Acontecimento e Memória no Telejornal: Comunicação efetiva e afetiva1 Maria Lúcia Vissotto Paiva Diniz2 Universidade Estadual Paulista Resumo Pretende-se investigar o telejornal, gênero midiático que envolve vários atores, técnicas e linguagens, enquanto construção sincrética de equipes de produção cuja finalidade é firmar com o telespectador contratos que efetivem sua credibilidade, confiança, adesão e constância. O acontecimento será tratado como espetáculo, enunciação enunciada, apreciada em função do efeito que produz no enunciatário. E a memória, enquanto “memória semiótica” do enunciador, um modelo sintagmático cujo simulacro formal pode ser identificado pela Semiótica francesa, que situa o conjunto de estruturas disponíveis no momento da enunciação. A análise da enunciação, enquanto produção e interpretação (enunciador/enunciatário :: memória/acontecimento) evidenciará estratégias e efeitos de sentido que garantem a comunicação efetiva e afetiva. Palavras-chave Semiótica francesa; Enunciação; Contratos; Fidúcia; Afetividade; Paixões. Introdução Este estudo pretende investigar o telejornal enquanto gênero midiático, em que a informação funciona como agente mediador entre o fato, ocorrido no mundo natural, e a notícia apresentada em relato sincrético, uma construção que envolve vários atores, técnicas e linguagens. Essa produção, realizada de forma coletiva, constrói paulatinamente o texto final audiovisual, que apresenta formas de expressão de diferentes linguagens. Pertencem ao sistema visual a linguagem verbal escrita, linguagem cinética (imagem em movimento), linguagem gestual (inclusive da expressão facial), linguagem cenográfica (cenários, figurinos), proxêmica (movimentação de atores no espaço), além dos recursos técnicos de gravação, edição, recursos visuais, gráficos e de câmera, que atuam sobre as demais linguagens. E o sistema de áudio compreende a linguagem verbal oralizada (entonação) e todos os efeitos de sonoplastia, tais como ruídos do ambiente, música ou background (tensionados ou mixados). Esse afluxo de linguagens, cada uma com seu plano de expressão que pressupõe um plano de 1 Trabalho apresentado ao NP 15 – Semiótica e Comunicação, do IV Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom. Professora Doutora em Letras, ministra as disciplinas Introdução à Lingüística e Teorias da Linguagem nas habilitações Jornalismo e Rádio e Televisão do curso de Comunicação Social e a disciplina Contratos na Mídia, no curso de pós-graduação Comunicação Midiática da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, FAAC/UNESP/Bauru/SP. Endereço eletrônico: [email protected] 2 conteúdo, convergem para efeitos de sentido espetaculares. A imagem em movimento (kínesis) e os recursos da cinética produzem o efeito de realidade, mimesis do mundo natural, que conferem ao produto final veracidade, impacto, autenticidade, elementos que levam o telespectador a firmar certos contratos decorrentes de sua credibilidade, confiança, adesão e constância. O fato ocorrido no mundo real não chega integralmente na tela da TV, pois, embora o texto final seja coeso e coerente, foi montado aos pedaços por diferentes equipes: o sistema de informação, que subsume equipes de reportagem que vão a campo gravar imagens e entrevistas, o sistema de edição, responsável pela decupagem, cortes e montagem, e o sistema de exibição3 Como um quebra-cabeça, realizado a “n” mãos, sob a batuta do redator chefe, o telejornal traz a informação em forma de um espetáculo ao vivo e em cores, como se o acontecimento fosse sua própria transmissão: texto apresentado como discurso em ato, ou seja, como enunciação-enunciada, em que a própria vida acontece e é apreciada em função do efeito que produz no enunciatário (telespectador). Embora seu envolvimento decorra de várias dimensões: cognitiva, ética, pragmática, que garantem a comunicação coerente e efetiva (firma o contrato fiduciário - do crer) será priorizado nesse estudo o envolvimento afetivo do enunciatário, receptáculo de impulsos que desencadeiam emoções, sentimentos e paixões. A memória será tratada enquanto “memória semiótica” do enunciador, cujo simulacro formal pode ser identificado por elementos da Semiótica francesa que permitem situar o conjunto de estruturas disponíveis no momento de uma enunciação. Apreendê-las, com a aplicação do percurso gerativo do sentido, permite evidenciar o plano do conteúdo, que no telejornal obedece a um modelo sintagmático, de enquadramentos previstos, formatação raramente alterada. A forma do conteúdo determina a inclusão das demais linguagens que se agregam nesse texto sincrético. Esse resgate da memória semiótica, com seus valores e direcionamentos, acoplado ao acontecimento, que é a própria enunciação-enunciada, permitem analisar tanto a produção como a interpretação da relação enunciador/enunciatário, evidenciando estratégias e efeitos de sentido que garantem a comunicação efetiva e afetiva A informação na televisão (os telejornais e afins) tem sido objeto de pesquisa da autora deste trabalho, na tentativa de identificar as diferentes linguagens que compõem 3 Os profissionais que atuam no 1. sistema de informação: pauta, chefia de reportagem, assistente ou produtores, central informativa, correspondente e informantes, repórteres e repórteres cinematográficos, equipes técnicas e apoio; 2. sistema de edição: editor,editores de imagem, arte e recursos gráficos e apoio técnico; 3. sistema de exibição; estúdio, iluminação, câmeras, cenários, vinhetas, gerador de caracteres (GC), operador no ar e apoio. esse texto sincrético e as relações que estabelecem entre si, ora reforçando ora introduzindo novos efeitos, priorizando a enunciação e as dimensões acionadas para a adesão do enunciatário, conforme apontam algumas publicações recentes4 . A mágica da mídia televisiva de transmitir ao vivo, deslocando-se no espaço, leva-nos a qualquer recanto do planeta e fora dele; a rapidez da imagem, as cores, formas, designers, a agitação espetacular toma o lugar da reflexão. Maravilha do século e arma poderosa. Talvez seja hora de diminuir a velocidade e parar, por alguns instantes, esse turbilhão que desfila diante de nós para melhor compreendê-lo. É o que vem acontecendo nestes últimos anos: a pesquisa acadêmica debruça-se para investigar a linguagem televisiva, com seus gêneros sempre híbridos, que vem desenvolvendo uma linguagem própria, cada vez mais persuasiva e em plena evolução. Do corpus, constituído de gravações de uma semana de quatro telejornais de TV aberta, apresentados em junho de 2004, utilizaremos o relato de uma notícia, colocado em anexo, e algumas imagens captadas em forma de foto, inserida no corpo do trabalho, material extraído do Jornal Nacional. Os demais telejornais serão citados de forma pontual, para ilustrar algumas análises5 . Telejornal: uma produção coletiva Difícil tratar o objeto sem descrever sua complexidade de produção. Segundo Squira (1990), as notícias procedem de várias fontes, agências internacionais 6 , nacionais e equipes do próprio telejornal ou de outros, que produzem e editam notícias. Além das três equipes de profissionais que atuam sob a regência do editor chefe, sistemas de informação, de edição e de exibição, detalhado na página anterior - dezenas de profissionais que justifica denominar enunciador coletivo -, há ainda os apresentadores, que devem infundir credibilidade e segurança . Compete ao apresentador relatar a notícia, seja sob o formato de nota simples notícias rápidas, matéria, que não foi alvo de reportagem externa nem de material de 4 DINIZ, M. L. P. "Oralidade e escrita na TV: relação camuflada" Estudos Lingüísticos 31, revista do GEL - Grupos de Estudos Lingüísticos do Estado de São Paulo, São Paulo. FFLCH/USP, 2002. DINIZ, M. L. P. e ZANIRATTO, B.G. "Jornal Nacional: uma realidade virtual" in Estudos Lingüísticos XXXI, revista do GEL - Grupos de Estudos Lingüísticos do Estado de São Paulo, São Paulo, FFLCH/USP, 2002. DINIZ, M. L. V. P. "Contratos na mídia: o Jornal Nacional na berlinda", in OLIVEIRA, A. C. & MARRONI, F. V. (Editores) Caderno de Discussão do Centro de Pesquisas Sociossemióticas, no 7, publicação interinstitucional Pontifícia Universidade Católica-SP, Universidade São Paulo-SP, Centro de Pesquisas Sociossemióticas, Centre National de la Recherche Scientifique – France, p. 197208, dezembro, 2001. 5 Os quatro telejornais são: Jornal Nacional (JN), Jornal de Band (JB), Jornal de Record (JR) e Jornal de Cultura (JC), os três primeiros apresentados em redes comerciais e o último em rede pública e educativa. 6 Imagens e press-releases (síntese informativa) são recebidos diariamente da agência internacional à qual o telejornal é filiado. press-releases, seja no formato de nota coberta, imagens mostradas, acompanhadas de sua voz, seja no formato de aberturas e encerramentos, texto lido por ele no estúdio, antes e ao final da notícia. A reportagem é a forma mais completa de apresentação da notícia, pois contém o texto, as imagens, a presença do apresentador, do repórter e dos entrevistados. Em geral tem maior duração, pode incorporar todas as três formas de apresentação da notícia, anteriormente descritas, e pode conter partes básicas, um modelo enformado, raramente alterado7 . As matérias vão se formando desde o dia anterior, com a participação de inúmeros profissionais: os rádio-escuta, que captam notícias e enviam à chefia e aos editores chefes, que elaboram o pré-espelho, um esboço do telejornal. Os pauteiros organizam a retaguarda da reportagem e estabelecem a pauta para que cada equipe realize-as segundo objetivos, enfoques, informações e encaminhamento. O espelho é o projeto que irá ao ar, nele, tudo está definido: assuntos prioritários, ordem, tempo e profissional responsável por matéria, blocos e comerciais 8 . As equipes de reportagem9 , coletam imagens e entrevistas, gravam o off e as passagens10 . A fita bruta é enviada à técnica para adição. Os redatores produzem e corrigem os textos, redigirem as notas cobertas, gravadas antes do telejornal ir ao ar. A edição transforma o material bruto em produto final. O excesso é tirado, os erros corrigidos, as melhores imagens, passagens e respostas selecionadas. O editor de texto é responsável pelo verbal e o editor de imagem pela seleção (inserção e corte) e qualidade das imagens. Os equipamentos de edição fazem a decupagem (mapeamento do material) e a montagem (esquema da edição). A sonora só pode conter o necessário. É o editor quem corta qualquer resposta que ultrapasse 20 segundos no horário nobre, salvo se for pessoa muito importante, certa exclusividade, um furo, ou momento de muita emoção. 7 A reportagem contém as seguintes partes básicas: 1. cabeça da matéria ou lead: texto lido pelo(a) apresentador(a) do telejornal, é o gancho da matéria; 2. cabeça do repórter abertura da matéria ; 3. sonora, fala de atores envolvidos no fato; 4. off apenas a voz do repórter durante a projeção das imagens, gravada no VT; 5. passagem, gravação feita pelo repórter no local do fato e que serve de ligação entre duas partes da reportagem, o off e a entrevista. 8 Em detalhes, a produção do texto começa com os rádio-escuta, que captam notícias cotidianas, ligam para hospitais, polícia, bombeiros e enviam relatórios à chefia de reportagem e aos editores chefes, que elaboram o pré-espelho, um o esboço de como será o telejornal no dia seguinte. Os pauteiros pesquisam arquivos, checam endereços, horários, garantem a presença de personalidades, marcam entrevistas. Assim que a pauta é estabelecida, cada equipe recebe a orientação, que inclui objetivo, enfoque que deve ser dado, informações sobre o assunto e encaminhamento a ser seguido pela equipe. O espelho é o projeto do que será colocado no ar, nele, estão definidos os assuntos prioritários, a ordem, o tempo e o profissional responsável por cada matéria, os blocos e a inserção dos comerciais. 9 Constituída de um repórter, um câmera, um auxiliar (que cuida da iluminação e do som) e o motorista. 10 Gravação feita com o repórter frente à câmera, sempre que for necessário inserir algo indispensável. Geralmente o editor resume o início, que o repórter grava em off, e termina o texto com a voz e imagem do entrevistado concluindo. Montado o esqueleto da matéria é hora de escolher as imagens, colar as cenas e finalizar o produto. As imagens devem corresponder ao que foi dito, usando tomadas curtas, de ângulos diferentes para não entediar o telespectador. Números, dados, regiões desconhecidas, questões a serem explicadas exigem o trabalho do departamento de arte, com suas ilustrações, mapas, reconstituições (infográficos). Editores procuram suavizar os cortes, pois os equipamentos modernos permitem trabalhar diferentes técnicas, como a fusão, o fade-in/out, o gerador de caracteres (GC)11 , e a cada dia surgem novos técnicas. A sonoplastia é em geral o som ambiente captados pelo cinegrafista, que é mixado ao som do off. Em matérias mais leves, geralmente a última apresentada na noite, o editor pode colocar música, BG ou background na linguagem telejornalística, que provoca efeitos passionais. De um lado, esse arsenal de técnicas e de profissionais capazes de realizar verdadeiras maravilhas que conferem valores estéticos, estésicos e sinestésicos ao produto, de outro, as limitações do tempo e do espaço para os deslocamentos, consultas, checagens, entrevistas... tudo isso enformado num modelo padronizado, regido por manuais e chefias hierarquizadas. Do método O tema do evento “Comunicação, acontecimento e memória” levou-nos a investigar como essa questão se inscreve nos telejornais, priorizando as relações que esse tipo de texto, sincrético por natureza, estabelece entre os sujeitos da enunciação na ótica da semiótica francesa. A semiótica não deve ser entendida como um modelo definitivo que dá conta da produção do sentido das práticas significantes. Na verdade, o instrumental que criou (e que tem evoluído) investiga o sentido a partir dos objetos que analisa. Isso porque ela reconhece e respeita (não invade) o campo de atuação das demais disciplinas específicas (filosofia, sociologia, psicologia, psicanálise, teorias da comunicação etc.) e entende que cada prática significante é também objeto de conhecimento dessas disciplinas. Segundo 11 Fusão é a superposição de imagens do rosto de um para o de outro, por exemplo; fade-in/out é uma cena que se escurece no encerramento ou que começa escura e depois se ilumina e o gerador de caracteres (GC) produz legendas em forma de títulos das matérias, designação das pessoas que falam na sonora ou legenda de sons inaudíveis. os objetivos visados, toda disciplina tem sua própria concepção de sentido, ou seja, define aquilo que representa um valor, o que é significativo do seu ponto de vista. A semiótica não tem a pretensão de impor o seu conceito de significação sobre as disciplinas com as quais colabora, mas pode indicar certos aspectos que, em uma disciplina, coincidem com outra. Pode-se dizer que ela propõe passarelas entre as disciplinas para trocas de hipóteses, de mecanismos conceituais e de soluções. Neste estudo dedicado ao telejornal, as questões apresentadas não são especificamente semióticas: produção, acontecimento, memória, afetividade e paixão, para citar itens aqui propostos, mas são noções geradas no campo midiático em interação com outros campos. Algumas dessas questões, como a afetividade e as paixões, foram desprezadas durante muito tempo e alijadas do campo semiótico. Por isso, o objetivo dessa análise deve ser claro: para cada noção, a abordagem será feita no ponto de vista semiótico, utilizando instrumentos semióticos e ilustradas com análises pontuais de telejornais, considerando os limites aqui impostos, a fim de demonstrar a operacionalidade do método. Não se propõe aqui uma teoria semiótica do discurso telejornalístico (embora seja necessário), mas pretende-se demonstrar a contribuição que a semiótica pode oferecer para o estudo desse tipo de discurso. A noção de acontecimento e o mundo natural O tema do congresso foi tomado em função das pesquisas que vêm sendo realizadas pela autora, buscando uma adequação conceitual. O lexema "acontecimento", provém do verbo latino contigit, contingere, definido por “acontecer alguma coisa”, que o dicionário12 remete a contingo, contigi, que significa “dizer respeito a”. A primeira definição relaciona o lexema ao mundo natural, mas a segunda não mais aponta para o fato “real”, pois, dizer respeito pode ser uma referência, uma semelhança. Greimas e Courtés (1983b: 378) reformulam a noção de referente, colocando em relação dois tipos de semióticas: a do mundo natural e a da língua natural: “o mundo extralingüístico, o mundo do senso comum, é enformado pelo homem e instituído por ele em significação, e tal mundo, longe de ser referente é, pelo contrário, ele próprio uma linguagem biplana, uma linguagem natural (ou semiótica do mundo natural). Concebido desse modo como semiótica natural, o referente perde assim sua razão de existir.” e completam (Ibidem: 379) que a abordagem do discurso não se faz pelo referente, mas pela “referencialização” presente no enunciado, procedimentos da enunciação que criam 12 KOEHLER, S.J. Dicionário latino. Rio de Janeiro, Porto Alegre, São Paulo: Globo, 1951. a ilusão referencial, efeito de sentido de “realidade” ou de “verdade” que podem estar na ancoragem espácio-temporal (topônimo e cronônimos), na debreagem (passagem do discurso indireto para o direto (da narração para a sonora, no telejornal) 13 , dentre outros. Em Du sens II (1983a: 103), Greimas ocupa-se do conceito de “realidade", afirmando que não deve ser entendido como verídico, mas como verossímil, interpretado de duas formas: como referência avaliativa que o discurso projeta fora de si e como uma determinada concepção de realidade. Assim, além de evidenciar a impossibilidade de trazer a “verdade” para o discurso, apresenta duas formas de conceber o verossímil, ambas apontam para a autonomia do discurso. Eric Landowski (in Greimas e Courtés, 1986: 119) amplia essa proposição, insistindo na presença de articulações semióticas no mundo natural: “Em vez de conceber os discursos em língua natural como diretamente tomados do real e do refletido, considerar-se-á que os discursos significantes não tomam jamais a realidade extra-lingüística que lhes serve de referência senão pela mediação de esquemas de leitura (ou semióticas do mundo natural), produzindo o efeito inicial de converter o universo circundante em universo significante . Entre as representações do mundo natural e os discursos circula alguma coisa que lhes é comum: uma “mediação de esquema de leitura”, que pode ser entendido pelo conjunto cultural: visão de mundo, representação dos fatos, sistema de valores. Esse esquema é uma “deformação” coerente que produz a interação entre os discursos que interessa a todas as dimensões da significação, desde a apreensão sensível dos fenômenos naturais até os diferentes tipos de atos de linguagem, passando por todas as estruturas intermediárias previstas pela teoria semiótica: actanciais, modais e passionais. Como o discurso é produzido pelo enunciador (com enunciatário previsto), sua construção está condicionada a todas as interferências que atuam sobre ele. Ao selecionar notícias e ao produzir a matéria - compreendendo todas as fases -, valores são inferidos, interpretações direcionadas, efeitos esperados. O acontecimento, compreendido enquanto fato do mundo natural só pode ser tratado como algo do plano fenomenal, plano do parecer verdadeiro no quadro das modalidades veridictórias14 . 13 Mesmo que os fatos tenham ocorrido e os entrevistados sejam de carne e osso, não se deve ser ingênuo a ponto de aceitar como “verdade” definitiva a versão apresentada no telejornal. Sem nenhuma dúvida, sempre há outras formas de ler e de interpretar qualquer fato. A necessidade de várias fontes, prevista nos próprios manuais de redação, as diferentes abordagens de um telejornal para o outro, percebidas pelo emprego do zapping pelo telespectador, e o caso “Escola Base” são fatores que evidenciam isso. 14 É o quadrado semiótico da veridicção, que compreende o ser vs parecer :: não-parecer vs não-ser, que abrigam o “verdadeiro”, o falso, a ilusão e a descoberta. A noção de acontecimento enquanto enunciação Para definir essa noção, pretende-se abordar a Semiótica do discurso, disciplina que estabelece as condições pelas quais as expressões e práticas humanas, verbais ou não-verbais têm sentido, tomando como objeto não apenas o enunciado, mas a enunciação. Em vez de considerar a significação como o resultado de articulações inscritas num enunciado concluído, como fazia a Semiótica standart, agora, tem-se a preocupação de identificar a emergência da significação, deslindar as operações que a produzem, restituir o sentido dessa experiência humana que consiste em produzir e interpretar algo significante na relação enunciador-enunciatário. Na análise do enunciado, o ponto de referência é a situação final, a partir da qual pode-se identificar a transformação terminada e o caminho percorrido desde a situação inicial. Na análise do discurso em ato, o ponto de referência é sempre a posição da instância de discurso, pois é a partir dela que tudo se organiza. Nesse sentido, J. Fontanille (1999: 10) propõe uma diferenciação pertinente ao afirmar que no enunciado, “a ação é tratada como transformação” e na enunciação como “acontecimento”, e completa: “A transformação é caracterizada pelo resultado que foi atingido, enquanto o acontecimento é identificado graças ao efeito que produz no observador e à maneira pela qual surge no texto.” Assim, a enunciação pode ser tratada enquanto acontecimento, no ponto de vista do enunciatário, pois o discurso “acontece” no momento de sua enunciação. A notícia do telejornal, objeto de análise desse trabalho, não é fato “real” transportado para o discurso, mas a enunciação desse fato, filtrada pelo esquema cultural, proposto por Landowski. O telejornal, texto informativo apresentado como discurso em ato, é a enunciação enunciada num tempo e num espaço. Como ele propõem fornecer “as principais notícias” (todos garantem) que acontecem no mundo, cada um chega até ao enunciatário como um espetáculo, um “acontecimento”. O fato, mediado pelo telejornal, transforma-se em acontecimento em função dos efeitos que nele produzem. Como instância mediadora entre produção e recepção e por estar circunscrito num contexto físico, histórico e cultural, o telejornal é um aparelho de produção de bens simbólicos, segundo Bourdieu (1999: 102), “que constituem realidades com dupla face – mercadorias e significações”. A informação como um bem simbólico permite tratar como troca simbólica a relação entre enunciadores e enunciatários, espaço de subjetividade que lhe dá sentido e que o conecta a uma realidade sensível. Esse espaço constitui-se aquilo que diversos autores chamam de “pacto entre produção e recepção”, lugar onde desejos e expectativas são compartilhadas entre produtores e telespectadores e onde se estabelecem relações, segundo regras que regem esse encontro e finalidades a serem buscadas desse encontro (Capparelli e Lima, 2004: 97). Esse pacto, que ousamos chamar de contrato não deve ser entendido como local neutro, de igualdade de forças, mas, ao contrário, local onde a manipulação e a inculcação de valores se efetivam, cujo caráter próprio consiste, na maioria das vezes e em última instância, em naturalizar, eternizar, consagrar e legitimar a ordem vigente. Ao eleger certos fatos, ao direcionar certas interpretações, a maioria dos telejornais banaliza questões, neutraliza o debate, embute valores, propõe posturas ideológicas que, em geral, ratificam o senso comum. A noção de memória Para defini-la, retomamos J. Fontanille, que denomina “memória” semiótica o percurso gerativo, instrumento fundamental capaz de resgatar a organização hierárquica do enunciado e da enunciação: O percurso gerativo é em si mesmo um modelo de hierarquização das categorias utilizadas num discurso, desde as mais abstratas, as estruturas elementares, até as mais concretas, as estruturas figurativas do discurso. Ele permite situar o conjunto de estruturas disponíveis no momento de uma enunciação, umas em relação a outras; por isso, ele é o simulacro formal da “memória” semiótica de um sujeito da enunciação, no momento em que ele enuncia. (Fontanille, 1999: 4) Isso permite considerar o discurso como um todo de sentido de um enunciador, em seu próprio ato de enunciar, dotado de uma memória semiótica (resgatável com a aplicação do percurso gerativo), que sobredetermina as artimanhas e rege sua construção. Essa memória dá coerência ao discurso (isotopia do conteúdo) estabelecendo estratégias a serem empregadas para produzir um todo de sentido. Aplicado no texto verbal que ilustra essa análise15 (Anexo 1), podemos estabelecer a memória semiótica do discurso, partindo das estruturas elementares (mais abstratas) até às discursivas (mais concretas). A categoria [violência/calma], que pertence às estruturas semânticas elementares, será rearticulada em [conjunção/disjunção] nas estruturas narrativas e actanciais, graças à relação, no interior da primeira categoria, do actante Sujeito que está conjunto ou disjunto do actante Objeto, cujo conteúdo é a “violência”: (S ∩ O) presos, em conjunção com a 15 Título da matéria: “Trinta e um mortos”, relativo ao fim da rebelião na Casa de Custódia de Benfica no Rio de Janeiro, apresentado pelo Jornal Nacional no dia 1/06/2004. violência, passam a (S ∪ O) presos em disjunção à violência . Os enunciados de junção, em seguida, são reagrupados para formar programas narrativos (PN), que podem ser PNs de preservação, perda ou reparação, e pertencem às estruturas narrativas temáticas. O fato da rebelião ter terminado revela um PN de preservação da ordem, no ponto de vista da legalidade, assumido pelo JN 16 . Esses últimos, enfim, serão “figurativos” quando receberem determinações perceptivas, espaciais, temporais e actoriais. A categoria elementar [violência/calma], no final do percurso, aparece sob a forma dos dados apresentados no JN como resultado da rebelião. Para a /violência/, as figuras do texto verbal são: “31 mortos”, “pessoas mutiladas”, “feridos completamente queimados, rosto deformado”, “mataram um agente penitenciário”, “motim”, “fizeram 26 reféns”, “fuga de 14 presos”, “ajuda de um bando armado” que colocaram “explosivos no portão”. Para a /calma/: “terminou”, “entregaram armas”, libertaram os reféns”, “palmas e orações” (dos parentes), “pastor evangélico assumiu negociações”, dentre outras. Poderíamos também assinalar as figuras do não-verbal presente nas imagens da reportagem que denotam a /violência/, tais como cenas que mostram o tumulto de parentes perto da cadeia (Fig 1), reféns amarrados a botijões de gás (Fig 2), foto do agente penitenciário morto, sonora do deputado Geraldo Moreira (Comissão de Direitos Humanos) impressionado com o horror , e cenas que denotam /calma/, como os parentes em frente à Casa de Custódia, ajoelhados rezando (Fig. 3). Além das imagens cinéticas (em movimento), há outras linguagens inseridas, tais como efeitos sonoros: captação dos ruídos do tumulto dos parentes na rua, o guarda que dispara a arma para acabar com o protesto (Fig. 1), o som das orações e palmas dos parentes (Fig. 3). Há também efeitos de proxêmica, em que se vê a movimentação dos parentes em tumulto (Fig 1), contrastando com a quietude do ato de oração (Fig. 3), e a imagem captada em plongé, que mostra os reféns presos a um botijão de gás (Fig. 2)17 . A identificação de várias linguagens concorrendo para proporcionar efeitos de sentido múltiplos demonstra que o discurso televisivo tem estratégias pertinentes para a adesão do enunciatário, garantindo a comunicação efetiva e afetiva. 16 No JC, trata-se de um PN de perda, pois a matéria evidencia a gravidade da situação e a inércia das autoridades, em cujo encerramento ou nota de pé, Heródoto Barbeiro compara com o massacre do Carandiru, onde a porcentagem de mortos representou 1% e aqui era de 3,33% . 17 Por ser a única imagem do interior da Casa de Custódia, presume-se que não tenha sido um recurso (expressão) empregado intencionalmente para provocar o efeito de sentido de inferiorização (conteúdo). Fig. 1 Fig 2 Fig.3 A noção de afetividade Roland Barthes é precursor em trazer o afeto para a semiótica. Ao apontar o prazer do texto e ao tratar do discurso amoroso18 , lamenta a falta de um espaço na semiótica para as emoções. Entretanto, não conseguiu teoriazá-las. Essa falha foi sanada com a publicação de Semiótica das Paixões (Greimas e Fontanille, 1993). Esse livro transformou radicalmente o modo de pensar a paixão, ao conceber um percurso teórico e analítico mais complexo, considerarando a dimensão patêmica como um dos componentes fundamentais, às vezes dissimulado, outras enfatizado, de todo tipo de discurso. A paixão como tensividade fórica, transformações graduais e modulações contínuas, é, segundo Marrone (1998: 137), “campo do quase e do não ainda, do tenso e do intenso, de avançar e voltar, do mais e do menos, daquele que o precede e constitui outro campo onde o positivo se opunha ao negativo, o bom ao mau, belo ao feio, o verdadeiro ao falso, o sujeito ao objeto”, da semiótica standard. Nessa perspectiva, a semiótica admite uma lógica intrínseca e específica na paixão (da emoção e do afeto), cujas leis não correspondem a nada da tradicional racionalidade, pois a paixão é definida como um conglomerado virtual de ações. Cada uma com sua estrutura narrativa que pode incluir múltiplos estados patêmicos19 . As configurações passionais se efetivam com as modalidades (querer, dever, saber, poder) passando da competência modal (fazer) para a existência modal (ser). Utilizando a informação - a notícia como mote - o enunciador modaliza o discurso, com procedimentos que produzem sensações. Paixões são acionadas a fim de levar o enunciatário a provar, experimentar, sentir com o corpo emoções. No telejornal, 18 Faz-se referência aos livros O prazer do texto e Fragmentos do discurso amoroso. A cólera, por exemplo, é a paixão daquele que espera pacientemente conseguir uma certa coisa ou certo comportamento de um outro (fidúcia), mas a espera é frustrada (desilusão), monta um programa de ataque (agressividade) para fazer o outro pagar (vingança), mas pode renunciar (perdão). 19 pode-se salientar: 1. ruptura da ordem natural, expressa nos jingles e vinheta inicial20 , parada que gera expectativa e apreensão; 2. curiosidade, uma paixão, motivada pelas manchetes ou escalada inicial e chamadas em final de cada bloco, com ou sem imagens, que suscitam a curiosidade apenas para que o telespectador permaneça diante dela e anseie pelas notícias; 3. confiabilidade, segurança, certeza de informação, sustentada, quer na competência da empresa pela melhor tecnologia, profissionais capacitados e liderança absoluta de audiência (JN), quer pela confiança no apresentador e formador de opinião, Boris Casoy (JR), pela agressividade de suas matérias, pelo profissionalismo e atuais recursos técnicos (JB), quer pela lisura, descontração e até simplicidade ao lado do enfoque “pedagógico” (JC)21 ; 4. continuidade, pois podem acontecer incríveis tragédias, mas a vida continua, o que é sempre um conforto para todos nós, uma questão existencial: queremos a continuidade, assim como querermos a vida. Toda ruptura é anulada quer pela seqüencialização, quer pelo formato canônico do macro-texto em happy-end. Esses estados de espírito que afetam o telespectador representam o componente passional (presente em todo tipo de discurso), cuja importância é fundamental na experiência humana. No telejornal, o som da vinheta de entrada, a escalada (apresentação inicial das manchetes) é uma ruptura22 , que quebra a continuidade. Tom de voz, fisionomia séria, ritmo dão o tom. Uma notícia (ou mais) é sempre eleita para ser enfatizada a fim de provocar uma emoção maior e instaurar a curiosidade, paixão simples (querer-saber), e outras tantas que podem suscitar interesse: catástrofes naturais, aspectos anedóticos e ritualizado da vida política e mesmo questões banais e distantes, podem ser apresentadas de tal forma que renovam a curiosidade. As legendas produzidas pelo GC que dão título às matérias do JB são frases de efeito que provocam sensações: “Procurase Batoré”, “Todos na cadeia”, “Segurança máxima”, “Dedo no gatilho”, “Infância perdida”, “Caça ao criminoso”. A informação materializa-se na TV sobretudo pelo discurso visual, ancorando ou monitorando o discurso verbal. A imagem, tratada como forma da expressão conversível em forma do conteúdo, projeta valores e suscita sensações no telespectador. 20 Aspecto analisado no JN (DINIZ, 2001 e 2002, art. cit.) e no JN e JC in DINIZ, M.L.V.P. “Telejornal: identidade/alteridade mascaradas”, 4a Jornada Interdisciplinar, Unesp/ Bauru (no prelo). Todos disponível na página da autora. 21 Artigo que analisa várias mídias nessa linha: DINIZ, M. L. V. P. et. al. “Mídia e ensino: a experiência do GES/Unesp/Bauru” Estudos Lingüísticos, vol.32, São Paulo, FFLCH/USP, 2003. 22 Todo jornalista tem a mesma concepção de notícia, considerando informação o que constitui uma irregularidade, algo que rompe com a ordem normal, a continuidade esperada (JOST, 1998: 75). As análises conduziram-nos a relacionar a imagem cinética ao componente passional que parecem transbordar no texto televisivo. O contrato passional é articulado num espaço, num tempo e num ator. No texto que ilustra a análise (anexo), a sonora do deputado Geraldo Moreira registra seu horror ao relatar as condições internas da Casa de Custódia: “pessoas mutiladas”, “feridos queimados”, “rosto todo deformado”, são figuras que perturbam pela degradação moral que contêm, provocando no telespectador o sentimento de aversão e repulsa. A denúncia de um parente (modalizado pelo não-dever-ser), que detalha as ameaças feitas a presos por facções rivais antes da rebelião, sem que o diretor tomasse nenhuma medida, denotam a omissão da autoridade, o que gera no enunciatário uma certa intranqüilidade e desconforto. O off que relata a reação dos parentes incide em lexemas que expressam a agressividade: “invadiram uma escola pública”, ameaçaram fechar o trânsito”, “protestos”, aumentando a tensão no texto e provocam nova aversão, agora contra os parentes (não-dever-er). Em nenhum momento o JN explica que essa reação era resultado de mais de 60 horas de espera, sabendo que alguns presos tinham sido assassinados e nenhuma informação a respeito da lista dos mortos e feridos, fato acusado no JB e no JC, na mesma noite. A sonora do secretário de Administração Penitenciária do Rio, que finaliza a matéria, apontando que se o pastor evangélico não desse conta, a PM iria entrar e “teríamos um número maior de vítimas”, colocada no final da matéria, parece ter a intenção apaziguadora. Desprezando o fato de ter havido 31 mortos num universo de pouco mais de 600 presos, afirma que poderia ter sido pior. Sem indignação a matéria termina, neutralizando as sensações, devolvendo a segurança a seus telespectadores23 . Entretanto, o contrato passional pode vir manifestado por outras substâncias da expressão, como tom de voz, expressão facial, postura do corpo, sonoplastia (sons ambiente, música de fundo) e todos os recursos técnicos da TV. Bons exemplos disso são os sons ambientes do tumulto, rezas e palmas dos parentes, o estampido do tiro do policial, a tomada da câmera em plongé, anteriormente assinalados nas figuras 1. 2 e 3. Boa parte dos contratos passionais, acionados pela memória semiótica, são realizados na dimensão estésica (ou sinestésica), por sensações corporais que, no texto televisivo são constantes, percebidas pela visão, acoplada à audição e sensações tácteis. 23 No JN, toda notícia disfórica apresenta essa estrutura formal: inicia de forma bombástica, acrescenta fatos mais graves, para depois neutralizar-se em um final “quase” feliz. Assim, esse formato incide na memória semiótica, regulando, restringindo e coibindo estratégias enunciativas inovadoras. A maciez, a aspereza, a secura, o suor podem suscitar bem e mal estar, segurança ou insegurança, confiança ou temor, sensações que instigam paixões24 . Considerações finais Diante dos limites impostos a esse trabalho, não foi possível efetuar análise detalhada do objeto, pois a preocupação maior foi sintetizar análises anteriores relacionando-as a conceitos teóricos que investigam a memória semiótica (estrutura hierárquica) e o acontecimento (discurso telejornalístico como um todo de sentido). Sem dúvida, o sincretismo que caracteriza esse texto, essa explosão de diferentes linguagens acrescenta significações que ampliam seu significado25 , por isso mesmo muito mais sedutor e envolvente. Considerando esse envolvimento como contrato, as análises do corpus apontam para a seguinte hierarquia: O contrato fiduciário (de fé, do crer no outro e em seu discurso) seria o englobante; sem ele, nenhuma comunicação se efetiva. Para firmá-lo há contratos que envolvem a dimensão cognitiva26 (do saber, do crer, da veridicção, da ética, da estética27 ) e aqueles não-cognitivos (do comportamento somático - dimensão pragmática – e o contrato passional com seus componentes estéticos, estésicos e sinestésicos dentre outros. Nesta pesquisa há muito a ser complementado. Objetivou-se investigar a enunciação do telejornal e a adesão do enunciatário, na esteira da afetividade. A sistematização provisória necessita ser melhor investigada para verificar se há outros contratos paralelos, se é possível estabelecer uma hierarquia estável desses contratos ou se eles variam segundo o enunciado, o texto, o gênero. Referências Bibliográficas BOURDIEU, P. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1999. CAPPARELLI, S. e LIMA, V. A. de. Comunicação e Televisão: desafios da pós-globalização. São Paulo: Hacker, 2004. FONTANILLE, J. Sémiotique et littérature. Paris: PUF, 1999. 24 Articulado mais num tempo vivido do que mensurável, qualitativo mais que cronológico, nos contratos passionais atuam a foria, a intensidade e a tensão. Às três dimensões clássicas da temporalidade (passado, presente e futuro) sobrepõem-se processos referentes a aspectualidade na completude/incompletude da ação, tais como paixões pontuais, incoativas, durativas, repetitivas, terminativas, mas isso mereceria uma outra análise. 25 Acredita-se que a imagem em movimento (linguagem cinética) condiciona as demais manifestações e o texto verbal e as outras linguagens acabam servindo apenas de complemento. 26 Esses contratos foram analisados em trabalhos anteriores, já citados. 27 A estética parece acoplar as dimensões cognitiva e passional. Questão instigante a ser investigada. GREIMAS, A. J. Du sens II - Essais sémiotiques. Paris: Éditions du Seuil, 1983a. _____ e COURTÉS Dicionário de Semiótica, São Paulo: Cultrix, 1983b. _____ e_____ Dictionnaire raisonné de la théorie du langage, Sémiotique 2, Paris: Hachette, 1986.Diccionario razonado de la teoría del lenguaje. Tomo II. Madrid: Editorial Gregos, 1991. _____ e FONTANILLE Semiótica das paixões. São Paulo: Ática,1993. JOST, F. Introduction à l’analyse de la télévision. Paris: Ellipses Édition Marketing, 1999. MARRONE, G. Estetica del telegiornale, Roma: Meltemi, 1998. SQUIRA, S. C. Aprender telejornalismo. Produção e técnica. São Paulo: Brasiliense, 1990. Anexo: Jornal Nacional: Terça-feira, 1 de junho de 2004 A polícia do Rio abriu inquérito para investigar as causas da rebelião que terminou com 31 mortos. Hoje parentes de presos provocaram mais tumulto perto da cadeia. Depois de 62 horas, os presos entregaram as armas e libertaram os reféns. O fim da rebelião foi comemorado com palmas e orações. Durante toda a madrugada, os mortos foram retirados da cadeia. O governo do estado informou que foram encontrados 31 corpos de presos. O deputado Geraldo Moreira, da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, que teve acesso às celas, ficou impressionado. "Havia pessoas mutiladas. Os feridos, alguns estavam completamente queimados, com o rosto todo deformado", lembra ele. Defensores públicos e grupos de defesa dos direitos humanos foram impedidos de acompanhar a vistoria. O motim começou no sábado, depois da fuga de 14 presos. Eles tiveram ajuda de um bando armado, que jogou explosivos no portão. Os rebelados fizeram 26 reféns e mataram um agente penitenciário. Hoje de manhã, parentes dos presos invadiram uma escola pública. À tarde, ameaçaram fechar o trânsito. A polícia chegou a fazer disparos para acabar com o protesto. Durante todo o dia, parentes dos presos estiveram nas unidades do Instituto Médico Legal, à procura de notícias. Eles disseram que os presos já tinham avisado a direção da Casa de Custódia sobre a possibilidade de uma rebelião. Eles estariam com medo de uma briga entre os bandidos de quadrilhas rivais. "Assim que eles entraram, já começaram a receber ameaças. Receberam bilhetinhos. Eles disseram ao diretor que estavam sendo ameaçados, mas o diretor não se pronunciou. Aí teve a rebelião", conta a parente de um presidiário. A Secretaria de Administração Penitenciária disse desconhecer a informação dos detentos e confirmou que a rebelião só terminou depois que um pastor evangélico assumiu as negociações. "Foi um pleito dos presos, mas foi a última instância que a secretaria utilizou, porque, se não houvesse sucesso, a PM iria entrar, o que seria lamentável, porque nós teríamos aí um número maior de vítimas", justificou o secretário de Administração Penitenciária do Rio, Astério Pereira dos Santos.