 anos, esses movimentos se consolidaram por todo o país e hoje temos um quadro muitíssimo diferente. A bebida tem se valorizado, sendo respeitada, embora ainda com muitos fortes preconceitos, mas que se diminuem a cada dia.Hoje já é bebida por todas as classes de acordo com o poder aquisitivo e por público feminino, além do masculino, inclusive por jovens. 5) Quais regiões consomem mais seus produtos? A cachaça é tradicionalmente consumida em todas as regiões do Brasil. 6) Você exporta ou pensa em exportar seus produtos? Sim. Exportamos desde o ano de 1999. 7) Se sim, é feito um planejamento para as atividades de exportação? Depois de algum tempo exportando começamos a ter condições de planejar as exportações para os nossos clientes correntes, com um ano de antecedência, para nos planejarmos também com relação aos insumos, produtos e logística. 8) E para quais países exporta? Exportamos para o Reino Unido, Itália, Dinamarca, França, Suíça, Austrália, África do Sul e Canadá. Estamos em negociação para 2015 com Estados Unidos e Alemanha. 9) Quais as maiores dificuldades encontradas no mercado externo? Muitas são as dificuldades, devido à falta de infraestrutura portuária, fiscalização e liberação dos produtos nos órgãos públicos, Receita Federal e Ministério da Agricultura. Atrasos em análises, falta de laboratórios, exigências incoerentes com as necessidades da exportação que está sendo feita. Quanto aos problemas no mercado externo, primeiro, com relação a cachaça, ela é pouco conhecida ainda como bebida alcoólica de qualidade.Ainda temos a questão dos preços, onde temos alterações cambiais frequentes mudando nossos valores a receber de uma hora pra outra, além de ser impossível fazer alterações constantes nos preços, como ocorrem frequentemente pelas mudanças no câmbio. Entre outras... 10)As barreiras tarifárias causam muito empecilhos para a exportação? Os impostos de importação de bebidas alcoólicas, são sempre muito altos em todo o mundo, assim como os de cigarro e produtos desse tipo. Entretanto, para nós, quando exportamos, temos o benefício de não pagar certos impostos como ICMS e o IPI, o que nos dá resultados de ganhos 4 vezes maior, pois os impostos das bebidas alcoólicas no mercado interno, chegam a 50% ,tornandodifícil conquistar lucros na venda no mercado interno. Portanto, as barreiras tarifárias não afetam quando se conhece bem os números lá de fora e se planeja estes nos custo/preços. Ademais temos os custos de logística e transportes e despacho aduaneiro, em cada local que param as mercadorias. Há de se conhecer bem quais são estes, e planejar bem antes de fechar a venda, a forma de pagamento e quem é responsável por cada custo. 11)E as barreiras não-tarifárias? Quanto as barreiras não tarifárias, há de se conhecer as regras para a entrada do seu produto em cada país de destino. Cada um pode ter alguma exigência específica para a entrada de seu produto, principalmente quando se trata de bebida alcoólica. Essas exigências normalmente são quanto a teor alcoólico, quanto mais alto teor, maiores as taxas de impostos; também com relação à s embalagens, tamanhos padrão no mundo, rotulagens, devem conter as normas para comunicação quanto ao consumo responsável e devem estar na língua do país de destino. Mas essas exigências, quando se trata de alimentos e bebidas, são normalmente feitas por qualquer país importador para segurança na entrada de produtos, portanto são coerentes e não devem atrapalhar nenhuma exportação. 12) Como é o modelo de distribuição? É eficiente? Exportamos de forma direta, para nossos clientes. São eles importadores e distribuidores off Trade de bebidas nos países de destino. Eles é quem fazem a distribuição para o on Trade. Nossos preços têm que dar a eles as condições de competitividade e para a distribuição, para o atacado e varejo. Temos que pensar nos preços de todos os canais a partir do nosso preço ao importador. 13) Teve ou tem alguma dificuldade para o reconhecimento da marca no mercado nacional e/ou internacional? Podemos ter incapacidade de investimentos em reconhecimento de marca.O que temos é que ter um produto devidamente registrado no MAPA e com registro no INPI, para que a marca esteja segura.Com relação ao mercado internacional, também é necessário fazer o registro na comunidade européia, americana, asiáticos e em todos ou outros destinos, para a proteção da marca. Os custos são altos para esses registros de propriedade industrial.Quanto a reconhecimento, na maioria dos países, temos que ter os registros nos órgãos de controles de entradas de produtos, e que quando feitos, o produto passa por análises de aprovação quanto a qualidade, padrão, rotulagens, envazamento, graduações, etc...Uma vez conseguindo o registro do produto, este fica autorizado a entrar, mas tendo que ser vistoriado cada vez que entra, o que é bastante normal por se tratar de produto para consumo humano, ainda mais de bebida alcoólica.Temos que ser profissionais,casocontrário,tenta-se e morre na praia, com o produto não conseguindo sair; ou, se sair, não chegando ou não sendo autorizado a descer do navio e ser apanhado pelo importador.Isso tudo nós não sabíamos, tendo aprendido ao longo dos anos com experiências ruins e boas, com as quais fomos desbravando. ANEXO II BREVE REVISÃO BIBLIOGRÁFICA O estudo de CAMELO e ROCHA sugere que a internacionalização é uma grande estratégia no meio empresarial. Segundo Lopez e Gama (2007), o comércio exterior contribui para o desenvolvimento sustentável do país e alcance de uma melhor posição na economia global. Além disso, é estímulo à eficiência e propicia aprendizado e inovação, tornando a empresa mais qualificada. Quando a empresa opta por atuar no mercado externo, esta encontra novos conceitos e características. Consequentemente, ela necessita aprimorar seus processos para encarar os desafios que virão. Ao atender diversos mercados a empresa deve tornar-se mais flexível, de modo a atender a demandas cada vez mais exigentes. Além de realizar a pesquisa de mercado, a empresa também deve conhecer das características do produto que são mais relevantes no mercado exterior como as preferências de consumo, padrões de embalagens, produtos concorrentes e as exigências do país de destino quanto à entrada dos produtos em sua alfândega. De acordo com o SEBRAE (2009), no caso da exportação de cachaça, devem ser levadas em consideração questões como rotulagem, design, teor alcoólico permitido, volume por embalagem e vários outros aspectos, de forma que o produto seja corrigido e melhorado para acessar os mercados estrangeiros. Portanto, denota-se que uma pesquisa de mercado eficiente que fundamente bem as adequações nas quais o produto será submetido são fundamentais para que atinja seu mercado-alvo no cenário internacional. A cachaça, original do Brasil, vem ganhando espaço no cenário internacional. É muito utilizada como principal ingrediente da caipirinha, conhecida mundialmente. Foi constatado a partir de dados obtidos no Internacional Trade Centre, em seu segmento que compreende rum e cachaça. A Alemanha destaca-se como principal importadora de rum e cachaça do mundo todo.