1157 EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: ENTENDIMENTO DE ENFERMEIROS DIRIGENTES DA ATENÇÃO BÁSICA DE UM SISTEMA MUNICIPAL DE SAÚDE Bianca de Oliveira Araujo¹; Marisa Leal Correia Mélo² 1. Enfermeira, Graduada pela Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail: [email protected] 2. Mestre em Saúde Coletiva, Professoar Adjunta do Departamento de saúde, da Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail: [email protected] PALAVRAS-CHAVE: Educação Permanente em Saúde, Atenção Básica, Enfermeiro. INTRODUÇÃO A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) traz que esta é “um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrangem a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde.” (BRASIL, 2006, p. 10). Ainda de acordo com esta política a Atenção Básica deve ser a porta de entrada dos serviços de saúde além de ser dirigida a populações de territórios delimitados, sendo o Programa de Saúde da Família (PSF) a sua principal estratégia de organização. Para atender as necessidades de saúde da população com eficácia e de acordo com o modelo de atenção proposto pelo SUS é imprescindível que haja uma mudança nas práticas educativas formadoras e de desenvolvimento que se dirigem aos profissionais de saúde, para que elas sejam mais adequadas as suas práticas e necessidades cotidianas (SILVA; OGATA; MACHADO, 2007). Para atender a esta necessidade foi criada em 2004, através da Portaria Ministerial nº198, a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde como uma estratégia do SUS para a formação e o desenvolvimento de trabalhadores de saúde, que foi revista em 2007, através da Portaria Ministerial nº 1996. A Educação Permanente em Saúde (EPS) propõe que as mudanças nas práticas de trabalho se baseiem na reflexão crítica em rodas de conversa, onde a partir da problematização da realidade de trabalho sejam identificadas as necessidades de aprendizagem (SILVA, OGATA e MACHADO, 2007). Assim, a PNAB assegura que “a educação permanente dos profissionais da Atenção Básica é de responsabilidade conjunta das SMS e das SES, nos estados, e da Secretaria de Saúde do Distrito Federal” (BRASIL, p.19, 2006). No âmbito municipal, os coordenadores da AB são os responsáveis por coordenar o processo de formulação e de operacionalização das políticas educacionais para os trabalhadores de saúde da AB, devendo tomar como referência os princípios da EPS. Para que isto se concretize é necessário que estes dirigentes se apropriem da EPS como uma política de Estado, uma estratégia para o fortalecimento da AB e como uma proposta metodológica diferenciada da vigente na saúde. Assim, este estudo tem como objetivo descrever o entendimento de enfermeiros dirigentes do setor de Atenção Básica da Secretaria Municipal de Saúde de Feira de Santana sobre Educação Permanente em Saúde. METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa descritiva, de abordagem qualitativa, que teve como sujeitos de estudo Enfermeiros dirigentes - coordenadores e supervisores - da Atenção Básica da Secretaria Municipal de Saúde de Feira de Santana, o que totaliza sete dirigentes A técnica de coleta de dados utilizada foi a entrevista semi-estruturada, onde, os entrevistados puderam discorrer livremente sobre o tema proposto. Para a organização e a 1158 análise dos dados utilizou-se a técnica de Análise de Conteúdo. Foram considerados, no estudo, os aspectos éticos da Resolução 196/96. ANÉLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Ao referirem o que entendiam sobre a temática Educação Permanente em Saúde (EPS) a maioria dos entrevistados associaram a EPS a outros conceitos como o treinamento, a capacitação e a atualização dos conhecimentos. Assim, percebe-se que o conceito da EPS está associado à quantidade de atividades educativas realizadas em determinado período de tempo. Apesar disso, alguns entrevistados associaram a educação permanente em saúde à continuidade de atividades educativas realizadas em determinado período de tempo, pois de acordo com as mesmas a freqüência da realização das atividades educativas é a principal característica definidora da EPS. De acordo com a PNEPS “a educação permanente em saúde é aprendizagem no trabalho, onde o aprender e o ensinar se incorporam ao quotidiano das organizações e ao trabalho” (BRASIL, 2004, p. 6). Isso demonstra que a EPS deve fazer parte do dia-a-dia dos serviços de saúde, onde o aprender e o ensinar estejam incorporados ao trabalho. Dessa forma, a demanda dos serviços de saúde e da população atendida é que vai determinar quando devem ser realizadas as atividades educativas para os trabalhadores de saúde. Ainda de acordo com os entrevistados o objetivo da EPS é capacitar os profissionais de saúde para um melhor desenvolvimento do seu trabalho e, consequentemente, para a prestação de uma assistência à saúde qualificada. Ribeiro e Motta(1996) trazem ainda, que a EPS tem o processo de trabalho como objeto de transformação, norteado pela equidade à assistência a saúde e ao acesso aos serviços de saúde, e consequentemente para a melhoria da qualidade dos serviços ofertados pelas instituições em saúde. Dessa forma, a EPS propõe uma reflexão sobre o que está acontecendo no serviço e o que precisa ser mudado. Além disso, também foi relatado que as necessidades individuais e coletivas dos profissionais de saúde devem ser consideradas nas atividades de formação e de desenvolvimento dos trabalhadores, o que retrata uma das propostas da EPS que é considerar as necessidades de aprendizagem do trabalhador, dos serviços, e da saúde da população assistida. Outro aspecto abordado foi o fato de a EPS trazer a possibilidade de mudança através da educação, possibilitando que haja uma mudança de foco em relação à prestação da assistência onde esta esteja voltada para a promoção da saúde e prevenção dos agravos. Apesar dos diversos movimentos nacionais para a divulgação da PNEPS, algumas entrevistadas referem não conhecer os princípios e diretrizes da PNEPS. Na perspectiva de uma dessas entrevistadas a PNEPS pretende impor a realização constante de atividades educativas para os trabalhadores de saúde, tendo como objetivo principal a melhoria do cuidado. Para outra entrevistada a PNEPS é uma proposta nova que ainda está sendo posta em prática. Desse relato surge o seguinte questionamento: a PNEPS ainda está em processo de operacionalização nos espaços de trabalho, ou os trabalhadores de saúde ainda estão em processo de compreensão dessa política? Para a implementação dessa política é essencial que os trabalhadores conheçam suas propostas e se interessem em esclarecer suas dúvidas. Na perspectiva de Lopes e outros (2007, p. 153) “a efetividade da educação permanente em saúde como política para o SUS, depende da interlocução das instituições de saúde e de educação, e da capacidade destes entes desenvolverem ações descentralizadas para toda a rede de serviço”. 1159 Dessa forma também para a efetivação dessa política implica que haja uma articulação entre o SUS e as instituições de ensino, dando ênfase a formação e o desenvolvimento para o SUS (BRASIL, 2004). Com relação a operacionalização da PNEPS, no campo empírico deste estudo alguns entrevistados referiram ainda que a PNEPS vem sendo posta em prática, pois a instituição realiza diversas capacitações para seus funcionários. Alguns entrevistados relataram a existência de um setor de EPS na Secretaria Municipal de Saúde de Feira de Santana. Apesar disso alguns atribuíram a esse setor um papel mais de colaborador das realizações das atividades educativas para os trabalhadores de saúde do que de idealizadores e realizadores dessas atividades. De acordo com Lopes e outros (2007), para que a EPS possa efetivamente acontecer, o trabalho dentro das instituições não devem partir de um organograma de funções hierárquicas na organização e produção dos serviços. À proposta é uma rede comunicante na qual todos os atores sejam protagonistas e a produção do trabalho coletiva. A existência de um setor responsável pela EPS não desresponsabiliza a Coordenadoria da Atenção Básica de coordenar o processo de formulação e de operacionalização das políticas educacionais para os trabalhadores de saúde da AB, tomando como referência a EPS, pois, como afirma Lopes e outros (2007, p.154) “a potência da proposta está em construir políticas locais e processos de mudança em espaços concretos e propícios para a transformação”. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao desenvolver essa pesquisa percebemos que as enfermeiras dirigentes da Atenção Básica ainda possuem uma certa dificuldade em conceituar Educação Permanente em Saúde (EPS) e percebê-la como uma proposta política e metodológica. Considerando o papel estratégico que a Coordenação da Atenção Básica desempenha no cenário da saúde municipal é necessário que os enfermeiros dirigentes revejam as concepções sobre a EPS. Para isso, devem ser desenvolvidas atividades educativas que coloquem em discussão a PNEPS e a EPS e suas propostas conceituais e metodológicas. Isso facilitará não só a compreensão maior sobre o tema como também influenciará a sua utilização nos espaços de trabalho. Percebe-se assim, que é necessário que as enfermeiras dirigentes compreendam melhor quais as propostas da EPS, pois, percebe-se que apesar de reconhecerem a EPS como uma estratégia para o fortalecimento da AB, elas ainda não a compreendem como uma política de Estado, e de uma maneira mais ampliada como uma proposta metodológica diferenciada da vigente na saúde. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. 2004. Portaria nº 198, de 13 de fevereiro de 2004. Institui a política nacional de educação permanente em saúde como estratégia do Sistema Único de Saúde para a formação e o desenvolvimento de trabalhadores para o setor e dá outras providências. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 16 fev. BRASIL. Ministério da Saúde. 2006. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política nacional de atenção básica / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção à Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde. LOPES, Sara Regina Souto; PIOVESAN, Érica Torres de Almeida; MELO, Luciana de Oliveira; PEREIRA, Márcio Florentino. 2007. Potencialidades da educação permanente para a transformação das práticas de saúde. Com. Ciências Saúde. v. 18, n. 2, 147-155. 1160 RIBEIRO, Eliana Claudia de Otero; MOTTA, Jose Inácio Jardim. 1996. Educação permanente como estratégia na reorganização dos serviços de saúde. Divulg. saúde debate. v. 12, p. 39-44, jul. SILVA, Jaqueline Alcântara Marcelino da; OGATA, Márcia Niituma; MACHADO, Maria Lúcia Teixeira. 2007. Capacitação dos trabalhadores de saúde na atenção básica: impactos e perspectivas. Revista Eletrônica de Enfermagem. v. 09 n. 02, p. 389-401.