Revista
Brasileira
de Enfermagem
ENSAIO
REBEn
Planejamento de recursos humanos de enfermagem: desafio para as lider
lideraanças
Planning human resources in nursing: challenge for the leadership
Planificación de recursos humanos en enfermería: desafío para el liderazgo
Ana Maria Muller de MagalhãesI, Caren de Oliveira RiboldiI, Clarice Maria Dall’AgnolI
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Escola de Enfermagem.
Núcleo de Estudos sobre Gestão em Enfermagem. Porto Alegre, RS
I
Submissão: 20/08/2008
Apr
ovação: 15/06/2009
Aprovação:
RESUMO
Propõe-se um ensaio das questões que envolvem o planejamento de recursos humanos de enfermagem na área hospitalar em nossa
realidade, abordando possíveis temas para futuras pesquisas. Traça-se uma retrospectiva da evolução das pesquisas sobre dimensionamento
de pessoal no país e a incorporação de novos instrumentos para avaliação da carga de trabalho com base no grau de dependência dos
pacientes e nas ações de cuidado. Discute-se o impacto do quantitativo e qualitativo de recursos humanos nos resultados assistenciais
e o papel das lideranças na adequação do quadro de pessoal, com vistas a fornecer um atendimento seguro, livre de riscos aos
pacientes e suas famílias, buscando um modelo de gestão das práticas de saúde na perspectiva do cuidado complexo.
Descritores
Descritores: Carga de trabalho; Recursos humanos de enfermagem; Cuidados de enfermagem/organização e administração.
ABSTRACT
This study proposes an essay of issues involving human resources planning in nursing in the hospital sector in our current reality,
discussing possible topics for future research. This is a retrospective of the evolution of research on determining the number of staff in
Brazil, and the incorporation of new instruments to evaluate the work load based on the degree of dependency of the patients and
actions in care. The impact of the quantity and quality of human resources on the results of care is discussed, and the role of leaders in
adapting the staff composition, in order to supply safe, risk-free care to the patients and their families, seeking a management model for
health practices from the perspective of complex care.
Descriptors
Descriptors: Work load; Nursing staff; Nursing care/organization and administration.
RESUMEN
Se propone un ensayo sobre la etapa del desarrollo de las inquietudes que involucran la planificación de recursos humanos de enfermería
en el área hospitalaria en nuestra realidad, abordando posibles temas para futuras investigaciones. Se traza una retrospectiva de la
evolución de las investigaciones sobre dimensionamiento de personal en nuestro país y la incorporación de nuevos instrumentos para
evaluación de la carga de trabajo con base en el grado de dependencia de los pacientes y en las acciones de cuidado de salud. Se discute
sobre el impacto de lo cuantitativo y cualitativo de recursos humanos en los resultados asistenciales y el papel de los liderazgos en la
adecuación del cuadro de personal, con el objetivo de suministrar una atención segura, libre de riesgos a los pacientes y sus familias,
buscando un modelo de gestión de las prácticas de salud en la perspectiva del cuidado complejo.
Descriptores
Descriptores: Carga de trabajo; Recursos humanos de enfermería; Cuidados de enfermería/organización y administración.
Cor
respondência: Ana Maria Muller de Magalhães. Escola de Enfermagem - UFRGS. Rua São Manoel, 963. Bairro Rio Branco. CEP 90620-110. Porto Alegre, RS.
Correspondência:
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Planejamento de recursos humanos de enfermagem: desafio para as lider
lideraa nças
INTRODUÇÃO
As questões que envolvem a gestão em saúde e em enfermagem
estão cada vez mais presentes no cotidiano de gestores, profissionais
da área e pesquisadores. A complexidade crescente do processo
de produção de cuidados exige a reestruturação dos modelos de
gestão e das organizações para fornecer respostas aos desafios da
demanda de atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS).
A prestação de serviços de saúde, diferente de outros setores
produtivos, ainda não conseguiu substituir os recursos humanos
por máquinas ou robôs que possam assegurar o atendimento ao
paciente. O advento de várias tecnologias tem auxiliado no
monitoramento mais rigoroso das condições clínicas do paciente,
assim como na precisão das intervenções terapêuticas, gerando a
necessidade de maior qualificação dos profissionais para sua
incorporação sem causar impacto na diminuição de trabalhadores
necessários para operá-las.
Quando se discute aspectos que envolvem o processo de trabalho
em saúde e as demandas da população, torna-se imprescindível
abordar temas referentes ao dimensionamento de pessoal, carga
de trabalho, condições de trabalho e absenteísmo, entre outros
aspectos que interferem na produção de cuidados. Os estudos
sobre recursos humanos em saúde e na enfermagem remontam à
década de 60, mas somente nos anos 80 ganham impulso
debatendo acerca da formação profissional, organização social das
práticas/trabalho em saúde, força de trabalho em enfermagem (FTE)
e mercado de trabalho(1).
O panorama mundial aponta dificuldades para as questões de
saúde que envolvem as enormes diferenças entre os países
desenvolvidos e os países pobres. O cenário de saúde no Brasil
também apresenta vários contrastes e desafios a serem superados
mediante problemas estruturais, políticos e culturais de organizações
e sistemas complexos como o SUS. Na área de enfermagem, revelase uma escassez de mão-de-obra, carência de qualificação
profissional, excessiva carga de trabalho e evasão da profissão,
ocasionando um fenômeno de migração de profissionais para os
países ricos(2).
Em nosso meio, estudos relacionados com a carga de trabalho
da enfermagem, grau de dependência dos pacientes e
dimensionamento de pessoal de enfermagem têm sido liderados
por Gaidzinski(3), a qual desenvolveu um método específico para
cálculo de pessoal, aprimorando-o no sentido de adequá-lo à
realidade brasileira. Este modelo define as etapas de identificação
da carga média de trabalho diária na assistência e determina a
proporção ideal das categorias profissionais de enfermagem,
considerando a jornada de trabalho da equipe de enfermagem e o
Índice de Segurança Técnica.
Acompanhando as discussões e a produção científica relacionada
ao tema de dimensionamento de pessoal em enfermagem, percebese a evolução das pesquisas e a ampliação de sua abrangência para
além da estimativa de cálculo de pessoal, incorporando aspectos
como o impacto nos custos da saúde e resultados assistenciais, o
estudo do grau de dependência dos pacientes nos cuidados de
enfermagem, a carga de trabalho da equipe de enfermagem e os
fatores que interferem na produtividade dos profissionais,
relacionados às condições de trabalho e à saúde do trabalhador,
entre outros.
A problemática em pauta consiste num tema recente nas
pesquisas acadêmicas, com lacunas de conhecimento e com
repercussões ainda modestas na prática, pois a falta de recursos
humanos de enfermagem nas organizações de saúde é uma
afirmação constante de enfermeiros e gestores responsáveis pelo
atendimento. Assim, propõe-se uma reflexão e análise sobre o
estágio do desenvolvimento das questões que envolvem o
planejamento de recursos humanos de enfermagem em nossa
realidade, subsidiando a elaboração de futuras pesquisas.
DIMENSIONAMENTO DE RECURSOS HUMANOS DE
ENFERMAGEM E A C
ARGA DE TRABALHO
CARGA
O primeiro método de planejamento de recursos humanos em
enfermagem surgiu em torno do século XVII, com Florence
Nightingale, pioneira da administração hospitalar e precursora da
profissão de enfermagem. Denominado intuitivo, baseava-se na
subjetividade e na relação proporcional entre trabalhadores e tarefas,
considerando a gravidade dos pacientes.
Atualmente, devido à complexidade dos cuidados e do processo
de trabalho em saúde tem se buscado desenvolver modelos de
adequação de pessoal de enfermagem de acordo com as
características dos pacientes e grau de dependência dos cuidados
de enfermagem. O dimensionamento de pessoal tem sido
considerado um desafio, haja vista que estes recursos são os mais
complexos da organização, e os demais recursos exigem a sua
presença, para que possam ser utilizados(4).
Apesar de ter havido algumas iniciativas de classificar os pacientes
quanto ao grau de dependência e o estabelecimento de horas de
enfermagem nas décadas de 70-80(5-7), apenas na última década
os órgãos oficiais da enfermagem e saúde no Brasil têm divulgado
critérios e parâmetros que orientem o planejamento de recursos
humanos em enfermagem nas organizações de saúde. As Resoluções
COFEN nº189/96 e 293/2004(8,9) estabeleceram os primeiros
parâmetros oficiais para o dimensionamento de pessoal de
enfermagem nas instituições de saúde e assemelhados, definindo o
quanti-qualitativo mínimo nos diferentes níveis de formação para a
cobertura assistencial.
Tais iniciativas, ainda recentes, contribuem com os enfermeiros da
prática na busca de solução para os problemas cotidianos de adequação
de pessoal em um contexto onde a demanda, na maioria das vezes, é
maior do que a oferta de atendimento, implicando em riscos para os
pacientes. A implementação das políticas de saúde e da filosofia de
trabalho da enfermagem está diretamente relacionada com a qualidade
e a quantidade dos profissionais que irão executá-las.
No hospital, “o processo de cuidar, como eixo central do trabalho
em enfermagem, se constitui num processo complexo contínuo e
que não pode ser adiado ou interrompido em várias circunstâncias”,
denotando a necessidade de um adequado planejamento de recursos
humanos(10). Neste contexto, é importante salientar a tendência de
atribuir os altos custos da saúde aos gastos com o quadro de pessoal,
entretanto, o processo de atendimento em saúde é
fundamentalmente uma relação de pessoas que implica em
interação, intervenção e trocas. A resolutividade e a qualidade do
atendimento em saúde estão intrinsecamente relacionadas aos
recursos humanos que os desenvolvem.
Em vários estudos o dimensionamento de pessoal tem sido foco
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de atenção das enfermeiras e gestores dos serviços de saúde por
interferir diretamente na eficácia e no custo do atendimento a saúde,
contudo, a falta de parâmetros para o planejamento e avaliação de
recursos humanos tem levado as lideranças de enfermagem a
equacionar pessoal de forma empírica, baseadas na experiência e
no julgamento intuitivo(11-13).
Inúmeros pesquisadores no Brasil(11,14-17) buscaram em modelos
internacionais (escalas e escores de gravidade) possibilidades de
testar na realidade brasileira parâmetros para estimar o tempo
despendido no cuidado ao paciente. Outros autores (4,18,19)
elaboraram modelos e escalas para classificar os pacientes de acordo
com o grau de dependência, traduzidos em valores numéricos que
compõem as variáveis quantitativas nas fórmulas para medir o tempo
despendido pela equipe de enfermagem no cuidado a um grupo de
pacientes e determinar o número de profissionais necessários.
Considerando as especificidades da área e os custos envolvidos,
muitos destes estudos estão centrados na área de terapia intensiva,
porém já existem iniciativas de aplicar estes métodos em outros
espaços hospitalares, buscando aproximar os modelos teóricos da
realidade com vistas a dar respostas à necessidade de alocar pessoal
adequado para cada setor de atendimento.
Estas considerações nos remetem a reflexões acerca do tema de
dimensionamento de pessoal na realidade brasileira, onde já existem
modelos capazes de avaliar e comparar o quadro de pessoal existente
e o projetado como adequado, a partir da contextualização e
especificação de diferentes cenários, como terapia intensiva e
unidades de internação. O que se observa nestes estudos são os
valores atribuídos às horas de enfermagem por tipo de paciente,
sem que haja melhor definição e especificação acerca destes
parâmetros. Dessa forma, questiona-se sobre a acurácia e
aplicabilidade nos diferentes cenários brasileiros. Na prática, a
aplicação destes modelos tem gerado dificuldades na adequação
do número de pessoal, ficando o sentimento da equipe de
enfermagem que estes cálculos são subestimados e que as escalas
não retratam a verdadeira realidade de trabalho.
A incorporação do termo carga de trabalho aos estudos de
dimensionamento de pessoal de enfermagem ocorre no sentido de
estimar a demanda de trabalho requerida dos profissionais de
enfermagem nas atividades de cuidado direto e indireto ao paciente.
A carga de trabalho é medida ou expressa em escores ou pontuações
que determinam o número de horas dedicadas pela equipe de
enfermagem a cada paciente. Devido ao emprego do conceito de
carga de trabalho com este sentido, é importante fazer uma distinção
do termo em outras áreas do conhecimento.
O conceito de carga de trabalho é amplamente utilizado no
campo da ergonomia, saúde do trabalhador e ciências sociais,
principalmente na perspectiva do materialismo histórico, buscando
dar sentido e compreender os fatores envolvidos no processo de
trabalho e seu impacto sobre o trabalhador. Neste caso, o termo
carga de trabalho diz respeito ao conjunto de exigências físicas
(carga física do trabalho - CFT) e psíquicas (carga psíquica ou
emocional - CP/CE) necessárias para a execução de uma tarefa,
podendo ser utilizado referindo-se exclusivamente à tarefa ou
simultaneamente à tarefa e ao envolvimento físico e social(20,21).
Nessa perspectiva, inicialmente, os estudos empregaram
instrumentos para medir o esforço físico empenhado pelo
trabalhador na execução de tarefas específicas procurando avaliar
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os impactos fisiológicos e desgaste físico, numa abordagem mais
clássica e reducionista do processo de trabalho. Posteriormente,
incorporou-se a dimensão de carga mental (desgaste psíquico ou
emocional) necessária à execução do trabalho, buscando maior
abrangência de compreensão não apenas sobre a tarefa, mas sobre
o envolvimento e significado que o trabalhador atribui ao seu
trabalho(21). Atualmente, devido à importância do mundo do trabalho
em nossa sociedade, estuda-se as dimensões físicas, psicológicas e
sociais envolvidas no processo de trabalho.
Uma importante questão que pode ser problematizada nos
instrumentos de medida da carga de trabalho para a equipe de
enfermagem é que estes se focam nas dimensões das dependências
físicas, fisiológicas e terapêuticas do paciente, numa forte influência
do modelo clínico de assistência à saúde, centrado na doença,
caracterizado por uma centralização no atendimento médico
individual e curativo, com foco na terapêutica médica(22, 23).Talvez
isto possa explicar a percepção das equipes de enfermagem de que
os pacientes requerem mais cuidados do que é retratado por estas
escalas.
Outro fator que merece destaque nesta discussão é o papel da
equipe de enfermagem na gestão do cuidado de saúde que, através
de políticas de humanização e diretrizes do SUS, tem garantido
melhor acesso e acompanhamento dos pacientes e seus familiares
na área hospitalar. Esta mudança se reflete na organização do
trabalho da equipe de enfermagem para as ações de cuidado, assim
como avança no sentido de assegurar a autonomia e participação
junto aos usuários dos serviços de saúde. Alguns instrumentos de
medida da carga de trabalho já contemplam o investimento da equipe
de enfermagem em ações de orientação e educação para o paciente
e sua família.
O pressuposto para uma nova gestão das práticas de saúde está
intrinsecamente relacionado com os modos como se organiza o
processo de cuidado nos serviços de saúde. A enfermagem, em
sua formação e prática, visa a integralidade das ações assistenciais
com toda a complexidade que perpassa o ser cuidado, no entanto,
observa-se no cotidiano de trabalho, que a demanda de tarefas e o
grande número de pacientes que necessitam de intervenções
dificultam a interação profissional/paciente/família. Trabalhar no
sentido de modificar as condições de trabalho e práticas de saúde
passa a ser um imperativo dos profissionais e atores sociais que
vivenciam este processo.
IMP
ACTO DOS RECURSOS HUMANOS NA QUALID
ADE
IMPACTO
QUALIDADE
AS LIDERANÇAS
DAS
DA ASSISTÊNCIA E O COMPROMISSO D
Mesmo reconhecendo a importância dos recursos humanos na
qualidade da assistência, as lideranças de enfermagem encontram
enormes resistências para adequar o número de pessoal à demanda
de atendimento nas instituições de saúde, principalmente em razão
de justificativas orçamentárias.
Estudos internacionais(24,25) têm buscado avaliar o impacto da
quantidade e qualificação dos profissionais de enfermagem nos
resultados assistenciais dos pacientes, destacando-se a escassez
de pessoal e a necessidade do desenvolvimento de políticas
educacionais e profissionais para tornar este campo de trabalho
mais atraente e retentor, ou seja, com menor rotatividade de pessoal.
A relação da equipe de enfermagem com a segurança dos
Planejamento de recursos humanos de enfermagem: desafio para as lider
lideraanças
pacientes e o impacto nos resultados da assistência tem sido foco
de discussão e trazem dados preocupantes da realidade americana
e européia, quando afirmam que o aumento de um paciente por
enfermeiro aumenta a probabilidade de 7% na mortalidade de
pacientes cirúrgicos ou que o aumento de um paciente por
enfermeiro aumenta a probabilidade de 23% na insatisfação no
trabalho pelo enfermeiro e de 15% de chance do mesmo apresentar
Burnout (síndrome que se caracteriza por sintomas de exaustão no
trabalho)(24).
Devido à complexidade, gravidade e altos custos nas áreas de
terapia intensiva, muitos estudos têm se desenvolvido nesta área
para avaliar a carga de trabalho de enfermagem, tanto para estimar
o quantitativo de pessoal, como para auxiliar no planejamento
orçamentário. Um dos instrumentos bastante utilizados dentro dessa
proposta é o Nursing Activitie Score (NAS), que visa quantificar os
cuidados de enfermagem e o grau de complexidade das atividades
junto aos pacientes durante um turno de trabalho(17).
Enquanto estudos internacionais apontam os riscos da
inadequação de pessoal, gerando sobrecarga de trabalho e falhas
no cuidado ao paciente, há poucos estudos no Brasil aprofundando
a temática. É importante para a realidade brasileira, confirmar os
pressupostos levantados de que o número de horas de enfermagem
está diretamente relacionado com a segurança dos pacientes e que
melhores níveis no quadro de enfermagem resultam num decréscimo
da média de permanência no hospital, diminuição das taxas infecção
urinária, pneumonia e choque(2).
Um recente estudo nacional, apresentou resultados que
convergem com os achados internacionais, indicando que os
trabalhadores de enfermagem apresentam absenteísmo relacionado
às doenças provenientes do cansaço físico e mental, pelas más
condições de trabalho, à jornada diária e a realização de tarefas em
ritmo acelerado(26).
A partir destas considerações e do avanço de alguns estudos na
área de planejamento de recursos humanos em enfermagem, não
se pode adotar postura omissa frente aos riscos a que estão
submetidos os pacientes diante de um quadro de pessoal inadequado
para desenvolver as ações de cuidado e de saúde. O compromisso
das lideranças de enfermagem com a adequação do quadro de
pessoal e seu impacto na organização do trabalho em saúde é crucial
para o alcance de um cuidado individualizado, integral e seguro.
Quando se estabelecem relações entre dimensionamento de
pessoal, o papel das lideranças na condução deste processo e a
segurança do paciente, amplia-se a discussão para um dos temas
mais atuais no cenário de saúde, que tem mobilizado recursos da
Organização Mundial de Saúde (27) e das organizações de
enfermagem no mundo todo, lançando políticas e programas para
identificar e atenuar os riscos aos pacientes internados. Todas as
ponderações apresentadas sinalizam a complexidade do tema e o
desafio que temos pela frente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As constantes transformações e avanços nos cenários de
produção de práticas de saúde, especialmente no ambiente
hospitalar, têm repercutido nas formas como as equipes se organizam
para prestar atendimento de saúde. A mudança da concepção de
paciente, como um indivíduo passivo, para usuário de saúde e a
presença da família dentro dos hospitais, socializam o conhecimento
das práticas de cuidado e das dificuldades enfrentadas pelos serviços
de saúde. Pode-se dizer que esta inclusão tem auxiliado os
profissionais de saúde a repensar as suas práticas e modos de cuidar.
Mesmo enfrentando resistências, baseadas num modelo de saúde
marcado pela hegemonia médica, a enfermagem desempenha um
papel central nos sistemas de saúde e no processo de atendimento
ao paciente, sendo esta uma condição essencial para a transformação
de realidades. Em tal cenário, destaca-se a fundamental importância
das lideranças de enfermagem na busca de soluções e novos modelos
de gestão que respondam às dificuldades de alocação de recursos
humanos, tecnológicos e financeiros, assegurando um processo de
atendimento baseado nas melhores práticas e que garanta a
segurança dos pacientes.
A tentativa de descrever, compreender e analisar os fatores
envolvidos no processo de trabalho de enfermagem para além da
dimensão técnica ou explícita do cuidado ao paciente e sua família,
implica em encontrar formas de avaliar além do tempo medido na
execução das tarefas e dar corpo às outras dimensões do cuidado
em saúde que exigem grande investimento dos profissionais, seja
em desgaste físico (horas de trabalho) como em desgaste mental
ou emocional para lidar com as situações que envolvem as interações
e intervenções no processo de trabalho em saúde.
A gestão das práticas de saúde na perspectiva da complexidade
parece trazer um caminho para discussão dos modelos utilizados
até então, apontando para a necessidade de resgatar o paradigma
do humano na organização do trabalho em saúde e em enfermagem.
A partir destas considerações, levanta-se a possibilidade de buscar
modelos de avaliação e análise da carga de trabalho de enfermagem,
que tenham a sensibilidade de incluir as dimensões mais subjetivas
das ações de cuidado com o paciente e sua família.
Os estudos analisados apontam a necessidade de aprofundar o
tema em questão, ampliando o foco de entendimento sobre as variáveis
que interferem no planejamento de recursos humanos de enfermagem,
considerando toda a complexidade e especificidade do trabalho nas
organizações de saúde. Os avanços deste campo de conhecimento
são fundamentais para subsidiar as lideranças de enfermagem na
tomada de decisões com vistas a assegurar um cuidado integral,
individualizado e humano, livre de riscos aos pacientes.
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