PESQUISAS / RESEARCH / INVESTIGACIÓN Análise das características comportamentais empreendedoras de micro e pequenos empresários Behavioral characteristics analysis of micro and small business entrepreneurs Análisis de las características de comportamiento de micro y pequeñas empresas Vanessa Nunes de Sousa Alencar Vasconcelos Mestre em Administração de Empresas pela Universidade de Fortaleza. Coordenadora do curso de Administração de Empresas da Faculdade NOVAFAPI. Endereço: Rua Vitorino Orthiges Fernandes, 6123 - Bairro Uruguai | CEP: 64073-505, Teresina – Piauí. E-mail: [email protected] RESUMO O objetivo deste trabalho foi identificar as características comportamentais empreendedoras dos proprietários-dirigentes das micro e pequenas indústrias de confecções da cidade de Teresina/ PI segundo pressuposto de McClelland. Realizou-se um estudo quantitativo envolvendo no total 50 micro e pequenas indústrias de confecções de vestuário. Para a coleta de dados, utilizou-se um questionário. Estes dados foram organizados, tabulados e analisados por intermédio dos software Microsoft Ecxell e SPSS 15.0. As principais conclusões deste trabalho mostram que os proprietários-dirigentes, na sua totalidade, apresentam um perfil empreendedor. Em todas as dez características avaliadas, os empresários pesquisados obtiveram pontuação superior a quinze pontos, que é a pontuação mínima considerada por McClelland, para que o indivíduo seja considerado empreendedor. Descritores: Empreendedorismo. Comportamentais empreendedoras. Micro e pequena empresa. ABSTRACT The objective of this study is to identify the behavioral characteristics of the entrepreneurial owner-managers of micro and small garment industries of the city of Teresina/Piauí/Brazil by McClelland (1972). It was conducted a quantitative study, classified as a case study involving a total of fifty micro and small garment industries. The main conclusions of this study show that most of the owner-managers have an entrepreneurial profile. In all ten characteristics evaluated, the entrepreneurs surveyed scored more than fifteen points, which is the minimum score considered by McClelland, that the individual is regarded as entrepreneurs. Descriptors: Entrepreneurship. Entrepreneurial behavior. Micro and small enterprises. RESUMEN El objetivo de este estudio es identificar las características de comportamiento de los empresarios propietarios-gerentes de la industria de la confección micro y pequeñas empresas de la ciudad de Teresina / Piauí / Brasil por McClelland (1972). Se realizó un estudio cuantitativo, clasificado como un caso de estudio con un total de cincuenta industrias de la confección micro y pequeñas empresas. Las principales conclusiones de este estudio muestran que la mayoría de los propietarios-gestores tienen un perfil empresarial. En los diez características evaluadas, los empresarios encuestados anotó más de quince puntos, que es el puntaje mínimo considerado por McClelland, que el individuo es considerado como empresarios. Descriptores: El espíritu empresarial. El comportamiento emprendedor. Micro y pequeñas empresas. Submissão: 22/06/2011 Aprovação: 04/10/2011 48 Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.5, n.1, p.48-54, Jan-Fev-Mar. 2012. Análise das características comportamentais empreendedoras de micro e pequenos empresários 1 INTRODUÇÃO As Micro e Pequenas Empresas (MPEs) formam um dos pilares de sustentação da economia de um país. No Brasil, atualmente, percebe-se uma forte tendência em conhecer, analisar e propor alternativas para melhorar o contexto de atuação desse segmento empresarial. Organizações públicas e privadas estão interessadas em desenvolver as MPEs, pois reconhecem a relevância dessas. As MPEs contribuem para melhoria do contexto socioeconômico do país. No plano econômico geram renda, oportunidades de trabalho e inovações. No plano social contribuem para a criação de postos de trabalho, para a absorção de matéria-prima, para o atendimento das demandas dos mercados locais e para a mobilidade social (FOWLER, 2001). Segundo informações do Serviço de Apoio às Micro e Pequena Empresas - SEBRAE, (2008), as pequenas empresas no Brasil são responsáveis por 99% das empresas existentes no Brasil, 98% das empresas do setor do comércio, 98% das empresas do setor de serviço, 95% das empresas do setor industrial, 54% da oferta de emprego, 73,7% dos empregos no comércio, 42,9% da mão de obra do setor de serviços, 42,5% do pessoal ocupado na indústria e 21% do Produto Interno Bruto (PIB). Frente a essas informações positivas divulgadas pelo SEBRAE, ocorre uma realidade relacionada à alta taxa de mortalidade das MPEs brasileiras. Até 2003, a taxa de mortalidade era de 49,4%, para empresas com três anos de existência, número muito alto. Porém, essa taxa reduziu significantemente e segundo pesquisa realizada pelo SEBRAE (2008) a taxa de mortalidade no Brasil foi, em 2003, de 35,9%, em 2004 foi 31,3% e em 2005 foi de 22% SEBRAE (2008). Para Drucker (2003), a sobrevivência de uma pequena empresa não depende apenas da capacidade de gestão de seu proprietário, ou de políticas públicas favoráveis. O autor afirma que a sustentabilidade empresarial depende das características e do comportamento desempenhado por proprietários inovadores. Defende que inovação é uma ferramenta utilizada por empreendedores, ou seja, empreendedores estão atentos, aproveitam as contingências ambientais e criam novos produtos e serviços. No Piauí/Brazil, o setor de indústrias de confecções merece atenção especial quando o assunto é empreendedorismo, pois representa um segmento econômico que contribui para o desenvolvimento do contexto social e econômico do estado. A indústria de confecções da cidade de Teresina/PI está em expansão e é também responsável pela geração de emprego e renda. Segundo o Sindicato das Indústrias do Vestuário (SINDVEST), esse é o segundo setor que mais gera renda e oportunidades de trabalho na cidade. Os micro e pequenos proprietários das indústrias de confecções da cidade de Teresina recebem influência dessa mesma contingência ambiental, ou seja, precisam se adequar ao perfil empresarial demandado pelo mercado globalizado. Disseminar o perfil empreendedor é necessário, nesse sentido McClelland (1961) contribui afirmando que o homem é um produto do meio e procura a replicação de seus parâmetros em seus próprios modelos, modelos estes que são validados e possuem aceitação pela grande maioria. Diante do exposto, essa pesquisa tem como objetivo identificar as Características Comportamentais Empreendedoras (CCEs) dos proprietários-dirigentes das micro e pequenas indústrias de confecções (vestuário) da cidade de Teresina/Piauí/Brazil. Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.5, n.1, p.48-54, Jan-Fev-Mar. 2012. 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Trata-se de um estudo transversal com abordagem quantitativa. Esse método permite quantificar as informações coletadas, pois traduz em números opiniões e informações para classificá-las e analisá-las (RICHARDSON et al.1999). A pesquisa foi realizada durante o primeiro trimestre de 2011 na cidade de Teresina/Piauí/Brazil, junto aos micro e pequenas indústrias de confecções da cidade conforme classificação adotada pelo SEBRAE. Os sujeitos dessa pesquisa foram 50 proprietários - dirigentes de micro e pequenas empresas do setor de confecções (vestuário) do município de Teresina, que foram resguardados pelos critérios de participação voluntária e confidencial. A escolha se deu pelo critério de acessibilidade e disponibilidade para responder o instrumento de pesquisa. A coleta de dados foi feita por meio da aplicação de um survey estruturado em duas partes. Na primeira parte as perguntas foram relacionadas ao perfil dos entrevistados e a gestão da empresa. As perguntas foram referentes ao gênero, idade, nível de escolaridade, estado civil, local de nascimento, participação em curso de empreendedorismo, atividade que exercia antes de criar a indústria de confecção, origem dos recursos investidos, carga horária de trabalho semanal, funjção que desempenha na empresa e tempo de atuação no setor. As questões referentes a gestão da empresa abordaram o processo de criação, a elaboração do plano de negócio, à realização de pesquisa de viabilidade técnica, econômica financeira, ambiental e responsabilidade social, à realização de planejamento, ao lançamento de produto inovador, às políticas administrativas, a utilização de controles básicos e software de gestão, a utilização de tecnologias e estratégias de e-business, às formas de comercialização, ao faturamento e produção mensal, ao desenvolvimento de parcerias, a participação em programas e projetos de apoio. A segunda parte foi composta pelo questionário de McClelland (1992) sobre as características do comportamento empreendedor, baseado em uma escala do tipo Likert com cinco pontos. Os questionários foram entregues pessoalmente pela pesquisadora aos sujeitos, que na ocasião explicou a finalidade da pesquisa e como deveriam ser respondidos, após os sujeitos responderem o questionário os mesmos foram recolhidos pela pesquisadora. Os dados coletados foram organizados e tabulados utilizando-se os softwares Microsoft Excel e SPSS versão 15.0. Os dados foram analisados com base no questionário elaborado para identificar as Características Comportamentais Empreendedoras (CCE), de McClelland (1992). O questionário é composto por um conjunto de cinqüenta e cinco afirmações, sendo que, para cada uma delas, o respondente atribui um valor de um a cinco. O número um corresponde a nunca, o dois a raras vezes, o três a algumas vezes, o quatro a usualmente e o cinco a sempre. A pontuação máxima é de vinte e cinco para cada uma das características. McClelland (1992) considera possuidor de característica comportamental empreendedora, o individuo que obtêm quinze pontos. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO No Piauí, o setor de indústria de confecções é composto por cerca de 1.000 empresas formais e informais, com estimativa de geração de 17.000 empregos diretos e indiretos. Concentradas principalmente nos municípios de Teresina, Piripiri, Parnaíba, Floriano, São Raimundo Nonato e Campo Maior, predomina a confecção do vestuário (masculino, feminino, 49 Vasconcelos, V. N. S. A. fardamentos e profissionais, bebê e infantil, roupa íntima e praia e roupas para esportes). Na cidade de Teresina existem 328 indústrias de confecções formais, essas empresas geram 13000 empregos diretos e produzem 500 mil peças por mês (SINDVEST, 2011). A indústria de Teresina vem participando de capacitações, consultorias e oficinas, onde é perceptível a melhoria da qualidade refletida na participação no mercado, incluindo algumas iniciativas no comércio exterior. Destacam-se, a confecção de moda casual feminina e moda íntima. No Brasil, estudos de Machado (2000) e Gimenez (2000) investigaram as possíveis diferenças entre o gênero dos empreendedores. Para Machado (2000), a mulher é empreendedora e possui uma visão realista do negócio. Segundo o autor a mulher é muito dedicada e comprometida, ela gosta de enfrentar os desafios do ambiente familiar e profissional. A análise dos resultados desta pesquisa é coerente com os estudos de Machado (2000) e Gimenez (2000), pois 70% dos empreendedores pesquisados pertencem ao sexo feminino, enquanto apenas 30% são do sexo masculino. Ainda, pode-se afirmar que a mulher brasileira é historicamente uma das mais empreendedoras do mundo (GRECO et al. 2010). Os empreendedores, de ambos os sexos, apresentam idade entre 41 e 50 anos. Esse resultado é aproximadamente condizente com as pesquisas sobre a idade dos empreendedores. Para Timmons (1994) os empreendedores de sucesso têm em média 35 anos, porém idade não é barreira, existem dirigentes – proprietários situados na faixa de 60 anos. Quanto ao estado civil, a maioria dos empreendedores pesquisados (38%) declarou estar casado e que os cônjuges são seus sócios, fato que reforça o pensamento de Gimenez et al. (1998) de que após a constituição da empresa, os maridos deixam seus empregos e tornam-se sócios de suas esposas. Em relação ao local de nascimento, 90% dos empreendedores nasceram no estado do Piauí, sendo que desses, 42% nasceram na cidade de Teresina. A cidade de Teresina é reconhecida pelo expressivo número de indústria de confecções estabelecidas (SINDVEST, 2011), dado que reforça o pensamento de Dolabela (1999) ao afirmar que o empreendedor é um produto do meio e as relações que ele estabelece com o ambiente influenciam suas decisões. A educação representa um papel relevante no desenvolvimento dos empreendedores (FILION, 1999a). Com relação ao nível de escolaridade dos empreendedores, 34% possuem o ensino médio completo, 32% possuem o ensino superior incompleto, 22% possuem o ensino superior completo e apenas 4% possuem pós-graduação. Entre os respondentes da pesquisa, 60% já participaram de algum curso de empreendedorismo, sendo que 18% participaram de cursos com duração de até 20 horas, 22% participaram de cursos com carga horária entre 21 e 40 horas e 60% participaram de cursos com duração de mais de 40 horas. Segundo Filion (1999b), o empreendedorismo pode ser ensinado, então participar de cursos de empreendedorismo deve fazer parte do cotidiano das MPEs. As principais atividades exercidas pelos pesquisados antes de criar suas indústrias de confecções consistiam por ordem de citação em: funcionários de empresa privada (40%), autônomos (18%), estudantes (10%), empresários (4%) e desempregados (4%). Em termos comparativos, esta amostra demonstra estar no mesmo nível da média das MPEs do país conforme pesquisa do SEBRAE (2008). Foi identificado que entre os 40% dos empresários que responderam ser funcionário de empresas privadas, mais de 50% eram empregados em indústrias de confecções. As barreiras de entrada nessa indústria 50 são pequenas, por isso, existe um número significativo de pessoas que se empregam nessas empresas para conhecer os processos e depois iniciar um empreendimento nesse segmento. Estes resultados do estudo corroboram o estudo de Dolabela (1999), que afirma que os empreendedores identificam uma oportunidade de negócio e investigam sobre esse negócio, antes de iniciarem suas empresas.. Em relação ao tempo de atuação no setor de indústrias de confecções, apenas 10% atuam no setor há até 1 ano, 26% atuam no setor entre 1 e 5 anos, 20% atuam no setor há pelo menos 5 anos e 44% atuam no setor a mais de 10 anos. Esse fato mostrou que o número de empresas nascentes é pequeno no referido setor. A empresa nascente é aquela com menos de 42 meses de existência (GRECO et al. 2010). No processo de abertura das empresas, os empreendedores recorreram muito mais ao capital próprio do que a empréstimos. Dos empreendedores que iniciaram as atividades do negócio com 100% de capital próprio estão expressivos 76% dos pesquisados. Os empreendedores que obtiveram empréstimos de familiares somaram 14% e os que recorreram a empréstimos bancários totalizaram 10%. Essa realidade está ligada aos aspectos mais desfavoráveis ao empreendedorismo no Brasil apontados pela pesquisa Greco et al. (2010), que são: ausência de políticas e programas de governo, serviços educacionais deficientes, falta de financiamento, de ciência e tecnologia e de regulamentação da competição no país. Na análise sobre os motivos para a abertura do negócio, os resultados mostraram que 80% dos empreendedores iniciaram sua empresa porque identificaram uma oportunidade de mercado. Nesse contexto, os empreendedores de sucesso iniciam um negócio por paixão, por necessidade de se realizar e acabam por gostar da atividade, assumindo um alto grau de comprometimento (FILION, 1999a). Somente 20% iniciaram seu negócio por necessidade de ocupação. Esses dados estão condizentes com os dados da pesquisa (GRECO et al. 2010). Essa pesquisa mostra que desde 2003 os empreendedores por oportunidade são maioria no Brasil. Em 2010, para cada empreendedor por necessidade existiam outros 2,1 empreendedores por oportunidade (GRECO et al. 2010). Ante os resultados, ficou evidenciado que 80% dos empresários não tiveram apoio quando foram iniciar suas empresas. O apoio, somente da família, foi apontado por 16% dos empreendedores e 10% firmaram parceria com outras empresas (terceirização). A opção de incentivos do governo não foi citada por nenhum dos pesquisados. Entende-se que incentivos do governo poderiam ser: fomento científico, redução de impostos, formação de mão de obra. A pesquisa de Greco et al. (2010) também aponta que um dos fatores mais desfavoráveis ao empreendedorismo é a falta de políticas e programas governamentais. Quanto à elaboração do plano de negócios antes do início das atividades da empresa, 76% das empresas não elaboraram o documento. O plano de negócios é um instrumento de planejamento das empresas. Este documento descreve todos os elementos e as estratégias para dar início a um novo negócio (DOLABELA, 1999). O planejamento empresarial está ligado às demais atividades do processo administrativo (KOTLER E ARMSTRONG, 1993). Igualmente, é um dos principais elementos para o sucesso do pequeno negócio (ZIMMERER e SCARBOROUGH, 1994; DOLABELA, 2006). O número de empresários que revelaram realizar planejamento é semelhante ao número de empresários que declararam ter elaborado o plano de negócios, apenas 30% realizam planejamento. Pode-se observar que 62% dos empreendedores pesquisados desempenham atividades administrativas, financeiras, de vendas, pesquisa e desenvolvimento, ou Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.5, n.1, p.48-54, Jan-Fev-Mar. 2012. Análise das características comportamentais empreendedoras de micro e pequenos empresários seja, todas. Essa é a realidade declarada pela maioria das micro e pequenas empresas brasileiras, onde o empreendedor acumula todas as funções e não tem tempo de planejar a atuação da empresa. Em relação à carga horária de trabalho semanal, 77% dos empreendedores declararam trabalhar entre 35 e 44 horas por semana e apenas 8% declararam trabalhar entre 15 e 24 horas semanais. Ainda sobre o inicio das atividades da empresa, 62% dos empresários responderam que não realizaram ou encomendaram estudos e pesquisas de viabilidade técnica, mercadológica, econômico-financeira, ambiental ou responsabilidade social. Neste aspecto, pesquisa do SEBRAE (2008), aponta que entre as razões para o fechamento das MPEs destaca-se o aspecto desconhecimento do mercado, fato que aumenta as chances de fracasso empresarial. Em relação à implementação de sistemas de controle, mais de 80% dos empresários utilizam os seguintes controles: controle de compras, controle de contas a pagar, controle de contas a receber. 60% das empresas realizam: controle de fluxo de caixa, controle de movimentação de diária de caixa, controle de vendas diária/mensal, controle de folha de pagamento. 50% realizam: controle de movimentação diária de bancos e controle de custos fixos. Enquanto os demais controles (controle de preço de venda, controle de prazo de validade das mercadorias, controle de custos variáveis, controle de estoque) são realizados por menos de 50% das empresas. 56% das empresas possuem esses controles informatizados e 54% utilizam software de gestão. Empresas de qualquer porte devem realizar os controles básicos de gestão, porém nas MPE esses controles são ainda mais necessários. A utilização de um software de gestão facilita o trabalho do empreendedor, que como foi citado acima, realiza todas as funções administrativas na MPE. Degen (2009) e Dolabela (2006) corroboram com esse pensamento afirmando que o gerente das pequenas e médias empresas encontra-se em ambiente mais escasso de recursos, o que torna difícil manter três funções básicas: conquistar e reter clientes, garantir a qualidade e assegurar o fluxo de caixa positivo e crescente. Foram pesquisadas as seguintes variáveis da política administrativa da empresa: perfil do cliente, estratégia de marketing, estratégia de atuação, estratégia de produção, recursos humanos, as formas de vendas, a inadimplência, o uso de tecnologias e serviços de e-business, os concorrentes (produtos e diferencial) e sua comparação com estes. A forma de recebimento com cheque pré-datado é a mais praticada pelas empresas, seguida pelo cartão de crédito e depois o pagamento a vista. O boleto bancário não é utilizado e a nota promissória tem pouco uso. Essas informações demonstram uma política de vendas eficiente, pois o fluxo de caixa é considerado extremamente importante para a MPE. A análise da inadimplência revelou que 18% das empresas possuem um nível de inadimplência significante, enquanto o restante, 82% não possuem inadimplência. Esses indicativos estão associados à política de crédito das empresas, que habilita somente os clientes cadastrados e com pelo menos dois anos de relacionamento com a empresa a utilizar a forma de pagamento com cheque pré-datado. As estratégias de marketing citadas como mais utilizadas em ordem de importância são: “preço e prazo”, “promoção”, “atendimento”, “buscar novos clientes e novos mercados” e “propaganda”. É comum nas estratégias de marketing da MPEs utilizar preço e prazo para atrair clientes, principalmente quando a qualidade e garantia dos produtos não são aspectos primordiais para o cliente (empresário confecção). Nesse contexto, o conhecimento sobre o produto e seu diferencial Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.5, n.1, p.48-54, Jan-Fev-Mar. 2012. em relação aos concorrentes que os empresários têm é expressivo. Mais de 90% dos empresários relataram que produzem produtos com qualidade superior e possuem um atendimento diferenciado. Esse fato é essencial a estratégia da empresa (DOLABELA, 1999). Observou-se que 74% das empresas utilizam a estratégia de liderança em custo, 20% utilizam a estratégia de diferenciação e apenas 6% utilizam a estratégia de foco, atendendo o segmento de fardamento industrial. Em relação a lançamento de inovações no mercado, 54% dos empresários revelaram que não lançaram nenhum produto inovador no mercado nos últimos três anos. Considera-se que esse fato tem impacto negativo para o desempenho das indústrias, pois sabe-se que o mercado globalizado demanda produtos inovadores. Na indústria de confecção pode-se introduzir no mercado um produto inovador através da adoção de processo produtivo inovador, através do uso de um novo tipo de matéria prima ou através do desenvolvimento de uma nova modelagem. Percebe-se que são muitas as formas de inovar, porém as empresas pesquisadas desconhecem e não praticam a inovação. Sobre as tecnologias e serviços de e-business, 66% utilizam e-mail, 54% utilizam a internet para divulgar a empresa, 36% utilizam a internet para vender produtos, 52% utilizam a internet para acesso e troca de informações, e-mail. As tecnologias e serviços de e-business propiciam as empresas maior eficiência e eficácia no mercado globalizado. Nesse aspecto a pequena empresa pode se beneficiar utilizando essas tecnologias para acelerar o processo de tomada de decisão, o acesso as tendências de mercado e o relacionamento com o cliente. As informações sobre o perfil dos clientes devem ser utilizadas vislumbrando os principais aspectos que influenciam o comportamento do consumidor para se atingir o objetivo de aumentar a comercialização (HISRICH e PETERS, 2004). Nesse estudo, percebeu-se que os empresários. De acordo com o grau de importância para a comercialização dos produtos, tem-se: loja de departamento, clientes de balcão, representantes comerciais, sacoleiras e órgãos públicos. Observou-se que os representantes comerciais e as sacoleiras são muito importantes para as empresas, os clientes de balcão são importantes e os demais são pouco importantes. Na área de recursos humanos os profissionais de estilismo, corte, modelagem e operadores de máquinas são considerados muito importantes e são muito demandados pelas empresas. Já os profissionais de administração e vendas são considerados importantes para as empresas. Em relação aos processos, instalações e equipamentos utilizados na produção, os empreendedores consideram que são apropriados e atualizados. As respostas obtidas a partir da análise dos dados foram: 12% consideram ótima, 36% consideram boa, 50% consideram razoável e 2% consideram ruim. Esta informação indica que os empreendedores têm conhecimento sobre os melhores processos e tecnologias, mas que não as utilizam. Análise das Características Comportamentais Empreendedoras O questionário de McClelland (1972) é composto por cinqüenta e cinco afirmações, sendo que, para cada uma delas, o respondente atribui um valor entre um e cinco. Está dividido em três conjuntos, são esses: realização, planejamento e poder. As características comportamentais empreendedoras estão incluídas nesses conjuntos, que são: busca de oportunidade e iniciativa, persistência, comprometimento, exigência de qualidade e eficiência, correr riscos calculados, estabelecimento de metas, busca de 51 Vasconcelos, V. N. S. A. informações, planejamento e monitoramento sistemático, persuasão e rede de contatos, independência e autoconfiança. O perfil dos empresários pesquisados, de acordo com a mensuração feita a partir da aplicação do questionário, aponta um nível satisfatório de desenvolvimento das Características Comportamentais Empreendedoras (CCEs), pois em todas as CCEs a média dos respondentes foi superior a quinze e conforme McClelland (1972), o indivíduo é considerado empreendedor quanto obtém pontuação mínima de 15 pontos, conforme pode ser observado na figura abaixo: Figura 2 – Média das CCEs dos pesquisados Fonte: Pesquisa direta As características relacionadas a esse conjunto da realização são: busca de oportunidade e iniciativa, exigência de qualidade e eficiência, persistência, comprometimento e correr riscos calculados (McCLELLAND, 1961). Dessa categoria, a característica que obteve maior média foi exigência de qualidade e eficiência, 19 pontos. Na indústria da confecção de Teresina é evidente a presença dessa característica entre os empresários, visto que, pode-se perceber que os mesmo se dedicam integralmente a suas empresas, a maioria trabalha mais de 44 horas semanal para assegurar a realização de seus objetivos. Além, disso desenvolvem mecanismos para assegurar que seus produtos excedam padrões de qualidade e cheguem a seus clientes no prazo determinado. Além disso, o grupo pesquisado demonstrou preocupação em produzir as melhores peças, mais rápido, mais barato e com qualidade superior que a previamente combinada com o cliente. Na característica busca de oportunidade e iniciativa, correr riscos calculados e persistência, os empreendedores obtiveram média superior a 18, isso significa que os empresários pesquisados desenvolvem mecanismos para sempre atualizar seus conhecimentos sobre o mercado em que atuam e dessa forma, tomar decisões e antecipar as tendências para colocar a disposição do mercado os produtos demandados. O empresário do setor de confecção, também, vê oportunidades onde outras pessoas não vêem e agarra essa oportunidade transformando-a em um negócio bem sucedido. Correr riscos calculados significa dizer que o empresário avalia as alternativas e calcula os riscos, depois age para reduzir os riscos, mas não declina de situações de desafio. Nesse grupo a característica de comprometimento foi a que obteve a menor média, porém acima de 15 pontos, o que caracteriza a presença da característica nos empresários pesquisados. Comprometimento significa que o empreendedor tem alto grau de envolvimento com as atividades da empresa e com os colaboradores, quando necessário coloca-se no lu52 gar dos funcionários se necessário e pensa no longo prazo (McCLELLAND, 1961). As características relacionadas ao conjunto de planejamento são: busca de informação, estabelecimento de metas e planejamento e monitoramento sistemático. Observa-se que a característica preponderante do grupo é busca de informação, aspecto extremamente relevante para os empresários, foi a única que obteve média superior a 20 pontos. Tal característica faz parte do conjunto de planejamento e representa a busca pessoal do empresário para obter informações sobre clientes, fornecedores e concorrentes, dedicação em conhecer o processo de fabricação de um produto e/ou prestação de um serviço e recorrer à ajuda de especialista (Dolabela, 1999). Representa a dedicação do empreendedor pesquisado em estar bem informado sobre as contingências ambientais e dessa forma antever as tendências futuras. Planejamento e monitoramento sistemático obtiveram média superior a 18 pontos. Isso significa que o empresário do setor de confecções planeja antes de tomar decisões, além disso, sempre revisa seus planos bem como divide tarefas de grande porte em tarefas menores. Por outro lado, os pesquisados obtiveram a menor pontuação na característica de estabelecimento de metas, embora tenham alcançado, na média, a pontuação que McClelland (1961) atribui ao indivíduo empreendedor. No conjunto de poder estão às características relacionadas à influência que o empreendedor procura exercer sobre seus pares para realizar seus objetivos. Nas características independência e autoconfiança e persuasão e rede de contatos, os empresários obtiveram média inferior a 18 pontos. Para Filion (1999a) empreendedores são os que frente aos desafios agem para superá-los mesmo que para isso tenham que enfrentar resistência, eles mantêm seu ponto de vista e buscam autonomia. Nesse aspecto, o empreendedor pesquisado demonstrou que no setor existem dificuldades e desafios, mas que sempre desenvolvem formas de superá-los. 4 CONCLUSÃO Esta pesquisa identificou o perfil dos proprietários-dirigentes de micros e pequenas empresas do setor de confecções (vestuário) teresinenses. Nesse aspecto, quase totalidade dos empresários é do sexo feminino, casadas, nasceram no Piauí, têm mais de 40 anos de idade e mais de 10 anos de experiência no setor. A maioria dos empreendedores pesquisados já participou de curso de empreendedorismo com duração de mais de 40 horas e o SEBRAE foi citado como o principal agente promotor dos cursos. A maioria dos micro e pequenos empresários pesquisados acumula funções administrativas, financeiras, vendas, pesquisa e desenvolvimento. Essa é uma realidade entre as micro e pequenas empresas, o gestor acumula as funções diárias por motivos diversos, tais como: limitação de recursos, incapacidade de delegar funções e controle excessivo. Dentre as razões que levaram os proprietários-dirigentes a abrir suas empresas, a identificação de uma oportunidade de negócio foi majoritariamente a mais citada. Esse fato é condizente com a realidade das MPEs brasileiras e deve-se a melhoria do contexto econômico brasileiro. Os empreendedores pesquisados eram na maioria funcionários de empresas privadas antes de iniciar seus empreendimentos. Esses empresários obtiveram experiência no setor trabalhando na área antes de empreender, o que colabora para a redução da mortalidade empresarial e para a sustentabilidade do negócio. Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.5, n.1, p.48-54, Jan-Fev-Mar. 2012. Análise das características comportamentais empreendedoras de micro e pequenos empresários As micro e pequenas indústrias de confecções foram iniciadas mais com capital próprio do que com empréstimos. O plano de negócio foi elaborado pela minoria das empresas pesquisadas. As principais dificuldades relatadas pelos empreendedores estão relacionadas ao acesso a políticas e programas públicos, acesso ao crédito e serviços de ciência e tecnologia. A dificuldade de acesso a serviços de ciência e tecnologia dificulta a gestão da inovação. Os empresários relataram não lançar produtos inovadores no mercado nos últimos três anos. Ao investigar a realização de planejamento pelos proprietários-dirigentes descobriu-se que a maioria não realiza planejamento em suas empresas. Somente pouco mais de 20% dos empresários revelou realizar planejamento. Em relação aos controles básicos de gestão, os mais utilizados são controle de compras, controle de contas a pagar, controle de contas a receber. Esses controles na maioria estão informatizados e os empresários utilizam software de gestão. Nesses aspectos faz-se necessário a conscientização dos empresários para a importância do exercício do planejamento e utilização dos controles básicos de gestão. A mensuração das Características Comportamentais Empreendedoras (CCEs) dos proprietários-dirigentes das micro e pequenas indústrias da cidade de Teresina/PI foi realizada por meio da aplicação do questionário desenvolvido por McClelland (1972). A compilação dos dados demonstrou que os pesquisados apresentam um perfil empreendedor. Em todas as dez características avaliadas, os empresários obtiveram pontuação superior a quinze pontos, que é a pontuação mínima considerada por McClelland para que o indivíduo seja considerado empreendedor. Na análise dos resultados, pode-se constatar que a característica mais acentuada, de modo geral entre os proprietários-dirigentes pesqui- Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.5, n.1, p.48-54, Jan-Fev-Mar. 2012. sados, foi a característica referente a busca de informação, que obteve uma média superior a 20 pontos. Com pontuações não menos expressivas, estão exigência de qualidade e eficiência, correr riscos calculados e planejamento e monitoramento sistemático. Esses resultados demonstram o interesse dos empresários locais em estar informados sobre as tendências de mercado e de colocar a disposição de seus clientes produtos de qualidade superior. Em relação à característica de planejamento e monitoramento sistemático percebe-se uma contradição entre o que foi declarado pelos empresários na parte do questionário que tratou da caracterização das indústrias e a parte das características comportamentais empreendedoras. Os empresários declararam que não elaboraram plano de negócio e que não realizam planejamento de suas empresas. Aqui, conclui-se que os empresários desenvolvem o comportamento, porém não percebem que este faz parte de suas ações. As pontuações que obtiveram valores medianos foram: independência e autoconfiança, persuasão e rede de contatos, busca de oportunidade e iniciativa. Em contraponto, as características com menores índices de pontuação média geral foram as de estabelecimento de metas e comprometimento. As principais conclusões deste trabalho mostram que os proprietários-dirigentes, na sua totalidade, apresentam um perfil empreendedor. Em todas as dez características avaliadas, os empresários pesquisados obtiveram pontuação superior a quinze pontos, que é a pontuação mínima considerada por McClelland, para que o indivíduo seja considerado empreendedor 53 Vasconcelos, V. N. S. A. REFERÊNCIAS COLNAGO, E. Pequena Empresa em Pauta Permanente. In: Gonçalves, A. Pequena Empresa: O Esforço de Construir. São Paulo: Imprensa Oficial, p. 115-117. 2002. DEGEN, R. O Empreendedor: empreendedor como opção de carreira. São Paulo: Pearson. 2009. DIEESE; SEBRAE. Relatório de pesquisa. Anuário do Trabalho na Micro e Pequena Empresa.empresas no Brasil. 2010. Disponível em: <http://sebrae.com.br/br/mortalidade>. Acesso em: 01 jul. 2011. DOLABELA, F. Oficina do Empreendedor. 6. ed. São Paulo: Editora de Cultura, 1999. DOLABELA, F. O segredo de Luísa. 30. ed. Rev. e Atual. – São Paulo: Editora de Cultura, 2006. DRUCKER, P. Inovação e espírito empreendedor (entrepreneurship): prática e princípios. São Paulo: Pioneira Thomson. 2003. 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