ENTREVISTA Como você resumiria Extremamente alto & incrivelmente perto? Oskar Schell é inventor, designer de jóias, entomologista amador, francófilo, percussionista, ávido escritor de cartas de fã, pacifista, arqueólogo do Central Park, romântico, Grande Explorador, joalheiro, ator (Yorick na montagem de inverno de Hamlet), vegan não-radical e colecionador de moedas raras, borboletas que morreram de causas naturais, memorabilia dos Beatles, cactos em miniatura e pedras semipreciosas. Ele tem nove anos. Depois de ser liberado da escola na manhã do 11 de Setembro, ele caminha até o apartamento de sua família no Upper West Side de Manhattan. Seu relógio marca 10h18:32. Ele escuta as cinco mensagens da secretária eletrônica, das 8h52, 9h12, 9h31, 9h46 e 10h04. Todas são de seu pai, que está preso no World Trade Center. Antes que Oskar tenha tempo de decidir o que fazer, ou mesmo o que sentir e pensar, o telefone toca. Seu relógio marca 10h22:29. Ele olha para o identificador de chamadas e vê que é seu pai. A história prossegue desse ponto, seguindo os esforços de Oskar para dar um sentido à morte sem sentido de seu pai. Como surgiu a idéia do romance? Na verdade, começou com um museu. Um outrora famoso escritor europeu ressurgia após quarenta anos desaparecido. Ao longo de sucessivas tentativas de reescrevê-lo, o romance foi destruído e reconstruído muitas vezes. O escritor e o museu saíram de cena. Um menino precoce em uma cidade avariada foram para o centro do palco. Escrevi trinta e nove rascunhos diferentes desse livro. Como um navio que teve todas as tábuas trocadas ao longo de uma viagem, o primeiro e o último rascunho não possuem nada em comum – nenhum personagem, tema ou enredo – mas ainda assim são partes de um todo. E para chegar às cerca de 400 páginas que acabaram compondo o romance, precisei escrever cerca de 2.500. Tentei escrever o livro que gostaria de ler, ao invés do livro que gostaria de escrever. Tentei me perguntar sempre se as coisas pareciam autênticas em vez de inteligentes. Essa abordagem intuitiva e errante explica por que esse livro terminou tão longe de onde iniciei, e também por que ele é tão pessoal, visceral, tão alto e tão perto. De onde veio o persongem Oskar? Você era parecido com ele? Você ainda é? Meus pais têm uma foto minha na geladeira. Tenho cerca de seis anos e estou dormindo no sofá vestindo um paletó de lã com estampa escocesa, uma gravata-borboleta azul com lantejoulas e um anel em cada dedo. Parece que esse visual representou o meu estilo durante cerca de um ano. Essa foto foi uma das minhas maiores fontes de inspiração para Oskar. Mas é muito difícil dizer até que ponto eu me pareço com ele. Como a maioria das crianças, eu tinha diversas coleções. Enviei muitas cartas de fã, sofri diversas tentativas frustradas de beijar mulheres da idade de minha mãe e trabalhei na joalheria da família durante um verão... Se ainda sou assim? Felizmente, ou infelizmente, a maior parte de Oskar que havia em mim foi civilizada. Uma grande parte do romance tem a ver com a guerra. O que o levou a elegê-la como um de seus temas? É claro que o noticiário estava saturado da guerra do Iraque. Antes disso, da guerra do Afeganistão. E antes disso, o 11 de Setembro. E há guerras dentro de nosso país, entre ideologias cada vez mais polarizadas e dentro de nossa vida doméstica: guerras íntimas, guerras dentro de famílias, entre amantes. Guerras silenciosas. Minha geração de norte-americanos está entre as mais privilegiadas da história no que diz respeito à guerra militar. Nossa percepção das forças armadas foi definida por ações benevolentes que, com mais freqüência que o contrário, chegaram tarde demais – na Bósnia, em Ruanda. Em outras palavras, guerra americana era boa. Foram uns poucos anos de dolorosa desilusão para a minha geração, não somente porque tivemos de enfrentar guerras malignas, mas também porque tivemos de enfrentar nossa própria insensatez. Somente agora temos capacidade de digerir as lições e fazer uso delas. A forma do livro é um tanto nova, particularmente o uso de fotografias. De onde surgiu essa idéia? Certa noite, eu estava navegando na Internet e fiquei chocado com o teor explícito das imagens com que topei quase sem intenção. Não digo isso num sentido ingênuo. Há algo de estimulante em estar tão próximo de tudo ao mesmo tempo. Mas também há algo incrivelmente solitário nisso. E desagradável. Isso me fez pensar nas crianças e no ambiente visual em que estão se desenvolvendo. Para uma criança de nove anos, como deve ser ter acesso a decapitações, vídeos caseiros de atrizes famosas fazendo sexo, cães brigando, bebês nascendo e pessoas saltando de aviões com páraquedas defeituosos? Algumas das imagens no romance remetem diretamente à história de Oskar, mas muitas estão ali para dar contexto à vida dele e para dar ao leitor acesso a uma forma diferente de empatia. Ou seja, as fotografias não mostram somente o que os olhos de Oskar podem ver, elas mostram seus olhos. Qual o significado do título? Gosto de títulos que contribuem para o significado do livro em vez de somente descrever seu conteúdo. Ou seja, não terei uma resposta muito boa para esta pergunta, assim como não poderia descrever qual o significado de Oskar. Oskar é Oskar. O título é o título. Mas sei que isso é um pouco irritante. Talvez eu pudesse dizer que há coisas no romance que são altas e estão próximas. A guerra é alta e próxima – para os avós de Oskar, que sobreviveram ao bombardeio de Dresden, e para Oskar, que perdeu o pai no atentado ao World Trade Center. O futuro é alto e próximo. O amor é alto e próximo. E muitas coisas são silenciosas e distantes. Há personagens mudos e personagens que não escutam. Personagens que viajam meio mundo para se distanciarem daqueles que amam e personagens que vagam por toda a cidade na tentativa de encontrar seu lar. E ainda há coisas – como o relacionamento de Oskar com seu pai – que são simultaneamente ruidosas e silenciosas, próximas e distantes... Em referência ao romance em si, espero que o leitor o sinta de maneira alta e próxima. Se eu tivesse uma boa voz e todo o tempo do mundo, gostaria de cantar meus pensamentos e sentimentos diretamente no ouvido das pessoas. Como minha voz é terrível e o tempo é limitado – escrevo a melhor substituição de que sou capaz. – DEPOIMENTO DADO PELO AUTOR À EDITORA NORTE-AMERICANA.