PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA / Nº 492 / ANO XLV JANEIRO 2015 / MENSAL / €1,50 JORNADAS DO MAR 2014 MAR: UMA ONDA DE PROGRESSO EXERCÍCIO PRONTEX 14 pág. 6 NRP TRIDENTE OP ACTIVE ENDEAVOUR pág. 8 A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL DA MARINHA PORTUGUESA pág. 15 MENSAGEM DE NATAL E DE ANO NOVO DO ALMIRANTE CHEFE DO ESTADO-MAIOR DA ARMADA E AUTORIDADE MARÍTIMA NACIONAL Militares, Militarizados e Civis da Marinha, O Natal é uma festa de grande importância em Portugal, baseada na profunda tradição da nossa cultura cristã. O nascimento de Deus que se fez homem relembra-nos os valores alicerçados no amor ao próximo, com a valorização e o fortalecimento dos laços familiares, da amizade e da solidariedade em geral. Nesse sentido, o meu primeiro pensamento vai para todos os que são da Marinha e que, por razões de serviço, estão privados da celebração do Natal com os seus. Nesse pensamento englobo as suas famílias e aproveito para dirigir uma palavra de apreço muito especial a quem, na retaguarda, com serenidade e compreensão, apoia os que servem Portugal na Marinha. O ano de 2014 colocou-nos grandes dificuldades, que soubemos ultrapassar com esforço e dedicação e, assim, garantir o cumprimento da nossa missão. No âmbito das múltiplas tarefas que realizámos, gostaria de destacar a participação nas operações de manutenção de paz no Kosovo, no Afeganistão e no Mali, e a integração de um submarino na operação Active Endeavour, na luta contra o terrorismo. Incrementámos a cooperação com os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, enviando uma fragata ao Atlântico Sul para participar nos exercícios do tipo Express. Empenhámos os nossos meios no Mediterrâneo, no âmbito do controlo das fronteiras externas na União Europeia, no Atlântico Noroeste, no âmbito da Northwest Atlantic Fisheries Organization (NAFO) e, a pedido do Governo de Cabo Verde, enviámos uma fragata à Ilha do Fogo para prestar apoio humanitário. Diariamente patrulhámos as nossas águas, assegurámos a salvaguarda da vida humana no mar, contribuímos para a investigação e desenvolvimento e difundimos a nossa cultura. Demonstrámos, mais uma vez, a flexibilidade e a abrangência da Marinha e, principalmente, a elevada prontidão dos nossos meios. Por tudo o que fizemos, gostaria de afirmar que sinto um profundo orgulho em ser o vosso comandante. Em 2014 também se efetuaram grandes alterações legislativas, que originaram a revisão dos documentos fundamentais da Defesa Nacional, como é o caso da Lei da Defesa Nacional, das Leis Orgânicas e, recentemente, do Estatuto dos Militares das Forças Armadas. Posso garantir-vos que pugnei pela defesa dos superiores interesses da Marinha e, claro, das mulheres e homens que nela servem. No ano que vem irão manter-se as dificuldades inerentes às restrições financeiras que afetam todo o País, mas que, em conjunto, estou certo, vamos conseguir superar. Importa, portanto, olhar o futuro com esperança, porque durante o próximo ano irão começar a ser resolvidos alguns dos problemas da Marinha, como sejam: a substituição dos patrulhas da classe Cacine, a substituição das corvetas por NPO’s e ainda a instalação de um novo simulador de ação tática. Creio, assim, que os valores que cimentam a nossa instituição − a Disciplina, a Lealdade, a Honra, a Integridade e a Coragem − vão imperar, mantendo a coesão necessária para garantir “Uma Marinha pronta e credível para defender os interesses de Portugal no Mar!”. Termino esta mensagem fazendo votos para que o Ano Novo proporcione realização pessoal e profissional, enaltecendo a satisfação pelo dever cumprido e o orgulho em ser da Marinha. Um Santo Natal e Feliz 2015. Luís Manuel Fourneaux Macieira Fragoso Almirante REVISTA DA ARMADA | 492 SUMÁRIO 02 04 11 12 18 20 21 22 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 CC Mensagem de Natal e de Ano Novo do Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada e Autoridade Marítima Nacional EXERCÍCIO PRONTEX 14 Strategia 8 06 Academia de Marinha Escola Naval Fotografias Antigas, Inéditas ou Curiosas Entregas de Comando NRP Sagres em LEGO 08 O Ensino da Condução na Marinha NRP TRIDENTE OP ACTIVE ENDEAVOUR Aniversários NRP Baptista de Andrade Notícias Saibam Todos Vigia da História (70) Estórias (8) A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL DA MARINHA PORTUGUESA Novas Histórias da Botica (39) 15 Saúde para Todos (21) Desporto / Livros Quarto de Folga Notícias Pessoais / Convívios Símbolos Heráldicos Capa Jornadas do Mar 2014 Publicação Oficial da Marinha Periodicidade mensal Nº 492/ Ano XLV janeiro 2015 Revista anotada na ERC Depósito Legal nº 55737/92 ISSN 0870-9343 Diretor CALM Carlos Manuel Mina Henriques Chefe de Redação CMG Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira Redatora 1TEN TSN - COM Ana Alexandra G. de Brito Secretário de Redação SCH L Mário Jorge Almeida de Carvalho Desenho Gráfico ASS TEC DES Aida Cristina M.P. Faria Administração, Redação e Publicidade Revista da Armada - Edifício das Instalações Centrais da Marinha - Rua do Arsenal 1149-001 Lisboa - Portugal Telef: 21 321 76 50 Fax: 21 347 36 24 E-mail da Revista da Armada [email protected] [email protected] Paginação eletrónica e produção Instituto Hidrográfico Tiragem média mensal 4500 exemplares Preço de venda avulso: € 1,50 JANEIRO 2015 3 REVISTA DA ARMADA | 492 Stratεgia 8 ESTRATÉGIA DA UE PARA A SEGURANÇA MARÍTIMA INTRODUÇÃO ESTRATÉGIAS DE SEGURANÇA MARÍTIMA Conselho da União Europeia (UE) aprovou em 24 de junho de 2014 a Estratégia da União Europeia para a Segurança Marítima (abaixo designada pelo acrónimo EUESM ou, simplesmente, por Estratégia), a qual reconhece que o mar é uma valiosa fonte de crescimento e prosperidade para a UE e para os seus cidadãos. Alguns dados estatísticos evidenciam bem essa realidade: ● Mais de 70% das fronteiras externas da UE são marítimas, totalizando cerca de 70 000 km de linha de costa; ● As regiões marítimas representam cerca de 40% do PIB e da população da UE; ● Cerca de 3 a 5% do Produto Interno Bruto (PIB) europeu é gerado pelas indústrias e serviços do setor marítimo, não contando com o valor de matérias-primas como o petróleo, o gás ou o pescado; ● A UE possui, no total dos seus Estados Membros, a maior frota de navios mercantes do Mundo; ● Cerca de 90% do comércio externo da União e mais de 40% do comércio interno é transportado por via marítima; ● A UE é o 5° maior produtor e o 3° maior importador de peixe no Mundo. No entanto, os espaços marítimos são um ambiente cada vez mais sujeito a riscos e permeável a ameaças, como a proliferação de armamento, o terrorismo (que pode assumir a forma de ataques cibernéticos às redes ou aos sistemas de informação essenciais às atividades marítimas), a criminalidade organizada transnacional (manifestada nos tráficos de drogas, de armas e de seres humanos), a pirataria (que ameaça a disrupção de vias de transporte marítimo vitais), as ameaças ambientais, a sobre-exploração dos recursos do mar, etc. Nesse quadro, não é de estranhar o empenhamento crescente da UE em operações de segurança marítima, nomeadamente de combate à pirataria, na bacia da Somália (em que a UE está empenhada desde dezembro de 2008, por via da operação ATALANTA) e de controlo de fronteiras / combate à imigração ilegal / salvamento marítimo, no Mediterrâneo (em que a UE se vem empenhando desde 2005, através, entre outras, das operações GUANARTEME, HERA, HERMES, AENEAS, INDALO e TRITON). Foi, assim, com naturalidade que o Conselho Europeu anunciou em 26 de abril de 2010 a intenção de elaboração de uma “estratégia de segurança para o domínio marítimo global (…) no contexto da Política Externa e de Segurança Comum / Política Europeia de Segurança e Defesa”. Importa referir que os EUA já possuem uma estratégia de segurança marítima (intitulada The National Strategy for Maritime Security) desde setembro de 2005, a qual reconhece que a segurança do país depende da utilização segura dos oceanos. Este documento alinha todos os programas do governo americano relacionados com a segurança marítima, num esforço abrangente e coerente que envolve departamentos federais, agências estatais e entidades do setor privado. Entretanto, após o início dos trabalhos para a elaboração da EUESM, vários Estados Membros encetaram esforços no sentido da elaboração das suas próprias estratégias de segurança marítima, até como forma de influenciar o documento europeu. Por exemplo: a Espanha apresentou em 2013 a sua Estrategia de Seguridad Marítima Nacional, assinada pelo Presidente do Governo Mariano Rajoy, o que evidencia a importância dada a esta matéria; e o Reino Unido aprovou The UK National Strategy for Maritime Security em maio de 2014, com a chancela dos responsáveis das pastas dos Negócios Estrangeiros, dos Assuntos Internos, da Defesa e dos Transportes. A nível europeu, o processo viria a culminar em junho de 2014, com a apresentação da EUESM. Cabe aqui referir que, na UE (como normalmente acontece a nível nacional), existe uma separação entre os assuntos do mar e os de segurança e defesa – os primeiros decorrendo no âmbito da Política Marítima Integrada e os segundos da Política Comum de Segurança e Defesa. Ora a segurança marítima (além de ter implicações em muitas outras áreas) é uma matéria transversal a esses dois domínios, o que significa que este documento representa um esforço de compromisso e de articulação, procurando maximizar as sinergias entre ambas as políticas setoriais. Aliás, a própria Estratégia assume o seu alinhamento com a Política Marítima Integrada e com a Estratégia de Segurança Europeia. O Empenhamento da UE em operações de segurança marítima [à esquerda Fuzileiros Portugueses abordam embarcação suspeita de pirataria na operação ATALANTA em 2011; à direita operação da UE de combate à imigração ilegal no Mediterrâneo (Foto: AFP - Getty Images)] 4 JANEIRO 2015 REVISTA DA ARMADA | 492 por decreto – exigindo sobretudo respeito, confiança e transparência – não deixa de ser altamente positiva a ênfase colocada nesse ponto. Além disso, a EUESM defende que as Forças Armadas devem, em qualquer circunstância, desempenhar um papel estratégico no mar, sendo que no caso do nosso país isso é particularmente relevante, dado a Marinha Portuguesa – além da vertente militar – desempenhar funções de guarda costeira e integrar capacidades únicas no âmbito das ciências do mar. Relativamente ao segundo aspeto, o respeito pelas competências e direitos dos Estados Membros, a Estratégia é também bastante cuidadosa, ao apontar para o respeito integral pelas competências e pelos direitos de soberania e de jurisdição dos Estados Membros sobre as várias zonas marítimas, tal como decorre da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. A EUESM também se compromete ao respeito pelas políticas e pela legislação de cada Estado Membro. Apresentação da EUESM pela Comissária Maria Damanaki CONTEÚDO DA ESTRATÉGIA DA UE PARA A SEGURANÇA MARÍTIMA A EUESM começa por definir a segurança marítima, como sendo a situação no domínio marítimo global, caracterizada pela aplicação da lei internacional e da lei nacional, pela garantia da liberdade de navegação e pela proteção dos cidadãos, das infraestruturas, do transporte, do ambiente e dos recursos marinhos. O documento aborda, depois, os seus princípios orientadores, nomeadamente: aproximação trans-setorial (que remete para a cooperação entre todos os departamentos civis e militares com responsabilidades no mar), integridade funcional (que pressupõe a preservação das competências e dos direitos de soberania e de jurisdição dos Estados Membros sobre as várias zonas marítimas), respeito pelas regras e princípios (nomeadamente do direito internacional e, em especial, da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar) e multilateralismo marítimo (que remete para a cooperação com todos os parceiros e organizações internacionais, em particular com a ONU e a NATO). Seguidamente, a Estratégia elenca os interesses de segurança marítima da UE e dos Estados Membros, que se podem resumir em integridade territorial, preservação da paz, promoção da cooperação marítima internacional, proteção de infraestruturas marítimas críticas, liberdade de navegação, proteção dos interesses económicos no mar, conhecimento situacional marítimo, gestão efetiva das fronteiras marítimas da UE e segurança ambiental. Segue-se uma descrição dos riscos e das ameaças à segurança marítima europeia, para depois se descreverem as cinco principais áreas de implementação da EUESM, a saber: ação externa; conhecimento marítimo, vigilância e partilha de informação; desenvolvimento de capacidades; gestão do risco, proteção de infraestruturas marítimas críticas e resposta a crises; e pesquisa e inovação, educação e treino em segurança marítima. CONCLUSÃO Para concluir, gostaria de relevar que esta Estratégia – sendo um documento genérico – define, desde já, um novo rumo para a segurança marítima europeia, evidenciando um interesse crescente pelos assuntos relacionados com esta matéria e representando um esforço de concertação trans-setorial, essencial a um tópico tão abrangente como a segurança dos mares. Naturalmente, só o tempo permitirá perceber a relevância desta EUESM, sendo que um dos aspetos interessantes de acompanhar no futuro diz respeito à articulação entre a UE e a NATO em matéria de segurança marítima – assunto que abordarei no próximo número da Revista da Armada. BREVE APRECIAÇÃO Dado o espaço disponível, vou destacar apenas dois aspetos da EUESM, nomeadamente a articulação entre as esferas de atuação civil e militar e o respeito pelas competências e direitos dos Estados Membros Relativamente ao primeiro aspeto, o documento é bastante cuidadoso, reconhecendo as especificidades próprias de cada Estado e os diferentes modelos de imposição da lei nos espaços marítimos: através de guardas costeiras, usando as marinhas ou com uma partilha de responsabilidades entre autoridades civis e militares. Independentemente do modelo, a Estratégia enfatiza a necessidade de melhorar a cooperação entre todos os departamentos civis e militares com responsabilidades no mar, sendo que o documento elenca especificamente: agências responsáveis pela aplicação da lei, agências de controlo de fronteiras, inspeções de pescas, autoridades ambientais, administrações marítimas, agências de pesquisa e inovação, marinhas e outras forças marítimas, guardas costeiras e agências de informações. Apesar da cooperação interdepartamental não se fazer Sardinha Monteiro CFR JANEIRO 2015 5 REVISTA DA ARMADA | 492 PRONTEX 14 Foto André Silva A Marinha Portuguesa realizou entre 3 e 14 de novembro o exercício naval PRONTEX 14, cujo objetivo central foi o de treinar e aperfeiçoar as capacidades da Força Naval Portuguesa (FNP) e de um Estado-Maior embarcado na condução de operações navais. O exercício permitiu desenvolver capacidades no âmbito das tradicionais disciplinas da guerra no mar, bem como em operações de interdição marítima, manobras e evoluções, reabastecimento no mar e operação com aeronaves. O PRONTEX 14 contou com a participação, pela primeira vez, de duas unidades navais da Marinha Real de Marrocos, no âmbito das relações bilaterais com este país, que integraram a Força Tarefa constituída para o efeito. O exercício foi ainda realizado em articulação com o plano de treino operacional do NRP Álvares Cabral. O PRONTEX 14 decorreu nas áreas de exercícios ao largo de Lisboa e Setúbal. O Comandante Naval, VALM Pereira da Cunha, foi a entidade que conduziu o exercício, tendo a FNP sido comandada pelo CMG 6 JANEIRO 2015 Gonçalves Alexandre, que embarcou, juntamente com o seu Estado-Maior, no NRP Bartolomeu Dias. O exercício PRONTEX 14 contou com a participação de dez navios de superfície e um submarino1. A Bartolomeu Dias embarcou ainda um destacamento de helicópteros, o “Hooters”. Nas diversas unidades encontravam-se embarcados pelotões de abordagem e destacamentos de mergulhadores de combate, com as capacidades de projeção de força sempre disponíveis. A componente de forças era assim constituída por um efetivo somado de mais de um milhar de militares, que treinaram por forma a manter e melhorar os padrões de prontidão operacional estabelecidos. O exercício decorreu em duas fases distintas: o treino de porto (“Inport training”) e uma fase de mar (“Sea phase”). O treino de porto decorreu na BNL e teve como objetivo testar e aperfeiçoar a interoperabilidade entre as unidades nacionais e marroquinas. Durante este período decorreram reuniões setoriais com vista à harmonização de doutrina e à implemen- tação de procedimentos para a fase de mar. Foram realizados, ademais, treinos em simulador utilizando as capacidades dos diversos polos de formação da Marinha. A simulação efetiva a nível tático das operações, assim como de navegação tática, de limitação de avarias, de simulação médica e de reabastecimento no mar, foi, nesta primeira fase, bem sucedida, e ajudou a preparar os exercícios a realizar na fase seguinte. Foram também testados todos os meios de comunicações e todos os sistemas de informação que viriam a ser posteriormente utilizados. Já na fase de mar, o exercício baseouse num programa seriado intenso e muito exigente, sob condições meteorológicas adversas, praticamente durante toda a semana. Foram contempladas as áreas clássicas da guerra no mar: aérea, superfície e subsuperfície. Foi ainda dado especial enfoque à vertente da interdição marítima, com vistorias e abordagens a navios suspeitos, e à manutenção de uma zona de exclusão marítima. No que REVISTA DA ARMADA | 492 concerne às novas ameaças, nomeadamente à ameaça assimétrica, foi testada a reação da força a navegar em águas restritas sob ataque de pequenas embarcações a manobrar a alta velocidade, bem como sob ataque de meios aéreos a operar a baixa altitude. Para o treino e desenvolvimento das capacidades dos oficiais de quarto à ponte, foi dada importância especial ao treino individual de marinharia e navegação, nomeadamente navegação em águas restritas, navegação em força, aos exercícios de manobras e evoluções e de manobras de fundear e suspender coordenado. Houve ainda oportunidade para a realização de reabastecimento no mar com o reabastecedor de esquadra NRP Bérrio, para treino de sustentabilidade de uma Força Naval no mar. A interoperabilidade entre os meios das duas Marinhas foi igualmente um dos objetivos do exercício, tendo decorrido de forma harmoniosa, sendo que, na fase final, a integração destes navios era efetiva. Tendo sido a primeira vez que unidades portuguesas operaram com unidades marroquinas numa Força Tarefa, o exercício PRONTEX 14 permitiu testar, com sucesso, a interoperabilidade entre as duas Marinhas. O entusiasmo e aderência das guarnições marroquinas foram notórios, tendo contribuído para uma experiência positiva entre os dois países geograficamente próximos. As oportunidades de treino do exercício foram exploradas ao máximo e o desempenho global das unidades envolvidas foi bastante positivo, pelo que a missão foi cumprida com sucesso. Foram retirados diversos ensinamentos e colhidas ex- periências que seguramente se revelarão importantes no adestramento da esquadra em futuros empenhamentos. Colaboração do CTG 443.20 Notas NRP Bartolomeu Dias, NRP Vasco da Gama, NRP Álvares Cabral, NRP Bérrio, NRP Jacinto Cândido, NRP Afonso Cerqueira, NRP Cassiopeia, NRP Hidra, RNM Sultan Moulay Ismail, RNM Allal Ben Abdellah e NRP Tridente. 1 JANEIRO 2015 7 REVISTA DA ARMADA | 492 NRP TRIDENTE OPERAÇÃO ACTIVE ENDEAVOUR " (...) Vós, ò novo temor da Maura lança, Maravilha fatal da nossa idade, Dada ao mundo por Deus, que todo o mande, Para do mundo a Deus dar parte grande." Lusíadas Canto I 6ª estrofe PHOTEX entre submarinos que participaram no exercício Noble Justification 14 A tensão no cais era palpável, os preparativos para a largada pareciam impor um passo lento ao ponteiro dos minutos. Findos os preparativos da missão que decorreram durante os meses de agosto e setembro, aproximava-se a hora da largada do NRP Tridente para mais uma missão em águas mediterrânicas. Incumbido de cumprir os compromissos internacionais perante a NATO através da participação na Operação ACTIVE ENDEAVOUR (OAE), missão balizada pelo 5º artigo da Aliança Atlântica, largou o Tridente, do cais 6 norte da BNL, pronto para mais de um mês de intenso esforço e concentração. Ainda antes de tomar em mãos a missão que se seguia, cabiam ainda algumas tarefas em águas Lusas: Provas de mar para calibração do odómetro, na sequência da recente docagem, e treino ASW com o NRP Arpão. Se bem que as provas ao odómetro tivessem contornos exigentes do ponto de vista do cumprimento dos requisitos técnicos afetos às pernadas, que teriam que ser feitas a diversas velocidades e cotas onde o tráfego marítimo era um fator a 8 JANEIRO 2015 ter em conta, o “mano a mano” com o submarino irmão era um desafio ainda maior. Maior porque os exercícios ASW previstos tinham como objetivo, detetar e identificar eventuais ruídos anómalos provenientes das intervenções realizadas na docagem, e que caso fossem detetados poderiam colocar em causa uma das características mais importantes num submarino, a sua furtividade. Aferida a boa condição do odómetro, regressou-se por breves horas à BNL para desmontagem do equipamento de aferição e desembarque do pessoal técnico da DN-DS e do estaleiro alemão. No mar esperava-nos o Arpão, pronto a dificultar a “caça”, consciente das invulgares capacidades da guarnição do Tridente, vorazes predadores das profundezas. O duelo cedo se provou desigual e não tardaram a ecoar os já tradicionais “Oscar, Oscar, Whiskey” provenientes do Tridente. Estávamos prontos! Assim seguimos, confiantes, rumo a sul e em patrulha. Cabia ao navio a vigilância das nossas águas entre Sines e o cabo de São Vicente, assim como do importan- te espaço das aproximações atlânticas ao estreito de Gibraltar, zona de confluência de importantíssimas rotas marítimas e conhecidas rotas de tráfego de ilícitos. Apertados em tempo, e já sem contactos de interesse a relatar, seguiu o navio em direção ao estreito, difícil passagem dominada por fortes correntes que só um cuidadoso estudo e atenta navegação permitem concluir em segurança. Aproveitando as correntes de superfície provocadas pela água atlântica de entrada no mediterrâneo, o Tridente fez a passagem à cota periscópica e em cerca de 3 horas estávamos já no lado Leste do estreito. Um tempo recorde alcançado fruto da experiência e conhecimento detalhado do local e meio. Feita a passagem, aproximava-se a troca de comando para o COMSUBNATO e o início da nossa participação na operação ACTIVE ENDEAVOUR (OAE), combatendo a ameaça terrorista na sua fonte de financiamento: narcotráfico, imigração ilegal, contrabando e tráfico de armas. Não sendo apropriado divulgar a área de operações, importa apenas referir que esta era REVISTA DA ARMADA | 492 Guarnição do NRP Tridente em Cartagena vastíssima e que o contexto geográfico privilegiava a operação de um submarino: operações de vigilância encobertas em meio litorâneo e reconhecimento costeiro. Aqui valeram as modernas facilidades de comunicação por satélite, que permitiram a passagem de informação em tempo real para o COMSUBNATO, garantindo um enorme fluxo de informação de qualidade (registos fotográficos, recolha de dados eletromagnéticos, padrões de comportamento da navegação mercante, civil e militar, entre outros) e uma ímpar capacidade de reação por parte desse comando da NATO. Estas facilidades foram de tal forma relevantes que o HQ MARCOM sentiu necessidade de reconhecer pessoalmente o contributo do Tridente para o esclarecimento do panorama de superfície da NATO, assim como para o sucesso da operação durante esse período, considerando terem sido atingidos novos padrões para a participação de submarinos na OAE. Foi de salientar ainda a boa coordenação com os meios de superfície que constituíam o Standing NATO Maritime Group 2 (SNMG 2), em particular aquan- do da deteção e seguimento dos contactos de interesse, assim como da passagem do panorama aéreo e de superfície. Contacto a contacto, era feita uma passagem formal de responsabilidade para as unidades navais que constituíam a força de superfície do SNMG2 que os recebiam, acompanhavam e interrogavam. Quando justificado e superiormente autorizado este procedimento culminava em abordagem, com o objetivo de recolher informação mais pormenorizada relativa aos contactos de interesse. Chegado o último dia de patrulha e com ele a merecida pausa em Cartagena, cidade de submarinistas, foi tempo de ultimar os preparativos para a segunda fase da missão: o exercício NOBLE JUSTIFICATION. Às reuniões de coordenação, acerto da fita de tempo prevista para as séries, verificação das áreas de navegação atribuídas, envio/receção das tabelas de ordens, somaram-se as típicas atividades de receber notícias de casa, repor horas de sono e desenferrujar o castelhano para alguns, “portunhol” para outros. 3 dias de plena atividade! O dia da partida fica marcado pela interessante saída coordenada de 3 submarinos, todos de construção alemã, o NRP Tridente, o FGS U33 (alemão) e o HS Poseidon (grego), tendo-se obtido um singular registo fotográfico com o porto de Cartagena em pano de fundo. Iniciouse assim o maior exercício aeronaval NATO do ano. O NOBLE JUSTIFICATION era dividido em duas fases distintas de mar. Primeiramente, com um programa seriado para familiarização e integração da força e, por fim, um “jogo de guerra” que explorava um cenário hipotético de uma nação com interesses económicos num outro Estado soberano e que apoiava um grupo terrorista oriundo de um Estado não-alinhado na invasão do território soberano deste terceiro Estado. Participaram neste exercício duas forças navais permanentes da NATO, os SNMG2 e Standing NATO Mine Countermeasures Group 2 (SNMCMG2), para além de meios navais de 10 países aliados (Portugal, Espanha, Canadá, França, Itália, Grécia, Reino Unido, Alemanha, Estados Unidos da América e Turquia) num total de 25 navios de superfície (entre os quais 1 porta-aviões, um navio polivalente, dois reabastecedores, um contratorpedeiro e 10 fragatas com helicópteros orgânicos), 5 submarinos (dos quais 1 nuclear e 4 convencionais), 10 aviões de patrulha marítima, unidades de forças especiais e de mergulhadores. Este exercício serviu três propósitos principais: certificar o Comando espanhol do SNMG2, integrar e treinar os meios navais à disposição desse Comando, assim como os meios NATO integrantes do exercício, e demonstrar a capacidade de reação da Aliança face às violações do direito internacional cometidas contra qualquer um dos seus membros, num cenário de rápida escalada de tensão, sempre em ambiente marítimo complexo. A primeira fase de mar proporcionou ao Tridente uma excelente oportunidade de treino antissubmarino, opondo-o por diversas vezes aos outros 4 submarinos, constatando-se que entre os presentes o único participante com capacidade para se bater “mano-a-mano” foi o U33. Em todas as séries o saldo foi muito positivo para esta unidade, confirmaJANEIRO 2015 9 REVISTA DA ARMADA | 492 Simulação de evacuação de um ferido Navio mercante na área de operações do pelos avaliadores NATO do exercício, que, análise após análise, revelava que o Tridente raramente foi detetado e nunca foi atacado com sucesso, fruto das suas excelentes características acústicas, de uma habilidosa condução da plataforma e uma experiente equipa de operações aos comandos de um excelente sistema de combate. No campo dos duelos entre aviões de patrulha marítima e submarinos foi também proveitosa esta primeira fase, demonstrando-se que em operações litorais, com o submarino à cota periscópica, estas aeronaves continuam a constituir uma poderosa ameaça para a arma submarina. Curiosamente, o meio aéreo que maior sucesso obteve frente ao Tridente foi o P3 CUP+ da Força Aérea Portuguesa. Aproveitou-se ainda esta fase do exercício para treinar a evacuação de um ferido de bordo por 10 JANEIRO 2015 helicóptero, em colaboração com a fragata HMCS Toronto da Marinha Canadiana e um dos seus robustos helicópteros Sea King, tendo-se dado mais um passo a caminho da manutenção de um importante padrão operacional. A terceira e última fase do exercício viu o nosso navio empregue em várias áreas para as quais está vocacionado: proteção avançada de uma força naval, recolha de informações junto ao litoral, ações de ataque seletivo a alvos em terra, com duas simulações de disparo de mísseis Sub-Harpoon Block II bem-sucedidas, negação do uso do mar, busca e interceção de contactos de interesse, entre outros. Infelizmente, no apogeu da escalada de tensões, o comandante da força naval privilegiou o empenhamento de meios de superfície para a neutralização da força opositora, relegando os seus submarinos à função de cobertura da retaguarda da força… Talvez receio da boa prestação do Tridente. Terminado com sucesso mais um exercício internacional, e já navegando em águas a sul do Algarve, encontrou-se esta unidade com um submarino de ataque da Marinha Francesa, o FS Saphir, para um PASSEX dedicado à luta antissubmarina. Muito embora se verifique que os submarinos nucleares são geralmente mais ruidosos que os convencionais, foi claro para a equipa de operações do Tridente que um submarino é sempre muito difícil de detetar, identificar e seguir, pelo que as oportunidades para interagir com outros submarinos deverão ser sempre privilegiadas, revelando-se sempre uma excelente oportunidade de treino. Já próximo de casa coube-nos ainda a tarefa de proporcionar treino ao NRP Álvares Cabral, no âmbito do seu plano de treino operacional, contribuindo assim para a manutenção dos padrões da esquadra e cultivando as ligações com as unidades de superfície nesta importante fase do seu ciclo operacional. Após 37 dias de missão e 3.831 milhas náuticas percorridas, das quais 3.171 percorridas em imersão, navegámos o já tão nosso conhecido e saudoso Tejo, com o sentido de dever cumprido. Colaboração do COMANDO DO NRP TRIDENTE REVISTA DA ARMADA | 492 ACADEMIA DE MARINHA PERSPETIVAS DO MAR PORTUGUÊS E m 11, 18 e 25 de novembro, decorreu na Academia de Marinha um ciclo de palestras denominado “Perspetivas do Mar Português”, visando a abordagem, por renomados especialistas, das vertentes geográfica, económica e biológica do território marítimo de Portugal. Com este ciclo, disse o Presidente da Academia de Marinha, pretende-se dar a conhecer aos Portugueses “este enorme espaço ainda pouco conhecido – e que certamente virá a ser muito ampliado por decisão da Organização das Nações Unidas – para que o possam considerar sua pertença, e como tal o utilizem.” Nas suas palavras introdutórias, o almirante Nuno Vieira Matias sublinhou que “cabe a nós, cidadãos de Portugal, zelar pelo que é legitimamente proclamado como nosso pela ONU, começando, para isso, por conhecer bem esse mar, um verdadeiro oceano de oportunidades, para depois o podermos aproveitar em favor do interesse nacional”, e alertou para a possibilidade real de países mais fortes se quererem apropriar dos vastos recursos de uma área que consideram “desproporcionada face à dimensão de um pequeno país”. A tarefa dos conferencistas, enfatizou o Presidente, “assume um papel valiosíssimo no âmbito da promoção do saber no seio desta Academia, onde cada um de nós, depois, assumirá o papel de mensageiro, retransmitindo informação eivada do gosto inerente àquilo que se conhece”. A terminar, agradeceu à Presidente da Classe de Artes, Letras e Ciências, professora doutora Raquel Soeiro de Brito, que organizou o ciclo, e aos conferencistas, que “deram corpo às perspectivas do mar português, o mar sem fim”. Na primeira comunicação, “Perspetiva geográfica do Mar Português”, o académico Bessa Pacheco salientou que a localização geográfica de Portugal, conjugada com o seu passado histórico, lhe dá uma identidade marítima de relevância que é fonte de inspiração para a utilização e exploração sustentada dos seus recursos. Comparou dimensões, profundidades e orografia dos diversos oceanos, caracterizou os tipos de espaços marítimos – desde as águas interiores até à plataforma continental, e referiu as questões de soberania e jurisdição que se lhes aplicam à luz do direito marítimo internacional. Evidenciou a extraordinária importância da ZEE e da plataforma continental para o nosso país face à dimensão do território, falou das áreas marítimas protegidas e ainda das regiões de busca e salvamento marítimo. Relativamente à orografia dos fundos marinhos, o comandante Bessa Pacheco deu exemplos de canhões, montes submarinos, bancos, fontes hidrotermais e de misteriosos, porque ainda não explicados, “ovos estrelados”. A valorização do mar português, disse, “é um processo fundamental para influenciar o retorno de Portugal ao mar, que se idealiza como um factor benéfico de diferenciação na vida nacional e perante a comunidade internacional”, salientando que a “complexidade e variedade dos fenómenos oceânicos e das acti- vidades marítimas obrigam à sua análise sectorial, mas que posteriormente devem ser tratados de uma forma holística”. Na segunda comunicação, “Perspetiva económica do Mar Português”, o doutor Nuno Lourenço disse que a Estratégia Nacional para o Mar 2013-2020 passa pela oportunidade de aproveitar o potencial de desenvolvimento tecnológico dos sistemas de observação e monitorização do oceano, pela aquicultura offshore e pela biotecnologia azul. “As potencialidades tecnológicas do país encontrarão diferentes oportunidades de concretização”, referiu o especialista em ciências marinhas, que acrescentou: “É necessário enquadrar os principais marcos da política marítima internacional, a narrativa dos cenários e as potencialidades tecnológicas e de desenvolvimento associadas aos sectores abordados.” No final, o doutor Nuno Lourenço disse que “os cenários considerados implicam esforços acrescidos de cooperação e proximidade para as empresas de base tecnológica, por forma a permitir a identificação clara de oportunidades e promover desenvolvimentos concretos das necessidades específicas de investigação e produção. A sua consumação terá de estar ancorada na capacitação de uma força de trabalho especializada e procurando o objectivo de exploração de mercados internacionais que sustentem uma escala comercial aos produtos e serviços desenvolvidos.” Na terceira comunicação, “Perspetiva biológica do Mar Português”, a doutora Ana Hilário começou por afirmar que “o mar profundo representa a última fronteira do conhecimento do planeta e o seu estudo tem quebrado alguns dos maiores paradigmas das ciências biológicas”. Os fundos oceânicos apresentam uma enorme heterogeneidade de habitats, albergam uma extraordinária biodiversidade e importantes recursos vivos, minerais e energéticos, acrescentou a investigadora. Portugal, com uma vasta ZEE da qual grande parte é mar profundo com uma enorme variedade de habitats, está numa posição privilegiada para desenvolver investigação neste domínio. Tal circunstância reflete-se no número de descobertas e estudos realizados na ZEE portuguesa, bem como na posição cimeira que Portugal ocupa no ranking de países com mais publicações nesta área de investigação, disse a oradora. Fundamental para o sucesso da investigação portuguesa neste domínio, tem sido a oportunidade de utilizar os navios oceanográficos da Marinha, dispondo em simultâneo de um ROV capaz de alcançar os 6 mil metros, bem como a crescente colaboração com áreas de investigação tecnológica. A terminar, a doutora Ana Hilário referiu que “a biologia em Portugal está pronta para desenvolver trabalhos de manipulação e experimentação in situ que podem trazer respostas locais e globais para questões relacionadas com a exploração sustentável dos recursos do mar profundo, da conservação e da recuperação de habitats”. Colaboração da ACADEMIA DE MARINHA JANEIRO 2015 11 REVISTA DA ARMADA | 492 ESCOLA NAVAL JORNADAS DO MAR IX EDIÇÃO D ecorreu na Escola Naval, entre 11 e 14 de novembro, a IX edição das Jornadas do Mar, subordinada ao tema “Mar: Uma onda de progresso”. Desde 1998, de dois em dois anos, as Jornadas do Mar têm-se constituído na configuração de um colóquio onde são apresentados trabalhos realizados pelos estudantes em torno dos saberes relacionados com o Mar, num ambiente de convívio saudável que conjuga o estudo com os aspetos lúdicos, numa experiência ímpar e única na formação do estudante universitário. O objetivo principal deste colóquio é o de promover o estudo e a reflexão sobre o Mar, entendido este como a via privilegiada de sustentação do desenvolvimento de Portugal, destacando ainda o seu papel no passado e no presente e perspetivando a sua utilização no futuro. Dar a conhecer o Mar como o maior potencial de afirmação do país é um desiderato importante das Jornadas. As Jornadas do Mar têm-se afirmado como uma imagem de marca da Escola Naval que, proporcionando a convivência entre os alunos de diferentes instituições do Ensino Superior e personalidades ligadas às várias áreas em debate, pretendem incentivar as novas gerações para as questões relacionadas com o Mar, nas suas diversas vertentes. Nas Jornadas do Mar 2014 foram considerados todos os trabalhos tendo o Mar como objeto de estudo, abrangendo os seguintes domínios do conhecimento: ● Matemática, Modelação e Engenharia 12 JANEIRO 2015 ● Geografia, Oceanografia, Ambiente e Ciências Naturais e Literatura ● Economia e Gestão ● Relações Internacionais, Direito e Estratégia ● Sociologia e Comportamento Organizacional ● Tecnologias da Informação e Comunicação ● Ciências Militares Com o tema “Mar: uma onda de progresso” procurou-se contribuir para que a sociedade portuguesa valorize cada vez mais o Mar, nomeadamente no que concerne aos seguintes aspetos: ● A importância do mar no mundo globalizado e a privilegiada situação geográfica de Portugal que permitirá ao país beneficiar das vantagens do seu centralismo atlântico, no que concerne, entre outros aspetos, ao desenvolvimento do sistema marítimo-portuário designadamente através da criação de uma cadeia logística que reforce as potencialidades do país no comércio internacional como plataforma de distribuição à escala global; ● A utilidade do Mar para Portugal como um fator de competitividade e valorização do país, sendo que para isso se torna importante promover o desenvolvimento sustentável das atividades económicas associadas, bem como o investimento na investigação científica nesta área; ● A riqueza que o país pode vir a obter, caso saiba adotar uma estratégia coerente para beneficiar do acréscimo enorme de recursos marinhos que ficarão à disposição de Portugal, caso as Nações Uni● História das aceitem a proposta nacional para a extensão da nossa Plataforma Continental. O espaço marítimo sob soberania ou jurisdição nacional será aumentado em cerca de 2 milhões de km2, ou seja, um acréscimo de superfície correspondente a 22 vezes o território nacional; ● A importância da segurança no nosso Mar, uma vez que pelas águas jurisdicionais portuguesas passa 53% do comércio europeu e 70% das nossas importações. A totalidade do petróleo e quase 2/3 do gás que consumimos utiliza rotas marítimas, relevando bem que a segurança energética nacional depende em absoluto da segurança no Mar. ● À escala global, a importância estratégica e o papel do mar como meio importante de comunicação, de exploração de recursos e de potencial fonte geradora de conflitos devido à luta, quer pelos espaços, quer pelos recursos. As jornadas tiveram o seu início com uma sessão solene, presidida pelo Comandante da Escola Naval, Contra-almirante Bastos Ribeiro. Na sua alocução, o comandante da Escola Naval enalteceu o interesse e o apoio que merecem estas Jornadas, as quais têm granjeado ao longo das suas edições boa recetividade e prestígio junto da comunidade universitária, apelando ao estudo e reflexão sobre a importância do Mar através de uma partilha de saberes e valores entre diferentes instituições de ensino superior nacionais e estrangeiras. Realçou ainda que para usar o mar e protegê-lo, em prol de um crescimento económico sustentado, é preciso conhecê-lo, sendo certo que as Jornadas do Mar consubstanciam um importante contributo para este último desiderato. Seguiu-se a apresentação de boas vindas a todos os participantes por parte do aluno mais antigo, cadete Murta Cunha, e uma conferência de abertura proferida pelo VALM Silva Ribeiro, subordinada ao tema “A epistemologia dos estudos marítimos”. Na edição deste ano, foram apresentados 58 trabalhos, quer individuais quer coletivos, divididos por dois níveis, licenciatura/mestrado e doutoramento, bem como pelas 8 áreas do conhecimento pré-definidas. Os 64 autores participantes eram oriundos de 22 instituições de ensino nacionais e internacionais, registando-se as participações de um estudante da Swansea University (País de Gales) e de alunos da Escola Naval brasileira. Os trabalhos, analisados e apreciados pela Comissão Científica, foram apresentados em 8 sessões plenárias, com sessões simultâneas durante os quatro dias do evento, presididas por professores universitários e outras personalidades, civis e militares, ligados às áreas em debate. Os membros da Comissão Científica, por áreas, selecionaram, analisaram e avaliaram o numeroso conjunto dos trabalhos apresentados, tendo atribuído 9 prémios (individuais e coletivos) e 10 menções honrosas. Conforme ocorreu na edição anterior, prevê-se que nos inícios de 2015 os trabalhos estejam disponíveis num livro de atas, em formato tradicional e também digital. À semelhança do que ocorreu em jornadas anteriores, numa das tardes teve lugar uma mesa redonda, desta vez subordinada ao tema “Os desafios da exploração e produção em águas ultra profundas”, realizada pela GALP, que despertou grande interesse em todos os presentes. Ainda integrado nas jornadas, com o propósito de intensificar o convívio entre os jovens participantes, foi cumprido um programa sociocultural que incluiu um concerto da Banda da Armada, bem como visitas ao museu escolar e ao simulador de navegação, da Escola Naval, para além da visita a um dos submarinos da classe Tridente. Durante o tempo em que decorreram as jornadas a Escola Naval proporcionou alojamento a 12 participantes. A meio da semana houve um jantar convívio nas instalações do Instituto de Ação Social das Forças Armadas, que contou com a presença de alunos participantes, membros das Comissões Científica e Executiva, professores que participaram Foto 1SAR FZ Horta Pereira REVISTA DA ARMADA | 492 no evento, representantes das instituições patrocinadoras e apoiantes, bem como outros convidados envolvidos na organização das Jornadas. Após quatro dias de intensa atividade, as Jornadas do Mar 2014 encerraram no dia 14 de novembro, numa cerimónia que coincidiu com a abertura solene do ano letivo 2014/2015 da Escola Naval, sob a presidência do Almirante CEMA/AMN, tendo contado com a presença do Secretário de Estado do Ensino Superior. Cumpridas as formalidades inerentes à abertura do ano letivo, o Presidente da Comissão Executiva das Jornadas do Mar 2014, Contra-almirante Henrique Lila Morgado, fez um sucinto balanço das Jornadas, terminando com o desejo que o contributo prestado à causa do Mar pelo colóquio “Mar: uma onda de progresso” possa ter cumprido os objetivos desejados, concorrendo para que, à semelhança do que aconteceu no passado, em que o Mar sustentou o crescimento de uma cultura e de um ideal, ainda hoje reconhecidos em todo o mundo, o nosso Mar seja um real desígnio nacional, contribuindo, assim, para que esta juventude e as gerações vindouras possam surfar a onda do progresso rumo a um futuro melhor. Seguiu-se a entrega de prémios aos melhores trabalhos de cada área temática, tendo a cerimónia terminado com o hino nacional cantado por todos os presentes. A Escola Naval espera com mais esta edição ter conseguido reforçar o interesse para os diversos temas ligados ao Mar, contribuindo assim para que cada vez seja mais e melhor conhecido, porque a soberania do conhecimento é o início do caminho rumo ao desenvolvimento que o Mar nos oferece. JANEIRO 2015 13 REVISTA DA ARMADA | 492 PRÉMIOS Cognitive Radio Implementation for Broadband Maritime Communications Mestrado - 2TEN EN-AEL Germano Gonçalves Capela - Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa Aparato para medição do espectro de ondulação do tanque do laboratório de Arquitectura Naval Mestrado (Menção Honrosa) - ASPOF EN-MEC Alexandre da Silva Tacanho - Escola Naval Portuguese Navy Submariners effort index analysis using superquantile regression Doutoramento - 1TEN M Sofia Miranda - Naval Postgraduate School Drinking water microbiological quality survey in the District of Coimbra from 2004 to 2011 Mestrado - Tânia Alexandrina Ribeiro Costa - Universidade de Aveiro The Impact of a Warmer Climate on the Global Coastal Low-Level Wind Jets Doutoramento - Daniela Catarina André Lima - Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa A pesca da sardinha em Peniche (1900-1950) Mestrado - Jorge Russo - Universidade Aberta Vida e Obra do Comandante Abel Fontoura da Costa Mestrado (Menção Honrosa) - Joana Canas Costa - Escola Naval "A Occidental Praia Lusitana": A Vilegiatura Balnear na ação da sociedade propaganda de Portugal (1906-1911) Mestrado (Menção Honrosa) - Pedro Cerdeira - Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa A companhia colonial de navegação e o transporte de emigrantes no pós II Guerra Mundial Doutoramento - Yvette dos Santos - Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa Portos e ancoradouros do litoral Sintra-Cascais. Da Antiguidade à Idade Moderna (I) Doutoramento (Menção Honrosa) - Marco Oliveira Borges - Universidade de Lisboa Economia do Mar: O Amanhã Português? Mestrado - Ana Lúcia B. Oliveira / Joana Filipa L. Luís / Francisco Alexandre P. Pires / Telma Filipa M. Peixoto - ISCPSI Análise dos modelos de "governance" e práticas dos portos Portugueses - "dar lugar" à Competitividade e inovação Mestrado (Menção Honrosa) - ASPOF AN Ana Filipa Correia Pereira - Escola Naval Uma onda de progresso num mar de incertezas. A gestão dos riscos e a responsabilidade das entidades públicas na proteção da Orla Costeira. Mestrado - João Manuel Andrade Nunes - Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa A grandeza brasileira à luz de suas águas: O Poder Naval na formação do caráter e desenvolvimento do Brasil Mestrado (Menção Honrosa) - Arthur Janeiro Campos Nuñez / Arthur Hippler Barcellos / Odilon Lugão Monteiro - Escola Naval do Brasil Domínio Público Marítimo - Conceitos, evolução histórica e o seu papel na protecção dos recursos costeiros e estuarinos. Doutoramento (Menção Honrosa) - Marco António Gameiro Antunes - Universidade de Aveiro O conflito trabalho-família e os militares da Marinha: serão o ambiente organizacional e suporte do líder determinantes nesta relação?” Mestrado - 1TEN TSN-QUI Sandra Patrícia Veigas Campaniço - Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas Novos Paradigmas de Gestão de Espectro e a Introdução de Radios Cognitivos na Marinha Mestrado (Menção Honrosa) - ASPOF EN-AEL Tiago Ventura Viegas - Escola Naval Sistemas Inteligentes de Suporte ao Conhecimento Situacional Marítimo Baseado em Veículos Aéreos não Tripulados Doutoramento - CTEN EN-AEL Mário Rui Monteiro Marques - Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa Performance Analysis of an alternative to trellis coded modulation for waveforms transmitted over a channel with pulse-noise interference. Doutoramento (Menção Honrosa) - CTEN EN-AEL Mário Rui Monteiro Marques - Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa Colaboração da ESCOLA NAvAL/COMISSãO ExECuTIvA DAS JM2014 14 JANEIRO 2015 REVISTA DA ARMADA | 492 A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL DA MARINHA PORTUGUESA (1833-1875) INTRODUÇÃO Na segunda metade do Século XIX a Armada Portuguesa era uma sombra daquilo que tinha sido algumas décadas antes, fruto da ruína económica trazida pelas Invasões Francesas, pela perda do comércio do Brasil e pelas convulsões políticas e sociais que se verificaram, sobretudo, nas décadas de 1820 e 1830. Com a indústria naval a refletir a crise que flagelava todo o país, as inovações técnicas resultantes da Revolução Industrial demoraram algum tempo a chegar à Esquadra. Veremos, no presente artigo, como o nosso país ultrapassou parte do atraso tecnológico que sofrera em relação às marinhas dos seus congéneres europeus. NOVAS TECNOLOGIAS O VAPOR E A CONSTRUÇÃO EM FERRO As três primeiras décadas do século XIX são tecnologicamente marcadas pela aplicação da propulsão a vapor aos transportes marítimos e terrestres. Os primeiros navios a vapor empregam rodas de pás laterais na sua propulsão, com o hélice a surgir pouco depois. Apesar do pioneirismo britânico na Revolução Industrial, foi um engenheiro americano, Robert Fulton, quem, em 1803, aplicou pela primeira vez o vapor à propulsão de um veículo aquático. E é nos E.U.A. que, em 1811, surge o primeiro steamer de utilização regular. Pouco tempo depois, o uso de vapores generaliza-se, quer para funções de reboque quer de transporte, pois o facto de poderem manobrar independentemente de ventos e correntes tornava-os mais fiáveis em situações meteorológicas adversas ou de manobra em águas costeiras ou restritas, apesar de ainda não atingirem as mesmas velocidades obtidas pelos navios de vela. Vapor de rodas britânico “Liverpool”, gravura de Thomas Fairland, 1838, Universidade de Toronto [http://www.victorianweb.org/technology/ships/44.html] A aplicação do vapor aos navios de combate começa com as corvetas de propulsão mista, surgindo a primeira em Inglaterra – HMS “Columbine” –, em 1827. A França segue-a de perto, dois anos depois. Já em relação à introdução do hélice, a Royal Navy mostra-se muito mais renitente, pois o Almirantado britânico só aprova a ideia depois de o novo tipo de propulsão provar a sua superioridade em competição. É assim que o primeiro navio de guerra a hélice surge em França, logo em 1842, quatro anos antes de a Inglaterra adotar esta técnica. JANEIRO 2015 15 REVISTA DA ARMADA | 492 Fragata francesa “La Gloire”, o primeiro navio couraçado do Mundo, The Illustrated London News, 1861 Quanto à construção de navios em ferro, material cujo uso se expande com a Revolução Industrial, tem a sua primeira expressão nos E.U.A., em 1822. Dois anos antes, a França demonstrara a vulnerabilidade da madeira face ao tiro de artilharia, sendo que apenas o ferro ou o aço poderiam oferecer uma proteção credível. No entanto, só na década de 1860 surgirão as primeiras cinturas de couraça e os primeiros navios de guerra totalmente construídos em ferro. É a partir daí que se assiste a um rápido declínio dos navios de linha e ao início do fim dos tempos gloriosos da marinha de vela. Em Portugal, os primeiros vapores de rodas – ingleses – surgem durante a Guerra Civil, sendo fretados pelos beligerantes (especialmente do lado dos liberais) para transporte de tropas e de material e reboque dos navios de vela em períodos de calmaria. Esta última aplicação acabou por não ser expressiva, pois apenas surge mencionada no contexto dos preparativos do comandante da esquadra liberal, almirante Charles Napier, para a batalha do Cabo de S. Vicente, numa tentativa de obter um posicionamento mais favorável no início do combate. Mas este esforço saiu gorado, pois os comandantes dos vapores, por receio ou por falta de pagamento, recusaram-se a colaborar. Napier considerava que os navios a vapor eram destinados a representar, entre as esquadras, o mesmo papel que a cavalaria representava no Exército. Outro seu contemporâneo, o capitão-de-mar-e-guerra Basil-Hal, afirmava que “da mesma Escuna “Barão de Lazarim”, J. Prego da Silva, 1861, Museu de Marinha 16 JANEIRO 2015 sorte os steamers protegerão as alas de uma esquadra, conduzirão as naus de linha ao fogo, e quando o inimigo estiver dispersado, virão colher os frutos da vitória”. Em Portugal, no entanto, o seu papel nunca foi decisivo no combate naval direto, embora tenham sido de fundamental importância como auxiliares de guerra, nomeadamente em funções de transporte de homens e/ou material. Na altura em que se trava a batalha do Cabo de S. Vicente, a Marinha de Guerra Portuguesa adquire os seus dois primeiros vapores: o “Napier” (ex-“George IV”), comprado à Inglaterra pelos miguelistas em 1833 (e apresado pelos liberais pouco tempo depois), e o “Terceira” (ex-“Lord of Isles”), apresado pelos liberais no mesmo ano. O hélice surge bastante mais tarde, sendo introduzido pela primeira vez em 1852, nos vapores “Argus” e “Lince”. O primeiro navio de propulsão mista, a escuna “Barão de Lazarim”, é aumentado ao efetivo em 1858, com trinta e um anos de atraso em relação à Inglaterra. O primeiro navio construído em ferro, a corveta couraçada “Vasco da Gama”, é adquirido apenas em 1875 (a última nau portuguesa, a homónima “Vasco da Gama” tinha sido abatida apenas dois anos antes), marcando o fim da era dos navios de linha em Portugal. OS PROGRAMAS DE REEQUIPAMENTO NAVAL (1834-1864) A primeira tentativa de reequipamento programado da Marinha de Guerra Portuguesa no século XIX surge logo a seguir à Guerra Civil. Depois de uma comissão, constituída a 12 de Março de 1834, se ter encarregue de examinar os navios de guerra quanto ao seu estado e capacidade, o orçamento de 1835 apresenta um projeto de renovação da Marinha, prevendo uma força permanente de duas naus, quatro fragatas, quatro corvetas, seis brigues, oito escunas, oito charruas, oito correios, oito canhoneiras e dois vapores. No entanto, estes números não passam de uma intenção, pois embora as existências oficiais correspondam, com pequenas discrepâncias, a estes valores, a taxa de operacionalidade efetiva faz com que fiquem notoriamente abaixo das expetativas. A “Força de Mar” para o biénio 1846-1847, sendo um pouco mais realista – três fragatas, cinco corvetas, sete brigues, seis correios, dois transportes e dois vapores – não trava, no entanto, o decréscimo que se verifica nos dez anos seguintes. É que, conforme refere António José Telo, um programa naval implica a existência de uma estratégia nacional, com estabilidade governativa e investimento a médio prazo, condições que, no quadro de convulsões políticas então vigentes, estão longe de existir. O golpe militar de 27 de Abril de 1851 (Regeneração) traz consigo a desejada estabilidade governativa, mas os efeitos económicos dessa pacificação ainda demoram algum tempo a fazer-se sentir… Segundo o Comandante Marques Esparteiro, a Armada Nacional encontrava-se, em 1857, “na máxima decadência”, não existindo navios de propulsão mista como os que equipavam as principais marinhas internacionais. No entanto, entre 1856 e 1858, já em plena recuperação económica regenerativa, Sá da Bandeira, então Ministro da Marinha, deu início à construção de corvetas mistas para modernizar e fortalecer a Esquadra. As primeiras três – “Bartolomeu Dias”, “Sagres” e “Estefânia" – entram ao serviço em 1858. José da Silva Mendes Leal, Ministro da Marinha de 1862 a 1864, continuou a obra de Sá da Bandeira, sendo lançadas mais quatro corvetas mistas, uma em 1862, uma em REVISTA DA ARMADA | 492 1863 e duas em 1864. É de referir que estes navios, apesar de menos velozes e manobráveis do que os seus antecessores – sendo, portanto, menos adequados para o combate naval –, e de disporem de menor capacidade de transporte, devido ao espaço ocupado pela maquinaria, tinham a vantagem de poder deslocar-se à vela para as distantes províncias ultramarinas e, uma vez aí, utilizar, com vantagem, a propulsão a vapor para manobrar mais facilmente junto à costa e patrulhar os estuários dos rios africanos, podendo mesmo, nalguns casos, utilizá-los como eixo de penetração no vasto sertão. É também nestes dois períodos que são aumentadas ao serviço as primeiras canhoneiras de propulsão mista, uma em 1859, uma em 1864 e três em 1865. Contudo, após este ciclo de expansão, voltou-se à falta de investimento e estagnação iniciais. A questão aqui teria sido, essencialmente, o surgimento de propostas de revisão do Programa Naval de Sá da Bandeira-Mendes Leal, devido à rapidez da evolução técnica a que o Mundo assistia e à incerteza quanto ao futuro. A maior parte destes novos meios foi adquirida no estrangeiro (Inglaterra, sobretudo), embora algumas corvetas mistas e canhoneiras tenham sido construídas em Lisboa. DESENVOLVIMENTOS POSTERIORES Como atrás foi mencionado, em 1875 surge a primeira corveta couraçada (de características costeiras), inserida no programa naval do ministro João de Andrade Corvo, que, entre 1875 e 1879, equipa a Armada com mais duas corvetas mistas e três canhoneiras. Outra inovação consiste na introdução dos navios torpedeiros, também para defesa costeira, sendo adquiridos quatro entre 1881 e 1886. Mas só no final do século, a partir de 1895, o programa naval do ministro Jacinto Cândido da Silva permitirá à Armada Portuguesa recuperar parte do seu atraso em relação às suas congéneres europeias, destacando-se o aumento ao efetivo de cinco cruzadores em aço, que se manterão em serviço até meados do século XX. José da Silva Mendes Leal (1820-1886), por Charles Armand-Dumaresque, 1883 Marquês de Sá da Bandeira (1795-1876), gravura de L. Maurin, 1855 NOVAS CLASSES TÉCNICAS Quando os primeiros vapores de rodas entraram ao serviço da Armada Portuguesa, em 1833, tinham, ainda, embarcados engenheiros ingleses, uma vez que em Portugal ainda não existia pessoal qualificado para supervisionar o funcionamento e a operação da instalação propulsora destes navios. É em meados dessa década que surgem os primeiros engenheiros maquinistas navais portugueses (o primeiro deles em 1836). O conjunto destes técnicos qualificados, ao qual se juntam maquinistas especializados, engrossa consideravelmente entre 1845 e 1847, altura em que são aumentados ao efetivo cinco novos vapores, os primeiros depois dos dois adquiridos durante a Guerra Civil. Refira-se que grande parte deste pessoal se tinha iniciado como aprendiz ou ajudante de ferraria no Arsenal, o que lhe dava, à partida, alguma afinidade com este novo serviço. O Corpo de Maquinistas Navais (engenheiros e maquinistas) só é, porém, oficialmente criado em 1854, por decreto de 6 de Setembro. O curso de Engenheiros Maquinistas Navais na Escola Naval será concebido quinze anos mais tarde. Durante cerca de 40 anos não se registará a existência de outras classes técnicas a bordo dos navios da Armada. Só em 1878 a introdução de uma nova forma de energia – a eletricidade – fará surgir mais duas especialidades técnicas: os torpedos e a telegrafia. Moreira Silva CFR N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico. Bibliografia . ARCHIBALD, E. H. H., The Fighting Ship in the Royal Navy, 897-1984, edição revista, Dorset, Blandford Press Poole, 1984 . CANAS, António Costa, VALENTIM, Carlos Manuel, “Entre a Prática e a Teoria. A Criação de um Ensino Naval para Oficiais da Marinha de Guerra em Portugal (uma Breve Nota)”, Anais do Clube Militar Naval, vol. CXXXVII, Julho-Setembro de 2007, pp 541-552 . ESPARTEIRO, António Marques, Três Séculos no Mar (1640-1910), 32 vols., Coleção Estudos, Lisboa, Ministério da Marinha, 1973-1987 . LA RONCIÈRE, Charles de, CLERC-RAMPAL, G., Histoire de la Marine Française, pref. L. Lacaze, Paris, Librairie Larousse, 1934 . MONTEIRO, Armando da Silva Saturnino, Batalhas e Combates da Marinha Portuguesa, vols. VII (1669-1807) e VIII (1808-1975), 1ª ed., Lisboa, Livraria Sá da Costa Editora, 1989 Couraçado “Vasco da Gama”, ilustração da revista O Occidente, 1880 JANEIRO 2015 17 FOTOGRAFIAS ANTIGAS, INÉDITAS OU CURIOSAS Na sequência do publicado na rubrica Fotografias Antigas, Inéditas ou Curiosas da edição 488/AGO2014, onde demos conta da viagem de circum-navegação do cruzador “S. Gabriel”, tendo publicado imagens do navio atracado no porto de Honolulu em 11MAI1910, damos agora à estampa uma foto da guarnição desse navio, posando em curiosa formação num jardim da cidade de Pearl City, em 14MAI1910, durante essa estadia na ilha de Honolulu. REVISTA DA ARMADA | 492 ENTREGAS DE COMANDO Foto 1SAR ETI Lourenço FORÇA NAVAL PORTUGUESA N o dia 16 de outubro, realizou-se a bordo do NRP Vasco da Gama, na BNL, a cerimónia de entrega de comando da Força Naval Portuguesa (Grupo-Tarefa 443.20 ou TG 443.20). Presidida pelo Comandante Naval, VALM Pereira da Cunha, contou ainda com a presença de diversos convidados, em especial de antigos comandantes da Força. Decorridos dois anos no comando da Força, o CMG Croca Favinha entregou o “leme” ao CMG Gonçalves Alexandre, tendo, no seu discurso de despedida, agradecido aos organismos e unidades que apoiaram a Força, ao seu Estado-Maior, ao Núcleo Operacional Permanente e ao na- vio-chefe, NRP Vasco da Gama, a colaboração e profissionalismo com que contribuíram para a manutenção da prontidão dos meios navais atribuídos, para o seu emprego onde e quando necessário. Após receber o “comando, ordens e instruções”, o CMG Gonçalves Alexandre destacou a enorme honra que é o Comando da força, entendida como a Componente Naval da Força de Reação Imediata. Dirigindo-se aos Comandantes, Diretores e Chefes dos organismos e unidades de Marinha, aos Comandantes das unidades que irão integrar a TG 443.20 e aos militares do seu Estado-Maior, estabeleceu como seu primeiro objetivo de comando: “garantir, tão cedo quanto possível, a certificação do Estado-Maior da Força Naval Portuguesa”. Por último, o Comandante Naval dirigiu-se aos presentes felicitando o CMG Croca Favinha pelo sucesso das missões realizadas e transmitindo ao CMG Gonçalves Alexandre total confiança na ação de comando da Força Naval Portuguesa, que acabara de iniciar. Terminada a cerimónia, seguiu-se um porto de honra, onde foram reiterados os votos dos maiores sucessos. O CMG António Manuel Gonçalves Alexandre ingressou na Escola Naval em 1982, tendo sido promovido a GMAR em 1987. Especializado em Eletrotecnia, desempenhou vários cargos a bordo de diversas unidades navais, na sua maioria fragatas. Embarcou no NRP Corte-Real, onde participou em inúmeros exercícios nacionais e internacionais, assim como em diversas operações reais, da NATO, destacando-se a operação de embargo à ex-Jugoslávia, em 1996, e a operação Active Endeavour, no Mediterrâneo Oriental, em 2002. Comandou o NRP Corte-Real de 24 de setembro de 2007 a 23 de abril de 2010, tendo participado em múltiplas missões, destacando-se a integração, como navio almirante, no Standing NATO Maritime Group 1 (SNMG1). Entre março e julho de 2009, na qualidade de Flag Captain do comandante do SNMG1, participou na Operation Allied Protector de combate à pirataria na região do Corno de África. Em fevereiro de 2010, participou na missão humanitária de apoio às populações da Ilha da Madeira, vítimas do aluvião que sobre a região se abateu. Em terra, desempenhou o cargo de chefe da Repartição de Oficiais da Direção do Serviço de Pessoal, sendo atualmente comandante da Esquadrilha de Escoltas Oceânicos. NRP JACINTO CÂNDIDO R ealizou-se a bordo do NRP Jacinto Cândido, no dia 24 de novembro, a cerimónia de entrega de comando do navio, presidida pelo Comandante Naval, VALM Pereira da Cunha. Esta contou com a presença de oficiais generais, vários convidados civis, comandantes, diretores e chefes de outras unidades. A cerimónia iniciou-se com o discurso do comandante cessante, CTEN Carvalho Afonso, salientando orgulhosamen- 20 JANEIRO 2015 te que o NRP Jacinto Cândido, com 44 anos ao serviço da Marinha foi, nos últimos dois anos, o navio com maior taxa de missão da esquadra. Este facto foi consubstanciado nos mais de 370 dias com missão atribuída e nos cerca de 500 dias com uma prontidão inferior a 12 horas. O comandante empossado, CTEN Nolasco Crespo, usou também da palavra referindo o orgulho e satisfação em receber as nobres funções de comandante de uma unidade naval, desejo de todo o oficial da classe de Marinha, contando com o profissionalismo e dedicação da guarnição do NRP Jacinto Cândido. Por fim, o Comandante da Esquadrilha de Escoltas Oceânicos, CMG Gonçalves Alexandre, e o Comandante Naval, VALM Pereira da Cunha, proferiram uma breve alocução, realçando o sucesso alcançado pelo comandante cessante e desejando muito sucesso ao novo comandante na missão que inicia. O CTEN António Pedro Nolasco Crespo ingressou na Escola Naval em 1990, tendo concluído em 1996 o curso de Ciências Militares Navais, curso de Marinha. Após a promoção a GMAR, exerceu funções como Chefe do Serviço de Comunicações e Operações de Superfície/Antiaérea no NRP Augusto Castilho, comandou o NRP Argos e posteriormente esteve embarcado no NRP Bérrio. Especializado em armas submarinas, desempenhou a função de Chefe do Serviço de Armas Submarinas e Oficial de Ação Tática no NRP Sacadura Cabral. Entre agosto de 2006 e outubro de 2007 foi comandante do NRP Cuanza. Como oficial superior, prestou serviço na Direção do Serviço de Pessoal como Adjunto do Chefe da Secção de Movimentos de Sargentos e Praças. Em 2010 desempenhou as funções de 2º comandante do Atalanta Support Area (Djibouti), integrado na missão de combate à pirataria da UE (Operação Atalanta). De junho de 2011 a novembro de 2014 desempenhou o cargo de Oficial Imediato do NRP Bérrio. REVISTA DA ARMADA | 492 Foto Jorge Reis NRP Sagres em LEGO ® A LEGO é um sistema de peças fabricadas com plástico injetado, criado por Ole Kirk Kristiansen (1891-1958) em 1934. O nome tem origem na expressão dinamarquesa leg godt, cujo significado é “brincar bem”. Após a sua implantação no mercado internacional constatou-se que em latim o termo é sinónimo de juntar ou reunir. Muito popular entre crianças e jovens de várias gerações, as peças LEGO permitem replicar todo o tipo de construções, cujo limite é a imaginação de cada um. Tratando-se de peças robustas e fáceis de montar e desmontar, todos os dias se pode efetuar uma construção diferente, muito embora as mais elaboradas requeiram a dedicação de um grande projeto. De acordo com um estudo efetuado pelo Departamento de Matemática da Universidade de Copenhaga, com apenas seis peças 2x4 de cores diferentes – o mais célebre tijolo – é possível obter mais de 900 milhões de combinações diferentes, mais concretamente 915 103 765. Em 1980, numa altura em que a marca enfrentava algumas dificuldades e procurava desenvolver produtos de cariz mais tecnológico para estimular a concentração e a criatividade, foi criada a divisão educacional da LEGO em colaboração com o Massachusetts Institute of Technology (MIT). Além das peças mais conhecidas da LEGO system, foram desenvolvidos outros conceitos como a LEGO Technic e a LEGO Mindstorms, que ajudam estudantes, projetistas e investigadores em áreas como a robótica, o design e a mecatrónica. As diferentes séries contribuem para a presença da LEGO em todo o mundo, desde os jardins-de-infância às universidades. Depois da Legoland Billund na Dinamarca (1968), a LEGO tem vindo a inaugurar outros parques temáticos, como a Legoland Windsor (1996) em Inglaterra, a Legoland Carlsbad na Califórnia (1999) e a Legoland Günzburg na Alemanha (2002). Também os adultos de vários países e fans da LEGO têm criado associações, clubes e grupos dedicados a este hobby. Em Portugal foi necessário aguardar até 2004, altura em que um conjunto de 12 sócios fundadores, onde se encontrava o signatário, fundou a PLUG, acrónimo de Portuguese LEGO Users Group (Associação Portuguesa de Utilizadores de LEGO). Sendo uma associação sem fins lucrativos (www.plug.pt), os sócios da PLUG elegem em assembleia-geral os respetivos órgãos sociais, como a direção, a mesa da assembleia-geral e o conselho fiscal. A PLUG organiza encontros de convívio, debates e palestras sobre LEGO, assim como exposições abertas ao público onde estão patentes as construções e os modelos desenvolvidos pelos sócios. Da relação direta com a marca, obtém regularmente ofertas que são distribuídas pelos associados, que também beneficiam de melhores preços nos conjuntos e peças avulso. A partir de 2010 a PLUG registou a marca BRInCKa, utilizada na promoção dos seus eventos. Depois dos grandes LEGO fan events em Oeiras em 2013 e 2014, com uma área de 1200 m2 de exposição, a associação organizou recentemente em Braga o maior evento até à data com uma área de 5000 m2, que nos três dias recebeu mais de 22 000 visitantes. E foi por essa ocasião que o consócio Jorge Reis expôs o seu modelo do NRP Sagres, construído com cerca de 25 000 peças à escala minifig, as figuras humanas da LEGO system. Poucos dias antes, a RTP convidou-o a estar presente no programa Agora Nós, onde pela primeira vez foi mostrado este modelo da Sagres em LEGO iniciado em 2011, que tem 1,40 m de comprimento e 0,95 m de altura. Pelo contributo para a Construção da Lenda em que se tornou o ex-libris da Marinha, a Revista da Armada aproveita o ensejo para publicamente lhe agradecer a colocação desta relevante “peça” na história do NRP Sagres. Bem haja! António Manuel Gonçalves CFR [email protected] JANEIRO 2015 21 REVISTA DA ARMADA | 492 O ENSINO DA CONDUÇÃO NA MARINHA D esde longa data que a Marinha sentiu a necessidade de dispor de militares habilitados a conduzir diversos tipos de viaturas. Quer no transporte de tropas, quer no seu apoio logístico, bem como em toda a estrutura de apoio aos meios navais, tornou-se imperioso ter pessoal que desempenhasse essa missão e, para tal, ter a correspondente formação e certificação. Assim, conforme a Portaria nº 97/88, de 11 de fevereiro, a instrução de condução de veículos automóveis na Marinha passou a ser ministrada no Gabinete de Instrução de Viaturas (GIV) da Escola de Máquinas, do Grupo nº 1 de Escolas da Armada (G1EA), em Vila Franca de Xira, e na Escola de Fuzileiros (EF), onde era assegurada, desde a década de 70, a formação para especialização dos condutores da classe de Fuzileiros. Estes pólos de formação e qualificação habilitaram inúmeros condutores para as várias categorias de veículos num período em que o Serviço Militar Obrigatório (SMO) integrava mancebos sem qualquer qualificação nesta matéria, encarregan22 JANEIRO 2015 do-se a Marinha de os formar. Passou, na mesma altura, a ser dada a faculdade aos militares e civis da Marinha de frequentar aulas de condução e fazer exames de habilitação para condução, sendo os certificados militares reconhecidos externamente pelas autoridades competentes. Com a redução do número de formandos, por via da extinção do SMO e, posteriormente, da extinção do G1EA, foi publicado o Despacho do Alm. CEMA nº 38/05, de 17 de junho, determinando a concentração destas atividades de formação na EF. Tal veio a acontecer a partir de 25 de junho de 2005, passando esta a ser a única entidade do Sistema de Formação Profissional da Marinha (SFPM) a assegurar a formação técnico-profissional na área da condução e mecânica de automóveis e a emitir os respectivos certificados de condução. Para a execução dos programas de formação, foi criado na EF o Departamento de Formação em Transportes Terrestres (DFTT). Este departamento é constituído por um gabinete, que manteve a mesma designação que tinha no então G1EA, Ga- binete de Instrução de Viaturas (GIV) e pelo Centro de Exames da Marinha. O GIV tem competência para executar os módulos e sub-módulos de formação e elaborar as ajudas e a documentação de apoio à execução dos cursos. É chefiado por um oficial subalterno do ramo de mecânica e guarnecido por sargentos da classe de Condutores Mecânicos de Automóveis (V). Atualmente são ministrados, no âmbito do Plano de Atividades de Formação da Marinha – Qualificação de Base (PAFM I), o curso de Formação de Sargentos Condutores Mecânicos de Automóveis (CFS--V), o curso de Formação de Sargentos Manobra e Serviços (CFS-MS) na sua componente técnica de regulamentos rodoviários e de manutenção automóvel, o Curso de Formação de Praças Manobra e Serviços (CFP-MS) na sua componente técnica de condução e o curso de especialização em Condutores de Automóveis para Fuzileiros (FZV). Integrados no PAFM – Formação Contínua (PAFM II) são ministrados os cursos de aperfeiçoamento em condução de viaturas ligeiras articuladas, de veículos pesados articula- REVISTA DA ARMADA | 492 dos e de veículos pesados de passageiros e o estágio de condução em todo-o-terreno. Para além da formação correspondente às qualificações civis exigidas para a condução de veículos, o GIV assegura ainda a formação em matérias estritamente militares, como seja a condução tática, a utilização de viaturas militares, mecânica e eletricidade automóvel e o Módulo de Manutenção de Viaturas do Sistema Integrado de Gestão da Defesa Nacional (SIGDN). Para a certificação foi criado o Centro de Exames, que, conforme a referida Portaria, é a entidade reconhecida para a execução de exames de condução, sendo os certificados reconhecidos pelo Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT). O chefe do DFTT é, por inerência do cargo, o presidente do Júri de Exames. A 5 de julho de 2010 foi inaugurado o novo Centro de Exames de Marinha, com uma aplicação multimédia ligada on-line com o IMT, para a realização dos exames teóricos. Este salto tecnológico permitiu acompanhar os mais modernos critérios exigíveis aos Centros de Exames do país. Ao longo de mais de 40 anos, a Marinha tem vindo, assim, a assegurar a formação dos seus condutores e a emissão de certificados de condução reconhecidos, o que constitui uma acrescida responsabilidade de modernização, no sentido de manter a credibilidade que foi granjeando ao longo do tempo. Colaboração da EF/DFTT JANEIRO 2015 23 REVISTA DA ARMADA | 492 ANIVERSÁRIOS D urante o mês de novembro diversas Unidades celebraram o seu dia. A Revista da Armada associa-se a esta efeméride, endereçando os parabéns aos Comandantes/Diretores e respetivas Guarnições. NRP Cassiopeia Superintendência dos Serviços do Material Direção de Abastecimento NRP Baptista de Andrade NRP Corte Real NRP Figueira da Foz NRP Escorpião 11 novembro 16 novembro 16 novembro 19 novembro 22 novembro 25 novembro 26 novembro NRP BAPTISTA DE ANDRADE 40º ANIVERSÁRIO N o dia 19 de novembro celebrou-se o 40º aniversário do NRP Baptista de Andrade. O navio encontrava-se a cumprir a sua 20ª missão na Zona Marítima dos Açores, a participar no IV Encontro de Busca e Salvamento dos Açores. As comemorações começaram no dia 19 de novembro, com uma dissertação do Comandante à sua Guarnição sobre o historial do navio, ao longo das cerca de 50 mil horas navegadas e mais de 600 000 milhas percorridas a Servir Portugal no Mar. No dia 20 de novembro foi descerrada uma placa oferecida pela 22ª guarnição, onde consta o seu lema “Navio Feliz e com bom Astral”. Esta cerimónia contou com a presença do Comandante da Zona Marítima dos Açores, CALM António Manuel de Carvalho Coelho Cândido, do Comandante Operacional dos Açores, TGEN José Romão Mourato Caldeira, e do Comandante da Zona Aérea dos Açores, MGEN Manuel Teixeira Rolo, que estavam embarcados a assistir ao exercício de busca e salvamento “FIRESAREX 14”. No dia 22 de novembro realizou-se um almoço-convívio da guarnição na freguesia de Santo António da Ribeira Grande, onde foi servido um “cozido das furnas”, prato típico dos Açores. Após a abertura do bolo, o Comandante fez um agradecimento às 21 guarnições anteriores, “Hoje o nosso navio encontra-se na primeira linha da esquadra… muito devemos a todos os marinheiros que nas últimas quatro décadas serviram a Marinha na BA.” Colaboração do COMANDO DO NRP BAPTISTA DE ANDRADE NRP CORTE REAL 23º ANIVERSÁRIO O NRP Corte Real comemorou, no passado dia 22 de novembro, o seu 23º aniversário. Para assinalar tão importante efeméride, uma vez que dia 22 de novembro foi um sábado, as comemorações realizaram-se em 24 e 25 de novembro. O programa consistiu na organização de um torneio interno de futsal, que se disputou no pavilhão desportivo da Escola Naval, numa cerimónia militar, seguida de um almoço-convívio da guarnição no hangar do navio. A cerimónia militar, que contou com a presença do Comandante da Esquadrilha de Escoltas Oceânicos e ex-comandante do navio, CMG Gonçalves Alexandre, iniciou-se com o discurso do Comandante do navio, CFR Cortes Lopes, que afirmou (…) o navio já deveria ter iniciado os fabricos há cerca de 3 anos. A plataforma e os sistemas do navio estão cansados e a necessitar de manutenção, mas a CREA mantém-se resiliente e a sua guarnição com atitude e entusiasmo, o que me enche de orgulho, nunca sendo por demais afirmar que é uma honra ser o Comandante deste navio e desta guarnição.(…) Nestes tempos de dificuldade temos de nos socorrer do maior bem que a instituição nos transmite e que é apanágio dos militares na sociedade - os valores - tais como o respeito uns pelos outros, a lealdade, a camaradagem, a coesão e o espírito de equipa, pois só juntos podemos ultrapassar as dificuldades e as necessárias transformações decorrentes dos processos de mudança que para breve se avizinham na Marinha, incluindo na CREA.(…). 24 JANEIRO 2015 Após o discurso, seguiu-se a cerimónia de imposição de condecorações e entrega dos distintivos de horas de navegação/tempo de embarque aos militares do navio, pelo CMG Gonçalves Alexandre e pelo CFR Cortes Lopes, bem como a entrega da Taça Corte Real à equipa vencedora do torneio de futsal − os TFD − que derrotou na final os oficiais. As atividades comemorativas culminaram num excelente e agradável almoço-convívio da 9ª guarnição do NRP Corte Real no hangar do navio, que decorreu num ambiente de boa disposição e salutar camaradagem. Colaboração do COMANDO DO NRP CORTE REAL REVISTA DA ARMADA | 492 NRP BAPTISTA DE ANDRADE 40 anos a servir Portugal no mar O NRP Baptista de Andrade foi lançado à água no dia 16 de março de 1973, sendo o primeiro de uma série de quatro navios construídos nos estaleiros navais de Bazám em Cartagena, Espanha. A sua construção foi realizada sob um projeto de conceção nacional de 1965, da autoria do Contra-almirante Engenheiro Construtor Naval Rogério D’Oliveira e representou uma importante evolução ao nível das armas e sensores ,em relação às corvetas da primeira série, da classe “João Coutinho”. No dia 19 de novembro de 1974, foi aumentado ao Efetivo dos Navios da Armada. O navio foi concebido para o desempenho de missões de Escolta Oceânica, dispondo de armamento antissubmarino, de superfície e antiaéreo, bem como equipamentos de deteção submarina, de superfície, aérea e de controlo de tiro. Possuía uma guarnição de 120 elementos. Após chegada a Lisboa, no dia 20 de dezembro de 1974, efetuou um período de treino em águas nacionais. No dia 3 de março de 1975 largou para uma comissão com destino a Cabo Verde, então em processo de descolonização, regressando a Lisboa no dia 5 de julho, data da independência de Cabo Verde, tendo embarcado pessoal que prestava serviço naquela antiga Província Portuguesa. Chegou a Lisboa no dia 9 de julho desse ano. De 1976 a 2000 participou em mais de 60 exercícios nacionais e internacionais, tendo nesse ano iniciado uma remodelação que visava, entre outros objetivos, a redução de pessoal para 71 elementos e o embarque de militares femininos. Das várias missões que o navio realizou destacam-se as seguintes: − Apoio às populações das ilhas Terceira e São Jorge por ocasião do violento sismo que abalou as ilhas do Grupo Central, em janeiro de 1980; − Honras militares à Rainha de Inglaterra, por ocasião da sua visita a Portugal, na Ribeira do Porto, em março de 1985; − Operação “Sharp Vigilance”, no mar Adrático, em Setembro de 1992; − Operação “Cruzeiro do Sul”, em que permaneceu durante cerca de dois meses no Atlântico Sul, por ocasião de graves perturbações internas verificadas na cidade de Luanda, em Dezembro de 1992; − Comemorações do Tratado de Tordesilhas, com escala em São Salvador da Baía e Recife, em 1994; − Operação de negação de acesso às águas territoriais portuguesas ao navio Born Diep (barco do aborto) da organização “Woman on Waves”, em 2004; − Operação “Manatim”, com a finalidade da evacuação de cidadãos nacionais da Guiné-Bissau, em maio de 2012; − Operações no âmbito da União Europeia, NATO e EUROMARFOR, nomeadamente a HERA II na costa do Senegal, IT.MINEX na costa de Itália e FAMEX em Espanha e norte de África; − 20 Comissões na Zona Marítima dos Açores; − 12 Viagens de instrução de cadetes da Escola Naval. Nos anos mais recentes, o navio esteve empenhado em missões de atuação não militar nos espaços marítimos sob soberania e jurisdição nacional adjacentes ao território de Portugal Continental e na Região Autónoma dos Açores, principalmente de fiscalização e proteção de recursos e de busca e salvamento marítimo. ATIVIDADES RECENTES Em 2014, ao longo de 1.500 horas de navegação, o navio cumpriu 6 missões: duas na Zona Marítima dos Açores (março a junho e outubro a dezembro) e quatro na ZEE Continente. Destaca-se a sua participação nas festas do Senhor Santo Cristo em Ponta Delgada, Dia do Combatente em Angra do Heroísmo, Dia da Marinha na Horta, Dia Nacional do Mar na Praia da Vitória e nas festas da Romaria da Sra. da Agonia em Viana do Castelo, onde realizou Presença Naval. Participou ainda nos exercícios conjuntos Foca, Açor, Asarex e no IV Encontro de Busca e Salvamento dos Açores. No âmbito da salvaguarda da vida humana no mar, realizou uma evacuação médica 933 milhas a Sudoeste de Ponta Delgada, em condições de mar muito adversas. Nas comemorações do seu 40º aniversário, passou a ostentar uma placa oferecida pela 22ª guarnição, onde consta o seu lema “Navio feliz e com bom astral”. O navio continua na primeira linha da Esquadra graças a todos os marinheiros que durante as últimas quatro décadas serviram a Marinha na BA. COMANDANTES CTEN José Manuel Contreras de Passos CTEN José Júlio Neto Abrantes Serra CTEN João Geraldes Freire CTEN João Manuel do Carmo Silva CTEN António João dos Santos Leitão CTEN José Manuel Marques Ribeiro Reis CTEN Orlando L. Saavedra Temmes de Oliveira CTEN Júlio de Almeida Marinho CTEN Vasco António Leitão Rodrigues CTEN José Pires Sargento Correia CTEN João da Cruz de Carvalho Abreu CTEN João Pedro Felícia Moreira CTEN Carlos Alberto S. J. Amado de Matos CTEN Joaquim Alves Babaroca CTEN António J. Ribeiro Ezequiel CTEN Guilherme Adelino F. Marques Ferreira CTEN José Rafael F. de O. Rodrigues Pinto CTEN Carlos Manuel Baião Monteiro CTEN José António Zeferino Henriques CTEN Pedro Miguel Carvalho Pinto CTEN Victor F. Plácido da Conceição CTEN Pedro Miguel B.A. dos Santos Serafim NOV 74 MAI 75 MAI 76 JUL 77 FEV 78 SET 78 SET 80 FEV 82 FEV 84 FEV 86 JUN 91 SET 93 JUN 95 MAI 97 MAI 99 OUT 02 SET 04 MAR 06 FEV 08 JUN 10 JUN 12 AGO 14 MAI 75 MAI 76 JUL 77 FEV 78 MAR 78 SET 80 FEV 82 FEV 84 FEV 86 OUT 88 JUN 93 JUN 95 MAI 97 MAI 99 SET 99 SET 04 MAR 06 MAR 07 JUN 10 JUN 12 AGO 14 - Colaboração do COMANDO DO NRP BAPTISTA DE ANDRADE JANEIRO 2015 25 REVISTA DA ARMADA | 492 NOTÍCIAS CURSO “HERMENEgILDO CAPELO” 50 anos T iveram início em 11 de setembro, com a apresentação de cumprimentos ao ALM CEMA/AMN, as comemorações do meio século da entrada na Escola Naval do curso VALM Carlos de Brito Hermenegildo Capelo. Em 18 de setembro, o Curso rumou a Palmela para homenagear o seu patrono. A cerimónia teve lugar na rua com o seu nome, onde se procedeu ao descerramento de uma placa evocativa, estando presentes as entidades concelhias, o Presidente da Comissão Cultural da Marinha, o Diretor da Revista da Armada e o Capitão do Porto de Setúbal. Seguiu-se uma visita à Casa Mãe da Rota dos Vinhos, cuja Diretora acolheu o Curso prestando informação sobre as condições únicas da região para a produção da casta Moscatel e consequente fabrico dos premiados vinhos de Palmela. Os eventos de maior significado cultural foram a inauguração da exposição “HC.ARTCOLEX”, dos artistas da família HagaCê, e o lançamento da edição especial da revista da Escola Naval “TRIDENTE”, elaborada pelos “cadetes” HC, tendo ambos decorrido no Forte do Bom Sucesso, com a presença de individualidades da Liga dos Combatentes, alguns representantes dos Cursos Contemporâneos do HC e muitos familiares. A exposição, patente durante cerca de um mês, contou com Quadros de Graça Gaspar, Isabel Arrobas e Ermelinda Macedo, Registos de Elisa Cajarabille, Fotografia do Luís Cristiano Oliveira e Medalhística Naval do José Venâncio Correia. Na edição da “TRIDENTE”, cuja inspiração foi encontrada na recordação da casa onde o Curso deu os primeiros passos da vida naval, podem encontrar-se “Histórias de Carreira”, “Registo de Quarto”, “Portugal – 50 anos em revista” e “Postais HC”. Em 2 de outubro, o Curso visitou a Sagres, navio que foi domicílio HC durante cerca de 4 meses, na viagem a Angola, em 1966. Esta visita foi precedida pelos cumprimentos ao VALM COMNAV, no Palácio do Alfeite. Na visita – carregada de simbolismo – à Escola Naval, o Curso foi recebido pelo Comandante. Após a assinatura do Livro de Honra, foi celebrada missa por intenção dos camaradas falecidos. Seguiu-se uma apresentação sobre a EN, efetuada pelo Comandante, após o que o Chefe do Curso HC, perante o Batalhão do Corpo de Alunos, proferiu uma emotiva exortação aos cadetes. No final do almoço, o CALM DSP e o Comandante da EN fizeram entrega, respetivamente, dos Regis- tos Individuais e dos Registos Escolares aos visitantes. A estadia na EN terminou com a visita ao recentemente inaugurado museu escolar. No Comando Naval, os cadetes HC participaram no briefing “A Marinha de Hoje”, realizado no CITAN. Deslocaram-se depois à ESQ SUB para novo briefing, agora sobre os submarinos da classe Tridente, após o que se seguiu uma visita ao NRP Arpão. Durante o almoço, que teve lugar na Sala da Lareira da Messe de Oficiais, com bolo comemorativo regado a Vinho do Porto, o Curso foi saudado com a “salva artilheira” da Ordem. A tarde foi dedicada ao NRP Corte Real, onde foi exibido um filme sobre a atividade do navio, nomeadamente no combate à pirataria. Seguiu-se a visita à Base de Fuzileiros, onde o Comandante, na exposição efetuada, abordou alguns dos aspetos em estudo no âmbito da evolução organizacional e utilização dos fuzileiros no contexto atual da Marinha. Seguiu-se a entrega de Registos Escolares aos HC fuzileiros. Na parada, assistiu-se a uma exposição estática que apresentava as diversas atividades operacionais em que os fuzileiros estão empenhados e o respetivo equipamento. As comemorações terminaram em 25 de outubro – DIA DO CURSO – , com um jantar e baile na Messe de Cascais, Sala da Guia. Colaboração do CURSO HC liga dos combatentes Foto António Lopes / MDN N o dia 8 de novembro realizou-se, junto ao Monumento aos Mortos do Ultramar, a cerimónia do 96º aniversário da assinatura do Armistício da Grande Guerra, do 91º aniversário da Liga dos Combatentes, do 40º aniversário do Fim da Guerra do Ultramar e a evocação do centenário da Grande Guerra. Do programa constaram a receção aos convidados e as honras militares à alta entidade que presidia à cerimónia, alocuções alusivas ao ato pelo Presidente da Liga dos Combatentes, pela entidade convidada para orador, o Professor 26 JANEIRO 2015 Dr. Marcelo Rebelo de Sousa, e pela entidade que presidia, o General CEMGFA. Seguiu-se a imposição de condecorações, em que foram galardoados com a Medalha da Defesa Nacional 4 elementos da Liga dos Combatentes (a equipa da conservação das memórias que se tem deslocado à Guiné e a Moçambique para recuperação, identificação e dignificação das sepulturas dos militares portugueses aí localizados) e o Arquiteto Varandas da Direção Central (responsável pelos projetos de vários monumentos aos combatentes que têm sido erigidos por todo o país), e ainda 4 militares com a Medalha de Comportamento Exemplar e 5 elementos com a Medalha de Mérito da Liga. Seguiu-se a Homenagem aos Mortos pela Pátria, que constou duma evocação religiosa, da deposição de flores junto ao monumento e dos toques alusivos à cerimónia. Desfilaram depois as Forças em parada dos três ramos das Forças Armadas. A cerimónia terminou com o toque do Hino da Liga dos Combatentes executado pela Banda Sinfónica do Exército. Seguidamente, os convidados visitaram o Forte do Bom Sucesso e as exposições aí patentes, tendo-se procedido à inauguração da exposição “A Grande Guerra ao Vivo – Evocando a Paz”. Estiveram presentes centenas de combatentes e muito público. Colaboração da LIGA DOS COMBATENTES REVISTA DA ARMADA | 492 SAIBAM TODOS • CUIDADOS DE SAúDE NO HCVP Foram alterados os encargos a suportar pelos beneficiários ADM no acesso aos cuidados de saúde prestados no Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa (HCVP). Os pressupostos deste convénio têm em conta as orientações do despacho nº 2946/2014 de 21 de fevereiro do Ministro da Defesa Nacional, que salienta a importância da complementaridade técnica na área hospitalar, potenciando sinergias com benefícios mútuos no âmbito dos cuidados de saúde a prestar aos seus beneficiários. Assim sendo, os beneficiários da ADM não pagam qualquer importância referente a consultas, exames e outros cuidados prestados em ambulatório. Simultaneamente, não pagam qualquer importância referente a cuidados prestados em internamento, incluindo cirurgias, etc., desde que o médico seja do Hospital e tenha acordo com a ADM e o utente ocupe lugar nos quartos da enfermaria. Se desejar optar pelo quarto individual terá que pagar 211,46 euros/dia se for no internamento de medicina, ou 133,54 euros se for no internamento de cirurgia. Por seu turno, os beneficiários familiares da ADM pagam a parte que lhes corresponde nas tabelas ADM (ADSE) nas con- sultas, exames e outros cuidados prestados em ambulatório. Todavia, não pagam qualquer importância referente a cuidados prestados em internamento, incluindo cirurgias, etc., desde que o médico seja do Hospital e tenha acordo com a ADM e o utente ocupe lugar nos quartos da enfermaria. Se desejar optar pelo quarto individual terá que pagar 211,46 euros/dia se for no internamento de medicina, ou 133,54 euros se for no internamento de cirurgia. Através do acordo de complementaridade estabelecido entre o IASFA (entidade gestora da ADM) e o HCVP, incumbe ao HCVP disponibilizar aos beneficiários da ADM, que se lhe dirijam diretamente ou através de referenciação clínica do HFAR/PL, uma linha dedicada e um balcão de atendimento preferencial. • ATUAÇÕES DA BANDA DA ARMADA CONCERTO DE ANO NOVO Dia 9 de janeiro – Alcochete (Forum Cultural) – 21h30 PUB JANEIRO 2014 27 REVISTA DA ARMADA | 492 VIGIA DA HISTÓRIA 70 SI NON É VERO Durante o séc. XVIII, o tráfego do Brasil para a costa de África, todo ele dedicado ao tráfico de escravos, assumiu um volume de algum modo significativo. Tal como sucedia nos restantes territórios sob domínio dos portugueses, durante grande parte desse século, o comércio do Brasil esteve sujeito a grandes restrições de natureza proteccionista visando, em especial, o comércio de mercadorias estrangeiras, restrições essas cuja violação acarretava a aplicação de pesadas penas. Dado que muitos dos navios envolvidos naquele tráfico começaram a surgir, no Brasil, transportando mercadorias proibidas, o assunto, pela sua gravidade e consequências, foi objecto, por parte do Governo, de uma investigação tendente à identificação das causas e à adopção das medidas necessárias à sua correcção. Em 30 de Março de 1767, o Governador da Baía comunicava para a Corte o resultado das investigações que efectuara sobre o assunto, após ter ouvido dois capitães, Francisco António Etré e José Francisco de Azevedo, em cujos navios haviam sido encontradas mercadorias proibidas, aquando da sua chegada da Mina, com escravos. As declarações daqueles capitães, que haviam sido concordantes, referiam que, por causa das correntes, para chegar à Mina, tinham de alcançar a latitude do Cabo das Palmas e daí irem descaindo até à altura do Castelo da Mina, lugar onde, com muita frequência, se encontravam navios ingleses e holandeses, igualmente envolvidos no tráfico de escravos, que os assaltavam sem que os navios portugueses tivessem possibilidades de se defender pois as suas guarnições eram constituídas, quando muito, por 30 homens, na sua quase totalidade escravos ou negros forros, o seu armamento era de umas poucas espingardas e outras tantas catanas e no que se refere à artilharia do navio eram poucos os canhões, sendo os seus calibres mais adequados para efectuar salvas do que propriamente para combater, enquanto os navios estrangeiros seguiam equipados com mais armamento e artilharia, e eram guarnecidos por gente mais motivada. 28 JANEIRO 2015 Declararam ainda aqueles capitães que, após serem assaltados, eram forçados a trocar as mercadorias que levavam para o tráfico, muito em especial o tabaco, que era a mercadoria mais apetecida para o efeito, por outras sem grande aceitação. Dado que as cidades onde efectuavam o tráfico eram as mesmas que eram frequentadas pelos navios estrangeiros, não conseguiam dar saída a essas mercadorias que lhes haviam trocado, pelo que se viam forçados a tomar uma de duas opções, ou deitar todas essas mercadorias ao mar, acarretando, por isso, um prejuízo total ou procurar minimizar os prejuízos transportando-as para o Brasil e aí as vendendo, sendo esta última solução aquela por que, naturalmente, optavam para evitar o total descalabro da sua actividade e, consequentemente, dos elevados prejuízos sobre a economia da Baía e, por extensão, do Reino. Não foi possível conhecer qual a decisão tomada quanto a este assunto cuja defesa, mesmo se não correspondesse à verdade, estava, no mínimo, solidamente construída. Com. E. Gomes N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico. Fonte Documentos do Arquivo da Marinha e Ultramar in Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro Tomo 32. REVISTA DA ARMADA | 492 ESTÓRIAS 8 UM ANIVERSARIANTE ORIGINAL NUMA VIAGEM DE PAQUETE COMO PASSAGEIRO C aso com alguma piada, passado a bordo do paquete “Império”, quando do regresso de uma comissão de serviço em Moçambique. Estávamos em 1970, e era então normal acontecer o regresso à Metrópole (como na altura se dizia) em navios de passageiros, os ditos paquetes, quando as comissões de serviço terminavam para alguns militares. Acontecia que às vezes essas viagens de Moçambique demoravam vinte ou mais dias, conforme o local de embarque, que tanto podia ser em Porto Amélia, Beira ou Lourenço Marques (hoje Maputo). Nessa dita viagem, encontraram-se a bordo cinco camaradas sargentos, todos vindos de Moçambique, entre os quais o espírito de grupo sobressaía, o que fazia parecerem cinco irmãos. Todos amigos de brincar, embora uns mais velhos do que outros, como eram os casos do sargento artilheiro António Ezequiel Sabino e do sargento condutor de máquinas José Francisco. Os restantes três eram mais novos, casos dos artífices radioelectricistas Pedro Venâncio e Alberto da Silva Guerreiro, e o signatário desta, maquinista naval. Acontece que passados alguns dias de viagem, na 2ª classe já toda a gente se conhecia e muitos foram os dias em que houve festas de aniversários de passageiros. Normalmente, à hora do jantar, surgia um músico com o seu saxofone e assim dava os acordes da música que toda a gente conhece dos “parabéns a você”, que logo os restantes passageiros entoavam em uníssono. Também havia um bolo de anos para o aniversariante, que acabava por ser partilhado com os presentes. Nós que éramos cinco, pensámos que só na nossa mesa é que não havia aniversariante. Ficou então combinado entre nós que, na última refeição que iríamos ter a bordo, o nosso José Francisco seria o homem que faria anos, embora não constasse no seu cartão de identidade, pois era habitual em tempos antigos, e em certas terras da província, não registarem os filhos a tempo, o que obrigava a fazê-los mais novos, para não pagarem multa. Falado o assunto ao despenseiro da 2ª classe na manhã desse último dia, não pôs ele qualquer entrave e lá deu as voltas necessárias para que o dito bolo não faltasse, assim como a música. DR Quando os sons da música soaram, todos os restantes passageiros das outras mesas se dirigiram para a nossa, a fim de darem os parabéns ao aniversariante. O nosso bom José Francisco foi aceitando os sinceros parabéns pelas suas cinquenta e uma primaveras. Até aqui tudo bem. Depois, um amigo da “onça”, sabendo que o amigo Francisco tinha comprado umas garrafas de vinho da Madeira, para oferecer em Lisboa, sugeriu-lhe que fosse buscar uma ou duas garrafas para oferecer um cálice, pelo menos às senhoras, que em fila lhe iam depositando um beijinho em cada face ruborizada, com os votos de sinceros parabéns. Claro, no fim o nosso amigo Francisco encarou tudo muito bem, embora lamentando o despejo de duas garrafitas do vinho da Madeira, ao que os restantes camaradas lhe retorquiam: “Com que então era só fazer anos, receber os parabéns, os beijinhos e nada pagar, isso é que era bom”. Foram uns fingidos anos que nunca mais esquecerão a quem teve o privilégio de conviver com o aniversariante e restantes camaradas, numa viagem que durou vinte e seis dias de Porto Amélia até Lisboa. Batista Velez 1TEN OTT REF JANEIRO 2015 29 REVISTA DA ARMADA | 492 NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA 39 A RUA DO ARSENAL... Deixei de usar citações de outros. Passei a usar estas frases introdutórias para situar os leitores no meu estado de alma (atitude ousada para este escrito sem jeito). O texto de hoje surgiu num ápice e terá (assumo eu na minha presunção) tanto de histórico como de pessoal… são como nos casos mais comuns um cruzamento entre a nossa história pessoal, a história do nosso país e as nossas emoções… A Rua do Arsenal é um paradigma de Lisboa. Uma rua relativamente estreita, antiga, ribeirinha, plena de sensações. Liga o Largo do Corpo Santo ao Terreiro do Paço. Só estas designações já impregnam a nossa alma de história. A rua atual ainda representa parte do nosso ser. Lojas portuguesas resistem à invasão dos hipermercados. O cheiro, não filtrado, do bacalhau, é disso exemplo pungente. Estaminés de um brique-a-braque que interessa a turistas e a portugueses, remanescentes do tempo em que os rádios de transístor eram novos. Uma casa de colecionadores, com uma jovem de aspeto indiano na montra, enquadrada por caixas de selos e expositores de moedas antigas, também exóticas. Tascas e bares cujo cheiro a pataniscas invade a rua e abre o apetite completam o ambiente e preenchem o ar de sensações múltiplas, perenes de encanto. Por fim, uma loja de conservas apresenta-se num gaveto. Dela saem japonesas em grupos saltitantes, com latinhas reluzentes, quase grandes demais para as suas pequenas mãos, seguramente recordações de uma rua a saborear no Japão. Do outro lado da rua, o edifício mais austero do Ministério da Marinha. Um casal de marinheiros jovens defende com a sua simpatia a porta que permite o acesso à Academia de Marinha. Hordas de gente apressada passa nos elétricos e autocarros, que se dirigem em caravana para o Cais do Sodré. No passeio, turistas de morfologia nórdica tiram fotos com máquinas fotográficas em tripés, tentando encapsular o contraste entre o aspeto decrépito de alguns prédios (a ameaçar rutura) e o branco mármore do edifício da Câmara Municipal de Lisboa. Agora, num esforço de imaginação, feche o paciente leitor os seus olhos. Recue na sua mente cinco séculos. Imagine a Rua do Arsenal de então. Imagine uma rua ribeirinha, bem perto do Tejo, que seria logo ali. Um corrupio de embarcações bordejava a margem, de modo que se sentiam as ordens do mestre, ocupando as mãos dos seus homens nas lides da mareação. Um porco, vivo, caiu por acidente, das costas de um estivador que transportava animais vindos ali dos lados das quintas de Almada. Os seus guinchos chamaram a atenção dos almocreves, que vendiam os seus produtos na rua, aos transeuntes. Uma senhora nobre, filha de um capitão ao Serviço de Sua Majestade, na Índia, cruzava a rua na segurança de uma liteira segura nos ombros de quatro fortes negros de África. Com ela, na liteira, seguia o mais recente presente do pai: uma aia, jovem, quase criança, indiana, em sari cor de laranja… O peso da liteira em madeira nobre, mais que o peso das jovens, fazia 30 JANEIRO 2015 enterrar na lama os fortes membros dos negros, já que havia chovido e a lama era espessa… Cheirava a especiarias, pimenta, canela, fortemente apregoada por vendedores insistentes. O cheiro misturava-se com o cheiro dos dejetos das bestas, que, infelizes, percorriam a rua entregues à sua sorte, inclementemente picadas por moços de cocheira de gibões mal cheirosos e sandálias velhas. Senhores da Flandres, de um louro feminino, regateavam preços num português macarrónico, procurando o melhor negócio – aquele que lhes permitiria maximizar o lucro nas terras do norte. Um criado de um judeu, exibia na frente da casa de seu amo, um conjunto de moedas, que ajudariam – por juros negociados – alguém a pagar as suas dívidas, ou a aumentá-las… Nisto, ouve-se um grito e passa um rapaz a correr pela vida. – Aqui d´el-Rei, agarra que é ladrão… – vocifera um mercador anafado, enquanto o ladrão fugia mais rápido que os homens d´armas que o perseguiam, sem grande convicção. Uma dezena de homens a cavalo, garbosos, de espada à cinta, passam numa rapidez desusada. Vão escoltar a carga recém-chegada de uma das Naus da Índia, depositada ali para os lados da Praça das Cebolas. Por momentos todos lhes dão passagem. Segundos depois o formigueiro retorna, pregões, cheiros, uma negra de bilha às costas vende água a quem dela sente falta no seu crioulo agitado. Um grupo de monges, descalços, passa na sua penitência rezando num latim ininteligível para quem ouve, mas certamente próximo do divino, naquele dia em Lisboa… Abra agora o leitor os olhos. Ouça as buzinas. Os barulhos da rua, o sentir do dia. Talvez então perceba melhor a Rua do Arsenal? É esse novo sentir que representa o peso profundo do que fomos e, para o mal ou para o bem, herdámos… É este sentir que nos emociona quando no Oriente visitamos uma fortificação portuguesa. É esse sentir que parece esquecido por muitos, neste viver pequenino em que caímos, por falta de um engenho em que erámos mestres, guardado no sentir da Lisboa de antanho… Nota final: perdoem-me aqueles que na Marinha realmente sabem história de Portugal, capazes por certo de produzir um muito melhor texto. Muitos são, historicamente, meus verdadeiros amigos, nos bons e nos maus momentos… Doc REVISTA DA ARMADA | 492 SAÚDE PARA TODOS 21 AZIA A azia, conhecida pelos médicos como pirose, é a sensação de ardor/queimadura que surge a nível do estômago e que muitas vezes se transmite ao longo do esófago até à cavidade oral. Estima-se que 7% da população mundial sofra de pirose diariamente, 15% semanalmente e 50% mensalmente. Pode surgir em bebés, crianças, jovens, adultos ou idosos − homens ou mulheres. A azia é um sintoma que pode estar presente em várias doenças pelo que é importante recorrer a consulta médica para esclarecimento etiológico e respetivo tratamento dirigido. A automedicação funciona frequentemente como máscara e pode levar desnecessariamente à evolução de uma doença que era benigna e tratável aquando do início dos sintomas. INTRODUÇÃO O estômago é um órgão oco que se situa na parte superior esquerda da cavidade abdominal, por baixo do diafragma. Vazio tem cerca de 18 cm de comprimento e 7 cm de largura, mas pode atingir cerca de 30 cm de comprimento e 14 cm de largura se estiver cheio. Está separado do esófago pelo esfíncter esofágico inferior, que é um anel muscular cuja função é idêntica a uma válvula: permite controlar a passagem de alimentos do esófago para o estômago quando engolimos, mas impede que o conteúdo do estômago reflua de volta ao esófago. As paredes internas do estômago são revestidas por uma mucosa rica em glândulas encarregues de produzir as secreções que constituem o suco gástrico. Um dos principais componentes deste suco é o ácido clorídrico, cuja função é manter o pH dentro do estômago em valores perto de 2, proporcionando a degradação do bolo alimentar. A secreção gástrica está sempre a ser produzida de forma contínua, mas aumenta exponencialmente quando comemos, ou quando pensamos em comida. Ora, por ser após as refeições que a quantidade de ácido no estômago é mais notória, em caso de doença gástrica, é nessa altura que queixas de pirose se podem agravar. O ardor deve-se, então, à ação do ácido sobre uma mucosa gástrica fragilizada ou sobre uma mucosa que não está preparada para ter contacto com o ácido clorídrico, como é o caso da mucosa do esófago, faringe ou cavidade oral. CAUSAS 1) Aumento do nível basal de ácido clorídrico. Pode dever-se a consumo excessivo de alimentos ácidos (e.g.: citrinos ou refrigerantes) ou de outras substâncias que levam ao aumento da secreção ácida pelo estômago (e.g.: medicamentos anti-inflamatórios não esteroides − ibuprofeno, nimesulida e diclofenac, entre outros), mas também pode ocorrer devido a longos períodos de jejum, ou ser secundário a tumores produtores de hormonas (e.g.: síndrome de Zollinger-Ellison). 2) Lesão da mucosa gástrica. O estômago só tolera a acidez porque é revestido pela mucosa gástrica, um tecido formado por células resistentes à ação do ácido clorídrico. Quando a renovação da mucosa é mais lenta do que o efeito de degeneração causado pelo excesso de ácido, acontece uma irritação da parede do estômago que pode causar gastrite, ou seja, inflamação da mucosa gástrica, e até úlceras, que são feridas nessa mucosa. A infeção pela bactéria Helicobacter pilory também pode estar relacionada com gastrite, úlceras e cancro do estômago. 3) Refluxo de ácido para o esófago. Quando o esfíncter esofágico inferior não exerce a sua função de válvula, o conteúdo gástrico reflui para o esófago. A este problema chama-se Doença do Refluxo Gastroesofágico. A mucosa do esófago não está preparada para suportar o ácido clorídrico pelo que existe sensação de queimadura ou dor retroesternal (por vezes confundida com dor cardíaca). Existem múltiplas causas para ocorrer este refluxo, entre as mais comuns destacam-se: refeições abundantes, condimentadas e ricas em gorduras (principalmente se logo de seguida a pessoa se deita ou faz exercício físico), hábitos tabágicos, consumo excessivo de álcool, cafeína ou chocolate, obesidade (provoca aumento da pressão dentro do abdómen), gravidez, efeitos secundários de medicação e presença de hérnia do hiato (deslizamento da parte superior do estômago para dentro do tórax). QUEIXAS COMUNS A azia é um sintoma habitualmente descrito como ardor ou queimadura, entre o estômago e a cavidade oral. Tipicamente agrava-se uma hora após a ingestão de alimentos, com a posição de deitado ou quando a pessoa se inclina para a frente. Quando o ardor é muito intenso é descrito como dor. A azia pode estar associada a refluxo dos alimentos, saciedade precoce, enfartamento pós-prandial, náuseas, tosse irritativa, eructações (arrotos), sabor recorrente ácido ou amargo na boca, mau-hálito, sensação de garganta irritada, dificuldade em deglutir (“engolir em seco”), rouquidão, bem como à erosão do esmalte dentário (os dentes tornam-se baços, amarelados, bordos translúcidos e irregulares, hipersensíveis ao frio/calor). DIAGNÓSTICO Perante azia recorrente e de longa duração é importante recorrer a uma consulta médica. O diagnóstico habitualmente faz-se através da história clínica e do exame objetivo, mas pode haver necessidade de complementar o estudo com alguns exames, tais como a endoscopia digestiva alta, pHmetria, manometria, radiografias e pesquisa da Helicobacter pilory. TRATAMENTO O tratamento para a azia depende da sua causa. Quando não é encontrada uma explicação para a azia considera-se que estamos perante uma doença chamada Dispepsia Funcional. O tratamento atual consiste em adquirir um estilo de vida saudável (fazer refeições pouco abundantes e não ingerir alimentos, principalmente líquidos, 2 a 3 h antes de dormir, evitar o consumo de gorduras, picantes, citrinos, molhos de tomate, chocolate, cafeína, bebidas alcoólicas e bebidas gaseificadas, cessar hábitos tabágicos, emagrecer) e fazer medicação com um inibidor da bomba de protões (e.g.: omeprazol) para que a produção de ácido pelas células do estômago seja inibida. Os medicamentos anti-ácidos (de venda livre) resultam apenas em alívio sintomático por curtos períodos e não evitam a inflamação do esófago/estômago. COMPLICAÇÕES Ao longo do tempo, se a azia não for tratada, a erosão da mucosa do esófago/estômago e a sua inflamação constante podem levar à formação de úlceras (“feridas” na mucosa que além da dor podem levar a hemorragias), a estenose do esófago (aperto do esófago dificultando a passagem dos alimentos), ao esófago de Barrett (doença pré-maligna em que a mucosa do esófago sofre transformação para se adaptar à exposição prolongada ao ácido clorídrico) ou mesmo ao cancro do esófago/estômago. Ana Cristina Pratas 1TEN MN JANEIRO 2015 31 REVISTA DA ARMADA | 492 DESPORTO Foto 1SAR A Ferreira Dias XXX CAMPEONATO NACIONAL MILITAR DE FUTSAL Com a presença da Marinha, Força Aérea e PSP, decorreu de 19 a 21 de novembro o XXX Campeonato Nacional Militar de Futsal, organizado pela Marinha nas instalações do CEFA e ETNA. Disputaram-se nove jogos, onde pautou a boa qualidade técnico-tática, a par de um salutar convívio e fair-play entre as delegações presentes. A Força Aérea foi a vencedora dos dois troféus em disputa, o Masculino e o Feminino. Classificações: I Escalão II Escalão Escalão Feminino 1º FAP 2º PSP 3º MAR 1º MAR 2º FAP 3º PSP 1º FAP 2º PSP 3º MAR XXIX CAMPEONATO DE CORTA MATO DA MARINHA Realizou-se em 26 de novembro a fase final desta prova, que contou com a presença de 136 atletas em 6 escalões. A competição teve lugar na BNL, com partida e chegada na EN, num percurso de 8.800m para os escalões masculinos e 5.200m para o feminino. No final obtiveram-se os seguintes vencedores por escalões: I Escalão CAD M Piteira – EN II Escalão SAJ CM Ramos – CITAN III Escalão 1SAR CM Arieiro – CEFA IV Escalão ASS. OPE Silva – UAICM V Escalão SAJ A Madeira – ETNA VI Escalão 1TEN AN Conceição – NRP Bérrio O vencedor dos troféus masculino e feminino foi o Agrupamento BNL /FLOT. Melo e Sousa CFR REF Com a colaboração do CEFA LIVROS A Revista da Armada felicita os autores e agradece os exemplares oferecidos, que contribuem para o enriquecimento da nossa biblioteca. – Arigato, Joaquim Figueiredo – Diário de bordo da bateira ílhava – A construção, Ana Maria Lopes – Clube do Sargento da Armada – Uma História de Luta e Resistência, Pedro Ventura e Manuel Custódio de Jesus 32 JANEIRO 2015 REVISTA DA ARMADA | 492 QUARTO DE FOLGA JOGUEMOS O BRIDGE Problema nº 179 TAPE OS JOGOS DE E-W PARA TENTAR RESOLVER A 2 MÃOS Todos vuln. S joga 4♥ e recebe a saída a ♦V, joga pequena do morto e vê E jogar o R. Como deve S prosseguir para tentar cumprir o seu contrato? NORTE (N) ♠♥ ♦♣ OESTE (W) ♠♥ ♦♣ R A V D V 10 10 5 9 9 2 8 3 9 7 6 5 SOLUÇÃO: PROBLEMA Nº 179 D 6 7 6 3 ESTE (E) ♠♥ ♦♣ D 4 R R 10 3 V 6 7 3 5 4 2 SUL (S) ♠♥ ♦♣ 7 R D V 10 8 2 A A 5 8 4 2 A jogada de pequena do morto é obrigatória e deixe também fazer a 1ª vaza de R, o que constitui a chave do problema, pois ele está seco de certeza em E. Qualquer ataque será inofensivo, e quando W fizer o A de trunfo e voltar com ♦10 joga pequena outra vez e se E cortar não há problema, pois teria que dar sempre mais um ♦; se não o fizer pega então de A, destrunfa e dá depois só o ♦ perdente. Com este problema mostra-se mais uma vez a grande importância da primeira vaza, porquanto a resolução de muitos problemas depende da primeira jogada, para o que devemos começar por procurar interpretar a saída, contarmos as nossas perdentes e estabelecer uma linha de jogo. Neste caso, quem jogou sem cumprir este princípio básico e cobriu instintivamente o R com o A, já não conseguiu evitar o cabide, dando o A de trunfo e 3 ♦. A 9 8 4 Nunes Marques CALM AN PALAVRAS CRUZADAS 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Problema nº 461 HORIZONTAIS: 1 – Cidade dos Estados Unidos, capital do estado do Oregão; padre franc. (1601 – 1680) fundador dos Eudistas (Santo). 2 – Mulher que não crê; agente dos crimes de outrem. 3 – Designação de cantora notável; aderir (fig). 4 – Buraco; alguma (Inv); porcos na confusão. 5 – Substituída; rio francês. 6 – Cerceava. 7 – Símb. quím. do lutécio; tornar amarelo. 8 – Auroque; lavra; larva que se cria nas feridas dos animais (Bras. e inv.). 9 – Emparelha; nome de letra. 10 – Vestimentas que usavam sobre as armaduras os cavaleiros antigos (Inv); leras na confusão. 11 – Guarnecera de asas; tecido transparente de algodão ou linho. VERTICAIS: 1 – Judeu do séc. III a. C. que fundou a seita dos Saduceus; mãe de Francisco I, regente de França em 1515 e 1525 (1476 – 1531). 2 – Cavaleiro romano (109 – 32 a. C.) amigo de Cícero, que lhe dirigiu numerosas cartas; berros (Fig). 3 – Que merece ser amado (Inv); mato na confusão. 4 – Interjeição de espanto; salto brusco do cavalo; rate (Inv). 5 – Ruim; conserta grosseiramente. 6 – Afastara para o mar largo. 7 – Observara atentamente; símb. quím. do escândio. 8 – Criminoso (Inv); rio de Portugal, que nasce na serra da Cabreira; é prosa notável. 9 – Claridade, que o Sol dá à Terra (Pl); formaras em alas. 10 – Publica; põe arreios em. 11 – Fazer serão; viela. SOLUÇÕES: PROBLEMA Nº 461 HORIZONTAIS: 1 – SALEM; EUDES. 2 – ATEIA; SEIDE. 3 – DIVA; ATRAIR. 4 – QCA; AMU; STO. 5 – COMUTADA; AA. 6 – APARAVA. 7 – LU; AMARELAR. 8 – URO; ARA; ARU. 9 – IRMANA; ERRE. 10 – SATOC; SRAEL. 11 – ASARA; CASSA. VERTICAIS: 1 – SADOC; LUISA. 2 – ATICO; URRAS. 3 – LEVAMA; OMTA. 4 – EIA; UPA; AOP. 5 – MA; ATAMANCA. 6 – AMARARA. 7 – ESTUDARA; SC. 8 – UER; AVE; ERA. 9 – DIAS; ALARAS. 10 – EDITA; ARRES. 11 – SEROA; RUELA. Carmo Pinto 1TEN SUDOKU Problema nº 11 FÁCIL DIFÍCIL 6 3 1 7 6 8 2 8 8 8 2 7 9 5 8 1 3 4 7 9 3 6 8 9 FÁCIL 6 3 6 7 4 4 DIFÍCIL 5 3 9 SOLUÇÕES: PROBLEMA Nº 11 3 9 2 7 2 1 6 7 1 3 2 1 8 4 5 3 7 1 6 5 3 4 3 2 1 2 9 2 JANEIRO 2015 33 REVISTA DA ARMADA | 492 NOTÍCIAS PESSOAIS COMANDOS E CARGOS NOMEAÇÕES ● CMG Paulo Manuel Gonçalves da Silva, Chefe da Repartição de Obtenção da Direção do Serviço de Pessoal. RESERVA ● SMOR R António Gomes Rodrigues Canhão ● SMOR ETA Jaime Fonseca Alves ● SMOR A Ângelo Alberto Silva Teixeira ● SCH H António Manuel Gomes da Costa ● SCH ETA António Paulo da Silva Matos. REFORMA ● CMG SEE Valter Augusto Deusdado ● CTEN SEE António Henrique Boleto de Matos ● CTEN SEM Luís Manuel Lucas Leitão Augusto ● SMOR US Abílio Paulo da Fonseca Coelho ● SCH CM Alfredo dos Santos Gonçalves ● SCH CM Carlos Alberto Tavares Marques ● SAJ H Vítor Manuel Pereira Domingos ● SAJ FZ Jorge José Valada Piriquito ● SAJ US João Farinha Lopes ● SAJ M Jorge António Inácio Picão da Cunha ● SAJ E Jorge Maria Grácio Duque ● CAB M José Marques Alves ● CAB CM Luís António Rosa Batista ● CAB A José Gomes Florindo ● CAB L Francisco Manuel Marreiros da Costa ● CAB L Armando dos Santos Pinto Cecílio ● CAB A Victor Manuel Tomaz do Nascimento ● CAB CRO Manuel da Costa Mendes ● CAB E Rui Manuel Penhasco Moreira ● CAB CM José Gomes Pereira ● CAB M Hermínio José de Queirós Barbosa. FALECIDOS ● 91663 CMG EMA REF Francisco José Ferreira Neto ● 64766 CMG MN REF Artur Luís Martins de Cutileiro Ferreira ● 101441 1TEN SG REF Vicente Pires ● 161677 SAJ CM REF Jerónimo Chambino Flores ● 387655 SAJ E REF Sérgio da Anunciação Lopes da Costa ● 844562 SAJ FZ REF Francisco Manuel Gonçalves de Deus ● 221935 1SAR A REF José Miguel Videira ● 307149 1SAR R REF João António Piçarra ● 91364 1SAR TF REF José Maria Santas Noites ● 4970 2SAR REF Alberto de Sousa Azinhaga ● 1108163 2SAR FZ REF Celestino Jorge Martinho ● 146580 CAB A REF André da Silva Farinha ● 661960 CAB R REF Manuel Godinho Ricardo Gomes ● 33016075 SUBCH QPPM APOS José Maria de Jesus Rosendo. CONVÍVIOS COMPANHIA Nº 6 DE FUZILEIROS Realizou-se no dia 30 de agosto, na vila de Monte Real, o II encontro-convívio da Companhia nº 6 de Fuzileiros, que fez comissão em Vila Nova da Armada, Cubango, Angola, nos anos 70/72. A saudade não morre, quando existem raízes profundas de solidariedade na vivência da guerra. Neste reencontro, viver o passado de boas e más horas foi a nossa ansiedade concretizada. Houve emoções estampadas nos rostos de cada um dos Oficiais, Sargentos, Praças e respetivos familiares. Sentimentos que se revelaram através de olhos humedecidos e sorrisos rasgados, por todas as histórias vividas e para sempre gravadas no íntimo de todos nós. Encontrámos algumas “carcaças” um pouco gastas, fruto da idade outonal; mas sempre com espírito jovem para vencerem as intempéries da vida. Os homens do alcache são assim: GUERREIROS DE MAR E TERRA! No fim, fez-se silêncio em homenagem aos companheiros que já partiram. Que a luz os encaminhe na procura da verdade, que tão difícil é de encontrar!... 2ª GUARNIÇÃO DO NRP FRANCISCO DE ALMEIDA No passado dia 2 de outubro realizou-se, nas instalações do Farol do Cabo Espichel, o primeiro almoço de convívio da segunda guarnição do NRP D. Francisco de Almeida. O passeio começou com uma visita ao castelo de Sesimbra e terminou no farol do Cabo Espichel, onde decorreu o almoço. Integrado neste evento, o grupo de motards de bordo, com cerca de quinze participantes, aproveitou a oportunidade para efetuar o seu segundo passeio. Após o almoço foram realizadas diversas atividades desportivas, tais como o lançamento da retenida, o lançamento da boia, o jogo da corda e a corrida a pares, que colocaram à prova as perícias dos mais entusiastas. A segunda guarnição do NRP D. Francisco de Almeida não pode deixar de agradecer à Direção de Faróis e à Direção de Transportes pela sua colaboração, que muito contribuíram para a realização deste evento. 34 JANEIRO 2015 SÍMBOLOS HERÁLDICOS BRASÃO DO BATALHÃO DE INSTRUÇÃO DESCRIÇÃO HERÁLDICA Fuselado de prata e azul com uma ponta de vermelho, carregada com uma candeia flamejante de ouro. Coronel naval de ouro forrado de vermelho. Sotoposto listel ondulado de prata com a legenda em letras negras maiúsculas, tipo elzevir, «BATALHÃO DE INSTRUÇÃO». SIMBOLOGIA A adoção do fuselado de prata e azul – as cores da Marinha – encontra justificação no facto de os fuzileiros serem abreviadamente designados por “fusos”, denominação tradicional e honrosa. A ponta simboliza o ataque e a acutilância, sendo o vermelho sinónimo de fortaleza, honra e valor. A candeia traduz a função docente. SÍMBOLOS HERÁLDICOS BRASÃO DO BATALHÃO LIGEIRO DE DESEMBARQUE DESCRIÇÃO HERÁLDICA Fuselado de prata e azul com uma ponta de vermelho, carregada com um unicórnio marinho de ouro. Coronel naval de ouro forrado de vermelho. Sotoposto listel ondulado de prata com a legenda em letras negras maiúsculas, tipo elzevir, «BATALHÃO LIGEIRO DE DESEMBARQUE». SIMBOLOGIA A adoção do fuselado de prata e azul – as cores da Marinha – encontra justificação no facto de os fuzileiros serem abreviadamente designados por “fusos”, denominação tradicional e honrosa. A ponta simboliza o ataque e a acutilância, sendo o vermelho sinónimo de fortaleza, honra e valor. O unicórnio marinho evoca o carácter anfíbio.