1º Ten Al FREDERICO DE CARVALHO ROEDER ADMINISTRACAO HOSPITALAR: planejamento estratégico na administração de serviços hospitalares RIO DE JANEIRO 2008 1º Ten Al MARCOS PAULO MONTEIRO PRADO 1º Ten Al FREDERICO DE CARVALHO ROEDER ADMINISTRAÇÃO HOSPITALAR: planejamento estratégico na administração de serviços hospitalares Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Saúde do Exército, como requisito parcial para aprovação no Curso de Formação de Oficiais do Serviço de Saúde, especialização em Aplicações Complementares às Ciências Militares RIO DE JANEIRO 2008 1º Ten Al FREDERICO DE CARVALHO ROEDER ADMINISTRACAO HOSPITALAR: planejamento estratégico na administração de serviços hospitalares Trabalho de conclusão de curso apresentado à Escola de Saúde do Exército, como requisito parcial para aprovação no Curso de Formação de Oficiais do Serviço de Saúde, especialização em Aplicações Complementares às Ciências Militares. COMISSÃO DE AVALIAÇÃO MARCELO - Ten Cel BURGARELLI - Maj FENTANES - Maj Rio de Janeiro, ____ de ____________ de 2008 M52p ROEDER, Frederico de Carvalho. Planejamento estratégico na administração de serviços hospitalares /. – Frederico de Carvalho Roeder. - Rio de Janeiro, 2008. 52 fls. ; 30 cm. Orientador: Roberto Nicolay Roeder – Cel R1 Trabalho de Conclusão de Curso (especialização) – Escola de Saúde do Exército, Programa de Pós-Graduação em Aplicações Complementares às Ciências Militares. Referências: fl. 51-52. 1. Administração Hospitalar. 2. Planejamento Estratégico Hospitalar. 3. Decisões Administrativas hospitalares I. Roberto Nicolay Roeder. II. Escola de Saúde do Exército. III. Planejamento estratégico na administração de serviços hospitalares. CDD 355.345 RESUMO O objetivo deste trabalho é mostrar a relação da gestão administrativa dos serviços hospitalares com o caos presente na assistência hospitalar pública. Enquanto se assiste o avanço na gestão e tecnologia de alguns hospitais, se tem um verdadeiro caos em outros, cuja remuneração pelos serviços possui a mesma fonte e base, o SUS. As ferramentas apresentadas neste trabalho têm como viés a aplicação de conceitos gerenciais da administração de serviços à complexa atividade hospitalar. Atualmente menos de 15% dos hospitais possuem um plano estratégico formal. Nesta pesquisa, temos três atores bem definidos que acabam exercendo pressão sobre o núcleo da administração, O Político, O Médico e o Administrador. É de extrema importância o equilíbrio entre eles, na tomada de decisões para a obtenção de resultados eficazes na atividade fim da instituição. No resultado do trabalho é defendida a implantação de uma Unidade Estratégica de Negócios e Planejamento, alterando assim, a Estrutura Burocrática. Palavras chaves: Administração hospitalar; Planejamento estratégico hospitalar; Decisões administrativas hospitalares ABSTRACT The present monograph aims to show the relation between modern management instruments and the chaos of public hospital services. In some hospitals can be observed progress in medical technology and hospital management, in others there is a real chaos, but both types have the same financial base, the Brazilian Public System of Health ( SUS ). In this research is discussed the application of modern management instruments to the complex problem of hospital administration. Actually less than 15% of all Brazilian public hospitals have formal strategic plans. In our object of research three groups influence the process of decision finding: the politicians, the doctors and the managers themselves. The harmony between these groups is extreme important for the functioning and the economic result of the institution. Finishing the study, it is recommended implantation of a strategic center of business planning, which will on a long run change the bureaucratic structure of hospital administration. Key-words: Hospital administration; strategic hospital planning; hospital decision finding LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Ilustração do planejamento estratégico................................................................34 Figura 2 - Estrutura de gestão de Organização em base de seus valores, crenças e visão...35 Figura 3 - As cinco partes básicas da organização...............................................................42 Figura 4 - O equilíbrio da cúpula estratégica.......................................................................46 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO........................................................................................................7 2 EVOLUÇÃO DOS SERVIÇOS MÉDICOS E HOSPITALARES.......................11 2.1 EVOLUÇÃO DA MEDICINA COM QUALIDADE NO MUNDO......................11 2.2 O CONTEXTO E A MISSÃO DO HOSPITAL......................................................12 2.3 O SETOR ASSISTENCIAL BRASILEIRO...........................................................15 3 ADMINISTRAÇÃO E QUALIDADE EM SERVIÇOS HOSPITALARES.......19 3.1 ADMINISTRAÇÃO E QUALIDADE DE SERVIÇOS.........................................19 3.1.1 Programa Modelo de Administração de Serviços............................................22 3.2 QUALIDADE EM SERVIÇOS HOSPITALARES: ATENDIMENTO AO CLIENTE COMO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EMPRESARIAL...................................23 3.2.1 Conceito de Qualidade na Área Hospitalar......................................................24 4 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO HOSPITALAR.........................................28 4.1 DEFINIÇÃO E CARACTERÍSTICAS DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EMPRESARIAL.............................................................................................................28 4.2 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EMPRESARIAL HOSPITALAR...............32 4.3 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EM ORGANIZAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS...............................................................................................................37 4.3.1 Estruturas Organizacionais Mais Freqüentes Em Hospitais Públicos..........40 5 CONCLUSÃO...........................................................................................................48 REFERÊNCIAS ..........................................................................................................51 1 INTRODUÇÃO A medicina tem evoluído no aspecto de novos conhecimentos e em equipamentos da mais alta complexidade tecnológica. O fator preocupante é o acesso da população, principalmente os excluídos, a esta tecnologia. É ai que entra a gestão pública de assistência médica que necessariamente passa por uma estrutura hospitalar. Quanto à estrutura médicohospitalar privada verificam-se bolsões de riqueza em todas as nações. Restam os excluídos deste sistema, que vêem-se obrigados a usar a estrutura pública seja ela de boa ou ma qualidade. Verifica-se uma ineficiência neste setor devido à falta de uma adequada estrutura de planejamento e de gestão de recursos físicos e humanos. Esta constatação é comprovada pelo sucesso verificado em hospitais públicos, do Sistema Único de Saúde (SUS), cujo atendimento supera entidades privadas, em todos os aspectos. Então, o que e necessário para garantir o acesso à assistência médico-hospitalar? A junção da evolução da medicina com a evolução de técnicas administrativas. E necessário desvincular a filosofia da administração pública de não se preocupar em produzir resultados econômicos, devendo ser eficaz no aspecto da assistência, isto é na atividade fim, pois administra a vida. Esta eficácia se mantém pela aplicação dos princípios de administração de serviços, pelo planejamento estratégico de auto-sustentabilidade e pela coerência de equilíbrio de interesses da cúpula estratégica das entidades hospitalares públicas: Médico, Político e o Administrador, no gerenciamento das Instalações, Equipamentos e Materiais e Recursos Humanos, base da instituição hospitalar. No nosso País são oferecidos dois tipos de serviços médicos-hospitalares: Os serviços financiados pelo SUS, hospitais públicos, e os serviços financiados pelos grupos de plano de saúde, setor privado. O serviço público tem um papel vital na manutenção na eficácia do sistema. O Estado tem em sua responsabilidade a manutenção do sistema por diversas questões, entre elas: Garantia constitucional ao atendimento digno a saúde; Ser a principal instituição a oferecer o serviço pelo sistema SUS; Situação sócio-econômica da nossa população. Todavia, temos vivenciado, nestes últimos anos, na saúde pública problemas de toda a ordem na assistência do povo ao procurar o serviço médico-hospitalar. Aqui, ainda convive-se com as patologias comuns a todas as nações, acrescentando-se aquelas próprias dos países subdesenvolvidos: doenças infecciosas, parasitárias e aquelas decorrentes da desnutrição. Existem bolsões de qualidade nesta área, enquanto o governo procura uma solução difícil para inúmeros problemas da saúde. Destes, poucos são governamentais, e a maior parte está na iniciativa privada. Temos em nosso Pais, hospitais, clínicas, centros diagnósticos e laboratórios privados comparáveis aos do primeiro mundo. São resultados da aplicação da gestão moderna de empresas que sabem, entre outras coisas, o significado de missão, visão e valores, reconhecem a importância do cliente interno e externo, e que se desenvolvem com enfoque em processos e avaliação de resultados por meio de monitorizarão de indicadores. Programas de qualidade representam no momento, o que há de mais novo no mundo da administração hospitalar, conforme a equipe franco-brasileira do Programa de Cooperação em Gestão Hospitalar liderada por Castelar (1995). Este tipo de gestão na área da saúde precisa ser aplicada seguindo a nova realidade mundial. A medicina do futuro não será exercida somente agregando novas tecnologias. Torna-se urgente a compreensão da forma adequada e moderna de administrar serviços. Neste sentido, este Projeto de Pesquisa surge como uma possibilidade de compreender os novos conceitos em administração de serviços e a melhor forma de planejar as unidades públicas prestadoras de serviço na área da saúde. A justificativa desta pesquisa é de que no campo das organizações médicohospitalares, principalmente nos Hospitais Públicos tem-se observado um despreparo profissional e uma tendência para improvisações técnico-administrativas, que comprometem o desenvolvimento da própria organização. A administração empresarial é empregada com sucesso em todos os tipos de empresas. Seus princípios, postulados e teorias são universais e cabem perfeitamente na Administração de Empresas Hospitalares. Assim é necessário que estas organizações sejam dirigidas como empresas, deixando de lado o amadorismo que as caracterizam. Pensar em estratégia empresarial hospitalar, é pensar em qualidade e questionar qual é a função da instituição de saúde na estrutura social. De maneira geral, as instituições de saúde são aquelas que têm a responsabilidade de preservar a vida. Como o ser humano possui códigos aprendidos ao longo de sua vida, que lhe conferem um “saber” do que é qualidade, ele continua utilizando esses códigos quando está nas instituições de saúde, e é de acordo com eles que se comporta. O cliente não quer ser visto como doente. Quer ser reconhecido como alguém que pensa, sente, tem vontade e interesse. Assim, se o emprego do planejamento estratégico empresarial, aliado a um sólido e eficaz sistema de controle, poderemos melhorar o atual quadro da administração de serviços hospitalares. Logo, o objetivo geral desta pesquisa é apresentar, no contexto do planejamento estratégico, soluções eficazes, aplicáveis à administração de serviços hospitalares. Fazendo-se uso de decisões, cujas ações possam resultar na auto-manutenção do sistema, permite-se um equilíbrio no fluxo das atividades operacionais de cima para baixo. Quanto aos elementos referênciais da pesquisa, foram delineados como pesquisa bibliográfica. Quanto ao universo da pesquisa, restringiu-se aos serviços prestados pelos Hospitais do SUS. Ainda foram levantados dados de instituições vinculadas ao SUS. Quanto à coleta de dados, constituiu-se basicamente em Pesquisa bibliográfica. Os dados foram tabulados para a formação de gráficos comparativos, traçando um paralelo entre as estruturas das instituições pesquisadas. Objetivando desta forma, a possibilidade de visualizar as diferentes estruturas e o seu respectivo grau de satisfação e eficácia da atividade fim. Foi usando o método de Merry que se sugeriu a utilização tanto da percepção do consumidor da qualidade do seu atendimento médico hospitalar quanto o uso de elementos da qualidade clinica mais objetivos. O autor classifica a percepção dos consumidores como “opinião” do que uma avaliação objetiva. Ele reconhece, contudo, que a opinião dos consumidores é uma força que deve ser atendida numa economia direcionada pelo mercado (mesmo tratando-se de serviço público) classificando altamente competitiva. Os fatores pesquisados são dividos em: a)Elementos de Qualidade Subjetivos – Percepções; b)Elementos de Qualidade Clínica – Medida Objetiva. Os dados foram tabulados através da utilização de uma matriz, onde se relaciona o grau de qualidade objetiva (clínica) com o grau de qualidade subjetiva (interação pessoal – atendimento) permitirá classificar a instituição em quatro categorias ou zonas de qualidade: a)Zona de Excelência (alto grau de qualidade subjetiva e objetiva; b)Embelezamento Imaginário ( alto grau de qualidade subjetiva, mas com resultados negativos ou duvidosos); c)Alta Tecnologia, baixa sensitividade (alto grau de qualidade objetiva, mas baixa percepção do consumidor); d)Perda total (com baixo grau de qualidade em qualquer dos dois sentidos). 2 A EVOLUÇÃO DOS SERVIÇOS MÉDICOS E HOSPITALARES 2.1 EVOLUÇÃO DA MEDICINA COM QUALIDADE NO MUNDO Há pouco mais de um século, tudo o que existia na área da saúde era ignorância e experimento. Assim doenças que hoje são triviais, tinham alto índice de mortalidade. A descoberta do éter sulfúrico por Raymond Lulle permitiu um avanço na área de anestesia, trazendo grandes modificações à medicina. Com o controle da dor, restava resolver o problema da infecção. Problema que se acentuou muito devido a medidas mais intervencionistas. O índice de mortalidade era enorme nos hospitais. O que chamava atenção é que os procedimentos realizados fora dos hospitais evoluíam melhor e com menor índice de mortalidade. O médico Semmlweis é lembrado por haver sido o primeiro a suspeitar do problema de infecção pelo contato. Em seguida entra neste contexto Joseph Lister, professor de cirurgia da universidade de Glasgow. Ele não aceitava que a supuração fosse necessária para a boa cicatrização das feridas. Após muito estudo e experiências, concluiu que também a causa da supuração das feridas devia correr por conta de organismos vivos, invisíveis a olho nu. Na Alemanha, o médico Roberto Koch, demonstrou através do microscópio, a existência dos micróbios já sustentados por Pasteur e Lister. Assim, foram dadas a ver pela primeira vez as bactérias esféricas denominadas coccus, identificando-os ainda sob a forma viva e atuante. Nos anos seguintes, aos da década de 1880, os germes piogenicos foram sendo descobertos. O novo caminho indicado por Koch, que sucedia o fenol em poder bactericida, era o vapor da água, que exterminava bactérias e esporos que sobrevivessem ao efeito das soluções químicas. Em 1929, Flemming havia descobriu a penicilina que foi amplamente empregada na segunda guerra mundial. Depois da guerra, o uso dos antibióticos passou a ter uso rotineiro. No início do século passado, os cirurgiões aperfeiçoaram a técnica cirúrgica abrindo o tórax, e operando esôfago e pulmões. Seguiram-se as cirurgias cardíacas e toda a série de cirurgias sofisticadas conhecidas de hoje, como os transplantes de órgãos. O desenvolvimento da medicina e constante. A competência médica baseia-se na busca constante de conceitos que sempre mudam. O próprio ensino da medicina se faz por meio de verdades transitórias. Hoje, o paciente é personificado, e não a doença. Feita esta evolução, pergunta-se se a Qualidade esteve presente nesta evolução da medicina e se a Qualidade de hoje, que é ciência e arte, pode contribuir para a melhoria contínua e para novos saltos de progressos da ciência médica. A resposta positiva é lógica. 2.2 O CONTEXTO E A MISSÃO HOSPITALAR Hospital é todo o estabelecimento dedicado a assistência médica, de caráter estatal ou privado, de alta ou baixa complexidade, com ou sem fins lucrativos. Os hospitais são componentes de uma rede de serviços de atenção à saúde, associados geograficamente, seja por uma organização planejada ou como conseqüência de uma organização espontânea dos elementos assistenciais existentes. Este conjunto, que abrange a totalidade da oferta de serviços disponíveis em um território, denomina-se “sistema local de saúde”. No contexto de um sistema local de saúde, os hospitais desempenham um papel indispensável, valendo-se destacar alguns aspectos: a)Oferecer assistência médica integrada; b)Oferecer assistência médica continuada; c)Constituir um nível intermediário dentro de uma rede de serviços de complexidade crescente; d)Concentrar grande quantidade de recursos de diagnóstico e tratamento para, no menor tempo possível, reintegrar o paciente ao seu meio; e)Abranger os resultados de suas ações sobre a população da área de influência. f)Promover a saúde e prevenir as doenças sempre que o estabelecimento pertencer a uma rede que garanta a disponibilidade de todos os recursos para resolver cada caso; O desenvolvimento e aprimoramento de programas de garantia de qualidade são uma necessidade em termos de eficiência e uma obrigação do ponto de vista ético e moral. Toda a instituição hospitalar deve se aprimorar permanente, de tal forma que consiga uma integração harmônica das áreas médica, tecnológica, administrativa, econômica, assistencial e, se for o caso, das áreas docentes e de pesquisa. A matéria prima básica dos hospitais é o doente, e cabe a eles reintegrá-los à sociedade em condições de retornar, tanto quanto possível, às funções que desempenhava anteriormente. Assim, o conceito do ser humano encontra-se intimamente associado a existência dessas instituições, que só adquirem pleno sentido quando são concebidas em razão das pessoas. O Manual Brasileiro de Acreditação Hospitalar pressupõe os hospitais como ambientes onde se recuperam e se lidam com os valores humanos, e todos os participantes ativos na recuperação da Saúde, estão cientes que tratam com seres humanos. Existem três pólos de responsabilidade em saúde. O hospital é de responsabilidade de um deles, a chamada atenção individual da saúde. Nos outros pólos estão os serviços de saúde pública - epidemiologia, controle de doenças infecciosas - e os de saúde ambiental relacionados com controle sanitário da região. Trazendo para a realidade brasileira, a atenção individual da saúde corresponde aos estabelecimentos assistenciais que efetivamente compõem a rede de serviços de atendimento à saúde da população. A atenção individual da saúde pode ser classificada em três focos de atuação: promoção de saúde, prevenção e serviços curativos. A promoção de saúde é geralmente de responsabilidade única do indivíduo. Diz respeito a seus hábitos de vida e ambiente em que vive. Apesar das inúmeras campanhas de saúde, observa-se pouca atuação das instituições ligadas diretamente à prestação de serviços de saúde. Vários profissionais poderiam ser relacionados com a educação da comunidade sobre promoção à saúde. A prevenção da saúde é mais disseminada nos meios de comunicação de massa através de campanhas. Algumas associações foram formadas para divulgar essas campanhas, apoiando-se, muitas vezes, em figuras conhecidas do grande público dando maior credibilidade à ação. Os serviços curativos - principal alvo da atuação dos serviços de saúde Brasileiros são o terceiro foco de atuação. Mesmo assim, os serviços médicos e hospitalares se preocupam mais com o tratamento da doença do que com a saúde. A atenção primária é baseada em ambulatórios e consultórios. Observa-se hoje uma tendência do retorno do médico de família, que corresponderia ao aumento da utilização dos serviços desta esfera. A secundária corresponde ao atendimento pelo profissional intermediário, através de instituições de médio porte. A esfera de atendimento terciário é composta por hospitais especializados, numerosos nos grandes centros urbanos do país. A distribuição ideal dos serviços de saúde esta longe da realidade brasileira, seja no serviço público ou privado. Observa-se uma absorção por parte dos hospitais especializados de recursos sem a devolução destes para a comunidade. Nos países em desenvolvimento, os estabelecimentos, equipamentos, recursos humanos e medicamentos tendem a orientar-se para a ponta da pirâmide. Isso também ocorre no Brasil, criando uma discrepância de assistência entre diferentes classes da população. Acentua-se também a distribuição desordenada de equipamentos em diferentes níveis, com concentração nos centros mais ricos e industrializados do país. O crescimento da rede hospitalar no Brasil foi mais influenciado por interesses de grupos isolados do que por políticas de saúde. Isso gerou as diferenças existentes entre a oferta de serviços existentes e a real necessidade da população. Os serviços de assistência à saúde podem ser classificados por tipo de estabelecimento: a) Postos De Saúde: prestam assistência à saúde de uma população entre 500 e 2.000 habitantes, geralmente na área rural, valendo-se de procedimentos mais simplificados, praticamente sem incorporação de equipamentos e contando com recursos humanos de nível elementar e médio (auxiliares e técnicos de enfermagem). b) Centro De Saúde: mais complexo do que o posto, conta com assistência médica com pouca tecnologia e dispõe de profissionais de nível universitário. É mais freqüente nas cidades de médio e grande porte, na modalidade ambulatorial. c) Unidade Mista: desenvolve todas as atividades de um centro de saúde mais internação. Devido à área de internação, apresenta maiores recursos tecnológicos e dispõe de profissionais mais qualificados (médicos especialistas). Atuam principalmente nas áreas ambulatorial e hospitalar. d) Policlínica: apresenta atendimento ambulatorial especializado, só atuando nesta área. É comum nas cidades de médio e grande porte, nas áreas mais desenvolvidas. e) Pronto-Socorro: atende situações de emergência e urgência médica. Alguns apresentam leitos para acomodação dos que aguardam remoção ou para observação. Variam no tocante a recursos tecnológicos e recursos humanos. f) Hospital: é voltado principalmente para assistência médica em regime de internação, localizado em áreas urbanas e com horário de funcionamento contínuo. Alguns são voltados para o atendimento especializado. 2.3 O SETOR ASSISTENCIAL BRASILEIRO O comércio marítimo no século XV aproximou os continentes e trouxe novas doenças para a Europa. Com medo de novas epidemias, negociadores e mercadores se tornaram os principais interessados em construir e financiar hospitais e dispensários. Essa política de saúde européia foi levada para as colônias. A iniciativa de criar instituições de atendimento vinha da própria sociedade. O Estado já se retirava da obrigatoriedade de dar assistência à população. No Brasil, já em 1538, foi fundada em Santos a primeira Santa Casa do País, modelo já existente em Portugal. Essa influência ajudou o crescimento do número de instituições baseadas na caridade. Os primeiros hospitais eram instituições caridosas onde o paciente era isolado e ficava sob os cuidados de religiosos. Tinham objetivo mais social do que terapêutico. Os conhecimentos médicos se baseavam nas informações que o próprio doente fornecia. Conhecia-se mais o doente do que a doença. Já no século XVIII, o médico passou a ser a figura central do hospital. Ele virou, então, símbolo da instituição, que perdeu o caráter caridoso e passou a ter finalidades de tratamento e recuperação. No século XIX, o médico austríaco Semmlweis mostrou-se preocupado com a alta taxa de mortalidade pós-parto em mulheres. Ao pesquisar sobre o problema, levantou a hipótese que a febre vinha da infecção da parturiente devido a agentes externos. Posteriormente foi classificado como infecção hospitalar. Até o início do século passado o hospital foi visto como dispensário de necessitados ou para os casos sem solução. O hospital era o último recurso a ser utilizado em caso de doença. As pessoas só começaram a freqüentar a instituição hospitalar perto da metade do século passado, quando diminuiu a taxa óbito por infecção hospitalar. As formas de tratamento começaram a aumentar e os diagnósticos a ser complementados através dos equipamentos. O hospital, então, passou a adquirir suas atuais funções e objetivos. O sistema de saúde no Brasil é formado por uma extensa quantidade de instituições interligadas voltadas para o benefício da saúde. No Brasil, comporta os serviços públicos de saúde, compostos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e os privados. Estima-se que menos de um terço da população tem acesso a qualquer serviço de saúde (ELIAS 1998). Apesar disso, a Constituição Federal de 1988 prevê os três pilares que compõem o SUS: eqüidade, universalidade e integralidade. Logo o SUS deveria atender a todos, com iguais direitos e cobrindo todos os diagnósticos e tratamentos possíveis. Isso mostra o tom paternalista da Constituição e retira a responsabilidade individual pela saúde. O serviço público é prestado por instituições pertencentes ao governo ou por serviços de terceiros para a população que não tem recursos para utilizar o sistema privado. Esses serviços são financiados por contribuições tributárias. Algumas instituições ainda contam com auxílio de doações e recursos do setor privado captados por fundações associadas. Devido a uma utilização errônea de recursos do setor público, proliferam-se as alternativas privadas de assistência. Neste trabalho, propõe-se dividir o setor privado em três grupos distintos: o segmento não lucrativo, o lucrativo complementar e o lucrativo assistencial. O segmento privado não lucrativo é composto por entidades filantrópicas representado principalmente pelas Santas Casas e pelas instituições formadas por grupos imigrantes, como o Hospital Israelita Albert Einstein. Os grupos imigrantes atendendo principalmente pessoas ligadas ao setor supletivo - os planos de saúde - apesar de terem disponíveis leitos para a população atendida pelo SUS. O grupo lucrativo complementar se autodenomina “Setor Complementar de Saúde” e é formado pelas empresas de assistência médica e pelas seguradoras, ou seja, pelos planos de saúde. As modalidades do setor supletivo são: · Medicina de Grupo: utiliza a própria rede de serviços e hospitais através de sistema de pré-pagamento pelos serviços, mas também é vinculada a médicos, serviços auxiliares de diagnóstico e hospitais da rede privada, através de contratos de prestação de serviços. Não desenvolve qualquer tipo de medicina preventiva. · Cooperativas: são formadas por médicos que participam pelo sistema de cotas. Oferecem planos individuais e coletivos para empresas e utilizam os serviços próprios e contratados. · Seguro-saúde: opera no sistema de reembolso de despesas e pagamento à rede. Não possui hospitais ou médicos próprios, apenas rede contratada. · Planos de Administração: administram planos para empresas, contratando médicos e hospitais indicados pela própria empresa. Atuam no sistema de pagamento pelos serviços prestados. · Autogestão: grandes empresas criam um departamento interno que opera todos os mecanismos de credenciamento, análise de auditoria de contas e pagamento aos prestadores. A diferença entre a autogestão e os planos de administração é que, na primeira, o contrato de prestação de serviços é feito diretamente entre a empresa e o credenciado, mesmo com a terceirização. A maioria das empresas possui recursos próprios, como laboratórios e hospitais. Essas instituições atendem a empresa que as possui e os outros convênios. Geralmente não atendem SUS. Em outras palavras, muitas instituições de atendimento médico estão neste grupo. O grupo lucrativo assistencial é formado pelas instituições assistenciais que, em sua maioria, não mantêm vínculo com o SUS. Não estão ligadas a grupos do setor lucrativo complementar. Até a Constituição de 1988, havia incentivo do governo para a construção de hospitais no país. O financiamento era feito pela Caixa Econômica Federal a juros baixos e longos prazos de pagamento. Após resgatar um pouco da história da evolução da medicina e assistência hospitalar, cuja atividade é essencialmente de prestação de serviço, o próximo capítulo aborda o contexto conceitual da administração e qualidade dos serviços. 3 ADMINISTRAÇÃO E QUALIDADE EM SERVIÇOS HOSPITALARES 3.1 ADMINISTRAÇÃO E QUALIDADE DE SERVIÇOS A administração de serviços transformou-se em termo popular. É um ponto de referência confortável e útil para a filosofia de gestão que está por trás da excelência integral do serviço. É importante compreender que o gerenciamento de serviço é um modelo específico com algumas idéias e implicações básicas que não estão presentes no modelo atual de gerenciamento de produção. É muito mais do que uma idéia sobre ser gentil com o cliente. Gerenciamento de serviço é uma forma organizacional que faz da qualidade do serviço, como é percebido pelo cliente, a mais importante força impulsionadora da operação do negócio. A filosofia de administração de serviços sugere que todos têm um papel específico no esforço de garantir que as coisas funcionem bem para o cliente. Assim, qualquer pessoa que esteja em contato direto com o cliente deveria colocar-se no lugar do cliente com seu ponto de vista e fazer o possível para atender suas necessidades. A filosofia de administração de serviços diz que, toda organização deve atuar como um grande serviço de atendimento ao cliente. Alguns valores, crenças, tradições, e até a formação profissional de algumas pessoas impedem que se adotem atitudes e comportamentos voltados para a qualidade do serviço. Alguns simplesmente não gostam da idéia de trabalhar com serviços. Acreditam que a função de serviço possui status reduzido e carente de respeito. Existe uma justificativa para essa convicção nas culturas ocidentais. A palavra serviço vem do Latim servus, que é escravo. Temos palavras como servidor, servidão e servil. As funções de serviço não possuem status elevado nas sociedades ocidentais. Algumas pessoas que têm sido preparadas para algumas profissões têm dificuldade em ver a si próprias servindo a outras pessoas, e particularmente tratando qualquer um como cliente. Isto inclui profissionais da área de saúde, assistentencia social, psicólogia, advogados, policiais e educadores. Um aspecto importante que afeta o gerenciamento de serviços hospitalares é que o trabalhador, direta e pessoalmente, desenvolve com os clientes um trabalho emocional. Os psicólogos identificaram uma reação distinta nos seres humanos, denominada síndrome da sobrecarga de contato. Ela aparece quando existe situação funcional que os força a ter contato com diversas pessoas de forma constante e repetida, produzindo fadiga emocional. O trabalho emocional afeta tanto o funcionário quanto o cliente de forma muito direta. Quando os empregados estão estressados, mentalmente sobrecarregados, fastiados ou insatisfeitos, há um reflexo direto em suas interações com os clientes. Paul Goodstadt, diretor de qualidade de um grande banco coloca o problema da seguinte forma: “Empregados infelizes são prejudiciais, destruindo a qualidade de serviço diretamente em sua raíz.” Quanto aos tipos de clientes, Whiteley (1995) classifica três grupos de clientes integrantes de uma organização: o cliente externo, o interno e o intermediário. Para ele, a preocupação central é o cliente externo, aquele que está no fim da linha e que vai, de fato, usar os seus produtos e serviços. Ele alerta, porém, para o fato de que, se quisermos prestar um bom serviço ao cliente, precisamos trabalhar e envolver os outros tipos de clientes. Os clientes internos são as unidades ou pessoas que não servem diretamente aos clientes, mas que fornecem serviços ou executam atividades necessárias para o bom desempenho daqueles que o fazem, no caso de hospitais, médicos e enfermeiros. Constituem-se clientes da administração, que exercem uma força avassaladora sobre a organização. Os clientes intermediários, por outro lado, são os fornecedores que fornecem seus bens materiais ou serviços, necessários ao funcionamento da própria empresa prestadora de serviços ou que ajudam a empresa a encontrar clientes, promover vendas e distribuição dos seus produtos. Albrecht (1988), após examinar as reclamações feitas pelos clientes aos estabelecimentos de serviço, observou que se situam dentro de umas poucas categorias básicas, os quais denominou de “sete pecados do serviço’: a) Apatia: Uma atitude de pouco caso de parte da pessoa responsável pelo contato com o cliente. b) Dispensa: Procurar livrar-se do cliente desprezando sua necessidade ou seu problema; procurar afogar o cliente com algum procedimento padronizado que não resolve o problema mas livra o funcionário de serviço de ter de fazer algo especial. c) Frieza: Uma espécie de desprezo, rispidez, tratamento agressivo, desatenção ou impaciência com o cliente que parece dizer: “Por favor, desapareça!”. d) Condescendência: Tratar o cliente com atitude paternalista, como é feito por muitas pessoas no setor de assistência médica. e) Automatismo: “Obrigado-o-próximo” ! O funcionário automatizado coloca todo o cliente no mesmo programa com os mesmos movimentos e chaves padronizados e sem qualquer indício de individualidade. f) Regras: As normas da organização predominam sobre da satisfação do cliente, sem qualquer liberdade, por parte do funcionário, para abrir exceções ou usar o bom senso. g) Passeio: “Desculpe, mas procure o fulano. Nós não resolvemos este problema aqui”. Existe uma diferença entre um produto físico e um produto sob a forma de serviço. Em um produto físico, a qualidade pode ser inspecionada quando sai da linha de montagem. Mas, isto não ocorre com serviços. Um serviço é “fabricado” no ato da entrega, e na maioria dos casos há muitos pontos de entrega, e não apenas um. Significando que os métodos tradicionais de controle de qualidade – centralização e inspeção – deixam de ser válidos. E necessário um método que leva em conta o processo fundamentalmente humano de geração e entrega de produto. Carlzon, presidente da Scandinavian Airlines, disse a seu pessoal: “Temos milhares de horas da verdade diariamente em nossa empresa”. No conceito de Carlzon, a empresa existe na mente de seus clientes somente durante incidentes em que entram contato direto com aspectos específicos de suas operações. Se tomarmos o conceito de horas da verdade literal e concretamente, esqueceremos de funções, tarefas, estruturas organizacionais e procedimentos, e começará a pensar em termos de resultados. Assim quando soubermos quais são as horas da verdade, estaremos em condições de analisar todas elas do ponto de vista da qualidade. Poderemos começar a melhorar aquelas que exigem melhoria e buscar maneiras de acrescentar valor a todas elas. Cada funcionário de serviço de certo modo é um administrador. Cada um controla o resultado da hora da verdade mostrando seu próprio comportamento com o cliente. Se o pessoal de serviço é apático, desagradável, inamistoso, distante ou pouco cooperativo, suas horas da verdade estarão ruindo. Se for ativo, agradável, caloroso, amistoso, cooperativo e usar de iniciativa para resolver o problema do cliente, então suas horas da verdade serão excepcionais, e o cliente tenderá a generalizar suas experiências criando uma boa imagem geral de serviço. 3.1.1 Programa Modelo de Administração de Serviços Existem varias maneiras de lidar com programas de qualidade de serviços. Albrecht (1988) recomenda a formação de um grupo (uma força-tarefa), que funcione como uma espécie de defesa do esforço geral. As principais vantagens são: a) Manter funcionando. A alta administração só pode incentivar um pouco o programa. Pois sua disponibilidade para reuniões e pequena. É importante que o programa seja tocado, e não apenas quando a alta administração sentar-se e discutir as etapas seguintes. b) Descer o foco da ação pelo menos em um nível inferior que comece a fazer parte da realidade operacional. Conseguir o apoio e as contribuições de indivíduos de toda a organização. Assim, o grupo (força-tarefa) deve ser dividido, com membros de hierarquias diferentes. c) A força-tarefa deve dar credibilidade ao programa de qualidade de serviço para a organização. Há uma transferência de propriedade da alta administração para o pessoal de ação. A implantação deste programa dá-se em cinco fases básicas, a saber: a) Montar sua estratégia de serviço; b) Entender o cliente; c) Implantar as melhorias operacionais; d) Mudar permanente; e) Educar a organização. 3.2 QUALIDADE EM SERVIÇOS HOSPITALARES: ATENDIMENTO AO CLIENTE COMO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EMPRESARIAL Nos últimos tempos, todos, têm voltado a demonstrar especial interesse pelo tema controle de qualidade total (CQT), uma vez que as organizações buscam implementar programas desta natureza como estratégia para a conquista do mercado. Observa-se, que o real desenvolvimento econômico nos países mais ricos, ou mesmo em países em desenvolvimento está acontecendo mais intensamente nas empresas de atividades terciárias, de prestação de serviços, das quais o hospital seja o modelo mais complicado de todas. O primeiro encontro (momento da verdade de Albrecht) é com os serviços de recepção geral da instituição (Admissão/Abertura de Prontuário Médico/Setor de Convênio ou Caução) e sua evolução. Após ocupar um leito, é comum o cliente passar pelos serviços intermediários de diagnóstico e tratamento, preparando-o para o ato médico final. De fato, já nos serviços intermediários o cliente deve estar presente, ao vivo ou por amostras da sua pessoa (exames.). Pergunta-se, porém, se nestes mesmos hospitais estão oferecendo serviços de maior qualidade aos seus clientes, como clientes, ou apenas serviços mais sofisticados. No hospital, na cabeça do leigo, a qualidade do atendimento está ligada ao atendimento médico propriamente dito. Tudo que acontece no hospital depende da doença do cliente, sua condição física existente. Cada cliente é único, uma vez que cada pessoa é única em termos físicos, emocionais e culturais. Dependendo da rotina do hospital, inclusive, o tempo para o cliente chegar às mãos do médico pode ser consideravelmente longo. Uma vez realizado o atendimento médico, o cliente é encaminhado para os serviços intermediários para exames de controle e terminando no setor de financeiro para pagamento dos serviços recebidos. De fato, o processo começa com os clientes procurando os médicos que mantêm os mesmos convênios que possuem. Em casos de necessidade de internação hospitalar, eles vão para um dos hospitais normalmente indicados pelo médico, pelo fato deste, também, manter o mesmo convênio. 3.2.1 Conceito De Qualidade Na Área Hospitalar O conceito mais tradicional de qualidade na área médica, aparentemente, foi extraído das suas suposições sobre a doença. A doença é caracterizada como um desequilíbrio químico ou fisiológico que precisa ser restaurado via interferência clínica ou por intervenção cirúrgica. Assim, uma boa definição de qualidade é aquela expressa no livro de Victor Fuchs: Quem deverá viver? (1974). Para ele, o profissional da saúde considera o nível ótimo de saúde aquele que é o mais alto tecnicamente alcançável, independentemente de seu custo. O controle de qualidade neste campo é chamado por Schmelle (1993) de “Teoria da Maçã Podre”. Todo esforço é dado no sentido de averiguar a capacidade técnica do pessoal e o seu desempenho, a fim de evitar-se os incompetentes. Para Sloan e Chmel (1996), contudo, esta definição é muito limitada. Eles se referem à tecnologia médica só como uma ferramenta da qualidade. Na opinião deles, o centro da qualidade em serviços é a capacidade mental, do paciente e da equipe que o atende. Eles citam uma pesquisa realizada em 1970, no Hospital Geral de Massachusetts, que demonstra que quanto mais for gasto com os cuidados intensivos de saúde, tanto maior a sua probabilidade do paciente vir a óbito. O estudo referente às últimas semanas de vida de pacientes terminais com câncer, por exemplo, mostrou que as despesas eram dez vezes e meia superiores no hospital de que em casa. Diagnósticos e serviços terapêuticos eram realizados em praticamente todos os pacientes até o dia da morte. Na etapa de definição de conceitos e padrões, Albrecht (1995) diz: “Olhar para trás e ver o que já fizemos pode nos ajudar a perceber como chegamos a nossas idéias atuais sobre a gestão empresarial e, particularmente, sobre a nossa definição de qualidade”. Em termos motivacionais, a procura de um hospital para atendimento é quase sempre motivada pelo desejo de se curar de algum problema de saúde. Conforme Sloan e Chmel (1996, p.121), o verdadeiro serviço só existe quando atende a três propósitos: a) O problema médico/cirúrgico imediato necessário para prevenir uma recaída; b) A saúde emocional do paciente, equilibrando-a de forma a ajustar a situação existente do cliente; e c) A mudança de comportamento do cliente de modo que o retorno ao hospital possa ser evitado. Um fato também a ser considerado é de que o cliente externo da área hospitalar não é só a pessoa. Além desse objeto direto do atendimento (a pessoa), a instituição hospitalar deve atender, igualmente: a) Às necessidades familiares do cliente e para o convívio da qual deverá voltar para restabelecer-se; b) Informar ao médico da assistência primária, que referendou o cliente para o atendimento hospitalar mais complexo de como proceder com o cliente após sua alta; c) Atender ao seguro de saúde que financia o atendimento e que deseja garantias de que o atendimento foi realizado da maneira mais eficiente e eficaz possível; d) Precisa atender aos alunos, que atuam na instituição procurando conhecimentos técnicos para sua capacitação profissional; e) A própria comunidade que há de ser beneficiada com os atendimentos dos cidadãos (especialmente em casos de doenças infecciosas ou de atividade de saúde pública), que almeja manter a sua força de trabalho ativa por maior tempo possível, com qualidade de vida e alto grau de independência físico-financeira. Na apresentação do conceito de qualidade em instituições hospitalares, define-se assim, quatro visões particulares de qualidade. Os componentes e sua visão, de forma sumária, são: a) O Paciente: desejando ser tratado com respeito e interesse b) O Médico: procurando o fornecimento dos conhecimentos e tecnologias especializadas mais avançadas para o tratamento dos pacientes; c) O Conselho Administrativo: que procura ter os melhores serviços e profissionais da área de saúde, oferecendo o melhor atendimento; e d) O Administrador: ansioso para oferecer os melhores serviços e profissionais da área de saúde, o melhor atendimento médico-hospitalar, numa avaliação contínua dos serviços prestados visando a um programa de melhoria continuada através da educação. Todos são aspectos importantes, porém sem o cliente, não há necessidade dos demais. Qualidade necessita de planejamento e organização. Discute-se hoje sobre qualidade nos hospitais o seguinte: a) Os custos elevados do atendimento médico; b) A utilização intensiva de equipamentos é cada vez menos complementar ao ato médico, e cada vez mais substituta do ato médico; c) A população está cada vez mais voltada para a defesa de seus direitos, como consumidora de serviços de saúde; nesta condição,está cada vez mais preocupada sua satisfação, e as leis a amparam. Nos Estados Unidos e Canadá, em tempos mais recentes, demonstrou-se que o atual enfoque da administração hospitalar segue a linha de qualidade total. Eles afirmam que, “ser tratado como um indivíduo é, sem dúvida, mais importante para a satisfação do paciente de que o seu restabelecimento”. Nos dias de hoje, no caso de assistência à saúde, o consumidor está mais voltado para “cuidados personalizados” incluindo tais atributos como conforto e privacidade, do que para a qualidade técnica. A utilização de uma matriz onde se relaciona o grau de qualidade objetiva (clínica) com o grau de qualidade subjetiva (interação pessoal – atendimento) permite classificar as instituições em quatro categorias ou zonas de qualidade a) Excelência (alto grau de qualidade subjetiva e objetiva); b) Embelezamento (alto grau de qualidade subjetiva, mas com resultados negativos ou duvidosos); c) Alta Tecnologia, Baixa Sensitividade (alto grau de qualidade objetiva, mas baixa percepção do consumidor); e, finalmente, d) Perda Total (com baixo grau de qualidade em qualquer dos dois sentidos). Merry (1987) adverte que a utilização apenas de dados clínicos de resultados pode ter duas vertentes. Um hospital que tem um índice maior de mortalidade entre seus clientes, por exemplo, não significa, necessariamente, que atua com menos qualidade do que outro com uma taxa menor. O resultado obtido é caracterizado pelo fato de um hospital ser especializado em casos mais difíceis, onde a percentagem de sobrevida é menor. Um comparativo entre as duas abordagens de qualidade, portanto, forneceria mais informações para um julgamento mais objetivo. Ele admite, porém, que não há consenso sobre as variáveis subjetivas que devem ser incluídas nos estudos. Castelar (1995) sugere que os hospitais brasileiros adotem um programa de controle de qualidade mais voltado para a avaliação de resultados do que para a sua estrutura. Sugerem ainda que o programa deva priorizar os setores do hospital onde a produção é bem definida e onde modernas técnicas de controle podem ser aplicadas. Os autores admitem que as Unidades de Tratamento são difíceis de ser avaliadas e dizem que devem dispor de questionário de saída onde pacientes possam expressar sua opinião. 4 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO HOSPITALAR 4.1 DEFINIÇÃO E CARACTERÍSTICAS DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EMPRESARIAL A gestão orientada por objetivos predeterminados, preconizados em planos formais e orçamentos financeiros é importante para o rumo da instituição, principalmente no que se refere a rever investimentos no longo prazo. Entretanto, o administrador hospitalar está sempre envolvido em consertos provisórios, proporcionados pelo não planejamento e por falta de estratégia, muito comum nestas entidades que não se preocupam com o amanhã. Segundo pesquisas nacionais, 85% (oitenta e cinco por cento) dos hospitais não têm plano estratégico formal. Por outro lado, a estratégia básica operacional de um hospital normalmente é montar uma estrutura assistencial e esperar que os clientes comprem seus serviços. Esta estrutura, em geral, é feita baseada em uma demanda histórica, de patologias que geralmente ocorrem. Não é feita uma previsão de qual é a real necessidade da região em que o hospital está instalado necessitará. Quando a demanda é grande, o hospital funciona e muitas vezes faltam leitos para internação. O planejamento é a primeira função administrativa do processo gerencial por ser aquela que serve de base às demais. É a função que procura determinar estratégias, objetivos, metas, e antecipar resultados, além de orientar os caminhos possíveis de serem seguidos (normas opcionais de ação) e possibilitar a escolha do curso de ação para que tais estratégias sejam atendidas e tais objetivos alcançados. O planejamento é o modelo para a ação e dá mais consistência ao desempenho empresarial. É um meio pelo qual se busca a maior chance de acerto quando houver mudança. Não resta dúvida de que o Hospital é a parte de um sistema mais amplo, que o envolve e condiciona-lhe postura em função das contingências desse macro-ambiente. Na macro-ambientação encontramos fatores internacionais, políticos sociais e contingenciais, impostos por acordos multinacionais que implicam maior ou menor risco para o planejamento e administração do setor de saúde da nação, e que, indubitavelmente, influem no planejamento da unidade hospitalar. No campo do Supra-Sistema, ou seja, na área nacional do Setor de Saúde, encontramos as políticas, os aspectos financeiros, o sistema nacional de pagamentos do SUS, o sistema de medicina de grupo, os aspectos filosóficos, políticos e práticos do setor e que fortemente influem no planejamento da unidade. No campo do supra-sistema, encontramos sérias turbulências que geram riscos e incertezas, tanto para hospitais públicos como para hospitais privados. No campo de relações organizacionais, encontramos os aspectos relacionados ao ambiente organizacional do hospital e com as organizações que com ele diretamente se relacionam, tais como: fornecedores, clientes, bancos, sindicatos, médicos e governo e forças políticas opositivas. Ainda nesse campo, encontramos o sistema endo-organizacional. Na elaboração do planejamento não se pode prescindir do diagnóstico desses ambientes, pois o endo-sistema, quando em interação e interdependência com o macro-sistema, provoca ecossistema, ou seja, o efeito de reciprocidade, ou troca de efeitos e causas de um sistema para outro, ampliando, deste modo, as incertezas e os riscos. Obviamente, o macro-sistema, com as políticas e processos mais amplos e mais abrangentes, impõe mais contingência ao ambiente organizacional e ao endo-sistema do hospital. Porém, no setor saúde, não se pode permitir que o supra-sistema absorva e destrua o sistema hospitalar, pois quanto mais pressão ao núcleo, maior será os riscos de inviabilização de todo o sistema, com sérias conseqüências no macro-ambiente. Partindo do princípio de equilíbrio entre as empresas do setor, chegamos à “Sociedade das Organizações”, onde: “As organizações são sistemas em estreito intercâmbio com o ambiente; Importam, processam e exportam recursos ao ambiente extremamente mutável, o que implica a adaptação estrutural das organizações às contingências ambientais”. Na definição acima, percebe-se claramente que a ecologia, no campo empresarial, busca o equilíbrio entre as organizações, pois existe uma interdependência entre as unidades, e de tal sorte que o sistema somente será viável quando também estiver em equilíbrio, e isso somente é possível preservando organizações que são unidades importantíssimas no conjunto sistêmico. Além desse equilíbrio ecológico, observa-se que o ambiente é mutável e que as organizações se interagem nesse processo dinâmico e se amoldam em novas estruturas, e com novas roupagens se encaminham às novas formas organizacionais. “A estrutura acompanha a estratégia”. Antes mesmo do planejamento empresarial é mister que se proceda a um estudo prospectivo do ambiente ecológico do hospital, objetivando: a) Identificar os agentes ecológicos; b) Identificar os fatores ecológicos; c) Identificar o grau de restrição imposto ao hospital, pelo agentes e fatores ecológicos; d) Fixar limites para os fatores ecológicos (faixa de tolerância); e) Delimitar a faixa de segurança, onde os riscos e as incertezas são menores; f) Analisar as possibilidades estratégicas de mudanças; g) Monitorar o ambiente. O processo do planejamento empresarial hospitalar constitui-se da integração de compromisso de três partes: a)Planejamento Estratégico; b)Planejamento Tático; c)Planejamento Operacional. Igor Ansoff, em seu livro “Estratégia Empresarial”, se posiciona, a respeito, da seguinte maneira: “As decisões estratégicas preocupam-se, principalmente, com problemas externos e não internos, e, especificamente com a escolha do composto de produtos ou bens a serem fabricados e oferecidos”. Russel L. Ackoff, em seu livro “Planejamento Estratégico e o Tático-operacional afirma que: a)“Quanto mais demorado for o efeito de um plano e quanto mais difícil for alterá-lo, mais estratégico ele será”. b)“Quanto mais as atividades de uma organização forem afetadas por um plano, mais estratégico ele será”. c)“Planejamento tático se destina a escolher os meios pelos quais se tentará atingir os objetivos especificados”. d)“Os objetivos, são geralmente, ditados pelos níveis hierarquicamente mais altos da organização. “O planejamento destina-se tanto à formulação dos objetivos quanto à escolha dos meios para atingí-los”. Para Chiavenato, a diferenciação se dá em termos relativos e se estabelece em três aspectos: a)“Nível das Decisões: O planejamento estratégico é sempre realizado nos mais altos níveis da empresa. Pico da Pirâmide Organizacional”; b)“Dimensão Temporal: O planejamento estratégico tem um alcance maior, no tempo, do que o planejamento tático-operacional”; c)“Amplitude de Efeitos: As decisões envolvidas no Planejamento Estratégico envolvem a organização como um todo e não simplesmente uma parte dela”. Desta forma podemos diferenciar o planejamento estratégico do tático-operacional, neste contexto: O planejamento Estratégico refere-se aos aspectos, fatores e problemas do ambiente geral, de maneira abrangente e de relação com as finalidades e missões da organização. Estabelece-se numa dimensão temporal maior e seus efeitos envolvem o todo organizacional, enquanto os planos táticos e operacionais são restritos ao processo multifuncional da organização, com horizontes e dimensões curtas. 4.2 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EMPRESARIAL HOSPITALAR No conjunto de planejamento, podemos distinguir 3 grandes fases que se integram de forma harmoniosa e gradual, partindo do planejamento estratégico (amplo geral), passando pelo tático (logístico, funcional) até alcançar o operacional (direto, específico e especializado). A premissa internacional que sustenta o planejamento estratégico consiste no desejo das empresas, inclusive as hospitalares, de crescerem e se desenvolverem física e economicamente, no sentido de processo evolutivo positivo contínuo; entretanto, a adoção do planejamento estratégico requer uma mudança significativa na filosofia e na prática gerencial, principalmente no estilo gerencial e no comportamento organizacional. O planejamento estratégico é, na realidade, uma evolução e uma conquista organizacional. É uma nova maneira de pensar e de agir no planejamento e na coordenação de empresas, e isto, sem dúvida, requer novas técnicas, novos instrumentos e novas condutas e atitudes; por isso sua implantação não é tão simples como parece. O Hospital, por ser uma organização de alta responsabilidade social, e também em virtude de sua complexidade organizacional e comportamental, enquadra-se como organização potencial ao planejamento estratégico, constituindo-se em organismo com excelente índice de probabilidade de desenvolvimento, se empregado eficazmente esse instrumento. O Planejamento Abrangência, Tempo e Estratégico Objetivo. é observado Fatores que sob as influenciam: seguintes dimensões: facilidade, vantagens, oportunidades como pontos fortes, dificuldades, obstáculos e vulnerabilidades como pontos fracos, tanto do ambiente externo como do ambiente intra-organizacional. A formulação de estratégias não se resume na simples previsão das decisões que serão tomadas no futuro, fundamenta-se na tomada de decisões que produzirão efeitos no futuro; ou seja, estratégia é condicionamento do futuro e, por isso, implica uma administração também estratégica e em longo prazo. A Estratégia é o elemento objetivo e fundamental na formulação intelectiva do plano Estratégico. Segundo Andrews a estratégia empresarial é: “O conjunto dos objetivos, finalidade, metas, diretrizes fundamentais e os planos para atingir esses objetivos, postulados de forma a definir em quais atividades se encontra a empresa e que tipo de empresa ele é ou deseja ser”. A estratégia empresarial, de forma global, se compõe inicialmente dos seguintes elementos: oportunidades de mercado; capacidade, competência, recursos e sinergia da empresa; valores e cultura da empresa; valores e aspirações pessoais dos dirigentes; reconhecimento de obrigações para com os outros segmentos da sociedade – responsabilidade social “função social da empresa”; retorno do capital investido. Para Ansoff, a estratégia empresarial, principalmente no campo da prestação de serviços, se fundamenta numa combinação serviço/mercado onde a mudança estratégica é uma alteração do conjunto de serviço e/ou de mercados. A mudança geralmente é provocada pela descoberta ou desenvolvimento de nova combinação serviço/mercado, onde a mudança estratégica é uma alteração do conjunto de serviços e/ou de mercados aos quais são oferecidos. Esse aspecto é muito observado pelos administradores da área hospitalar, pois as regras entre o SUS e os hospitais são constantemente alteradas, provocando mudanças profundas no relacionamento entre as partes, o que altera sensivelmente o cenário da assistência médica. Não há dúvida de que o sistema de prestação e pagamento de assistência médica está passando por uma fase de profunda transição, provocando atritos nas interfaces (SUS, hospitais, sindicatos, fornecedores, pessoal e outros), e fazendo prever alterações profundas no contexto ambiental. Neste momento, a identificação das influências ambientais, descritas por Andrews, se coloca com muito acerto: “As influências tecnológicas, econômicas, sociais e políticas condicionam, limitam e ameaçam as oportunidades estratégicas”. Ansoff, apesar de conhecedor dessas variáveis condicionantes, prefere dar uma conotação de objetivo estratégico pelos seus componentes: a) Conjunção serviço/mercado – Forma com que se pretende atingir os objetivos da empresa e do próprio mercado. b) Vetores de crescimento – Indicam a direção que a empresa deverá seguir como base à conjugação inicial de serviço/mercado. c) Vantagem competitiva – Potencial da empresa em relação aos seus concorrentes. O planejamento estratégico, conforme figura 01, determina o caminho desejado e possível do crescimento e desenvolvimento da organização, por isso deve ser entendido como ponto de partida e fonte para o processo do planejamento integral da Organização. Figura 1 – Ilustração do planejamento estratégico De Fonte: Valdir R. Borba, 1989 De acordo com figura 1 afirmamos que o planejamento estratégico é a formulação de intenções de ações presentes para o futuro, que envolvem o questionamento referente às decisões de planejamento. A integração destes conceitos, bem como uma proposta de suas definições, pode ser avaliada a partir de uma hierarquia, conforme a figura 2, que tem por objetivo ordená-los e integrá-los ao dia-a-dia da gestão das organizações: Figura 2 - Estrutura de gestão de Organização em base de seus valores, crenças e visão. Fonte: Mello, Joamel B; Camargo, Marlene (1998) No sentido de colaborar com a reflexão sobre as hierarquias expressas na figura 2, está apresentado a seguir um conjunto de definições que podem auxiliar o entendimento que temos desses elementos. A visão é a projeção da empresa no futuro, dentro do mercado e da comunidade, no meio ambiente, no qual atua, tanto como entidade isolada como na comparação com as demais empresas. As crenças são todas as certezas que formam o caráter e a visão e advêm da cultura que identifica uma empresa no decorrer do tempo. Os valores são as afirmações culturais, originais nas crenças e que modelam as atitudes e comportamentos. Tanto podem ser coletivos ou individuais, e influenciam na visão e missão que a empresa se propõe. A missão é a proposta que uma empresa faz nas suas relações com o mercado, consigo mesma e com a comunidade onde atua. Deve estar de acordo com a visão, com os valores e crenças e ser passível de realização. É por isso que a missão é o compromisso maior das atitudes da empresa para com a visão. Os objetivos são tudo aquilo que uma empresa pretende conquistar com vista ao cumprimento de sua missão. As estratégias são os sistemas, métodos e caminhos planejados para utilização de recursos, meios e oportunidades, visando atingir os objetivos propostos. Os planos e projetos referem-se ao desmembramento das estratégias em um conjunto de estudos específicos, tendo em vista resultados de até médio prazos. As metas significam parte dos objetivos a serem atingidos em curto prazo e são setorizadas. Também devem sempre ser mensuráveis e monitoráveis ainda enquanto processos, planos e projetos. As táticas são as formas e os caminhos adotados, seguindo planos e projetos, para se atingir as metas. As decisões e ações correspondem às atitudes, comportamentos e processamentos direcionados ao cumprimento das estratégias, dos planos e dos projetos; obedecem aos planos e táticas e têm como referencial as metas. São os trabalhos, realizados pelas pessoas e pela empresa. Os resultados são as medidas quantitativas do desempenho da empresa e que, se comparados com as metas, tanto podem apresentar “superávit” ou “déficit”. Devem sempre ser acompanhados durante os processos e aparecer devidamente mensurados nos finais desses indicadores, e ainda comparados com as metas específicas e com referenciais de excelência e ao retorno do capital investido, privilegiando as quotas dos investidores com taxas compatíveis com outros mercados. 4.3 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EM ORGANIZAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS Inferências feitas a partir de trabalhos sobre o assunto mostram que o planejamento estratégico aceita, em geral, três premissas fundamentais que não invalidam, mas dificultam sua aplicação à organizações públicas e privadas sem fins lucrativos. A primeira delas é que a organização, como empresa, vive num ambiente competitivo, onde a conquista e a manutenção de áreas de mercado são consideradas como bases de crescimento e desenvolvimento organizacional. Entretanto, as organizações públicas não possuem suas estratégicas de crescimento baseadas na competição, nem são administradas ou avaliadas por um sistema de ganhos e perdas no sentido mercadológico. A estratégia de desenvolvimento de entidades públicas ou sem fins lucrativos baseiam-se na concretização de objetivos sociais que justificam a sua existência na ambiência em que operam. Pela segunda premissa, o planejamento global da organização, mediante um processo racional de análise de oportunidades e ameaças, garante não só um maior domínio gerencial da organização sobre seu ambiente, como também sua sobrevivência a longo prazo. Já nas organizações públicas, o processo decisório não possui a mesma racionalidade organizacional da empresa privada, pois não sofre os mesmos tipos de ameaças, nem busca as mesmas oportunidades. A terceira estabelece, finalmente, que a eficácia das organizações depende de sua capacidade de adaptação e de resposta rápida às novas demandas, tendo em vista as freqüentes transformações ambientais. A análise a seguir pretende contrapor estas três premissas básicas da teoria gerencial à prática administrativa das organizações públicas e entidades sem fins lucrativos. Tendo em vista tanto as características dessas organizações, a análise concentra-se em três dimensões principais destas organizações que dificultam a tarefa de planejamento estratégico e a gerência segundo objetivos: a) Aderência à missão sócio-econômica e necessidade de sobrevivência. O sentido de aderência à missão sócio-econômica e lealdade aos propósitos da organização, se não operacionalizado gerencialmente, pode tornar-se de tal forma ambíguo e impreciso que, ao invés de informar os destinos da organização, passa a servir de justificativa para decisões para cuja fundamentação faltam conhecimentos. Assim, a lealdade à missão é continuamente ressaltada, principalmente em épocas de crise, quando decisões não rotineiras são tomadas com freqüência. O apelo à lealdade e à missão torna-se o fator de coesão ou agregação entre os membros da organização. Como a maioria das organizações públicas tem uma sobrevivência relativamente garantida, devido ao apoio e a facilidade que as cerca, seu crescimento é naturalmente concedido pela ambiência. Crescem sem necessidade de uma análise concreta de relevância em cada estágio de sua evolução. Convivem mais facilmente com a ausência de indicadores de desempenho, ajudadas pela repressão interna da incerteza, que garante a tranqüilidade institucional. Se os objetivos fossem mais bem definidos, maiores seriam o risco e a incerteza quanto à possibilidade de alcançá-los. Embora as estatísticas incrementais assegurem a imagem de crescimento, este não ocorre sem atender à justificativa social da organização e à necessidade de sobrevivência. A princípio, as entidades sem fins lucrativos se desenvolvem facilmente em termos de alcance dos propósitos para os quais foram criadas. A supressão da mentalidade comercial não perturba o crescimento da instituição, nem desvirtua o espírito social que originou sua criação. O crescimento constante e acentuado do custo fixo, comum nas organizações públicas, conduz, no entanto, em longo prazo, a pressões na administração financeira. Surge, assim, a necessidade da preocupação comercial, não como uma política revisionista, mas como uma política de auto-preservação, em que a necessidade de sobrevivência e/ou a viabilidade financeira vão afetar os objetivos centrais e as prioridades da missão sócio-econômica. b) O planejamento estratégico consiste num processo contínuo e sistemático de olhar para fora e para frente da organização, traçando rumos para o futuro, e enfrentando riscos e incertezas. As organizações públicas, no entanto, possuem como uma das principais características a necessidade de transparecer externamente como ordenada, uniforme e consistente em todas as suas áreas e ações. Isto ocorre porque essas entidades devem, em princípio, articular, agregar e processar eqüitativamente os interesses e as preferências de sua clientela. Ambigüidades e prioridades, facilmente aceitas na empresa privada, tornam-se inaceitáveis nas organizações públicas, pois poderiam implicar possíveis preferências a grupos específicos. Desta forma, o tratamento gerencial do planejamento tende a enfatizar as seguintes características, que diminuem a eficácia de sua ação: Reconciliação contínua com o passado: A atividade de planejar vai enfatizar a consistência com o passado. Antes de se olhar para frente e saber o que se tem que fazer, olha-se para trás para saber o que tem que ser mantido. A ponte com o futuro tende a ser estabelecida por meio de modificações incrementais do status quo, como simples variações do passado, principalmente em incrementos numéricos nos programas já existentes. O grande esforço gerencial é concentrado em criar uma organização estável e perceber na ambiência externa os elementos que garantem a estabilidade. A análise sistematizada e contínua de oportunidades e ameaças é praticamente inexistente, o que torna a organização pública mais vulnerável a pressões políticas externas. Mudanças são absorvidas internamente como um ônus da sobrevivência, mas não necessariamente aceitas por concordância ou consenso. c) Gerência da mudança os modelos de planejamento organizacional estratégico são, evidentemente, contaminados pelos valores do crescimento e desenvolvimento da organização. Ressaltam as dimensões positivas da criatividade, da inovação e do engrandecimento das instituições, da mobilização de recursos para o planejamento, sem atentar, muitas vezes, para a situação real de escassez aguda da instituição e da ambiência em que opera. Planejamento, não se faz em convivência com a abundância e a eficácia, mas com a escassez e a ineficiência. Além disso, no caso das organizações públicas, onde se percebe o imobilismo, a escassez e a percepção da escassez aguda tornam-se importantes fatores que contribuem para a incapacidade de ação e de reação, justificando-a. Gera-se na organização a ambiência de crise, ou seja, a inação ou impotência para a solução de problemas. A escassez real constitui a situação administrativa típica do contexto de subdesenvolvimento, refletido na necessidade de enfrentar continuamente cortes orçamentários, dificuldades na obtenção de recursos, redimensionamento da expansão, manutenção da sobrevivência, e mesmo planejamento da contratação ou declínio da organização. Gerencialmente, a percepção de escassez tende a ser aguçada nas organizações públicas em que a administração da despesa desvincula-se total ou excessivamente da administração da receita. Embora grande parte das técnicas orçamentárias preconize tal separação por motivos gerenciais ou sociais, esta leva à definição da despesa, independentemente do nível da prestação do serviço ou das receitas que dela advêm. 4.3.1 Estruturas Organizacionais Mais Freqüentes Em Hospitais Públicos Diferentemente de uma empresa de personalidade privada, em organizações públicas não existe uma continuidade de comando, pois os diretores, provedores ou presidentes são eleitos pela sociedade ou indicados como cargos de confiança do Estado. Evidentemente estes eleitos adquirem o status de serem “diretores” de uma organização importante, principalmente em cidades pequenas, em que o hospital é, em muitos casos, a maior empresa da cidade. A diretoria também nomeia um médico para a diretoria clínica do hospital, que pode ser por indicação dos médicos do corpo clínico ou por escolha política da própria diretoria. Este médico tem a função de ser o responsável técnico do hospital e ser o elo de ligação entre a organização e os médicos, que em sua maioria são profissionais autônomos, não possuindo vínculo empregatício e hierárquico com a organização. Nesta formatação organizacional se observa que a figura do dono do negócio não está presente, e formando “feudos” de interesses dentro das organizações. Estes feudos tentam conduzir a organização conforme seus interesses. Perrow, (apud Lima, 1994), contribui com a distinção entre objetivos oficiais e objetivos operacionais. Segundo este autor: “Objetivos oficiais são os propósitos gerais da organização tal como são descritos em relatórios, nas declarações públicas feitas por dirigentes e nos pronunciamentos das autoridades”. Em contrapartida, o autor propõe a utilização de objetivos operacionais, aqueles que dizem o que a organização está tentando fazer, independente do que é oficialmente declarado como sendo os seus fins. Os objetivos operacionais estão relacionados com os interesses ou fins específicos de um grupo particular na organização. Este é o grupo dominante, aquele responsável pela tarefa mais crítica da organização num dado momento de seu desenvolvimento tecnológico. Os objetivos operacionais são os objetivos desse grupo dominante. Refletem, assim, os imperativos da tarefa circunstancialmente mais importante. Ainda de acordo com Bacharach & Lawler (apud Lima, 1994), as organizações são redes de grupos de interesses. Segundo estes autores, existem três grupos críticos na organização: a) Os grupos de trabalho (constituídos pela divisão do trabalho ou com a hierarquia organizacional); b) Os grupos de interesses (formado pela consciência da coincidência de objetivos e destinos da organização); e c) As coalizões (grupos de interesses voltados para um objetivo comum). Para estes autores, os grupos de interesses estão permanentemente preocupados em influenciar as decisões que interferem na sua posição na organização. As coalizões são formadas por atores organizacionais que podem estabelecer relações de troca e que detenham algum poder. Estas coalizões, segundo Lima (1994), “não são grupamentos criados automática e naturalmente pela estrutura da organização, tais como os grupos de trabalho”. Elas resultam destes grupos de trabalho e dos grupos de interesses, “e são social e intencionalmente constituídas. Não são partes da estrutura formal da organização, mas sim produtos emergentes do processo informal de influência que modificam permanentemente as manifestações da estrutura formal da organização”. Mintzberg (1995) em “Criando Organizações Eficazes – estrutura em cinco configurações” coloca que todas as atividades organizada dão origem a duas exigências fundamentais e oposta: a divisão do trabalho em várias tarefas a serem executadas e a coordenação dessas tarefas para obter resultados. O modelo descrito por Mintzberg (1995) estrutura a organização em cinco partes: a) Núcleo Operacional, que engloba aqueles participantes que perfazem o trabalho básico relacionado diretamente com a produção de bens ou prestações de serviços; b) Cúpula Estratégica, que é encarregada de assegurar que a organização cumpra sua missão de maneira mais eficaz, e também de satisfazer as exigências daqueles que controlam ou de outra forma exercem poder sobre a organização; c) Linha Intermediária, que é a ligação da cúpula estratégica ao núcleo operacional, formada pela cadeia de gerentes com autoridade formal; d) Tecnoestrutura, que são analistas incumbidos de padronizar a organização, prestando serviços à organização atuando sobre as tarefas dos outros, ficando fora do fluxo de trabalho operacional; e e) Assessoria de Apoio, que são as unidades especializadas, que foram criadas com o fim de dar apoio fora de seu fluxo de trabalho operacional. Figura 3 – As cinco partes básicas da organização. Fonte: Mintzberg, 1995 Note-se que o diagrama apresentado mostra uma pequena cúpula estratégica ligada ininterruptamente ao núcleo operacional através de uma linha intermediária, ficando a tecnoestrutura e a assessoria de apoio separada e somente indiretamente influenciam o núcleo operacional. No que se refere a mecanismos de coordenação, Mintzberg (1995) abrange cinco maneiras fundamentais pelas quais as organizações coordenam (concernentes, também, com o controle e com a comunicação) suas tarefas são: a) Ajustamento mútuo (processo de simples da comunicação informal); b) Supervisão direta (supervisão direta monitora o trabalho); c) Padronização dos processos de trabalho (execuções do trabalho são especificadas ou programadas); d) Padronização dos resultados (os resultados do trabalho são padronizados); e) Padronização das habilidades ou conhecimentos dos trabalhadores (o tipo de treinamento necessário para executar o trabalho é especificado). Nas empresas comerciais, industriais e de prestação de serviço que não são de área de saúde, a estrutura identificada por Mintzberg (1995) funciona perfeitamente, pois a cúpula estratégica interage com a linha intermediária e com o núcleo operacional. Nos hospitais públicos existe uma profunda linha divisória entre estas três estruturas, ficando o gerente (administrador hospitalar) limitado nas suas ações, pois tem que se submeter a estratégia de uma cúpula temporária (em função da eleição e do mandato que a presidência possui) e ainda estar sujeito a imposições feitas pelo núcleo operacional, no caso a área médica. Um administrador de um hospital criativo não tem o privilégio de ser o “dono” do negócio, onde poderia gerenciar baseado nas suas experiências pessoais e seus valores, em busca dos objetivos organizacionais, não participando, portanto, da cúpula estratégica. Trazendo o modelo de Mintzberg (1995) podemos fazer a analogia com a estrutura apresentada pelos hospitais, onde temos: a) Núcleo operacional: Corpo médico, serviços médicos terceirizados, enfermagem, atendentes de enfermagem; b) Cúpula Estratégica: Provedoria, diretoria, conselhos administrativos e fiscais, presidência, representantes da comunidade; c) Linha Intermediária: Gerente (administrador hospitalar), chefias médicas, chefias de enfermagem, farmacêutico, chefias em geral; d) Tecnoestrutura: Contador, Informática, departamento de estatística, setor de controle da qualidade, planejamento estratégico, pesquisa operacional; e) Assessoria de Apoio: Recursos humanos, assessoria jurídica, restaurante, relações públicas, serviços terceirizados, portaria, lavanderia, administração, transportes, faturamento, motoristas, caldeiras, cozinha, farmácia, maqueiros. Este tipo de estrutura, que Mintzberg (1995) chamou de Burocracia Profissional, evidencia o núcleo operacional como a parte chave da organização (Mintzberg, 1995) e a padronização de habilidades como o mecanismo principal de coordenação (Mintzberg, 1995), que é obtida pelo delineamento e por padrões que predeterminam o que é para ser feito, diferenciando da burocracia mecanizada pelo fato de que a burocracia profissional enfatiza a autoridade de natureza profissional, o poder da perícia (Mintzberg, 1995). O Núcleo Operacional tem um papel marcante, principalmente por que nesta parte da estrutura temos os serviços médicos terceirizados, que possuem grande influência nos processos organizacionais e também no movimento financeiro da entidade, sendo processos que deveriam ser executados pelo próprio hospital e são delegados a terceiros. Isso provoca que os profissionais médicos controlam seu próprio trabalho e também buscam o controle coletivo sobre decisões administrativas que os afetam (Mintzberg, 1995), como admitir colegas ou distribuir recursos. A existência destes serviços médicos terceirizados no núcleo operacional complica a gestão do hospital, pois não existe subordinação sobre estes serviços.Outra parte também completamente elaborada é a assessoria de apoio, mas esta é enfocada muito mais como servindo o núcleo operacional. Na realidade, as estruturas administrativas de hospitais públicos, quando comparadas aos modelos gerenciais profissionais, pecam em muitos aspectos, principalmente, quando definimos que o comando operacional destas organizações está nas mãos não daquele que realmente gere os recursos, e sim nas mãos daqueles que tem o poder de decidir e que não convivem diariamente, minuto a minuto com os problemas e processos do hospital. Pode-se observar que o gerente (administrador hospitalar) encontra-se na Linha Intermediária, pois é desta maneira que a sua atividade é encarada nestas organizações, onde a tomada de decisão e a participação nos planejamentos (quando existem) é feita pela diretoria ou pelo corpo clínico, ficando o gerente, enquanto técnico em administração, posicionado em um segundo plano, sendo apenas o executor das ações e fazendo a ligação entre a cúpula estratégica e o núcleo operacional. Observe-se, ainda, que apesar dos médicos (corpo clínico em geral) estarem enquadrados no núcleo operacional têm mais poder de decisão que o administrador do hospital. Temos a situação em que a boa vontade das presidências destas organizações públicas, quando não ofuscada por interesses particulares, não é suficiente para suprir as necessidades administrativas, pois em muitas vezes são pessoas despreparadas tecnicamente e que, em geral, exercem outras atividades que lhes comprometem o tempo. Ou seja, mandam que as tarefas sejam executadas e não estão lá para sentir o “calor da luta”. De outro lado, temos o corpo clínico, formado por médicos que querem executar os seus trabalho e cumprir a sua missão de uma forma mais fácil e eficiente possível, desprezando elementos básicos administrativos como minimização de custos, esquecendo que fazem parte de uma organização com recursos financeiros limitados, e que os processos administrativos e operacionais estão lá para serem cumpridos. O corpo médico não está comprometido com a causa filantrópica. A desculpa dada pelos médicos a respeito desses assuntos é que a função deles é salvar vidas, e é isso que realmente interessa. Os médicos dizem que o administrador do hospital, que nem sempre é um médico (e muitas vezes é uma pessoa escolhida politicamente pelo Conselho de Administração, podendo tratar-se de um profissional capacitado ou uma pessoa que precise de um emprego e tenha laços com o grupo dominante), não tem condições técnicas para decidir sobre quais os custos que podem ser alterados, quais as compras que podem ser feitas e como os processos operacionais têm que ser realizados. Eles enfatizam que a decisão sobre a vida e a saúde dos pacientes é de sua responsabilidade. Freidson (1998) coloca que o gerente (administrador hospitalar) será motivado a pressionar seus médicos a minimizar tanto os dias de hospitalização do paciente quanto o uso de serviços e instalações. Por outro lado, pressupõe, ainda, que os diagnósticos (parte central do método clínico), são feitos com base em alguns conjuntos objetivos e estáveis de critérios, sendo que os médicos miram um resultado alvo e escolhem seus diagnósticos de acordo com ele. Assim, de acordo com Freidson (1998), se os médicos quiserem que seu paciente permaneça mais tempo no hospital do que o normal para um Grupo de Diagnóstico Relacionado (GDR) escolhe um diagnóstico em algum outro GDR que proporcione o reembolso que cubra esse prolongamento da internação. Entretanto, de acordo com Freidson (1998), na falta de um controle sobre os orçamentos das organizações e sobre os preços cobrados pelos médicos, como ocorre no Canadá e em outras partes, a chave para a contenção de custos é o médico, porque é ele que autoriza ou “receita” o uso da maioria dos outros serviços e bens relacionados. O objetivo, portanto, de muitos esforços, nos Estados Unidos, para controlar custos tem sido influenciar direta ou indiretamente os padrões de prática dos médicos. Mas pouco desses esforços tem tido sucesso inquestionável. Os hospitais públicos seriam melhor geridos se houvesse o equilíbrio entre os três poderes, ficando predeterminadas as funções de cada um: a) Político – funções relativas as decisões macro, baseadas nas informações obtidas juntos aos técnicos de cada área do hospital, se integrando a programas sociais junto à comunidade; b) Médico – o corpo clínico tem que se preocupar com as ações relativas à saúde e à execução de atos ligados à operacionalização dos procedimentos médicos, envolvendo toda a equipe operacional do hospital; c) Administrador Hospitalar – é o encarregado de dar apoio à equipe médica quanto à gestão dos recursos materiais e de fornecer informações necessárias aos políticos para a tomada de decisão, encarregando-se da gestão de pessoas e de materiais, envolvendo custos, receitas e metas. Certamente o equilíbrio entre estes três atores organizacionais na tomada de decisão seria de extrema importância. Figura 4 – O equilíbrio da cúpula estratégica Fonte: Monografia de Jaime Gil Bernardes Entretanto, temos que nem sempre estes integrantes possuem os mesmos conhecimentos, o mesmo comprometimento, os mesmos interesses na organização, ou as mesmas informações necessárias e suficientes para tomada de decisão. O nivelamento de discrepâncias e o tornar as pessoas semelhantes, polindo as arestas, é a oferta de conhecimento de técnicas administrativas aos profissionais médicos (e a toda comunidade hospitalar), da mesma forma que os administradores têm que possuir conhecimentos profundos das rotinas inerentes aos serviços de saúde prestados nos hospitais, assim como os políticos têm que ter conhecimentos de ambos os assuntos. Com esta configuração formamos uma equipe com capacidade para gerir um hospital público, pelo agrupamento de diferenças, sem que estas diferenças façam com que cada membro fale uma linguagem diferente. Handy (1993) define que nas organizações existem três tipos positivos de poder a ser suscitados, se quisermos fazer com que as coisas aconteçam (caso quisermos que as coisas não aconteçam, invocamos algum poder negativo). Se não puder contar com nenhum deles, seremos, de fato, impotentes para atuar sobre os acontecimentos (exceto na invocação dos poderes negativos). São eles: a) Poder dos recursos – exercer controle sobre a propriedade, bens e recursos financeiros; b) Poder da posição – o título, o papel, o grau de hierarquia dentro da organização; c) Poder técnico – a posse do conhecimento, experiência ou capacidade. A política, de acordo com Handy (1993), é a tentativa de proceder à acumulação dos poderes referentes aos recursos e à posição, a fim de aumentar a influencia na organização. A maioria acredita que, se tivesse maior poder de ação, conseguiria fazer as coisas andarem melhor; outras vezes, porém, o que se quer é o poder, ainda que de natureza predominantemente negativa (fazer as coisas não acontecerem), e para finalidades pessoais. No final, o poder técnico é o poder fundamental, aquele que subsiste, porque só a própria pessoa pode destruí-lo ou negligenciar-lhe a reciclagem. Morgan e Prestes Mota (apud Lima, 1994) colocam que “as organizações constituem sistemas políticos. Desconsiderar ou mesmo não tratar de forma explícita a vida política existente nas organizações em nada ajuda os seus dirigentes e funcionários a nelas agir para alcançar seus objetivos. A política na organização pode ser considerada como tabu, disfunção, anomalia ou, na melhor das hipóteses, algo opcional. Ela é necessariamente inerente à vida humana e, conseqüentemente, à dinâmica organizacional”. 5 CONCLUSÃO Ao analisar a assistência hospitalar, cuja atividade é uma das mais complexas do setor terciário pergunta-se o seguinte: será que os nossos hospitais estão mais parecidos com bancos comerciais, preocupados mais com o lucro do que em prestar um serviço de qualidade? É o caso de hospitais privados. Ou simplesmente processar pacientes, como meros passivos corpos, doentes acamados? É o caso dos hospitais públicos. A precariedade da assistência é devido à má gestão? O que seria a definição mais adequada de “qualidade” na empresa hospitalar? Será que tem algo diferente dos outros tipos de empresas? Quando falamos em atividade hospitalar no sentido econômico, aqui em especial os hospitais públicos, devemos fazer uma clara distinção do econômico do social. O econômico é indispensável para financiar o Social, todavia, o capital não sobrepor-se ao social. É nesse sentido que através deste trabalho defende-se uma completa reavaliação da estrutura organizacional de nossos hospitais públicos. A pergunta é como programar as técnicas administrativas e de planejamento estratégico do atual sistema, fundamentados neste trabalho, com as interferências da estrutura política? As instituições hospitalares têm o seu foco desviado, servindo a objetivos políticos e não a de salvaguardar o bem maior, a vida. Com o avanço tecnológico dos centros de diagnose, os serviços hospitalares estão oferecendo apenas serviços mais sofisticados, tratando apenas a doença e não o doente. Característica que se verifica nos grandes complexos hospitalares, que acabam apenas processando corpos enfermos. A humanização dos atendimentos deve ser revista pelas entidades competentes, com empenho de maior amplitude dos assistentes sociais e psicólogos, profissionais nem sempre presentes e valorizados no corpo clínico dos hospitais. Os hospitais costumam ser razoavelmente bem equipados tecnicamente, porém deficitários em termos de capacitação de pessoal nos moldes de tratamento interpessoal dos seus clientes. Deste modo observa-se a gradativa migração destas instituições governamentais de saúde, pelo menos da classe média para cima, por instituições particulares, onde a força motora é o lucro. Neste direcionamento, a pergunta que fica é será que vamos perder de vista a função social da saúde por simples incompetência de conhecimentos das expectativas da população? Quanto a amplitude da eficácia das decisões, no nível estratégico, sobre a macroambiência da entidade hospitalar pública o processo passa por mudança de idéias préconcebidas da filosofia que temos sobre as coisas pertencentes ao sistema governo. A conscientização dos executores dos serviços públicos que devem realizar seu trabalho, tendo em mente, a verdadeira visão, missão e valor dentro da instituição e, a missão e objetivos da entidade perante a população a quem prestam os serviços, traduzindo suas ações em soluções. Aos que servem aos clientes internos necessitam dos mesmos propósitos, daqueles que estão em contato com os clientes externos. A identificação dos processos é parte da compreensão da missão da organização. A qualidade é o resultado final de uma interação complexa de gente e sistemas de apoio. Melhorar qualidade de serviços é um dos maiores desafios da atualidade. Desafio que diz respeito a todos os setores da economia e a todas as atividades da administração pública, pois satisfazer a necessidade de usuários é, ou deveria ser, objetivo básico de qualquer organização. O emprego de métodos mais modernos de gestão tem proporcionado ganhos simultâneos de qualidade e produtividade. Conduzir com competência a gestão da qualidade significa conquistar índices crescentes de satisfação do usuário. Resulta também, na importância estratégica que a qualidade tem assumido para empresas, setores econômicos e países. Porém, os resultados obtidos em alguns setores da economia, não se distribuem com uniformidade. O movimento concentra-se na indústria, particularmente nos setores mais expostos à competição. Os avanços da qualidade e do planejamento estratégico têm alcançado alguns segmentos de serviços, por exemplo, finanças e transportes, dentre outras. Infelizmente a atividade hospitalar encontra-se entre os retardatários, e o atraso no setor público é o mais grave, pois atinge a maior parcela da população, que não tem a opção da escolha. Ao concluir o trabalho, dentro desta ideologia do desenvolvimento da administração de serviços hospitalares, nessa ótica de administração de serviços, que vem de encontro às necessidades da população, não se pretende deixar uma receita, mas sim uma orientação a ser trilhada e aperfeiçoado nesta complexa e dinâmica atividade, cujos resultados devem ser equalizados entre os fatores econômicos, políticos, culturais e sociais. Pois cabe aos Gestores de Hospitais, através de ações conjuntas de seus profissionais das diversas áreas, devolver o indivíduo ao seio da sua família, tornando-o economicamente produtivo e gerador de renda, retro-alimentando o sistema macro e micro-econômico. Acredito que a conjugação das técnicas de administração de serviços a um plano estratégico de longo prazo, aliado ao plano tático-operacional e com uma unidade estratégica de planejamento e gestão poderá finalmente promover as oportunidades reais aos Hospitais públicos e estes à população para a qual se justifica o investimento. REFERÊNCIAS ACKOFF, R. Planejamento de pesquisa social. Ed. Edusp, 1975 ALBRECHT, K. Revolução nos serviços. Tradutor Guazzelli, Enio Matheus. São Paulo/SP, 6ªed. , Ed. Pioneira, 1988 ALBRECHT, K. Serviços internos. Como resolver a crise de liderança do gerenciamento de nível médio. Tradução A . T. Carneiro. São Paulo, Ed. Pioneira, 1994 ANSOFF, I. Corporate strategy: an analytic approach to business policy of growth, Ed. Macgraw Hill, 1977 BACHARACH, Samuel B. & MUNDELL, Bryan . “Organizational politics in schools: Micro, macro and logics of action”. In Educational Administration Quaterly, 1993 BERNARDES, Gil Jaine. 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