Delegação Permanente de Portugal junto da UNESCO 35ème Conférence Générale 9 octobre 2009 Intervention de Son Excellence la Ministre de l’Education du Portugal Madame Maria de Lurdes Rodrigues Senhor Presidente da Conferência Geral, Senhor Director-Geral da UNESCO Senhores Ministros Caros Delegados Minhas Senhoras e meus Senhores Gostaria, em primeiro lugar, Senhor Presidente, de o felicitar pela sua eleição. Por outro lado, gostaria igualmente de agradecer ao Director-Geral da UNESCO o trabalho desenvolvido nos últimos dez anos, bem como de felicitar a candidata designada para o cargo de Directora-Geral, cuja nomeação espero ver aprovada nesta Conferência Geral. A educação é não só um direito fundamental como uma condição necessária à promoção do desenvolvimento sustentado de todos os países. A persistência de fenómenos como a pobreza e a desigualdade, ou a emergência de problemas como o impacto das alterações climáticas e a crise económica e financeira actual, tornam isso mais evidente e colocam-nos perante novos desafios. Os programas da UNESCO para a Educação deverão, por isso, integrar os princípios e as práticas do desenvolvimento sustentável em todos os domínios da aprendizagem, para que cada indivíduo tenha a possibilidade de adquirir os conhecimentos que lhe permitam contribuir para um futuro socialmente mais justo e economicamente mais viável. Sabemos que a Internet é, hoje, um dos grandes espaços onde se jogam a inclusão e a exclusão, económica, social e cultural. E sabemos também que, neste contexto, a preparação das novas gerações para a sociedade do conhecimento é um objectivo 2 incontornável da UNESCO e uma responsabilidade acrescida para os sistemas educativos nacionais. Ao longo dos últimos dois anos, as escolas portuguesas conheceram uma transformação profunda no uso e acesso, por alunos e professores, às tecnologias de informação e comunicação. No âmbito do programa designado por “Plano Tecnológico da Educação Nacional”, todas as escolas portuguesas foram apetrechadas com equipamentos tecnológicos e com uma rede de comunicações de nova geração. Todos os professores têm hoje acesso a computadores portáteis em condições excepcionais, a uma plataforma digital onde partilham conteúdos e a um programa integrado de formação e de certificação desenhado para generalizar as competências pedagógicas na utilização das tecnologias de informação e comunicação. E, numa operação inédita a nível mundial, mais de 400 mil alunos do primeiro ciclo do ensino básico receberam um computador 3 pessoal e portátil designado por “Magalhães”. Milhares de professores em todo o país acolheram, com um enorme sentido de modernidade e de responsabilidade, esta nova ferramenta de ensino, de comunicação e de acesso à informação e ao conhecimento. O uso mais intensivo destes novos meios abre novas oportunidades de formação de futuros cidadãos preparados para participar num mundo mais global e mais cosmopolita. A experiência portuguesa neste domínio inscreve-se já no catálogo das melhores práticas mundiais, um reconhecimento que se concretizou, muito recentemente, na inclusão de Portugal no núcleo restrito de países fundadores da iniciativa “Assessment and Teaching of 21st Century Skills”. Partilhar esta experiência com o mundo, e em particular com os países parceiros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, é um desafio que assumimos com gosto e com enorme sentido de responsabilidade. Um dos domínios basilares e decisivos em que se concretizam os dilemas morais da utilização das possibilidades acrescidas de agir proporcionadas pelo desenvolvimento tecnológico é o domínio da 4 bioética. Aqui assumem inteiro relevo as políticas visando a promoção do desejado desenvolvimento humano integral. As contínuas e cada vez mais entusiasmantes descobertas científicas no campo das ciências da vida, e as possibilidades que se abrem a uma gradual, mas cada vez mais complexa, mobilização de meios técnicos para a manipulação da vida, do corpo humano e dos dados genéticos de cada homem e mulher, impõem uma atenção redobrada. Neste campo, mais do que em qualquer outro, não nos podemos arriscar a abrir uma caixa de Pandora que, depois, não saberemos como fechar. Neste campo, mais do que em qualquer outro, não podemos perder o controlo social sobre os resultados do desenvolvimento científico e tecnológico, não podemos deixar de realizar, permanentemente, um exercício de reflexividade aprofundada sobre as consequências das nossas decisões. 5 Postos perante os dilemas morais implicados na utilização dos resultados do desenvolvimento de técnicas biológicas, os governos dos Estados-membros da UNESCO, após terem já adoptado a “Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos”, devem continuar a promover o estudo aprofundado dos contornos da bioética e a definição de princípios jurídicos que orientem a investigação e, sobretudo, as aplicações neste domínio tão fascinante como arriscado. Tendo presente que Africa é uma das prioridades da UNESCO, não poderia deixar de aproveitar esta ocasião para lembrar a importância e o significado da Cimeira União Europeia/ África, que teve lugar em Lisboa, em Dezembro de 2007. Foi um momento de mudança não só para o futuro dos dois continentes, mas também para uma “cooperação triangular” enriquecida – União Europeia/ África/ UNESCO, nos domínios da educação, da ciência, da tecnologia e da cultura. 6 A “Nova Estratégia Comum para o Desenvolvimento do Continente Africano” inclui aspectos que incumbem ao mandato da UNESCO. É dever da UNESCO, e também nosso dever comum, empenharmo-nos no “follow up” da Cimeira no âmbito do nosso mandato e do mandato da UNESCO, reforçando a cooperação com a União Africana, implementando a “Segunda Década para a Educação em África”, bem como o “Plano de Acção para a Ciência e Tecnologia”. Portugal acompanha com empenho os esforços da União Europeia e do Conselho da Europa no sentido da promoção do multilinguismo e as iniciativas da UNESCO para a preservação do pluralismo linguístico. Portugal exerce a Presidência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), mandato colocado sob o signo da língua portuguesa enquanto instrumento de comunicação entre povos e do desenvolvimento económico, social e cultural. Neste sentido, Portugal, com a criação do Fundo da Língua Portuguesa, 7 manifestou a prioridade conferida à promoção de politicas consolidadas em matéria de ensino da língua portuguesa, da formação de tradutores e intérpretes para as organizações internacionais onde esta é língua oficial de trabalho (ou onde poderá vir a ser língua oficial, como na UNESCO) e, ainda, para a comunicação e divulgação de conhecimentos através da internet. Neste contexto, juntamos-nos ao apelo do Brasil no sentido de introduzir a língua portuguesa como idioma de trabalho na UNESCO. A iniciativa do Governo português visando a próxima criação, sob os auspícios da UNESCO, de um centro, com sede em Portugal, destinado à formação avançada em ciências no universo dos países de língua portuguesa, tem por objectivo criar capacidades, promover a responsabilização social e combater a fuga de cérebros. Em 2010, a CPLP aprovará uma estratégia comum para os oceanos. Trata-se de uma importante iniciativa. No que concerne à Comissão Oceanográfica Intergovernamental, desejo referir que 8 Portugal, reconhecendo a importância do trabalho levado a cabo desde há 50 anos por esta organização, e desejando dar um novo impulso e uma contribuição fortes para que a sua actividade prossiga no futuro, com os meios e recursos adequados à sua importância crescente, deseja acolher o Secretariado da Comissão em Lisboa. Esta proposta portuguesa, que esperamos seja tratada oficialmente e em momento oportuno pelos Estados-membros nas estruturas institucionais competentes da Comissão Oceanográfica Intergovernamental e da UNESCO, será acompanhada por uma contribuição extra-orçamental anual consequente, para além da disponibilização de instalações. Senhor Presidente, caros delegados. Enquanto fórum de debate privilegiado, a Conferência Geral deve ser encarada como um espaço de reafirmação do compromisso político dos Estados membros para com a missão e os objectivos da UNESCO. Portugal continuará a assumir esse compromisso com vista à sua concretização, nos domínios que hoje, mais do que nunca, são essenciais ao desenvolvimento humano. 9