JORNAL DA associação médica Página 4 • Fevereiro/Março 2009 ATUAÇÃO Desempenho dos hospitais é tema de livro André Freitas O livro “Desempenho Hospitalar no Brasil – Em Busca da Excelência” (Ed. Singular) teve sua versão em português lançada no dia nove de fevereiro na Associação Médica de Minas Gerais (AMMG). A tradução foi patrocinada pelo Instituto Brasileiro para Estudo e Desenvolvimento do Setor de Saúde (Ibedess), em parceria com o Banco Mundial. Os autores Gerard La Forgia e Bernard Couttolenc, este presente no lançamento, traçaram um panorama da atual situação dos hospitais brasileiros com indicativos de problemas e possíveis soluções. A baixa ocupação dos leitos hospitalares é um dos problemas, explica Bernard Couttolenc, professor e pesquisador da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Segundo ele, a média de ocupação hospitalar no Brasil é de 37%. “O ideal é 75% a 89% de ocupação”, afirma. O autor do livro chama atenção também para a ociosidade dos blocos cirúrgicos. “No Brasil, se faz uma cirurgia a cada 36 horas. É um grande desperdício”, critica. Para o pesquisador, falta controle de gestão. O presidente da AMMG e diretor de Relações Institucionais do Ibedess, José Carlos Collares Filho, considera que os dados citados na publicação refletem uma triste realidade. “Embora no Brasil existam pólos de qualidade e excelência do serviço hospitalar, estamos cercados por um número expressivo de pequenos hospitais, muitas vezes, ineficientes”, afirma. De acordo com o livro, a eficiência está diretamente ligada ao tamanho do hospital: os hospitais maiores são mais eficientes. No País, 60% dos hospitais têm menos de 50 leitos. O tamanho eficiente varia entre 150 e 250 leitos, segundo os autores. “Nos anos 20 e 30, no Brasil, houve um boom de construções de pequenos hospitais para atender a interesses políticos”, afirma Couttolenc. Médicos, administradores e autoridades prestigiaram o lançamento do livro no Teatro Oromar Moreira, na Associação Médica de Minas Gerais O autor conta que as pesquisas para o desenvolvimento de cada capítulo do livro registraram não apenas dados numéricos, mas também análises sobre o sistema hospitalar brasileiro que, segundo ele, deveriam ser avaliadas pelo próprio Ministério da Saúde. Entre muitas observações, “Desempenho Hospitalar no Brasil – Em Busca da Excelência” apresenta uma crítica em relação ao número de profissionais de saúde nos hospitais. “Os hospitais brasileiros utilizam duas vezes mais pessoal do que os hospitais americanos. Um dos fatores que contribuem para isso é a grande proporção de pessoal de nível básico. Nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo, não existem auxiliares de enfermagem. Há apenas enfermeiros. A resolubilidade do auxiliar de Internações poderiam ser evitadas em 30% O livro revela que o Sistema Único de Saúde (SUS) destina 70% dos recursos para os hospitais e que parte desses recursos é desnecessária. Trinta por cento das internações poderiam ser evitadas, se os casos fossem tratados na rede básica de saúde. “Isso mostra a ineficiência dos serviços de atenção à saúde, que encaminham muitos casos para a rede hospitalar”, afirma Couttolenc. Os pesquisadores constataram também o que muitos médicos e administradores hospitalares já sabem: a Autorização para Internação Hospitalar (AIH), na maioria das vezes, não paga os gastos. “A tabela do SUS para procedimentos de baixa complexidade cobre apenas 25% do custo e, para média complexidade, cobre 30%”, diz Couttolenc. Já para a alta complexidade, a tabela remunera cerca de 25% acima do custo, segundo o autor. “Isso explica em parte a utilização desordenada da tecnologia.” De acordo com a obra, os mecanismos de remuneração dos profissionais de saúde no Brasil também são inadequados: os profissionais recebem por procedimento realizado, o que seria um estímulo a exames desnecessários. Os autores do livro afirmam ainda que somente 3% dos hospitais brasileiros têm sistema de custo. “A definição do quanto pagar é sujeita a pressões e interesses de grupos. Até o momento, o setor de saúde suplementar não se dispôs a revisar mecanismos de pagamento. A remuneração continua sendo por ato praticado”, explica Couttolenc. O autor do livro ressalta a importância dos processos de acreditação, que visam à garantia da qualidade do atendimento, à eficiência da gestão e à implantação de melhorias contínuas. “Na maioria dos países desenvolvidos, hospital sem acreditação não pode funcionar. No Brasil, apenas 2% dos hospitais são acreditados”, alerta. enfermagem é considerada baixa”, pondera Couttolenc. Para solucionar os problemas, Gerard M. La Forgia e Bernard F. Couttolenc concluem no livro que é urgente uma reforma hospitalar no Brasil e apontam possíveis caminhos (veja quadro abaixo). “Desempenho Hospitalar no Brasil – Em Busca da Excelência” pode ser encontrado em livrarias. O preço sugerido é R$ 80,00. A versão original do livro, em inglês, foi lançada no Brasil em maio do ano passado. Possíveis soluções O livro “Desempenho Hospitalar no Brasil – Em Busca da Excelência” aponta algumas medidas que poderiam aumentar a eficiência do sistema hospitalar brasileiro: Reprodução Fortalecer a estrutura de governança e dar autonomia de gestão para hospitais públicos e cobrar resultados; Utilizar mecanismos de pagamento como incentivo para promover a eficiência; Criar mecanismos de incentivo à acreditação dos hospitais, seguindo normas do Ministério da Saúde; Medir e avaliar o desempenho hospitalar tanto no sistema privado, quanto no público; Assegurar o planejamento de serviços e ofertas; Melhorar o padrão de qualidade nos hospitais.