ID: 61763520 09-11-2015 Tiragem: 33573 Pág: 13 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 15,63 x 30,26 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 1 MARIA JOÃO GALA Em algumas disciplinas, de algumas universidades, um médico chega a ter mais de 25 alunos Há demasiados estudantes de Medicina nos hospitais e isso “prejudica” formação Saúde Doentes “são confrontados com um número muito elevado de médicos e estudantes à sua volta”, alerta associação O alerta é da Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM): a formação médica está a ser prejudicada em Portugal devido ao número elevado de estudantes nos hospitais. A associação tem como base o Estudo sobre as Condições Pedagógicas das Escolas Médicas Portuguesas, ontem apresentado em Coimbra e a que a agência Lusa teve acesso. Segundo o documento, os doentes que recorrem a hospitais afiliados de sete escolas médicas existentes no território continental (em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga e Covilhã) “podem encontrar, juntamente com o seu médico, em média, cerca de oito estudantes”. Em algumas disciplinas, cada médico tutor chega a ter mais de 25 alunos. “Estes rácios elevados são prejudiciais, não só para a aprendizagem dos estudantes, mas mais ainda para os doentes, que, numa situação de fragilidade, são confrontados com um número muito elevado de médicos e estudantes à sua volta”, sublinha a ANEM, em comunicado. Nas conclusões do estudo lê-se que o ensino em meio clínico é alvo de “particular descontentamento por parte dos estudantes” e que um rácio estudante/tutor elevado “encontra-se directamente relacionado com a insatisfação estudantil”. O melhor rácio médio, envolvendo alunos do 3.º, 4.º e 5.º anos, encontra-se na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa (2,55 estudantes por tutor) e o pior na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), com 18,5, em média. Na Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior (Covilhã) o rácio é de 3,13 estudantes por tutor, a Escola de Ciências da Saúde da Universidade de Minho (Braga) apresenta 3,79, a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto 4,62, a sua congénere da Universidade de Lisboa 7,39 e o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (Porto) regista 9,15. Por unidade curricular, a especialidade de Ortopedia, na FMUC, tem 34,9 estudantes por tutor e a de Cirurgia Geral 25,7, os valores mais elevados registados no total das sete instituições. Um aumento de 400% No extremo oposto, os melhores rácios por unidade curricular registam-se na Universidade Nova de Lisboa, onde em Medicina Geral e Familiar cada tutor acompanha um estudante (rácio de 1, enquanto em Coimbra ultrapassa os 20), seguindo-se Dermatologia, Nefrologia e Reumatologia, com um rácio de 1,5. Em comunicado, a ANEM sustenta que as escolas com maior número de ingressos e mais anos de funcionamento “apresentam menor satisfação estudantil” do que as escolas com menor número de novos estudantes e mais recentes. Nos últimos 20 anos, o número de diplomados em Medicina aumentou quase 400%, lembra a associação, cenário que “resultará inevitavelmente na criação de médicos indiferenciados, sem uma especialidade médica e incapazes de prosseguir a sua formação e dessa forma prestar cuidados de saúde de qualidade”. A esse propósito, adianta que há necessidade de “readequar” o número de estudantes de Medicina em Portugal, reavaliar as limitações financeiras das escolas médicas e a sua influência nas condições pedagógicas. Sublinha-se ainda a importância de identificar e resolver restrições particulares em cada uma das instituições de ensino. O estudo, divulgado no último dia do Congresso Nacional de Estudantes de Medicina, envolveu quase 4000 questionários a estudantes e teve ainda em conta dados fornecidos pelos órgãos directivos das escolas médicas relativos ao período de 2011 a 2014. Lusa