Boletim Farmacovigilância Número 1 Junho de 2010 PUCRS e Pro-Saúde dão início à Projeto em Farmacovigilância Visando à capacitação de profissionais e estudantes da área da saúde, o Projeto “Ampliação da Rede de Farmacovigilância em Unidades Básicas do SUS e Hospital São Lucas da PUCRS”, tem por objetivo captar reações adversas a medicamentos (RAM) e suspeitas de desvios de qualidade ocorridas no Sistema Único de Saúde (SUS). Deste modo, pode-se colaborar, mediante notificações, com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Este Projeto já iniciou suas atividades no Hospital São Lucas da PUCRS, com busca ativa de RAM em prontuários de pacientes internados. ANVISA ALERTA! Uso de medicamentos beta-agonistas de longa duração com novas recomendações do FDA Em 24 de fevereiro de 2010, a ANVISA reforçou o cuidado no uso de beta-agonistas de longa duração (BALD), como salmeterol e formoterol, no tratamento da asma e da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), conforme orientações da Food and Drug Administration (FDA). Estudos demonstraram que há aumento no risco de exacerbação severa nos sintomas da asma, levando à hospitalização e à evolução para eventos graves. Estes medicamentos são registrados no Brasil como monodrogas ou em associação com corticosteróides. O FDA recomenda as seguintes medidas de segurança: O uso dos BALD não deve ser iniciado em pacientes que se encontram em situação de crise asmática. As monodrogas só devem ser usadas em combinação com um medicamento para o controle da asma; Os BALD só devem ser iniciados caso não se consiga o controle adequado da asma apenas com uso de corticosteróides; e devem ser descontinuados assim que o controle da asma for atingido; após a interrupção, prosseguir o uso de corticosteróides para que a doença permaneça controlada; Para pacientes pediátricos, indica-se o uso de um BALD cuja apresentação esteja em associação com um corticosteróide inalatório, a fim de garantir maior segurança e eficácia. Vamos colaborar para a segurança de pacientes e profissionais de todo o Brasil! Notifique! HSL: Farm. Catherine Isoppo - [email protected] Centro de Saúde Bom Jesus: Farm. Suzana Martinewski - [email protected] Reação Adversa a Medicamento Caso clínico Paciente feminina, 47 anos, foi hospitalizada devido piora de dor epigástrica e pirose, com início há, aproximadamente, um mês. Refere que as manifestações digestivas tiveram início há mais de 10 anos, obtendo alívio parcial com uso de hidróxido de alumínio. Em internação prévia ocorrida em outro hospital da região, há um mês, foi feito diagnóstico de trombose venosa profunda (TVP), quando foi iniciado varfarina (5 mg), 1 vez ao dia por 6 dias, sendo a dose reduzida para 2,5 mg, 1 vez ao dia, nos dias subsequentes. No momento da segunda internação, apresentava RNI 6.76, quando foi suspensa a varfarina e iniciada vitamina K via oral para reversão da anticoagulação excessiva. Além destas manifestações, foi observada a presença de icterícia. No 2º dia de internação, apresentou RNI 7.56, sendo que no 3º dia de internação, o RNI reduziu para 2.32. No 4º dia a paciente referiu dor no membro inferior direito (MID), acompanhado de edema e hiperemia e flictema hemorrágico. No 5º dia, relatou melhora da dor no MID. Prescrito enoxaparina, 60 mg, 12/12h por suspeita de novo evento trombótico. Após o dia 5, desenvolveu hematoma no MID, acompanhado por celulite. Durante a internação, a paciente teve diagnóstico de adenocarcinoma de papila duodenal EC IV, com presença de metástases hepáticas (fígado com contornos irregulares, múltiplas lesões - implantes secundários). A paciente progrediu com icterícia e piora da área de necrose no MID. Foi iniciado esquema quimioterápico com 5-Fluorouracila 1650 mg EV contínuo 24h (D1-D3). Consultoria da Dermatologia, devido à presença de equimose com lesão hemorrágica em MID, levantou hipóteses de infecção bacteriana de partes moles ou de picada de aranha, quando foi recomendado manter o membro elevado. No 13º dia, queixou-se de intensificação da dor MID, o qual apresenta cianose ao exame clínico e, igualmente, foi detectada redução da perfusão nas mãos, quando foi suspenso a vitamina K. Nos dias subseqüentes, este quadro agravou, tendo sido aventado a possibilidade de vasculite. Consultoria da Reumatologia apontou para quadro sugestivo de vasculite ou de síndrome paraneoplásica. Foi sugerido manter antimicrobiano e iniciar pulsoterapia com prednisona e metilprednisolona. Houve piora do TP, plaquetopenia e queda do fibrinogênio. Foi suspenso tramadol e cetoprofeno, medicamentos que poderiam estar relacionados à plaquetopenia. A paciente evoluiu de forma negativa, com elevação significativa das transaminases, (TGO: 3608 U/L, TGP de 1370 U/L e bilirrubinas totais de 22.2 mg/dL, com predomínio de direta). Ainda houve aumento do RNI para 5.07. A paciente progrediu com confusão mental e alucinações visuais. Não apresentava sangramento. A presença de lesão vasculítica persistiu nos membros superiores e inferiores. A paciente evolui para óbito devido à encefalopatia hepática. Discussão: Relatos de casos de gangrena e/ou necrose com uso de varfarina têm sido publicados. A incidência é inferior a 0.1 %, nos pacientes que recebem doses terapêuticas. Na literatura, necrose e gangrena de todos os dedos do MID foram relatados em paciente em uso de 5 mg de varfarina por dia, dose que foi reduzida para 2.5 mg por dia. Houve necessidade de amputação transmetatarsa do pé direito (Micromedex®, 2010). Outro paciente, 59 anos, feminina, desenvolveu endurecimento e inflamação do mamilo esquerdo e tecido areolar com subseqüente formação de bolhas. Apesar da interrupção da varfarina, a lesão na mama tornou-se necrótica e edemaciada, atingindo duas vezes o tamanho normal, determinando a necessidade de mastectomia (Micromedex®, 2010). No caso descrito, aspecto adicional a ser considerado consiste na progressão da doença de base apresentada pela paciente, diagnosticada com disfunção hepática, fenômeno que pode ser responsável por interferir na metabolização da varfarina com conseqüente elevação da meia-vida desta, fatores que poderiam ter contribuído para aumentar o efeito do fármaco e possivelmente suas reações adversas. Conclusão: A terapia com anticoagulante oral indutor de necrose tecidual é uma complicação rara, com alta mortabilidade e morbidade associada, a qual implica interrupção imediata do tratamento. Embora esta reação ocorra dentro dos primeiros 10 dias de tratamento com varfarina, alguns pacientes desenvolveram severas complicações após anos de exposição ao fármaco. Achados cutâneos incluem petéquias que progridem a equimoses e bolhas hemorrágicas. No entanto, aspectos dermopatológicos, como microtrombos com dano endotelial e extravasamento de hemácias, com progressão para necrose coagulativa, podem necessitar de diagnóstico diferencial com outras doenças capazes de mimetizar as mesmas manifestações (Nazarian et al, 2009; Ward, 2006). Expediente Bolsistas Pró-Saúde - Vanessa Hegele, Mayara Delwing Farmacêutica Catherine Isoppo – Hospital São Lucas da PUCRS Prof. Dr. Fernanda Bueno Morrone – Faculdade de Farmácia PUCRS, coordenadora Prof. Dr. Rosane Salvi – Faculdade de Biociências PUCRS