A Quebra do Círculo
Cristovam Buarque
- Não me arrependo de nada. Quebrei o círculo.
- Nem de ter assassinado uns cinco ou seis ou até mais, D.
Eloisa?
- Foi mais, e vou contar tudo. Mas não me arrependo. O que
precisava fazer eu fiz. Meus filhos estão criados, educados,
formados.
- Mas eles vão visitar a senhora na cadeia. Vai pegar uns 30
anos.
- Se eles vão visitar o túmulo do pai, sem sentir vergonha, não
vão sentir vergonha ao me visitarem na cadeia.
- Mas, não podia ser diferente?
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- Só se eu tivesse nascido de pai e mãe ricos, e morasse em
lugar rico. Como um dia ouvi um político dizer: só se eu
tivesse outro CPF e outro CEP.
- Como assim?
- Onde nós vivíamos e o quanto a gente ganhava, eu como
doméstica e ele com bicos, não dava para pagar escola boa
para os dois filhos. Nem para um. Nem para metade de um.
- Mas a senhora não pensava assim antes. Quando era
considerada a melhor empregada que sua patroa já teve. Ela
mesma que diz isso.
- Mas tem um dia, sempre tem um dia, doutor, sempre. Eu não
sei explicar direito como ele chega, tem um dia que a gente
muda tanto que até o verbo mudar - é verbo, não é? – não
basta para dizer o que aconteceu.
- E quando foi que mudou?
- Mudou mesmo foi no dia que eu atrasei no preparo dos
meninos de D. Lucia e perdi a Kombi que levava eles para a
escola. Mas antes eu vinha mudando aos pouquinhos, desde
o dia da greve dos professores na escola dos meus dois.
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- Eu acordava todo dia às 6.30. Fazia suco de laranja do
Bernardo e da Fernanda. Levava no quarto de cada um. Só
acordavam com suco de laranja. Eles eram muito bonzinhos.
Eu amava eles, era apegada. Gostava de fazer serviço para
eles.
- Enquanto deixava eles sentados na cama, tomando o suco,
colocava as roupas deles dobradas na cama e ia fazer o resto
do café. Eles já vinham trocados de roupa, com aquela farda
linda. Enquanto tomavam café eu ia olhar se a mochila de
cada um estava pronta, olhava aqueles livros tão pesados, as
réguas e cadernos e outras coisas que eu nem sabia para
que serviam.
- Depois descia com eles até a calçada para esperar a Kombi
que levava eles para a escola. Eu subia de volta para a
cozinha pelo elevador de serviço.
- Um dia, quando eu ia subindo, me passou pela cabeça a
lembrança estranha de que os meus filhos, Inácio e Geovana,
estavam em casa, sem suco de laranja, nem escola por causa
da greve dos professores.
- Eu nunca tinha pensado nisso antes. Era como se Bernardo e
Fernanda fossem de um mundo diferente do mundo de
Inácio e Geovana. Para mim, até aquele dia, uma coisa era
uma coisa e outra coisa era outra coisa. Os filhos de D. Lucia
eram uma coisa e os meus eram outra coisa.
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- Mas naquele dia me perguntei o porquê da diferença. Em
vez de ir direto ao fogão, sentei na cadeira. Tomei o resto do
café que os meninos tinham deixado nos canecos que
usavam e pensei pela primeira vez em uma estranha
palavra: injustiça com meus filhos. Foi a primeira vez que
esta palavra passou na minha cabeça. E não saiu mais. Virou
uma mania. Como estas músicas que as vezes não saem da
cabeça da gente: “Por que meus filhos não têm o mesmo?”
- Todo dia eu fazia as mesmas coisas de antes. Com o mesmo
cuidado, posso dizer. Com o mesmo carinho que tinha por
aqueles dois anjinhos tão bonitos e queridos. Até hoje eu
ainda gosto deles quando me lembro. Um desses dias vi uma
foto da Fernanda no jornal, ficou uma moça linda. Eu pensei:
”ajudei a fazer essa menina”. Estava sobre um cavalo. Era a
famosa equitação para onde ela ia de tarde com uma roupa
bem engraçada e que depois daquele dia passou a me
incomodar porque eu pensava que o meu Inácio gostaria de
montar em um cavalo daqueles, e ele estava era sem aula, na
rua, brincando com pivetes que não eram boa companhia. E
Geovana, o que estaria fazendo, com aquele pai distraído
que tinha?
- Mas a greve terminou, D. Eloisa.
- Terminou depois de dois meses. O senhor sabe o que são
dois meses sem aula. E sabe o que é subir dois meses pelo
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elevador de serviços pensando que os filhos estão sem
escola, passando a infância na rua, enquanto aqueles outros
meninos estavam na Kombi indo para aula, ginástica, inglês,
francês, natação, montar a cavalo?
- Estou certa que o senhor não sabe.
- Pois eu sei. E foi isso que mudou minha vida, me trouxe para
esta situação. Vai me botar 30 anos de cana, como o senhor
disse. Mas não me arrependo. Quando a greve terminou, e
meu marido até me ligou dizendo, a minha cabeça continuou
descontente. Eles já estavam de volta na escola, mas naquela
escola. Que escola, doutor? Eu tinha ido um dia na escola
onde estudavam Bernardo e Fernanda, a D. Lucia me levou
para ver a festa deles. E tinha ido também um sábado na
escola de Inácio e Geovana. Dá para chamar aquelas duas
coisas pelo mesmo nome de escola?
- Mas isso não justifica você fazer o que fez: matar gente!
Ficar 30 anos na cadeia. Porque este é seu destino. Desta
você não escapa. Temos todas as provas.
- Nem vou ficar tanto tempo. Eu vou morrer antes. Mas,
sinceramente, justifica. Até porque quando vierem me
visitar, meus netos virão em um uniforme bonito de escola.
E vão me dizer o que estão aprendendo. Vão falar em língua
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estrangeira que eu não vou entender, mas vou achar uma
gracinha eles falando.
- Conte para gente: quando terminou a greve, porque você
não ficou tranquila e voltou a ser o que sempre foi. Uma boa
empregada?
- Quando a greve acabou eu sabia que meus filhos estavam na
escola, mas comecei a subir no elevador de serviço
pensando na diferença entre a escola deles e a dos meninos
que eu cuidava. Pensava na cara risonha do professor, na
ginástica, no inglês, na natação. O senhor sabia que estes
meninos ricos de hoje estudam até a língua que se fala na
China? E os meus não aprendiam nem mesmo a língua da
gente. Era o dia inteiro eu preparando os meninos da D.
Lúcia para aprenderem coisas e terem reforço e irem ao
psicólogo quando não estavam se comportando bem. E os
meus? Os meus, nada. Nadinha de nada. Era isso que não me
saia da cabeça. Também lembrava que eu ia até a Kombi, me
despedia deles, recebia até beijo, e os meus nada, eu nem via
quando eles iam para aquilo que chamavam de escola. Era
isso que não saia de minha cabeça.
- Aí um dia, talvez por esta minha cabeça meio doente de
raiva, sofri um acidente. Pela primeira vez na vida atrasei
um pouco acordar e os meninos perderam a Kombi por
minha causa. Subi com eles de volta, bati na porta do quarto
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de D. Lucia, ela acordou primeiro assustada, depois, quando
viu o motivo, ficou furiosa. Descontrolada. Enquanto dizia ao
Dr. Marcelo o que tinha acontecido, me chamando “desta
imbecil da Eloisa”, mudou a roupa em dois minutos e
correndo pelo corredor, dizendo tudo que podia contra mim
por causa do meu descuido, entrou no elevador social
puxando os meninos, coitadinhos sem entender direito o
que acontecia.
- Eu fui ajudar. Fui até a garagem. Amarrei os cintos deles. Eu
ainda pedi para ir com ela, mas saiu como uma desesperada.
Eu fiquei sem o beijo dos meninos e subi pelo elevador de
serviço para o meu quarto, sentindo uma tristeza maior do
que devia ser a tristeza que eu sentia por ter errado e pelo
medo de perder o emprego e pelo medo de quando ela
chegar o que ia me dizer.
- Foi aí que senti o porquê da tristeza tão grande: aquela mãe
rica saia desesperada correndo o risco de bater com o carro
que ela gostava tanto, só para que os filhos dela não
chegassem atrasados nem um minuto, e eu tinha há pouco
tempo assistido meus filhos ficarem dois meses sem aulas,
por causa da greve, sem nada fazer por eles. Foi aí que senti
pela primeira vez que eu não era uma boa mãe. Eu era
melhor para os filhos da minha patroa do que para os meus
próprios filhos. Sentei na minha cama, pensei um pouco,
olhei ao redor, vi minha malinha e fiz a maior mudança de
minha vida. Juntei minhas coisas, fiz o café, esperei D. Lucia
e pedi minhas contas. Ela ainda pediu desculpas pelos gritos
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que tinha dado. Disse que chegou na escola ainda antes da
Kombi. Que eu não me preocupasse. Que os meninos ficaram
olhando para trás e pediram a ela para parar porque
queriam me dar um beijo. Que isso acontece na vida. Tinha
sido a primeira. Pediu desculpas de novo. Disse que daria
aumento. Que eu não a deixasse desse jeito.
- Eu disse que não estava com raiva. Que ela tinha razão de
ficar com raiva, disse que adorava os meninos, que tinha
aprendido muito com ela na cozinha. Mas, eu disse, e ela
arregalou os olhos, que o que eu mais tinha aprendido com
ela foi ficar desesperada porque os filhos iam chegar
atrasados na escola. Ela ficou calada e eu continuei. Contei
que a escola de meus filhos tinha ficado dois meses em
greve e eu nada fizera, continuei cuidando do Bernardo e da
Fernanda. Eu disse que não queria mais meus filhos em
escola com greve. E que queria uma escola bonita como a
dos filhos dela. E queria que estudassem inglês e fizessem
ginástica e tudo mais que eu via nos filhos dela quando eu os
preparava para sair.
- Ela me olhou como se nunca antes me tivesse visto. Como se
eu não existisse. Fosse um vidro, doido. Pareceu que ela
nunca tinha me escutado falar do Inácio e da Geovana. Ela
não disse nada. Acho que pensou que eu tinha ficado doida.
Que história era essa de empregada querer uma boa escola
para o filho? Isso era impossível. Contra a natureza. Como
matar gente, que você, delegado, diz que é crime. Não sei
também se ela chegou a fazer as contas de quanto precisava
me pagar para que eu pagasse boa escola para meus filhos.
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Se fez estas contas viu que nem o salário dela e o do marido
dariam para isso.
- Fui embora. Deixei-a triste e preocupada, e com raiva
também, como é que eu a deixava desse jeito. Podia dar um
tempo, pensar um pouco mais. Ficar sem salário era pior
para meus filhos! Eu não esperei. Não queria ver o Dr.
Marcelo. Mesmo com raiva, ela me deu um salário extra e
ficou chorando. Eu vi. D. Lúcia foi uma boa patroa. O mundo
que é que era ruim. E a mim cabia consertá-lo. Como eu fiz.
Mesmo que custe os trinta anos que o senhor falou.
- Fui embora. Ela não sabia que eu não ia ficar sem emprego.
Já tinha decidido o que fazer. E sabia que ia dar para pagar a
melhor escola para meus dois filhos. E o inglês e a natação e
tudo mais.
- Desci do ônibus e passei em frente ao bar do Joaquim.
Antonio, meu marido, aquele que você, delegado, chama de
meu cúmplice, estava lá, como sempre, na espera que
aparecesse um bico. Quando me viu com a maleta, fechou a
cara. Foi até mim, pegou minha maleta e perguntou que
burrada eu tinha feito.
- Fui calada até em casa. Ele reclamando, querendo saber o
que tinha acontecido e eu só pensando. Tudo já decidido.
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Acho que pensei até o dia em que estaria aqui, hoje, na sua
frente. Presa.
- Quando cheguei em casa, sentei na cama, olhando para o
chão que estava com um buraco que eu não tinha visto
antes; Disse: “Não aguentei mais vestir menino rico para
estudar enquanto os da gente ficam sem estudo.” Ele disse,
espantado: “Mas os meninos estão na escola. Estão até com
aula outra vez.”
- Respondi de um jeito que ele deve ter pensado que eu tinha
ficado doida varrida: “E isso é lá escola? E o inglês e a
ginástica, a natação, o reforço de matemática? E a aula o ano
inteiro. Sem greve e com professor contente?
- Ele se afastou de mim, chega bateu com as costas na parede
e disse, com um olhar estranho: “Tá doida.” Eu disse: “Tou
decidida. Nossos meninos não vão seguir o caminho da
gente, enquanto os de D. Lucia e Dr. Marcelo seguem o
caminho dos pais deles. Meus filhos vão estudar como filhos
de rico.”
- Ele disse: “E tu vai assaltar banco!”
- Respondi: “Garanto ao senhor que não tinha pensado nisso.
Mas pensei coisa mais fácil e mais próxima da gente. Vou
trabalhar para Zeca Boca de Fogo.”
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- Ele disse: “Estás completamente maluca. Aquilo é crime,
tráfico é coisa de bandido. Não vou entrar nessa. Nem deixar
você entrar.”
- É crime, mas vou ganhar dinheiro para meus meninos
estudarem. Crime maior é cuidar dos filhos dos outros e não
dos da gente. Nada é crime se for para dar educação, escola
boa. E se for, que seja, Não quero saber se o dinheiro vem de
granfino que quer cheirar coca, eu quero é saber se da coca
consigo dar escola aos meninos. Com direito até para
equitação. Se tu quer vir comigo, tudo bem, se não vou
sozinha.”
- Doutor, eu acho que ele já vinha pensando em trabalhar
para o Zeca Boca de Fogo. Só não tinha coragem, nem
pensava usar o dinheiro para pagar escola.
- Ainda naquela tarde passamos na casa de D. Marilda, a mãe
do Zeca, nossa vizinha e até amiga. Disse que queria falar
com o filho dela. Ela perguntou: “Vocês têm certeza?”
Dissemos: “Sim.” E aquilo mudou a vida da gente e de nossos
filhos, e de nossos netos e bisnetos, de toda a família daqui
para frente.
- Ele estava em casa. Falei para ele que nas festas da casa
onde eu tinha trabalhado, tinha visto gente fumando
maconha. E alguns cheirando. Diga-se para bem da verdade,
que nunca vi D. Lucia, nem Dr. Marcelo chegando perto de
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droga. Eram os convidados. Mas eles sabiam, lá isso sabiam.
E disse que eu sabia as casas onde moravam muitos deles.
- Boca fez umas perguntas, depois levou a gente no carro
bacana dele para ver as casas onde moravam os amigos de
D. Lucia. Ele disse que ia levantar a rotina deles, falar com
porteiros, depois iria colocar uns portadores para se
aproximar com a droga. Era assim que fazia, ele disse. Ele
mostrou que sabia como fazer, disse que era o “nourral”.
Sabe como é. Eu pensava que se escrevia de um jeito e só
depois descobri que é de outro jeito. Meus filhos já
aprenderam a escrever certo em inglês desde o começo.
- Boca começou a ganhar dinheiro com os amigos de D. Lucia
que eu indiquei, e a dividir com a gente parte dos ganhos
dele. E gostou de mim também. Um dia até me disse que se
eu não fosse casada ele ia querer dormir comigo. Eu só ri.
Era um bom homem, ainda que muito mulherengo. Mas isso
não é crime, é só sem-vergonhice. Como ganhar dinheiro
para pagar a escola dos filhos da gente com o nariz de
granfino rico também não deveria ser crime, nem mesmo
sem-vergonhice, ao contrário, isso que é ter vergonha na
cara.
- Ele não merecia receber aquelas balas. A mãe dele ficou
desesperada. Eu fiquei com medo. Mas vi que, assumindo o
serviço que ele fazia e que eu já tinha aprendido, eu podia
ganhar mais do que ele me dava, usando os mesmos
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portadores para os clientes que eu tinha conseguido e os
outros que ele tinha e me mostrava no caderninho que
guardava com tanto cuidado, mas me mostrou um dia.
- Aos poucos fui aumentando minha clientela. Aumentei
tanto, que passei da fronteira do Boca e um dia uma moto
parou ao meu lado, no carro que eu já tinha, e disse que
tinha recebido ordem de me matar. Mas se eu pagasse mais
ele ficaria quieto. Eu sabia que ele estava mentindo. Queria
pegar meu dinheiro, me matar e depois receber mais
dinheiro do chefe dele.
- Falei com Antonio que a gente não podia parar. Os meninos
já estavam em uma escola de granfinos, estudando tudo que
todo mundo devia ter direito. A gente já pensava até em
mandar eles para a Suiça. Ouvi que lá estão as melhores
escolas. E iam ficar protegidos de meus concorrentes.
- Não podíamos parar e só tinha um jeito. Foi assim que matei
o primeiro. Era ele ou eu junto com o Antonio, os meninos
abandonados, levados para orfanato. A gente não matou o
moleque da moto, matou o mandante e ainda ficou com a
melhor clientela e com os portadores dele. Foi assim que
começou nosso império. E meus filhos passaram a ter os
estudos que eu desejei naqueles dias em que preparava
Bernardo e Fernanda. Quebrei a cadeia que amarrava o
destino deles ao mesmo meu.
- Doutor, eu matei ainda outros, mas com a droga que enfiava
no nariz dos ricos, consegui enfiar conhecimento na cabeça
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de meus meninos. Comprei o melhor ouro do mundo para
eles. Se precisei matar, matei, sobretudo porque eu matava
ou morria. Como morreu o meu Antonio por um descuido da
gente. Todo negócio exige umas tarefas, o meu exigia matar.
- Quando consegui ganhar um bom dinheiro, e vi que um dia
minha sorte acabava, fiz um depósito com um doleiro que
tinha ficado amigo, e mandei os meninos para a Suiça. Nesse
dia, lembrei de como D. Lucia olhou para mim achando que
eu tava maluca, por querer dar aos meus filhos uma
educação igual a dos filhos dela. Eu estou presa, o senhor me
condenando, mas a educação dos filhos dela é fichinha junto
da educação dos meus.
- A diferença é que ela fez e continua solta. Vai receber os
netos na sala de jantar e eu na cela da cadeia. É só a
diferença. No mais, nós ficamos iguais. Porque eu quebrei o
círculo.
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