ESTUDO Mulheres bonitas têm menos chances de conseguir emprego Para especialistas brasileiras, o que conta mais é a competência Um estudo de dois economistas israelenses traz más notícias para mulheres consideradas bonitas. Segundo os pesquisadores, as moças que se destacam pela bela aparência têm 30% menos chances de contratação em uma entrevista de emprego. Para Ze’ev Shtudiner e Bradley J. Ruffle - autores de "Are Good-Looking People More Employable?" ("As Pessoas Bonitas São Mais Empregáveis?") - uma das explicações para o fenômeno seria a inveja que as entrevistadoras - 96% mulheres - sentiria das candidatas. "Outra possível explicação é que mulheres atraentes podem contar com a aparência para crescer e, assim, não fazer uso da inteligência", diz Shtudiner. Essa possibilidade é vista não somente nas entrevistas, mas no próprio ambiente profissional. A bacharel em direto Cecília Boelsums, 24, diz que sofreu em lugares onde fez estágio, pois era considerada antipática e metida. "Quando a pessoa desistia de fazer cara feia e vinha conversar, ficava tudo bem e ela parava de me julgar pela aparência", diz a jovem, que se considera "nada fora dos padrões de beleza" e muito esforçada nos estudos e na carreira. Por outro lado, a boa apresentação parece ser valorizada no mercado de trabalho brasileiro, segundo a publicitária Juliana Penha Gomes, mestre em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP). "É um conjunto de fatores estéticos, comportamentais e físicos. Está mais relacionado à adequação ao padrão predominante no mercado do que ao fato de ter nascido bonita, como uma modelo", diz, citando seu estudo "Beleza e Carreira no Brasil - O Significado da Beleza para Jovens Executivas e seu Papel no Mercado de Trabalho". Foco. Seja o candidato a emprego bonito ou feio, o foco da maioria das empresas brasileiras é a competência do profissional, afirma Míria Ângela Coelho Reis, professora de recrutamento e seleção da Faculdade Estácio de Sá de Belo Horizonte (FESBH). Ela ressalta ainda que é ideia ultrapassada associar a beleza feminina à "burrice". De qualquer forma, ela explica que, se a aparência for motivo de problemas em uma entrevista de emprego, a atitude está associada ao despreparo do próprio selecionador. "Ele tem que ser imparcial, fazer análise, mas não pode fazer julgamento da vida privada do profissional", alerta a professora. Preconceito. A pesquisa israelense pode até mesmo ter um teor preconceituoso, segundo Adriana Prates, presidente da Dasein Executive Search, empresa especializada em recrutamento de executivos. "É uma cultura na qual a beleza feminina é escondida. O Oriente Médio tem restrições à mulher até no trabalho, seja ela bonita ou não", aponta. Adriana contesta a justificativa de "inveja" do estudo. "As pessoas invejosas têm inveja de tudo, não somente da beleza. A inteligência, perspicácia, presença, são atributos invejados", comenta. Porém, em alguns casos, as profissionais até preferem que homens sejam seus superiores, segundo a publicitária Juliana. "Todas as entrevistadas relacionaram características negativas, como falsidade e competitividade ao gênero feminino", diz, ressaltando que rivalidade no mercado pode acontecer independentemente do sexo. A orientação das especialistas é saber a maneira de se comportar em um ambiente profissional. "Existem pessoas que podem erroneamente usar uma aparência indiscreta e provocativa para tentar se beneficiar no trabalho, mas isso é uma distorção enorme", diz Adriana.