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CORRUPÇÃO E DESAGREGAÇÃO Os brasileiros estão perplexos, profundamente entristecidos, envergonhados e revoltados com os fatos noticiados diariamente, nas rádios, televisão, jornais, revistas e mídias virtuais, apontando gravíssimos desvios de conduta. Nos contatos frequentes que tenho com os jovens vejo a preocupação com o futuro do país. Corrupção na vida pública é o uso do poder para proveito, promoção ou prestígio particular ou em benefício de um grupo ou classe, com violação da lei ou de um dever. Implica o abandono de padrões morais em troca de ganho pecuniário ou poder. Não é marca de períodos da história nem de um país. Varia de nação a nação. Mas a prática é endêmica, tanto nos governos autoritários quanto nos democráticos. Corrupção significa troca entre quem corrompe e quem se deixa corromper. É uma forma de exercer influência ilícita, ilegal e ilegítima. Corrupto é o comportamento ilegal de quem pratica a corrupção. O cientista político italiano Gianfranco Pasquino assevera que, quanto maior o âmbito da institucionalização da corrupção, mais fortes serão as possibilidades de comportamento corrupto. Assim, a ampliação do setor público em relação ao privado provoca o aumento das possibilidades e também o ritmo com que essa conduta se expande. Em ambientes estavelmente institucionalizados, os comportamentos corruptos tendem a ser, ao mesmo tempo, menos frequentes e mais visíveis do que em ambientes de institucionalização parcial ou flutuantes. Estão também, segundo Pasquino, relacionados com a cultura das elites e das massas. Depende da percepção que tende a variar no tempo e no espaço”. A corrupção influi nas decisões públicas e fere o sistema. É um fator de desagregação. Dom José Freire Falcão, cardeal-­‐arcebispo emérito de Brasília, em artigo publicado no Correio de 4 de julho, recorda a recente lição do papa Francisco na Bula de Proclamação do Ano da Misericórdia: “Não é possível fechar os olhos à corrupção. Este mal que se esconde nos gestos diários para se estender depois aos escândalos [Digite texto]
públicos... Essa praga putrefata da sociedade é um pecado grave que brada aos céus, porque mina a própria base da vida pessoal e social. A corrupção impede de olhar para o futuro com esperança porque, com a sua prepotência e avidez, destrói os projetos dos fracos e esmaga os mais pobres. É um mal que se esconde nos gestos diários para se estender depois aos escândalos públicos. A corrupção é uma contumácia no pecado, que pretende substituir Deus com a ilusão do dinheiro como forma de poder”. Nota o papa que “o dinheiro não nos dá verdadeira felicidade. A violência para acumular dinheiro que transmuda sangue não nos torna poderosos nem imortais. Para todos, mais cedo ou mais tarde, vem o juízo de Deus, do qual ninguém pode escapar”. A misericórdia de Deus, segundo ele, não dispensa o rigor e a necessidade da justiça humana, embora esta, por si só, não seja suficiente. E a experiência mostra que, limitando-­‐se a apelar para ela, corre-­‐se o risco de destruir. “Por isso, Deus com a misericórdia e o perdão, vai além da justiça”, ensina. Em outra encíclica, Caridade na Verdade, publicada às vésperas da reunião de cúpula do Grupo dos Oito (G/8), o saudoso Papa Bento XVI, ao atacar os graves desvios e insuficiências do capitalismo, exortou a comunidade econômica, em especial os financistas, para que voltem a centrar-­‐se na ética, propondo a intervenção nas decisões políticas. “A atual cena econômica internacional, marcada por graves desvios e falhas, exige uma maneira profundamente nova de compreender os empreendimentos empresariais”, diz o texto. “Acima de tudo, a intenção de fazer o bem não deve ser considerada incompatível com a capacidade de produzir bens”. Os financistas, de acordo com Bento XVI, “precisam redescobrir a base genuinamente ética de sua atividade, de modo a não abusar dos instrumentos sofisticados que podem servir para trair os interesses dos poupadores”. Urge, pois, combater a corrupção, exercendo a plena cidadania, apontando desvios de conduta, participando de movimentos sociais legítimos. Importante, também, aperfeiçoar a legislação e respeitá-­‐la na vida privada e no cumprimento de funções públicas, sempre nos três níveis de poder – Legislativo, Executivo e Judiciário. A corrupção não pode desagregar o sistema! Vamos combatê-­‐la! [Digite texto]
(Jornal Correio Baziliense, 15/07/2015.) 
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