Como os Cristãos Podem Discordar sem que a Igreja se Desintegre (Parte 1) Coy Roper Os cristãos podem discordar entre si! Embora o apóstolo Paulo tenha insistido em que todos concordem e sejam “inteiramente unidos, na mesma disposição mental e o mesmo parecer” (1 Coríntios 1:10), os cristãos, ainda assim, discordam entre si! Não deveríamos ficar surpresos com o fato de os cristãos às vezes discordarem entre si por pelo menos duas razões: Primeiramente, sempre que houver um grupo de pessoas com fortes convicções, haverá conflitos. Dentro de todos os grupos religiosos em que a doutrina ainda é uma questão importante, há controvérsias. Por isso, na igreja, só não teríamos mais nenhum conflito, se chegássemos ao ponto em que a doutrina não tivesse mais importância! Em segundo lugar, a existência de conflitos na igreja não deveria nos surpreender porque havia conflitos na igreja do primeiro século—na igreja em Roma, por exemplo. Se os cristãos discordavam entre si naquela época, não deveria causar admiração o fato de haver discórdias hoje também. Sempre houve e sempre haverá discórdia entre irmãos em Cristo. Precisamos reconhecer esse fato. Mas também precisamos descobrir como os cristãos podem discordar sem que a igreja se desintegre. Romanos 14 foi escrito para tratar desse problema. O texto sugere quatro diretrizes para que a igreja permaneça unida como um todo harmonioso, mesmo havendo discórdia entre seus membros. ACEITAÇÃO RECÍPROCA Para permanecermos unidos apesar dos desacordos, precisamos aceitar uns aos outros. É neste sentido que Romanos 14 se inicia: “Acolhei ao que é débil na fé…” (v. 1). A ERC diz: “Ora, quanto ao que está enfermo na fé, recebei-o…”, e a Bíblia na Linguagem de Hoje diz: “Aceitem entre vocês quem é fraco na fé”. Mas o que significa esse acolher, esse aceitar? A quem devemos acolher, aceitar? E como? Não Se Trata de Aceitar Não-cristãos Observemos primeiramente que a passagem não ensina que devemos acolher ou aceitar como irmão qualquer indivíduo que não seja cristão. Este capítulo está se referindo àqueles que Deus já recebeu como Seus filhos (14:3), aqueles que são servos de Deus (14:4), que pertencem ao Senhor (14:8), que são irmãos em Cristo (14:10). Os indivíduos de ambos os lados da controvérsia eram cristãos conscientes (14:6). Dizer que o capítulo ensina que devemos acolher qualquer outra pessoa que não seja um cristão fiel é fazer uso errado do texto. A Aceitação Mútua Entre “Fortes” e “Fracos” Em segundo lugar, observemos o que a passagem quer dizer ao recomendar a aceitação mútua. Precisamos entender qual era a situação em Roma, qual foi a solução de Paulo para o problema e, então, aplicar essa solução à nossa realidade. Em Roma, havia dois partidos envolvidos na controvérsia. Um era mais rigoroso que o outro. O partido “rigoroso” é descrito como “fracos na fé”, aparentemente porque eles não entendiam o que significava a liberdade em Cristo. Acreditavam que tinham de observar leis que não faziam parte do evangelho. O partido mais “liberal” tinha um entendimento melhor da doutrina dos apóstolos, segundo a qual os cristãos são livres para comer o que desejarem e não são obrigados a observar dias “santos”. A controvérsia, então, era quanto ao que um cristão podia comer; se ele podia ou não tomar vinho (14:17, 21). O partido “rigoroso” ensinava regras cuidadosas em relação a comida e bebida e a dias especiais. O partido “liberal” desrespeitava todas essas restrições. O resultado dessa discordância foi que o partido “rigoroso” passou a condenar seus irmãos “liberais”. Por outro lado, o partido mais “liberal” passou a desprezar os outros irmãos que possuíam uma consciência fraca. A solução de Paulo para aquele problema foi dupla: primeiro, ele disse o seguinte aos irmãos fracos: “Não julguem nem condenem irmãos que fazem coisas que vocês julgam erradas”. “O que não come não julgue o que come” (Romanos 14:3). Por quê? Por três motivos: 1) Deus o aceitou; 2) ele é servo de Deus, e não temos o direito de julgar outro servo de Deus; e 3) todos seremos julgados por Deus, e cada um prestará contas de si mesmo (não do seu irmão) no juízo. (Veja 14:3, 4, 10–12.) Em segundo lugar, ele disse o seguinte aos irmãos “fortes”: “Não precisam mostrar desprezo pelos irmãos cuja consciência é facilmente ferida”. “Quem come não despreze o que não come” (14:3, cf. v. 10). Devemos acolher “o irmão fraco” em nossa comunhão, não, porém, para discutir com ele (14:1). Sendo assim, a primeira coisa ao lidar com discórdias é a aceitação recíproca. O irmão “rigoroso” precisa aceitar o “liberal”, sem julgá-lo ou condenálo. O irmão “forte” precisa aceitar o “fraco”, sem desprezá-lo. Quando aplicamos essa regra, precisamos evitar duas conclusões erradas. Precisamos evitar a conclusão de que não havia um lado certo nem um lado errado em relação às questões debatidas. No caso dos romanos, os irmãos “fortes” estavam certos. Apesar disso, os que estavam certos deveriam aceitar os que estavam errados, muito embora soubessem que seus irmãos estavam errados naquela questão. E os irmãos fracos, que estavam errados, mas se julgavam certos, deveriam conviver com os irmãos “liberais”, muito embora pensassem (equivocadamente) que tais irmãos estivessem errados. Os irmãos “fracos” equivocados deveriam aceitar seus oponentes crendo que Deus, de qualquer forma salvaria aqueles irmãos, apesar de seu “erro” (14:4). Também precisamos evitar a conclusão de que temos de acolher ou aceitar um irmão, independentemente da natureza de nossas diferenças. A recomendação de aceitar ou acolher um irmão com idéias equivocadas não se aplica àquilo que é essen- cial à doutrina cristã. Paulo está se referindo aqui a questões indiferentes, ou seja, questões de opinião. Esse mesmo Paulo—que nos ensinou a aceitar ou acolher uns aos outros—em outras ocasiões, manteve-se inflexível em defesa da verdade. Ouçamos Gálatas 2:5: “…aos quais [os mestres judaizantes] nem ainda por uma hora nos submetemos, para que a verdade do evangelho permanecesse entre vós”. Por que, em determinada ocasião, Paulo aconselha aceitação mútua, e em outra, além de não aceitar, ele próprio se opõe duramente a irmãos que pelo menos pareciam estar na igreja? Porque em Romanos 14, Paulo se referia a questões indiferentes, enquanto que em Gálatas 2, ele se referia a questões fundamentais—princípios doutrinários eternos e essenciais que afetam a salvação de um ser humano em qualquer época e lugar! Quando discordamos de outros irmãos em questões indiferentes, ou de opinião pessoal, ambos devemos aceitar um ao outro. Todavia, há que se acrescentar que o irmão “fraco”, o “rigoroso”, sempre tende a pensar que a questão objeto de sua preocupação é uma exigência de âmbito doutrinário! O irmão “forte” não tem dificuldade neste ponto, pois ele acredita que a controvérsia diz respeito a uma questão indiferente. Daríamos, então, este conselho: antes de decidir não aceitar seu irmão por realmente discordar de algo que ao seu parecer é uma questão doutrinária, você precisa avaliar a possibilidade de você mesmo estar errado. A regra é esta: quando discordar, aceite o outro irmão. Há exceções à regra, mas não nos esqueçamos da regra. (Continua na próxima edição…) Autor: David Roper ©Copyright 2007 by a Verdade para Hoje TODOS OS DIREITOS RESERVADOS