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Classificação do artigo 10 mar 2015 O Globo
LUIZA DAMÉ, CATARINA ALENCASTRO E CRISTIANE JUNGBLUT [email protected]
Após panelaço, Dilma rejeita
‘terceiro turno’
Petista critica impeachment sem razão, e FH afirma que ‘não adianta tirar a
presidente’
Eu acho que há que caracterizar razões para o impeachment e não o 3 º turno das eleições. O que não é possível
no Brasil é a gente não aceitar a regra do jogo democrático Dilma Rousseff No Brasil, só tem dois turnos, não tem
terceiro turno. As eleições acabam quando alguém vence Aloizio Mercadante Ministro da Casa Civil
FH se diz contra impedimento: “Não adianta nada tirar a presidente”
JORGE WILLIAM
Depois do panelaço. A presidente Dilma durante entrevista no Planalto: “terceiro turno” não
pode ser motivo para impeachment, diz a presidente
Após ter sido alvo de um panelaço em pelo menos 13 capitais na noite de domingo por causa de seu
pronunciamento na TV, a presidente Dilma ontem defendeu o direito de manifestação, mas afirmou que
não pode haver um “terceiro turno” das eleições. E afirmou que é preciso aceitar a regra do jogo
democrático. “Há que caracterizar razões para o impeachment”, disse. Mais cedo, o ministro Aloizio
Mercadante (Casa Civil) condenou o que também chamou de terceiro turno. O PT acusou a oposição de
financiar o panelaço. Já o expresidente Fernando Henrique afirmou que “não adianta nada tirar a
presidente”. ­BRASÍLIA E SÃO PAULO­ Após a onda de manifestações ocorridas durante o pronunciamento
da presidente Dilma Rousseff pelo Dia Internacional da Mulher, domingo à noite, o PT, ministros e a
própria presidente saíram ontem a público para afirmar que, embora manifestações façam parte da
democracia, não deve haver “terceiro turno” das eleições. Pela primeira vez, Dilma comentou a proposta
de impeachment, ao afirmar que esse tema não pode ser tratado como uma possibilidade de mudança do
resultado eleitoral. No panelaço realizado domingo, em várias capitais, os manifestantes gritaram “fora
Dilma”.
— Eu acho que é outra questão, é questão do conteúdo. Eu acho que há que caracterizar razões para
o impeachment e não o terceiro turno das eleições. O que não é possível no Brasil é a gente não aceitar a
regra do jogo democrático. A eleição acabou, houve primeiro e segundo turnos. Terceiro turno das eleições
não pode ocorrer, a não ser que você queira uma ruptura democrática. Acredito que a sociedade brasileira
não aceitará rupturas democráticas e acho que amadurecemos suficiente para isso — argumentou Dilma.
Hoje, Dilma deve almoçar com o ex­presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em São Paulo, após participar
da abertura da feira da indústria da construção. O eixo da conversa deve ser a crescente impopularidade
do governo. Indagada ontem se as manifestações seriam legítimas, a presidente reconheceu que
“manifestações pacíficas são da regra democrática”:
— Acredito que a manifestação quem convocar convoque do jeito que quiser. Ninguém controla quem
convoca. A manifestação terá as características que tiverem seus convocadores. Ela em si não representa
nem a legalidade nem a legitimidade de pedidos que rompem com a democracia.
MERCADANTE: PANELAÇO FOI TERCEIRO TURNO
O tom da presidente foi mais ameno que o de seu principal auxiliar, o ministro da Casa Civil, Aloizio
Mercadante, e do PT. O ministro, em coletiva de imprensa, disse que as manifestações foram em locais
onde Dilma perdeu as eleições e classificou o que houve domingo como uma espécie de “terceiro turno”:
— Faço parte de uma geração que só conhecia a democracia pelo livro de História. Meus filhos e as
minhas netas, espero que elas também só venham a conhecer golpe e regime de exceção pelos livros de
História, que possam viver plenamente a democracia. No Brasil, só tem dois turnos, não tem terceiro
turno. As eleições acabam quando alguém vence. Nós vencemos as eleições pela quarta vez. Isso tem que
ser reconhecido. Reconhecemos plenamente o direito de manifestação. O que preocupa é que foi uma
eleição que teve momentos de radicalização, e precisamos construir uma cultura de tolerância, de diálogo,
de respeito — disse Mercadante.
Dirigentes do PT saíram às pressas, ainda no domingo, para amenizar o impacto do panelaço. No site
do partido, os dirigentes Alberto Cantalice e José Américo Dias, da executiva pestista, disseram que o
protesto havia sido “financiado” pela oposição e “fracassou em seus objetivos”.
“Tem circulado clipes eletrônicos sofisticados nas redes, o que indica a presença e o financiamento de
partidos de oposição a essa mobilização. Mas foi um movimento restrito que não se ampliou como queriam
seus organizadores”, disse Dias ao site petista.
Nos bastidores, porém, o clima era de preocupação e surpresa. Na avaliação de petistas, o panelaço
pode levar ao crescimento dos protestos contra a presidente previstos para o próximo domingo. Também
tem­se avaliado que o panelaço pode ganhar a adesão das classes mais pobres, onde o governo petista é
mais forte. Ontem, Lula se reuniu com o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Miguel Rossetto, e se
encontrou com dirigentes de organizações e centrais sindicais engajadas na reforma política.
AÉCIO: “PT TENTA TAPAR O SOL COM A PENEIRA”
O ex­presidente Fernando Henrique Cardoso voltou a se colocar contra um eventual pedido de
impeachment de Dilma. Durante evento do instituto que leva seu nome, ontem, o tucano afirmou que
“não adianta nada tirar a presidente”, segundo o jornal “Valor”. No fim de fevereiro, FH já havia declarado
que o PSDB não deveria apoiar a tese do impeachment, em reunião com a cúpula do PSDB.
No mesmo evento, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), ex­candidato a vice na chapa do tucano
Aécio Neves, também participou do evento e disse ser contra o impeachment.
— Não quero que ela saia, quero sangrar a Dilma, não quero que o Brasil seja presidido pelo (vice­
presidente, do PMDB) Michel Temer (...) Vejo essa palavra (impeachment) como expressão de rechaço à
ordem atual, sem entrar no mérito — disse o senador, segundo a publicação.
Mais tarde, ao GLOBO, o senador disse que o panelaço seria apenas um “aperitivo” para as
mobilizações do próximo domingo.
— O panelaço foi uma resposta ao longo insulto contra a inteligência dos brasileiros, que foi aquele
pronunciamento de 16 minutos da presidente Dilma. Foi apenas um aperitivo do que vai acontecer dia 15.
Foi um dos pronunciamentos mais insensatos e patéticos que já vi na minha vida — disse Aloysio.
O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), reagiu ontem às acusações da presidente
de que a oposição quer um terceiro turno. Em nota e nas redes sociais, Aécio disse que o PT tenta passar
para a oposição a responsabilidade pelas manifestações críticas ao governo, que são feitas por setores da
sociedade que se sentem “enganados”.
“O PT continua tentando tapar o sol com a peneira ao tentar responsabilizar a oposição pelas
repetidas, e cada vez mais frequentes, manifestações críticas ao governo. As manifestações que ocorrem
nas redes sociais, nos panelaços e nas ruas não defendem um terceiro turno. São manifestações
espontâneas e democráticas Queremos um país em que todos tenham o direito de expressar sua opinião”,
disse Aécio.
O DEM, no entanto, adotou tom mais agressivo. O líder do partido no Senado, Ronaldo Caiado (GO),
criticou, em nota, o PSDB e disse que exigirá a apuração dos fatos. Afirmou que, se esses fatos forem
comprovados, cobrará o julgamento das autoridades envolvidas por crime de responsabilidade.
“Diferentemente do PSDB, vou exigir a apuração dos fatos e os desdobramentos necessários para que
possamos esclarecer a toda a sociedade brasileira a situação de total desgoverno e corrupção (...) Sou
100% contrário a essa tese proposta pelo PSDB”, disse.
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