10/30/2015 | Souza Cescon | AE News Broadcast | Cynthia Decloedt | BR EMPRESAS REPACTUAM CONTRATOS PARA NÃO ACELERAR PAGAMENTO DE SUAS DÍVIDAS São Paulo, 30/10/2015 - O inesperado salto das taxas de juro e do câmbio promoveu um destacado aumento no número de empresas repactuando ou pedindo suspensão de cláusulas de contratos de empréstimo que, se descumpridas, podem levar a um vencimento antecipado de até todas as suas dívidas. A maior parte dos covenants existem cláusulas de alavancagem, que relacionam a dívida com o Ebitda, e que não podem ser rompidas por um mínimo de dois trimestres. Carregando uma dívida líquida de quase R$ 6 bilhões, a Usiminas informou ontem que iniciará conversas com credores, a maioria do segmento bancário. A alavancagem da siderúrgica saltou para 6,8 vezes em setembro, de 3,7 vezes em junho, enquanto os contratos da companhia preveem alavancagem de 3,5 vezes. Outras empresas estão chamando debenturistas para assembleias a fim de negociar mudanças nas cláusulas que contêm parâmetros para proteger os investidores. Entre as mais recentes, a unidade portuária do Rio de Janeiro do Grupo Libra, as empresas de concessões Triunfo e Arteris, a Light, AES Sul e várias incorporadoras, como a PDG. Especialistas dizem que esse movimento deve aumentar nos próximos meses e estenderse pelo menos até o primeiro trimestre de 2016. "Havia previsão de recessão e as empresas vinham se preparando desde o começo do ano, assim como os credores sabiam que iriam ter de conversar com alguma ou outra empresa. O aumento da taxa de juro e a desvalorização do real eram previstos, mas não com essa velocidade e a intensidade", afirma Joaquim Oliveira, sócio das áreas de bancário & financiamentos e mercado de capitais do Souza Cescon. Notando que as negociações de cláusulas financeiras de contratos de empréstimos aumentaram sensivelmente, Oliveira prevê continuidade de tais conversas por mais dois trimestres. Como as negociações são desgastantes, as companhias primeiramente fazem um esforço extra de contenção de despesas para tentar superar as dificuldades com seus passivos, explica o advogado. "Isso retarda as renegociações e, portanto, acredito que esse ciclo vai se acentuar e estender-se a, pelo menos, o primeiro trimestre de 2016", prevê. Oliveira explica que muitas dessas empresas que chamam credores à mesa foram pegas no meio de um ciclo de investimento, para o qual se prepararam nos últimos anos, aproveitando a ampla liquidez do mercado, tomando dívida. "A queda em suas receitas, como consequência da recessão econômica, e a elevação do nível de endividamento na esteira dos efeitos da desvalorização do real, interromperam tais planos", observou. Antonio Amaro, sócio e gerente responsável pela área de agente fiduciário de CRIs, debêntures, Letras Financeiras e Notas Promissórias do Oliveira Trust, afirma que as renegociações de debêntures convocadas pela casa aumentaram no mínimo 30% este ano. "Temos um ano diferente dos anteriores; fomos acionados em maior número de vezes do que nos outros anos", diz. "A crise chegou muito forte e rápida, se a empresa emitiu um papel com um índice que estava justo, provavelmente está tendo quebra desse compromisso agora", observou. Amaro afirmou que a maioria das renegociações tem resultado em ajuste dos índices de alavancagem ou postergação do pagamento de cupom, acompanhados de pedido de garantia adicional, como uma alienação fiduciária ou de recebível. As garantias têm sido utilizadas, segundo Amaro, em substituição aos "waiver fees", uma espécie de multa pelo descumprimento da cláusula. O advogado da Souza Cescon acrescenta que a indefinição macroeconômica dificulta as renegociações, uma vez que as companhias não têm ciência de quando terão suas receitas normalizadas e de quando serão capazes de reduzir os índices de alavancagem. "A negociação fica mais difícil em um ambiente como este, porque não conseguem mostrar um cronograma para os credores. Então as negociações acabam resultando em postergação de um acordo e carência no pagamento de juro, com complementação com garantia real ou reforço de garantia existente", destacou. Oliveira observa que, ainda assim, o jogo está favorável para as empresas, uma vez que, especialmente quando o credor é uma instituição financeira. "Obviamente é uma relação tensa, mas os credores terão de conviver com essa situação. Está claro que as companhias que negociam hoje estão com pouca flexibilidade financeira e não estão buscando preservar caixa ou liberar limites para tomar mais dívida", diz.