Voz da Igreja
Card. Stanislaw Rylko
Nova Evangelização, entre
o ser e o saber
Presidente do Pontifício Conselho
para os Leigos
«O chamamento para a nova
evangelização, na verdade,
refere-se a uma nova forma de
ser cristão, uma nova maneira de
ser Igreja, onde o modelo "novo"
é o Evangelho que se reflecte nos
Actos dos Apóstolos, o poder do
Espírito Santo que renova toda a
comunidade cristã».
De 7 a 28 de Outubro de 2012,
será [foi] realizada em Roma XIII
a Assembleia Geral Ordinária do
Sínodo dos Bispos, convocada
pelo Papa Bento XVI sobre a
Nova Evangelização para a
transmissão da fé cristã; e, no
início deste ano, a Secretaria
Geral do Sínodo dos Bispos
publicou os Lineamenta, um
verdadeiro e próprio vademecum
sobre a nova evangelização, um
aprofundamento muito útil.
Como é sabido, o conceito não é novo: todo o
pontificado do beato João Paulo II foi
caracterizado pelo lema da nova evangelização. O Papa João Paulo II não deixou de
explicar o que ele quis dizer, apondo o
adjectivo "novo" ao tradicional termo
"evangelização": nova no ardor, nova nos
métodos, nova nas expressões. Para uma
compreensão adequada e fiel do conteúdo
dos Lineamenta é contudo necessário dispor
de uma adequada chave de leitura. Com
efeito, a expressão "Nova Evangelização"
tornou-se tão comum - até mesmo abusada que corremos realmente o risco real de
falsear o seu sentido; ou, pior ainda, de a
reduzir a um slogan insignificante. Para
chegar ao cerne da questão, convém partir do
magistério do Beato João Paulo II para
chegar aos ensinamentos de Bento XVI, que
também neste campo prossegue a mesma
linha do seu antecessor. Para ajudar a Igreja
a acolher os desafios do terceiro milénio,
João Paulo II publicou, no final do Grande
Jubileu, a Carta Apostólica Novo millennio
ineunte, que contém indicações essenciais e
muito atuais sobre a missão da Igreja em
nossos dias e alerta para alguns riscos
graves. E assim, lemos no número 15: "O
nosso tempo é de contínuo movimento, que
chega muitas vezes até à inquietação, com o
risco fácil de" fazer por fazer ".
Fica assim evidenciado o risco corrido por
numerosos evangelizadores de hoje, o
esvaziamento interior, que é inevitável
consequência da perda do essencial, isto é,
do esquecimento da fé. Nem mesmo nos
ambientes da Igreja, de facto, como
frequentemente nos recorda o Papa Bento
XVI, a fé pode ser dada como garantida.
Devemos resistir a esta tentação, procurando
"ser" antes que "fazer". Recordemos a este
propósito a repreensão de Jesus a Marta: "Tu
preocupas-te e agitas-te por muitas coisas;
no entanto, pouca coisa é necessária, e até
uma só é necessária" (Lc 10:41-42) ".
Portanto - conclui o Papa - o "mistério de
Cristo" deve ser sempre "fundamento
absoluto de toda nossa actividade pastoral."
Um pouco mais adiante, no n. 29, encontramos uma frase que se tornou famosa: "Não
nos seduz certamente a perspectiva ingénua
de que, perante os grandes desafios do
nosso tempo, possa haver uma fórmula
mágica. Não, não será uma fórmula que nos
salvará, mas sim uma Pessoa, e a certeza
que ela nos infunde: "Eu estou convosco!".
Não uma fórmula, portanto, mas uma Pessoa:
de fronte à multiplicação de estudos sobre a
Nova Evangelização, ainda que por si válidas
e interessantes,
é necessário proteger-se contra a ilusória
tentação, sempre presente nos círculos
eclesiásticos, de procurar uma "fórmula
mágica" para «evangelização, uma espécie
de método infalível de eficácia garantida.
"Penso, portanto - continuou o Papa - que
devemos empenhar-nos sobretudo: na escuta
do Senhor, na oração, na participação íntima
nos sacramentos, em aprender os sentimentos de Deus na face e nos sofrimentos dos
homens, para ser assim contagiados pela sua
alegria". A partir desta consideração, o Papa
continua sublinhando a necessidade de
reafirmar a centralidade de Deus na vida dos
cristãos. Sublinhar a importância da centralidade de Deus na evangelização pode talvez
parecer uma tautologia, mas não é um
conceito dado por adquirido na realidade.
Para completar o quadro das referências do
Magistério, podemos reler as palavras
pronunciadas "de improviso" por Bento XVI,
respondendo a um jornalista sobre o tema do
"primado de Deus" na evangelização: "Uma
igreja que sobretudo procurasse ser atractiva,
já estaria num caminho errado. Porque a
Igreja não trabalha por si, não trabalha para
aumentar as suas estatísticas, e assim o seu
poder. A Igreja está ao serviço de um Outro,
serve não para si, para ser um corpo forte;
serve sim para tornar acessível o anúncio de
Jesus Cristo, as grandes verdades, as
grandes potências de amor e de reconciliação
que sempre vêm da presença de Jesus
Cristo. Neste sentido, a Igreja não procura a
sua própria atractividade, mas deve ser
transparente para Jesus Cristo. E na medida
em que, como corpo forte e poderoso que
quer ter o seu poder no mundo, não está por
si própria, mas se faz simplesmente voz de
um Outro, simplesmente a voz de outro, ela
torna-se realmente transparência para a
grande figura de Cristo e as grandes
verdades que trouxe à humanidade, a força
do amor; então, nesta altura, ouve-se
e
aceita-se a Igreja. Ele não deve considerar-se
a si própria, mas ajudar a considerar o Outro,
e ela própria ver e falar do Outro e para o
Outro".
Para esclarecimento posterior da questão,
convém reler o que Bento XVI afirmou,
dirigindo-se aos bispos da Suíça:
"Muito pode ser feito, mesmo no campo
eclesiástico, e tudo para Deus..., mas
nisso permanecendo totalmente consigo
mesmo, sem encontrar Deus".
Estas são palavras fortes: aparentemente,
pode-se fazer tudo para Deus, mas na
realidade permanecer fechado sobre si
próprio, sem nunca entrar verdadeiramente
em relação com Deus. E o Papa prossegue:
"O empenho substitui a fé, mas depois fica-se
vazio por dentro ".
(continua no próximo número)
Pneuma | 15
Download

Voz da Igreja