Gata Borralheira de Robert Walser teatro 14 qui · 15 sex · 16 sáb · 17 dom · 19 ter · 20* qua · setembro · 2006 21h30 (dias 14, 15, 16, 19, 20) · 17h00 (dia 17) · grande auditório (lotação reduzida) · duração 1h30 texto robert walser tradução célia henriques encenação ricardo aibéo cenário joana villaverde figurinos dino alves desenho de luz josé álvaro correia consultor musical vasco pimentel edição e montagem de som hugo reis construção de cenário manuel lobão uni. lda (equipa: vítor mendes; gonçalo fernandes; fernando soares) assistente de montagem de luz antónio pedra spot de divulgação nuno amorim interpretação andresa soares, cláudio da silva, david almeida, lígia soares, ricardo aibéo, sofia marques produção executiva ana bordalo produção sul – associação cultural e artística co-produtores culturgest, artemrede e teatro viriato agradecimentos ana moreira, antónio pedro fernandes, antónio pires, catarina requeijo, carolina e constança villaverde rosado, célia henriques, chapitô (teresa ricou, eduardo henrique (didi), francisco leone, luís lobo alves, cláudia ferreira e companhia do chapitô), christine laurent, cristina homem gouveia, cristina reis, goofy, helena gelpi, hugo reis, inês oliveira, joana figueiredo, joão lucas, jorge esteves, luís mesquita, luis miguel cintra, major costa lima (gnr), maria teresa almeida, maria teresa penha, noémia fernandes, nuno amorim, nuno lopes, patrícia andré, sofia campos, teatro nacional de são carlos, teatro da cornucópia, vasco pimentel, vera midões, vítor silva tavares, yara jerónimo apoios associação de turismo de lisboa, el corte inglês, chapitô, paulo vieira, sousa, santo condestável outras apresentações teatro viriato (viseu) a 29 e 30 de setembro; teatro-cine de torres vedras a 6 de outubro; cine-teatro de almeirim a 14 de outubro; cine-teatro de alcobaça a 1 de novembro; fórum cultural j.m. figueiredo – baixa da banheira a 4 de novembro. * no dia 20 às 11h00, espectáculo dedicado às escolas do 2º e 3º ciclos. © Joana Villaverde A Nossa Gata Borralheira A Gata Borralheira de Charles Perrault conta a estória de uma menina que fica órfã, entregue ao poder da terrível madrasta, segunda mulher e viúva de seu pai, e das suas duas malvadas filhas. Ela vive muito infeliz sob os maus tratos constantes e a exploração destas três mulheres, que dela fazem sua escrava. Como não a deixam ir ao baile que o Rei organizou para encontrar a noiva perfeita para o Príncipe, ela chora muito. Aparece-lhe então uma outra mulher – a Fada Madrinha, que transforma as suas esfarrapadas vestes num luxuoso vestido de baile, faz de uma abóbora uma rica caleche e dos seus amigos ratinhos da cozinha faz formosos cavalos. A Gata Borralheira, agora Cinderela, vai ao baile e atrai a atenção do Príncipe que logo se apaixona por ela e dela faz a sua noiva. Cheia de bondade, a princesa ainda arranja para as malvadas irmãs dois nobres cavalheiros que com elas se casam e todos vivem felizes para sempre. Na versão dos irmãos Grimm, não é uma fada que faz a magia, mas sim os passarinhos que habitam nos ramos da árvore que ela plantou sobre o túmulo da sua mãe e com as suas tristes lágrimas regou. No final ela vive feliz para sempre com o Príncipe. Quanto às malvadas irmãs: seus olhinhos são comidos pelos fantásticos passarinhos. Há ainda a bela História da Gata Borralheira de Sophia de Mello Breyner Andresen, em que a jovem Lúcia não tem irmãs, nem tem Fada Madrinha, nem Príncipe; tem, sim, uma tia rica, a noite que a observa silenciosa e o ávido desejo de um dia possuir riquezas fabulosas. Consegue tudo o que quis, mas vinte anos depois, quando vê reflectida no espelho a imagem da menina de vestido bafiento que afinal nunca deixou de ser, morre, diz-se, vítima de uma síncope cardíaca. A Gata Borralheira de Walser situa-se algures entre a estoriazinha do conto de Perrault e o outro lado do espelho de Sophia, de onde vem a noite que espia a alma. Aqui há, de facto, duas irmãs muito más, mas nem elas parecem saber muito bem porquê. Não há madrasta. Não há pai nem mãe. Não há Fada Madrinha, nem passarinhos fabulosos – o fantástico vestido de Cinderela aqui é o Conto em pessoa que o vem trazer a cena. Há um Príncipe apaixonado, sim, mas que desconhece a razão por que foi parar àquele conto, acabando depois por se resignar ao seu final. Há um rei sandeu e mal disposto que quer descansar do seu governo. Há o bobo que, como sempre, é o verdadeiro senhor do espírito. Há ainda uns estranhos pajens, que são corpos de meninas envolvidos em roupas de rapaz. E há uma Gata Borralheira que vive feliz no mundo dos seus sonhos, muito acima do mundo rude, áspero e ridículo em que vive o seu corpo. Desta Gata Borralheira não se tem pena, porque é ela que tem pena de nós por alguma vez nas nossas vidas termos tido pena dela. Esta Gata Borralheira, escrava do mundo hostil, é livre e apela para a nossa libertação – a única possível, talvez, a do espírito. Esta Mulher, condenada a servir o mais forte, é ela própria o mais forte, pois é ela quem condena o mais forte a ser servido. Quem sofre nesta estória não é a pobre humilhada, mas sim quem carrega o fardo pesado do chicote. A nossa “pobre coitada” aqui é a rainha, pois é impermeável à adversidade, não está virada para o mundo em que é obrigada a viver, mas sim para onde se ergue o olhar do seu espírito. E esse pode muito bem voar, alegremente desamparado e só. A Nossa Gata Borralheira não é um conto de fadas, é a cabeça, a ética e a nobilíssima (até à ofensa) alma do Nosso Robert Walser. Encenar isto é, pelo menos para mim, muito difícil e angustiante. Não só pelas dificuldades dramatúrgicas (costuma dizer-se assim?) que o texto coloca, mas porque no dar corpo a esta voz existe o pressentimento de um crime eminente – o de roubar o corpo às palavras, à poesia. Esta peça é um poema, sem dúvida. Um poema dramático, talvez, mas nunca teatral. São palavras que não querem corpo nem voz, querem ser vistas por dentro, querem esconder-se do olhar, como um sonho tranquilamente febril. Fotografia de ensaio © Folha A verdade é que nós fizemos com isto um espectáculo de teatro, isso não se pode negar. Não pelo desejo, confesso, de fazer das palavras de Walser espectáculo, mas pela modesta e talvez irresponsável e talvez arrogante tentação de oferecer essas palavras a quem queira ficar com elas. Se acaso foi aqui efectuado algum grande crime, haja alguém, por favor, que nos puna com a mesma severidade com que o cometemos. Obrigado. Ricardo Aibéo Robert Walser Robert Walser nasceu a 15 de Abril de 1878 em Biel, no cantão de Berna. Logo a seguir à escola secundária, tornou-se aprendiz da sucursal em Biel da Banque Cantonale Bernoise e depois escriturário em Basileia. Em Zurique esteve empregado em mais alguns bancos. Entretanto, começou a escrever e dedicou-se à profissão de escritor. Ingressou no asilo de Herisau por razões de doença. Morreu a 25 de Dezembro de 1956 durante um passeio solitário. Robert Walser considerava-se um “romancista artesanal” e os seus textos “fragmentos de uma longa história realista sem acção”. Foi muito tempo ignorado pelo público, apesar do reconhecimento que obteve de autores como Kafka, Musil ou Elias Canetti. Mas nas últimas décadas tornou-se uma das referências da literatura europeia dos séculos XX e XXI. Permanece, apesar disso, discreto e inclassificável, cúmplice da vida interior de quem o descubra. Em português estão publicados os seguintes títulos: O Passeio e outras histórias (Granito), O Salteador, A Rosa, Jakob von Gunten, O Ajudante (Relógio d’Água), as peças Gata Borralheira/Branca de Neve/A Bela Adormecida (&etc) e o conto “O Jantar” (Revista Ficções, nº especial “De Comer”). João César Monteiro realizou uma Branca de Neve a negro a partir da peça de Walser. walser como bartleby Robert Walser sabia que escrever que não se pode escrever também é escrever. E entre os muitos empregos de subalterno que teve – empregado de livraria, secretário de advogado, empregado bancário, operário numa fábrica de máquinas de costura, e finalmente mordomo num castelo da Silésia –, Robert Walser retirava-se de vez em quando, em Zurique, para a “Câmara de Escrita para Desocupados” (o nome não pode ser mais walseriano, mas é autêntico) e aí, sentado num velho tamborete, ao entardecer, à pálida luz de um candeeiro de petróleo, servia-se da sua bonita caligrafia para trabalhar como copista, para trabalhar como “bartleby”. Não só essa característica de copista mas também toda a existência de Walser nos fazem pensar no personagem do conto de Melville, o escrevente que passava as vinte e quatro horas do dia no escritório. Roberto Calasso, falando de Walser e Bartleby, comentou que nesses seres que imitam a aparência do homem discreto e vulgar habita, no entanto, uma perturbadora tendência para a negação do mundo. Tanto mais radical quanto menos notado, o sopro da destruição passa muitas vezes despercebido para as pessoas que vêem nos “bartlebys” seres cinzentos e bonacheirões. “Para muitos, Walser, o autor de Jakob von Gunten e inventor do Instituto Benjamenta – escreve Calasso –, continua a ser uma figura familiar e pode-se mesmo chegar a ler que o seu niilismo é burguês e helveticamente bonacheirão. Mas é, pelo contrário, um personagem remoto, uma via paralela da natureza, um traço quase indiscernível. A obediência de Walser, como a desobediência de Bartleby, pressupõem uma ruptura total […]. Copiam e transcrevem escritas que os atravessam como uma lâmina transparente. Não enunciam nada de especial, não pretendem modificar. Não me desenvolvo, diz Jakob von Gunten. Não quero mudanças, diz Bartleby. Na sua afinidade revela-se a equivalência entre o silêncio e certo uso decorativo da palavra.” (…) Às vezes abandona-se a escrita porque se cai simplesmente num estado de loucura sem recuperação. O caso mais paradigmático é o de Hölderlin, que teve um imitador involuntário em Robert Walser. O primeiro esteve os trinta e oito últimos anos da sua vida encerrado nas águas-furtadas do carpinteiro Zimmer, em Tübingen, escrevendo versos estranhos e incompreensíveis que assinava com os nomes de Scardanelli, Killalusimeno ou Buonarrotti. O segundo passou os vinte e oito últimos anos da sua vida encerrado nos manicómios de Waldau, primeiro, e depois no de Herisau, entregue a uma frenética actividade de letra miscroscópica, fictícias e indecifráveis galimatias nuns minúsculos bocados de papel. Acho que se pode dizer que, de certo modo, tanto Hölderlin como Walser continuaram a escrever: “Escrever – dizia Marguerite Duras – também é não falar. É calar-se. É uivar sem ruído.” (…) Dos uivos sem ruído de Walser temos o amplo testemunho de Carl Seelig, o amigo fiel que continuou a visitar o escritor Fotografia de ensaio © Folha quando este foi parar aos manicómios de Waldau e Herisau. (…) Toda a obra de Walser, incluindo o seu ambíguo silêncio de vinte e oito anos, analisa a vaidade da própria vida. Talvez por isso só desejasse ser um zero à esquerda. Alguém disse que Walser é como um corredor de fundo que, quase a alcançar a desejada meta, pára surpreendido e olha para mestres e discípulos e desiste, isto é, fica na sua, que é uma estética do desconcerto. (…) Robert Walser amava a vaidade, o fogo do Verão e os botins femininos, as casas iluminadas pelo sol e as bandeiras ondulando ao vento. Mas a vaidade que ele amava nada tinha a ver com a ambição do êxito pessoal, mas sim com esse género de vaidade que é uma frágil exibição do mínimo e do fugaz. Enrique Vila-Matas Bartleby & Companhia, Lisboa, Assírio & Alvim, 2001 (Trad. José Agostinho Baptista) deixa-andar, loucura e convalescença Ora, o que à partida salta aos olhos, em Walser, é uma negligência completamente inabitual, difícil de descrever. Que esta nulidade tenha importância, esta dissipação perseverança, o estudo dos textos de Walser só o descobrirá em último lugar. Está longe de ser simples. Porque se estamos habituados a ver surgir os enigmas do estilo nas obras de arte um tanto estruturadas, intencionais, aqui encontramo-nos face a uma selvajaria da linguagem completamente arbitrária, pelo menos na aparência e, no entanto, atraente e fascinante. E, ainda por cima, perante um deixa-andar que se manifesta sob todas as formas, do encanto ao amargor. Aparentemente arbitrária, dizemos nós. Várias vezes se debateu isso. Querela vã, se pensarmos na confissão de Walser de jamais, nos seus textos, ter corrigido uma só linha. É certo que não somos forçados a acreditar nele, mas seria preferível. Porque então sossegar-nos-íamos ao compreender isto: escrever é nunca corrigir o que se escreve, é justamente a interpenetração perfeita da mais extrema ausência de intenção e de uma intenção suprema. Bom. Mas isso não deveria impedir-nos de examinar mais profundamente essa negligência. Já o dissemos: ela apresenta-se sob todas as formas. Mas acrescentaremos: à excepção de uma única. A saber, aquela, a mais corrente, justamente a que se interessa apenas pelo conteúdo. Para Walser, o como do seu trabalho é tão pouco secundário que tudo quanto ele quer dizer se apaga perante o significado do acto da escrita. Temos vontade de dizer: aniquila-se na escrita. Isto deve ser explicitado. Tocamos aqui num aspecto muito helvético deste escritor: o pudor. (…) Decerto, tudo isto é evidente. Esta falta de jeito púdica e artística para tudo quanto diz respeito à linguagem faz parte da herança dos loucos. Se Polonius, figura originária da loquacidade, é um malabarista, Walser, quanto a ele, coroa-se, à maneira de Baco, com guirlandas linguísticas que lhe provocam a queda. Com efeito, a guirlanda é a própria imagem do seu fraseado. Mas o pensamento que vacila nele é um mandrião, um vadio e um génio, como os heróis da sua prosa. Incapaz de se desligar dos seus personagens principais, não sabe, aliás, senão descrever “heróis”, e ficou agarrado a dois romances precoces para daí em diante passar a viver fraternalmente apenas com os seus cem vadios favoritos. (…) [Os personagens de Walser] saem da noite, de onde ela é mais negra, uma noite veneziana, se assim se quiser, mal iluminada por pobres lampiões de esperança, com o brilho das festas nos olhos, mas perdidos e tristes até às lágrimas. Aquilo que choram é prosa. Porque o soluço é a melodia da loquacidade walseriana. Ele revela-nos então de onde vêm os seus preferidos. Da loucura, e de mais lado nenhum. São personagens que passaram pela loucura e é por isso que conservam uma superficialidade tão pungente, tão completamente inumana, imperturbável. Se quisermos resumir o que a um tempo têm de divertido e de terrível, podemos dizer: estão todos curados. Claro que não saberemos nunca qual foi o processo dessa cura, a menos que ousemos debruçar-nos sobre a sua Branca de Neve. (…) As histórias são de uma ternura de facto inabitual, e isso compreendem todos. O que todos não vêem é que elas contêm não a tensão nervosa de uma vida em decadência, mas a atmosfera pura e animada da vida convalescente. “A ideia que poderia ter do êxito na vida, amedronta-me”, lê-se em Walser (…). Todos os seus heróis partilham deste medo. Mas porquê? De modo nenhum por repugnância do mundo, ressentimento moral ou pathos, mas por razões epicuristas. Eles querem fruir de si próprios. E para isso dispõem de um dom excepcional. E também de uma nobreza pouco comum. Finalmente, para o poderem fazer, possuem um direito de facto inabitual. Pois ninguém frui como um convalescente. Longe dele o orgíaco: o fluxo do seu sangue renovado soa ao canto dos ribeiros e o sopro purificado dos seus lábios atinge os cumes. Os personagens de Walser partilham esta nobreza infantil com as figuras dos contos de fadas, as quais, também elas, surgem da noite e da loucura, ou seja, do mito. Em geral pensa-se que este despertar ocorreu nas religiões positivas. A ser o caso, de qualquer modo não sob uma forma muito simples nem muito explícita. Essa forma, é preciso procurá-la na grande discussão profana com o mito que representa o conto de fadas. É certo que as figuras não são simplesmente semelhantes às de Walser. Ainda lutam para se libertarem do sofrimento. Walser, esse, começa onde os contos terminam. “E eles não estão mortos, ainda hoje vivem.” Walser mostra como eles vivem. Os seus estudos chamamse – e gostaria assim de terminar onde ele começa: histórias, composições, ficções, pequenas prosas e assim por diante. Walter Benjamin “Robert Walser” in Gata Borralheira/Branca de Neve/A Bela Adormecida, Lisboa, &etc, 2000 (Trad. Célia Henriques) branca de neve Robert Walser retoma o conto onde Grimm o deixou. As personagens, na mão do poeta, permitem-se tudo, mesmo fazer uma careta à lenda. Que imprudente ideia, a do príncipe, ter interrompido Branca de Neve no melhor dos sonos e, com um beijo que ela negará sempre, retirá-la do caixão de vidro para a restituir à vida, isto é, à carne, e arrogar-se direitos sobre ela. Neste “dramolete”, Walser está ainda mergulhado nos conflitos da infância. Nota-se aqui quanto o pai é inexistente. É sempre com a mãe, ou a madrasta, que a heroína se deve confrontar. Se Branca de Neve deseja morrer ou regressar ao país dos seus anões, é porque não está convencida da boa-fé da rainha. A sua madrasta não quis envenená-la? Quando Branca de Neve, salva pelo príncipe, voltou à vida, a rainha, graças aos seus beijos, não incitou, acto contínuo, o caçador a apunhalá-la? E eis o príncipe e a jovem, tão pura quanto o seu nome indica – o qual evoca para nós a morte de Walser na neve – aterrorizados por uma cena bestial entre a rainha e o caçador. O homem está deitado sobre a mulher e as suas atitudes parecem aos dois inocentes de uma brutalidade espantosa. O amor será isto? Uma luta encarniçada? Beijos envenenados, amor e crime intimamente imbricados, é absolutamente imprescindível corrigir o conto de Grimm. A mãe, madrasta, não pode ser tão malvada, seria insuportável. Mas Branca de Neve deve aprender que amor e ódio não estão nunca muito afastados. Ela compreende. Julgava-se – como Robert – “ferida, expulsa, perseguida, odiada”. Era apenas tonta e agora tudo acaba em bem. Branca de Neve escolheu ser feliz. Por que preço? O dilema é quase hamletiano: a afirmação da pequenez do sim implica a renúncia à grandeza do não. Os derradeiros flocos de neve derretem-se ante o triunfo dos raios solares. O mundo social não hospeda o mundo mítico. Le bonheur n’est pas gai. Ó noite, coberta pelo teu manto de lua: a neve, a neve ainda? Marie-Louise Audiberti/João César Monteiro Sinopse do filme Branca de Neve de JCM (in Dossier de Imprensa Branca de Neve, reproduzido no catálogo João César Monteiro, Lisboa, Cinemateca Portuguesa, 2005) Citações branca de neve caçador: branca de neve: Crês que te queria matar? Sim, com todo o gosto. Ah, sim, e por que não sim a tudo quanto dizes? Dizer sim faz muito bem e é muitíssimo doce. Acredito em ti. Sim, mesmo que mintas, construas contos que cheguem ao céu, me apresentes mentiras manifestamente toscas e patetas, mesmo assim acreditarei sempre em ti. Tenho de dizer sim, sempre sim. Nunca como agora uma crença cresceu tão bela assim em mim, nem uma confissão foi tão doce como este sim. Diz o que quiseres, creio em ti. branca de neve: Sim e também não. Se abafar o sim, o não apressa-se logo a dizer-me sim. Diz que acredito. Di-lo de tal modo que, sim, tenho sempre de crer em ti. Estou cansada do não. O sim tem graça. Acredito em ti, digas o que disseres. Gosto muito de dizer: sim, acredito. caçador: Vê, esta é que é a voz de Branca de neve. Se reina a desconfiança, não é ela própria, é um algoz que se tortura a si mesmo e tortura os outros que por amor se lhe rendem. Mas se agora eu disser que a desconfiança só diz mentiras inventadas e venenosas, então, então tu acreditas em mim, não é assim, Branca de Neve? (Trad. Célia Henriques) jakob von gunten Eu, por exemplo, considero muito agradável usar farda, porque nunca sabia muito bem o que havia de vestir. Mas, mesmo a este respeito, sou ainda um enigma para mim próprio. Talvez se esconda em mim um homem muito, muito vulgar. Ou talvez tenha sangue azul. Não sei. Mas uma coisa sei com certeza: serei no futuro um zero à esquerda, um zero muito redondo e encantador. Quando for velho, terei de servir jovens grosseiros, presunçosos e mal-educados, ou serei mendigo, ou morrerei na miséria. É encantador prestar um serviço a quem não conhecemos ou a quem não tenha nada a ver connosco, permite-nos vislumbrar paraísos divinos e velados. Além disso: no fundo, todas as pessoas, ou pelo menos quase Fotografia de ensaio © Folha todas as pessoas têm alguma coisa a ver connosco. As pessoas que passam por mim têm alguma coisa a ver comigo, isso é claro. É uma questão privada. E quando o céu está cinzento e chove? Então todas estas figuras, e eu com elas, caminham apressadamente sob a gaze opaca, como figuras de um sonho, à procura de alguma coisa, mas sem nunca encontrar, parece, o que é belo e certo. Todos aqui procuram alguma coisa, todos anseiam por riquezas e fortunas fabulosas. Sempre com pressa. Não, sabem dominar-se em tudo, mas a pressa, a ânsia, o tormento e a inquietude brilham em lampejos nos olhos ávidos. E depois tudo é de novo banhado pelo sol do meio-dia. Tudo parece dormir, mesmo os carros, os cavalos, as rodas, os ruídos. E as pessoas olham sem consciência. Os prédios altos, aparentemente em queda, parecem sonhar. Raparigas passam apressadas, embrulhos são transportados. Gostaríamos de abraçar alguém. Aprendemos uma coisa depois da outra, e aquilo que aprendemos quase nos possui. Não somos nós que o possuímos, antes pelo contrário, aquilo de que aparentemente nos apoderámos, apodera-se então de nós. São-nos incutidos os efeitos benéficos da observação firme e rigorosa das pequenas coisas, ou seja, de nos acostumarmos e adaptarmos às leis e ordens impostas por um exterior severo. Querem talvez tornarnos estúpidos, em todo o caso, querem tornar-nos pequenos. Mas não nos deixamos intimidar. (…) continuou a falar: “É claro que existe aquilo a que chamam progresso, mas esta é apenas uma das muitas mentiras que os homens de negócios espalham para poderem extorquir dinheiro às massas com ainda mais insolência e impiedade. As massas são os escravos do nosso tempo, e o indivíduo é o escravo da vasta ideia que subordina as massas. Já não há nada de belo, de excelente. Tens de ser tu a sonhar o que é belo e bom e honesto. Diz-me, sabes o que é sonhar?” – Eu limitei-me a dizer que sim duas vezes com a cabeça. Tens de ter esperança mas não podes ter esperança. Ergue o olhar para alguma coisa, claro, é assim que deve ser, és jovem, despudoradamente jovem, Jakob, mas confessa sempre que desprezas aquilo para que ergues o olhar com respeito. Um escravo teria hoje uma vida bem mais dura, Deus nos livre! De resto, entre nós, pessoas modernas, arrogantes e desembaraçadas, há muitos, muitos escravos. Talvez todos nós sejamos hoje como escravos, dominados por uma concepção do mundo zangada, rude, de chicote na mão. Feitas as contas, temos tão poucos pensamentos. Sou talvez eu quem tem mais pensamentos, é bem provável, mas desprezo em absoluto a minha faculdade do juízo. Só dou valor à experiência, e a experiência é por regra inteiramente independente de todos os pensamentos e comparações. É por isso que dou valor ao modo como abro uma porta. Há mais vida oculta no abrir de uma porta do que numa pergunta. Pois sim, tudo nos leva a perguntar e a comparar e a recordar. É claro que temos de pensar, pensar muito até. Mas a submissão é muito, muito mais refinada do que pensar. Quando pensamos, oferecemos resistência, e é tão feio isto, tão vicioso. Se quem pensa soubesse o quanto pensar vicia as coisas. Quem por zelo não pensa, faz qualquer coisa, e esta coisa é bem mais necessária. Há no mundo dezenas de milhares de cabeças que trabalham desnecessariamente. É claro isto, claro como o dia. Todas as dissertações, toda a compreensão e todo o conhecimento roubam aos homens o instinto vital. São-me infinitamente simpáticas as pessoas que se zangam. Kraus zanga-se sempre que tem uma oportunidade. E é tão belo isto, tão cheio de humor, tão nobre. E nós os dois combinamos tão bem um com o outro. O indignado tem sempre de ser confrontado pelo pecador, caso contrário falta alguma coisa. Quando por fim me levanto, finjo ainda que estou na cama a mandriar. “E ele ainda lá está embasbacado, o palerma, em vez de me dar alguma ajuda”, diz ele então. Como isto é magnífico. Os arrulhos de um rabugento são para mim mais belos do que o murmúrio de um ribeiro na floresta banhado pelo mais esplêndido sol das tardes de domingo. Pessoas, pessoas, só pessoas! Sim, sinto-o intimamente: amo as pessoas. As suas tolices e cóleras repentinas são-me mais caras e preciosas do que as mais extraordinárias maravilhas da Natureza. Uma gargalhada é o exacto oposto de um pedaço de madeira, é qualquer coisa que nos acende fósforos por dentro. Os fósforos riem com as mãos a tapar a boca, precisamente do mesmo modo que uma gargalhada contida. Gosto muito, mesmo muito, de impedir o riso que quer rebentar. Não soltar aquilo que por sua vontade sairia disparado, que cócegas magníficas me dá. Amo tudo o que não pode ser, que tem de ficar dentro de mim. O que assim se reprime torna-se mais doloroso, mas ganha também mais valor. Sim, sim, confesso que gosto de ser reprimido. É bem assim, não, nem sempre é bem assim, o Senhor É Bem Assim havia de marchar daqui para fora. O que eu queria dizer era: não dever fazer alguma coisa significa fazê-lo noutro lado a dobrar. Nada é mais insípido do que uma autorização indiferente, apressada, fácil. Gosto de merecer tudo, de experimentar tudo, e uma gargalhada, por exemplo, tem também de ser exaustivamente experimentada. Quando rebento por dentro de tanto riso, quando quase já não sei o que fazer a toda a pólvora que cicia, sei então o que é rir, rio então gargalhadamente, tenho então uma imagem clara daquilo que me sacudia. Aceito sem reservas, tenho a firme convicção de que os regulamentos tornam a vida de prata, talvez mesmo a dourem, por outras palavras, trazem-lhe mil encantos. Pois o que acontece com o riso proibido e irresistível acontece também com todas as outras coisas e prazeres. Não poder chorar, por exemplo, apenas aumenta o choro. Abdicar do amor, sim, é já amar. Quando não posso amar, amo dez vezes mais. Tudo o que é proibido vive cem vezes mais; aquilo que deveria estar morto vive com mais vida. E é o mesmo para coisas pequenas ou grandes. Disse isto com muita graça, com palavras comuns, mas é nas coisas comuns que se encontram as verdades verdadeiras. Estou outra vez a tagarelar, não é assim? Concedo com muito gosto que estou a tagarelar, mas com alguma coisa tenho de encher estas linhas. (Trad. Isabel Castro Silva) o salteador Para poder finalmente adormecer, ia fazendo todo o possível por abrir bem os olhos. E, de repente, caí num sono profundo. Para conseguirmos adormecer, portanto, temos de nos esforçar por nos mantermos despertos. Nada de fazer força para adormecer. Para podermos amar, temos de nos esforçar por não amar. E então, de repente, passamos a amar. Para sentirmos respeito por alguém, teremos de ser desrespeitadores durante algum tempo. Sentiremos então, de imediato, a necessidade de respeitar esse alguém. Estou a dar-lhes estes conselhos valiosos sem pedir absolutamente nada em troca. Tentem segui-los, não por mera obediência, mas para vosso próprio prazer e benefício, porque uma pessoa dá um conselho com a intenção de fazer os outros felizes e não para que o conselho seja aceite por ele próprio, ainda que o facto de que o aceitem signifique que estão a agir e a actividade faz com que as pessoas se sintam bem e estejam, portanto, disponíveis para seguir o conselho dado. Às pessoas saudáveis faço o seguinte apelo: não teimem em ler apenas esses livros saudáveis, travem um conhecimento mais estreito, também, com a literatura dita doentia, que vos transmitirá, decerto, uma cultura edificante. As pessoas saudáveis deviam sempre expor-se um pouco ao perigo. Senão, com mil raios, para que serve ser saudável? (Trad. Leopoldina Almeida) o passeio Espontaneamente exclamei: “Bom Deus, bem pode um honrado cidadão indignar-se diante de tais barbaridades publicitárias a dourado, que emprestam à paisagem que nos rodeia um cunho de arrogância, cupidez e de uma mísera e total degenerescência do espírito.” Precisará, realmente, um simples e honesto padeiro de se apresentar com tal imponência e de brilhar e refulgir ao sol com os seus anúncios a ouro e prata como príncipe ou uma vistosa dama de porte duvidoso? Saiba ele, antes, amassar e cozer o seu pão com a modéstia que convém à honestidade e à insensatez! Em mundo estonteante vivemos, ou vamos viver, se a comunidade, os cidadãos e a opinião pública não só admitem, mas, infelizmente, ainda aplaudem abertamente o que ofende a sensibilidade requintada, o sentido do gosto, da beleza e da mediania, o que se impõe de forma doentia e, dando-se um ar ridiculamente acanalhado como que brada a mais de cem metros em redor, aos quatro ventos: “Eu sou fulano de tal. Tenho tanto e tanto dinheiro e posso permitir-me dar nas vistas com grosseria. É claro que, com as minha exibições de fausto idiota, não passo dum labrego e dum simplório sem sensibilidade; mas ninguém pode proibir-me de ser grosseiro e presunçoso.” Será que os caracteres dourados, brilhando e refulgindo ao longe de forma ignóbil, mantêm alguma relação aceitável e sinceramente plausível, ou algum laço de parentesco normal com – o pão? De modo nenhum! Mas o que acontece é que a odiosa jactância e a ostentação já começaram um pouco por toda a parte e, como uma lamentável e terrível inundação, foram sempre acumulando progressos, arrastando consigo a insensatez, a impureza e a tolice, espalhando-as pelos quatro cantos do mundo, até que levaram na maré o meu honrado padeiro, corrompendo-lhe o bom gosto que até então manifestara e minando a sua tradicional modéstia. (…) Uma verdadeira catástrofe, é o que é, espalha no mundo o perigo da guerra, a morte, a miséria e o ódio e fixa em tudo o que existe uma máscara maligna de maldade e perfídia. (…) No entanto, é possível que com o tempo tudo volte a mudar. É isso que espero. (Trad. Fernanda Gil Costa) esta paisagem de neve… Esta paisagem de neve, queria-a bonita. Esperemos que o seja. É porque era muito fresca, a neve, e embora um pouco mole, ainda firme o suficiente. Pareço cheio de virtude, agora. Quero ser amável com os outros, mas desde que possa privar-me magnificamente deles todos. Quero ser afável, mas não demasiado. Vejam-me estas manobras! Ao escrever estas linhas, dou-me a impressão de ser claro e luminoso, transportado para uma camada fina, num sopro de perfeição, metido lá dentro, por assim dizer como um bolo que se enfia no forno. Prevejo ser muito frugal, no futuro. A ausência de pretensões é uma arma, talvez uma das mais faiscantes que há no mundo. Vi um dia em palco, numa peça de cavalaria, um jovem rei cuja couraça faiscava maravilhosamente. No início da peça, tinha um ar muito infeliz. A sua atitude muito melancólica explicava-se bastante bem. Mas uma rapariga corajosa veio em seu auxílio. Como é belo, quando alguém vem em socorro dos que não têm defesa, para os arrancar a um mundo de perplexidades. Hoje em dia, semelhante a uma armadura branca e cintilante, a camada de neve revestia a região que eu atravessava. Le Territoire du crayon – Microgrammes, Éditions Zoé Passeios com Robert Walser Mais tarde: “Se eu pudesse rebobinar o fio do tempo e recomeçar tudo a partir dos trinta, já não permitiria com certeza ao fanfarrão romântico que fui que escrevesse como o fazia, no vago absoluto, sacrificando à sua bizarria, à sua despreocupação. Não se deve negar a sociedade. É preciso viver lá dentro e lutar por ou contra ela. Eis o defeito dos meus romances. São demasiado fantasiosos e introspectivos, com frequência demasiado negligentes do ponto de vista da composição. Tocava ingenuamente a minha música, nas tintas para critérios artísticos. Antes da sua reedição, bem teria gostado de encurtar os Irmãos Tanner em setenta ou oitenta páginas; hoje em dia, parece-me que um acto tão íntimo como o que consiste em pronunciar um juízo sobre os próprios filhos não deve ser cumprido em público.” Depois de um silêncio: “O talento poético mais notável é muitas vezes aquele que se abstém de qualquer acção e se manifesta no quadro estreito de um meio regional. Desconfio à partida dos escritores que se distinguem na acção e não lhes chega o mundo inteiro para pôr em cena as suas personagens. As coisas do quotidiano são suficientemente belas e ricas para que delas se possam tirar centelhas poéticas.” “Sabe o que me foi fatal? Ouça bem! Foram todos esses bravos corações, partidários incondicionais de Hermann Hesse, que se julgam autorizados a dar-me ordens e criticar-me. Não se fiam em mim. Para eles é ou isto, ou aquilo: ‘Ou escreves como Hesse, ou és e permanecerás um falhado.’ É este o juízo definitivo que pronunciam sobre mim. O meu trabalho não lhes inspira confiança. Eis a razão pela qual falhei no hospício. – Que quer, nunca tive auréola de santo. Ora, para chegar a algum lado em literatura, não se passa sem ela. Um nimbo de heroísmo, de sábia resignação ou um não sei quê, e as cartas estão lançadas. Basta trepar pela escada do sucesso… Julgam-me implacável, coisa que de facto sou. É por isso que ninguém me leva a sério.” “Prefiro não ler os autores contemporâneos enquanto estiver na situação de doente. Parece-me que é melhor ficar à distância.” – “Sem amor, de que serve ao artista ter talento?” “É absurdo e grosseiro, sabendo-me num hospício, pedirem-me que continue a escrever livros. A única terra onde o poeta pode criar é a da liberdade. Enquanto essa condição não estiver preenchida, não posso sequer contemplar voltar a escrever. Não chega, nem de perto nem de longe, pôr à minha disposição um quarto, uma caneta e papel.” – Eu: “Tenho a impressão de que não aspira minimamente a essa liberdade!” – Robert: “Não há ninguém para ma oferecer. Portanto é preciso esperar.” – Eu: “Teria realmente vontade de deixar o hospício?” – Robert (hesitante): “Podia-se sempre tentar!” – Eu: “Onde gostaria de viver?” – Robert: “Em Biel, Berna ou Zurique – pouco importa! Não há lugar onde a vida não nos possa dar todo o seu encanto.” – Eu: “E uma vez lá fora, voltaria a escrever?” – Robert: “Face a uma tal pergunta, uma única reacção possível: não responder.” “A música devia estar reservada às camadas superiores. Em grande quantidade, tem efeitos cretinizantes sobre a massa. Hoje em dia já a servem em cada mictório. Mas a arte deve permanecer um presente raro, uma coisa a que a arraia miúda possa aspirar como ao céu. O artista não se deve comprazer na perde progressivamente cada dia. Actualmente tudo se tornou objecto de cobiça, de brutal acto de posse.” Sobre si próprio: “Vi sempre à minha volta urdirem-se intrigas contra os parasitas da minha espécie. Repelia-se com desdém tudo o que não se enquadrasse com o mundo de que se tinha orgulho em fazer parte. Mas esse mundo, nunca me teria arriscado a nele irromper. Não teria sequer a coragem de o olhar de relance. Vivi portanto a minha própria vida na periferia das existências burguesas. Não era isto verdade? E se o meu mundo é mais pobre, menos estabelecido que o deles, não tem apesar disso, também ele, o direito de existir?” cloaca. É um erro, para além de que é de um mau gosto pavoroso. Simpatia, graça, elevação de espírito são os elementos de que a arte não se saberia privar. – No que me diz respeito, a música não me faz falta se eu estiver no meu estado normal. Prefiro-lhe uma conversa amigável. Mas em Berna, na época em que estava apaixonado por duas criadas, tinha a nostalgia da música e corrialhe atrás como um possesso.” Ao lado do estabelecimento termal Jakobsbad ergue-se uma alvenaria barroca que faz pensar num claustro, provavelmente um asilo de velhos. Eu: “Entramos para ver?” – Robert: “É seguramente mais bonito visto do exterior. Não é preciso tentar desvendar todos os segredos. É uma convicção que me guiou durante toda a vida. Não é maravilhoso que tantas coisas, no decurso da nossa existência, permaneçam misteriosas e inacessíveis, como que escondidas por trás de muros cobertos de hera? Isto dá-lhes um encanto indizível mas que se “Sabe porque é que não subi de grau como escritor? Vou dizer-lho: o meu instinto social não era suficientemente desenvolvido. Não fazia suficientemente o teatro que era preciso fazer para agradar. É isto, acredite! Dou-me perfeitamente conta disso actualmente. Deixava-me levar demasiado pelo meu prazer pessoal. Sim, é verdade, tinha todas as disposições requeridas para me tornar uma espécie de vagabundo e não lutava minimamente contra essa tendência. Este lado subjectivo desagradou aos leitores dos Irmãos Tanner. Segundo eles, o escritor não se deve perder na subjectividade. Consideram pretensão o facto de se dar tanta importância à própria pessoa. Como se engana, o poeta que parte do princípio de que o mundo se interessa pelos seus assuntos privados!” “Já quando dos meus inícios literários, devia dar a impressão de que troçava dos bons burgueses, que os tratava com desenvoltura. Nunca mo perdoaram. E é por isso que sempre permaneci aos seus olhos um zero à esquerda, um tipo que não valia o preço da corda para o enforcar. Deveria ter juntado uma pitada de amor e de sofrimento, uma pitada de seriedade e de deferência aos meus livros – uma pitada de romantismo etéreo, como Herman Hesse soube tão bem fazer em Peter Camenzind e Knulp. Mesmo o meu irmão Kari me recriminou por este defeito de um modo delicadamente desviado.” “Como estive feliz esta manhã”, diz Robert subitamente jovial, “quando vi nuvens em vez do céu azul! Estou-me nas tintas para as vistas soberbas e os horizontes distantes. Onde o longínquo desaparece, a proximidade torna-se ternamente próxima. De que mais precisamos, para estarmos satisfeitos, do que de um prado, um bosque e algumas tranquilas choupanas? – Venha doravante de preferência ao domingo, se puder! Como já não exerço a minha actividade de escritor, não deveria continuar a permitir-me a extravagância de deixar o meu trabalho para ir passear. Isto semeia a confusão na ordem do hospício. E depois também é agradável ver o mundo sob o seu aspecto dominical.” “Os escritores sem ética merecem levar pauladas. Pecaram contra a sua vocação. O seu castigo, por enquanto, é este Hitler solto no seu encalço. É difícil não recriminar a literatura moderna pela sua indelicadeza, a sua arrogância, o seu pedantismo. Estou absolutamente convencido de que os livros realmente bons são os que podem ser colocados em todas as mãos. São bons de ler pelos jovens na idade do crisma assim como pelas velhas raparigas. Haverá hoje, no domínio das belas letras, muitos produtos de que se possa dizer isto?” “Não era a plenitude da vida, cheia de colorido e ingénua? Os figos multicores, os bombons vermelho groselha, os doces de xarope, eis o que ama o povo! As tradições nunca se perdem. São como os doces apelos que sobem sem cessar da infância.” Digo-lhe que a sua notoriedade em Praga deve-a também a Franz Kafka, que apreciava muitíssimo as suas impressões berlinenses assim como o seu Jakob von Gunten. Mas Robert faz-me sinais negativos: mal conhece a obra de Kafka. “Só um pequeníssimo número de pessoas se presta a gozar da velhice. E todavia, quantas alegrias ela nos dispensa. Percebeu-se que o mundo tende a voltar ainda e sempre às coisas simples, elementares. Defende-se instintivamente contra a predominância do excepcional, do singular. A sede inquieta do outro sexo apaziguou-se. Aspira-se apenas ao reconforto da natureza e às belezas acessíveis a quem quer que as deseje. Desembaraçado enfim de toda a vaidade, fica-se sentado no silêncio da idade avançada como sob um doce sol paralelo.” Começámos, depois de evocar a inquietante actualidade da guerra, a falar do povo. Digo: “No fundo, o povo não quer governar mas ser governado.” Robert aprova vigorosamente: “E mesmo governado com mão de ferro.” No entanto, acrescenta logo de seguida: “Mas não se pode acima de tudo dizer-lho. Senão passa-se por um bruto ignóbil. No entanto, o facto é que ele é muito menos enamorado da liberdade do que se pretende.” – E ei-lo a justificar a existência burguesa. Os “bons burgueses” seriam os defensores da civilização. A vagabundagem não teria nunca produzido nada de grande ou durável. Sob o pretexto de que estes bons burgueses, encerrados na sua estreita mentalidade provinciana, não se interessam minimamente pelas produções dos literatos da grande cidade, estes vingam-se fazendo-os ridículos e disparando contra eles flechas envenenadas.” “Quer ir ver a placa colocada no ano passado em memória de Hölderlin?” Robert faz que não: “Não, não, esse tipo de marca de piedade ostentatória desagrada-me soberanamente! Afinal, Hölderlin é apenas uma das numerosas criaturas que viveram neste lugar. A celebridade dum homem não nos deve fazer esquecer os que permaneceram anónimos.” “Em Herisau”, acrescenta Robert, “não escrevi mais nada. Para quê? O meu universo tinha sido demolido pelos nazis. Os jornais para onde escrevia desapareceram. Os seus redactores foram perseguidos ou então morreram. Transformei-me praticamente em fóssil.” Três sentenças: “A razão humana só desperta na pobreza.” – “A história do mundo formula-se primeiro na boca dos poetas geniais.” – “A dependência tem qualquer coisa reconfortante, a independência suscita a hostilidade.” o último passeio Natal 1956 À tranquila manhã de 25 de Dezembro sucede-se a refeição do meio-dia, mais copiosa do que habitualmente neste dia de festa. Robert come com apetite na companhia dos pensionistas: o tinir dos garfos, colheres e facas ressoa ao seu ouvido como uma música alegre. Mas tem pressa de percorrer o campo. Agasalhado, ei-lo que penetra na luz cristalina de uma paisagem de neve. Diante do hospício, toma o caminho que, por uma sombria passagem subterrânea, o leva à estação onde tantas vezes esperou o amigo. Dentro de poucos dias, mais exactamente no Ano Novo, passearão de novo juntos, faça bom ou mau tempo. Hoje, é atraído pelo Rosenberg sobre o qual se ergue uma ruína. Já lá foi várias vezes, sozinho ou acompanhado. Lá de cima tem-se uma vista magnífica sobre a cadeia dos Alpes. Tudo está tão calmo neste começo de tarde: neve, nada a não ser neve, tão longe quanto o olhar alcança. Não escreveu ele uma vez um poema que acaba com estas palavras: “A neve caindo do céu lembra uma rosa que se desfolha”? Não era talvez um poema muito bom; mas é verdade que é assim que o homem se deveria desfolhar: como uma rosa. O passeante solitário inspira a plenos pulmões o ar límpido do Inverno. Um ar tão consistente que se tem quase a impressão de que se poderia mastigar. Deixou Herisau lá em baixo. As suas fábricas, as suas casas de habitação, as igrejas, a estação. Por entre as faias e os abetos, trepa em direcção ao Schochenberg, sem dúvida um pouco depressa demais para a sua idade. O coração que bate para ser rendido empurra-o mais longe, mais alto; ao sair do Rosenwald, dirige-se para a Wachtenegg, chega ao cume oeste do Rosenberg donde alcançará, por uma ligeira depressão, a colina em frente. Vem-lhe a vontade de acender um cigarro. Mas resiste. É um prazer que guarda para mais tarde, quando estiver junto à ruína. – A inclinação que leva à depressão é bastante íngreme. Desce portanto lateralmente, sem se agarrar às moitas, para a bacia situada a 860 metros de altitude onde conta descansar um pouco. Mais uns metros apenas e encontrar-se-á em superfície plana. Devem ser agora cerca de treze e trinta. O sol brilha com um fulgor pálido, como uma rapariga um pouco anémica. Nada de triunfal na sua radiação, antes qualquer coisa de ternamente melancólico, de hesitante, como se já estivesse a ponto de abandonar à noite a encantadora paisagem. E eis que, de repente, o seu coração marca um tempo de paragem. O passeante é tomado por uma vertigem. É sem dúvida um sintoma da arteriosclerose de que o médico lhe falou um dia para o precaver e incitá-lo a não exagerar a velocidade durante a caminhada. Num clarão, lembra-se das cãibras nas pernas que o surpreenderam em passeios anteriores. Será que isso vai voltar a acontecer hoje? Como estas coisas do vale com o cão, para visitar os Manser nesse dia de festa; contou-lhes ao chegar que o seu “Bläss” se mostrou singularmente nervoso durante a subida ; não parou de ladrar, de puxar a trela para se precipitar em baixo da encosta onde jazia qualquer coisa bizarra, inabitual. O que poderia ser? Vão lá então dar uma vista de olhos, rapazes! O morto deitado na neve, no sopé da encosta, é um poeta a quem encantavam o Inverno e a dança ligeira e alegre dos flocos – um autêntico poeta que alimentou no seu coração de criança a nostalgia de um mundo de silêncio, de pureza e de amor: Robert Walser. Carl Seelig Promenades avec Robert Walser, Paris, Rivages, 1992 são desagradáveis e, pior, estupidamente maçadoras! Mas – o que é? Cai bruscamente para trás, de costas, leva a mão direita ao coração e imobiliza-se. A imobilidade da morte. O braço direito repousa ao longo do corpo que arrefece rapidamente. A mão esquerda está fechada como que para esmagar na palma a dor aguda, breve, que saltou sobre o passeante de surpresa, como uma pantera. O chapéu rolou um pouco para o lado. A cabeça ligeiramente voltada de lado, o passeante mudo oferece uma imagem perfeita da paz do Natal. Tem a boca aberta; dir-se-ia que o ar invernal, puro e fresco, penetra ainda nele. É assim que o descobrem um pouco mais tarde dois alunos que desceram de ski da quinta “Burghalden”, afastada nem sequer cento e cinquenta metros e pertencendo à família Manser, para verem de mais perto o que ali estava, na neve. Uma mulher subiu em paralelo Robert Walser conversa 16 sab · setembro · 2006 18h30 · pequeno auditório · entrada gratuita (levantamento de senha de acesso 30 min. antes do início da sessão, no limite dos lugares disponíveis) Passeio com Robert Walser Uma conversa com Alexandre Andrade e Gonçalo M. Tavares A propósito da estreia da peça Gata Borralheira, dois autores portugueses traçam um percurso pelos textos de Walser na dupla perspectiva de leitores e escritores. A conversa será antecedida de uma leitura de textos de Walser pelo elenco do espectáculo. Biografias andresa soares Nasceu em 1978. Como intérprete participou em Fiore Nudo (a partir de Don Giovanni de Mozart, com enc. de Nuno M. Cardoso e dir. musical de Rui Massena), Yerma de Lorca e Equerma (ambos com enc. de Luís Castro), És tu Zé e Valsa Lenta 03 do coreógrafo José Laginha, Não há amor já feito (enc. António Feio). Como intérprete e criadora: Iscas de Peixe-piça – um tratado sobre o erotismo (com Carlos Monteiro e Sara de La Féria), performances Bloomgarden e Bloom-tree (co-criação com João Garcia Miguel, integradas no evento Bloom – Arte e jardins efémeros). No cinema participou em Rádio Relâmpago de José Nascimento, O Estratagema do Amor de Ricardo Aibéo e Mouth to Mouth de Alison Murray. cláudio da silva Iniciou o seu trabalho em teatro em O Sonho de Strindberg (com o grupo Acaso). Trabalhou com o Teatro Praga em O Canto do Noitibó a partir de Al Berto, Spanksgiving Day e O Desejo Agarrado Pelo Rabo de Picasso. Participou em Pompeia de Miguel Loureiro, Existência de João Fiadeiro, Teatro Fantasma de Carla Bolito e Cláudio da Silva, Corpo de Baile de Miguel Pereira, As Regras da Atracção de Rui Guilherme Lopes (a partir de Bret Easton Ellis) e Uma Laranja Mecânica de Anthony Burgess (encenações de Manuel Wiborg). Nos Artistas Unidos participou em Ruído de Joaquim Horta, À Espera de Godot de Beckett (enc. João Fiadeiro), O Navio dos Negros de Jorge Silva Melo, Falta (Crave) de Sarah Kane, Os Irmãos Geboers de Arne Sierens (encenações de Jorge Silva Melo), O Meu Blackie de Arne Sierens (enc. Cláudio da Silva) e O Nosso Hóspede de Joe Orton (enc. Manuel João Águas). No cinema participou em Aparelho Voador a Baixa Altitude e A Filha de Solveig Nordlund, Venus Velvet de Jorge Cramez, Os Cowboys da António Maria Cardoso de José Pinto Nogueira e Glamour de Luís Galvão Telles. david almeida No teatro representou em encenações de Luis Miguel Cintra, João Brites, Ricardo Aibéo, Marina Albuquerque, João Galante, António Pires, Jean Jourdheuil, Duarte Barrilaro Ruas e muitos outros, em peças como César Anticristo, O Jazigo, O Romance da Raposa, A Vida é Sonho, Tiestes, O Novo Menoza, Duas Farsas Conjugais, O Escurial, Elogio à Loucura, Eléctrica, Dino ou Sara, Peter Pan, Peregrinação, Germânia 3, entre outras. No cinema entrou em Quaresma de José Álvaro Morais, Ruy Blas de Jacques Weber, 8.8 e O Homem-Teatro de Edgar Pêra, Encados de Rodrigo Areias, Combat d’Amour en Songe de Raoul Ruiz, Aparelho Voador a Baixa Altitude de Solveig Nordlund, O aniversário do Banco de Fernando Vendrell, Facas e Anjos de Eduardo Guedes, As Bodas de Deus de João César Monteiro, Os Sete Pecados Mortais de João Poças, O Quinto Império de Manoel de Oliveira, O Comprador de Pombas de Rosa Coutinho Cabral, entre outros. dino alves Nasceu em 1967. Faz uma primeira apresentação nas Manobras de Maio de 1994 e inicia colaborações para figurinos de teatro. Tem vindo a conceber guarda-roupas para publicidade (Optimus), eventos de moda (Comme Ça du Mode), lançamentos de produtos (Fiat), concepção e styling para publicações e festas (Consigo, Dif, Lux, Notícias Magazine, On-fashion, Festival da Canção da RTP). Participou na exposição Arkhetypon (Centro Português de Design), no desfile Cosmopolis, na exposição de lançamento de Absolut Citron. Apresentou em Madrid parte da sua colecção de Inverno 2003/4 e fez uma apresentação em Cabo Verde (em parceria com Osvaldo Martins). Fez a concepção, direcção artística e styling do calendário da Agência Face Models/SIC para 2003/4 e a intervenção de moda para a festa de aniversário do Espaço Lux. Criou figurinos para Os visitantes (Teatro Só), O menino ao colo (em parceria com Mário Oliveira, enc. Maria Emília Correia), Encontro com Rita Hayworth (enc. Fernando Heitor), Orgia de Pasolini (enc. João Grosso), Avalanche de Ana Bola (enc. António Pires), O Lobo Diogo e o Mosquito Valentim (Teatro de Marionetas do Porto), para além de espectáculos de Benvindo da Fonseca, Martinho Silva e Companhia Teatral Inestética. Casa das Artes de Tavira (2006), Scope Art Fair (Nova Iorque, 2006), Black & White Gallery (Nova Iorque, 2006), Colectiva de Pintura (Galeria Espacio Kubiko, Madrid, 2005/2006), Individual de Pintura/Desenho (Galeria Formato Cómodo, Madrid, 2006), Individual de Pintura/Desenho (Sala do Veado, Lisboa, 2006). Em 2004 publica o livro Emma, com textos de Mafalda Ivo Cruz, editado pela Cavalo de Ferro. No teatro fez a cenografia de Duas Farsas Conjugais de Feydeau e César Anticristo de Jarry (enc. Ricardo Aibéo). No cinema foi chefe de guarda-roupa nos filmes Rio Vermelho de Raquel Freire, O Envelope de Margarida Ferreira de Almeida, Altifalante de Fernando Matos Silva e Os Mutantes de Teresa Villaverde. Trabalhou ainda em decoração e adereços dos filmes Senhor Jerónimo de Inês de Medeiros, A Comédia de Deus de João César Monteiro, Antárctida de Manuel Huerga, Três Irmãos e A Idade Maior de Teresa Villaverde, Belle-Époque de Fernando Trueba, Alcibíades de Sérgio Tréfaut, O Medo de Luís Alvarães e O Ruído de Pedro Ruivo. Fez produção e assistência de realização nos documentários Let’s talk about it now de Margarida Ferreira de Almeida e O amor não me engana de Teresa Villaverde. joana villaverde Artista plástica. Em 2001 fez a concepção artística de um painel de azulejos para o Município de Odivelas. Das suas exposições destacam-se: 5 portas 10 pinturas (Projecto Tabaqueira, 1998), a participação na Bienal da Maia (1999), 48 desenhos (Vila Simões, Lisboa, 2000), Este Ano (Casa dos Dias da Água, 2003), Construção (Sociedade Nacional de Belas Artes, 2003) – Identidades-Continuação #4 (Fundação EDP), Como se fosse uma Dança – Arte para Carlos Paredes (Cordoaria Nacional, 2004), Uma estante (Vale de Barris, Palmela, 2004), josé álvaro correia Nasceu em 1976. Iniciou o seu percurso teatral no projecto 4º Período, o do Prazer, orientado por António Fonseca. Entre outros encenadores já trabalhou com António Fonseca, Rogério de Carvalho, Mário Barradas, Luís Assis, José Carretas, Marcos Barbosa, Carlos Pimenta, Diogo Infante, Pierre Voltz, Andrejv Sadowsky, João Lourenço e Nuno Cardoso. Orienta vários workshops e acções de formação na área de Iluminação para espectáculos. lígia soares Nasceu em 1978. Na companhia Sensurround foi intérprete nas performances Procura-se, Realidade Real, Sensurround; com o Teatro Focus nas peças Lilases (baseado em Haute Surveillance de Genet), Auto da Índia de Gil Vicente, Conto de Natal de Charles Dickens; com enc. de António Feio, Não há amor já feito. De Setembro de 2004 a Setembro de 2005 foi artista residente na Tanzfabrik-Berlin com a bolsa de Especialização e Valorização Artística e Profissional da Fundação Calouste Gulbenkian, onde criou várias performances. No cinema foi intérprete em Lumiar de Nádia Rodrigues, Ordo de Laurence Ferreira Barbosa, O Estratagema do Amor de Ricardo Aibéo, Vai-Vem e Le Bassin de John Wayne de João César Monteiro. ricardo aibéo Nasceu em 1963. No teatro trabalhou com os encenadores Luís Miguel Cintra, Christine Laurent, Sandra Faleiro, António Pires e João Perry em peças de Tchekov, Fassbinder, Brecht, António José da Silva, Camões, Heiner Müller, Shakespeare, Stravinsky/Ramuz, Lenz, Grabbe, Hölderlin, Gil Vicente, Molnár, Lorca, Strindberg, Philip Ridley, J. M. Barrie, J.-C. Biette. Encenou e interpretou César Anticristo de Jarry, Duas Farsas Conjugais de Feydeau e Hamlet de Luis Buñuel. No cinema entrou nas longas-metragens A Meu Favor e André Valente de Catarina Ruivo, Quaresma e Peixe-Lua de José Álvaro Morais, Rasganço de Raquel Freire, Combat d’Amour en Songe de Raoul Ruíz, António, um Rapaz de Lisboa de Jorge Silva Melo, Quando Troveja de Manuel Mozos, Três Pontes Sobre o Rio de Jean-Claude Biette, Glória de Manuela Viegas e em curtas-metragens de Jorge Cramez, Daniel Blaufuks, Luís Fonseca, Carlos Braga, Jeanne Waltz, Rita Nunes. Realizou a curta-metragem O Estratagema do Amor. sofia marques Nasceu em 1976. Tem colaborado com o Teatro da Cornucópia, onde entrou em A Máquina Hamlet de Heiner Müller, Um Sonho de Strindberg, Quando Passarem Cinco Anos de Lorca, O Casamento de Fígaro de Beaumarchais, Amor/Enganos de Gil Vicente, Cimbelino de Shakespeare, A Morte de Empédocles de Hölderlin, O Colar de Sophia de Mello Breyner, História do Soldado de Stravinsky e Filodemo de Camões (encenações de Luis Miguel Cintra) e em Barba Azul de Jean-Claude Biette, O Lírio de Molnár e D. João e Fausto de Grabbe com encenações de Christine Laurent. Entrou ainda nas peças: Hamlet de Luis Buñuel, Duas Farsas Conjugais de Feydeau, César Anticristo de Jarry (encenadas por Ricardo Aibéo), Cândido de Voltaire (enc. Cândido Ferreira), Silêncio de Sarraute (enc. Diogo Dória), O Despertar da Primavera de Wedekind (enc. António Fonseca), Audição Mecânica para Treze Actrizes de Raphaele Billetdoux (enc. Graça Corrêa), O Crime da Aldeia Velha de Santareno (enc. Carlos Avilez), Área de Risco (autoria e enc. Paulo Filipe Monteiro), Agatha Agatha de Marguerite Duras (enc. Miguel Moreira). Participou nas longas metragens Três Pontes Sobre o Rio de Jean-Claude Biette, As Bodas de Deus de João César Monteiro, Rasganço de Raquel Freire e Em Volta de Ivo Ferreira. Entrou nas curtas metragens O Estratagema do Amor de Ricardo Aibéo e Anjo Negro de Carlos Braga. Na televisão entrou nas séries S.O.S. Criança e Super Pai. próximo espectáculo cinema 22, 23 e 24 de setembro 18h30 e 21h30 · pequeno auditório Figuras da Dança no Cinema II Retomam-se os princípios programáticos que sugeriram a edição anterior, que decorreu em Abril e Maio do ano passado, explorando as relações entre a dança e o cinema de vanguarda. Pretende-se abrir o campo aparentemente restrito do filme de dança às suas formas estendidas, discutindo num contexto particular de uma programação a emergência de uma categoria singular e abrangente na história do cinema e que constitui na sua variedade um espantoso campo de invenção formal e de reflexão. O programa é composto por sessões que aproximam uma série de filmes a esta ideia abrangente do que pode ser o cruzamento entre a dança e o cinema: cinco reformulações cinematográficas de uma “estética blues”, influenciada pela música e danças populares de raiz afro-americana; uma versão pouco conhecida de Salomé de Oscar Wilde, filmada pelo cineasta mexicano Teo Hernandez; um tributo a Paul Swan, bailarino cuja história e influência se prolongam do início do século XX ao underground nova-iorquino da década de 60; uma extrapolação a partir da geometria, variação e combinatória dos gestos e de uma figura, o quadrado, feita a partir de Quad I e II de Samuel Beckett e por fim uma selecção da obra em filme do artista norte-americano Jack Goldstein que para aqui se convoca pelo trabalho importante de reflexão sobre as ordenações entre o movimento e o espaço na imagem cinematográfica. os portadores de bilhete para o espectáculo têm acesso ao parque de estacionamento da caixa geral de depósitos. conselho de administração presidente manuel josé vaz vice-presidente miguel lobo antunes vogal luís dos santos ferro assessores dança gil mendo teatro francisco frazão arte contemporânea miguel wandschneider serviço educativo raquel ribeiro dos santos direcção de produção margarida mota produção e secretariado patrícia blazquez mariana cardoso de lemos jorge epifânio exposições produção e montagem antónio sequeira lopes produção paula tavares dos santos montagem fernando teixeira culturgest porto susana sameiro comunicação filipe folhadela moreira estagiária teresa nunes publicações marta cardoso rosário sousa machado actividades comerciais catarina carmona serviços administrativos e financeiros cristina ribeiro paulo silva produção direcção técnica eugénio sena direcção de cena e luzes horácio fernandes audiovisuais chefe de imagem américo firmino chefe de audio paulo abrantes tiago bernardo iluminação de cena chefe fernando ricardo nuno alves maquinaria de cena chefe josé luís pereira alcino ferreira técnico auxiliar álvaro coelho frente de casa rute moraes bastos bilheteira manuela fialho edgar andrade joana marto recepção teresa figueiredo sofia fernandes auxiliar administrativo nuno cunha apoios By co-produção Culturgest, uma casa do mundo. informações 21 790 51 55 edifício sede da cgd, rua arco do cego, 1000-300 lisboa [email protected] • www.culturgest.pt