DISCURSO PROFERIDO PELO FORMANDO ARLINDO DE SOUZA,
QUANDO DE SUA FORMATURA NO CURSO DE GEOGRAFIA
Itajaí, 13 de dezembro de 1974.
Senhores,
No pórtico do discurso, que fui pelos meus colegas credenciado a proferir,
quero reverentemente saudar, em nome de todos os licenciados desta noite, as
benemerentes pessoas daqueles, cujos nomes desejamos especialmente
enaltecer:
Nosso Paraninfo – Professor RENATO ANDRÉ WOHLKE
Nosso Patrono – Professor Doutor EDISON VILLELA
Nossos Homenageados de Honra:
Professor Roberto M. Klein,
Professor Américo A. da Costa Souto;
Prof. Querino Alfredo Flach;
Prof. Labeciyl Tavares
E os Distintos Mestres, sob cujo nome as turmas se apresentam à Sociedade:
Prof. Milton Digiácomo.
Prof. Luiz Henrique Mendes de Campos,
Prof. José Gomes,
Prof. Lygia Batschauer da Cruz.
E após o público registro desta HOMENAGEM, eu principio.
Que o esforço de cada um encontre o abraço de uma canção inventada no
trabalho.
Não a glória fatigada de um suor que corre em vão.
Que o esforço do dia não chegue, sabendo a resto de luta e a troféu de
humilhação.
Que o esforço seja como flor, festivamente colhida por quem deu ajuda ao
chão.
Mais do que flor, seja fruto, nascendo límpido e simples, sempre ao alcance da
mão.
Da minha e da tua mão.
Excelentíssimas autoridades,
Queridos homenageados,
Senhores professores,
Distintas senhoras e senhores,
Meus inolvidáveis colegas de Faculdade:
O que seria de nós, se não sentíssemos subir, lá de dentro do coração
necessitado, incompleto, o sonho que parte a roda-viva, quebra a onda do
cotidiano e faz surgir esperança numa casa vazia? Aquela esperança oriunda
da
consciência
de
criatura,
inacabada,
sim,
mas
em
potência
de
desenvolvimento.
E quanto mais se alonga este sonho agora, que nos vemos e enxergamos no
fundo de nós mesmos, chegando à convicção de que nunca seríamos o que
somos, se dependêssemos só de nós mesmos.
Porque, na verdade, carregamos o resumo do trabalho de muitos. E isto nos
leva à maravilhosas descoberta de que somos sinais de comunhão pelo
esforço, pelo trabalho, isto é, da união comum, em nós, de muitos outros que,
pelo seu trabalho, nos construíram e assim se construíram a si também.
A técnica, senhores, vai-se gradativamente apossando dos domínios do
homem.
Hoje, quando queremos diferençar um país do outro, classificamo-lo de
tecnológico ou pré-tecnológico.
Ora, se o meio artificial que suscita a civilização tecnológica separa o homem
da terra.
Isto é literalmente verdade.
Já não se pisa mais na terra com os pés descalços, não se cultiva ela mais
com as mãos.
A mão do homem tecnológico é delicada e sem calos.
Do décimo quarto andar de um edifício, a terra não passa de uma paisagem a
contemplar.
As estradas asfaltadas, margeadas de postes elétricos e poluídas de
publicidade, são artérias vitais de nossa civilização.
Por outro lado, a civilização tecnológica favorece o intercâmbio mundial entre
as pessoas.
Realizam-se congressos, feiras, jogos olímpicos e até campeonatos mundiais.
Em suma, a técnica interliga os habitantes da terra, contribui para o
conhecimento mútuo e talvez para uma paz mais duradoura.
A consciência de estarmos sendo assoberbados pela técnica deve despertar
em nós o senso prático das coisas e levar-nos à realidade.
Do contrário, seremos dominados por aquela que devêramos dominar.
No mundo de hoje, prepondera a influência dos meios de comunicação social.
O planeta realmente tornou-se pequeno, e os povos tendem cada vez mais a
se aproximar, formando o que McLuan chama de “aldeia global”.
Foi uma autêntica explosão, quando pela primeira vez nos albores da História,
os povos se espalharam pelo mundo, buscando novas terras, afastando-se uns
dos outros.
Depois, com o avanço tecnológico e por uma necessidade interna, eles
voltaram a se aproximar.
Ora, afastados ou próximos, bem ou mal, estão todos sendo influenciados pela
comunicação.
O homem já não é aquele ser nativo que se contenta com o que é. Todos
querem ir além, querem sair de si.
Vão-se infiltrando em todos os campos, modificando seus hábitos e ampliando
seus conhecimentos.
O importante de tudo isto, porém, é comunicar-se.
É pôr-se em relação um com o outro.
É estabelecer eu uma ligação contigo, com quem estou fadado a penetrar
conjuntamente no dia de amanhã.
E isto é amor... Haverá lugar para ele. Nas horas em que a solidão me força a
meditar, quando penso no ontem, que me deu prazeres e no hoje, que me dá
amores.
O amanhã como será? Pensando no ontem e no hoje, sinto que é preciso
descobrir-me, procurar ser aquilo para que nasci.
Alguém que se descobriu como pessoa e descobriu os outros como um valor,
não se deixará levar pela vida, mas saberá conduzir com arte a própria vida.
Tal, senhores, é o teor filosófico da interpretação que a esta parcela do mundo
e da vida dão os 167 licenciados de 1974 da nossa Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras.
Porque eu falo não só pelos 32 do Curso de Geografia. Falo também pelos 37
nobres companheiros do Curso de História. Falo pelos 30 licenciados do Curso
de Letras. Falo ainda pelos 68 jovens formandos do Curso de Pedagogia.
Nisto, senhores, estamos todos unidos: em exercer a nossa incipiente atividade
profissional conforme prometemos – tendo como objetivo a causa da cultura,
em todos os seus campos, e a realização plena do nosso próximo e de nós
mesmos.
Para tanto proclamamos solidariamente a eloqüente mensagem que constitui o
nosso lema:
“Todos os atos humanos são sementes para a vida.
E a vida é tempo de semeadura.
Um momento de tempo perdido é um momento de homem perdido”.
Disse.
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