FORMAÇÃO DO FORMADOR DE PROFESSORES: NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO Liliane Campos Machado Universidade Estadual de Montes Claros Unimontes e-mail: [email protected] Fábia Magali Santos Vieira Universidade Estadual de Montes Claros Unimontes 1 Introdução Este trabalho de pesquisa teve por objetivo identificar a percepção dos professores sobre a formação que receberam para formar professores por meio do ensino a distância, bem como identificar os saberes e experiências que eles possuem estando na condição de formadores no curso de Pedagogia a distância da UAB/Unimontes. A escolha pela pesquisa no campo da Educação a distância, justifica-se, principalmente, porque ela contempla a formação, profissionalização, saberes e práticas docentes. Assim, percebemos a possibilidade de uma discussão sobre a formação de professores e as possíveis transformações socioculturais e pedagógicas na prática docente. O desejo pela investigação se deu durante a nossa atuação, como professor formador, em cursos presenciais e a distância, esse último, está se tornando uma realidade em nossa região. Para alguns questionamentos construídos ao longo de uma vida acadêmica seja na condição de discente ou na de docente, conseguimos resposta com outras pesquisas, surgindo com essas outras tantas perguntas, e são essas novas indagações que investigamos e pretendemos registrar neste trabalho. As questões norteadoras são: Quem são os professores formadores? Como se formaram para atuarem na educação a distância - EAD? Docentes: que saberes, que competências, que práticas? Como é percebida a formação e a profissionalização docente para atuar na formação através da EAD? Quais representações os formadores de professores fazem de suas tarefas de formador em EAD, de seu ofício, de sua profissão e de suas condições de exercício? Investigar a formação de professores que formam outros professores, a partir da EAD, nos proporciona reflexões importantes sobre diversos elementos que incidem sobre o desenvolvimento pessoal e profissional do professor, como saberes, identidade docente, a profissionalização dos formadores, as representações sobre os saberes e as práticas. Dentro dessa perspectiva, da Formação do Professor para a Educação a Distância apresenta-se, como uma possibilidade de resposta aos anseios, questionamentos e inquietudes intelectuais, oriundos da experiência de vida acadêmica e profissional. É vista também como uma forma de dar continuidade ao processo, garantindo uma melhoria da qualidade social do ensino, e uma atitude pedagógica geradora de compromisso com a vida, em relação a educadores/educandos, afeita às peculiaridades do contexto cultural e social da região onde se insere a pesquisa. 2 Percurso Metodológico Segundo Manzo (1971, p. 32), a bibliografia pertinente oferece meios para definir e resolver não somente problemas já conhecidos, como também explorar novas áreas onde os problemas não se cristalizaram suficientemente. Lakatos (1991, p. 66) diz que esse tipo de pesquisa não é apenas uma repetição do que já foi falado ou escrito sobre determinado assunto, mas sim, uma forma de examinar o tema sobre um novo enfoque, podendo chegar a conclusões inovadoras. O enfoque trabalhado foi o quanti-qualitativo, entendendo-o como afirma Laville e Dione que as “perspectivas quantitativas e qualitativas não se opõem, e podem até parecer complementares, cada uma ajudando à sua maneira o pesquisador a cumprir sua tarefa, que é a de extrair as significações essenciais da mensagem” (LAVILLE e DIONNE, 1999, p.225). Para a análise e interpretação dos dados coletados optamos pela análise de conteúdo categorial. Triviños (1987) e Bardin (1997) propõem três etapas básicas no trabalho com a análise de conteúdo: pré–análise, descrição analítica e interpretação inferencial. Nessa perspectiva, a análise de conteúdo presta-se tanto aos fins exploratórios, como aos fins de verificação, confirmando ou não, proposições e evidências. A análise de conteúdo busca a essência de um ou mais textos, nos detalhes de suas informações, dados e evidências disponíveis. Assim, não trabalha apenas com o texto, mas, também, com o seu contexto (MARTINS e TEOPHILO, 2007). É importante aqui, fazer uma breve distinção entre a análise de conteúdo, a análise do discurso, pois, embora as duas técnicas se assemelhem muito, deve-se atentar pela diferença fundamental: perseguir o desafio de construir interpretações a significados ocultos nas mensagens emitidas pelos sujeitos. Para isso, na análise do discurso, diferentemente da análise de conteúdo, são necessárias compreensões mais profundas através da desconstrução literal considerando-se aspectos verbais, paraverbais - entonação, silêncios, pausas, hesitações, etc. E ainda, os aspectos nãoverbais: gestos, olhares,etc. (MARTINS e TEOPHILO, 2007). Isto posto, apontamos então, o campo da investigação, que foi o curso de Licenciatura em Pedagogia, da UAB/Unimontes. A escolha pelo curso se deu pela nossa formação, que é nessa mesma área, e, porque as discussões sobre a formação de professores são objetos de estudo da Pedagogia, que sempre foi o nosso foco de interesse e de pesquisa e a EAD surgiu como uma nova modalidade de oferta do referido curso pela UNIMONTES. Os sujeitos investigados são 05 (cinco) professores formadores, atuantes no curso de Licenciatura em Pedagogia, especificamente na UAB/UNIMONTES, uma Universidade pública do Estado de Minas Gerais. Ressaltamos que o curso de Pedagogia da UAB/Unimontes está, nesse segundo semestre de 2009, no segundo período. Embora nos dois primeiros períodos existam disciplinas que não exigem professor com formação de pedagogo para ministrá-las, contudo, optamos por conversar somente com os professores formadores, que são pedagogos. O instrumento, para coleta de dados, utilizado foi a entrevista, que um é importante instrumento de trabalho nos vários campos das ciências humanas e sociais ou de outros setores de atividades como: da Sociologia, da Antropologia, da Psicologia Social, da Política, do Serviço Social [...] e outras, afirma Lakatos (1991, p. 85). Esses instrumentos têm o objetivo de obter informações do entrevistado sobre o assunto. Apesar de existir vários tipos de entrevistas, trabalhamos com a “entrevista não estruturada” (Lakatos, 1991, p. 80), dando ao entrevistado a liberdade de conduzir a resposta, trabalhando com perguntas abertas. A seguir apresentamos o roteiro das entrevistas: Pergunta Principal Quem é o professor formador Qual a formação para atuar na área de EAD e qual as crenças sobre a EAD Perguntas complementares - Qual a idade? - Qual a graduação? Qual o ano de conclusão? - Qual a pós graduação? - Qual o tempo de trabalho na docência do Ensino Superior? - Qual tempo de atuação na EAD - Em quais projetos e ou cursos participou? - Você já participou de algum curso a distância como aluno? Quais as dificuldades? - É possível ensinar e aprender a distância - O que significa ensinar e aprender a distância? Finalidade Conhecer o perfil dos professores formadores de professores Perceber o processo de formação do docente, a relação com as crenças sobre a EAD e a sua própria atuação na EAD Possui experiência na educação a distância? - Já fez algum curso de capacitação em EAD para conhecer as ferramentas? - Que metodologias são utilizadas nessa modalidade de ensino? Informar sobre as experiências e saberes dos professores para utilizar as ferramentas Quais as suas perspectivas em relação ao curso de Pedagogia da UAB - Quais os entraves? - Que profissional a Universidade pretende formar nesse curso Saber das expectativas sobre o curso de Pedagogia da UAB/Unimontes/ - Considerando a sua história de formação, você acredita na política É possível formar de formação de profissionais profissionais docentes por docentes através das novas meio das novas tecnologias tecnologias? - Quais os passos positivos e negativos na UAB? Quadro 2 – Roteiro da Entrevista Fonte: A autora, dados da pesquisa 2009. Verificar a percepção do professor sobre de formação de professores por meio das novas tecnologias. A entrevista foi planejada e organizada com a acadêmica Roberta Souza Xavier, nossa orientanda do 8º período do curso de Pedagogia, presencial da Unimontes que esta pesquisando: “A percepção dos professores sobre a oferta dos cursos de Pedagogia presencial e a distância: uma análise comparativa”. Ressaltamos que os dados são os mesmos, porém, as análises foram construídas por nós individualmente. A entrevista foi aplicada, pela aluna depois de prévio agendamento com os professores, dia, local e horários para a entrevista durante o ano de 2009. Combinamos com ele que a entrevista seria gravada. Não houve objeção por parte de nenhum docente. No início de cada gravação, indagamos se poderíamos utilizar os nomes dos professores ou se preferiam que fossem usados codinomes. Ao término de cada entrevista, comprometemo-nos a transcrever toda a gravação e, em seguida, enviá-la ao docente para que ele pudesse avaliá-la e alterá-la se necessário fosse, permitindo, que pudéssemos nos apropriar de seus discursos em nossas análises e, assim o fizemos. Mediante à aceitação de alguns, decidimos adotar o mesmo critério para todos os professores entrevistados, por isso, neste trabalho, eles serão identificados por letras do nosso alfabeto. 3 A Formação dos Professores Formadores de Professores da UAB/Unimontes Fizemos a análise dos dados a partir da Análise de Conteúdo Categorial, conforme proposto por Bardin (1997) . No decorrer da análise, respeitamos as três etapas propostas por Bardin (1997), fizemos, em primeiro lugar uma pré-análise do material coletado nas entrevistas, a partir de uma leitura de todo o material e da seleção de alguns temas que permitem evidências. Em seguida fizemos a descrição analítica dos dados coletados e já pré-selecionados, codificamos e classificamos o material selecionado. E, por último, fizemos a interpretação inferencial, o que nos possibilitou a construção de algumas bases para as considerações finais. Desenvolvemos toda a análise de conteúdo categorial a partir do roteiro de entrevista que apresentamos no item 3.3 desse trabalho. Para uma melhor visualização, e respeitando o proposto por Bardin (1997), organizamos a apresentação da análise em forma de tabela, onde se pode encontrar a definição da categoria; os temas que se relacionam à categoria; à freqüência e à porcentagem de professores para cada manifestação e, por último, exemplificamos cada categoria com trecho das narrativas docentes. A seguir, apresentamos a análise e discussão dos resultados que obtivemos com as narrativas e histórias de vida dos professores formadores de professores do curso de Pedagogia da UAB/Unimontes. 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 4.1 Análise por Categoria Esse capítulo está organizado em dois momentos. No primeiro, analisamos os dados a partir de algumas categorias que estabelecemos. No segundo momento, apresentaremos uma discussão em torno de cada uma das categorias estabelecidas. 4.1.1 Categoria 1: Perfil docente Iniciamos a nossa análise apresentando o perfil do professor formador, veja o quadro a abaixo: Tempo de serviço no magistério superior Tempo de serviço no magistério superior – UAB Identificação Curso Sexo Titulação Ano de graduaçã o A Pedagogia Feminino Mestre 1900 15 anos 1 ano B Pedagogia Feminino Mestre 1981 14 anos 09 meses C Pedagogia Feminino Especialista 1994 04 anos 02 meses D Pedagogia Feminino Doutor 1984 09 anos 02 anos E Pedagogia Feminino Mestre 1989 19 anos Quadro 3 - Identificação dos professores entrevistados. Fonte: A autora, dados da pesquisa 2009. 06 meses Depois de construído o perfil dos professores entrevistados, passamos à segunda categoria, onde nos propusemos a levantar as informações referentes à formação do professor para atuar na modalidade de educação a distância 4.1.2 Categoria 2 - Formação para atuar em cursos modalidade de EAD Entendemos que a formação de professores para EAD é necessária, é indispensável para não retornarmos, após décadas de avanço, na relação teoria e prática pedagógica, a um modelo ultrapassado em que se dividem funções e não se articula ações. “A concepção, planejamento, execução e avaliação em cursos a distância exigem uma formação específica e complexa, que não vem sendo contemplada e exigida aos cursos de formação de professores existentes”. (KENSKI, s/d, p. 7 ) Na tabela a seguir, identificamos o quantitativo de professores que participaram de cursos de EAD na condição de alunos. Tabela1 - Participação dos profissionais da UAB em Cursos a Distância REVER NUMERAÇÃO Definição: Participação dos professores da UAB em Cursos de EAD, na condição de Aluno. Tema Qtd % Narrativas Participaram 5 100 - Sim como aluna participei do curso de capacitação do CEAD (Professor B) - Fiz curso de extensão pela UAB (Professor C) - Participei de Curso de pós-graduação a distância em Educação a Distância, promovido pela UNB (Professor D) - Uma das pós que eu fiz foi em avaliação, foi um curso a distância oferecido pela Unb. (Professor E) Não Participaram 0 0 Fonte: A autora, dados da pesquisa 2009. Observamos que todos os professores, além de participarem de cursos na condição de alunos, também, participaram de cursos de formação para atuar em EAD. Percebemos na tabela anterior, que apresenta a categoria Formação para atuar em EAD, que todos os professores participaram de cursos a distância e procuramos saber quais as dificuldades enfrentadas durante o curso. Na tabela a seguir procuramos responder a seguinte questão: quais as dificuldades enfrentadas pelos formadores quando alunos de cursos a distância. Tabela 2 - Dificuldades dos professores durante a participação nos Cursos de EAD, como alunos. Definição: Apresentação das dificuldades enfrentadas pelos entrevistados durante o curso de EAD Tema Qtd % Narrativas - A maior dificuldade é o aluno cursar (...) e não ter Falta de Computador 1 20 computador (...) e o lugar que ele mora não pega internet com acesso à (Professor B) internet Relutância em aceitar 5 100 - (...) que exige muita disciplina de você enquanto aluno, e aí acaba que a gente sente dificuldade, porque você matricula a “nova” cultura no curso achando que vai ser uma coisa mais fácil, e não é, proposta pela EAD – você tem que ter toda uma disponibilidade, porque tem todo professor como um ritual. (...) A cultura ainda é muito da necessidade de ter mediador- que exige um professor (Professor A) mais dedicação e - (...) é um curso que exige muito estudo, muita dedicação, responsabilidade do por estar a distância, porque o professor é mais um aluno mediador dentro do campo virtual (Professor B) - As dificuldades são por causa da nossa cultura. A educação a distância exige uma certa disciplina. E ela dá autonomia, mas exige disciplina, e nós não somos educados para essa disciplina (Professor D) Fonte: A autora, dados da pesquisa 2009. Segundo Becker e Marques (2002), não podemos confundir formação com acesso ou troca de informações. Precisamos e devemos pensar a educação a distância, tal como a presencial, considerando as questões epistemológicas que fundamentam o trabalho pedagógico. Ou seja, o ensino dar-se-á nos limites da compreensão de como se constrói o conhecimento. Entendemos que não se pode concordar com uma formação docente que concebe um aluno passivo, que apenas incorpora informações que lhe chegam de fora. A formação que se postula pretende um sujeito, no caso um professor, que constrói porque age, que diante de um programa de ensino elabora perguntas, critica conteúdos, questiona formas de abordagem, relaciona o conteúdo proposto com outros conteúdos, relaciona os conteúdos com os fenômenos observados no cotidiano, que constrói formas inéditas sintetizando sua experiência e sua história individual (BECKER e MARQUES, 2002 p. 89). Considerando o que evidencia Becker (2002) procuramos selecionar, nas entrevistas, como os professores percebem a qualidade e as vantagens da formação por meio da EAD. Tabela 3 - Qualidade dos cursos de EAD percebidas pelos professores formadores durante participação em cursos dessa modalidade Definição: Observações demonstradas pelos entrevistados quanto a qualidade e vantagens da formação através da EAD. Tema Qtd % Narrativas A EAD surge como nova possibilidade de ensino-aprendizagem Possibilidade de um maior contato com novas tecnologias, a exemplo da internet. Exigência de que o aluno seja mais pesquisador, em virtude das características do curso 2 40 - (...) as possibilidades da EAD são: você adquirir um conhecimento (...) (Professor E) 1 20 2 40 - O curso a distância te abre leques ao te colocar em contato com as redes, a internet.( Professor E) - exige muito do aluno, muita dedicação, muita interação no ambiente (Professor B) - Essa modalidade te permite ser mais pesquisador (Professor C). (...) o que você faz, com que você acabe buscando mais conhecimento e não sendo restrito, às vezes, só em uma única orientação (Professor E) Fonte: A autora, dados da pesquisa 2009. Quando se trata da formação do professor do ensino superior, essas discussões se tornam mais complexas, porque são muitas as especificidades e as características desse profissional, e os estudos que têm como foco estão apenas iniciando, particularmente, quando se trata da modalidade educação a distância. Tabela 4 - Tipo de Formação para atuar na EAD Definição: Apresentação em cursos de formação, dos profissionais, para atuar na EAD Tema Qtd % Narrativa Cursos de Capacitação em Universidades 2 40 Cursos de Pós Graduação 2 40 Cursos de Capacitação oferecidos por empresas não ligadas à Educação 1 20 - (...) além da pós-graduação que eu disse a você, eu fiz um aperfeiçoamento aqui na universidade mesmo, (Professor A) - Eu fiz o curso de capacitação pela CEAD Unimontes, só para trabalhar com o curso a distância. (Professor B) - Fiz dois mestrados, um doutorado, e uma pós graduação lato-sensu, pesquisando sobre a educação a distância. (Professor D) - Fiz capacitação de Formador de orientadores de aprendizagem pelo Sistema FIEMG SESI/ SENAI. (Professor C) Fonte: A autora, dados da pesquisa 2009. Belloni (1998, p.16) assinala que os professores formam um grupo prioritário e estratégico para qualquer melhoria dos sistemas educacionais e não se pode perder de vista que “qualquer melhoria ou inovação em educação passa necessariamente pela melhoria e inovação na formação de formadores” Finalizamos aqui a descrição dos dados da categoria 2 – formação de professores para atuar em EAD e a seguir descreveremos a categoria 3: experiência profissional. 4.1.3 Categoria 3 - Experiência Profissional Nessa categoria nos propomos a discutir a experiência profissional do professor formador que passa pela construção dos saberes e dos fazeres. Altet (2001) afirma que saberes pedagógicos, saberes formalizados a partir da prática, intermediários entre os saberes científicos e os saberes práticos não-conscientes, abrangem diversas dimensões: uma dimensão heurística, porque abre caminho para a reflexão teórica e para uma nova concepção; uma dimensão de problematização, pois permite ampliar a problemática, levantando e determinando problemas; uma dimensão instrumental, composta de saberes instrumentais e formas de leitura que descrevem práticas e situações que ajudam a racionalizar a experiência prática; e uma dimensão de mudança, uma vez que tais saberes criam novas representações e, por isso mesmo, preparam a mudança. São os novos saberes reguladores da ação, os quais buscam regrar o problema ou modificar práticas e, a partir daí, tornam-se instrumentos de mudança. Algumas abordagens conferem mais espaço aos saberes profissionais advindos da experiência prática. A corrente fenomenológica que descreve a experiência vivenciada pelo professor nos dias em que o conhecimento prático deste, seria indissociável de sua vivência pessoal; os saberes profissionais, também, se desenvolvem em campo, na prática profissional, pela construção singular do sentido. Segundo Tochon (1991), tratam-se de saberes estratégicos, situações na interseção do cognitivo e do afetivo; ou de saberes pragmáticos. Segundo Tardif (1991), os saberes dos docentes não correspondem a um conhecimento no sentido usual desse termo; eles se referem, muito mais, a representações concretas, específicas; são práticas orientadas para o controle das situações, para a solução de problemas, para a realização de objetivos em um contexto. Em resumo, trata-se de saberes pragmáticos, isto é, no sentido primeiro do termo, de saberes construídos em contacto com as coisas em si, isto é, situações concretas do ofício do professor. Na tabela a seguir respondemos: possui experiência na educação a distância? Tabela 5- Experiência Profissional em Formação de Professores a Distância Definição: Entendimento dos entrevistados quanto à experiências anteriores dos mesmos, especificamente, em Cursos de Formação de Professores na modalidade a distância. Tema Qtd % Narrativa Possuem Experiência 4 80 - Experiência de dois anos como tutora do curso Veredas, aquele que foi ministrado pela Secretaria de Educação. Eu fiquei dois anos como tutora. (Professor B) - Sim. Trabalhei com funcionários da Nestlé em 1995 a 1996 na Suplência com Metodologia do Telecurso 2000, trabalhei no SESI de 2001 a 2006 como Supervisora Pedagógica do Telecurso 2000 e com Suplência. (Professor C) - (...) curso de capacitação de professores, projeto veredas, UAB para licenciatura mídias na educação (Professor D) - (...) outra experiência que eu tenho em EAD é com relação ao PROCAP (Professor A) Não Possuem 1 20 - Não possuo, eu só possuo nesse que estamos trabalhando agora que é o de graduação e o de pós-graduação a Experiência distância. (Professor E) Fonte: A autora, dados da pesquisa 2009. A formação centralizada em uma prática que procede à própria análise, dentro dos dispositivos de Análise das Práticas (Altet, 1994) é útil aos profissionais e aos formadores para explicitar os conhecimentos empíricos, a partir de confrontações a respeito de suas experiências, assim com a ajuda de instrumentos de formalização construídos pela Pesquisa: Ação/Formação/Pesquisa estão articulados. Tabela 6 - Projetos de EAD que o Profissional Participou Definição: Apresentação dos projetos de EAD em que os entrevistados atuaram profissionalmente, antes da UAB Tema Qtd % Narrativa Projeto Veredas 3 60 Professores A, B e D PROCAP 1 20 Professor A Telecursos 1 20 Professor C Fonte: A autora, dados da pesquisa 2009. O processo educativo a distância é mais rico para formação de professores quando se adota uma postura sobre a aquisição de conhecimentos, tratada e concebida como busca permanente, como reflexão vinculada às práticas sociais e pedagógicas, constituindo-se pela atividade das pessoas em seus contextos. Esta postura propicia uma articulação mais adequada das diferentes áreas de conhecimento num processo de interdisciplinaridade e de redes disciplinares (GATTI, 2002). Tabela 7 - Significado de “Ensinar e Aprender” na EAD Definição: Entendimento dos entrevistados sobre o que é ensinar e aprender na EAD Tema Qtd % Narrativa Entendem o ensino 5 100 - Como ensinar e aprender é um processo (...) então, a gente está em processo, também estamos otimizando como construção de esse trabalho e garantindo melhor preparação. uma estratégia com (Professor A) base na identidade dos envolvidos no processo. - desenvolver estratégias para que professores e alunos Entendem como 3 60 se apropriem da informação e construam o conhecimento conhecimento ocupando tempo e espaços diferentes; construído por alunos e isso é que significa para mim ensinar e aprender a professores por meio distância. (Professor D) de apropriação de informações - (...) Eu acredito que como o professor é mediador, ele Entendem como uma 3 60 dialoga no ambiente, mas exige do aluno muito estudo, variação de papéis de exige do aluno que ele se intere do material impresso, educador e educando que ele vá ao ambiente(...). (...) o aprender é conseqüência da postura, da interação do aluno no ambiente (...). A diferença que eu acho é a modalidade, de não ter fisicamente professores, pra mim essa é a maior diferença (...) (Professor B) - Momento de grande relevância no processo educativo pois esta relação nos permite variar os papéis de educador e educando. (Professor C) Entendem como democratização do Ensino Superior - (...) tem como estar atualizando na educação e garantindo que aquelas pessoas que não tiveram oportunidade lá na sua localidade de fazer um curso superior, então, que esse ensino superior está sendo democratizado(...) (Professor A) Fonte: A autora, dados da pesquisa 2009. 1 20 Finalizando a análise da terceira categoria e dando continuidade a nossa investigação passamos a quarta categoria que tem como temática básica as perspectivas dos professores frente a EAD. 4.1.4 Categoria 4 - Perspectivas Novas possibilidades se abrem com as novas tecnologias de informação e comunicação no que se refere à formação de professores, são possibilidades desafiantes e que nos convidam a refletir sobre a formação de professores no país nos últimos 10 anos (SOUTO, 2006). Gatti (2002) afirma que a necessidade de oferecer aos professores em serviço, ou pré-serviço, uma qualificação compatível com as exigências sociais e profissionais para seu nível de atuação foi bem analisada por vários pesquisadores, durante a década de 90, no século XX. Essas análises mostraram as necessidades, tanto em termos numéricos, como em termos qualitativos, de currículos e condições básicas de formação (Alves, 1992,1998; Brezinski, 1994; Cunha,1992; Gatti, 2000; Ludke, 1994; Pimenta, 1994, dentre outros). Tabela 8 - Credibilidade dos profissionais da UAB na qualidade da EAD. Definição: Apresentação da credibilidade dos entrevistados no processo ensino-aprendizagem através da EAD. Tema Qtd % Narrativa Acreditam que ocorre 5 100 - Com toda certeza, e até ultimamente eu tenho achado que esta é uma perspectiva melhor, que gera mais a aprendizagem responsabilidade no aluno e gera mais dedicação do professor, o professor também enquanto tutor”. (Professor E) - Com certeza, certeza absoluta. Desde que a pessoa que ingressou nessa metodologia à distância, no caso, que ela seja uma pessoa comprometida com o projeto. (Professor A) Não acreditam 0 0 Fonte: A autora, dados da pesquisa 2009. Entendemos que a educação a distância ajudará os docentes a serem mais íntimos desses materiais e equipamentos tecnológicos produzidos pela ciência, e disponibilizados para os homens, para a busca de nossa autonomia, no ato de buscar a construção de uma sociedade mais humana, sem perder de vista que a Educação a Distância não é, de forma alguma, um vislumbre para ficarmos trancados entre quatro paredes “ligados” vinte e quatro horas em um computador, ou em frente à televisão. Tabela 9 - Perspectiva em Relação ao Curso de Formação da UAB Definição: Apresentação das Perspectivas dos professores, envolvidos no processo de implantação da UAB na Unimontes, quanto ao curso Tema Qtd % Narrativa (...) as perspectivas são as melhores possíveis, o material Material impresso 1 20 impresso, ta um material muito bom, que tá saindo para os alunos (...). (Professor B) (...) infraestrutura do curso, são as melhores. A Infraestrutura 1 20 formação em uma modalidade que lhe dá uma certa liberdade de tempo, ferramentas diversificadas de interação como fóruns, chats, aulas virtuais, (Professor C) (...) a gente tem uma metodologia de trabalho que é super Metodologia de 1 20 rigorosa em termos da avaliação do processo ensinotrabalho aprendizagem, então isso acaba fazendo a diferença. (Professor A) (...) porque a gente percebe no projeto a distância um a Projeto pedagógico 1 20 concepção diferente do presencial, a gente percebe uma articulação, uma integração entre os componentes curriculares, entre todo o processo, e os ... eu não percebo isso no presencial (...)eu acho que nós temos um projeto muito bom, com uma visão de educação a distância bem avançada, e eu acho que a partir de agora o projeto vai desenvolver e nós vamos atingir nosso objetivo. (Professor D) (...)E eu penso que esse curso tem mostrado muito pra Interesse dos alunos 1 20 gente, até enquanto resposta para os nossos cursos presenciais, porque a gente começa perceber qual é o envolvimento, qual é o real interesse do aluno (Professor E) Fonte: A autora, dados da pesquisa 2009. Considerado que questionamos o professor sobre as suas perspectivas a respeito da EAD, precisávamos, também, conhecer a sua percepção sobre os entraves identificados durante a implantação da UAB. Tabela 10 - Entraves encontrados na fase de implantação da UAB/Unimontes Definição: Apresentação, pelos entrevistados, dos entraves identificados durante a implantação da UAB na Unimontes. Tema Qtd % Narrativa - (...) agente precisa de pessoal pra trabalhar com a Falta de preparo do 2 40 educação a distância, e tem que fazer treinamentos profissional para rápidos para oferecer suporte para aluno que está trabalhar com a EAD formando no curso de Pedagogia. Nessa situação você percebe que falta no curso de Pedagogia uma preparação desse profissional para lidar com o que é a perspectiva futura para o processo ensino aprendizagem, que é a educação a distância. (Professor E) - (...) hoje é uma equipe capacitada para trabalhar, por que nós todos estamos aprendendo a ensinar a distância, eu acho que isso está dificultando (Professor D) - nosso grande desafio é fazer que o nosso público Autonomia do 1 20 atendido encare a sua própria formação e a busca de acadêmico frente sua conhecimento como algo e sua inteira responsabilidade. própria formação (Professor C) -(...) é um curso a distância onde existe um ambiente Interatividade no 1 20 virtual para ele interagir, e a interatividade dos alunos na ambiente Dificuldade de trabalho em equipe A Cultura do ensino presencial UAB está muito baixa, poucos alunos entram no virtual e dialogam. Então acaba que o curso tem um ambiente para ele dialogar com o professor, e ele acaba... estudando sozinho no material impresso. (Professor B) (...) entraves, é justamente fazer com que o professor 1 20 formador, professor conteudista, aprenda a trabalhar em equipe e prenda a usar a ferramenta a distância mesmo. (Professor A) (...)É que a cultura que a gente tem de sala de aula ser só 1 20 esse espaço das paredes, é um dos entraves que a gente encontra, então assim os acadêmicos ainda tem essa necessidade de interagir com o professor... (Professor A) Fonte: A autora, dados da pesquisa 2009. A seguir apresentamos a quinta categoria formar através das novas tecnologias. 4.1.5 Categoria 5 - Formar através das novas tecnologias O professor, ao trabalhar com as novas tecnologias, deverá possuir uma formação competente que, conciliada aos propósitos pessoais dele, será capaz de aceitá-las, rejeitá-las ou produzir seus próprios programas, adaptando-os à realidade da sua sala de aula. Segundo Kenski (1995), a formação docente deve estar atenta para partilhar experiências e assumir a fragmentação das informações, como um momento didático significativo para a recriação e emancipação dos saberes. Tabela 11 - Visão do profissional da UAB/Unimontes a respeito da política de formação de profissionais através das novas tecnologias Definição: Apresentação da percepção do profissional da UAB/Unimontes quanto aos pontos positivos da política de formação de profissionais através das novas tecnologias Tema Qtd % Narrativa (...) as novas tecnologias, isso facilitou o processo ensino Tecnologia como 2 40 a distância... (Professor A) facilitador - (...) tem o material impresso e tem o ambiente virtual, no qual todas as disciplinas ficam no ar, o aluno entra pra dialogar, eu acredito na aprendizagem deles, mas eu penso que tem que ter um contra partido do aluno muito grande, de estudar e de inteirar no ambiente ( Professor B) - (...) podemos a partir desses instrumentos que estão Formar um 1 20 sendo dados, que a gente pode sim fazer um trabalho profissional que diferenciado e contribuir para a formação de um atenda às demandas profissional que de fato vai atender às demandas dessa da região sociedade principalmente de nossa região. (Professor D) Possibilita o aprender a aprender 1 20 - Trabalhar com a perspectiva do “aprender a aprender”. (Professor C) Fonte: A autora, dados da pesquisa 2009. Acreditamos que a novas tecnologias vieram para melhorar as relações humanas, e que, no caso dela dentro da escola, para melhorar os processos ensino-aprendizagem, e por isso “é um dever da escola/universidade mostrar a seus docentes e alunos que eles, por si mesmos, são seres de carências e necessidades. Que de um depende a existência do outro que por causa dos outros, é que a sua ação é sempre trans-ação com as coisas e pessoas ...” ( TEVES, 2000, palestra). Concordamos com Peters, (2004), quando ele afirma que os estudantes dessa modalidade de ensino devem ter cinco habilidades para serem capazes de estudar em um ambiente informatizado de aprendizagem, quais sejam: autodeterminação e orientação, seleção e capacidade de tomar decisões e habilidade de aprender e organizar-se. Essas habilidades também são necessárias no ensino presencial, mas na EAD elas são fundamentais. Tabela12 - Visão do profissional da UAB/Unimontes a respeito da política de formação de profissionais através das novas tecnologias Definição: Apresentação da percepção do profissional da UAB/Unimontes quanto aos pontos negativos da política de formação de profissionais através das novas tecnologias Tema Qtd % Narrativa - Nós temos consciência que isso é uma estratégia de Estratégia neoliberal 2 40 uma política neoliberal, disso nós temos consciência. (Professor D) - Precisamos nos habituar às novas tecnologias não Tecnologia não 2 40 desprezando a figura tradicional do professor, neste substitui o professor contexto, mediador. (Professor C) - (...) é admitir que os profissionais ainda não estão Falta de preparo do 1 20 preparados para lidar com a EAD. Porque assumem a professor para educação a distância com estratégias de ensino trabalhar com a EAD presencial é complicado (...) vai trabalhar com educação a distância só usando apostilas. Então isso não é educação a distância, você dizer que você vai trabalhar com o aluno na educação a distância e que ele não tem computador e não tem, a sua disposição, a internet, e que só vai receber material impresso e participar de encontros presenciais, então isso não é educação a distância. (Professor E) Fonte: A autora, dados da pesquisa 2009. Concordamos com Pereira e Moraes (s/d) quando elas afirmam que: Em vista disso, impõe-se a (re) organização do trabalho docente e dos processos educativos realizados no âmbito do ensino superior, com ênfase nas universidades públicas, mediante à implementação de uma política voltada para a oferta regular de cursos a distância, como propõe a Universidade Aberta do Brasil, UAB, ao lado da oferta de modelos pedagógicos híbridos, envolvendo espaços curriculares mediados pelas tecnologias de informação e comunicação, que assegurem a democratização e a qualidade dessa formação. (PEREIRA E MORAES, s/d). Sendo assim, percebemos a idéia da complementaridade das aprendizagens presencial e mediada pelas linguagens tecnológicas de informação e comunicação e/ou ambiente virtual, como ações e reflexões que, dependendo do contexto que exigirá ou não ambientes presenciais ou mediado, e ainda as mídias e linguagens apropriadas. Estes aspectos demandam uma formação do professor formador nesse espaço, impondo uma re-organziação dos saberes e dos fazeres docentes. 4.2 Discussão dos resultados Analisando a categoria um, observamos que os cinco professores pertencem faixa etária de quarenta e cinqüenta anos, todas do sexo feminino, graduados em Pedagogia, nas décadas de 1980 e 1990. Apenas um professor não tem formação stricto sensu. Em relação ao tempo de docência, no magistério superior, percebemos que estão entre 04 (quatro) e 19 (anos) no ensino presencial. Utilizando o esquema explicativo de Huberman (1992) 1 sobre as fases da carreira docente, percebemos que a maioria dos professores já passaram da fase de entrada na carreira (1-3 anos), estando entre a fase de estabilização e consolidação de um repertório pedagógico (4-5 anos) e a diversificação/questionamento (7-25 anos). 1 Huberman (1992, p.39), traça uma descrição de tendências, em seus estudos sobre o desenvolvimento da carreira docente, que nos permite identificar como se caracteriza “o ciclo de vida dos professores”. De acordo com esse estudo, o professor passa por uma fase de “sobrevivência” e “descoberta”, ao iniciar seu percurso profissional, que possibilita o confronto com o novo e a exploração de possibilidades de ação, avançando, gradativamente, para uma fase de “estabilização”, em que começa a tomar uma maior consciência do seu papel e responsabilidade, enquanto educador. Este ciclo, como define Huberman (1992, p.47), não se constitui em etapas fixas, mas sim num processo dinâmico e bem peculiar ao percurso pessoal de cada professor. Em relação à categoria dois, formação para atuar em cursos modalidade de EAD, percebemos, a partir dos relatos dos professores entrevistados, que a formação para atuar em cursos de EAD se deu por cursos de curta duração (cursos de capacitação/aperfeiçoamento) apenas um deles buscou titulação e desenvolveu pesquisa na área de EAD. No que se refere aos saberes, as competências e as práticas dos docentes, nos seus depoimentos, os professores sinalizam para pontos comuns que são demandados aos formadores de cursos a distância, tais como: melhor preparação de docentes e discentes para o ensino a distância; disciplinas de ambos (alunos e professores), acompanhamento e monitoramento do processo de ensino e aprendizagem em tempos e espaços distintos, dentre outros. Fica claro, nas narrativas da maioria dos professores, que eles estão se formando, ao mesmo tempo em que estão implantando a UAB/Unimontes. Podemos afirmar que alguns investigados encontram-se na fase de consolidação de um repertório pedagógico e de diversificação/questionamento. Inspiramo-nos em Gauthier (1998) quando sugere que pesquisas sobre o saber da ação pedagógica poderiam contribuir para o aperfeiçoamento da prática docente e formação de professores. Assim, além dos conhecimentos científicos (provenientes da pesquisa acadêmica), o saber nascido na prática deve, também, ser considerado, opondo-se às abordagens dos estudos que separavam a formação e a prática cotidiana. Podemos dizer que o exercício da ação docente requer preparo e disponibilidade para o trabalho, e esse não se esgota nos cursos de formação, mas para o qual há uma contribuição específica enquanto formação teórica (em que a unidade teoria e prática é fundamental) para a práxis transformadora. (SCHMIED-KOWARZID, 1983, p. 133). Na terceira categoria, discutimos a experiência do professor formador para atuar em cursos de EAD, e percebemos que a maioria dos professores entrevistados percebem que a EAD não é uma novidade na universidade, pois todos já haviam vivenciado a experiência com EAD, quer seja em programas governamentais quer seja em privados. Embora tendo todos essa experiência, observamos que eles afirmam estar aprendendo a fazer a EAD no contexto da graduação. Concordamos com Tardif quando ele diz que uma das características mais importantes da formação do profissional docente é a sua historicidade. Isso porque, a formação dos professores implica em um conjunto de saberes que vão sendo incorporados ao longo da própria vida, saberes estes que decorrem da sua imersão num contexto societário, das relações que vão se estabelecendo com pessoas e instituições várias. Na profissão, continuam a incorporar novos saberes que se vão agregando ao processo formativo de construção da identidade profissional. Tardif (2002, p. 71) afirma, A socialização é um processo de formação do indivíduo que se estende por toda a história de vida e comporta rupturas e continuidades [...] Em sociologia, não existe consenso em relação à natureza dos saberes adquiridos através da socialização.[...] A idéia de base é que esses saberes (esquemas, regras, hábitos, procedimentos, tipos, categorias, etc.) não são inatos, mas produzidos pela socialização, isto é, através do processo de imersão dos indivíduos nos diversos mundos socializados, [...] nos quais eles constroem, em interação com os outros, sua identidade pessoal e social. Dizer que o saber dos professores é temporal, significa dizer que, ensinar supõe aprender a ensinar. Nessa perspectiva, muitos autores já evidenciaram a importância das experiências familiares e escolares anteriores à formação inicial. Antes mesmo de ensinar, os futuros professores vivem nas salas de aula e nas escolas – seu futuro ambiente de trabalho – aproximadamente 11 a 14 anos. Tal imersão é, necessariamente, formadora, pois leva os futuros professores a adquirirem crenças, representações e certezas sobre a prática profissional, bem como sobre o que é ser professor e ser aluno. Muitas pesquisas mostram que esse saber oriundo da experiência anterior é muito forte, persistindo através do tempo, sem que a experiência universitária consiga apagá-lo ou mesmo abalá-lo. Refletindo sobre a quarta categoria, percebemos que as perspectivas dos docentes são otimistas em relação à educação a distância, mesmo apontando alguns entraves. O que mais nos chamou a atenção foi a falta de formação para atuar na EAD. E dentre as possibilidades observamos como os professores apostam na qualidade do curso de Pedagogia da UAB/Unimontes. É preciso pensar em projetos de formação de professores que lhes garantam condições de compreensão e atuação em diferentes fases do processo de organização dos cursos: da concepção e planejamento à sua viabilização e avaliação. Uma formação abrangente e orientada que envolva o conhecimento do processo pedagógico, a seleção e adequação da proposta de curso ou disciplina, às especificidades dos meios tecnológicos envolvidos, a gestão do processo educacional em rede; a produção de materiais comunicativos; a condução dos processos e estratégias para acolhimento e permanência dos alunos em estado de aprendizagem permanente; entre tantas outras necessidades que são específicas dos múltiplos tipos de ofertas de modalidades de cursos a distância. (KENSKI, s/d)). A última categoria, formar através das novas tecnologias, nos fez refletir sobre a clareza que tem alguns professores, com o professor D, quando afirma que trabalhar com a EAD e suas tecnologias é atender às estratégias neoliberais, mas que, tendo consciência dessas estratégias, podemos fazer uma educação de qualidade na modalidade da educação a distância. Outro tema que nos chamou atenção foi a colocação do Professor C quando ele percebe as possibilidades das novas tecnologias, desde que não substituam o professor. Encerrando a nossa discussão, evidenciamos que os professores formadores estão se preparando para atuar em EAD, porém em vários momentos das narrativas, estabelecem comparações com a educação presencial, o que nos fez perceber que a maioria pensa a EAD a partir da sua realidade na educação presencial. Alguns dos professores ainda não construíram uma cultura da EAD. Sabemos que a complexidade de organização dos cursos a distância exige a atuação em equipes envolvidas no processo. As competências necessárias a um professor, em um curso a distância são tantas, que não se pode pensar na sua atuação isolada. Não podemos deixar, no entanto, que a atuação multifacetada e segmentada de professores existentes, em grandes projetos educacionais a distância, seja a marca que caracterize a identidade docente como a de outro profissional. Ele se transforma, segundo Belloni (2001), de um professor com identidade individual para uma identidade coletiva chamada “professor”. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Dessa forma, parece acertada, como alternativa aos paradigmas atuais de formação docente, a visão de Perrenoud, ao propor processos e espaços de análise, questionamentos e reconversão do “habitus”, viabilizando a vivência, ao longo do curso e das diversas situações escolares, o que ele chama de “modelo clínico” de formação. Este, obriga o formador a estar presente no momento da ação, sendo disponível para que aconteça uma reflexão e uma compreensão dos fenômenos da prática. Desse modo, o “habitus” pode-se constituir, não em circuitos fechados, mas em uma interação entre a experiência, a tomada de consciência, a discussão e o envolvimento em novas situações. Apesar das possibilidades emancipadoras e democratizantes das tecnologias, há sérios riscos a considerar em relação à apropriação desses meios tecnológicos para fins mercantis e propagandísticos, que ferem os princípios éticos veiculando a cursos massificados, de baixa qualidade, alienantes, impeditivos da formação profissional e cidadã. (KENSKI, s/d ) Novos papéis para professores e alunos são desejados no momento social em que nos encontramos. Como modalidade educativa, a EAD objetiva o pleno desenvolvimento do educando, preparando-o para o exercício da cidadania e qualificando-o para o trabalho, como expressam as diretrizes da educação nacional. A formação de professores, via EAD, pode ser feita com maior qualidade, desde que todos compreendam as necessidades de mudanças nas estruturas e na qualidade da educação. Considerar as mudanças não apenas em relação à fluência no uso e o conhecimento da lógica que permeia as mais novas tecnologias digitais, mas, também, o significado que o acesso à informação e as possibilidades de interação e comunicação trazem para a prática pedagógica (BRASIL, 2007). Concordamos com os Referenciais de Qualidade de EaD de Cursos de Graduação a Distância (2007) quando eles evidenciam que desenvolver cursos de formação de professores a distância, utilizando as mais novas possibilidades tecnológicas, com velhos conteúdos e práticas pedagógicas obsoletas é um desserviço à educação e à sociedade. É reforçar, ainda mais, o fosso que separa a preocupação com o oferecimento de educação de qualidade – base para o crescimento e desenvolvimento do país em uma era em que se privilegia o conhecimento - e a realidade educacional brasileira, com todas as suas dificuldades, atrasos e imperfeições (BRASIL, 2007). A educação a distância, nesse contexto, relaciona-se diretamente com o desenvolvimento de uma cultura tecnológica que promova a atuação dos profissionais em ambientes virtuais. Trata-se de estruturar interdisciplinares constituídas por educadores, profissionais de equipes design, programação e desenvolvimento de ambientes computacionais para EAD, com competência na criação, gerenciamento e uso desses ambientes. Segundo Almeida (1998), a revolução vivida, em nossa época, é marcada pela telemática, pela robótica e pelas autopistas da informação. O autor defende a idéia de que o professor deixe de lado o fatalismo e assuma a atitude do diálogo como a “nova cultura”, questionando-se, sempre, acerca dos objetivos com que utiliza a tecnologia na educação. Para que esse diálogo se torne possível é necessário que o professor tenha as competências que lhe permitam utilizar, de forma eficaz, as novas tecnologias. Esse professor precisa adquirir confiança nos recursos tecnológicos, para que possa aplicá-los ao currículo do curso quer seja presencial ou a distância. Em relação aos professores entrevistados observamos que eles têm um saber construído sobre o ser formador de professores. Em relação a EAD têm uma percepção sobre as necessidades de se consolidar uma nova postura para se fazer professor nessa modalidade de ensino. Eles percebem que essa nova postura gera novos paradigmas sobre a formação e os saberes docentes. A partir das vivências experienciadas por esses professores, acreditamos que eles passarão a conceber a EAD, sem estarem, necessariamente, estabelecendo comparações com a educação ofertada na modalidade presencial. Assim, eles assumirão uma identidade de professor profissional reflexivo para a educação a distância, ou seja, “um bom professor” A pesquisadora ousou definir o “bom professor” como aquele que tem como eixo de suas ações os saberes, o aprendizado, a pesquisa, os fazeres e as experiências e que, desse modo, torna-se o elemento imprescindível à transformação do aluno. Por isso, a formação desse professor não pode ser uma lista de aquisições lineares, cuja soma equivale ao todo. É necessário compreender a formação docente como um conjunto de tarefas complexas, que exija saberes experimentais, que valorize atitudes e forma para a globalidade do ofício de ensinar, significando mais do que a soma de competências múltiplas, construídas a partir de uma postura reflexiva. 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