Anexo III da Resolução n°1 da CIMGC Uso da escória de alto-forno na produção de cimento na Cimento Mizu Cimento Mizu Contribuição do projeto “Uso da escória de alto-forno na produção de cimento na Cimento Mizu” para o desenvolvimento sustentável O projeto implantado pela Cimento Mizu tem como principal objetivo o uso da escória de alto-forno, uma alternativa de matéria-prima, em substituição à utilização do clínquer na fabricação de cimento na Cimento Mizu. Com esta substituição de matériaprima, haverá uma redução na emissão dos gases do efeito estufa em conseqüência à diminuição da emissão devida à calcinação do calcário e à diminuição no uso de combustíveis fósseis nos fornos. O projeto será implantado na unidade de fabricação de cimento localizada no município de Mogi das Cruzes, estado de São Paulo. Ressalta-se ainda que a Cimento Mizu faz parte do Grupo Votorantim, que é integrante do World Business Council for Sustainable Development. A participação nesta organização é voluntária e em 2002 congregou dez empresas do segmento da indústria de cimentos que juntas implementaram boas práticas de fabricação visando diminuir impactos ambientais, sociais e econômicos, incentivando o desenvolvimento do setor. Hoje participam da WBCSD dezesseis empresas que juntas representam metade do total da produção de cimentos mundial, excetuando-se a China (WBCSD, 2005). a) Contribuição para a sustentabilidade ambiental local Uma série de problemas ambientais afeta a indústria de cimento, em particular a alta emissão de dióxido de carbono durante a fabricação do clínquer. O clínquer, basicamente, resulta de um processo de calcinação e sinterização a elevadas temperaturas (1350-1500°C) de compostos químicos de uma mistura de matérias-primas naturais, tais como calcários, margas, argilas, areias ou, minoritariamente, compostos de ferro e alumínio, devidamente dosificados e moídos até alcançar tamanho adequado (SOUZA et all., 2006). Além de extrair recursos naturais, a produção de materiais de construção também gera poluição: poeira, CO2. O processo produtivo do cimento necessariamente gera CO2, gás importante no efeito estufa, sendo o setor de construção civil responsável por 15 a 50 % do consumo dos recursos naturais extraídos do meio ambiente (CERF, 2006). O cimento é produzido a partir dos resíduos industriais da COSIPA (Companhia Siderúrgica Paulista) e CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), eliminando assim o perigo de poluição e o problema da falta de espaço. Além deste, outros benefícios decorrentes da substituição do clínquer por escória de alto-forno podem ser citados, como: - Reciclagem dos resíduos siderúrgicos: cada tonelada de escória de alto-forno gerada da produção de ferro gusa é reciclada pela indústria cimenteira, não ocupando grandes áreas como passivo ambiental. - Economia de combustível: A substituição do clínquer reduz a demanda por combustíveis fósseis na fase de calcinação. 1 Anexo III da Resolução n°1 da CIMGC Uso da escória de alto-forno na produção de cimento na Cimento Mizu - Redução da emissão de poluentes atmosféricos: a substituição de certa quantidade de clínquer por escória elimina os poluentes (de 0,8 a 1,2 tonelada de CO2 por tonelada de clínquer) normalmente emitidos na produção. - Racionalização do uso de recursos minerais: a substituição do clínquer por escória aumenta a vida útil das jazidas de calcário, resultando em importantes benefícios ambientais, como: mitigação da poluição atmosférica local, redução da perda de biodiversidade, e conservação do solo e ecossistemas afetados por esta exploração. Sendo assim, fica evidente que o projeto contribui para uma significativa redução direta e indireta das emissões de gases do efeito estufa. Há redução no uso de energia durante o processo de fabricação do cimento, uma vez que o forno será utilizado por um período menor, e isso gera conseqüências significativas na conservação dos recursos energéticos e na redução do consumo de combustíveis fósseis, ocasionando uma diminuição da poluição atmosférica local. b) Contribuição para o desenvolvimento das condições de trabalho e a geração líquida de empregos É possível identificar impactos econômicos diretos e positivos, na comunidade local por causa da implantação do projeto. Uma vez que a atividade de projeto corresponde à implantação de uma nova fábrica, um número significativo de novos postos de trabalho. Durante a fase de construção da fábrica estiveram envolvidos 250 profissionais, e a operação e manutenção da planta envolve diretamente 50 funcionários e indiretamente 100 funcionários. Os trabalhadores contratados foram formados para desempenhar suas funções dentro da fábrica. Sendo assim, a implantação do projeto contribuiu para a melhoria da capacitação da mão-de-obra local. A Cimento Mizu tem conhecimento da legislação trabalhista em vigor pertinente ao projeto acima referido e está em conformidade com ela. O projeto não contribui diretamente para a implementação de novos programas sociais. Porém as receitas oriundas do registro da atividade de projeto irão apoiar e estimular a Cimento Mizu a manter e aperfeiçoar programas já existentes, como o de Saúde e Segurança, que incorpora, em todas as unidades da Cimento Mizu, uma cultura preventiva através da exigência ao cumprimento das normas de segurança, visando a excelência em saúde, segurança e meio ambiente. c) Contribuição para a distribuição de renda A Cimento Mizu identifica impactos econômicos diretos e positivos, na comunidade local por causa da implantação do projeto. A atividade de projeto corresponde à implantação de uma nova fábrica em Mogi das Cruzes, e ocasionou a criação de um número significativo de novos postos de trabalho na região, sendo 50 diretos e 100 indiretos A operação e a manutenção de fábricas de cimento normalmente estão associadas a uma equipe técnica reduzida (engenheiros e técnicos) e uma quantidade maior de colaboradores de baixa qualificação. Para efeito de contribuição para a distribuição de renda, a contratação de pessoas de baixa qualificação técnica tem um impacto significativo, pois se inserem no mercado formal de trabalho pessoas que eventualmente estariam vivendo à margem da sociedade. A economia local recebe mais ingressos que fortalecem sua economia. 2 Anexo III da Resolução n°1 da CIMGC Uso da escória de alto-forno na produção de cimento na Cimento Mizu Pode-se considerar também que uma melhor distribuição de renda na região se origina do incremento de rendimentos no município, em virtude da elevação do valor dos impostos pagos pela atividade de projeto. Esse saldo positivo de capital na região pode ser traduzido em investimentos na melhoria da infra-estrutura e na cobertura das necessidades básicas da população (educação, saúde etc.). Se realizados, esses investimentos podem vir a beneficiar a população local e, indiretamente, também significar uma melhor distribuição de renda. d) Contribuição para capacitação e desenvolvimento tecnológico A tecnologia para a produção de cimento, que é amplamente difundida no mundo, apresenta uma evolução bastante lenta, não se verificando alterações relevantes no processo nas últimas duas décadas. A indústria de equipamentos tem sido a geradora de progressos técnicos, visto que a tecnologia está incorporada aos equipamentos produzidos por grandes empresas de engenharia e bens de capital (ANDRADE et al., 2002, JOHN, 2005). Segundo BERNSTEIN1 citado por JONH, 1995, nos EUA, por exemplo, em média uma nova tecnologia para a área de construção civil leva 17 anos para entrar no mercado. Uma das causas da dificuldade de introdução das inovações é a ausência de normalização para um novo produto (JONH, 1995). Existem no Brasil 56 fábricas de cimento portland e todas elas atendem às exigências das normas técnicas determinadas pela ABNT. A qualidade é aferida pela Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), entidade de Utilidade Pública Federal, com base nas normas da ABNT e nos princípios do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial(INMETRO) (ABCP, 2002). Nos últimos anos, os principais avanços tecnológicos do processo produtivo têm-se concentrado nas áreas de automação industrial e controle de processo, visando à redução do consumo de energia elétrica e de combustíveis, além de melhorias ambientais (ANDRADE et al., 2002). É neste contexto que as melhorias proporcionadas pela implantação do projeto se evidenciam. Considerando que a escória de alto-forno é um resíduo do processo produtivo de siderúrgicas, quando utilizada na fabricação de cimento, é destinada de maneira adequada diminuindo os impactos negativos ao meio ambiente. Um processo viável de pesquisa e desenvolvimento para a reciclagem de resíduo é uma tarefa complexa, na qual envolve conhecimentos de ciências de materiais, ambientais, de saúde, econômicas, marketing, legais e sociais, além da avaliação de desempenho do produto em um cenário de trabalho multidisciplinar (JOHN et al., 2006). Ainda segundo os autores, a reciclagem vai ocorrer apenas se o novo material entrar em escala comercial. Assim, a transferência da tecnologia é uma etapa essencial do processo. Para ela o preço do produto é importante, mas não é suficiente. A colaboração entre os diversos atores envolvidos no processo - geradores do resíduo, potenciais consumidores, agências governamentais encarregadas da gestão do ambiente e das instituições de pesquisa envolvidas - é fundamental para o sucesso da reciclagem, e deverá ocorrer preferencialmente desde o momento em que a pesquisa se inicia. 1 BERNSTEIN, H. Comunicação apresentada no Int. Sem. Importance of Technical Approval in the Civil Construction Quality Development, São Paulo, jun 1994. 3 Anexo III da Resolução n°1 da CIMGC Uso da escória de alto-forno na produção de cimento na Cimento Mizu e) Contribuição para a integração regional e a articulação com outros setores Segundo pesquisa realizada para a ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) pela Toledo & Associados, a maior parte do cimento consumido no Brasil é direcionada para as obras de edificação. As obras de infra-estrutura consomem 19%, número este muito baixo se comparado com países desenvolvidos (França, Itália, Alemanha, Japão, etc), nos quais 40% do consumo total de cimento é absorvido em obras deste tipo (SNIC, 2006). Esta diferença de participação com relação aos mercados internacionais evidencia o potencial de expansão do setor. Nestas circunstâncias, o futuro da indústria estará condicionado ao fortalecimento da economia interna, no que tange ao aumento da demanda de cimento por parte da construção civil, assim como da concretização dos investimentos altamente necessários em infra-estrutura. Ressalte-se, portanto, o potencial existente para o aumento da demanda por cimento, caso as condições econômicas e sociais do país conduzam a um novo ciclo de desenvolvimento. Outro exemplo de contribuição para a integração regional e a articulação com outros setores reside no principal propósito do projeto. A utilização de escória de altoforno como matéria-prima para a produção de cimentos aumentará os negócios realizados entre indústrias de cimento e siderúrgicas, criando possibilidades para ambas desenvolverem seus negócios de forma mais rentável e estável. Conclusão Ainda que projetos como o da Cimento Mizu não tenham um grande impacto na sustentabilidade do país, são, sem dúvida, parte de uma idéia maior e contribuem ao desenvolvimento sustentável, quando satisfazem as necessidades atuais sem comprometer a habilidade das gerações futuras de também se satisfazerem, como definido pela Comissão Brundland (1987). A preocupação com a extração de recursos naturais não renováveis, como a diminuição da extração do calcário devido à implementação do presente projeto, bem como medidas que diminuem a emissão de gases do efeito estufa, corroboram com a afirmação de que a Cimento Mizu se preocupa com o desenvolvimento sustentável do país. 4 Anexo III da Resolução n°1 da CIMGC Uso da escória de alto-forno na produção de cimento na Cimento Mizu Referências ABCP – Associação Brasileira de Cimento Portland. Guia básico de utilização do cimento Portland. 7 ed. São Paulo, 2002. 28p. ANDRADE, M.L.A. de, CUNHA, L.M.S., SILVA, M.C. Desenvolvimento e Perspectiva da Indústria de Cimento. BNDES, 2002. Disponível em <http://www.bndes.gov.br/conhecimento/bnset/set1502.pdf> Acessado em 14 de Fevereiro de 2006. CERF (Civil Engineering Research Foundation). Meio ambiente: um grande problema. Disponível em <http://www.reciclagem.pcc.usp.br/a_construcao_e.htm> Coelho, José Mário. A influência dos novos padrões ambientais no mercado de minerais industriais. Disponível em <http://www.comciencia.br/reportagens/2005/11/12.shtml> John, Vanderley M. Cimentos de escória ativada com silicatos de sódio. São Paulo, 1995. 200 p. Tese (Doutorado) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia de Construção Civil. JOHN, Vanderley M.; ANGULO, Sérgio C.; AGOPYAN, Vahan. Sobre a necessidade de metodologia de pesquisa e desenvolvimento para reciclagem. Disponível http://www.reciclagem.pcc.usp.br/ftp/necessidade%20metodologia_john%20et%20al.PDF> Acessado em 10 de Fevereiro de 2006. Our Common Future – The World Commission on Environment and Development. (1987) Oxford University Press. SNIC (Sindicato Nacional da Indústria do Cimento) Presskit 2005. Disponível em <http://www.snic.org.br/pdf/press_kit_2005_PB.pdf> Acessado em 13 de Fevereiro de 2006. SOUZA, Vládia Cristina Gonçalves, SAMPAIO, Carlos Hoffmann e TAVARES, Luis Marcelo Marques. Estudo por microscopia óptica e lupa das características mineralógicas e microestruturais do clínquer aplicado ao processo de moagem e qualidade do cimento. Rem: Rev. Esc. Minas. [online]. abr. 2002, vol.55, no.2 [citado 10 Fevereiro 2006], p.125-129. Disponível na World Wide Web: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S037044672002000200010&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 0370-4467. WBCSD (World Business Council for Sustainable Development). The Cement Sustainability Iniciative: Progress Report. Junho 2005. Disponível em <http://www.wbcsd.org/web/publications/csi.pdf> Acessado em 14 de Fevereiro de 2006. 5