1 ASPECTOS HISTÓRICOS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE FOMENTO À CIÊNCIA E À TECNOLOGIA NO BRASIL E NO MARANHÃO: avanço ou retrocesso? Michelle Sena Rosa de Araújo* Maria Eliana Alves Lima** Antonio Jose Silva Oliveira*** RESUMO No presente trabalho apresentamos os aspectos históricos das políticas publicas de fomento à ciência e à tecnologia no Brasil com ênfase no estado do Maranhão. Apresenta-se ainda a formação das instituições públicas de ensino superior, a política de ciência e tecnologia no século XX e inicio do século XXI no estado do Maranhão, bem como o seu descompasso - de tempo e de forma - com o resto do país. Palavras-chaves: Políticas de C&T, divulgação científica, FAPEMA, Brasil, Maranhão. ABSTRACT In the present work we present the historical aspects of the politicians publish of promotion to science and the technology in Brazil with emphasis in the state of the Maranhão. One still presents the formation of the public institutions of superior education, the politics of science and technology in century XX and beginning of century XXI in the state of the Maranhão, as well as its exaggeration - of time and form with - the remaining portion of the country. Key-words: Politics of C&T, scientific diffusion, FAPEMA, Brazil, Maranhão. 1 INTRODUÇÃO É principio fundamental que, sem ciência, e, portanto, sem avanço tecnológico nenhum país pode ser autônomo e desenvolvido. Pensar desenvolvimento da economia ou de avanços na educação, ignorando a infra-estrutura em Ciência e Tecnologia (C&T) ou não entendendo como são as relações da ciência com a vida econômica e social dos cidadãos é, antes de tudo, não buscar as causas e ficar debatendo sobre os efeitos. Desta forma, é preciso valorizar C&T como instrumento de mudança contra a pobreza, a miséria, a ignorância e a concentração de riquezas, sobretudo no que se refere à luta pela soberania de nações de capitalismo periférico, tal é o caso do Brasil, localizado na América Latina. Entende-se então que a Ciência é propulsora do progresso de uma nação, tanto pela pesquisa básica quanto pela pesquisa aplicada, o que justifica o investimento do Estado sobre a mesma. O emprego de uma política futurista e inteligente que garanta um desenvolvimento contínuo da Ciência e Tecnologia (C&T) se constitui em uma alternativa * Mestranda em Políticas Públicas – UFMA Mestranda em Saúde e Ambiente - UFMA *** Doutor em Física Atômica e Molecular – Defis/UFMA – Mestrado em Educação/UFMA ** São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 2 fundante e passível de provocar mudanças reais na sociedade brasileira rumo ao primeiro mundo. Para tanto é preciso que a ciência e a tecnologia sejam um bem público, tendo-se obviamente a necessidade de divulgá-la. O presente artigo tem por objetivo fazer um breve resgate histórico das políticas de C&T no Brasil, com ênfase sobre o estado do Maranhão enfocando os aspectos mais relevantes no referente aos avanços e retrocessos das ações políticas voltadas para o incentivo das mesmas durante o período de 1998 a 2005. Para tanto, utilizou-se pesquisa bibliográfica e documental fundamentada numa análise crítica sobre os mesmos, abordando os fatos principais que influenciaram as decisões das políticas pública estaduais de C&T. 2 BREVE HISTÓRICO SOBRE AS POLÍTICAS DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA NO BRASIL E DO MARANHÃO A Divulgação Científica é fundamental para a popularização da ciência, pois o ambiente científico é muito carente em oportunidades e, mais importante, nossa educação escolar básica sofre com a escassez de recursos humanos, meios e infra-estrutura para divulgação do conhecimento científico. Em resumo, a ciência não é parte da cultura do nosso povo como o Futebol, o São João, o Carnaval e a Música (OLIVEIRA;LIMA, 2005). A ciência não se constitui numa atração capaz de fazer com que as pessoas se envolvam com ela. No geral é mistificada e confundida, sobretudo pelas crianças e os adultos que emergiram desse ambiente que, apesar de saudável, precisam de um contato intelectual com a humanidade e sua história, com a obra dos grandes pensadores, e com os ensinamentos fecundos da ciência e mais: relacionarem esses conhecimentos cientificamente elaborados ao seu cotidiano, ou seja, reconhecerem-no em seu entorno. A maioria das pessoas, por não terem tido exposição adequada à ciência, parecem desencadear uma espécie de “síndrome alérgica” e, em casos mais graves, de repulsão à ciência. Quando gostam de ciência é pelo caráter mágico ou misterioso ou de poderio violento e bélico. Citamos aqui um trecho de um artigo de Godofredo Viana intitulado Pela Defesa Nacional publicado no inicio do século XX na Revista Maranhense Artes, Ciências e Letras (Revista Maranhense, 1917) que reflete muito bem a necessidade da divulgação científica em nosso meio: quem não sabe do dormitório em que vive e onde nasceu, nem os fatos, nem as leis, quem não conhece nem os seus deveres nem os seus direitos, podem ter rasgos de ferocidade e de energia bruta, nunca, porém, esse ideal sereno, mais vigoroso e pertinaz, que somente a instrução pode dar, pelo contacto intelectual com a Humanidade e a sua história, com a obra moral dos pensadores e com os ensinamentos fecundos da ciência. Retirai de uma alma tudo isso e não podeis, sem absurdo, exigir que ela seja um elemento de defesa e engrandecimento da Pátria. São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 3 Como exemplo dessas atividades podemos citar as “Conferências da Glória”, que tiveram início a 23 de novembro de 1873 assim denominadas porque eram realizadas nas Escolas Públicas da Freguesia da Glória, na Corte. As Conferências da Glória (MOREIRA;MASSARANI, 2002) foram criadas por iniciativa do Conselheiro Manuel Francisco Correia, e apoiadas pelo Imperador D. Pedro II, visando a “instrução do povo” e, por conseguinte, eram franqueadas a todas as classes e transcorriam inicialmente nas manhãs de domingo e tinham, às vezes, a presença do Imperador. No período de 1873 a 1880 foram realizadas 348 conferências, abarcando temáticas variadas que iam desde a literatura, história das civilizações, educação, assuntos ligados à física, matemática, darwinismo, medicina, entre outros. Acreditamos que este fato foi a primeira tentativa de se colocar na pauta política a ciência e a tecnologia no Brasil. Como produto direto dessas atividades podemos citar a criação da Associação Brasileira de Ciência, hoje Academia e a Radio Sociedade, importante órgão de difusão científica. Foram ainda criadas as primeiras Universidades do Brasil, Instituto de Pesquisa, surgimento da SBPC e de Sociedades Científicas. Na área de fomento à pesquisa e a pós-graduação foram criado o CNPq e a CAPES Uma outra tentativa surgiu em 1985 por iniciativa do primeiro Ministro de Ciência e Tecnologia Renato Archer no governo José Sarney com a Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia. Seu principal objetivo era ampliar a participação da sociedade brasileira na definição de uma política científico-tecnológica para o país. A segunda edição da Conferência só veio a ocorrer em 2001, no governo FHC, após as transformações do final do século passado, porém com uma nova roupagem, quando a busca por maior competitividade nos intercâmbios comerciais já se deparava com um mundo globalizado, em que o tempo entre descoberta científico-tecnológica e sua utilização em novos produtos, processos e serviços era cada vez menor (CENTRO DE GESTÃO E ESTUDOS ESTRATÉGICOS, 2004). Como conseqüência desse novo cenário, a Conferência optou por enfatizar a importância da inovação tecnológica como instrumento para a competitividade, passando a denominar-se “Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia e Inovação”. Seu principal objetivo foi criar mecanismos e apontar caminhos para estimular à inovação tecnológica e a consolidação da base científico-tecnológica do país. Ao investigar o processo de construção do movimento cientificista no Maranhão, encontramos muitos fatores determinantes, os quais nortearam o pensamento da comunidade estudiosa nas várias etapas de desenvolvimento que se sucederam no Estado. Vários fatos podem se candidatar à posição de marcos entre períodos da história da ciência maranhense. Um dos mais importantes foi a publicação e divulgação da Revista São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 4 Maranhense: Ciências, Letras e Artes, que circulou pelo estado no final do século XIX e inicio do século XX. Porém, no início do século XX, a doutrina positivista se fazia presente em vários seguimentos da vida nacional. A partir desse momento e, contraditoriamente ao século anterior, os positivistas passariam a defender a educação popular e iriam criar universidades livres em São Paulo, Manaus e Paraná, no ano de 1909 (FERNANDES, 2000). No Maranhão, a idéia de criação de uma universidade popular (LIMA, 2003) surgiu em um contexto conturbado com crises no campo econômico e com forte disputa no campo político. Para nos situarmos no espaço histórico vejamos como se encontrava o cenário político e econômico naquele momento. Em 1909, com a morte do governador Benedito Leite, assumiu o vice Artur Moreira que, por motivo de viagem, ausentou-se do cargo. Diante disso, passa a governar o presidente da assembléia, Mariano Martins Lisboa Neto que por sua vez não devolveu o cargo, alegando que Artur Moreira não havia tirado sua licença junto ao legislativo. Descontente com a situação, Artur Moreira instalou seu governo fora do palácio e declarou-se empossado, ficando este período conhecido como ano da “dualidade política no Maranhão”. O governo central então interviu no problema, nomeando, Américo Vespúcio dos Reis, como Governador, até que novas eleições fossem realizadas. Com as eleições foi eleito o Dr. Luís Domingues, que traçou metas com o intuito de combater a crise econômica pela qual o Estado passava, principalmente para o setor da agricultura e pecuária. Algumas medidas como a redução ou eliminação de impostos, a distribuição de prêmios para que aumentasse a importação de gado de raça e o aumento dos salários de magistratura e funcionalismo, previam o crescimento econômico do estado, mas coincidiram com a queda dos preços dos gêneros no mercado, a diminuição da arrecadação fiscal, o aumento dos encargos e outros problemas que provocaram o desmoronamento da economia e o caos na sua administração, além de rompimentos políticos que o apoiavam. Mesmo neste contexto agitado, política e economicamente, a partir de uma reunião no dia 13 de setembro de 1909 na Biblioteca Pública do Estado, os “cultores” das letras que residiam em São Luís concordaram que a Universidade Popular iria funcionar semanalmente, às quintas-feiras, no salão nobre da Biblioteca Pública Estadual. Como instrumento de divulgação de suas conferências, a Universidade Popular contava com o jornal a “Pacotilha”, que às quintas-feiras divulgava uma nota com o tema da conferência. É importante frisar que as conferências da universidade popular ficaram restritas a algumas áreas de conhecimentos, como História Geral, Direito, Astronomia e Literatura. Os temas abordados variavam de acordo com o conferencista e sua área. Como produto São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 5 direto destes dois fatos surgiram no estado as primeiras faculdades isoladas, culminando com o surgimento das universidades federal e estadual nas décadas de 60 e 70, respectivamente. Na década de 90 a Escola Técnica Federal se transformou no Centro Federal de Educação Tecnológica. Em 1990, o governo do Estado do Maranhão, através da Lei N. 5030, criava sua Fundação de Amparo à Pesquisa – FAPEMA – e dava assim um grande e auspicioso passo rumo ao desenvolvimento científico. Esta fundação contava com dotação orçamentária estipulada em lei: 0,5% da receita anual do Estado (PEREIRA, 2003). Durante a atuação da FAPEMA, e principalmente nos últimos 5 anos de sua existência (1995-1999), surgiram os primeiros cursos de pós-graduação (autônomos) do Maranhão: o Mestrado em Química, em Políticas Públicas, em Educação, em Saúde e Ambiente, o Mestrado e Doutorado em Engenharia Elétrica (todos na UFMA), enquanto no CEFET foram instituídos o Mestrado em Pedagogia Profissional, em Engenharia dos Materiais, e o Doutorado em Ciências Pedagógicas em convênio com outras Instituições de Ensino Superior (IES). Em meio a este processo, a FAPEMA vinha aumentando gradativamente sua importância na estruturação e manutenção destes cursos: em 1996 concedeu 84 bolsas vinculadas à pesquisa, em 1997 este número cresceu para 187 (4 de Doutorado, 54 de Mestrado, 10 de Fixação de Pesquisador, 22 de Incentivo à Pós-Graduação, 37 de Iniciação Científica, entre outras). Em 1998, o número de alunos matriculados em cursos de mestrado na UFMA era 111, enquanto o somatório das bolsas de mestrado mantidas pela FAPEMA chegava a 103 (FERREIRA JÚNIOR; OLIVEIRA, 2002). Em face destes números, é até desnecessário ressaltar o papel fundamental desta fundação na consolidação dos cursos de pósgraduação recém-criados. Mesmo diante deste evidente quadro de progresso, o governo da época não hesitou em articular, em dezembro de 1998, uma fulminante manobra na Assembléia Legislativa, que em apenas uma semana decretou a liquidação da FAPEMA, resultando num duro golpe à atividade científica no Maranhão. Na mesma época, foi criado o FAPEM – Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado do Maranhão, regulamentado pelo decreto 16.754 de 24/03/1999, porém sem qualquer dotação orçamentária assegurada em lei, o que o condenou a total inoperância ao longo dos dois primeiros anos (1999-2000) de sua existência (FERREIRA JÚNIOR; OLIVEIRA, 2002). Durante este período, a concessão de bolsas e auxílios a novos e antigos projetos foi totalmente interrompida, prejudicando em larga escala os cursos de pós-graduação recém-instalados, que passaram a sofrer gravíssima restrição de bolsas para os alunos ingressantes, e total falta de apoio por parte da esfera estadual à sua infra-estrutura de funcionamento. Em termos administrativo e estrutural, o FAPEM era gerido pela Gerência de Planejamento e Desenvolvimento Econômico – GEPLAN, a qual estava vinculado o Conselho Estadual de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CEDCT, órgão São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 6 deliberativo do FAPEM. Durante sua existência, dos 104 projetos de cunho científicoacadêmico apresentados ao FAPEM, apenas 13 foram aprovados e contemplados com auxílios, sendo 8 Bolsas de Iniciação Científica (BIC), 3 Bolsas de Mestrado (BM), e 2 de Auxílio Técnico (BAT). Nem mesmo o Mestrado em Agroecologia da UEMA (Universidade Estadual do Maranhão), o único programa de pós-graduação (autônomo) desta instituição (os seus outros 07 cursos de mestrado funcionam em forma de convênio com universidades de fora), teve os seus pedidos de bolsa acatados (FUNDO..., 2002). Diferentemente das parcas migalhas oferecidas aos programas de pósgraduação, o FAPEM deu maior atenção e amparo especial à atividade técnico-burocrática: 407 bolsas BAT - Bolsa de Aperfeiçoamento Técnico (de R$ 1.000,00 cada uma), concedidas nas áreas de advocacia, contabilidade, engenharias civil, elétrica, de pesca e de alimentos, veterinária, agronomia, assistência social, enfermagem, etc..., bolsas estas vinculadas ao então programa “Viva Maranhão”, cujo objetivo central era a “introdução de inovações tecnológicas para o desenvolvimento integrado das áreas de assentamento e agricultura familiar”, ação social muito louvável no mar de miséria que é o Maranhão, mas, que no entanto, não pode ser considerada como investimento em C & T, uma vez que consiste basicamente na manipulação e transferência de tecnologias já há muito conhecidas, dominadas e comercializadas, para as comunidades carentes do interior do estado. Além das 407 bolsas de auxílio técnico (BAT), o governo do Estado afirma ter liberado, através do CEDCT, a quantia de R$ 1.129.600,00 na seguinte forma: R$ 500 mil para compra de equipamentos para o Programa Genoma Nordeste, R$ 272 mil para o Programa de Criação e Implementos do Centro de Pesquisas do Agronegócio da UEMA, R$ 256.5 mil para o Programa de Capacitação de Quadros do Governo do Estado e do Setor Produtivo, R$ 101.1 mil para compra de equipamentos para a Oficina de Cerâmica do Centro Histórico de São Luís –MA. Dentre todos estes programas, somente a implementação do laboratório de Biologia Molecular (do Programa Genoma Nordeste) pode ser classificado como investimento em C & T. Foi assim notória a tendência do governo estadual em inverter o fluxo de recursos do FAPEM para atividades econômicas, burocráticas e técnicas que se afastam diametralmente do interesse acadêmico-científico, deixando cada vez mais à mingua os programas de pós-graduação. Vale ressaltar que o panorama científico-tecnológico de hoje é deveras dinâmico e mutante: algumas áreas atualmente consideradas estratégicas, nem existiam no passado, e não obrigatoriamente ainda o serão no futuro. Portanto, o único caminho para um Estado mostrar-se sempre apto para a realização de pesquisas estratégicas e aplicadas, que garantam a sua competitividade num cenário global, é o estabelecimento de grupos de pesquisa em todas (ou tantas quanto possível) áreas do conhecimento. O nível de São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 7 desenvolvimento científico dos estados brasileiros é dado hoje, em primeira instância, pela quantidade, diversidade e qualidade (avaliação CAPES) dos seus cursos de pós-graduação. No caso do Maranhão, um estado com todas as deficiências na área de C & T, a simples estruturação de programas de pós-graduação de boa qualidade, independentemente da área de atuação dos mesmos, já é um diferencial de progresso e desenvolvimento científico merecedor de estímulos, financiamento e aplausos. A política científica durante o governo Roseana Sarney, equivocada em essência, por confundir C&T com mecanismos de transferência de tecnologia e geração de renda, e por abandonar escandalosamente os programas de pós-gradução das universidades, contribuiu em larga escala para a manutenção e prolongamento do quadro de atraso da realidade maranhense em relação a de outros estados da federação, inclusive alguns dos mais pobres. Para não bastar, quando na saída da governadora Roseana Sarney do governo estadual em 2002, o governador de estado José Reinaldo Tavares, que assumiu o governo em virtude da renuncia da Governadora e, sob sua imposição, nomeou Jorge Murad, ex-gerente de Planejamento e Desenvolvimento Econômico, para o cargo de “Secretário Extraordinário” de Ciência e Tecnologia – antiga SECTEC, ardil este perpetrado como uma derradeira e desesperada tentativa de manutenção do foro privilegiado do casal Roseana Sarney/Jorge Murad nos processos de investigação da Sudam (FERREIRA JÚNIOR; OLIVEIRA, 2002). O de verdadeiro deste fato da época foi que a Sectec era um órgão inexistente, tendo sido extinta pela “modernizadora” reforma administrativa de 1998 que também liquidou a Fapema. Mais que um gesto de deslavado casuísmo político esta nomeação, revela o desvario e o desatino que acomete as velhas oligarquias, sempre acostumadas à calmaria da incolumidade e imunidade conquistadas através de suas largas teias institucionais, quando elas se vêem investigadas por forças além de suas ramificações do poder. A nomeação de um secretário que anteriormente extingue uma Secretaria de Ciência e Tecnologia, de enorme relevância estratégica em qualquer governo digno de respeito, por ironia do destino, recria para poder utilizá-la como escudo para a justiça. Em janeiro de 2003 um grupo de pesquisadores, encabeçado pela Secretaria Regional da SBPC no Maranhão, preparou um documento endereçado ao recémempossado governador do Estado, Sr. José Reinaldo Tavares, alertando o mesmo de que uma política inteligente que garante mudanças reais para o desenvolvimento de um Estado seria o investimento contínuo em Ciência e Tecnologia cujo resultado foi a criação no nosso Estado de um sistema estadual de C&T compreendendo a criação do Conselho Estadual de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico do Maranhão, presidido pelo governador do Estado (Lei N.º 0011/2003); criação da Gerencia de Estado da Ciência, Tecnologia, Ensino Superior e Desenvolvimento Tecnológico, hoje Secretaria de Estado; a recriação da FAPEMA, Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado (Lei 0001/2003); a inclusão da São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 8 Universidade Estadual do Maranhão no Sistema de C&T Estadual. A Secretaria Regional da SBPC fez intervenção propondo mudanças no projeto de lei complementar N.º001/2003 que instituiu a FAPEMA no sentido de criar uma agencia de Estado ágil regida por lei que garante sua atuação e sua eficácia e que seja capaz de estimular a participação da comunidade cientifica na formulação de projetos inovadores e mobilizadores do mais elevado significado, no sentido de contribuir na busca de soluções dos graves problemas da nossa sociedade. 3 CONCLUSÃO Se durante o Governo FHC as diretrizes e políticas para a área de C&T tiveram um viés voltado para atender às exigências do competitivo mundo globalizado, subsidiado por uma política neoliberal nefasta, a importância legada à C&T no Governo Lula em suas políticas está intimamente ligada ao Projeto Nacional que este Governo pretende desenvolver, cuja diretriz central está pontuada enfocando um caráter abrangente da política de C&T como um problema de Estado e não só de governo. Partindo dessa diretriz o governo federal enfoca ainda o papel indutor estratégico na política de C&T, seguindo prioridades democraticamente definidas, numa tentativa de recuperar e aprimorar o Sistema Federal de C&T, fortalecendo, dessa forma, os órgãos de fomento ao ensino e à pesquisa científica, tais como CAPES e CNPq. Para tal tenta superar o processo existente de competição individualizada que tem pulverizado as iniciativas e enfraquecido as instituições. Outras estratégias do atual governo para ampliação das políticas públicas para C&T vão deste o fortalecimento da universidade pública como espaço essencial para a pesquisa; ampliação das políticas industrial, agropecuária e de serviços articulados às políticas de C&T; envolvimento da comunidade científica e da sociedade nos processos de decisão; cooperação internacional; estabelecimento do Programa Nacional de Popularização da Ciência, com melhorias para o ensino de ciências; e criação de um programa de emergência para a recuperação da infraestrutura de C&T. Na prática, podemos dizer que houve um expressivo incremento no atendimento aos projetos de pesquisa em âmbito nacional, já que o CNPq e o Ministério de C&T têm realizado um grande número de chamadas para a ampliação dos programas nacionais de desenvolvimento e especialmente de divulgação científica, sendo inclusive criada uma pasta dentro do MCT para efetivação do programa de popularização da ciência, o que nos levar a considerar que o atual governo tem se preocupado bem mais com a pauta da ciência nacional do que o governo de FHC. São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 9 Em âmbito estadual, não podemos dizer o mesmo, já que a atual Fundação de Apoio à Pesquisa no Estado – FAPEMA não tem cumprido com seu papel de fomentar o desenvolvimento da ciência. Contrariamente às reivindicações feitas pela SBCP Regional a fundação não se tornou ágil e não foi capaz de cumprir o estabelecido pela lei complementar. Desde a sua recriação até o momento, ou seja, dos 8 editais publicados (FUNDAÇÃO..., 2005) entre a comunidade científica no Maranhão, não se tem à informação de que algum tenha sido de fato implementado em resposta às necessidades crescentes dos programas de pesquisa, graduação e pós-graduação que se sentem enfraquecidos diante da letargia do atual sistema de C&T que em nada se superou diante da mudança de governo e de representantes estaduais, refletindo, portanto, o mesmo descaso com o qual tratava a causa científica estadual durante o extinto FAPEM – Fundo de Amparo à pesquisa do Estado do Maranhão, mostrando que a política de ciência e tecnologia no século XX e inicio do século XXI no estado do Maranhão contém um descompasso - de tempo e de forma - com o resto do país, evidenciando o mesmo retrocesso cometido em governos anteriores. REFERÊNCIAS CENTRO DE GESTÃO E ESTUDOS ESTRATÉGICOS. Parcerias Estratégicas. Brasília: CGEE, n. 19. dez. 2004. FERNANDES, A.M. 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