6 — SEGUNDA-FEIRA, 11 de abril de 2005
ESPECIAL
CORREIO DO POVO
Homenagem ao Papa emociona a Capital
Público de 6 mil pessoas acompanhou a celebração em memória de João Paulo II na rótula onde o Pontífice rezou missa em 1980
Marcela Duarte
céu se armou para a chuva, e alguns pingos chegaram a cair, mas São Pedro deve
ter intercedido a Deus para não estragar a
missa em homenagem a João Paulo II,
celebrada na rótula do Papa, na esquina da avenida Érico Veríssimo com
a rua José de Alencar, em Porto Alegre. Inúmeras autoridades e personalidades, como a atriz Eva Wilma, participaram da missa, integrando-se ao
público de aproximadamente 6 mil
pessoas, conforme cálculos da BM.
Muita gente abriu mão de sentar
nas cadeiras oferecidas pela organização do
evento e preferiu ocupar as laterais do palco,
mais perto do acontecimento. O programa de
final de semana dos portoalegrenses – tomar
chimarrão na Redenção – ontem aconteceu na
Rótula do Papa. Munidas de cadeiras de praia,
famílias inteiras foram rezar. Houve até fila
O
para tirar foto em frente aos painéis com imagens do pontífice. A emoção tomou conta de
quem participou do ato, marcado pela pluralidade religiosa e pela tolerância, como tantas
vezes pregou João Paulo II.
O arcebispo metropolitano, dom
Dadeus Grings, vestiu a casula usada
pelo Papa durante a missa celebrada
na rótula, em 1980. Durante a Palavra
da Salvação, dom Dadeus falou sobre
a multidão que esteve em Roma para
se despedir do Santo Pontífice e da
mobilização em todas as partes da
Terra. “Isso significa que o mundo não
está perdido. É só que as pessoas não têm a
oportunidade para demonstrar sempre a fraternidade, o amor e todos esses valores que a
Igreja prega.” Para o arcebispo, o Papa partiu,
mas sua voz ainda ecoa por toda a parte, tornando realidade o maior desejo de João Paulo
II em vida: a paz no mundo.
Dom Dadeus contou a história de um se- dece o acolhimento que teve na Capital e pede
nhor que queria fazer uma homenagem ao ca- que as pessoas não se detenham em sua “hupelão de um presídio. “Sempre me lembro do milde pessoa”. “Voltem seus corações a Jesus
que ele disse, que não entendiam nada do que Cristo, é em seu nome que venho a vós”, disse.
FOTOS LUIS GONÇALVES
o capelão falava, mas sabiam
que ele os amava. É essa a mensagem de Cristo, e as pessoas
perceberam em João Paulo II esse amor”, narrou. O arcebispo
relembrou que o Papa, quando
esteve em Porto Alegre, foi questionado sobre o porquê de visitar a cidade, e ele respondeu que
veio para conhecer melhor as
pessoas, para mostrar que a
Igreja está perto delas e que partilha seus problemas e esperanças. Na celebração, os fiéis ainda
ouviram uma gravação feita durante a missa rezada pelo Papa.
Na gravação, João Paulo II agra- Na cerimônia, foi reproduzida gravação com a voz do Santo Padre
Ato reuniu representantes de diversos credos Autoridades presenciam o culto
Um ato ecumênico
paz é possível”. O pastor
marcou o fim da missa em
Carlos Dreher, da Igreja
homenagem a João Paulo
da Confissão Luterana do
II ontem. Representantes
Brasil, destacou que “o
de várias religiões levaram
bom pastor dá a sua vida
suas mensagens aos porpelas ovelhas”. O diretor
to-alegrenses a convite do
do Centro Islâmico CultuGrupo de Diálogo Interral, Ahmed Ali, declarou
Religioso. O arcebispo
que os islâmicos acompadom Dadeus Grings desnharam a trajetória do Patacou que o ato represenpa de aproximação das retou o desejo do Papa.
ligiões, em nome da paz.
“O sentimento de per“A existência de João Pauda dos católicos é partilo II se justifica pela nossa
lhado pelos anglicanos”,
presença aqui”, avaliou o
afirmou o primaz da Igreja Relação fraterna entre religiões foi uma marca da celebração
presidente do Conselho
Anglicana do Brasil, dom Orlando Silva. Segundo o ra- Estadual da Umbanda e Cultos Afro, babalorixá Clóvis
bino Guershon Kwasniewski, da Sociedade Israelita no de Xangô. O representante do Zen-Budismo, Jorge MelBrasil, “João Paulo II aproximou a Igreja do judaísmo e lo, falou sobre a necessidade de união. Também particirestabeleceu relações diplomáticas, mostrando que a param representantes da Fé Bahá’í e do hinduísmo.
Diversas autoridades e personalidades acompanharam ontem a missa
em homenagem a João Paulo II. A atriz Eva Wilma, que estava em Porto Alegre, aproveitou para acompanhar o evento. O governador Germano Rigotto
participou da missa acompanhado da primeira-dama, Cláudia Rigotto. “É
uma homenagem muito importante a João Paulo II”, comentou o governador. O prefeito José Fogaça afirmou
que a missa ficará
como um marco
para a vida da Capital. O arcebispo
dom Dadeus Grings encerrou a celebração lembrando
que João Paulo II
recebeu o título de
cidadão porto-alegrense, na ocasião
de sua visita à CaAtriz Eva Wilma participou da missa em Porto Alegre
pital, em 1980.
Devotos oram e lembram a visita do Pontífice
Fiéis tremularam bandeiras e levaram fotografias e santinhos de João Paulo II
A emoção e a devoção dos porto-alegrenses pelo Papa
João Paulo II foram evocadas na missa em sua homenagem, realizada ontem na Rótula do Papa, na Capital.
Durante os cânticos, a platéia tremulava bandeirinhas
com a foto do Sumo Pontífice. Pessoas rezaram chorando, enquanto outras aproveitaram a ocasião para manifestar, em faixas, sua vontade de que o Papa seja canonizado. Fiéis levaram cartazes, terços e bandeiras que
lembravam a visita de João Paulo II à Capital, em 1980.
A autônoma Maria Padilha Balardin teve que redobrar a atenção com um “santinho” do Papa, pois todos
queriam ver e tocar a imagem, enviada pelo próprio João Paulo II. Ela contou que em 1980 havia escrito uma
carta ao Papa falando de toda a sua família, que lhe foi
entregue na praça da Matriz por seu filho Paulo César,
na época com 8 anos. “Ele furou o cordão de isolamento
e entregou a carta. Uma semana depois, recebi uma carta de dom Vicente Scherer com este santinho, que foi assinado e abençoado pelo Papa.” No verso do santinho,
há uma mensagem assinada por João Paulo II.
Já a dona de casa Neida Garcia da Silva se emocionou antes do início da missa. Ela segurava um cartaz
com a foto do Papa, que havia ganho em 1980 quando
participou da missa celebrada pelo Papa. “Eu morava na
Medianeira e saí de casa antes das 6h. Meu marido não
quis ir, então fui com meu filho. Hoje estou aqui de novo, só que sozinha, porque meu filho não veio e meu marido morreu.” Improvisando um tapete com sua bandeira, a dona de casa Marilane de Melo ajoelhou e orou,
mas saiu desapontada por não ter a eucaristia.
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