ALTERNATIVA PARA DETERMINAR ACURÁCIA DA PREVISÃO DO MBAR UTILIZANDO ÍNDICE DE BRIER Reinaldo Bomfim da Silveira1 Juliana Maria Duarte Mol1 RESUMO Este trabalho propõe um método para avaliar a qualidade das previsões numéricas para localidades específicas, através do conhecido índice de Brier, em particular aquelas produzidas pelo modelo numérico de previsão do tempo operacional no Instituto Nacional de Meteorologia, MBAR, tanto utilizando diretamente o modelo ou com o pós-processamento estatístico MOS (do inglês Model Output Statistics). Embora este índice seja usualmente aplicado a categorias, testamos uma maneira simples de aplicá-lo a dados contínuos, tais como temperaturas, chuva, pressão e outros. Os resultados sugerem uma boa inserção aos sistemas de acompanhamento operacional, tal como realizado no INMET. ABSTRACT This work suggests an alternative methodology for evaluate the quality of NWP models, especially those regarding to point forecasting, gathered either as result of interpolation on model grid or as post processing methodologies such as MOS. The key aspect is the use of Brier scores and its components. Although these scores are mostly applied to categorical outputs, we have tested a straightforward methodology for applying it to continuous variables, such as temperature, rainfall, pressure and others. The results so far give good indications of the use of such methodology for applications on operational basis, as done at INMET. Palavras-chave: MBAR, verificação, Índice de Brier. 1 Instituto Nacional de Meteorologia – INMET, Eixo Monumental Via S1 Sudoeste CEP 70680-900, Brasília – DF, Fone: (61) 3343-1779, Fax: (61) 3343-1619, e-mails: [email protected] [email protected] INTRODUÇÃO O método de verificação, proposto por Brier (1950) e seus desdobramentos, como aqueles revistos por Mason (1982), é utilizado desde longa dada para determinação da destreza de modelos numéricos. As estatísticas de erro dos modelos numéricos, como quantidades médias seja vício ou erro médio quadrático, associados ao coeficiente de correlação são também bastante utilizadas, tal com o indicado por Murphy (1988). No INMET, estas ferramentas são utilizadas sistematicamente desde 2000, conforme descrito por Bernardet et. al. (2000) e aplicadas operacionalmente para avaliação do Modelo Brasileiro de Alta Resolução (MBAR), descrito por Silveira et. al (2000). Como alternativa a avaliação atual, o INMET aprimora uma metodologia para uso dos coeficientes tais como taxas de acerto, erro, correta rejeição e alarme falso, implícitos nos índices de avaliação de dados categóricos (valores de chuva maiores ou menores que um dado limite, temperatura abaixo ou acima de um valor, etc.) para previsões para localidades, ou melhor, para um dado ponto. A chave para esta aplicação é escolher convenientemente qual o limite para avaliação de um dado parâmetro meteorológico para indicá-lo como aceitável (ou não). As simulações numéricas produzem diversas saídas, com alcances variados em tempo e espaço, mas para o usuário final a previsão de ponto é a de maior interesse, seja por questões de deslocamentos a este ponto ou pelo motivo óbvio da necessidade de conhecer o estado futuro da atmosfera sobre sua cidade, bairro, etc. Avaliar a qualidade das previsões para localidades específicas tornou-se então um desafio desde longa dada. A adaptação dos coeficientes do erro para dados contínuos é mostrada adequada para este propósito. MÉTODO Os resultados de previsões pontuais, diretamente do MBAR ou através do MOS, são avaliados de acordo com a ocorrência desejável ou não, sobre um dado ponto e para um dado nível de aceitação. Para determinar o nível de aceitação, sem impor modificações nos parâmetros originalmente previstos, uma referência deve ser adotada. Usualmente utiliza-se categorias, diretamente ou indiretamente relacionadas a uma dada aplicação, por exemplo, temperaturas abaixo de um limite para vendas de sorvetes, etc. No caso particular a referência para a aceitação é o desvio padrão da variável meteorológica, na região de previsão, de maneira que o erro de uma dada 2 Instituto Nacional de Meteorologia – INMET, Eixo Monumental Via S1 Sudoeste CEP 70680-900, Brasília – DF, Fone: (61) 3343-1779, Fax: (61) 3343-1619, e-mails: [email protected] [email protected] previsão seja comparável ao desvio padrão e depois avaliado conforme a observação válida para o evento. Entende-se por observação válida aquele cujo valor está no intervalo climatológico, delimitado pelo desvio padrão, tal que: f i ≡ 0 < rms ( prog ) < σ × C A (1) oi ≡ μ − (σ × C A ) < var(obs ) < μ + (σ × C A ) (2) Onde f i é o indicador binário da previsão correta/incorreta (1 ou 0) e oi representa o indicador de observação válida/inválida (1 ou 0) para o evento i. μ e σ são respectivamente, a média e o desvio padrão das normais climatológicas e C A é o coeficiente de ajuste do desvio padrão que assume valores em intervalos iguais a 0.5 ( 0.5 ≤ C A ≤ 2.5 ). Este coeficiente é na verdade uma medida de desafio para o índice de destreza, onde um valor muito acima de 1.0 aumenta significativamente a região de aceitação. Para N eventos, o índice de Brier é calculado como a medida do desvio médio entre os indicadores de previsão e observação. Então: N IBR = (1 / N )∑ ( f i − oi ) 2 (3) i =1 Com N igual ao número de eventos em análise. Em (3) o Índice de Brier (IBR) pode assumir valores no intervalo de zero e um, sendo zero, a previsão perfeita. As previsões podem ser derivadas de diversas fontes, embora necessariamente deva ser para um ponto, exceto quando a observação possa corresponder áreas limitadas. De acordo com os valores, zero e um, atribuídos para a variável prevista e observada, são possíveis algumas combinações para a medida da acurácia das previsões, descritas na tabela 1. (Mol, 2005). Tabela 1 – Possíveis situações aplicadas para os valores das variáveis previstas e observadas. Variável Prevista 1 1 0 0 Variável Observada 1 0 1 0 Acerto Alarme Falso Falha Correta rejeição 3 Instituto Nacional de Meteorologia – INMET, Eixo Monumental Via S1 Sudoeste CEP 70680-900, Brasília – DF, Fone: (61) 3343-1779, Fax: (61) 3343-1619, e-mails: [email protected] [email protected] O cálculo do índice de Brier, tanto para as previsões do MOS quanto para as previsões do MBAR, utilizam os dados observados consistidos pelo controle de qualidade dos dados do INMET (CQ), conforme Sugahara et. al. (1999). RESULTADOS E DISCUSSÕES Como aplicação, escolhemos as previsões realizadas para as regiões brasileiras, para todas as localidades que realizam observações. Por questão de simplicidade, para avaliar a destreza do MBAR e MOS, foram utilizadas somente as estações de observação do INMET. Nas figuras 1 e 2 são mostrados valores do índice de Brier, acumulado mês a mês, para o período de 12 meses compreendendo o ano de 2005, para a variável precipitação acumulada em 24 horas prevista pelos meteogramas e temperatura mínima do ar prevista pelo MOS, respectivamente. Opções do coeficiente de ajuste CA, estão também indicadas nas curvas da figura 1, recebendo valores de 0.5, 1.0, 1.5, 2.0 e 2.5. Para a correta interpretação do gráfico, pede-se observar que 0 indica previsão perfeita e 1 imperfeita. Nota-se na figura 1, que a escolha do coeficiente é importante e reflete no nível de operacionalidade de um sistema de previsão numérica do tempo. Então a escolha de valor elevado para o coeficiente de ajuste, implica em aceitação de previsões provavelmente fora do limite climatológico aceitável para uma dada variável e localidade. Por outro lado, um valor pequeno impõe um rigor incompatível com as condições reais do modelo numérico, características locais, orografia, etc. Tomando-se a região Sudeste como exemplo, onde o desafio de correta previsão é mais difícil, dadas as características do tempo naquela região, nota-se que para chuva acumulada em 24 horas, conforme a figura 1, utilizar o desvio padrão como meta é mais adequado do que impor limites muito altos ou fáceis, já que a variabilidade do índice ao longo do ano reflete a variabilidade física do processo, o que não pode deixar de ser descrito pela previsão numérica. A figura 1, inferior, reúne todas as regiões do Brasil para o coeficiente de ajuste igual a 1.0, ou seja, para referência igual ao desvio padrão da variável. Observa-se que a chuva prevista é comparável ao desvio padrão e similar para as regiões, com pequena exceção para a região Sudeste que desvia-se no mês de agosto com valor alto para o índice de Brier. No caso da temperatura mínima, conforme a figura 2, a interpretação dos resultados é análoga a chuva, mas nota-se que a comparação com o valor exato do desvio padrão impõe valores altos para o índice de Brier. As previsões de temperatura do MBAR, ainda que corrigidas pelo MOS, tem 4 Instituto Nacional de Meteorologia – INMET, Eixo Monumental Via S1 Sudoeste CEP 70680-900, Brasília – DF, Fone: (61) 3343-1779, Fax: (61) 3343-1619, e-mails: [email protected] [email protected] limitações, principalmente devido ao modelo de solo simplificado, utilizado operacionalmente pelo modelo, que se encontra em processo de ajuste e melhoria. Região Sudeste Precipitação Acumulada em 24hs Previsão Pontual - MBAR IBR-MBAR 1.00 CA=0.5 0.80 CA=1.0 0.60 CA=1.5 0.40 CA=2.0 0.20 CA=2.5 0.00 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Mês/2005 Coeficiente de Ajuste = 1.0 Precipitação Acumulada em 24hs Previsão Pontual - MBAR IBR-MBAR 1.00 Centro-Oeste 0.80 Sudeste 0.60 Sul 0.40 Nordeste 0.20 Norte 0.00 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Mês/2005 Figura 1: Acurácia das previsões médias do MBAR, para chuva acumulada diária. Região Sudeste, com vários coeficientes de ajuste (topo) e previsões para as regiões do Brasil, escolhendo CA igual a 1.0, como o melhor coeficiente. Região Sudeste Temperatura Mínima Previsão Pontual - MOS IBR-MBAR 1.00 CA=0.5 0.80 CA=1.0 0.60 CA=1.5 0.40 CA=2.0 0.20 CA=2.5 0.00 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Mês/2005 Coeficiente de Ajuste = 1.0 Temperatura Mínima Previsão Pontual - MOS IBR-MBAR 1.00 Centro-Oeste 0.80 Sudeste 0.60 Sul 0.40 Nordeste 0.20 Norte 0.00 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez M ês/2005 Figura 2: Acurácia das previsões médias do MOS, para temperatura mínima. Região Sudeste, com vários coeficientes de ajuste (topo) e previsões para as regiões do Brasil, escolhendo CA igual a 1.0, como o melhor coeficiente. 5 Instituto Nacional de Meteorologia – INMET, Eixo Monumental Via S1 Sudoeste CEP 70680-900, Brasília – DF, Fone: (61) 3343-1779, Fax: (61) 3343-1619, e-mails: [email protected] [email protected] A alternativa para medidas de acurácia, conforme apresentada, é utilizada no INMET sendo associada a processos operacionais de disponibilidade de produtos, constituindo uma medida de eficácia do sistema de previsor numérico que inclui o modelo numérico (MBAR) e todos os demais processos para execução, pós-processamento e verificações, constituindo-se o índice de desempenho do sistema previsor. A análise mensal deste índice tem ajudado significativamente na melhoria do sistema previsor do INMET. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao Dr. Shigetoshi Sugahara pelo desenvolvimento do CQ e MOS utilizados no INMET e pelas discussões importantes acerca dos desenvolvimentos dos processos de verificação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bernardet, L. R., Silveira, R.B, Edwards, J. P., 2000. Verificações do Sistema de Previsão Numérica do INMET. Anais do XI CBMET, Rio de Janeiro. Brier, G. W., 1950. Verification of forecasts expressed in terms of probability. Monthly Weather Review, 78, 1-3, AMS, 1950. Mason, I., 1982. A model for assessment of weather forecast. Australian Met. Magazine, 30, 291-303. Mol, J. M.D., 2005. Estimativa de Precipitação por meio de Sensoriamento Remoto. Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos, Publicação. DM-86/2005, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 88p. Murphy, A.H., 1988. Skill scores base don the mean square error and their relationships to the correlation coefficient. Mon. Wea. Ver, 16, 2417-2424. Silveira, R.B, Bernardet, L. R, Mol, J., Falcão, A., Guedes, J.M.F., 2000. Sistema Previsor Numérico do INMET, Anais do XI CBMET, Rio de Janeiro. Sugahara, S., 1999. Normais climatológicas das estações de superfície do Brasil, para o período de 1962-1990. Projeto de Pesquisa desenvolvido no Instituto de Pesquisas Meteorológicas da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Campus de Bauru. 6 Instituto Nacional de Meteorologia – INMET, Eixo Monumental Via S1 Sudoeste CEP 70680-900, Brasília – DF, Fone: (61) 3343-1779, Fax: (61) 3343-1619, e-mails: [email protected] [email protected]