Editora Vida
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© 2011, Erwin W. Lutzer
Originalmente publicado nos EUA com o título Conquering
the Fear of Failure: Lessons from the Life of Joshua
Copyright da edição brasileira © 2013, Editora Vida
Edição publicada com permissão de Kregel Publications,
Grand Rapids, Michigan, EUA.
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reservados por Editora Vida.
Proibida a reprodução por quaisquer meios,
salvo em breves citações, com indicação da fonte.
Editor responsável: Marcelo Smargiasse
Editor-assistente: Gisele Romão da Cruz Santiago
Tradução: Onofre Muniz
Revisão de tradução: Noemí Lucília Soares Ferreira
Revisão de provas: Josemar de Souza Pinto
Diagramação: Karine P. dos Santos
Capa: Arte Peniel
Scripture quotations taken from Bíblia
Sagrada, Nova Versão Internacional, NVI ®
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Edição publicada por Editora Vida,
salvo indicação em contrário.
Todas as citações bíblicas e de terceiros foram adaptadas
segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa,
assinado em 1990, em vigor desde janeiro de 2009.
1. edição: jul. 2013
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)
(Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)
Lutzer, Erwin W.
Vencendo o medo do fracasso: lições da vida de Josué / Erwin W. Lutzer;
tradução: Onofre Muniz — São Paulo: Editora Vida, 2013.
Título original: Conquering the Fear of Failure: Lessons from the Life of
Joshua
ISBN 978-85-383-0280-3
1. Bíblia. A.T. Josué — Crítica e interpretação 2. Fracasso (Psicologia)
— Aspectos religiosos — Cristianismo3. Vida cristã — Doutrina bíblica
I. Título.
12-15348
CDD-222.206
Índices para catálogo sistemático:
1. Josué : Antigo Testamento : Estudo bíblico 222.206
Sumário
Introdução
7
1. O complexo de gafanhoto
11
2. Quando a fé não funciona
22
3. Ouvir a voz correta
35
4. Uma estratégia vencedora
46
5. Dar o primeiro passo
58
6. Preparar-se para a batalha
67
7. Sua primeira grande batalha
78
8. O alto custo do pecado escondido
88
9. Ataque ao inimigo
99
10. Viver com uma decisão errada
111
11. O poder da oração
120
12. Vencer os obstáculos
129
13. Fazer a promessa funcionar
140
14. Escolher Deus
150
Introdução
Uma mulher perguntou ao seu pastor: “Devemos orar até pelas coisas
pequenas da vida?”. Ele respondeu: “Você pode pensar em algo na sua
vida que considere grande demais para Deus?”.
Todos os nossos problemas, sejam grandes ou pequenos, têm a mesma atenção de Deus; nada parece grande ou pequeno demais para ele.
Para um atleta olímpico, não faz diferença carregar uma ou dez penas.
Isaías mencionou que o Deus que criou o Sol e as estrelas também
é capaz de mantê-los todos sob controle.
“Com quem vocês me vão comparar? Quem se assemelha a
mim?”, pergunta o Santo. Ergam os olhos e olhem para as alturas. Quem criou tudo isso? Aquele que põe em marcha cada
estrela do seu exército celestial, e a todas chama pelo nome. Tão
grande é o seu poder e tão imensa a sua força, que nenhuma
delas deixa de comparecer! (Isaías 40.25,26)
Esse Deus é todo-poderoso e geralmente aceito por todos os cristãos. Como, entretanto, podemos usar esse potencial para viver uma
vida cristã autêntica?
Deus deseja ajudar a nos libertarmos da escravidão do pecado
e do sofrimento emocional. O dilema que nos confronta é: por que
diante de todas as suas promessas, nós nos saímos tão mal? Por
que tantos de nós somos escravos de diferentes vícios, vivendo
com relacionamentos rompidos, ou pura e simplesmente derrotados a cada momento em nossa peregrinação espiritual? Por quê?
Em nosso desapontamento podemos concluir que, na verdade,
Deus fez promessas demais. Leia um trecho da Bíblia como o
Sermão do Cenáculo (João 13—17) e medite sobre o que Jesus disse
8 | Vencendo o medo do fracasso
aos discípulos. Ele lhes assegurou que não havia motivo para ter
medo, pois eles receberiam uma paz sobrenatural, e o Espírito Santo
viria habitar neles. E qualquer coisa que pedissem, Deus lhes faria.
Em flagrante contraste com essas reivindicações incríveis, enfrentamos hoje, dentro da igreja dos que creem, uma ladainha de
derrotas pessoais e coletivas. A distância entre as promessas
de Deus e nosso desempenho parece enorme. Teria Deus “superestimado” a si mesmo?
Outra possibilidade é a de que não sabemos como as promessas
de Deus podem ser aplicadas à nossa vida. Podemos esperar que
ele nos dê tudo o que pedimos, esquecendo-nos de que há algumas
condições, às vezes difíceis, para experimentar a bênção de Deus.
Essa é a razão por que devemos voltar ao livro de Josué. Mais que
qualquer outro, esse livro nos ensina o que é exigido de nós para
que possamos ver cumpridas as promessas de Deus. De um lado, Deus
declarou com clareza a Josué que a terra de Canaã era dele; de outro
lado, Josué teve de derramar sangue, suor e lágrimas para reivindicar
sua herança.
O livro de Josué é basicamente uma história de guerras. Nem bem
os israelitas entraram na terra, os cananeus se entrincheiraram para
a batalha. Cada passo que reivindicaram teve de ser conquistado na
luta com bravos inimigos. Não houve nada que fosse uma vitória incontestável.
Assim também para nós: levar a sério as promessas de Deus é
declarar guerra ao mundo, à carne e ao Diabo. No instante em que
começarmos a buscar as bênçãos de Deus, as forças do mal sairão do
esconderijo.
Se nos lembrarmos de que Deus não deixou de cumprir sua palavra com Josué nenhum dia sequer, podemos evitar nos desapontar
com ele. De fato, esperar que Deus cumpra sua Palavra não é uma
exceção, mas a regra. Abraão não viu cumpridas algumas promessas
que Deus lhe fizera. A Palavra de Deus é totalmente confiável, mas
precisamos estar dispostos a esperar.
Introdução | 9
Aprenderemos que o caminho para que Josué alcançasse a vitória
foi irregular, cheio de retrocessos e desapontamentos amargos. Josué
mesmo cometeu erros; e às vezes aquele povo se rebelou e teve de se
retirar de um território que estava ao alcance das suas mãos. Quando
Josué morreu, a guerra não havia acabado. Havia bolsões de resistência que continuavam a perturbar os israelitas.
O propósito deste livro é nos ajudar a compreender os princípios
aplicáveis às promessas de Deus. Com a Bíblia em uma mão e, na outra, a consciência de que a natureza humana é inconsistente, podemos
com esperança fechar a lacuna entre as promessas e o desempenho.
Vencendo o medo do fracasso não é um comentário sobre o livro de
Josué (já existem muitos e excelentes comentários). Nem é primariamente, em sua natureza, um livro devocional. Antes, é um manual
que nos pode guiar através das armadilhas do crescimento espiritual,
capturando o território de Satanás e usando-o para a glória de Deus.
Para melhor aproveitar este livro, leia a passagem bíblica citada no
início de cada capítulo.
Minha oração é que, por meio do estudo de Josué, todos nós possamos dar um passo gigantesco em direção à maturidade espiritual.
No processo, devemos descobrir que Deus é todo-poderoso e merecedor de nossa confiança.
Capítulo 1
O complexo de gafanhoto
(Leia Números 13.25-33.)
Desordens de personalidade tornaram-se um fato da vida. Todos,
cristãos e não cristãos, parecem ter um ou outro complexo. Alguns
de nós são introvertidos; outros, extrovertidos. Ainda outros podem
sofrer de paranoia ou esquizofrenia.
Entretanto, há um complexo que pode ser o mais prevalente de todos: o complexo de gafanhoto. Nenhuma outra desordem pode paralisar
tanto o nosso caminhar com Deus.
Doze espiões tinham ido à terra de Canaã para determinar a estratégia militar necessária para conquistar a terra prometida. Dez dos
espiões foram intimidados pelo projeto, crendo que os habitantes estavam fortificados demais para serem derrotados.
Especificamente, a maioria disse: “Não podemos atacar aquele
povo; é mais forte do que nós” (Números 13.31). Deram um relatório ruim, causando tremor de medo aos milhares que estavam
ouvindo.
Dois dos homens, Josué e Calebe, aquietaram o povo e pediram
para divergir dos seus colegas. Disseram: “Subamos e tomemos posse
da terra. É certo que venceremos!” (Números 13.30).
No entanto, o relato da maioria prevaleceu (v. Números 14.1-4),
pois os dez espiões convincentemente exageraram a dificuldade de
obedecer a Deus:
12 | Vencendo o medo do fracasso
E espalharam entre os israelitas um relatório negativo acerca
daquela terra. Disseram: “A terra para a qual fomos em missão
de reconhecimento devora os que nela vivem. Todos os que vimos são de grande estatura. Vimos também os gigantes, os descendentes de Enaque, diante de quem parecíamos gafanhotos, a nós
e a eles” (Números 13.32,33).
Note que os dez espiões enxergaram os cananeus como gigantes,
e a si mesmos, como gafanhotos. Quão facilmente um gigante pode
esmagar um gafanhoto!
Há várias e poderosas razões pelas quais a nação inteira de Israel
adotou o complexo de gafanhoto:
Primeiro, os cananeus estavam mais bem armados. Enquanto
Israel tinha uns poucos cajados, os pagãos que eles deveriam supostamente conquistar tinham cavalos e carros e haviam dominado o uso
do ferro. Militarmente havia uma grande disparidade entre os dois
antagonistas. O exército cananeu era bem treinado e experiente em
guerra. Por séculos, os cananeus seguiam lutando e dominavam a arte
da crueldade. Sua poderosa organização e armas superiores os tornavam formidáveis.
Segundo, os cananeus viviam em cidades muradas, enquanto os
israelitas viviam em tendas. Numa guerra, há uma enorme diferença
entre defender uma fortificação e arrancá-la do inimigo. Apenas uns
poucos soldados são necessários para defender uma cidade murada;
mas geralmente são necessários centenas de vezes mais soldados para
capturá-la.
Literalmente, os israelitas não tinham onde se esconder. Nem trincheiras, nem fortificações. Eles tiveram dificuldades em pensar em
uma única vantagem que pudessem ter em uma guerra total.
Em terceiro lugar, os cananeus eram fisicamente maiores. Sim,
eles eram gigantes na terra. Por que razão os cananeus eram mais
altos que os israelitas, não sabemos, mas eles haviam se desenvolvido em uma raça fisicamente superior, e os israelitas não se comparavam a eles.
O complexo de gafanhoto | 13
Visto por esse ângulo, fazia sentido o povo escolher o relatório da
maioria. Tudo pesava contra eles. Por que arriscar a morte quase certa,
quando se tem a opção de ficar no campo e ser alimentado por Deus?
Um fator que poderia mudar significativamente a equação era
que Deus estava do lado dos israelitas. Mais que isso, o Todo-poderoso fizera uma promessa específica ao seu povo: se cresse nele para
a vitória, ele a alcançaria. A simples fé em Deus mudaria o peso na
balança militar do poder. Pois quem pode ir contra os exércitos do
Todo-poderoso?
Todavia, é sempre mais fácil enxergar gigantes do que ver Deus. Na
presença de inimigos poderosos, tendemos a nivelar por baixo nossa
estimativa do poder e fidelidade de Deus.
Sempre que abandonamos um desafio dado por Deus, por medo de não
possuirmos os recursos para enfrentá-lo, ou quando tentamos evitar enfrentar um problema que impede nosso progresso espiritual, estamos
adotando o complexo de gafanhoto.
Recentemente conversei com uma senhora que não se via capaz de
completar seu currículo para determinado emprego porque não conseguia deixar de ouvir uma voz que dizia que ela seria um fracasso.
Conheço um homem que foi criado em um lar no qual nada era suficientemente bom para seu pai. O filho é agora assombrado pelo sentimento
de que é um desapontamento para todos, inclusive para Deus. Como
ele mesmo diz, está “fadado ao fracasso”. Ah, o complexo de gafanhoto!
Os dez espiões foram contaminados por um tipo grave de complexo
de gafanhoto, e o vírus espalhou-se pela multidão. Moisés queria um relatório simples da boa terra que seria conquistada. O que recebeu foi o
fruto do medo — a destrutiva influência do mau exemplo.
Quais são as características do complexo de gafanhoto?
Um coração em dúvida
A manifesta maioria dos espiões israelitas podia estar pensando
apenas nas muitas razões por que eles perderiam a batalha; não
14 | Vencendo o medo do fracasso
conseguiam pensar em motivos para vencê-la. Apesar de Deus lhes
ter dado uma promessa, esta parecia irreal e, portanto, não creram
nela. “Mas os homens que tinham ido com ele disseram: ‘Não podemos atacar aquele povo; é mais forte do que nós’ ” (Números 13.31).
Por que todo esse negativismo? Talvez tenham pensado que
Deus tinha falhado no passado. Lembraram-se mais claramente
das águas amargas de Mara do que das águas doces que fluíram
por vezes daquele oásis. Lembraram-se de que Deus os deixou com se­
de até Moisés bater na rocha em Horebe. E havia a guerra com
Amaleque e, mais tarde, aquele dia terrível quando 3 mil israelitas
foram mortos pelos levitas por causa do bezerro de ouro.
Ainda mais viva em sua lembrança devia estar a recente disputa
a respeito do “cardápio” deles no deserto. Eles se enjoaram do maná e
reclamaram porque não tinham carne. Deus os puniu concedendo-lhes o pedido associado a um castigo (v. Números 11.33).
Como podiam confiar em Deus, que os havia tratado com tanta
severidade? E se ele se voltasse contra eles no meio da batalha contra os cananeus? Confiar em um Deus invisível para lutar contra
armas bem visíveis era pedir demais. Além disso, não havia disposição para lutar.
Apesar de sermos tentados a desculpar a descrença deles, Deus
não estava tão bem predisposto a isso. Ele tomou essa decisão como
um referendum pessoal sobre sua credibilidade. Apesar de perdoar
o pecado do povo, em resposta à oração de Moisés, ele estava muito
irado: “Até quando esta comunidade ímpia se queixará contra mim?
Tenho ouvido as queixas desses israelitas murmuradores. [...] Cairão neste deserto os cadáveres de todos vocês, de vinte anos para
cima, que foram contados no recenseamento e que se queixaram
contra mim” (Números 14.27,29).
Deus atribuiu à dureza de coração dos israelitas o medo que eles
tiveram de fracassar. Estava irado com toda aquela geração, e jurou
que o povo não entraria na terra prometida. O autor da carta aos
Hebreus descreve essa história e adverte: “Cuidado, irmãos, para que
O complexo de gafanhoto | 15
nenhum de vocês tenha coração perverso e incrédulo, que se afaste do
Deus vivo” (Hebreus 3.12).
Um coração em dúvida não é apenas uma falta menor que pode
ser desprezada como uma falha entre muitas outras. Deus o chama de
“coração mau da descrença” e o identifica com a rebelião deliberada.
Quais são algumas outras características do complexo de gafanhoto?
Uma autoimagem distorcida
Vamos ler novamente o relato dos dez espiões medrosos: “Vimos também os gigantes, os descendentes de Enaque, diante de quem parecíamos gafanhotos, a nós e a eles” (Números 13.33).
Note bem que, quando os espiões viram-se como gafanhotos, imediatamente presumiram que os cananeus os veriam como gafanhotos
também! Todos nós pensamos que as pessoas nos percebem tal como
nos vemos.
Uma criança a quem é dito por seus pais que é burra, fadada ao
fracasso e feia pensará que esta é a imagem que todos têm dela. Uma
pessoa que vê a si mesma como uma perdedora crê que os outros a
veem dessa forma; pior, ela provavelmente agirá como uma perdedora. Nossa autopercepção é a fundação sobre a qual construiremos
nossos sonhos, sejam eles bons ou maus.
Vista por esse ângulo, a autoavaliação dos espiões parecia humilde:
“Somos apenas gafanhotos!”. De fato, esta não era mais do que uma
confissão da própria incredulidade daqueles espiões; era um insulto
a Deus. Por que alguém que confia no Todo-poderoso poderia se ver
como um gafanhoto?
Interessante. Os espiões estavam errados quando disseram que
os cananeus os viam como gafanhotos. Na realidade, entretanto, os
cananeus estavam muito amedrontados. Trinta e oito anos depois,
quando os israelitas finalmente fizeram planos sérios de entrar
na cidade, outra geração de espiões foi a Jericó e fez contato com
Raabe, a prostituta. Por trabalhar no bordel da cidade, ela sabia o
16 | Vencendo o medo do fracasso
sentimento dos moradores em relação aos israelitas. Ela relatou:
“Sei que o Senhor lhes deu esta terra. Vocês nos causaram um
medo terrível, e todos os habitantes desta terra estão apavorados
por causa de vocês” (Josué 2.9).
Longe de vê-los como gafanhotos, os cananeus viam os israelitas como gigantes! Estavam estarrecidos, imaginando por que levara tanto tempo para os israelitas reclamarem sua herança. Raabe
entendeu as questões até melhor que os iluminados israelitas, porque ela disse que Jericó havia ouvido a respeito dos milagres que
Deus havia feito, e: “Quando soubemos disso, o povo desanimou-se
completamente, e por causa de vocês todos perderam a coragem,
pois o Senhor, o seu Deus, é Deus em cima nos céus e embaixo na
terra” (Josué 2.11). Ela sabia quem Deus era, mesmo que o próprio
povo de Deus tivesse dúvidas quanto a isso!
Se virmos Satanás como invencível, ele será invencível. Nós, porém,
nunca poderemos vê-lo como realmente é até que vejamos Deus como
ele é — e a nós mesmos pelo que somos em Cristo.
Como cristãos, devemos ver a nós mesmos em Cristo como
perdoados, aceitos, elevados e vitoriosos. Então veremos Satanás
como derrotado e ao real alcance de nossa artilharia espiritual.
Não importa os muros atrás dos quais Satanás se esconda, ele pode
ser achado e destronado.
O complexo de gafanhoto provoca em nós o sentimento de inferioridade diante de situações e mesmo de pessoas que, se estivermos sob
as ordens de Deus, seremos bem capazes de confrontar. Como a olhar
para um espelho curvo, distorcemos a nós mesmos, nossos inimigos,
nossos desafios e até mesmo Deus.
Uma mente dividida
Aqueles que se veem como gafanhotos constantemente mudam
seu foco, procuram uma estrela-guia para seguir. Algumas vezes
pensam nas promessas de Deus, mas esses momentos dão lugar às
O complexo de gafanhoto | 17
supostas vantagens da incredulidade. Mantêm um olho no mundo
e outro em Deus.
Quando as pessoas ouviram o relato dos dez espiões, caíram em
um pântano emocional. Gritaram a noite toda e resmungaram contra
Moisés e Arão, dizendo: “[...] Quem dera tivéssemos morrido no Egito!
Ou neste deserto!” (Números 14.2).
O povo decidiu, então, que a providência seguinte seria indicar
um capitão para levá-lo de volta ao Egito. E, quando Josué e Calebe
tentaram persuadir o povo a abandonar esses planos e voltar a crer
no Todo-poderoso para vencer, a congregação respondeu dizendo que
esses dois otimistas deviam ser apedrejados. Foram esses os benefícios da fé!
É desnecessário dizer que o povo convenientemente esqueceu que
sua permanência no Egito não tinha sido um mar de rosas. Não se
lembrou da escravidão, das surras e da morte de seus familiares e amigos. Pelo contrário, falou da segurança que o Egito oferecia. Com um
pé no deserto e outro no Egito, os israelitas não tinham os pés livres
para levá-los à terra prometida.
Tiago nos faz lembrar que, quando pedirmos por sabedoria, devemos pedi-la “[...] com fé, sem duvidar, pois aquele que duvida é
semelhante à onda do mar, levada e agitada pelo vento. Não pense tal
pessoa que receberá coisa alguma do Senhor, pois tem mente dividida
e é instável em tudo o que faz” (Tiago 1.6-8). A mente dividida esparrama-se sem direção em tudo na vida.
Os israelitas foram retirados do Egito para que pudessem ser
levados a Canaã. Agora, eles estão divididos entre estes dois propósitos: têm medo de seguir adiante, mas se sentem incapazes de
voltar atrás. Com nenhuma dessas opções como possibilidade real,
eles são condenados a vagar em terra de ninguém. Foram entregues ao deserto até que todos os adultos (exceto Josué e Calebe)
morressem.
Ouvi falar que os gregos tinham uma corrida na qual um homem
ficava com um pé sobre um cavalo e outro pé sobre outro cavalo.
18 | Vencendo o medo do fracasso
O homem era capaz de cavalgar naquela situação enquanto os dois
cavalos ficassem juntos. Quando, porém, os animais se separavam, o
homem precisava tomar uma decisão! A mente dividida é a principal
causa do complexo de gafanhoto. O olho que muda seu foco entre
Deus e o mundo não terá estabilidade para dar passos confiantes na
exploração de novos horizontes para a glória de Deus.
O desejo de segurança
Outra motivação da multidão dos israelitas era o medo de falhar na
guerra. Ao contrário do que Deus prometera, eles criam que seriam
mortos. Qualquer coisa é melhor que a morte!
O argumento para permanecer no deserto parecia inatacável: se
eles não lutassem, não poderiam perder! A escolha era entre viver
no deserto conhecido e arriscar a possibilidade de serem derrotados por um inimigo desconhecido. Os cananeus provavelmente
não deixariam suas cidades muradas para molestar os israelitas
na aridez do deserto. Portanto, se os israelitas simplesmente se
recusassem a aceitar o desafio da batalha, não teriam de vencer o
medo do fracasso.
Somos frequentemente críticos em relação a Pedro, que começou a
afundar quando caminhava sobre as águas em direção a Jesus. Nós o
censuramos por ter desviado os olhos de Cristo. Entretanto, devemos
enaltecê-lo pelo menos pela disposição de correr o risco de sair do
barco e tentar andar sobre as águas. Apesar de vacilar no processo, ele
aceitou o risco de confiar em um milagre de Cristo. Os outros homens
não correram o perigo de se afogar, pois optaram pela segurança e
ficaram no barco.
Algumas pessoas evitam o fracasso apenas porque nunca têm uma
boa chance de falhar. Optam pela segurança, não arriscando nada.
Para elas, a segurança é uma prioridade tão alta que preferem não
fazer nada a tentar algo que possa não ser bem-sucedido.
O complexo de gafanhoto | 19
O desprezo da fraqueza
Talvez os israelitas tenham pensado que, antes de guerrear contra
os cananeus, deveriam esperar até que estivessem tão fortes quanto
eles. Deus, porém, não queria aquele povo forte. Ele preferia que continuassem fracos para que ele mesmo pudesse suprir suas deficiências.
Estratégia e força teriam seu lugar, mas fé nas promessas divinas era
ainda mais importante.
Frequentemente falamos sobre a “força dada por Deus”, mas precisamos também nos tornar familiarizados com “a fraqueza dada por
Deus”. Quando Deus quis usar Paulo de forma extraordinária, deu-lhe “um espinho na carne”. Quando Paulo orou, pedindo que esse
espinho lhe fosse tirado, a resposta que recebeu foi que a graça de
Deus seria suficiente para ele. Paulo respondeu: “Por isso, por amor
de Cristo, regozijo-me nas fraquezas, nos insultos, nas necessidades,
nas perseguições, nas angústias. Pois, quando sou fraco é que sou forte”
(2Coríntios 12.10, grifo nosso).
Jacó foi enfraquecido fisicamente por Deus na tarde de seu encontro com Esaú, o irmão de quem se havia afastado. Vinte anos antes,
ele errara com seu irmão, e agora esperava hostilidade e, talvez, até
luta. Deus tocou na articulação da coxa do patriarca de forma que,
ao encontrar-se com seu irmão, Jacó estava mancando (v. Gênesis
32.22-32). Nada poderia forçá-lo tanto a confiar em Deus como ter se
tornado fraco exatamente no momento em que ele precisava ser forte. Por natureza, raramente confiamos em Deus, a não ser que sejamos
obrigados a isso.
Não devemos desprezar as fraquezas, pois estas são presentes de
Deus. No lugar delas, devemos pôr as promessas divinas: o Senhor deseja usar essas fragilidades para que voltemos nossa atenção para ele.
Seria de estranhar que, mais tarde, Moisés tenha dito ao povo
que quem tivesse medo da batalha deveria ficar em casa? Os sacerdotes, disse Moisés, deveriam acalmar o povo, lembrando-lhe que, por
Deus estar com ele, não deveria entrar em pânico, “pois o Senhor,
20 | Vencendo o medo do fracasso
o seu Deus, os acompanhará e lutará por vocês contra os inimigos,
para lhes dar a vitória” (Deuteronômio 20.4). No entanto, aos medrosos, os oficiais deviam dizer: “[...] Alguém está com medo e não tem
coragem? Volte ele para sua casa, para que os seus irmãos israelitas
também não fiquem desanimados” (Deuteronômio 20.8).
Melhor é ficar em casa do que espalhar o medo entre aqueles que
se preparam para confiar em Deus para ganhar a vitória. O medo é
contagioso!
Há um remédio para o complexo de gafanhoto. É estar unido àqueles que têm a coragem de acrescentar Deus aos seus recursos. Diante de
uma ordem clara de Deus, podemos ir à frente e reivindicar o território que ele nos destinou.
Identificando nosso complexo
Todos nós nos vemos nas descrições do complexo de gafanhoto. Já deixamos de fazer a vontade de Deus porque estávamos oprimidos por
nossas inseguranças e medos. Sentíamos que Deus nos havia entregado uma carga pesada demais.
Ouvi dizer que, quando as tropas americanas chegaram a um dos
campos de concentração na Alemanha, alguns dos prisioneiros não
se mostraram felizes. Saíram das barracas, ouviram as boas notícias e
voltaram em silêncio para suas celas áridas. Estavam tão acostumados
com o confinamento e os insultos que tinham medo da liberdade!
O fracasso é viciante. Se tivermos vivido uma sequência de fracassos no passado, podemos encolher medrosamente diante do desafio de crescer espiritualmente e vencer. O complexo de gafanhoto
faz que a mediocridade e a esterilidade espiritual nos satisfaçam.
Inicialmente, ignorar as barreiras que se levantam entre nós e o
crescimento espiritual pode parecer mais seguro, mas isso é altamente desfavorável.
Pense comigo sobre o “território” que Deus pode desejar que você
conquiste e sobre a “cidade fortificada” que está entre você e sua herança:
O complexo de gafanhoto | 21
• a angústia de um mau casamento;
• a mágoa de ter sofrido injustiça;
• o medo de estabelecer amizades por causa de insultos passados;
• o s vícios compulsivos e escondidos que estão exaurindo toda a
sua energia espiritual e emocional;
• as amizades abaladas;
• a saúde enfraquecida;
• o medo do fracasso que causa instabilidade.
As barreiras que existem entre você e sua terra prometida podem
parecer espantosas. Na depressão, você não consegue nem pensar a
respeito da possibilidade de demolir as fortalezas. Em resumo, a integridade emocional e a integridade espiritual podem parecer impossíveis.
Não fique desencorajado. Alguém já disse que, se você nunca foi
chamado para o impossível, nunca foi chamado!
“Deus é honrado”, disse um homem, “quando escolhemos uma tarefa tão grande que, se Deus não a tomar a seu cargo, nós seremos
dominados por ela!”
Humanamente falando, todos que já seguiram Deus tiveram de assumir riscos. Ninguém chega ao topo da montanha seguindo a trilha
mais suave.
Talvez você esteja desencorajado por causa dos desapontamentos do passado. Você se lembra de quando se armou com as promessas de Deus, mas aparentemente ele não agiu em seu favor. Você tem
medo de confiar nele porque pensa que ele o abandonou na hora da
necessidade.
Isso aconteceu com os israelitas também. Eles tinham feito um esforço tremendo para tomar a terra, mas foram facilmente derrotados
como gafanhotos!
Vamos descobrir por quê.
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