COMÉRCIO EXTERIOR: QUAIS AS BARREIRAS E DIFICULDADES PARA
EXPORTAÇÃO DE CACHAÇA ARTESANAL EM MINAS GERAIS?
Fabiana Alves Bahia¹
Lorena Gontijo Silva¹
Rafael Minami Suzuki²
RESUMO
O comércio exterior existe desde as civilizações mais antigas, quando se
iniciaram as práticas de trocas de mercadorias entre países, devido às suas
diferenças. Com o passar dos anos e a globalização, essas trocas se
intensificaram seja pra conseguir vantagens competitivas ou para sobrevivência
no mercado. A cachaça, originada no Brasil no período da colonização, é muito
apreciada no país e vem ganhando espaço no exterior. Contudo os produtores
da bebida vêm enfrentando grandes dificuldades para adentrar no mercado
externo. Este trabalho tem como objetivo mostrar a importância do
conhecimento sobre processos de exportação e da inserção das organizações
no mercado externo e a realidade dos produtores de cachaça artesanal de
Minas Gerais neste cenário. A metodologia utilizada foi através da realização
de entrevistas semiestruturadas indutiva com produtores mineiros de cachaça
artesanal, por meio de técnica de observação direta intensiva.
PALAVRAS-CHAVE: Comércio Exterior, Exportação, Cachaça.
1 INTRODUÇÃO
O homem, desde a antiguidade, precisa obter bens. Entretanto, ele não
é capaz de produzir todos os bens que necessita. Assim surgiu a divisão do
trabalho, onde cada indivíduo produz um tipo de objeto e realiza trocas por
outros objetos. Essas trocas são chamadas de comércio. O comércio que
atinge níveis mundiais é o denominado internacional e sendo uma de suas
interações a exportação.
Segundo Blank e Palmeira (2006), o comércio internacional sofreu um
crescimento acelerado com o processo de globalização. Como resultado as
__________________________
¹ Aluna do 8º período do curso de Administração – FACED. E-mail: [email protected]
¹ Aluna do 8º período do curso de Administração – FACED. E-mail:
[email protected]
² Professor da Faculdade Divinópolis – FACED. E-mail: [email protected]
fronteiras geográficas passaram a não causar mais obstáculos para a
comercialização. Em um mundo com novas tecnologias e rotas compradores e
vendedores ficaram próximos.
A cachaça, um produto tradicionalmente brasileiro, é produzido em
praticamente todo o território nacional. Porém, de toda essa produção, apenas
1% chega ao mercado exterior. Em Minas Gerais é produzida a cachaça
artesanal, que é uma cachaça de maior qualidade e muito valorizada pelos
consumidores.
Este trabalho busca responder ao questionamento: Quais barreiras e
dificuldades para exportação de cachaça artesanal em Minas Gerais?
O artigo tem como objetivo geral investigar quais as dificuldades que os
produtores de Minas Gerais encontram para a exportação de cachaça e como
objetivos
específicos
analisar
as
barreiras
protecionistas
enfrentadas,
descrever sobre o processo de exportação, analisar as dificuldades de
adequação por parte das empresas e descrever o mercado de cachaça no
Brasil e no mundo.
Segundo
Sakai,
conforme
o
PBDAC
(Programa
Brasileiro
de
Desenvolvimento da Aguardente de Cana, Caninha e Cachaça) a produção
anual brasileira de cachaça tem representado aproximadamente 1,3 bilhão de
litros. Esta produção gera um faturamento de mais de U$ 600 milhões,
empregando
mais
de
400
mil
pessoas
diretamente
e
arrecadando
aproximadamente R$ 76,5 milhões em impostos por ano.
No entanto, o mercado de cachaça apresentou uma desaceleração do
seu crescimento devido à queda do consumo no mercado interno. É preciso
ademais tomar conhecimento das barreiras e saber como lidar com elas para
que se alcancem níveis maiores de exportação de cachaça no Brasil, a fim de
gerar maior crescimento no mercado de cachaça, aquecimento da economia e
mais empregos.
A cachaça também desperta a atenção dos pesquisadores, que têm
interesse conhecer mais a fundo o produto, que é originalmente e
tradicionalmente brasileiro, representando a cultura do Brasil pelo mundo.
Existem estudos relacionados à exportação de destilados, porém os
estudos que abordam o tema específico da exportação de cachaça são
escassos, o que sugere uma oportunidade para a realização do estudo.
2 A CACHAÇA
A cachaça é uma bebida alcóolica original e tipicamente brasileira e é
produzida da cana-de-açúcar. Segundo Santana, a cana-de-açúcar é uma
planta pertencente à família das gramíneas –Saccharumoffinarum- originária da
Ásia. A cachaça artesanal, produzida em alambique, está sendo muito
valorizada no mundo inteiro, sendo reconhecida como bebida de qualidade.
Minas Gerais se tornou referência mundial na produção de cachaça artesanal,
de acordo com Neves (2004).
Conforme o decreto 73.267, de 06/12/73, estabelecido pelo Presidente
da República, Portaria 371 do Ministério da Agricultura, publicada no D.O.U. de
19/09/74, o teor alcoólico da cachaça de cana-de-açúcar deve variar entre 38 e
54% vol.
Julga-se que existam mais de 5 mil marcas de cachaça e cerca de 30 mil
produtores no Brasil, gerando cerca de 400 mil empregos diretos e indiretos.
(NEVES, 2004).
2.1 A história da cachaça
A origem da cachaça se inicia por volta da época da colonização
brasileira e surgiu nos engenhos de açúcar. No início, era apenas um caldo
azedo que embebedava os escravos. Os senhores de engenho perceberam o
efeito que o tal caldo causava e passaram a fornecer esse produto no desjejum
dos escravos. Logo a bebida foi aperfeiçoada e passou a ser consumida por
senhores e outras pessoas de posses, vindo a tomar mercado da bagaceira de
origem portuguesa, fato que resultou na emissão de legislação restritiva à
montagem de engenhos por volta do século XVIII (CASCUDO, 2006).
Até a década de 60 a bebida sofria uma espécie de discriminação por
parte da alta sociedade, embora com larga aceitação histórica entre as
categorias C e D, conforme declaraçãodos profissionais e empresários do
setor. A partir dos anos 70, a cachaça começou a ser utilizada para fazer
batida, o que contribuiu para a sofisticação da bebida passando a ser oferecida
de outra forma, acompanhada de frutas tropicais, principalmente as da região
Nordeste. Com este acontecimento o setor passou a investir mais na produção,
venda e em sofisticação, com linhas premium de cachaças envelhecidas em
barris de carvalho e outras madeiras nobres.
2.2 Processo de fabricação da cachaça
Segundo os estudos de OLIVEIRA (2010), o processo de fabricação da
cachaça pode ser feito de forma industrializada ou artesanal. O processo de
produção industrial possui maior capacidade de produção, fazendo com que a
cachaça industrializada seja vendida por menos. O processo artesanal ou de
alambique requer mais tempo e cuidado, a capacidade de produção cai mas a
qualidade do produto é maior, podendo ser vendida por valores mais altos.
O processo de fabricação da cachaça artesanal ocorre da seguinte
forma:

Cana-de-açúcar: É a matéria-prima mais comum para produção de
cachaça, por conter muito açúcar e a fermentação do caldo ocorrer
com facilidade.

Moagem: Depois de cortada, a cana madura, fresca e limpa deve
passar pela moagem em até 36 horas. Neste processo é separado o
caldo do bagaço, este último é usado para aquecer as fornalhas do
alambique.

Filtração: Nesta etapa o caldo passa por um processo de filtração, pois
apresenta grande quantidade de impurezas. É realizada por meio de
filtros e um pequeno tanque de decantação.

Fermentação: Há variação no teor de açúcar entre cada tipo de cana,
portanto é necessário padronizar o caldo para depois adicionar as
substâncias nutritivas que mantêm o fermento ativo. A mistura fica por
cerca de 24 horas nas dornas.

Destilação: O material fermentado passa a ser denominado vinho e
está pronto para ser destilado, originando a cachaça.

Envelhecimento: É a etapa final do processo de fabricação da cachaça.
Este processo aprimora a qualidade de sabor e aroma da bebida. É
recomendável que a estocagem seja feita em barris de madeira, onde
ainda acontecem reações químicas.
2.3 Produção de cachaça no Brasil
A cachaça é produzida em todos os Estados brasileiros, mesmo onde o
cultivo da cana-de-açúcar não é favorável.No Brasil são produzidos cerca de
1,3 bilhões de litros de cachaça por ano compreendendo cerca de 30 mil
produtores.
Desse total, 70% da produção é representada pela cachaça industrial e
30% pela cachaça de alambique ou artesanal (SEBRAE, 2008). Os maiores
produtores de cachaça são: São Paulo (45%), Pernambuco (12%), Ceará
(11%), Rio de Janeiro (8%), Minas Gerais (8%), Goiás (8%), Paraná (4%),
Paraíba (2%) e Bahia (2%), sendo os três primeiros responsáveis por quase
toda produção de cachaça industrial.
A produção de cachaça artesanal ou de alambique está em maior parte
nos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e São Paulo, sendo que
os estados mineiro e fluminense contribuem com quase 50% de toda a
produção de cachaça de alambique do Brasil.
2.3.1 Produção de cachaça em Minas Gerais
O estado de Minas Gerais é responsável pela produção de 180 milhões
de litros por ano/safra de cachaça. De acordo com estimativas do Sebrae
(2008), em Minas Gerais estão instalados cerca de 8.500 alambiques, mas
muitos atuam na clandestinidade, o que pode comprometer a qualidade da
cachaça.Esse índice é consequência da alta tributação sobre a cachaça
artesanal, sendo o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) o que mais
prejudica sua competitividade.
A cachaça artesanal já conquistou os consumidores tanto por questão
de sabor, quanto de qualidade. Mas vem perdendo para a cachaça industrial
por preço. Segundo Valverde (2013), a cachaça artesanal tem custos mais
elevados no processo de produção que a cachaça industrial e seu IPI gira em
torno de R$ 2,80 por garrafa de 700ml, enquanto sobre a cachaça industrial
gira em torno de R$ 0,70 o litro.
Na cidade de Salinas, em Minas Gerais, encontra-se a maior quantidade
de produtores de cachaça de alambique do estado e do Brasil. A aguardente é
produzida e comercializada no município desde o início do século XX. Cerca de
33% de sua atividade econômica é fruto da produção de cachaça. Também é o
único lugar do Brasil que oferece curso de nível superior relacionado à
cachaça. (JENKEL, 2011)
3 EXPORTAÇÃO
O homem, para satisfazer as suas necessidades, precisa obter bens.
Entretanto, ele não é capaz de produzir todos os bens que necessita. Deste
modo surgiu a divisão do trabalho, onde cada indivíduo produz um tipo de
objeto e realiza trocas do que é produzido por outros objetos que necessita.
Estas trocas são chamadas de comércio e se iniciaram em épocas préhistóricas (MAIA, 2000).
Com a evolução do relacionamento humano estas trocas, atualmente,
alcançam níveis mundiais. Essas trocas de bens e serviços entre países são
chamadas de comércio internacional (exportação e importação). A desigual
distribuição de minerais; diferenças de solos e climas, que diversifica a
produção agrícola; e as diferenças dos estágios de desenvolvimento
econômico são fatores que tornaram o Comércio Internacional uma
necessidade. O Comércio Internacional também contribui para a criação de
riquezas de um país, de acordo com o saldo da balança de comércios.
O comércio exterior controla a Balança Comercial de um país
através da diferença entre exportações e importações de
mercadorias e serviços, desta forma se espelha a criação de
riquezas positiva ou negativa de um país. (IUSIFDAINEZ;
MORINI; SIMÕES, 2010)
Desta forma, os países estão sempre em busca de participação no
comércio exterior para ampliarem seus fluxos de riqueza. O resultado esperado
sempre será o superávit comercial, ou seja, o saldo positivo da balança
comercial. Quando o resultado obtido for o déficit comercial significa dizer que
o país importou mais do que exportou, gastando mais com o resto do mundo
do que recebeu dele.
3.1 – Por que exportar?
Segundo Resende e Garcia (1978), as empresas devem ter um objetivo
ao iniciarem a exportação e não recorrê-la sem planejamento, como tábua de
salvação para os negócios. Para isso, elas devem definir primeiramente sua
política de exportação como se entende a seguir: Por que exportar? O que
exportar? Como exportar? Para onde exportar? Para quem exportar?
As exportações são classificadas em exportações diretas e indiretas.
Quando o produto exportado é faturado diretamente pelo produtor e o mesmo
faz a exportação, se caracteriza como exportação direta. Quando a empresa
precisa de terceiros para realizar a exportação, se caracteriza a exportação
indireta.
Existem vários motivos para uma empresa exportar, mas todos
possuem um objetivo comum que é sobreviver e crescer. Segundo Dabbah
(1998, p. 1):
A exportação é uma escolha estratégica para empresas
brasileiras, uma vez que são constantemente atingidas por
vários planos econômicos, e uma empresa que exporta será
afetada de uma forma diferente em relação à empresa que
apenas comercializa no mercado interno. A globalização
rompeu fronteiras com a desregulamentação de mercados,
propiciou a criação de parcerias entre empresas.
A globalização permite que as empresas alcancem distâncias maiores e
realizem trocas com mercados de todo o mundo para atingir seus
objetivos.Além da globalização, outro motivo forte para a exportação é o
aprimoramento da qualidade, uma vez que o mercado externo exige mais
qualidade que o mercado interno, forçando a empresa a melhorar seus bens
e/ou serviços, aumentando sua competitividade.
Ainda segundo Dabbah (1998), as dificuldades de vendas no mercado
interno é outro motivo para exportar, apesar de não ser o melhor. Contudo,
permite que as empresas introduzam produtos no mercado exterior em caso de
desaquecimento no mercado interno. Este problema é bastante enfrentado
pelas empresas brasileiras.
A imagem da empresa no mercado é sua identidade. A implantação de
marca internacional é outro motivo para exportar, pois a fortalece.
A exportação também permite a extensão do ciclo de vida do produto.
Exportando para países menos desenvolvidos seu ciclo de vida é prolongado,
já que no país de origem o produto se encontra obsoleto.
A sazonalidade também é um fator muito importante, pois permite que o
produto seja vendido em outros mercados que estão na inversão da estação.
O mercado brasileiro está muito aberto a produtos estrangeiros. Exportar
é uma forma de dar um equilíbrio.
Além de outras vantagens, a empresa que exporta passa a ter mais
prestígio em diversas instituições como bancos, fornecedores e entre os
próprios consumidores.
Existem produtos que possuem mais valor no mercado externo, portanto
exportar possibilita que a empresa utilize preços mais rentáveis.
3.2 A exportação de cachaça
Em 2001, o Brasil exportou US$ 8,7 milhões de cachaça, enquanto o
mercado mundial absorveu US$ 10,9 bilhões em bebidas destiladas (NEVES,
2004). O PBDAC foi criado em 1997 pela Abrabe (Associação Brasileira de
Bebidas) para apoiar as exportações do setor, dar capacitação técnica ao
produtor de cachaça e valorizar sua imagem como um produto originalmente
nacional. A cachaça é a bebida destilada mais consumida no Brasil e a terceira
no ranking mundial, conforme mostra a Figura 1.
milhões de litros
Ranking mundial do consumo de destilados
1800
1600
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
Figura 1: Ranking mundial do consumo de destilados
Fonte: PBDAC
A maioria das exportações foram feitas para a Europa, em destaque
para a Alemanha, maior mercado da bebida no exterior, conforme a Figura 2:
Figura 2. Principais países importadores de cachaça.
Fonte: Rodrigues et al. (2006).
A chegada de turistas europeus ao litoral brasileiro deu início à
propagação da cachaça no mercado internacional, principalmente em países
como a Alemanha. A bebida pode ser encontrada em restaurantes e bares dos
mais sofisticados, normalmente sendo consumida em coquetéis de frutas.
(RODRIGUES, 2006).
Como a cachaça é servida predominantemente através da caipirinha, a
maior parte do consumo concentra-se na cachaça clara, a industrial, o que
implica no crescimento da demanda do produto. A cachaça mais escura, a
artesanal, também é importada, mas representa apenas cerca de 10% do
mercado. Portanto, a cachaça artesanal ainda é pouco conhecida no mercado
externo pelo fato de raramente servir o destilado puro (OLDONI, 2013).
A cachaça industrial é comercializada no Brasil por um preço muito
inferior ao da cachaça artesanal, contudo é consumida em larga escala tanto
no mercado interno, quanto no mercado externo. A produção artesanal é muito
valorizada pelos consumidores. Em lojas especializadas ela é vendida a preços
muito elevados, de acordo com sua marca, ultrapassando, em alguns casos, o
valor de R$200,00 a garrafa. Os certificados de qualidade e os socioambientais
também agregam valor ao produto. Segundo, a primeira cachaça a conseguir
certificado de indicação geográfica como denominação de origem foi a cachaça
produzida em Paraty – RJ. (SAKAI)
De acordo com o PBDAC, a qualidade da cachaça brasileira vem
melhorando muito, motivo pelo qual acredita-se aumentar as exportações da
bebida, chegando a 100 milhões de litros em dez anos.
As feiras de exposição de cachaça são uma oportunidade para
pequenos produtores encontrarem os grandes distribuidores nacionais e
internacionais. Estiveram na última edição da feira Brasil Cachaça, que
acontece em São Paulo, importadores da Argentina, Estados Unidos, África do
Sul, Portugal e Rússia (NEVES, 2004). A produção de cachaça artesanal tem
um grande potencial e é projetado um aumento efetivo das exportações.
Conforme Rodrigues (2006), Albernaz, da feira Brasil Cachaça, declarou
que o grande problema dos produtores artesanais de cachaça é a distribuição,
o gargalo do setor. As empresas maiores monopolizam a distribuição e só
agora os pequenos produtores começam a se organizar em associações
estaduais e cooperativas para melhorar os resultados.
3.2.1 Algumas exigências importadoras do mercado alemão
Segundo Oldoni (2013), no caso da exportação da cachaça já
engarrafada exige-se que as garrafas contenham 0,7 ou 1,0 litro, sejam
rotuladas e estejam empacotadas em caixas de papelão, com 6 ou 12 garrafas
cada. Devem ser exportadas em tanque ou em contêiners. As garrafas devem
ter o pescoço longo, para manuseio mais seguro de “barmens” e suas tampas
não devem conter partes metálicas, afim de evitar ferimentos.
Quanto aos rótulos o importador desenvolve um projeto a ser analisado
pelo exportador. Devem respeitar certo tamanho das letras, conter descrição
dos ingredientes e teor alcoólico e já deve conter o código de barras. Também
deve conter o selo chamado “GrünerPunkt” (traduzido como “Ponto Verde”).
Este selo comprova a participação do produtor no “Sistema Dual” da Alemanha,
este é obrigado a participar desse sistema. O sistema cobra uma taxa que
depende do peso e do material da embalagem usada. Em troca,
responsabiliza-se pela coleta e reciclagem destas embalagens. (OLDONI,
2013)
4 METODOLOGIA
A obtenção dos dados do estudo foi feita por meio de técnica de
observação direta intensiva, através de entrevista semi-estruturadaindutiva
com quatro produtores de cachaça do interior de Minas Gerais. O contato
destes foi obtido através de um docente do curso de Administração da
Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis de
Divinópolis.
O método foi escolhido por ter uma estrutura sistemática, roteiros
interligados; por possuir estilo de diálogo, o que deixa a entrevista mais
descontraídacomo um bate-papo facilitando a coleta de dados; e por ser
situacional, atendendo um certo contexto.
5 ANÁLISE DE DADOS
Através de entrevistas semi-estruturadas, em anexo, foram extraídos
dados da realidade de quatro produtores de cachaça artesanal em Minas
Gerais.
Quadro 1: Comparativo de respostas entre produtores de cachaça.
PRODUTORES
Cachaça Portal do
Engenho – Membro
da Cooperativa
Diretor da Cooperativa
Cachaça Morro
Vermelho
Cachaça Germana
Quanto tempo
atua no setor
Desde 2000.
Desde 2004.
Desde 2001.
Desde 1984.
Motivo de
escolha do
negócio
O pai consumia
cachaças ruins e
resolveu aprender a
fazer cachaça de
qualidade.
Tradição familiar. O avô
produzia cachaça.
Tradição familiar. O pai
tinha um alambique em
Goiás.
Tradição familiar paterna e
visão empreendedora.
Público que
mais consome a
cachaça
Hoje em dia todos os
públicos consomem a
cachaça. O que varia é
a qualidade.
A modernização do
processo permitiu o
consumo da cachaça por
todos os públicos.
Classes C e D.
É consumida por todas as
classes, inclusive jovens e
mulheres.
Exporta ou
pensa em
exportar os
produtos e para
onde é
exportado
Não exporta. Há
negociações. Busca
apoio do Sebrae e
aguarda aprovação da
Receita Federal.
Não exporta. Há
negociações,
aguardando aprovação
da Receita Federal.
Exporta pequenas
quantidades para
Holanda, Bélgica e
Alemanha.
Exporta desde 1999 para o
Reino Unido, Itália,
Dinamarca, França, Suíça,
Austrália, África do Sul e
Canadá. Existem
negociações com Estados
Unidos e Alemanha.
Faz
planejamento
para exportação
É feito um
planejamento com
apoio do Sebrae.
É feito um planejamento
com apoio do Sebrae.
Sim.
As exportações são
planejadas com 1 ano de
antecedência em relação a
insumos, produtos e
logística.
As maiores
dificuldades do
mercado
externo
Encontrar um
comprador com
seriedade e partes
burocráticas.
No mercado externo
nada que dificulte muito.
A cachaça não é muito
conhecida fora do
Brasil.
A cachaça é pouco
conhecida fora do Brasil e
questão de preços, devido
ao câmbio.
Barreiras
tarifárias
Não causam
empecilhos, pois
alguns impostos são
ausentes.
São ausentes de tarifas.
O governo permite
isenção de alguns
impostos para exportar
a cachaça.
Impostos sobre bebidas
alcoólicas são altos em todo
o mundo. Porém o governo
beneficia os exportadores de
cachaça, os isentando de
alguns impostos.
Cachaça Portal do
Engenho – Membro
da Cooperativa
Diretor da Cooperativa
Cachaça Morro
Vermelho
Cachaça Germana
Barreiras nãotarifárias
As questões
burocráticas causam
muitos empecilhos
Causam empecilhos.
Para exportar são feitos
uma série de exigências
por parte do governo.
Não há problemas.
Há muitas exigências por
parte dos países
importadores. Tem que
conhecê-las para que não
causem empecilhos.
Modelo de
distribuição
Tentam exportar
através de empresas
terceirizadas. Acreditase que seja mais fácil
por terem experiência.
Tentam exportar através
de empresas
terceirizadas. Acredita-se
que seja mais fácil por
terem experiência.
A cachaça é vendida
para distribuidores, os
quais fazem a
exportação. Tem obtido
sucesso até o
momento.
A exportação é feita de
forma direta. Após muitas
tentativas e erros, adquiriram
experiência e tem obtido
sucesso.
Estes dados retratam que a cachaça é um produto tradicional no Brasil
e, atualmente, está sendo muito valorizada e consumida por todas as classes
sociais, gêneros e até por jovens. Ela vem conquistando, aos poucos, o
mercado externo. Muitos produtores que ainda não conseguiram exportar a
cachaça tem este objetivo.
As exportações, para que se obtenha sucesso, devem ser bem
planejadas, pois quando se trata de negociação com outros países que têm
costumes, exigências e legislações diferentes, possuem grandes chances de
falhas.Deve-se escolher o modelo de distribuição que melhor atende ao
produtor. A forma indireta é mais indicada àqueles que não possuem muita
experiência em exportação.
Uma das dificuldades ao exportar a cachaça é que a mesma é pouco
conhecida no mercado externo, por ser muito servida como caipirinha.
Encontrar, em país desconhecido, um comprador confiável também é uma
dificuldade e um receio dos produtores. A infraestrutura portuária é precária, o
que dificulta um pouco o processo.
Por parte do país exportador muitos dos tributos sobre a exportação de
cachaça são isentos, como forma de incentivo do governo. Os produtores
devem ter maior preocupação com os tributos cobrados pelos países
importadores, entretanto estes não têm intenção de prejudicar a entrada do
produto, pois se referem à produtos para consumo humano e requerem certo
cuidado. Os produtores devem estar devidamente registrados nos órgãos
exigidos. É um processo um tanto quanto burocrático. É necessário se informar
sobre as exigências dos países de destino em relação ao produto e ao produtor
para adentrar no mercado externo.
6 CONCLUSÃO
Pôde-se concluir que as tarifas de exportação, taxas de valoração
aduaneira entre outras são consideradas baixas, pelo fato do governo
incentivar a exportação da cachaça isentando os exportadores de alguns
impostos. As taxas cobradas pelos países importadores não têm o objetivo de
dificultar a entrada do produto no país, não causando muitos empecilhos.
As barreiras não-tarifárias, como embalagens, teor alcoólico, rótulo,
entre outros, não causam muitos empecilhos desde que tome conhecimento
das regras de cada país importador.No Brasil existe um processo burocrático
para se iniciarem as práticas de exportação. O estabelecimento e o produto
devem estar devidamente registrados no MAPA, registro na Receita Federal e
a empresa deve possuir CNPJ. Caso a empresa não esteja regular de acordo
com os requisitos acima, estas podem impedir ou dificultar as práticas de
exportação.
A escolha do modelo de distribuição mais adequado é fundamental para
o sucesso da exportação. Até a empresa adquirir conhecimento e experiência
ela pode ter fracassos. Os produtos podem não conseguir sair do país, ou
correm o risco de sair, mas não descerem do navio, impedindo que o cliente
não receba a mercadoria ou até que não pague por ela.
As empresas que não realizam um planejamento do processo de
exportação, além de encontrarem dificuldades para se manter no mercado
externo, correm o risco de não conseguirem entrar nele. É necessário ter ideia
dos custos com produção, embalagem, certificação, transporte e logística,
tarifas e exigências dos países destino, câmbio, etc.
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SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).
Cachaça Artesanal – Estudos de Mercado Sebrae. 2008. Disponível em
<http://201.2.114.147/bds/bds.nsf/B142F005A221FDB0832574DC00457C09/$
File/NT0003905E.pdf>. Acesso em: 20 abril 2014.
VALVERDE, Michelle. Produção de cachaça artesanal em Minas Gerais
está estagnada.2013. Disponível em
<http://www.diariodocomercio.com.br/noticia.php?id=126196>. Acessoem: 17
agosto 2014.
ABSTRACT
International Business exists since ancient civilizations, when the practice of
swapping merchandise between countries had been initiated. Along the years
and with the globalization, these swaps had intensified, either to obtain
competitive advantages or to survival in the market. Cachaça, that it was
originated in Brazil, in the colonization period, is very appreciated in the country
and it comes gaining space in the exterior. However the cachaça producers are
facing great difficulties to get in the external market. This work has as objective
to show the importance of the knowledge on exportation processes and of the
insertion of the organizations in the external market and the reality of the
producers of craftmade cachaça in Minas Gerais. The used methodology was
through the accomplishment of interviews semistructuralized inductive with local
producers of craftmade cachaça, by means of technique of intensive direct
comment.
KEYWORDS: International Business. Exportation. Cachaça.
ANEXO I
ENTREVISTAS
Entrevista com José Francisco – Cachaça Portal do Engenho
1) Há quanto tempo atua no setor?
Atuo no setor desde 2000, antes mesmo da cooperativa. Fiz uns cursos para
produzir cachaça e através destes cursos que surgiu a ideia da cooperativa,
que foi criada por volta de 2001 ou 2002.
2) Porque escolheu esse tipo de negócio?
Meu pai sempre gostou de cachaça, mas bebia cachaça muito ruim que dava
mal-estar e ressaca. Então me interessei por cachaça e procurei um meio de
produzir uma cachaça boa.
3) A cachaça é de produção industrial ou artesanal?
A cachaça que produzo é artesanal, feita em alambique. Ela é mais gostosa e
mais pura.
4) Que tipo de público mais consome este tipo de produto?
Hoje em dia não tem publico diferenciado, nem classe social... Todo mundo
consome a cachaça, o que varia é a qualidade, o tipo da cachaça. Inclusive as
mulheres consomem muito também.
5) Quais regiões consomem mais seus produtos?
Eu vendo pouca cachaça por não possuir o selo ainda. Eu tenho meus
fregueses que vão até meu alambique e comprar minha cachaça. Eles são aqui
da região mesmo.
6) Você exporta ou pretende exportar seus produtos?
Exportação é um pouco complicado, primeiramente por causa do volume de
produção que deve ser grande. E para entrar no comércio de exportação tem
muitos requisitos. Agora contamos com a ajuda do Sebrae para efetuar uma
exportação para a China, mas é um processo que exige muita seriedade.
7) Se sim, é feito um planejamento para as atividades de exportação?
O Sebrae está nos apoiando nessa questão.
8) E para quais países exporta?
Já negociamos com Estados Unidos e Alemanha, mas não pôde ser efetuado
por impedimentos da Receita Federal.
9) Quais as maiores dificuldades encontradas no mercado externo?
As maiores dificuldades são achar o comprador certo e a parte burocrática.
10) As barreiras tarifárias causam muito empecilhos para a exportação?
As tarifas para exportação não são muito pesadas.
11) E as barreiras não-tarifárias?
As questões burocráticas, legislação causam muitos empecilhos. Por isso não
exportamos ainda.
12) Como é o modelo de distribuição? É eficaz?
Vamos exportar a granel, a qual os compradores buscarão a mercadoria aqui.
E exportaremos engarrafadas através de empresas especializadas em
exportação, por terem mais experiência e devido à idoneidade.
13) Teve ou tem alguma dificuldade para o reconhecimento da marca no
mercado nacional e/ou internacional?
Não tenho dificuldade. Quem prova minha cachaça se torna fiel à marca. Mas
para ser reconhecida basta a cachaça ser de qualidade e investir no marketing.
Entrevista com Camilo
1) Há quanto tempo atua no setor?
Atuo no setor há 10 anos em uma cooperativa.
2) Porque escolheu esse tipo de negócio?
A decisão de escolha do tipo de negocio foi de tradição, pois meu avô, de
Carmo da Mata, tinha uma pequena usina de produção de açúcar e ele
aproveitava o melado e fazia cachaça e dei continuidade ao negócio com a
produção de cachaça.
3) A cachaça é de produção industrial ou artesanal?
A cachaça é artesanal, produzida em alambique em escala menor e de boa
qualidade.
4) Que tipo de público mais consome este tipo de produto?
Com a modernização dos alambiques e a higienização no processo de
produção da cachaça, esta está sendo consumida por todas as classes sociais.
5) Quais regiões consomem mais seus produtos?
A cachaça é consumida em todo o Brasil. Não existe uma região com maior
predominância no consumo.
6) Você exporta ou pretende exportar seus produtos?
Ainda não exportamos. Tem uma exportação pra China em andamento,
dependendo apenas dos parâmetros exigidos pelo país importador, como a
analise laboratorial.
7) Se sim, é feito um planejamento para as atividades de exportação?
É feito um planejamento com apoio de uma empresa especializada em
exportação, através do Sebrae.
8) E para quais países exporta?
Houve uma negociação com a Alemanha, mas não houve exportação devido a
impedimentos da Receita Federal.
9) Quais as maiores dificuldades encontradas no mercado externo?
Não houve dificuldades para o consumo da cachaça em outros países, só não
houve a exportação devido a barreiras legais.
10) As barreiras tarifárias causam muito empecilhos para a exportação?
Não, pois é ausente de tarifas.
11) E as barreiras não-tarifárias?
Essas causam muitos empecilhos, pois é necessário o selo da Receita Federal,
e para isso é necessário que a produção de cachaça seja feita por pessoa
jurídica e como somos uma cooperativa não houve a liberação do selo para a
exportação.
12) Como é o modelo de distribuição? É eficaz?
O modelo de distribuição é indireto, é feito através de empresas que são
especializadas em exportação, fica mais fácil.
13) Teve ou tem alguma dificuldade para o reconhecimento da marca no
mercado nacional e/ou internacional?
Ainda não comercializei a cachaça, mas em todas as feiras de degustação que
nossa marca esteve presente foi um sucesso, ficando entre as três melhores.
Entrevista com André – Cachaça Morro Vermelho
1) Há quanto tempo atua no setor?
Atuo no setor desde 2001 .
2) Porque escolheu esse tipo de negócio?
Meu Pai tinha uma fazenda em Goiás com o alambique e resolvemos aprimorar
o mesmo em Minas Gerais.
3) A cachaça é de produção industrial ou em alambique?
A cachaça é artesanal produzida em alambique de cobre.
4) Que tipo de público mais consome a cachaça?
Classes C e D.
5) Quais regiões consomem mais seus produtos?
Região Sudeste.
6) Você exporta ou pensa em exportar seus produtos?
Exporto pequena quantidade para Europa.
7) Se sim, é feito um planejamento para as atividades de exportação?
Sim . E enviamos amostras para cada possível comprador.
8) E para quais países exporta?
Holanda, Bélgica e Alemanha.
9) Quais as maiores dificuldades encontradas no mercado externo?
Quase não se conhece cachaça fora do Brasil. É uma grande dificuldade.
10) As barreiras tarifárias causam muito empecilhos para a exportação?
No nosso caso não pagamos imposto quando exportamos. O governo, como
forma de incentivo, libera os exportadores de impostos, desta forma pagaremos
apenas os impostos dos países de destino.
11) E as barreiras não-tarifárias?
Não temos problemas.
12) Como é o modelo de distribuição? É eficiente?
Vendemos a distribuidores que revendem a nossa cachaça para o mercado
externo. Até o momento tem se mostrado eficiente.
13) Teve ou tem alguma dificuldade para o reconhecimento da marca no
mercado nacional e/ou internacional?
Sempre que se lança um novo produto é difícil até que se torne
conhecido,tanto nacional, quanto internacional.
Entrevista com Dirlene – Cachaça Germana
1)Há quanto tempo atua no setor?
Atuamos a 30 anos no setor.
2) Porque escolheu esse tipo de negócio?
Vários motivos nos levaram a escolher esse negócio como continuidade por
tradição paterna, acomodação em terra dos pais, visão de empreendedorismo,
enfim...
3) A cachaça é de produção industrial ou em alambique?
Nossa cachaça é produzida em alambique de cobre.
4) Que tipo de público mais consome a cachaça?
A cachaça, antigamente, era consumida apenas por um público masculino, de
baixa renda e também escravos, trabalhadores rurais,assalariados, bóias
frias... Era considerada uma bebida marginalizada,ao ponto de ser a única
culpada pelos males causados pelo excesso de consumo das bebidas
alcoólicas em geral.Entretanto, com o advento da AMPAQ, em MG,foi criada
uma cultura de se começar a valorizar a nossa bebida, para que ela viesse um
dia a ser respeitada, como qualquer bebida alcoólica o é.Assim, passados 30
anos, esses movimentos se consolidaram por todo o país e hoje temos um
quadro muitíssimo diferente. A bebida tem se valorizado, sendo respeitada,
embora ainda com muitos fortes preconceitos, mas que se diminuem a cada
dia.Hoje já é bebida por todas as classes de acordo com o poder aquisitivo e
por público feminino, além do masculino, inclusive por jovens.
5) Quais regiões consomem mais seus produtos?
A cachaça é tradicionalmente consumida em todas as regiões do Brasil.
6) Você exporta ou pensa em exportar seus produtos?
Sim. Exportamos desde o ano de 1999.
7) Se sim, é feito um planejamento para as atividades de exportação?
Depois de algum tempo exportando começamos a ter condições de planejar as
exportações para os nossos clientes correntes, com um ano de antecedência,
para nos planejarmos também com relação aos insumos, produtos e logística.
8) E para quais países exporta?
Exportamos para o Reino Unido, Itália, Dinamarca, França, Suíça, Austrália,
África do Sul e Canadá. Estamos em negociação para 2015 com Estados
Unidos e Alemanha.
9) Quais as maiores dificuldades encontradas no mercado externo?
Muitas são as dificuldades, devido à falta de infraestrutura portuária,
fiscalização e liberação dos produtos nos órgãos públicos, Receita Federal e
Ministério da Agricultura. Atrasos em análises, falta de laboratórios, exigências
incoerentes com as necessidades da exportação que está sendo feita. Quanto
aos problemas no mercado externo, primeiro, com relação a cachaça, ela é
pouco conhecida ainda como bebida alcoólica de qualidade.Ainda temos a
questão dos preços, onde temos alterações cambiais frequentes mudando
nossos valores a receber de uma hora pra outra, além de ser impossível fazer
alterações constantes nos preços, como ocorrem frequentemente pelas
mudanças no câmbio. Entre outras...
10)As barreiras tarifárias causam muito empecilhos para a exportação?
Os impostos de importação de bebidas alcoólicas, são sempre muito altos em
todo o mundo, assim como os de cigarro e produtos desse tipo. Entretanto,
para nós, quando exportamos, temos o benefício de não pagar certos impostos
como ICMS e o IPI, o que nos dá resultados de ganhos 4 vezes maior, pois os
impostos das bebidas alcoólicas no mercado interno, chegam a 50%
,tornandodifícil conquistar lucros na venda no mercado interno. Portanto, as
barreiras tarifárias não afetam quando se conhece bem os números lá de fora e
se planeja estes nos custo/preços. Ademais temos os custos de logística e
transportes e despacho aduaneiro, em cada local que param as mercadorias.
Há de se conhecer bem quais são estes, e planejar bem antes de fechar a
venda, a forma de pagamento e quem é responsável por cada custo.
11)E as barreiras não-tarifárias?
Quanto as barreiras não tarifárias, há de se conhecer as regras para a entrada
do seu produto em cada país de destino. Cada um pode ter alguma exigência
específica para a entrada de seu produto, principalmente quando se trata de
bebida alcoólica. Essas exigências normalmente são quanto a teor alcoólico,
quanto mais alto teor, maiores as taxas de impostos; também com relação à s
embalagens, tamanhos padrão no mundo, rotulagens, devem conter as normas
para comunicação quanto ao consumo responsável e devem estar na língua do
país de destino. Mas essas exigências, quando se trata de alimentos e
bebidas, são normalmente feitas por qualquer país importador para segurança
na entrada de produtos, portanto são coerentes e não devem atrapalhar
nenhuma exportação.
12) Como é o modelo de distribuição? É eficiente?
Exportamos de forma direta, para nossos clientes. São eles importadores e
distribuidores off Trade de bebidas nos países de destino. Eles é quem fazem a
distribuição para o on Trade. Nossos preços têm que dar a eles as condições
de competitividade e para a distribuição, para o atacado e varejo. Temos que
pensar nos preços de todos os canais a partir do nosso preço ao importador.
13) Teve ou tem alguma dificuldade para o reconhecimento da marca no
mercado nacional e/ou internacional?
Podemos ter incapacidade de investimentos em reconhecimento de marca.O
que temos é que ter um produto devidamente registrado no MAPA e com
registro no INPI, para que a marca esteja segura.Com relação ao mercado
internacional, também é necessário fazer o registro na comunidade européia,
americana, asiáticos e em todos ou outros destinos, para a proteção da marca.
Os custos são altos para esses registros de propriedade industrial.Quanto a
reconhecimento, na maioria dos países, temos que ter os registros nos órgãos
de controles de entradas de produtos, e que quando feitos, o produto passa por
análises de aprovação quanto a qualidade, padrão, rotulagens, envazamento,
graduações, etc...Uma vez conseguindo o registro do produto, este fica
autorizado a entrar, mas tendo que ser vistoriado cada vez que entra, o que é
bastante normal por se tratar de produto para consumo humano, ainda mais de
bebida alcoólica.Temos que ser profissionais,casocontrário,tenta-se e morre na
praia, com o produto não conseguindo sair; ou, se sair, não chegando ou não
sendo autorizado a descer do navio e ser apanhado pelo importador.Isso tudo
nós não sabíamos, tendo aprendido ao longo dos anos com experiências ruins
e boas, com as quais fomos desbravando.
ANEXO II
BREVE REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O estudo de CAMELO e ROCHA sugere que a internacionalização é
uma grande estratégia no meio empresarial. Segundo Lopez e Gama (2007), o
comércio exterior contribui para o desenvolvimento sustentável do país e
alcance de uma melhor posição na economia global. Além disso, é estímulo à
eficiência e propicia aprendizado e inovação, tornando a empresa mais
qualificada.
Quando a empresa opta por atuar no mercado externo, esta encontra
novos conceitos e características. Consequentemente, ela necessita aprimorar
seus processos para encarar os desafios que virão. Ao atender diversos
mercados a empresa deve tornar-se mais flexível, de modo a atender a
demandas cada vez mais exigentes.
Além de realizar a pesquisa de mercado, a empresa também deve
conhecer das características do produto que são mais relevantes no mercado
exterior como as preferências de consumo, padrões de embalagens, produtos
concorrentes e as exigências do país de destino quanto à entrada dos produtos
em sua alfândega.
De acordo com o SEBRAE (2009), no caso da exportação de cachaça,
devem ser levadas em consideração questões como rotulagem, design, teor
alcoólico permitido, volume por embalagem e vários outros aspectos, de forma
que o produto seja corrigido e melhorado para acessar os mercados
estrangeiros.
Portanto, denota-se que uma pesquisa de mercado eficiente que
fundamente bem as adequações nas quais o produto será submetido são
fundamentais para que atinja seu mercado-alvo no cenário internacional.
A cachaça, original do Brasil, vem ganhando espaço no cenário
internacional. É muito utilizada como principal ingrediente da caipirinha,
conhecida mundialmente. Foi constatado a partir de dados obtidos no
Internacional Trade Centre, em seu segmento que compreende rum e cachaça.
A Alemanha destaca-se como principal importadora de rum e cachaça
do mundo todo.
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