Esta tarde/noite, fui designado a uma função que muito me honrou, não somente pelo convite, mas por ter sido escolhido, pelos meus pares e em nome da Corte Eleitoral do Rio Grande do Norte, para proferir algumas palavras em saudação à nova Presidente da Casa, a Desembargadora Maria Zeneide Bezerra, que, mesmo estando nesta composição do Tribunal Regional Eleitoral há um ano, é agora alçada à Presidência, o que faz renovar seu papel e iniciar um novo ciclo de sua história neste Tribunal. Desembargadora Zeneide Bezerra, saiba que nunca é fácil proferir um discurso em homenagem a uma figura pública da envergadura de Vossa Excelência. Sua história de vida é tão rica, tão cheia de detalhes, que se mostra difícil apresentá-la em poucos trechos. Igualmente, sua carreira profissional é tão marcada por experiências nobres, distintas e incomuns, que também se mostra complexa a escolha de passagens específicas para falar. Conto a todos, pois, que não há fórmulas a tecer um breve comentário na longa construção que Vossa Excelência andou a edificar pelas décadas em que laborou não somente pelo engrandecimento do Poder Judiciário, mas pela edificação de valores em prol da nossa sociedade, princípios norteados por aquele que é seu apreço mais sublime: A EDUCAÇÃO. Eis, então, que, se algum dia, algum dos Senhores me perguntasse qual o maior legado da Desembargadora, responderia eu de imediato: o amor pelo educar, pela lição de que somente através da educação se pode transformar o mundo em que vivemos. Iniciando minha fala, devoto a todos a mais íntima impressão, fruto de uma estreita convivência nesta Corte Eleitoral, aquela que carrego como sendo a verdadeira face de uma mulher nascida para transformar, aquela que também por vezes provoca espanto nas mentes acostumadas ao trivial, pois Vossa Excelência, em sua multiplicidade de ações e gestos, transcende a figura da Magistrada, ultrapassa a função Jurisdicional, demonstrando ao mundo que o Juiz pode ir muito além do simples julgar. Vossa Excelência nos ensina, nas mais simples atitudes, através da grandeza de suas intenções, que precisamos como seres humanos, sermos maiores que os cargos por nós ocupados. É preciso, assim, sair dos gabinetes, conhecer as pessoas e entender o mundo, mover-se aonde houver sede de Justiça e alimentar os carentes exatamente de educação, estejam onde estiverem. Vossa Excelência traz, assim, lições verdadeiras e necessárias por onde passa, representando um paradigma à vanguarda do Judiciário, inaugurando um estilo próprio, uma verdade inconteste de que não há limites a nossas atribuições e que, quando imbuído do desejo de realizar o justo, o Juiz deve aplicar a lei não somente nos processos, mas espalhar a eficácia da norma na vida social por atitudes concretas, pois o processo é somente mais uma ferramenta que o Julgador dispõe para implementar os direitos mais básicos, dos quais uma parcela ainda tão grande de brasileiros está apartada e tão distante. Ao longo de um ano, diga-se, fomos neste Tribunal colaboradores e testemunhas, pois, há exatos doze meses, quando tomou posse como Corregedora na Casa, Vossa Excelência vem demonstrando com vigor e energia a forma pela qual é possível multiplicar e redimensionar a prestação jurisdicional, mesmo quando na ausência de recursos, fazendo o muito com quase nada. Vossa Excelência, sendo uma pessoa tão valorosa, não poderia ocultar senão uma vida repleta de vitórias, de superações e, especialmente, dar lições de que, quando há a inabalável persistência, a dedicação incondicional aos estudos e a dose certa de humildade, podemos chegar a qualquer lugar. Desembargadora Zeneide Bezerra, ouso afirmar que sua força é sua origem. Aos fracos, o início desfavorável é sempre a justificativa ao insucesso. Aos fortes, o revés das condições é o que molda a alma para enfrentar a vida e trilhar a longa estrada do destino. Em tempos nos quais ninguém nunca sonhava com cotas ou benefícios sociais, Vossa Excelência superou uma infância difícil e humilde, para se sagrar como Magistrada da mais alta Corte de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte e, agora, Presidente de um Tribunal que integra o Judiciário Federal e zela por, talvez, o mais importante direito do brasileiro – o voto, a liberdade de escolher seu próprio futuro. Permita-me aqui dizer que eu trocaria toda essa homenagem se pudesse contar, por breves instantes, ao seu pai, o Senhor Joaquim, que o esforço dele não foi em vão. Um homem que deu imensa contribuição não somente por seu trabalho, mas especialmente por ter criado os filhos inserida numa família, com valores e ensino voltados à importância da dignidade e justiça. Desembargadora, o julgar é o ofício dos calmos, dos prudentes, daqueles que balizam sua própria vida por princípios. E isso não se aprende num banco de faculdade. O Direito nos ensina as leis, os ritos e os prazos. Mas, os princípios éticos e morais, isso se aprende numa família, em casa. Por tudo isso, tomando sua história, a pessoa justa que Vossa Excelência é, percebe-se que sua construção é sólida e se iniciou ali, na fortaleza do trabalho de Seu Joaquim e Dona Ester. Não fosse o esforço deles, da luta diária de um homem e uma mulher dedicados aos filhos, à família, de um marido que sonhou com um futuro aos seus e o conseguiu, com muita luta e dignidade, trabalhando como carpinteiro na Base Aérea de Parnamirim, onde Vossa Excelência veio ao mundo tempos depois, nada disso seria possível. O trabalho de seu pai, Desembargadora, está vivo. O labor dele, está solidamente edificado, onde quer que ele esteja agora. E não me refiro ao hangar que ele deixou de pé na Base Aérea e que está lá até hoje. Refiro-me à educação que foi entregue aos filhos, o maior bem que um pai ou uma mãe pode deixar. Nesse campo, Desembargadora, no campo do amor e da dedicação familiar, ouso afirmar, que Vossa Excelência cultivou sua determinação, solo fértil e fecundo ao seu desenvolvimento do caráter de uma mulher de garra. Foi neste solo da Cidade Trampolim da Vitória, em que V. Exa. deu seus primeiros passos, aprendeu suas primeiras lições de vida, construiu suas primeiras amizades. Mas, Desembargadora, sua determinação não encontra barreiras. Sua luta, quando conseguiu uma bolsa de estudos ao Colégio Nossa Senhora das Neves, a qual somente foi possível usufruir, graças ao desprendimento de seu irmão Osório, que já enxergando as virtudes intelectuais da mais nova irmã, que já se destacava nos estudos, abdicou ele próprio estudar, para que Vossa Excelência pudesse ter recursos ao transporte, da Base Aérea ao colégio em Natal. E mesmo depois, quando Vossa Excelência conseguiu uma vaga no ônibus reservado aos filhos dos militares da Base, sendo sempre a última da fila, a última a se acomodar, porque havia antes outros estudantes filhos de militares a escolher o espaço, sendo somente aquele que restasse o seu, a vida mostrou a todos que, não importa se o mundo coloca uma pessoa na derradeira posição. A dignidade e o esforço podem levar à superação, sempre. Vossa Excelência é a prova viva disso. Não fosse assim, não teria, somente devido à sua luta, concluído a graduação em 1973 e se pós-graduado, já em 1976, em Administração. Não teria se especializado tanto, recebendo diplomas de pós-graduação, como em 1978, em Direito Civil e Comercial, em 1981, em Direito do Trabalho, pelo Centro de Estudos Judiciários, em Lisboa, no ano 2000, ou, sucessivamente, em 2008 e 2009, pela ESMARN. Vossa Excelência, portanto, nunca se acomodou. Esteve se preparando aos novos desafios da vida, fazendo valer a máxima do nosso maior expoente intelectual, Câmara Cascudo, quando asseverou que “a recompensa do trabalho é sempre a alegria de realizá-lo”. Desembargadora, Vossa Excelência “É uma batalhadora”, como a definiu o Desembargador Amílcar Maia, há exato um ano, quando da solenidade de sua posse como Corregedora Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte. Mas o Desembargador Amílcar não fez essa ponderação gratuitamente. Em seu histórico, além de ter ocupado tantos cargos administrativos, em áreas como sistema penitenciário ou em setores de planejamento do Estado, orgulhe-se de ter integrado, igualmente, a Ordem dos Advogados do Brasil, no período de 1974 a 1980. Admitida por concurso público como Magistrada do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, em 1980, foi nomeada à Comarca de Touros. Dali removida, em 1981, a São Gonçalo do Amarante, foi em seguida promovida à segunda entrância, em 1983, à Comarca de Tangará. Chegou, finalmente, à terceira entrância, por merecimento, em Ceará- Mirim, onde se destacou não somente como Juíza Eleitoral, mas também Diretora do Foro e gestora de incontáveis projetos sociais. Finalmente, foi alçada ao cargo de Desembargadora, em setembro de 2010, por antiguidade, o que coroou sua carreira jurídica. Mas, retrocedendo um pouco e pinçando a cronologia, pode-se dizer, Desembargadora, que, em CearáMirim, foi um marco importantíssimo na vida de Vossa Excelência, porque lá seu trabalho nas funções extra jurisdicionais ganhou imenso volume e destaque, especialmente, no ano de 2006, com o “Projeto Social Educart”, o qual beneficiou com registro de nascimento mais de uma centena de crianças. Naquele mesmo ano, ganhou também importância o “Projeto Social Cafuné”, voltado à retirada de crianças de situação de risco, especialmente aquelas ligadas aos entorpecentes, à prostituição e aos maustratos. Mas, Desembargadora, lembro que Vossa Excelência não se acomodou. Nunca. Houve ações como o “Projeto Judiciário vai à Comunidade”, o qual tinha por objetivo tornar o Poder Judiciário mais acessível à população, descentralizando serviços judiciais e notariais. Outros, como o “Projeto Desenvolver”, voltou-se à capacitação de servidores do Tribunal de Justiça, em 2006. Contudo, reserve-se o maior destaque à anotação do “Projeto Justiça na Praça”, iniciado em 2007, na Praça Sete de Setembro, em Natal, liderado por Vossa Excelência. Os dados do “Justiça na Praça”, realmente, expressam a grandeza e o pioneirismo da ação, pois, desde seu início, os trabalhos já beneficiaram milhares de pessoas, havendo sido realizadas, até o presente momento, quarenta e duas edições, o que só demonstra a longevidade e o sucesso da ideia. Deve-se registrar, que o “Justiça na Praça” foi escolhido pelo Conselho Nacional de Justiça, em 2010, como sendo uma das três melhores práticas judiciárias brasileiras, inclusive sendo recomendada a adoção por todos os Tribunais de Justiça do país. Outras ações, como o “Programa Justiça e Escola”, o qual já beneficiou, desde 2007, também milhares de estudantes da rede pública de ensino, o que traduz a dimensão do dinamismo da Desembargadora Zeneide Bezerra. Sempre movida pelo interesse em aproximar o Judiciário da população, seu entusiasmo impulsiona equipes de Magistrados, servidores e colaboradores, pois a superação parece ser a palavra de ordem em todas as ações movidas por Vossa Excelência. Desembargadora Zeneide, eu poderia discorrer aqui, durante toda esta tarde/noite sobre os importantes cargos que Vossa Excelência já ocupou ou, ainda mais, sobre as ações que criou e coordenou, sempre pessoalmente, verificando o andamento dos trabalhos in loco e impondo a marca de sua personalidade singular em tudo que fez. Mas preferi pinçar apenas algumas, para ilustrar a vastidão de seus ideais e a nobreza de seu espírito, as quais cuidei de apontar. Certamente, uma mente dinâmica como a de Vossa Excelência, chegou, aqui, ao merecido lugar. A Justiça Eleitoral diferencia-se por ser o mais inovador, criativo e operacional braço do Poder Judiciário brasileiro. Sendo destaque mundial, por seus avanços nas áreas de tecnologia da informação e logística, entrega ao país umas da mais respeitadas, confiáveis e céleres eleições do mundo, sendo referência a vários outros países nas etapas de registro de candidatos, votação e totalização de votos. Hoje, não se pode pensar no dinamismo e nos números da democracia brasileira sem os avanços da Justiça Eleitoral, quando o esforço de milhares de Juízes e servidores entrega à Nação, em poucas horas, o resultado nacional da escolha popular com transparência e numa velocidade que somente se supera, a cada ano. Vossa Excelência, sendo igualmente célere e dinâmica, na Presidência deste Tribunal estará navegando em mar sereno e conhecido. Seus projetos sociais, tão elogiados e reconhecidos por todos, aqui encontrarão uma guarida sem tamanho, posto que o grande desafio hoje dos Tribunais Regionais Eleitorais não é mais a superação tecnológica, mas, sim, levar noções de cidadania, de voto consciente e da escolha responsável às populações, ainda tão carentes de informação por todo o país. Isso porque, de nada vale termos uma das mais modernas eleições do planeta, se nosso povo ainda não entende o verdadeiro valor do voto. Desembargadora, a missão é árdua e difícil. Aceitála somente dimensiona a grandeza de sua coragem. Sabe-se que no afã da modernidade, a Justiça Eleitoral atravessa hoje um grande momento de recadastramento biométrico, o que permitirá carrear ainda mais segurança ao eleitor. Esse grande processo, iniciado na gestão do Desembargador João Rebouças, em 2013, foi aperfeiçoado pelo Desembargador Amílcar Maia, em 2014. Logo em seguida, chegou no trabalho do Desembargador Virgílio de Macedo Júnior, o qual promoveu importantes transformações no Tribunal Regional Eleitoral potiguar, além de ter levado a continuidade do cadastramento de eleitores, fazendo o Rio Grande do Norte se destacar, nessa área, no cenário nacional. Desembargador Virgílio, permita-me dizer que Vossa Excelência contribuiu muito ao engrandecimento da Justiça Eleitoral potiguar. V. Exa. das grandes virtudes e qualidades que possui, destacamos a sua inteligência, educação, fidalguia para com todos e, também uma característica marcante, qual seja, atuação descentralizadora. Somos testemunhas das vezes em que V. Exa. compartilhou e dividiu com todos os Membros desta Corte e com o seu corpo diretivo, suas preocupações em busca de resoluções para gerir bem a máquina pública. Ao Desembargador Virgílio, o nosso mais sincero muito obrigado pela condução na Presidência desta Casa, rogando que possa também fazer um excelente trabalho, agora, frente a Vice-Presidência e Corregedoria Eleitoral deste Tribunal. Percebe-se, assim, Desembargadora Zeneide, que a obra deste Tribunal encerra-se em grandes homens e agora é entregue a uma das mais valiosas damas do Poder Judiciário potiguar. Sabemos todos que, não poderia haver escolha e momento melhor. A força de uma mulher se afere pela nobreza de seus sentimentos. Que Deus, o senhor da vida, em sua infinita bondade e Nossa Senhora, derramem bençãos, para que V. Exa. possa construir suas ações sempre iluminadas nas três virtudes teologais enaltecidas por um dos mais influentes escritores do cristianismo primitivo, o Apóstolo São Paulo, que representa: a Fé, a Esperança e a caridade. Parabéns. Seja muito feliz nesta Presidência e conte sempre conosco. Muito obrigado pela atenção e paciência de todos.