FORUM SOCIOLÓGICO, n.os 13/14 (2.ª Série), 2005, pp. 59-76. A PROMOÇÃO TURÍSTICA EM ÓBIDOS. DINÂMICA URBANA E REAPROPRIAÇÃO DO PATRIMÓNIO* Ana Patrícia Pereira** “Restabeleçam sobre os alicerces que ainda existem alguns dos velhos edifícios arrasados pelo terramoto de 1755; suprimam não mais de uma dúzia de construções deste século; dêem ao que fica a ligeira restauração cenográfica de alguns detalhes arquitectónicos e, sem tocarem na disposição geral das ruas e no agrupamento das casas, aqui têm Óbidos, fielmente e integralmente ressuscitado, um velho burgo português de há trezentos anos.” Ramalho de Ortigão Na base da divulgação de um espaço, uma cidade ou uma região para fins turísticos, encontra-se um processo de apropriação de características do local e de esquecimento de outras, na criação de um sistema de imagens, coerentes ou não, posteriormente divulgadas por diversos meios, afim de captar a atenção de potenciais visitantes. É com base no pressuposto de que é em volta das imagens e narrativas sobre eles construídos que os espaços com características patrimoniais são organizados e utilizados, que nos propomos analisar algumas das recentes estratégias de promoção turística da vila de Óbidos. Num primeiro momento, a análise incidirá nas narrativas e nas imagens construídas, nos recursos utilizados, para num segundo momento, incidir nas relações entre os interesses dos promotores turísticos, no sentido lato, e o tipo de promoção que é feita. * Este artigo baseia-se numa pesquisa, efectuada no ano de 2001, no âmbito do seminário de investigação da Licenciatura em Sociologia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. ** Mestranda em Sociologia na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Bolseira FCT no Fórum Sociológico ([email protected]) 60 Ana Patrícia Pereira 1. Os espaços patrimoniais de Óbidos: imagens e narrativas Óbidos é um espaço conhecido pelas suas características arquitectónicas singulares e monumentos históricos. O questionamento sociológico desta realidade deve reconhecer, desde logo, que a sua existência enquanto espaço patrimonial e destino turístico é produto de acções específicas a nível simbólico. Tais acções compreendem processos de atribuição de significados ao património e de construção de imagens, que condicionam as intervenções ao nível físico - como a reabilitação ou a limpeza, por exemplo. Alain Bourdin enfatiza a importância da construção de imagens na produção física do espaço e identifica os seus principais produtores: Les images tiennent une place essentielle dans la manière dont on produit l’espace aujourd’hui. Les spécialistes de l’aménagement les façonnent, elles stimulent l’action et lui permettent d’éviter les incohérences. Il est donc indispensable de commencer par étudier celles à partir desquelles s’organise l’action sur l’espace ancien. On les trouvera dans les discours des porte-parole, celui du gouvernement, de l’administration, des architectes, des idéologues spécialisés, des associations. (Bourdin, 1984: 27) O processo de construção de narrativas em torno de características seleccionadas de um local que possui património, por forma a que este se torne atractivo para os potenciais visitantes tem, regra geral, o objectivo de atrair o tipo de turista interessado pela história e é em conformidade com essa procura que é feita a escolha dos elementos a promover. No entanto, o turista comum raramente se apercebe deste complexo processo de modelização simbólica dos destinos turísticos, que existe com a finalidade máxima de corresponder às suas expectativas. Um dos conceitos utilizados para dar conta desta complexa realidade é a destradicionalização, conceito enunciado por Fortuna (Fortuna 2001, capítulo 11). O autor refere-se assim ao processo social, através do qual as cidades se modernizam, ao sujeitar valores, significados e acções anteriores a uma nova lógica de interpretação e intervenção; a destradicionalização é movida pela necessidade de valorizar recursos com os quais, lentamente, se vai moldando a imagem da cidade, quer no que se refere à estrutura material, produtiva e funcional da mesma, quer no que diz respeito à sua dimensão estética, arquitectónica e cultural. Ao conceito de destradicionalização, de vasto alcance, preferimos aplicar neste caso o de reapropriação da tradição e do espaço. A reapropriação consiste na recodificação destes elementos de modo a que determinados recursos seleccionados, de uma cidade, por exemplo, possam ser (re)convertidos em factores de A promoção turística em Óbidos 61 desenvolvimento – económico e não só – que reforcem de uma imagem competitiva e dinâmica da mesma. Este tipo de processos é cada vez mais frequente em Portugal e impõe-se à generalidade das autarquias. Segundo a Associação Nacional de Freguesias, a “descoberta” do turismo cultural e patrimonial traz alguma esperança a muitos autarcas portugueses quanto ao futuro das suas autarquias. Muitas pertencem a zonas mais ou menos isoladas ou desertificadas, sem capacidade de fixar habitantes, e o turismo cultural patrimonial, que permite transformar em recursos económicos o património edificado, as tradições e muitos dos factores que levaram as pessoas e a riqueza a abandonar esses locais, parece-lhes ser a solução ideal aos seus problemas (ANAFRE, Março 2000). Mas será esta a solução que permitirá a estes locais ganhar uma nova dinâmica? O caso de Óbidos permite estabelecer algumas pistas e esboçar uma reflexão. 1.1. Óbidos – breve caracterização do concelho O Conselho de Óbidos, do qual a vila de Óbidos é sede de concelho, pertence à Comarca de Caldas da Rainha, de que dista 5 km, faz parte do Distrito de Leiria, do Patriarcado de Lisboa e da Região de Turismo do Oeste1, que é formada pelos municípios de Alenquer; Arruda dos Vinhos; Bombarral; Cadaval; Caldas da Rainha; Lourinhã; Óbidos; Peniche; Rio Maior; Sobral de Monte Agraço e Torres Vedras; e abrange a totalidade das suas áreas territoriais. Este concelho, com 10857 habitantes em 2001 (INE, Censos 2001), tem uma área de 142 km2, distribuídos por 9 freguesias: A-dos-Negros, Amoreira, Gaeiras, Olho Marinho, Santa Maria, São Pedro, Sobral da Lagoa, Usseira e Vau. As freguesias de Santa Maria e São Pedro têm sede na vila de Óbidos, mas estendemse para além dos seus limites. Embora seja sede de concelho, a Vila de Óbidos tem um peso populacional muito inferior relativamente ao resto das localidades. O concelho está integrado na Comissão de Coordenação Regional de Lisboa e Vale do Tejo, fazendo parte da sub-região Oeste que engloba igualmente os concelhos de Alcobaça, Alenquer, Arruda dos Vinhos, Bombarral, Cadaval, Caldas da Rainha, Lourinhã, Mafra, Nazaré, Peniche, Sobral de Monte Agraço, e Torres Vedras2. A caracterização demográfica do concelho de Óbidos requer um recuo de algumas décadas, para se compreender que a sua estrutura tem sido condicionada por factores externos, como a emigração e o êxodo rural que contribuíram em larga escala para a diminuição da população do concelho entre as décadas de 50 e 70. Esta foi, aliás, uma tendência generalizada em todo o país; a partir da década de 80 a população aumentou de novo, equiparando-se aos valores de 1950, 62 Ana Patrícia Pereira mas, os números relativos ao início do novo milénio revelam de novo uma população menos numerosa e sobretudo envelhecida. Em 2001, a população com 65 e mais anos é já mais numerosa do que a população com 14 anos ou menos, o que não acontecia em 1991 (INE, Censos 2001). Este envelhecimento da população residente acompanha, tal como foi dito, a tendência geral do país e da Europa. A agricultura e o turismo serão porventura os dois eixos centrais da estrutura económica e social do concelho de Óbidos. O concelho possui várias unidades classificadas como monumentos nacionais: o Castelo e todo o conjunto urbano da vila de Óbidos, localizados nas freguesias de Santa Maria e de São Pedro; mais especificamente, há como pontos de interesse patrimonial o pelourinho, que se encontra na Rua Direita; o túmulo de D. João de Noronha, o Moço, na Igreja de Santa Maria; o aqueduto da Usseira; a Capela de Nossa Senhora do Carmo, ou do Mucharro, que se situa junto à estrada do Castelo; a Capela de São Martinho, no largo de S. Pedro e a Igreja de Santa Maria, Igreja matriz de Óbidos, também na Praça de Santa Maria. Há também notícias de numerosos achados arqueológicos por toda a área do concelho, encontrando-se confirmados os seguintes sítios arqueológicos: um povoado fortificado da Idade do Ferro; uma Necrópole do período medieval, no adro da Igreja de S. Tiago e a cidade romana de Eburobritium3. 1.2. A constituição do património: de espaço de elite a recurso turístico Apesar dos diversos lugares e edifícios na vila Óbidos acima descritos evidenciarem uma história já longa de usos por parte das elites, a sua transformação em destino turístico é recente. Parte da Casa das Rainhas, Óbidos foi muito frequentada pelas diversas cortes ao longo dos séculos até às lutas liberais. Com efeito, a vila era, já nesse tempo, um espaço associado ao modo de vida das elites, aos seus ritmos e às suas práticas espaciais. Todavia foi-se afundando pouco a pouco no esquecimento geral, talvez por ter deixado, por volta de 1832/34, de fazer parte do espólio das Rainhas de Portugal, e já não ser destino da corte – que entretanto preferia as águas de Caldas da Rainha às vistas de Óbidos. Daí em diante foi apenas recordada como uma pequena vila muralhada, bonita, é certo, mas sem grandes atractivos (Pereira, 1988). Assim entrou no século XX e assim continuou, com alguns visitantes de passagem e cada vez menos habitantes, devido à crescente emigração para o estrangeiro e migração para as cidades. Na primeira década do século XX, o castelo e as muralhas foram classificados como área protegida; nos anos 40, com o Estado Novo, o Castelo de Óbidos foi restaurado e a autarquia criou uma comissão para recuperar a vila para fins A promoção turística em Óbidos 63 turísticos, tipificando um modo de acção daquele regime: de acordo com a ideia de recriar elementos do passado de modo a legitimar a sua presença e a sua acção no presente. Na década de 50, todo o conjunto urbano de Óbidos foi classificado como Monumento Nacional. É esta preservação, invulgar no nosso país, que lhe permite assumir-se, hoje em dia, como destino turístico por excelência patrimonial. De acordo com os objectivos propostos para este artigo começamos por observar a forma como é descrita a vila em panfletos promocionais e publicações dedicadas quer ao turismo quer ao património Daí que as expressões mais comummente utilizadas para descrever a vila sejam as que em seguida se apresentam.: Vila Medieval de Óbidos, bonita vila medieval, uma das mais antigas vilas fortificadas de Portugal, Burgo medieval, romântica Vila medieval, Centro Histórico. A frase de Ramalho de Ortigão, que apresentamos nas primeiras linhas deste artigo, é utilizada inúmeras vezes, constituindo uma espécie de “cartão de visita” da vila. Em livros sobre Portugal, guias turísticos e artigos sobre locais de veraneio (Pereir,a 1988; Gil, 1984 e 1989 e Gil, 1990), as descrições continuam a reforçar o património, antiguidade e historicidade da vila como motivos para a visitar, leia-se a reportagem “Óbidos Burgo de Rainhas”, na secção Património da PGA Magazine, que abre com a seguinte frase: Poucas vilas se podem orgulhar de um passado tão real. Conquistado aos mouros à precisamente 850 anos, Óbidos guarda ainda o encanto que fez render sucessivas dinastias. Entre o mar, a lagoa e o campo, ergue-se sobranceira a muralha que encerra um dos tesouros de Portugal. (Lobo, 1998) 1.3. A encenação do património Em volta do património urbano, sobretudo quando este se encontra preservado ou foi reabilitado, são frequentemente organizados eventos culturais, festivais ou cerimónias religiosas há muito perdidas. É igualmente comum organizarem-se visitas guiadas e reconstituições históricas durante as quais se contam histórias ou lendas relativas aos locais visitados, criando assim um imaginário histórico em volta do património. Segundo Alain Bourdin4 a animação do património tem ganho uma importância cada vez maior, as grandes exposições directamente ligadas ao património urbano têm um sucesso considerável, mas também acontecimentos mais modestos podem atrair numerosos visitantes. Embora raramente se encontre isolada, a dimensão patrimonial tem sempre o seu papel numa larga gama de eventos urbanos. Ana Patrícia Pereira 64 No caso de Óbidos, a animação do património é quase sempre organizada pela Câmara Municipal, que expõe da seguinte forma os seus objectivos: O conjunto de propostas que apresentamos para a animação deste Verão em Óbidos visa proporcionar uma resposta cultural aos mais diversos públicos e assenta num objectivo claro: tornar este Centro Histórico num palco de interessantes acontecimentos culturais da região, criando assim novos atractivos, para além da já consagrada riqueza patrimonial e urbana desta linda vila. [Concertos na Cerca do Castelo, Câmara Municipal de Óbidos 2002] No ano de 2002 a actividade de animação patrimonial em Óbidos foi intensa, demonstrando ser esta uma forte aposta do executivo autárquico para fomentar o turismo e atrair visitantes. Uma grande diversidade de eventos, desde concertos de música erudita a concertos de destinados a um público mais alargado, danças populares, eventos religiosos, visitas guiadas ou congressos, tiveram lugar em diferentes locais da vila. O evento mais significativo resultante deste alargamento do conceito de património será, porventura, o mercado medieval cujas actividades se encontram mencionadas no quadro seguinte: Quadro 1: Programa do Mercado Medieval de Óbidos em 2002, iniciativa da CMO De 10 a 14 de Julho 10/07 11/07 12/07 13/07 14/07 Mercado Medieval Torneio de Armas e Exercícios de Fogo Juízo e Punição de Heréticos e Criminosos Simulação de um Assalto ao Castelo Concerto de Eduardo Ramos e Granduale Torneio pela Ordem de Cavalaria Fonte: Folheto promocional do Mercado Medieval, Câmara Municipal de Óbidos 2002 Estas actividades são recriações de eventos que associamos geralmente à Idade Média e que nos remetem para histórias fantásticas de cavalaria, perseguições e guerras entre mouros e cristãos, o Mercado integra-se na estratégia adoptada pela autarquia para promover o que entende serem os seus recursos turísticos mais preciosos: a história e o património. O panfleto promotor do mercado, para além da apresentação das actividades, presenteia-nos ainda com um texto esclarecedor dos propósitos deste evento: Num espaço verdadeiramente magnífico como a Cerca do Castelo, em Óbidos, decidimos recrear, durante cinco dias, hábitos e costumes do tempo da funda- A promoção turística em Óbidos 65 ção da nossa nacionalidade. Durante estes cinco dias e cinco noites procuramos fugir à nossa vida contemporânea e estabelecer fortes laços com um passado histórico que não cabe apenas no nosso imaginário” [Programa do Mercado Medieval, Câmara Municipal de Óbidos, 2002] 1.4. A recuperação de cerimónias religiosas As igrejas, espalhadas por toda a vila, são muitas vezes palco de concertos e de outras actividades de cariz laico que nada têm a ver com o que é a funcionalidade da Igreja enquanto edifício. As Igrejas de Óbidos são mesmo consideradas actualmente as suas melhores salas de espectáculos: No entanto se houver animação, se houver concertos, seja de música ligeira, seja de música erudita, nomeadamente de música antiga, se forem concertos (...) muitas vezes são realizados nas Igrejas, porque são as nossas principais salas de espectáculo. [Responsável pelo Gabinete Cultural da Câmara Municipal de Óbidos, 2002] Aproveitando ainda o facto de grande parte do património ser de cariz religioso – igrejas e capelas – muitas cerimónias religiosas que já não tinham lugar, ou tinham pouco público, essencialmente habitantes locais e praticantes regulares, estão a ser recuperadas e divulgadas, atraindo agora um público mais numeroso e diversificado: Obviamente que as tradições religiosas, como a semana santa, [fazem] parte de uma certa encenação típica da Igreja Católica. Uma encenação no sentido de captar as atenções dos assistentes e ao mesmo tempo [...] as atenções para que haja participantes. É neste sentido que é de certa forma um espectáculo. Há uma grande procura deste tipo de bem cultural [...]associado ao religioso. (...) Em Óbidos, as procissões são sempre feitas num ambiente muito mais propício, [...]a própria vila inspira um bocadinho aquela introspecção... há uma carga espiritual... que não é destinado propriamente aos turistas, esta... embora nós estejamos a explorar aquilo que se chama turismo religioso (...) mas, obviamente que a grande participação, há muitos curiosos, mas a grande participação são pessoas que continuam a ter uma grande ligação à componente religiosa e que encontram em Óbidos um espaço adequado à sua espiritualidade. O que faz com que as procissões em Óbidos e as tradições religiosas tenham sempre um brilho muito especial (...). Agora em Óbidos, praticamente existem cento e poucos habitantes, e, no entanto, não vemos lá 66 Ana Patrícia Pereira só uma centena de pessoas, vemos às vezes umas centenas muito largas, porque há muita gente que vem de Lisboa, do Norte, pessoas que saíram de Óbidos há muitos anos atrás e que continuam, por laços de família ou outros, continuam a procurar Óbidos nesta ocasião [Semana Santa] como ponto importante da sua espiritualidade, mas também porque é atractivo, porque se vê que as coisas são feitas como eram antigamente, com o seu esplendor, a sua carga espiritual, o seu respeito... E independentemente de acreditar ou não, isso é uma situação sentida. [Responsável pelo Gabinete Cultural da Câmara Municipal de Óbidos, 2002] Este tipo de discurso remete-nos para a questão da autenticidade destas tradições recuperadas, que aqui discutimos brevemente. Estamos provavelmente na era da reinvenção dos espaços locais. Tais reinvenções têm subjacentes processos de reconversão de recursos em produtos turísticos, sendo que esses mesmo produtos são constituídos em pacotes muito heterogéneos que incluem elementos tão diversificados como o sol, as ruínas históricas, a arte culinária, a paisagem ou a vida local. Ora estes não são propriamente produtos destinados a serem vendidos ou alugados: existem, ou existiram para além da actividade turística. Daí que para E. Cohen, a autenticidade seja objecto de negociação e dependa do tipo de aspiração do turista. Para além de que, refere o autor, a metamorfose dos produtos culturais em mercadorias não destrói o seu significado, se bem que possa transformá-lo (Cohen 1987). As festividades da Semana Santa são um exemplo de como a autenticidade pode ser negociada: por se ter tornado um espectáculo turístico e uma fonte de rendimento, este evento não deixa de ter significado religioso para quem assim o encarar. A Semana Santa é organizada pela Câmara Municipal, em parceria com outras entidades do concelho, como pudemos ler acima, e os principais responsáveis pela recuperação desta festa religiosa não negam que a recuperação das cerimónias religiosas é uma estratégia de promoção turística. Todavia, o argumento da espiritualidade, ligada ao património quer construído quer etnográfico, nunca é abandonado. O próprio programa do evento espelha a negociação entre fé e espectáculo: Ponto alto do calendário litúrgico e cultural em Óbidos, a Semana Santa reveste-se de um especial significado não só para a comunidade local, como para os vários milhares de peregrinos e turistas que assistem às imponentes cerimónias deste período. [Programa da Semana Santa, Câmara Municipal de Óbidos] A promoção turística em Óbidos 67 1.5. O comércio tradicional Em muitos dos textos promocionais consultados encontramos o comércio tradicional e a gastronomia como duas razões mais para visitar a vila de Óbidos. O bordado e a tapeçaria de Óbidos, à venda em algumas lojas, são produtos “tradicionais” que remontam apenas a meados do século XX, promovidos afim de “fazer em bordado história e pintura” (Folheto de promoção do 7º Concurso de Gastronomia de Caldas da Rainha e Óbidos). Estas actividades proporcionaram também às mulheres de Óbidos uma nova ocupação económica, tendo sido fundada uma associação (Associação Artesanal e Artística “Bordar Óbidos”, à qual faz referência o folheto do 7º Concurso de Gastronomia de Caldas da Rainha e Óbidos, promovido pela Associação Comercial dos Concelhos de Caldas da Rainha e Óbidos) e um curso, destinados a promovê-las e perpetuá-las. A par com a ginginha de Óbidos, os bordados e as tapeçarias são alguns dos poucos produtos específicos da vila vendidos nas lojas da Rua Direita. A bebida doce extraída da fruta com o mesmo nome, é o produto mais falado e reconhecido, está à venda em quase todos os estabelecimentos e tem até um bar com o seu nome na principal rua da vila. Este produto é muito promovido, como pudemos observar in loco aquando do Festival Europeu de Chocolate que decorre no início do mês de Novembro, aproveitando-se assim a ginja para promover o comércio tradicional e o chocolate para promover a ginja. Nesse contexto, pudemos provar o mais brilhante exemplo desta associação de um produto local ao tema do festival: a venda, num dos muitos estabelecimentos comerciais, de ginja em chávena de chocolate, delicioso! Mas apesar desta brilhante ideia, o comércio continua, pelo que se pode empiricamente observar, sem grandes estratégias de promoção. Na Câmara Municipal existe a consciência de que o comércio necessita ser mais dinamizado para poder trazer dividendos aos proprietários: A nossa ideia é mudá-los um bocadinho, a sua mentalidade, e a mentalidade do comerciante de Óbidos é, de há muito tempo, estar parado, à espera que as pessoas passem e comprem um souvenir, e um souvenir é uma coisa qualquer, desde um galo de Barcelos à cerâmica do Alentejo... qualquer coisa serve, é para turistas! Não há um produto genuinamente de Óbidos, não há um produto vocacionado para esta ideia de história. A nossa função é ir mudando esta mentalidade, para que as pessoas possam também encontrar no comércio um outro tipo de ideia, de oportunidade que não adquirir aquilo que podem adquirir na Nazaré ou noutro sítio qualquer. As pessoas têm de vir ao comércio de Óbidos também motivadas para um determinado tipo de produto. Produto que, não havendo artesanato genuíno de Óbidos, porque não há, ou o Ana Patrícia Pereira 68 que há é muito pouco, não é motivador. Mas criar a ligação entre a história, o património [e entre] a história e o comércio. [Responsável pelo Gabinete de Turismo da Câmara Municipal de Óbidos, 2002] 2. Promotores turísticos, criadores de imagens e narrativas A promoção turística pode ser vista como parte do processo de construção da imagem de uma cidade e os promotores turísticos como agentes desse processo. Estes agentes podem ser, por um lado as elites locais e por outro as autarquias, associações de cariz privado ou público, entidades públicas; bem como os promotores turísticos: agências de viagens e organizações similares; e outros a quem interesse o desenvolvimento do turismo – que pode, se bem gerido, potenciar o desenvolvimento endógeno das localidades e regiões envolventes – e que tenham poder para levar a cabo acções de promoção. No caso de Óbidos, a identificação de dois dos protagonistas da promoção da vila enquanto objecto turístico é simples: a Câmara Municipal de Óbidos e a Região de Turismo do Oeste. Ao longo da investigação, depois de algumas entrevistas exploratórias, foi identificada ainda outra das “forças vivas” do concelho e da vila: a Associação de Defesa do Património do Concelho de Óbidos, que tem como principais objectivos, nas palavras do seu presidente: “(...) dar a conhecer o património e fazer reflectir sobre o que se pode fazer para o defender.” O segundo objectivo deste artigo é, como fizemos, identificar os protagonistas da promoção turística, os seus interesses específicos na promoção turística. Através das entrevistas realizadas, apercebemo-nos que cada uma destas entidades percepciona a vila de forma diferente e persegue diferentes objectivos, recorrendo a um mesmo instrumento: a divulgação de Óbidos enquanto destino turístico. A diversidade de percepções e de objectivos leva os representantes de cada uma destas instituições a formular um discurso diferente sobre a vila e o seu potencial turístico. Em seguida serão caracterizados os três principais protagonistas na promoção turística de Óbidos e o tipo de promoção que realizam tendo como objectivo aceder aos seus interesses e às imagens que tendem a recriar. 2.1. Câmara Municipal de Óbidos Foram-nos indicados o Gabinete de Turismo e o Gabinete Cultural como as duas secções, na orgânica da Câmara Municipal, que maior actividade têm na A promoção turística em Óbidos 69 área da promoção turística; convidámos então os seus responsáveis para uma pequena entrevista, afim de tentar compreender como definem a vila e como a promovem. O responsável pela área do turismo, releva como principal atractivo turístico o património construído, mas sobretudo a sua singularidade, a sua raridade: O principal atractivo é o património construído, porque não é fácil encontrar uma vila com as características de Óbidos. Uma vila muralhada, cheia de história, com um cuidado na preservação do património construído. [Responsável pelo Gabinete de Turismo da Câmara Municipal de Óbidos, 2002] Encontrámos uma paráfrase quase perfeita das suas palavras num folheto promocional da vila – ou não fossem eles produzidos no próprio Gabinete de Turismo: O que Óbidos tem de demasiado e único é o facto de ser insubstituível, de constituir algo de não renovável, de não ter qualquer equivalente. [Óbidos, Panfleto Promocional Câmara Municipal de Óbidos] Esta “coincidência” reforça a nossa hipótese de que ao analisarmos o discurso dos responsáveis poderemos de certa forma aceder à imagem que querem dar da vila para o exterior. Para além da singularidade do património a localização geográfica é apontada como outro importante factor de atractividade: Óbidos tem a sorte de estar localizada na rota de outros monumentos, nomeadamente Alcobaça, Batalha e um pólo interessantíssimo de actividade de turismo religioso que é Fátima, a Nazaré também. Portanto, está entalada entre estes pólos e Lisboa, ponto de partida de muitos desses circuitos. Quer dizer como ponto de passagem inicial ou como ponto de passagem final desses circuitos, Óbidos começou a receber visitas, o receber das visitas leva a que haja um desenvolvimento do comércio, do acolhimento, da alimentação, e é assim que tem vindo a crescer. [Responsável pelo Gabinete de Turismo da Câmara Municipal de Óbidos, 2002] Ao contrário do que acontece no discurso do responsável pelo Gabinete Cultural, cujas palavras mais marcantes neste sentido se encontram no capítulo sobre os eventos culturais, a importância da recuperação do património e das tradições per se raramente é mencionada no discurso do Gabinete de Turismo, aparecem quase exclusivamente como estratégias de promoção turística: Ana Patrícia Pereira 70 O que nós estamos a tentar agora incentivar é que as pessoas não venham apenas para ver esse património, mas usufruindo desse património, alargar o conceito de património, a um conceito mais vasto, criando a história como um património. (...) a autarquia mudou um bocadinho esse conceito e tem estado a fazer um conjunto de actividades e a preparar as coisas para que o atractivo não seja o património construído, mas o património histórico. O nosso produto passou de património construído para produto história. Isto é, as pessoas vêm motivadas para viver, reviver história, para conhecer história, de que o património construído também faz parte. Portanto, alargámos o sentido. Realizaram-se já diversos eventos. [Responsável pelo Gabinete de Turismo da Câmara Municipal de Óbidos, 2002] O que é comum no discurso autárquico é a consciência de que a tendência do turismo de passagem tem de ser invertida, pois não deixa muitos dividendos ao nível do comércio e da hotelaria: Óbidos não é uma localidade de turismo de permanência, as estatísticas dão números perfeitamente assombrosos de atendimento de turistas. (...) Portanto, é uma das grandes lutas da autarquia, inverter um bocadinho, sem perder a passagem, porque a passagem também é importante, é um tipo de cliente que tem uma função importante para o comércio, mas sem inverter esta, sem diminuir este número de passagem, queremos aumentar a fixação de turistas. [Responsável pelo Gabinete de Turismo da Câmara Municipal de Óbidos, 2002] 2.2. Região de Turismo do Oeste A Região de Turismo do Oeste é um promotor extremamente importante pois trabalha em parceria com o ICEP, vocacionado para o mercado externo. Para esta entidade, a vila histórica de Óbidos funciona como um cartão de visita para a promoção de toda a região, que tem outros atributos mais rentáveis como as praias e os campos de golf: Óbidos é uma montra, mas em termos de facturação não tem a mesma expressão que têm outros locais da região. Mas em termos emblemáticos tem uma grande potência. Nenhum dos nossos produtos funciona sozinho. Veja aqui um folheto de turismo cultural, tem logo de início duas fotografias de Óbidos, podia ser outro sítio, mas é Óbidos. [Presidente da Região de Turismo do Oeste, 2002] A promoção turística em Óbidos 71 A Região de Turismo do Oeste, assim como a Câmara Municipal, são apologistas da construção de resorts e grandes empreendimentos turísticos na zona, pois trazem reconhecimento internacional e clientes mais abastados que vêm pelo golf, e aproveitam para usufruir dos locais circundantes, nomeadamente a Vila de Óbidos. Passar para os media especializados a ideia de uma região com excelentes condições para a construção de resorts, porque estamos próximos de Lisboa e do aeroporto e porque temos um clima ameno. Podiam dar-me dinheiro para fazer outra pensão de 20 quartos!!! Não queremos nada que leve a um crescimento desmesurado da região. Prefiro um resort com 150 quartos, que proporciona mais postos de trabalho, a uma quinta abandonada. A alternativa a esse turismo é a construção massiva junto ao litoral ou a proliferação de pensõezinhas que nada acrescentam à internacionalização da região e que funcionam só no verão. As pessoas não vêm jogar golf só no verão. [Presidente da Região de Turismo do Oeste, 2002] Assim, esta entidade não tem especial interesse em promover a Vila de Óbidos, pois esta não atrai o tipo de turistas que procura. O discurso do presidente da Região de Turismo instrumentaliza totalmente quer o património da vila, quer todas a narrativas e encenações em sua volta construídas. 2.3. Associação de Defesa do Património do Concelho de Óbidos Para a Associação de Defesa do Património do Concelho de Óbidos – que trabalha em íntima colaboração com a Câmara Municipal e cujo presidente, um professor local reformado, nos concedeu uma simpática entrevista – o turismo é a actividade que confere à vila de Óbidos alguma dinâmica cultural e económica: Em Óbidos há turismo desde 1928/29, era, na altura, a melhor solução para a vila que não tinha termas, nem praias, nem casino, e a agricultura não era grande actividade. (...) Óbidos sem turismo morre. [Presidente da Associação de Defesa do Património do Concelho de Óbidos, 2002] Este habitante da vila, aponta como principais características e maiores factores de atracção turística o património religioso e as tradições religiosas agora recuperadas por força da vontade quer dos habitantes quer da autarquia: 72 Ana Patrícia Pereira É essencialmente uma vila de turismo religioso, feito o mais de acordo com a essência da religião, mas é visto pela maior parte das pessoas como manifestações culturais do povo de Óbidos. Temos manifestações religiosas de cariz intelectual e cultural –que atraí também um público intelectual, ateu, é um espectáculo que leva à reflexão, como a Procissão do Senhor. Morto, na 6ª Feira Santa. E de cariz religioso, de evangelização como a Descida da Cruz. Temos dois grandes trunfos: um ambiente monumental para a realização de cerimónias religiosas e o silêncio que segundo a tradição, se mantém nas procissões. Turismo e cultura estão de mãos dadas e são essencialmente religiosos. O mercado medieval, os festivais, o chocolate, tudo isso tem muito valor, mas tem de ser sempre baseado na recuperação das tradições históricas. [Presidente da Associação de Defesa do Património do Concelho de Óbidos, 2002] Ao descrever as actividades organizadas pela sua associação, o presidente faz questão de frisar que o seu público-alvo não são os turistas mas os habitantes da vila, os seus vizinhos: Mas eu não faço estes programas a pensar que vêm grupos de Lisboa, é essencialmente para a minha comunidade! Para dar a conhecer Óbidos aos Obidenses e pessoas das aldeias limítrofes. Ensinar aos vizinhos a defender o património. É um programa de pedagogia patrimonial. [Presidente da Associação de Defesa do Património do Concelho de Óbidos, 2002] Este discurso faz transparecer um empenho pouco mercantilista na valorização da vila enquanto produto turístico e legitimado pelo facto de esta ser uma associação sem fins lucrativos, presidida por alguém sempre “interessado na cultura e na educação”, forma como nos foi descrito o Professor Orlando. 2.4. Contradição e ambiguidade: o turismo como instrumento Os discursos aqui apresentados podem ser considerados portadores de determinadas ideologias urbanas, como foram definidas por Ledrut em 1970: “Une idéologie est un ensemble plus ou moins cohérent d’idées collectives, dont la fonction principale est de justifier la pratique d’un groupe déterminé” (Ledrut 1970: 58), pois encerram, de facto, tentativas de justificação das acções de três entidades que representam interesses colectivos – por vezes coincidentes, outras divergentes entre si – e que têm, cada uma à sua maneira, formas de impor a um público, mais ou A promoção turística em Óbidos 73 menos alargado, as suas representações acerca de Óbidos, do património e do turismo. Os discursos dos três protagonistas da promoção turística analisados – Câmara Municipal, Região de Turismo do Oeste e Associação de Defesa do Património – posicionam-se entre duas lógicas: a da valorização da importância da recuperação do património, dos costumes e da memória colectiva da vila per se e a da a valorização do turismo enquanto actividade económica, que sustenta a vila e até certo ponto a região. Na primeira, uma reivindicação do valor cultural intrínseco dos espaços, dos costumes e da memória colectiva surge como sendo a razão primeira de tudo o que é feito em termos de recuperação, reabilitação e animação cultural. O facto de essas mesmas acções atraírem turistas constitui um bónus e ao mesmo tempo um reconhecimento externo – e como tal, importante, pois não é induzido por qualquer sentimento de pertença – da importância de Óbidos e das suas características históricas únicas. Na segunda lógica, o turismo é valorizado enquanto actividade económica, que sustenta a vila e até certo ponto a região – que sem ele se encontraria ainda mais desertificada – assumindo as acções acima mencionadas a função instrumental, visando fomentar ao oferta turística e incrementar o número de visitantes. O discurso da Associação de Defesa do Património é claramente do primeiro tipo: apesar de o seu porta-voz conceder ao turismo um papel importante na dinâmica e na economia da vila, o património construído e simbólico e a sua recuperação têm aqui um valor intrínseco. Já no caso da Câmara Municipal encontramos ambiguidades na importância conferida ao património, pois ao nível dos enunciados proferidos pelos responsáveis entrevistados o património tem relevância como vestígio histórico que pertence a uma comunidade local e nacional, mas também enquanto instrumento de desenvolvimento da actividade turística; os textos do material promocional elidem de forma natural esta última componente e enaltecem o património enquanto vestígio de um passado – local e nacional – que pode ser revivido através das actividades organizadas pela autarquia. No que diz respeito à Região de Turismo do Oeste, o discurso da entrevista é indiscutivelmente do segundo tipo: o património simbólico e construído da vila é aqui considerado apenas como um valioso instrumento de promoção turística, no entanto, o teor dos textos do material promocional produzido por esta entidade não difere muito daquele que é produzido pela autarquia. Em suma, encontramos nestes discursos ambiguidades e contradições de diversas ordens, que espelham diferentes representações da vila e do seu património, mas em momento algum se põe em causa a importância do turismo para o desenvolvimento e a importância do património para o turismo. Assim, estas ambiguidades não parecem interferir com a imagem promocional Ana Patrícia Pereira 74 construída e veiculada pelos os autores dos discursos, pois essa é bastante coerente. 3. Conclusão As mais-valias económicas da actividade turística são um dos factores que motivam a crescente atenção dada pelas localidades às questões patrimoniais e para que o património seja um atractivo suficientemente forte é preciso torná-lo acessível, consumi-lo e usá-lo de modo criativo. Mas se uma localidade viver apenas do património e dos eventos que gravitam em seu redor, pode impedir o desenvolvimento de dinâmicas urbanas autónomas e converter-se num verdadeiro museu5. Este artigo tentou mostrar como, na vila de Óbidos, o património histórico e a memória local têm sido objecto de reapropriação do seu significado e das suas funções, afim de funcionarem como pólos de atracção turística. O que implica um confronto, mas não necessariamente uma ruptura com o passado. O seu passado real e ficcionado, assim tornado historicamente novo, passa a ser procurado e instrumentalizado por um número cada vez maior de indivíduos, grupos e instituições. A miraculosa preservação da vila de Óbidos é factor de desenvolvimento, mas também de estagnação e ausência de dinâmicas urbanas próprias, independentes dos turistas. Sendo toda a área urbana considerada monumento nacional qualquer proprietário de um edifício intra-muros que queira fazer obras, tem de fazêlo segundo as regras da preservação do património da vila, resultando o processo muito dispendioso. Assim, a preservação é causa de desertificação, mas não de renovação de habitantes, pois muitas das pessoas que têm dinheiro para comparar e reabilitar as habitações não as utilizam como primeira residência. Este condicionalismo é aliás reconhecido pelo principal responsável pelo ordenamento dos espaços da vila, a Câmara Municipal: Dentro da muralha, nós não conseguimos incentivar ninguém a morar, porque os imóveis e os condicionalismos de ordem arquitectónica são tão caros que são desmotivadores. [Responsável do Gabinete de Turismo da Câmara Municipal de Óbidos, 2002] Para esboçar uma resposta à questão colocada mais acima, é importante voltar a referir que vila de Óbidos – não o concelho – tem como actividade, quase exclusiva, o turismo ligado ao património e o comércio ligado ao turismo; assim, uma visita num dia em que não haja animação, ou grandes grupos de turistas a deambular pela vila, pode ser algo bastante solitário e melancólico. A promoção turística em Óbidos 75 Notas 1 Uma Região de Turismo é uma associação voluntária de municípios, um organismo ligado ao Ministério da Economia. A Região de Turismo do Oeste é uma pessoa colectiva de direito público, dotada de autonomia administrativa e património próprio. Incumbe-lhe, prioritariamente, a valorização turística da sua área geográfica, visando o aproveitamento equilibrado das potencialidades turísticas do património histórico, cultural e natural, no quadro das orientações e directivas definidas pelo governo e nos planos do Estado e dos municípios que a formam. Trabalham em colaboração com a região de Lisboa e Vale do Tejo e com o ICEP. Fonte: Decreto-lei nº 262/93 e informações do Presidente da Região de Turismo do Oeste 2 Serviço de Estatística das Comunidades Europeias (1998) 3 Plano Director Municipal de Óbidos, Resolução do Conselho de Ministros n.º 187/96, de 28/11 4 Ver artigo de Alain Bourdin neste dossier. 5 Ver artigo de A. Bourdin neste dossier. Referências Bibliográficas ANAFRE – Associação Nacional de Freguesias (Março 2002), Dossier de Freguesias, nº1-4; BOURDIN, Alain (1984), Le Patrimoine Réinventé, PUF, Paris COHEN, E. (1987), “Authenticity and commoditization in tourism”, Annals of Tourism Research 15, pp.371-386 CONCEIÇÃO, Cristina Palma (1998), “Promoção Turística e (Re)Construção Social da Realidade”, Sociologia Problemas e Práticas, nº 28 FORTUNA, Carlos (org.) (2001), Cidade Cultura e Globalização, Celta, Oeiras FORTUNA, Carlos (1999), Identidades, Percursos, Paisagens Culturais, Celta, Oeiras GIL, Carlos (1990), Pelos Caminhos de Santiago, Dom Quixote, Lisboa GIL, Júlio (1989), Os mais Belos Castelos de Portugal, Editorial Verbo, Lisboa GIL, Júlio (1984), As mais Belas Vilas e Aldeias de Portugal, Editorial Verbo, Lisboa LEDRUT, R. (1970), “Les idéologies urbaines”, Economie et Humanisme n.º 194, pp. 58-53 LOBO, Paula (Março/Abril 1998), “Óbidos, o Burgo das Rainhas”, PGA Magazine, nº 46, Lisboa PEREIRA, José Fernandes (1988), Óbidos, Editorial Presença, Colecção Cidades e Vilas de Portugal, Lisboa PINTO, Eugénio (1997), “Óbidos, Vila de Sonho”, Notícias Magazine, nº 275, Lisboa, 31 de Agosto 76 Outras fontes www.cm-obidos.pt www.ine.pt www.dg-turismo.pt www.oeste-online.pt Ana Patrícia Pereira