PÚBLICO, SEX 25 SET 2015 | 19
Boquilobo tenta
manter-se como
Reserva da Biosfera
Ambiente
Foi entregue esta semana
na UNESCO o documento
que prova a adaptação
às novas exigências da
classificação
O paul do Boquilobo, primeira Reserva da Biosfera reconhecida pela
UNESCO em Portugal, concluiu esta semana o processo para manter o
galardão, apesar da poluição do rio
Almonda, que atravessa aquela área
protegida partilhada entre os concelhos da Golegã e de Torres Novas.
O presidente da reserva, Mário Antunes, que é também presidente da
organização não-governamental de
ambiente ONGATejo — líder do conselho executivo que desde 2014 gere
esta Reserva da Biosfera no distrito
de Santarém —, disse ontem que foi
entregue esta semana na Comissão
Nacional da UNESCO o documento
que atesta a adaptação às novas exigências do programa MaB (Homem
e Biosfera), bem diferentes das que
vigoravam em 1981, quando a reserva
foi distinguida.
Em 2013, a UNESCO recomendou
que a Reserva da Biosfera do Paul do
Boquilobo passasse a ter um órgão
próprio — até aqui, era gerida pelo
Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) —, que integrasse os agentes locais na gestão e
que os seus limites (até agora coincidentes com os da reserva natural)
abrangessem outras componentes
para além da conservação da natureza, como a valorização dos recursos
endógenos, a investigação, a sensibilização ambiental, o desenvolvimento sustentável.
Mário Antunes afirmou que as duas primeiras recomendações foram
satisfeitas em 2014 com a criação do
novo modelo de gestão — com um
conselho executivo que integra a
ONGATejo, o ICNF e os municípios
da Golegã e de Torres Novas, e uma
comissão de acompanhamento onde têm assento 52 agentes económicos —, tendo sido agora concluída a
terceira. Esta permitiu o “acréscimo
significativo” da área abrangida, que
passou dos 550 hectares da reserva
natural para os 5900 hectares. A
alteração acrescenta à zona da conservação (nuclear, destinada à preservação da paisagem, ecossistemas
e espécies) uma zona de tampão e
outra de transição, nas quais podem
ser cumpridas as funções de desenvolvimento sustentável e de platafor-
ma de investigação, monitorização,
educação e sensibilização ambiental,
critérios actualmente exigidos para
ser Reserva da Biosfera.
“De uma única actividade passámos para oito (entre os quais o turismo, a agricultura, a pesca, os serviços), de uma área sem residentes
passámos para uma população de
8400 habitantes, de uma freguesia
passámos a abranger cinco e de um
concelho passámos para dois”, disse. Para Mário Antunes, “esta é uma
oportunidade única de valorizar e
dar visibilidade internacional à região, incorporando no território as
mais-valias endógenas aliadas à sustentabilidade”.
O conselho executivo está a ultimar um site e a criar um boletim para
divulgação de todas as actividades e
iniciativas nas várias vertentes, estando a trabalhar em redes de cooperação e a identificar oportunidades
de investimento e de candidaturas a
fundos comunitários.
“Este processo culmina no reconhecimento das potencialidades, tradições e património dos concelhos
de Golegã e Torres Novas”, disse Mário Antunes, referindo a necessidade
de “compatibilização de acções dos
vários actores locais numa estratéO paul do Boquilobo
é uma zona húmida
com elevada
biodiversidade, e é
importante para as
migrações outonais
de aves
gia única de desenvolvimento”, que
permitirá colocar este território “no
circuito internacional das Reservas
da Biosfera e do programa MaB da
UNESCO”.
O paul do Boquilobo é uma zona
húmida com elevada biodiversidade,
com destaque para uma importante
colónia de garças e de colhereiros,
sendo ponto importante nas migrações outonais de aves. Mas é atravessado pelo rio Almonda, que é ainda
alvo de descargas ilegais, sobretudo
no concelho de Torres Novas.
Como o PÚBLICO noticiou em Julho, quando chega à área protegida, o
Almonda é uma massa de água pestilenta, oleosa, verde e esbranquiçada.
Na altura, o presidente da Câmara de
Torres Novas, Pedro Ferreira, disse
ao PÚBLICO que não queria “correr o
risco de esse santuário ambiental se
transformar noutra coisa qualquer”.
Apesar da entrada em funcionamento de novas estações de tratamento
de águas residuais naquela zona, a
poluição persiste. com Lusa
Transtejo
recua na
proibição
das bicicletas
Mobilidade
Ana Rita Rogado
A empresa anunciou que
ia ser temporariamente
suspendido o transporte
de bicicletas em alguns
barcos. Mas recuou
A Transportes de Lisboa, a empresa
que agrega a Carris, o Metropolitano
e a Transtejo, anunciou anteontem
a proibição temporária do transporte de bicicletas nas ligações fluviais
do Montijo, Seixal e Cacilhas, o que
levantou várias críticas, concretamente da Câmara de Almada. Face
à contestação, a Transtejo anunciou
ontem que vai manter o transporte
destes velocípedes. A Direcção-Geral
de Recursos Naturais, Segurança e
Serviços Marítimos (DGRM) não deu
indicação para que fosse tomada esta
medida, agora revogada.
Face à decisão da transportadora,
a câmara dirigiu-se à administração
da Transtejo e à DGRM pedindo que,
no período até à introdução de adaptações necessárias, o transporte dos
veículos não fosse proibido. A empresa recuou, embora solicite aos passageiros que mantenham as bicicletas
sob vigilância e aparcadas em local
que não condicione os acessos internos das embarcações.
O PÚBLICO sabe que a DGRM não
deu qualquer indicação à Transtejo
para que fosse proibido ou suspenso temporariamente o transporte de
bicicletas, tendo apenas feito uma recomendação à empresa, em meados
do ano passado, para que considerasse a criação nas embarcações de um
espaço reservado às bicicletas. Com a
proibição, a transportadora foi além
da recomendação, tendo recuado perante a contestação, que já prometia
uma manifestação em Lisboa.
O município de Almada esclareceu em comunicado que adere desde
2001 à Semana Europeia da Mobilidade, que terminou na terça-feira, promovendo “a introdução de medidas
duradouras” e a “intermodalidade
enquanto factor essencial para a melhoria das condições de mobilidade
dos cidadãos”. A câmara sublinha
que a conjugação do deslocamento
em bicicleta com o transporte fluvial
constitui uma alternativa “barata,
saudável e interessante”. Neste sentido, a autarquia “deu prioridade ao
investimento” na rede ciclável, assegurando ligações às estações fluviais
da Trafaria e de Cacilhas. Texto editado por Ana Fernandes
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Noticia Jornal Público 25 setembro 2015