JORNAL DA
associação
médica
Abril/Maio 2006 • Página 11
ECIAL
tina de médicas que são mães
Para a psicóloga Cassandra
França, a mulher de hoje tem
uma presença marcante no mercado de trabalho e, muitas vezes,
precisa abrir mão até mesmo de
certos direitos para manter seu
lugar ao sol. “É comum a volta ao
trabalho ser antecipada, principalmente para as profissionais liberais”, diz a especialista.
A cardiologista Mônica Maria
Costa Caldas, 37 anos, também
viveu essa realidade e conta que
foi praticamente imperativa sua
volta ao trabalho. “Quando estava grávida de Luíza, hoje com
seis anos, minha jornada não era
nada fácil. Lembro de atender
com um barrigão.” Nessa época,
Caldas trabalhava na prefeitura
de Contagem, dava plantões em
CTI’s e pronto socorros e ainda
viajava, duas vezes por semana,
para Pará de Minas, a 86 quilômetros de Belo Horizonte. “Era
comum sair de casa às seis horas
da manhã e voltar bem tarde da
noite”, relata.
Depois do nascimento da segunda filha, Maria Clara, hoje
com cinco anos, a médica reduziu a carga de trabalho. “Para ter
mais tempo para mim e para as
minhas filhas, pedi exoneração
do cargo público.” Em nenhuma
das duas gestações, Caldas conseguiu cumprir sua licença maternidade. “As pessoas não entendem que a gente precisa de
um tempo mínimo para se refazer. A cobrança vem de todas as
partes: dos patrões, dos colegas
de trabalho e até mesmo dos pacientes”, critica. Grávida de
quase nove meses de seu terceiro filho, a cardiologista ri aos
se lembrar da reação de um paciente: “Mas a senhora vai ter neném? E vai tirar licença? Mas
quando a senhora volta? E quem
vai me atender?”.
Desde o ano passado, a cardiologista conseguiu organizar
seu atendimento no consultório
particular e em dois hospitais nos
quais realiza ecocardiogramas.
Seu dia começa às oito horas e
termina, normalmente, às 18 horas. “Há dois meses, decidi também reservar a segunda-feira
para o meu descanso. Assim
posso fazer as minhas coisas e
A hematologista Gianne Veloso se desdobra para ajudar o filho mais velho,
João Pedro, na lição de casa
dar um pouco mais de atenção a
meus filhos”, comemora a médica, que teve como tarefa terminar um mestrado em março do
ano passado.
Já a hematologista Gianne Veloso ainda não conseguiu reduzir
a carga de trabalho e admite que
seu escasso tempo livre é integralmente dedicado aos filhos.
Para tentar minimizar o problema, ela e o marido compraram um apartamento próximo à
região hospitalar e ao consultório. “É verdade que, para colocar
o apartamento do jeito que a
gente queria, tive de acrescentar
mais seis horas de atendimento
nos plantões de janeiro a abril. O
sacrifício valeu à pena: agora,
posso almoçar em casa praticamente todos os dias”, afirma.
Quanto às tarefas de casa, a
hematologista conta com uma
empregada que está com a família
há mais de oito anos. Ainda tinha
o auxílio de uma babá, que recentemente foi dispensada. “Ainda estamos decidindo se vamos contratar outra pessoa. Mesmo assim, dá
para trabalhar, investir na profissão e cuidar das crianças”, garante.
Entre suas aulas de mestrado e o
doutorado do marido, o casal se
reveza no “para casa” de João Pedro e no lazer com as crianças.
Finais de semana livres fazem a diferença
Trabalho e prazer. Esse é o
lema da ginecologista e obstetra
Lívia Leni de Oliveira do Nascimento, 39 anos. Mãe de Estevão,
de três anos, e Carolina, de apenas
um ano, a médica não parou de
investir na carreira com a maternidade. Neste semestre, ela defende
sua tese de mestrado e já tem planos para fazer o doutorado.
Para dar mais atenção aos filhos, no entanto, optou pela carreira pública e deixou de lado o
atendimento em consultório, que
absorvia grande parte de seu dia.
Hoje, a ginecologista não abre mão
de levar o filho na escola, nas aulas
de capoeira e de sentar-se no chão
para brincar de carrinho e boneca.
Apesar de maior flexibilidade
no trabalho, sua rotina também
não é fácil. Concursada pela Prefeitura de Belo Horizonte, começa a atender às sete horas, em
um posto de saúde da capital, e
costuma chegar em casa por
volta das 18h. Além disso, é preceptora na maternidade Odete
Valadares e realiza partos, todos
programados. “No segundo semestre do ano passado, depois
de um tempo afastada, voltei a
exercer a obstetrícia, uma das mi-
Para ter tempo de brincar com os filhos Estevão e Carolina, a ginecologista
Lívia do Nascimento abriu mão do consultório particular e só faz partos
programados
nhas grandes paixões”, conta.
Ao todo, Nascimento tem
uma jornada de trabalho de 44
horas semanais. “Com isso, consigo almoçar em casa, buscar meu
filho na escola e cuidar de mim, é
claro”, brinca. Nos finais de semana ela já avisa: “Não trabalho”.
“Sábado e domingo são do Estevão, da Carolina e de meu marido.
Além de passear com meus filhos,
me reservo o direito de ir ao cinema e sair para jantar”, afirma.
Segundo a ginecologista, o
fato de o marido ser engenheiro
mecânico a ajuda a se desligar da
medicina, quando não está trabalhando. “Quando estamos juntos,
os assuntos são os mais diversos
possíveis”, brinca.
Para a psicóloga Cassandra
França, ter tempo para si mesmo é
fundamental para se viver bem.
“As mães, antes de tudo, são mulheres e precisam ter seus momentos de prazer. É preciso reservar
tempo para relaxar, ir ao cinema,
sair com os amigos, se divertir”,
alerta. Reduzir a carga horária de
trabalho pode ser uma opção.
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