A ANATOMIA DA CHARGE NUMA PERSPECTIVA DE REVOLUÇÃO SOCIOHISTÓRICA Diego Luiz Silva Gomes de Albuquerque* (UPE / FFPNN) ([email protected] ) Thiago Azevedo Sá de Oliveira* (UPE / FFPNN) ([email protected]) RESUMO A charge é um reflexo dos caracteres sócio‐históricos condicionantes de uma revolução crítica. Esse gênero descreve e reinterpreta uma realidade e os contextos que o cerca. Mediante a temática charge, este artigo visa evidenciar a funcionalidade sociohistórica da charge, sendo esta uma expressão elucidativa e satírica, que se pauta por construções identitárias através de seu caráter efêmero. PALAVRAS ‐ CHAVE: Identidade, Sociedade, História. ABSTRACT The charge is a reflection of the social and historic characters conditioners of a critical revolution. This describes gender and reinterprets a reality and contexts that the fence. On the subject charge, this article aims to demonstrate the functionality of social and historic of charge, which is a clear expression and satire, which is guided by building identity through their ephemeral nature. KEY ‐ WORDS: Identity, Society, History. * Alunos da graduação em Letras português/inglês e suas literaturas da Universidade de Pernambuco – Faculdade de Formação de Professores de Nazaré da Mata ­ UPE/FFPNM sob a orientação da professora
e mestra Helga Vanessa Assunção de Souza. INTRODUÇÃO Pensar em charge é percorrer os acontecimentos e retratar uma realidade factual e verossímia através dos caracteres históricos identitários de uma sociedade. Através da fragmentação histórica do sujeito, deu‐se gênese a uma identidade chárgica complexa, contudo, não menos representativa da sociedade contemporânea, conforme se observa no comentário abaixo. A identidade passa a ser definida historicamente e não biologicamente. O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente. [...] Se sentimos que temos uma identidade unificada desde o nascimento até a morte é apenas porque construímos uma cômoda estória sobre nós, ou confortadora “narrativa do eu”. A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia (Hall, 1998, pp. 13‐14). Ao partir de sustentação teórica acima exposta, retêm‐se uma compreensão panorâmica da charge e da vida social contemporânea a que esta se atém e, concomitantemente de sua construção histórica enquanto gênero de expressão funcional. Com sua herança advinda da França, o gênero charge trouxe uma renovação inusitada e burlesca de reverter os conceitos impostos pela aristocracia de poder. A charge por meio do docente re‐apresenta uma “inflexão ambivalente” sobre os fatos quotidianos expostos pelo ser social em sua vivencia de comum unidade (COMUNIDADE), assim explana Bauman em: Em nosso mundo de “individualização” em excesso, as identidades são bênçãos ambíguas. Oscilam entre o sonho e o pesadelo, e não há como dizer quando um se transforma no outro. Na maior parte do tempo 1 essa duas modalidades liquido‐modernas de identidade coabitam, mesmo que localizadas em diferentes níveis de consciência. Num ambiente de vida líquido‐moderno, as identidades talvez sejam as encarnações mais comuns, mais aguçadas, mais profundamente sentidas e perturbadoras da ambivalência Bauman (2004.38). Essa “ambivalência” nos suscita a um aspecto multifacetado chargístico, Por isso, inclinemo ‐nos em um ângulo de 90 graus e reflitamos sobre as perplexidades a que se detêm a ordem do texto da charge. Linguagem, interação, sagacidade, metáfora, os contornos estéticos e ficcionais do texto transcendem e refletem à luz do gênero discursivo da charge um rumo ao seu uso como suporte de tecnologia na educação, o rumo da polivalência. 1 O termo “liquído­moderno” contextualiza a fluidez de atuação e comportamento da sociedade contemporânea.
A charge é, antes de tudo uma ferramenta e um produto educativo de formação moral e de valores postos em discussões pelos professores/educadores por meios críticos e satíricos. A charge traz o registro do vivenciado, do flagrado, com o intuito de veiculação de informações a partir de uma óptica fincada nos interesses de quem as produziu. Perquiri‐las, portanto, tem por objetivo identificar os jogos de interesses que entrecruzam a esfera política, indicando, perspectivas, possibilidades e intenções de se lidar com a memória e a história. 2 1. A gênese da charge como induto de uma revolução FIGURA I Charge de Honoré Daumier, "Gargantua", litografia, 1831. Por causa dessa charge, do Rei da França como Gargantua, Daumier ficou preso seis meses no Ste Pelagic em 1832 A charge é originária da França e significa carga, ou seja, a arte do exagero e/ou ataque violento (carga de cavalaria). Herdeira do jornalismo ilustrado nos séculos XVIII e XIX tem seus alicerces enraizados na iconografia da Idade Média e no ofício dos ateliês de pinturas dos séculos XV e XVI (Nery, 2001) A criação da charge fora apresentada de modo perspicaz e inesperado por “gethos” opostos aos poderes partidários. Esses “gethos” sofreram represálias por parte política, porém, formataram‐se num verdadeiro grupo hegemônico de apelo às causas populares. No sentido exemplário de Mikhail Bakhtin, em sua análise de construção interna, a charge é bivocal, por ter uma relação discursiva entre produtor e receptor. Ela traz assim uma interdiscursividade, uma inversão de valores sociais 2 Os subtítulos remetem a um processo de construção e de aplicabilidade histórica revolucionária, retomada com o indícios identificadores de uma guerra, excetua­se, porém, o subtítulo 5­ ‘As transposições e o alcance global da charge’, pois este se vincula a um ambiente contemporâneo de tecnologia e não, prioritariamente de historicismo.
no focar mais nítido da realidade. Vale, então, dizer que “a paródia deforma o texto original, subvertendo sua estrutura ou sentido”. (Sant´anna, 2001). O autor reitera que “não estranha que as ideologias estéticas e políticas que controlam o cenário social considerem as paródias sempre como um discurso in‐desejável” (Sant´anna, 2001). A charge serve como uma espécie de âncora, isto é, uma alavanca que extrai os conceitos de um povo enquanto sociedade, para aguçar a comicidade crítica e a investigação do comportamento humano, como atestamos na figura I,quando em 1832, Honoré Daumier ambientaliza o cenário histórico Francês, contexto de despotismo esclarecido do monarca franco Luís Filipe (1773 – 1850). 3 2. A CHARGE: O “ESTOPIM” REVOLUCIONÁRIO No perpassar da história a partir do século XIX, dentro dos cataclismas sociais, a charge rompe e contrapõe cismas políticos e religiosos com suas caricaturas burlescas. O poder da charge cria e destrói ícones com seu simbolismo exacerbado. Os impérios, o Estado, a Igreja sempre se utilizaram da força para evitar opiniões contrárias, o que não extirpou do seio social o anseio de manifestar e tornar real as conclamações de protesto, eis então, um poder fiscalizador e exclamativo perante as injustiças sociais e históricas vigentes no país ‐ a charge. A função do humor na charge é questionar o poder interruptamente, por isso ela é altamente revolucionária. Quando Chaplin fazia de bobo um guarda de rua, em seus filmes, sabia que ridicularizar o poder descontrai o ser humano e o faz rir. Portanto o humor veio para contrapor regras sociais, questioná‐las e descontrai o ambiente social (Lovetro, 2008). Bakthin reforça: Numa sociedade estratificada, com papéis e posições tão claramente estabelecidos, a hierarquia, o poder e a ordem são recorrentes. Antes, sem tal estrutura, os elementos cômicos, presentes em rituais sérios, eram considerados tão divinos quanto a celebração a que serviam. Com o surgimento de uma nova organização social, aqueles elementos foram re‐apropriados para dar conta de suprir as dificuldades do povo com o novo modelo. “... as formas cômicas [...] adquirem um caráter não‐oficial, seu sentido modifica‐se, elas complicam‐se e aprofundam‐se, para transformarem‐se finalmente nas formas fundamentais de expressão da sensação popular no mundo, da cultura popular” (Bakthin: 1993). Há uma re‐apropriação de recursos advindos de uma nova organização social. Esses recursos são humorísticos, em caráter não oficial, e transformam a relação de pertinência entre a sociedade e o mundo. Um gênero que nos permite esta “sensação” é o gênero da charge. Ela representa o estabelecimento de uma nova organização e dos entraves circunstanciados pela modificação do modelo social fundamentado. 3 Este subtítulo não apresenta uma exemplificação com o uso da charge, pois se refere às causas propositivas de uma revolução – um estopim, e não às suas conseqüências enquanto guerra, de fato.
A charge como recurso expressivo vê o mundo sob o olhar de um “narrador‐personagem”. Através de seus idealizadores ela identifica o contexto social que a cerca e, ainda permite ao seu criador a perpetuação de conceitos ligados a sua ideologia individual ou senão, da empresa ou entidade a que este se insere. Deste modo, ponderar sobre o poder vigente foi considerado crime em diversos momentos da história. O castigo, a culpa, a tortura, o isolamento foram mecanismos largamente utilizados para controlar os pensamentos da sociedade. Curiosamente, a sociedade chargística, motivou‐se e sobrepôs à repressão e a censura. 3. UMA ALAVANCA DE CONTESTAÇÃO: O RISO FIGURA II Charge de Agostini (1882), em que D. Pedro II é “derrubado do trono” O riso transfigurou‐se em facetas expressivas e contrastantes da cultura popular. O risível resvala sob o escapismo e 4 explicita a “fuga situacional do fato” ao protestar e ser constituinte de um processo irônico. Inúmeras teorias desde Aristóteles procuram de alguma forma compreender o humor. Para o filósofo grego a associação com a tragédia, sendo seu oposto, está diretamente relacionada aos sentimentos humanos e seu conjunto de valores, tratando do risível, do que é vergonhoso feio ou vil. Moraes sintetiza: Humor e, em particular, Charge, possuem a capacidade de informar e expressar as tensões e expectativas que marcam pessoas, nações, culturas, artes, instituições e atores sociais e intelectuais. Humor e Charge 4 O termo “fuga situacional do fato” remete a uma expressão representativa do caractere de escapismo presente no gênero charge através do humor.
consumam‐se, simultaneamente como produtores de impactos; condensadores de formas e projetos sociais em disputa; e, por fim, instrumentos de agilização comunicacionais. (Moraes, 2005) Logo, o efeito cômico direciona a humanidade para os seus respectivos desafios sociohistóricos e individuais que tem por meta satirizar os registros de marcas identidárias, caracterizantes da dramaticidade, esteticismo, e exarcebações resignatárias dos detalhes satíricos peculiares ao processo de narração do gênero charge. Na composição dessas charges, com intenção de fazer crítica, o autor parte do jogo interacional entre os personagens para produzir humor e denunciar atuações e/ou comportamentos de elementos da sociedade. Construindo uma relação entre o esperado e o não‐esperado em termos de modelo social no jogo interativo entre os personagens, o autor proporciona a quebra na expectativa, que gera graça e leva à crítica para o público leitor. Toma‐se, por exemplo, Angelo Agostini, artista italiano, imigrante, caricaturista, ilustrador, desenhista, crítico de arte e pintor, que exerceu forte influência na opinião pública da época através das charges. Fundada por Agostini em 1876, a “Revista Ilustrada” fora um marco na imprensa brasileira por seu engajamento político e a conclamação da arte através das charges. Com tons anticlericais e republicanos, a figura II,charge em que Dom Pedro II, imperador lusitano, é “derrubado do trono”, enuncia a queda não só do imperador, mas, além disto, uma derrocada de um sistema organizacional de poder, a ser consumado, tempos depois especificamente, em 1889 com a proclamação da república. Sendo assim, a charge traz em si teores satíricos e provocativos que antecipam os interesses da editoria da “Revista Ilustrada”, que ganha apelo público pelo seu caráter crítico, contudo humorístico. 4. “CRIAR É DAR FORMA AO PRÓPRIO DESTINO” 5 : A (RE) EVOLUÇÃO FIGURA III 5 O subtítulo subsidia­se da frase de Albert Camus (1913­1960), escritor e filósofo nascido na Argélia.
Angelo Agostini, "Don Quixote" (1895‐1903) que por meio da caricatura e do humor, atribuem ao cavaleiro e a seu escudeiro a missão de endireitar a vida política e social brasileira. A charge em seu processo criacional, constrói‐se por meio da intertextualidade na representação entre os diversos meios de expressão que extrai do sistema de linguagem verbal e não‐verbal a realidade de forma satírica e humorística. O sentido da charge se cria a partir de um contrato inter‐relacional entre os interlocutores, o autor/ledor. A charge objetiva convencer, persuadir – de acordo com uma determinada ideologia – de acordo com a perspectiva individual do interlocutor, a fim de tornar o leitor consciente do real. A Charge é também uma expressão cultural, de um lugar e de uma época – logo sociohistórica. A observação das charges pode relevar muito sobre os padrões culturais de um povo, de uma sociedade. Neste quesito, parece ser o Brasil um privilegiado, pois desde os tempos do Império, percebemos que este solo possui importantes chargistas a desvelar com bom humor os fatos do dia‐a‐dia político do país. A charge de Agostini “Dom Quixote” retrata bem os seus interesses em explicar através da imagem os propósitos republicanos. Observa‐se, no retrato da charge, tons literários, pois faz uma comparação entre a obra de Miguel de Cervantes,em que Agostini se apropria da literariedade para dar uma nova forma a realidade vigente da época da então sociedade brasileira. Ao ser o produtor de imagens integrante dos grupos de resistência contra os ditames de nuances políticas, eclesiásticas, culturais e/ou econômicas, as formas de registro chárgico impulsionam a ruptura de pensamento, expressão e comportamento de uma sociedade quanto às atitudes que a constitui e a desfigura. Dá‐se partida a um processo revolucionário de construção de uma nova ordem lingüística, social e discursiva e, por conseguinte, de uma nova coletividade humanística que não se faz muda perante as mudanças da qual a funda e a cerceia. Criar é circunstanciar os novos rumos a serem seguidos ou propostos pelos seres hábeis a fazer cultura, ou seja, Homo sapiens sapiens. Criticar por meio do suporte chargístico é permitir ao homem ser instrumento de produção de seu 6 próprio destino, de suas convicções ideológicas e de sua identidade temporal histórica ‐ uma (RE)‐evolução . 6 A definição (RE)­evolução faz alusão a proposta do artigo, isto é, a charge como um instrumento de revolução dentro da historicidade da sociedade em seus vínculos de identidade.
5. AS TRANSPOSIÇÕES E O ALCANCE GLOBAL DA CHARGE FIGURA IV As modificações que alteraram as estruturas da vida social ao longo do tempo e do espaço desembocam no fenômeno identitário da sociedade diacrônica do século XXI, a globalização. Giddens elucida: A “globalização” se refere aqueles processos, atuantes numa escala global, que atravessam fronteiras nacionais, integrando e conectando comunidades e organizações em novas combinações de espaço‐tempo, tornando o mundo em realidade e em experiência, mais interconectado. A globalização implica um movimento de distanciamento da idéia sociológica clássica da “sociedade” como um sistema bem delimitado e sua substituição por uma perspectiva que se encontra na forma como a vida social está ordenada ao longo do tempo e do espaço (Giddens,1990, p.64). Bauman reforça a idéia do transitório por meio da explicitação da contemporaneidade como sendo o período dinâmico da “modernidade liquida” em que ele complementa: A modernidade líquida coloca a identidade em um processo de transformação que provoca fenômenos como a crise do multiculturalismo... ou as comunidades virtuais da internet (Vecchi, 2004). Para o historiador, a questão da identidade não pode mais ser tratada pelos instrumentos tradicionais de entendimento. Faz‐se necessário desenvolver uma reflexão mais adaptada à dinâmica do transitório, que se impõe sobre o perene. (Bauman, 2004)
Nesta “guerra” entre o dinâmico e o perene, surge a tecnologia como instrumento de atuação imperativa de uma identidade, agora, multicultural e plurissignificativa. Pelo transcurso multidimensional da tecnologia, nasce a charge como caracteres de gênero hipertextual. Entende‐se o hipertexto como um meio de informação que existe on‐line possuindo uma estrutura composta por blocos de informação interligados, através de links (interconexões ou nexos) eletrônicos, oferece ao usuário diferentes trajetos para a leitura, provendo os recursos de informação de forma não linear. (Genette,1982,p.35). A charge constitui‐se num hipertexto que estabelece uma inter‐relação de imitação e transformação com um 7 hipotexto . Segundo Gerárd Genette, existe uma metatextualidade entre a linguagem chárgica e o hipotexto num ciclo dialogal. Genette entende por hipertextualidade toda simbiose de um texto B (a que denomina hipertexto) a um texto anterior (a que denomina hipotexto). (Genette,1982,p.35) Num processo evolutivo, a charge constitui‐se e se utiliza de efeitos áudios‐visuais dos quais proporcionam a sociedade a instauração de uma relação de vida pautada na velocidade, eficácia e produtividade de um mundo globalizado. O termo para denominar este tipo de charge intitula‐se “charge virtual”.Este nome foi uitilizado pela professora Helga Vanessa Assunção de Souza em sua dissertação, “ A Charge virtual e a construção de identidades”. A identidade na esfera educacional pode ser projetada por meio das representações chargísticas. Assim, o ensino se intensifica, pois a charge é antes de tudo um instrumento de educação, de formação moral, por trazer valores que podem ser discutidos ou estereotipados por meio de ironias e crítica. Portanto, a charge é um poderoso aliado dos professores, porque promove a interação entres as disciplinas curriculares, pela sua característica cômica e social, e por compor recursos lingüísticos que deverão ser explorados pelo professor. Assim, promove o interesse por parte dos alunos que desenvolvem uma visão crítica e uma socialização de conhecimento (Albuquerque; Oliveira, 2008). Giddens amplia este discurso em: As transformações na auto‐identidade e a globalização, como quero propor, são os dois pólos da dialética do local e do global nas condições da alta modernidade. Em outras palavras, mudanças em aspectos íntimos da vida pessoal estão diretamente ligadas ao estabelecimento de conexões sociais de grande amplitude. Não quero negar a existência de muitos tipos de conexões intermediárias – por exemplo, entre localidades e organizações estatais. Mas o nível do distanciamento tempo‐espaço introduzido pela alta 7 Termo sinônimo de subtexto ou texto marginal ao texto principal, normalmente ocupado por notas de rodapé, posfácio, referências bibliográficas, etc. Distingue­se do hipertexto, que recolhe todas as partes dinâmicas de um texto de base que se multiplica em outros textos; do paratexto, que funciona como texto complementar que o leitor invoca para um dado texto estudado ou lido, como listas de abreviaturas, notas marginais ou obras de outros autores mencionados no texto principal; do intertexto, ou outros textos que se entrecruzam no texto principal. (Ceia, 2005)
modernidade é tão amplo que, pela primeira vez na história humana, “eu” e “sociedade” estão inter‐ relacionados num meio global. (Giddens,2002). A charge: “Personagens da crise” ‐ 2005, de Aroeira, relata o acontecimento político e histórico do Brasil no período de investigação dos desfalques financeiros efetuado por parlamentares ligados a máfia do lobby na câmara federal. Aroeira traz à tona um dos principais e mais expressivos entrevistadores do Brasil, Jô Soares, como sendo este uma voz representativa dos cidadãos brasileiros no propósito de indagar os “ladrões de terno e gravata” sobre os seus respectivos atos de infração, contudo, de forma muito bem humorada; o que é peculiar ao entrevistador Jô Soares e ao povo brasileiro. 6. ARREMATE FINALIZATIVO Hipotetiza‐se através dos instrumentos por nós estudados que a charge, por ser de rápida leitura e por transmitir diversas informações de uma só vez, ela se insinua como um gênero atraente aos olhos de seu público ‐ o leitor. No entanto, o ledor do texto chárgico tem que ter um conhecimento prévio acerca do tema abordado para captar seu teor critico, pois o foco da charge representa e sintetiza uma realidade que só os conhecedores do assunto poderão externar alguma opinião. A educação tem que servir como formadora de cidadãos capazes de entender o seu contexto social e nele interferir, por isso o educador como formador de opinião tem que estar atualizado a fim de orientar e auxiliar seus educandos para que estes possam compreender que há outras realidades a serem consideradas. Deste modo encerra Bressamin: A charge é um gênero de discurso que lida com o repertório disponível nas práticas socioculturais imediatas; ligando‐se sempre ao modo como um determinado grupo vê o outro. Com isso percebe‐se que a humanidade não pára de evoluir, e assim evolui também a linguagem por ela usada; tanto a linguagem oral quanto a escrita. Os gêneros textuais, utilizados nos mais diversos ambientes lingüísticos, retratam de forma ideal a evolução da linguagem (Bressamin, 2006). Eis um repertório forjado inevitavelmente a partir de uma matéria contingencial. Portanto, na sua forma atual, a charge mantém viva muita das tradições expressivas que a compuseram historicamente, definindo‐se pela apropriação e reatualização constantes de diferentes linguagens: pictórica, literária e teatral.
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