Política > | 11 | ZERO HORA > QUARTA | 21 | MAIO | 2008 IVAN DE ANDRADE, DIVULGAÇÃO Governo do Estado Vice voltou a falar de irregularidades na gestão do Banrisul Feijó reabre confronto com Piratini LEANDRO FONTOURA Há 120 dias, a governadora Yeda Crusius e o vice Paulo Afonso Feijó apareceram sorrindo lado a lado. Era a marca de uma trégua após 15 meses de conflito aberto. O pacto de convivência acabou ontem. Ao voltar a pedir o afastamento de Fernando Lemos da presidência do Banrisul, Feijó retomou a guerra contra o Piratini. – Eu apoiaria uma CPI do Banrisul, mas o Legislativo tem autonomia para entender se isso é válido ou não para a sociedade – afirmou Feijó, ressaltando que ocorre na instituição um esquema semelhante ao descoberto no Detran. O estopim para a nova colisão entre Yeda e o vice é um documento preliminar elaborado por técnicos do Tribunal de Contas do Estado (TCE) com base num dossiê de suspeitas elaborado por Feijó no ano passado contra a direção do Banrisul. Os auditores apontam irregularidades em sete contratos com a Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Faurgs) no valor de cerca de R$ 91,7 milhões desde 2000. As principais falhas seriam dispensa indevida de licitação, subcontratações e evasão de tributos. Na quinta-feira, Feijó tentou entregar a inspeção à governadora em audiência. Yeda se recusou a receber o material e pediu que ele o protocolasse para permitir o trâmite formal. O vice disse ontem que havia dado alguns dias de prazo para que o Piratini tomasse alguma medida. Na segunda-feira, uma polêmica envolvendo Yeda e o ex-secretário da Segurança e deputado federal Enio Bacci (PDT), que prestou depoimen- to à CPI do Detran, abriu caminho para o gesto do vice de entregar documentos sobre o Banrisul à governadora. Bacci afirmou ter alertado Yeda sobre suspeitas de corrupção no Detran, e o Piratini respondeu que o ex-secretário não havia formalizado o alerta por escrito. – Se eu fosse governador, teria afastado o presidente do banco há Em entrevista no palácio, Yeda respondeu às críticas do vice-governador e do ex-secretário de Segurança Enio Bacci um ano e meio – disse Feijó. Yeda diz que “tempo da degola já passou” Em resposta ao vice, a governadora convocou a imprensa ao palácio. Ela disse que vai esperar os resultados das apurações sobre o caso e que o “tempo da degola já passou”: – Quando me chega um documento, mando averiguar. Feijó me trouxe um envelope cheio de folhas. Eu disse: “Me encaminha isso como um documento e não um conjunto de folhas. Autoridade pública tem responsabilidade”. Para Feijó, uma CPI poderia apurar se houve desvio de dinheiro nos convênios com a Faurgs. Ele compara os contratos do banco com o esquema envolvendo o Detran e duas fundações. Feijó afirmou que o termo de ajustamento de conduta (TAC) assinado ontem por Lemos junto ao Ministério Público Estadual não é suficiente por não investigar o que ocorreu até agora: – Parte do dinheiro saiu do Banrisul e não chegou à Faurgs – afirmou o vice-governador. O desencontro entre Feijó e Yeda já havia aparecido no início do mês. Antes de viajar aos Estados Unidos, a governadora fez suspense sobre a passagem de cargo até a última hora. Lemos diz que acordo acaba com polêmica Evitando comentar as declarações do vice-governador Paulo Afonso Feijó, o presidente do Banrisul, Fernando Lemos afirmou ontem que a assinatura de um termo de ajustamento de conduta (TAC) junto ao Ministério Público Estadual encerrou a polêmica do contrato do banco com a Faurgs. – O Ministério Público examinou os contratos e optou por um TAC. Entendemos que deveríamos aceitar a proposta e acabar com o bate-boca – afirmou Lemos. De acordo com o termo assinado ontem, o Banrisul comprometeu-se a substituir os contratos da Faurgs por convênios firmados por meio de licitação e por contratação de servidores de carreira. A troca será feita num período de transição, com redução progressiva das horas de serviço. O banco assumiu o compromisso de não realizar novas contratações com a fundação mediante dispensa de concorrência pública para serviços relacionados à infor- mática sob pena de ser multado. O TAC é resultado de um inquérito civil presidido pelo promotor Eduardo Iriart com base num dossiê de denúncias elaborado pelo vicegovernador Paulo Afonso Feijó no ano passado contra o presidente do Banrisul, Fernando Lemos. Fundação terceirizou tarefas a empresas Para o MP, no caso da Faurgs a dispensa de licitação, prevista na legislação para convênios do poder público com fundações ligadas a universidades, é ilegal em razão de subcontratações. Apesar de ser responsável pelos serviços, a Faurgs terceirizou a execução das tarefas a empresas. Dos três contratos em vigor hoje, de acordo com Lemos, um se encerra neste ano e outro, em 2009. O último, que deveria expirar em 2011, terá a extinção antecipada para outubro de 2010. ➧ [email protected] Por que os contratos foram investigados DANIEL MARENCO, BD – 23/01/08 > As investigações sobre contratos do Banrisul com a Faurgs têm como base um dossiê do vice-governador Paulo Afonso Feijó contra a direção do banco. > O vice chegou a afirmar que demitiria Lemos caso assumisse o Palácio Piratini. Indicado pelo PMDB, Lemos chegou ao posto no governo Germano Rigotto (2003-2006) e foi mantido pela governadora Yeda Crusius. > Feijó resolveu encaminhar suas suspeitas a órgãos de fiscalização. Em janeiro, técnicos do TCE concluíram um relatório preliminar apontando irregularidades Em janeiro, Feijó e Yeda se reuniram no Piratini para selar um acordo de paz nos contratos. A seguir, trechos da inspeção do TCE: Dispensa de licitação – A dispensa de concorrência, diz o texto, só é válida quando o objetivo do contrato tenha relação com pesquisa, ensino ou desenvolvimento institucional. Para os auditores, os serviços prestados pela Faurgs são uma exploração comercial comum. Subcontratações – A Faurgs, aponta o relatório, não executou os serviços e preferiu terceirizá-los a outras empresas, o que caracteriza, segundo os técnicos, burla ao processo licitatório. Yeda rebate insinuações de ex-secretário Um dia depois do depoimento do deputado federal Enio Bacci (PDT) à CPI do Detran, a governadora Yeda Crusius desclassificou ontem as declarações do ex-colaborador que foi secretário da Segurança no início da sua gestão no ano passado. – Eu pedi que ele tomasse uma atitude. Se ele não o fez, que não venha jogar no meu colo – afirmou ela. Yeda se referiu às acusações de omissão feitas por Bacci. Em seu depoimento, o ex-secretário afirmou que levou à governadora informações sobre irregularidades na autarquia e que ela teria deixado de apurá-las. A governadora afirmou ter dado carta branca para o então secretário agir da forma como considerasse conveniente em relação ao Detran enquanto o órgão não fosse transferido. No início da gestão, Yeda ordenou a mudança da autarquia da Segurança para a pasta da Administração. Ela argumentou ontem que Bacci, na época, não fez qualquer denúncia e apenas queria manter o Detran sob seu controle. Yeda afirmou que havia apenas “rumores, intrigas, briga de comadre e bate-boca” e nenhum documento formal sobre denúncias. A governadora alegou que o governo realizou uma série de medidas para sanear o Detran, como uma sindicância e o cancelamento do contrato com a Fundae. – Não posso levar em consideração a palavra de Bacci. Não vou bater-boca – disse ela, ressaltando que demitiu o secretário porque ele não respondeu aos chamados dela para explicar denúncias que haviam contra ele.