Alvos padrões e calibração de fluorescência de raio-X (EDX) para análise de aerossol atmosférico. Luciana Paschoal Divino1, Américo Kerr2 1, 2 Instituto de Física da Universidade de São Paulo – IFUSP – Rua do Matão Travessa R,187 CEP 05508-090 Cidade Universitária, São Paulo – Brasil, [email protected], 2 [email protected] ABSTRACT: Energy Dispersive X-Ray Fluorescence (EDX) is widely employed to quantitatively evaluate the concentration of the chemical elements present in thin layers of atmospheric aerosol collected over appropriated filters. The research groups LAPAt and LAPAE, have been using such method to analyze the urban aerosol of several Brazilian Metropolis, evaluating its sources and the health impact they could produce in each local population. This work show how this analytical system has been calibrated periodically and evaluate the quality of the standard target we are producing to enhance the precision of the analysis. Palavras-chave: Aerossol, alvo-padrão, fluorescência de raios-x 1 – INTRODUÇÃO O aerossol atmosférico, principalmente o material particulado fino (MP2,5), é uma das formas de poluição atmosféricas mais nocivas à saúde humana, pois penetra facilmente nos pulmões, tendo grande potencial de dano à saúde. Em São Paulo, a média anual de mortes para indivíduos acima de 40 anos, atribuíveis às emissões veiculares (entre maio/2007 a agosto/2008), foi de 3543 (LAPAE e LAPAt, 2009). O estudo da composição elementar do particulado fino, permite refinar os estudos de danos à saúde e, ao mesmo tempo, que se use metodologias de identificação de fontes emissoras extremamente úteis para a adoção de medidas de controle da qualidade do ar. O aerossol coletado em filtros pode ter sua composição química elementar determinada por fluorescência de raios-X (EDX).(Jenkins et all, 1981) O LAPAt (Laboratório de Análise dos Processos Atmosféricos – IAG - USP) vem utilizando tal metodologia desde 2007. Para que o resultado obtido seja confiável, a calibração precisa ser feita com alvospadrão de boa precisão e reprodutibilidade. Os alvos disponíveis no mercado tem precisão nominal de 5%. Passamos então a buscar a produção própria de alvos de calibração mais precisos através de evaporação em vácuo, de elementos químicos conhecidos, usando como substrato filtros de policarbonato e kapton (um filme fino de policarboneto resistente à medida direta de espessura da deposição por RBS – Rutherford BackScattering, bem mais preciso que a usual pesagem indireta por balança analítica) (Ueta et all 2002; Divino et all 2008). Encontramos problemas com a homogeneidade dos alvos fabricados, principalmente porque durante a evaporação eles eram suportados por uma placa plana, enquanto o material evaporado distribui-se esfericamente (Figura 1.A). Além disso pode ocorrer movimentação do material dentro do cadinho (por derretimento, formação de bolhas ou quebra das pastilhas no bombardeio eletrônico), mudando o foco de evaporação. Os dois problemas contribuem para uma distribuição heterogênea de material, tanto de um ponto a outro de um mesmo alvo, quanto entre alvo. Figura 1 – (A) Esquema da geometria antiga utilizada na produção de alvos,(B) esquema da placa curva projetada (vista transversal e de topo) e (C) fotografia da placa nova. Neste trabalho, implementamos soluções para minimizar os problemas de homogeneidade e estudamos a qualidade dos novos alvos produzidos. Também avaliamos a variabilidade temporal da calibração do EDX utilizadas no LAPAt. 2 - MÉTODOS Primeiramente, para minimizar os efeitos da movimentação do material no cadinho, durante a evaporação, passamos a trabalhar na altura de 30cm (distância entre a placa suporte e o cadinho), máxima permitida pela campânula da evaporadora. A partir desta distância projetamos uma placa suporte com 5 posições para os alvos e 4 posições para lamínulas referência de vidro utilizadas para medida gravimétrica da espessura (dado que não é possível medir diretamente nos alvos, pois estes degaseficam no vácuo). A placa foi projetada com simetria esférica, de forma que o centro de cada alvo e de cada lamínula estivesse a 30cm do centro do cadinho, em superfícies tangentes à uma esfera de raio de 30cm, nele centrada. Os parafusos utilizados foram furados para que não gerassem vazamentos virtuais quando colocados em vácuo na evaporadora. A curvatura da placa foi feita através do dobramento de uma chapa espessa de alumínio onde estavam recortadas as posições dos alvos. Para a calibração do EDX, usamos a proporcionalidade entre o número de contagens (N) dado pelo detetor e: a corrente aplicada no tubo (I), o tempo vivo de irradiação (Δt) e a massa por área (ou espessura) do alvo irradiado (M/A). Esse fator de proporcionalidade é o fator de resposta (R) empregado para calcular M/A dos elentos presentes em alvos finos, como os filtros onde coleta-se o aerossol atmosférico: AI R It NM A N Rt M (1) Para o cálculo do fator de resposta, após rodar alvos padrão de diversos elementos no EDX, obtemos N analisando seus espectro de energia característico com o programa WinQXas (IAEA, 2005). A partir dos pontos obtidos experimentalmente, ajustamos uma curva empírica média de R em função do número atômico (Z). Pode-se assim inferir os fatores de resposta dos elementos dos quais não possuimos alvos padrão, além de estimar valores de R mais precisos para os elementos dos quais temos alvos. Essa curva empírica foi ajustada por soma de funções gaussianas. 3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO Com a utilização de alvos comerciais e alvos por nós produzidos obtivemos o ajuste que segue (Figura 2) para a Calibração de fevereiro de 2010. 0,18 0,4 R - fator de resposta (s-1gcm2A-1) R - fator de resposta (s-1g-1cm2A-1) 0,5 0,3 0,2 0,1 0,0 0,16 0,14 0,12 0,10 0,08 0,06 0,04 0,02 0,00 10 15 20 25 30 35 40 45 40 50 Z - número atômico 60 70 80 90 100 Z - número atômico Figura 2 – Ajustes de curva teórica a partir dos pontos experimentais para as linhas K(esquerda) e L (direita). Comparando as curvas de linha K obtidas nos anos de 2007, 2008, 2009 e 2010 (Figura 3) percebemos uma queda no fator de resposta nos anos de 2008 e 2009, e um aumento do fator de resposta no ano de 2010. R - fator de resposta (s-1g-1cm2A-1) 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0,0 0 5 10 15 20 25 Z - número atômico 30 35 R - demais calibrações (s-1g-1cm2A-1) 0,6 Calibração2007 Calibração2008 Calibração2009 Calibração2010 Calibração2008 Calibração2009 Calibração2010 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0,0 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 R - fator de resposta - Calibração 2007 Figura 3 – Comparação dos fatores de resposta dos anos de 2007, 2008, 2009 e 2010. De 2007 para 2008 e de 2007 para 2009 tivemos quedas de 6% e 21%, respectivamente (calculados pelo coeficiente linear entre as calibrações). Isso aponta para uma perda de eficiência do tubo que produz os raios-X e perda de eficiência do detetor em função do uso continuado do equipamento. De 2009 para 2010 o fator de resposta aumentou 6%. Isso provavelmente deveu-se à eliminação de uma contagem de fundo devida a reflexões que ocorriam em uma peça de alumínio usada para fixação dos alvos no carrossel. Com a adequação da peça aumentou-se a contagem efetiva (N) nos alvos analisados, aumentando, assim o fator de resposta. Isso foi confirmado com a observação de que o fundo ajustado em espectros de 2010 (normalizados com a corrente e tempo de irradiação) foi cerca de 7% menor que o dos espectros de 2009. Apesar de haver um período razoável de estabilidade para as calibrações, fica clara a importância refazê-las periodicamente a fim de evitar erro sistemáticos nas medições. Estudamos em particular a qualidade dos alvos produzidos, irradiando-os no EDX e calculando os fatores de resposta (R) correspondentes. A Tabela-1 mostra a variabilidade dos R obtidos para alvos de alguns elementos químicos, produzidos em uma mesma evaporação,. enquanto a Figura 4 compara esses valores com aqueles ajustados na Calibração 2010. Tabela 1 – Variabilidade do fator de resposta nos alvos (*foi feita a correção para estatística de poucos dados) Elemento evaporado Ag Au Ge Nb Ni Pd Sb Sb Ti Desv. pad. / média (com correção)* 2,2% 2,1% 0,88% 1,8% 4,4% 4,2% 18% 11% 3,8% Número de dados 5 5 2 5 5 5 3 4 4 30 25 20 15 (R-Rajust)/Rajust (%) 10 5 0 -5 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 -10 -15 -20 -25 -30 -35 -40 -45 -50 ………………………...……...Ti..…..Ni...Ge……....Nb...Pd.Ag..Sb………………………………Au Número atômico Figura 4 – Gráfico de diferença percentual entre R experimental e ajustado para alguns elementos. Notamos que a menos dos alvos de Sb, o processo de evaporação gerou partida de alvos com homogeneidade melhor que 4,4%, mostrando resultados positivos nas modificações introduzidas em sua produção. A variabilidade alta no caso do Sb indica uma adesão ruim deste elemento ao substrato dos alvos. A comparação com o ajuste empírico com o conjunto dos alvos comerciais que dispomos para calibração, mostrou uma boa qualidade dos alvos de Ti, Ni, Ge, Nb e Au. Já o Pd e Ag apresentaram pouca variabilidade de um alvo para outro da mesma evaporação, mas se afastaram do valor ajustado, o que pode indicar que o material tenha mais afinidade com o vidro das lamínulas que com o substrato dos alvos e, dessa forma, a gravimetria não é uma boa forma de avaliação de espessura para estes elementos. Os alvos de Cu que chegaram a ser produzidos ficavam visivelmente heterogêneos, além de ter péssima reprodutibilidade, após as evaporações. A aderência do Cu ao substrato mostrou-se muito ruim. 4 – CONCLUSÕES Houve decremento do fator de resposta do EDX ao longo do seu tempo de utilização, tornando clara a importância de calibrações regulares para evitar erros sistemáticos nas medições. Um acompanhamento sistemático mais acurado deste processo poderá permitir indicações mais precisas sobre este controle. Com relação aos alvos de calibração, notamos que a maior parte deles apresentou boa reprodutibilidade e precisão. Mas alguns elementos, como Sb e Cu, mostraram-se problemáticos, enquanto Pd e Ag apresentaram-se homogêneos, mas necessitam de metodologia alternativa de medida de sua espessura (RBS, por exemplo). Ainda está em projeto produção de alvos de sais e de elementos da série do Lantanídeos da tabela periódica. 5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Jenkins, R.; Gould, R. W.; Gedcke, D. (1981). Quantitative X-Ray Spectrometry, Marcel Dekker, Inc.. LAPAE e LAPAt, 2009. Relatório do Estudo: Avaliação dos aspectos ambientais, de saúde e sócio-econômicos envolvidos com a implementação do PROCONVE em seis Regiões Metropolitanas, Versão 22/abril/2009. DIVINO, Luciana Paschoal – Produção de alvos de Calibração Para Equipamento de Fluorescência (EDX) – XV Congresso Brasileiro de Meteorologia – CBMET UETA, N.; Engel, W. G. P. ; Leandro J. J. G.; DFN, IFUSP – Confecção de Alvos Nucleares – 2002 – 1ª edição IAEA – International Atomic Energy Agency, Quantitative X-Ray Analysis System (2005)