DAS TESES AOS LIVROS: A VISIBILIDADE DA
LITERATURA CIENTÍFICA NO CAMPO DAS CIÊNCIAS HUMANAS
1
2
Anderson Café1, Kátia de Carvalho2
Mestrando em Ciência da Informação, PPGCI/UFBA, Salvador, Bahia.
Doutora em Ciência da Informação, UFRJ, Rio de Janeiro e Professora do PPGCI\UFBA,
RESUMO
Este trabalho discute a visibilidade da literatura científica não-convencional no campo
científico das Ciências Humanas. Através de uma revisão de literatura, abordam-se sobre a
lógica e as leis da produção científica, a comunicação científica e os seus canais: formais,
informais e eletrônicos bem como a influência destes últimos na convencional classificação
das teses e dissertações enquanto literatura cinzenta. Para romper o ciclo de
enclausuramento das teses e dissertações há necessidade de esforços por parte dos
autores em publicá-las em canais que possam garantir maior visibilidade para si e para o
campo científico. No campo das Ciências Humanas, partes significativas das teses são
publicadas no formato de livros considerado como canal tradicional de comunicação do
conhecimento neste campo científico. Os autores concluem sinalizando para a necessidade
de estudos que possam mapear as produções científicas derivadas das teses no campo das
Ciências Humanas e publicadas nos diversos canais de comunicação especialmente na
modalidade de livros e de como este canal vem sendo impactado diante da lógica de
avaliação da produção científica adotado pelas agências de fomento em âmbito mundial que
privilegia a publicação em artigo de periódico científico.
Palavras-Chave: Produção
Publicação de teses.
científica;
Comunicação
científica;
Literatura
cientifica;
ABSTRACT
This paper discusses the visibility of non-conventional literature in the scientific field of
humanities. Through a review of the literature we discuss about the logic and laws of
scientific literature, scientific communication and its channels: formal, informal and
electronics as well as the influence of the latter on the conventional classification of theses
and dissertations as gray literature. To break the cycle of enclosure of the theses and
dissertations is no need for efforts by the authors to publish them in channels that will ensure
greater visibility for themselves and for the scientific field. In the field of Humanities,
significant parts of the theses are published in book format considered by many experts as a
channel of communication of traditional knowledge in this scientific field. The authors
conclude signaling the need for studies to map the products derived from scientific theories
in the field of Sciences and published in various channels of communication especially in the
form of books and how this channel is being impacted on the evaluation logic of production
adopted by science funding agencies around the world that favors the publication in a
scientific journal article
Keywords: Scientific production, scientific communication, scientific literature, Published
theses.
1 INTRODUÇÃO
.
Discutir sobre a visibilidade da literatura científica não convencional no campo
das Ciências Humanas insere-se no conjunto de preocupações das agências de
fomento brasileiras, a exemplo da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do
Ensino Superior – CAPES, quanto aos destinos das produções acadêmicas geradas
nos Programas de Pós-Graduação face aos significativos investimentos públicos na
produção de conhecimento científico. De acordo com recentes estudos do Grupo de
Pesquisas em Políticas Públicas para o Acesso à Informação – GROPAI, da
Universidade de São Paulo – USP, a formação de um doutor no ano de 2007
custava em média aos cofres públicos a cifra de R$ 155.344,04. Neste sentido, fazse necessário a realização de estudos consistentes capazes de mapear e descrever
a literatura científica derivadas das teses defendidas nos Programas de PósGraduação no campo das Ciências Humanas.
Assim, o presente trabalho tem como objetivo contribuir para alargar a
compreensão sobre a visibilidade da produção científica brasileira, em especial a
literatura não-convencional representada pelas teses de doutorado no campo das
Ciências Humanas. Seus objetivos específicos envolvem (a) refletir sobre a
comunicação científica e os postulados da produção científica; refletir sobre a
introdução das tecnologias eletrônicas no sistema de comunicação científica e
discutir sobre os indicadores de avaliação da produção científica na área das
Ciências Humanas.
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 A COMUNIDADE CIENTÍFICA E OS SISTEMAS DE COMUNICAÇÃO
CIENTÍFICA
A comunidade científica é constantemente estudada à luz de diferentes
teóricos, a exemplo de Bourdieu, Kunh, Latour, Robert Merton, dentre outros, que se
ocuparam das preocupações relacionadas à sociologia da ciência no intuito de
tentarem dar conta das diferentes formas pelas quais os agentes sociais se
relacionam entre si nas atividades direcionadas para a comunicação das
informações científicas. Nas palavras de Mueller (2006), há uma elite reconhecida e
legitimada pelos demais agentes da comunidade científica que detém o poder de
falar e agir legitimamente pela autoridade e prestígio conquistados ao longo de sua
atuação.
Na concepção de Bourdieu (1983), os membros de uma comunidade
científica não compartilham, necessariamente, como nos faz crer Thomas Kunh, de
um mesmo paradigma científico orientado pelos interesses comuns e coletivos, mas,
pelo contrário, os agentes sociais integram um campo científico onde há
permanentes disputas pela aquisição do capital simbólico, o que, na concepção
deste teórico, elevaria a autonomia do campo científico garantindo, por sua vez, o
progresso da ciência.
Para Bourdieu (1983), o social é representado por campos ou microcosmos
que são espaços de relações objetivas que possuem uma lógica própria. O campo
pode ser considerado, portanto, como um espaço estruturado e simbólico onde os
agentes sociais estão envolvidos em lutas permanentes, de acordo com as posições
que ocupam e com os capitais que detém, conservando ou transformando as
estruturas sociais. Por sua vez, os agentes são dotados de capitais simbólicos
desigualmente distribuídos ao longo de suas vidas científicas, sendo que os
dominantes buscam manter as suas posições já adquiridas enquanto que os
dominados buscam subverter a ordem estabelecida com o objetivo de avançar na
hierarquia do campo científico.
O avanço e conquista de posições no campo científico é fruto do
reconhecimento entre os pares. Neste processo, o pesquisador deverá submeter as
suas pesquisas à crítica da comunidade científica, através de publicações em canais
de comunicação científica. Assim, adquirir autoridade científica está diretamente
relacionado à capacidade do pesquisador em publicar as suas investigações
científicas.
Dito isto, há que se reconhecer o caráter intrínseco entre comunicação e
produção do conhecimento científico, conforme Meadows (1999), pois a partir dos
resultados de pesquisas legitimados pelo sistema social da ciência – os pares – é
que surgirão novas possibilidades de construção de conhecimentos. A comunicação
científica é indispensável para o processo de legitimação e validação de resultados
das pesquisas científicas, materializando-se através de um conjunto de canais de
comunicação que constituem a chamada literatura científica.
De acordo com Targino (1998), os canais de comunicação classificam-se em
formais, informais e eletrônicos. Os canais formais podem ser considerados como
aqueles de ampla divulgação e de maior facilidade na recuperação de informações,
caracterizando-se pelo maior controle, armazenamento e preservação das
informações. São exemplos típicos de canais formais: livros e periódicos. Já os
canais informais são aqueles caracterizados pelos contatos interpessoais entre os
pesquisadores destituídos de formalismos, ou seja, é o contato direto pessoa a
pessoa que possibilita maior atualização e rapidez no processo de comunicação
científica.
Destaca-se, entretanto, que esta típica classificação dos canais de
comunicação em formais e informais passa por profundas discussões por conta da
chamada revolução tecnológica, que acaba por acarretar alterações na configuração
social no ocidente. Os surgimentos das tecnologias eletrônicas, a exemplo dos
arquivos abertos, internets e intranets alteram as relações de tempo e espaço no
que tange ao processo de disponibilização do acesso e uso das informações de
caráter científico. Diante do exposto, considera-se que os canais eletrônicos têm
como objetivo principal transmitir as informações científicas através dos recursos
tecnológicos, aperfeiçoando o contato entre os cientistas de todas as partes do
mundo.
2.2 DA LITERATURA CINZENTA À LITERATURA COMERCIAL: COMO AS TESES
PODEM SE TRANSFORMAR EM LIVROS.
A comunidade científica, como discutida anteriormente, é composta por
agentes sociais que estão em busca do capital científico, representado, dentre
outros fatores, pela capacidade do pesquisador em publicar os resultados de suas
pesquisas nos canais privilegiados de comunicação científica. Partindo deste
pressuposto, verifica-se que a conclusão de uma pós-graduação stricto senso em
nível de mestrado ou doutorado, por exemplo, habilita o titulado a disputar posições
no campo científico.
Sabe-se que as teses e dissertações são pesquisas monográficas
desenvolvidas para contribuir com o avanço da comunidade científica. Na
concepção de Carelli (2004), essa produção possibilita a verticalização do
conhecimento, sobretudo pelos temas enfocados, atualidade e relevância da
bibliografia, além do rigor metodológico que orienta tais tipos de pesquisa.
No que diz respeito ao aspecto da comunicação científica, as teses e
dissertações são vistas como um tipo de literatura não convencional ou cinzenta
justamente pela dificuldade de acesso e uso das informações científicas. O conceito
de literatura cinzenta está sendo discutido amplamente pelos autores que se
dedicam às pesquisas relacionadas ao campo de estudo da Ciência da Informação,
como, por exemplo, a professora doutora Dinah Aguiar Población, idealizadora e
criadora do Núcleo de Produção Científica – NPC da Universidade de São Paulo –
USP que surgiu em 1993 e se dedica à análise e divulgação das teses e
dissertações produzidas no âmbito dos Programas de Pós-Graduação em Ciência
da Informação no Brasil.
De acordo com a referida autora, os documentos ditos convencionais chegam
a uma determinada parte da população de forma rápida e eficiente enquanto que os
documentos ditos não convencionais são de acesso restrito e contém informações
valiosas para o desenvolvimento de novas pesquisas.
No entanto, estes documentos se destinam, quase sempre, a mofar nas
prateleiras das bibliotecas e centros de documentação das instituições de ensino e
pesquisa. As teses em seu formato impresso, por exemplo, são raramente
consultadas pelos discentes e docentes envolvidos nas práticas das pesquisas
científicas.
Assim, uma das formas adotadas para dar maior visibilidade a estas
produções acadêmicas defendidas nas universidades brasileiras são os portais de
teses e dissertações, a exemplo da base de dados de teses e dissertações da
CAPES e IBICT. A portaria n.13, de 15 de fevereiro de 2006, expedida pela CAPES,
já determina a divulgação digital das teses e dissertações produzidas pelos
programas de doutorado e mestrado reconhecidos no país sendo que todos os
bolsistas financiados pela agência de fomento devem depositar, obrigatoriamente, as
suas produções em bibliotecas digitais como também estabelece prazo para que os
Programas de Pós-Graduação disponibilizem o conteúdo destes trabalhos em
repositórios digitais.
Essas tecnologias eletrônicas provocam diversas discussões quanto ao
caráter cinzento de determinados documentos. Assim, será que as teses e
dissertações ainda devem ser classificadas como literatura cinzenta? Não restam
dúvidas de que os documentos eletrônicos trazem grandes contribuições para o
maior acesso e uso das informações científicas, mas, por outro lado, há que se
registrar as constantes dificuldades existentes para a disseminação destes
documentos como, por exemplo, o baixo índice de depósito legal nas bases de
dados, uma vez que há resistência dos autores, por exemplo, em autorizarem a
disponibilização do texto completo na web.
As dissertações e teses tornaram-se também mais visíveis com a criação de
bases de dados bibliográficas e catalográficas, mas, o acesso ao texto
completo ainda não está totalmente disponível em nosso meio. Portais de
dissertações e teses estão sendo criados, porém não estão recebendo a
atenção devida dos seus autores. (FUNARO; NORONHA, 2006, p.228).
Ressalta-se, entretanto, que uma das formas de reverter o quadro de
enclausuramento das teses e dissertações no campo científico é fazer com que
esses documentos, após as suas respectivas defesas e aprovações, sejam
publicados em diversos canais de comunicação, a exemplo de livros, capítulos de
livros, artigos de periódicos, anais de congressos, etc que possam atingir com maior
eficiência a própria comunidade científica o que exige, por sua vez, esforços dos
pesquisadores para que possam preencher as lacunas de conhecimento científico
da chamada ciência mundial e, por conseguinte, conforme já destacado, poderem
avançar posições no campo das disputas simbólicas.
Para Velho (1997), a escolha dos canais de comunicação por parte dos
pesquisadores é realizada levando-se em conta alguns dos seguintes fatores:
natureza da pesquisa - pesquisa básica ou aplicada; área do conhecimento em que
a pesquisa foi desenvolvida e o grau de consolidação teórica e metodológica da área
do conhecimento.
Neste sentido, a natureza mais básica ou aplicada da pesquisa acaba por
influenciar na escolha do canal de comunicação por parte dos pesquisadores, no
entanto, a área do conhecimento, ou mesmo, o campo científico a que pertence o
pesquisador, exerce forte influência quanto à escolha do canal que privilegiará para
publicar os resultados de suas pesquisas. Ainda de acordo com Velho (1997, p.21),
observa-se que determinados canais de comunicação predominam sobre outros de
acordo com o campo científico, pois nas “ciências exatas e naturais os resultados de
investigação são expostos através de artigos nas diferentes revistas científicas,
enquanto que nas ciências humanas e sociais tais resultados são publicados de
maneira relativamente mais freqüente na forma de livros”.
O estágio de consolidação teórico e metodológico do campo científico é outro
ponto destacado por Velho (1997). Segundo a autora, este ponto influencia o autor
na escolha do canal para realização da comunicação científica. De acordo com
Meadows (1999), a complexidade e densidade das teorias explicativas das
realidades sociais pretendidas pelos pesquisadores das ciências humanas
requerem, em geral, que os seus resultados sejam publicados no formato de livros
que, na concepção de Carvalho e Manoel (2007, p.67), “é profundo, é reflexivo, é
especulativo e é atemporal. O livro dá espaço para que o pesquisador se aprofunde
em suas idéias e na análise das idéias de outrem. É essa densidade que instiga o
leitor a não uma, mas várias leituras”.
2.3 A VISIBILIDADE DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA NO CAMPO DAS CIÊNCIAS
HUMANAS.
A discussão sobre a visibilidade da produção científica surge no contexto
marcado pelo crescimento das pesquisas científicas em escala mundial e da
necessidade de torná-las públicas em canais de comunicação que possam colaborar
para que, em menor espaço de tempo possível, os resultados das pesquisas já
possam gerar novos conhecimentos, inaugurando, assim, a lógica produtivista que
pressionam os pesquisadores a publicarem ou a morrerem.
Neste sentido, os pesquisadores dos diversos campos do conhecimento são
pressionados a publicarem os resultados de suas pesquisas de forma cada vez mais
rápida para que possam ter maiores possibilidades de serem citados pelos pares e
assim poderem adquirir maior visibilidade no campo científico. Esta visibilidade está
relacionada ao seu grau de exposição diante da comunidade científica, na qual o
pesquisador esteja inserido.
A visibilidade é uma característica desejável da comunidade científica. Ela
representa a capacidade de exposição que uma fonte ou fluxo de
informação possui de, por um lado, influenciar seu público alvo e, por outro,
ser acessada em resposta a uma demanda de informação [...] visibilidade
se aplica aos diferentes componentes e processos que conformam o
conjunto de comunicação científica, incluindo índices e bases de dados
bibliográficas, publicações em geral, autores, instituições de fomento e de
pesquisa, projetos, eventos, etc. (PACKER; MENEGHINI, 2006, p.237).
Sob esse aspecto, destaca-se que os instrumentos padronizados, adotados
nacional e internacionalmente para avaliação da produção científica, elege o
periódico como canal considerado de maior confiabilidade para atestar a qualidade
da produção científica e, conseqüentemente, constatar a visibilidade de campos
temáticos, grupos de pesquisa, pesquisadores individuais, etc. De acordo com
Mueller (2006, p.4), “Assim como há hierarquia entre indivíduos que formam as
comunidades científicas, há também hierarquia entre os diversos tipos de veículos
que podem ser usados para comunicar o conhecimento [...] o periódico indexado
costuma ser o veículo mais prestigiado”.
Desta forma, a manutenção do prestígio do periódico científico é sustentada
pelo sistema de avaliação baseados em indicadores que medem, por exemplo, o
número de publicações, o índice de citações, o fator de impacto, etc. A validade
destes indicadores estão diretamente associados à credibilidade dos índices
bibliográficos, ou seja, um periódico se torna mais visível quando estão indexados
em índices referenciais de maior credibilidade. O índice internacional utilizado para
avaliação da produção científica publicada em periódicos foi criado pelo Institute for
Scientific Information (ISI). Estes indicadores vêm sendo amplamente discutido pela
comunidade científica no sentido de perceber suas possibilidades e limitações para
os diversos campos científicos.
No campo das ciências humanas, estes indicadores representam limites na
medida em provocam à desmaterialização da cultura do livro em detrimento do
fortalecimento da cultura do periódico científico, pois o livro, enquanto personagem
de significativo relevo nas ciências humanas, “perdeu gradualmente seu prestígio,
sendo mesmo considerado uma produção secundária e até irrelevante para a
construção do conhecimento. E esse fato contrasta com a importância desse veículo
de comunicação ao longo da história da humanidade e do conhecimento”
(CARVALHO; MANOEL, 2007, p.62).
Diante disto, os pesquisadores do campo das ciências humanas estão sendo
prejudicados no sentido de serem considerados improdutivos pelas agências de
fomento em âmbito nacional e internacional quando publicam os resultados de suas
pesquisas em formato de livros ou capítulos de livros, já que estes últimos, conforme
discutidos anteriormente, constituem os principais canais de comunicação deste
campo do conhecimento.
O livro enquanto um dos principais instrumentos de transmissão cultural dos
últimos tempos está em questionamento pela epistemologia das ciências exatas –
que adota o periódico como principal canal de comunicação – quando aponta nos
livros a ausência de indicadores de credibilidade para avaliação da produção
científica publicada neste formato, como por exemplo, a existência de conselhos
editoriais, carência de estudo sobre a credibilidade das editoras, etc. Assim, não se
pode perder o bonde da história diante dos discursos pós-modernos. Estes
discursos são constituídos para desvalorizar os livros e, conseqüentemente, as
pesquisas das ciências humanas voltadas para reflexões em torno da atuação do
sujeito social diante dos fatos do mundo.
O livro constitui-se em canal de comunicação de grande complexidade que o
difere, certamente, dos demais tipos de impressos como folhetos, planfletos,
manuais, calendários, etc. O livro impresso influenciou e influencia na formação do
ser humano e contribui para alargar a difusão de novas idéias e conhecimentos
universais. De acordo com Mindlin (1992), os livros podem ser considerados como o
veículo de significativa importância para a difusão dos ideários dos humanistas do
Renascimento (responsáveis pela revolução científica, dos reformadores e contrareformadores cristãos e dos grandes filósofos modernos). Os livros levaram cerca de
quatro mil anos para surgir e permitir maior democratização no acesso e uso das
informações principalmente para as camadas mais populares, pois foi o livro
impresso que “tornou possível a transmissão em grande escala, através do tempo e
do espaço, do conhecimento filosófico, histórico, científico e religioso – sem falar da
produção literária – que se veio acumulando desde a Idade Média” (MINDLIN, 1992,
p.7).
Levando-se em consideração as discussões até então realizadas, faz-se
necessário pensar sobre o futuro do livro como canal privilegiado para a
comunicação científica no campo das ciências humanas e como poderão ser criados
os indicadores para avaliar a produção científica tornando-a mais visíveis para a
comunidade científica em âmbito mundial.
As discussões em torno do projeto Scielo livros em parceria com o Ministério
da Educação – MEC representa uma possibilidade para o estabelecimento de
critérios mais justos de avaliação da produção científica nas ciências humanas,
corroborando para que os pesquisadores deste campo se motivem para publicar os
resultados de suas pesquisas no formato de livros, como também, certamente,
contribuirá para que os autores das teses defendidas e elaboradas nos programas
de pós-graduação possam receber maior apoio das instituições de ensino e das
editoras comerciais e universitárias no sentido de realizarem a tão sonhada travessia
da literatura cinzenta para a literatura comercial.
3 MATERIAIS E MÉTODOS
A investigação é realizada a partir de um amplo levantamento documental no
portal da CAPES para mapear as teses defendidas nos Programas de PósGraduação no campo das Ciências Humanas especificamente nos cursos de
Psicologia e Sociologia no período de 2005 a 2009. Após o referido levantamento,
deverá ser consultado o currículo dos autores das referidas teses disponíveis na
Plataforma Lattes do Conselho Nacional de Pesquisa – CNPq para verificar o
registro de publicações derivadas das teses defendidas. Para as teses que foram
publicadas na modalidade de livros, deverá ser elaborado um instrumento de coleta
de dados na forma de questionário objetivando conhecer as experiências quanto aos
interesses e dificuldades encontradas pelos autores para transformar suas teses em
livros, seja impresso ou eletrônico.
4 RESULTADOS PARCIAIS
A pesquisa traz como resultado parcial uma pertinente revisão de literatura
sobre a visibilidade da literatura cinzenta discutindo-se sobre o livro como indicador
da produção científica no campo das Ciências Humanas. Em seguida, realizou-se
um levantamento documental no portal da CAPES onde foram identificados 73
(setenta e três) Programas de Pós-Graduação nos campos da Psicologia e
Sociologia brasileiros sendo 41 (quarenta e um) no campo da Psicologia e 32 (trinta
e dois) no campo da Sociologia.
Os Programas de Pós-Graduação de ambos os campos concentram-se na
região sudeste do país. Este fato permite inferir que existe parcela significativa de
teses publicada pelas editoras localizada na referida região contribuindo para
reforçar as diferenças regionais quanto às políticas de incentivo às editoras
comerciais, universitárias e institucionais entre as regiões do país.
Neste levantamento constata-se que a região nordestes é a região com
menor quantidade de Programas de Pós-Graduação em ambos os cursos
reforçando, portanto, a idéia de Ciência perdida em algumas regiões do país onde
as teses, quase sempre, têm um destino certo: as prateleiras das bibliotecas das
unidades de ensino onde foram defendidas.
5 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS
Há que se considerar a necessidade de um número maior de pesquisas que
contribuam para ampliar nossos conhecimentos sobre a visibilidade de teses e
dissertações produzidas no âmbito dos programas de pós-graduação. No atual
contexto marcado pelo surgimento das tecnologias eletrônicas e pela adoção
generalizada de recursos como arquivos abertos, bases de dados de teses e
dissertações, repositórios institucionais, etc. esta temática torna-se ainda mais
relevante. Diante dos movimentos políticos, em âmbito mundial, pelo acesso aberto
à informação científica, este parece ser o momento propício para aprofundarmos as
reflexões em torno da visibilidade, do acesso e do uso da literatura científica.
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