VEM BRINCAR E DESCOBRIR ONDE ESTÁ A MATEMÁTICA Márcia Regina Gomes de Araújo SEE /DF, GEPEM/DF [email protected] Introdução Há cinco anos venho realizando um trabalho de formação continuada de educadores da Educação Infantil e Series Iniciais do Ensino Fundamental, no DF e GO, principalmente na área de Educação Matemática. Pude constatar que maioria desses professores diz não gostar de matemática. Quando solicitados a dizer porque motivo não gostam da matemática, geralmente dizem: “é complicado demais”, “muito difícil”, “não entendo”. Acredito que o que esses professores dizem se aproxima do que Chacón (2003, p. ) afirma sobre as crenças como “descritores básicos do domínio afetivo”, que causam impacto na aprendizagem e ensino da matemáticas. As crenças e concepções que esses professores partilham em relação a aprendizagem e o ensino da matemática, geralmente, estão fundadas na falta de significado do processo escolar que viveram. A ênfase exagerada em processos de memorização e de repetição de algoritmos fez com que a maioria dos professores acreditasse numa matemática inacessível e com poucos vínculos com o mundo real. É visível o conflito emocional cultivado por esses professores, ao longo dos anos, que vivem o desafio de se constituírem educadores matemáticos, sem sequer ter tido a oportunidade de aprender matemática com prazer e de forma significativa. Onde estaria, então, uma solução para aliviar esses conflitos internos dos professores, que são transmitidos inconscientemente aos alunos fortalecendo crenças e concepções de que matemática é difícil, é para poucos, somente para os inteligentes? Anais do VIII ENEM – Minicurso GT 1 – Educação Matemática nas Séries Iniciais 2 Meu trabalho, ao longo desses anos, tem sido orientado para a superação desses conflitos. Busco a mobilização do professor para a construção de uma educação matemática com sentido e significado para ele próprio e para o aluno, por meio de um trabalho de reflexão sobre o conhecimento matemático, sua aprendizagem e ensino, a partir de jogos e brincadeiras. Aporte Teórico Para Piaget há três tipos de conhecimento: o conhecimento físico, o conhecimento lógico-matemático e o conhecimento social. O conhecimento físico é estruturado a partir da abstração empírica que consiste em dissociar uma propriedade do objeto recentemente descoberta de outras e desprezar estas últimas (PIAGET, 1977, p.98). É assim que a criança descobre o peso, desprezando a cor do objeto, e descobre, por exemplo, que objetos da mesma natureza têm peso maior à medida que seu volume aumenta. A “abstração empírica” é a abstração das propriedades observáveis que são inerentes nos objetos: a cor, a forma, a textura, o gosto, o odor, a temperatura, a consistência, o som. Os objetos da realidade exterior constituem a fonte do conhecimento físico. A criança abstrai as propriedades desses objetos por intermédio de seus sentidos. O conhecimento lógico-matemático é estruturado a partir da “abstração reflexiva” que tem origem na coordenação das ações que a criança exerce sobre os objetos. A criança cria e introduz relações entre os objetos. Por exemplo, quando compara o tamanho de dois objetos de tamanhos diferentes segundo a relação B maior que A esta relação não está nem no B, nem no A. Foi criada pela criança ao relacionálos. Então, o sujeito constitui a fonte do conhecimento lógico-matemático. O conhecimento lógico matemático tem três características principais: - não pode ser ensinado diretamente porque se constrói a partir das relações que a própria criança cria entre os objetos; - é unidirecional e irreversível porque se constrói em direção de uma coerência cada vez maior sem que haja possibilidade de regressões; - uma vez construído jamais será esquecido. O conhecimento social advém das pessoas. Tem suas origens nas informações exteriores. Caracteriza-se por ser arbitrário e por fundamentar-se no consenso social. Por exemplo, porque um “copo” se chama copo e não Anais do VIII ENEM – Minicurso GT 1 – Educação Matemática nas Séries Iniciais 3 “xícara”, que este símbolo (1) se chama um. A fonte do conhecimento social está nos objetos e nas pessoas. Os estudos de Piaget, segundo Assis (1982, P.49), nos leva a concluir que a lógica não é inata na criança. Sobre isso ele afirma que se a própria lógica se constrói ao invés de ser inata, chega-se à conclusão de que a primeira tarefa da educação consiste em formar o raciocínio (1973, p.38). Na seqüência, ele argumenta que a proposição de que “Toda pessoa tem direito à educação”, contida no artigo 26 da Declaração Universal dos Direitos do Homem deve ser entendida nos seguintes termos: “Todo ser humano tem direito de ser colocado em um meio escolar de tal ordem que lhe seja possível chegar a ponto de elaborar, até à conclusão, os instrumentos indispensáveis de adaptação que são as operações da lógica”, (idem, ibidem) Diante do acima exposto, podemos refletir sobre a tendência da prática pedagógica da matemática, no sentido de querer ensinar ao aluno o raciocínio lógico matemático. Alguns educadores dizem insistentemente aos seus alunos: “pense!’, como se esses, diante de uma situação problema, não estivessem pensando. Pudemos verificar que o conhecimento físico e social os quais têm como fonte os objetos externos e as relações pessoais, podem ser ensinados, compartilhados. Mas o conhecimento lógico-matemático não pode ser ensinado, deve ser construído. E como essa construção acontecerá, principalmente em se tratando das situações didáticas por meio de jogos e brincadeiras, é que contamos com as contribuições de Vygotsky. Segundo Vygotsky, para que haja aprendizagem, além de manipular objetos, o sujeito necessita da intervenção de alguém com mais experiência e informações do que ele. Nesse caso, o educador tem um papel de extrema relevância: o de “elemento mediador (e possibilitador) das interações entre os alunos e as crianças com os objetos de conhecimento” (REGO, 1995, p.115). Os indivíduos vão se formando na constante interação com o meio social e físico, incluindo as dimensões interpessoal e cultural. (ibid, p.94) Vygotsky se dedicou ao estudo das chamadas funções psicológicas superiores, que são os complexos processos mentais que nos difere dos animais. “Estes processos são considerados sofisticados e “superiores”, porque referem-se a mecanismos intencionais, ações conscientemente controladas, Anais do VIII ENEM – Minicurso GT 1 – Educação Matemática nas Séries Iniciais 4 processos voluntários que dão ao indivíduo a possibilidade de independência em relação às características do momento e espaço presente”(ibid , p. 39). Esse psicólogo russo estudou uma forma de levar a criança de seu estado atual, ou real, de desenvolvimento e aprendizagem para um ponto mais avançado: a ZDP – Zona de Desenvolvimento Proximal, que pode ser assim definida: A ZDP pode ser definida como a distância entre o nível de resolução de um problema (ou uma tarefa) que uma pessoa pode alcançar atuando independentemente e o nível que pode alcançar com a ajuda de outra pessoa (pai, professor, colega, etc) mais competente ou mais experiente nessa tarefa”. Em outras palavras essa ZDP seria o espaço no qual, graças à interação e à ajuda de outros, uma determinada pessoa pode realizar uma tarefa de uma maneira e em um nível que não seria capaz de alcançar individualmente (ANTUNES, 2002, p. ) Esta definição do campo da psicologia cognitiva tem implicações pedagógicas. Dentre as quais, nos interessamos, pelas que buscam responder que tipo de mediação do professor levaria a criança à construção de conceitos matemáticos e que tipo de objetos seriam mediadores dessa construção. É sabido que há algum tempo educadores, psicólogos, teóricos, pesquisadores, chegaram a um consenso da relevância do lúdico como fonte para o desenvolvimento humano. Acredita-se que por meio de jogos e brincadeiras seja possível construir conceitos, assim sendo, o que buscamos compreender no nosso trabalho é o papel do professor na mediação por meio da atividade lúdica. Segundo o Currículo da Educação Básica das Escolas Públicas do Distrito Federal -Educação Infantil, 0 a 6 anos, o brincar têm uma função que “permeia a própria existência humana.... É tão importante e indispensável quanto comer, dormir, falar. É por meio dessa atividade que a criança alimenta seu sistema emocional, psíquico e cognitivo”.(2000, p.48) Ao brincar, a criança encontra oportunidade para desenvolver cada vez melhor sua capacidade de comunicar, tomar decisões, criar, inventar, relacionar com o outro e o mundo que a cerca. A escola é um local propulsor dessa oportunidade, uma vez que, propicia a interação entre crianças e sistematiza as brincadeiras com certa intencionalidade. É necessário então, Anais do VIII ENEM – Minicurso GT 1 – Educação Matemática nas Séries Iniciais 5 que os educadores saibam como utilizar das brincadeiras para agir sobre a zona proximal de desenvolvimento delas. As crianças ao brincarem livremente, longe das propostas educativas do professor, também estão matematizando. E o professor ao tomar consciência de que a própria realidade do aluno, trás em si mesma, pelas relações sociais e culturais, oportunidades para construção de conhecimentos matemáticos, poderá agir intencionalmente como educador. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997, p. ) sugerem que o professor assuma o papel de organizador, consultor – pois fornece informações que o aluno não consegue obter sozinho; mediador - promove confrontações das propostas dos alunos; controlador - estabelece condições, prazos, para realização de tarefas; incentivador – da aprendizagem, estimula a cooperação entre os alunos. Para Smolle (2000, p. ), ao propor uma brincadeira, o professor deve primar para que ela seja interessante e desafiadora aos alunos. É importante deixar que as crianças sugiram ou criem jogos. Torna-se necessário, que o professor incentive seus alunos a registrarem, de alguma forma, por exemplo, o desenho, para que a criança possa refletir sobre suas ações e crie consciência dos desafios envolvidos na atividade realizada. É importante, também, que o professor brinque junto com os alunos para que possa ter um maior conhecimento das reações do grupo e de cada criança em particular. Portanto, tento por meio de Oficinas Pedagógicas envolver os educadores em situações lúdicas, ou não, mas que tenham oportunidade para mutuamente e discutirem suas idéias chegando à conclusão de que existem algoritmos diferentes para se chegar à solução de um problema. E que, se a matemática está no nosso dia-a-dia, é preciso apenas descobrir o contexto ideal e explorá-lo para oportunizar aos alunos ambientes de aprendizagem mais interessantes, democráticos, ricos em possibilidades de construção de conhecimento. Crio oportunidade para que eles possam vivenciar situações as quais a criança interior de cada um possa emergir, explorando o emocional, corporal e mental dos educadores. Quando estou com um grupo pela primeira vez utilizo dinâmicas de socialização com a intenção de interagirmos mutuamente, depois faço a transposição didática, levando a reflexão para o grupo: onde está a matemática no contexto vivenciado? Anais do VIII ENEM – Minicurso GT 1 – Educação Matemática nas Séries Iniciais Procuro resgatar brincadeiras 6 folclóricas, ou jogos pedagógicos existentes no mercado, aproveitando a oportunidade para destacar que a matemática está na música, nas adivinhas, nas brincadeiras folclóricas, na literatura (TAHAN, 1998), nas receitas, no dia-a-dia de forma geral. SUGESTÕES DE ATIVIDADES: 1 - Música: A galinha do vizinho bota ovo amarelinho. Bota um, bota dois, bota três... - Brincadeira: Em roda (círculo) as crianças cantam, pulam e batem palmas. À medida que forem recitando os numerais cada criança vai abaixando. Fazer o contrário, ir levantando. - Música: Um dois - feijão com arroz Três, quatro - feijão no prato Cinco, seis - salada inglês Sete, oito - comer biscoito Nove, dez - comer pastéis. - Brincadeira: em dois grupos, marchando, um conta o outro responde. 2 - Adivinhas: a) Seis mortos esticados, Cinco vivos passeando, Os vivos estão calados, Os mortos estão cantando. b) Duas mães e duas filhas, cada uma com sua mantilha (xale) , vão à missa e só havia três mantilhas. Como foi possível. 3 - Jogo "amarra 5" (ou 3, 10) Jogar em grupos de 3 ou 4. Joga o dado, e ganha palitos. A cada 5 palitos ganha um elástico para amarrar. Professor mediador: "Quem está ganhando o jogo?" "Por que ele está ganhando?" "Como você sabe que ele tem mais?” Variação: "Material Dourado" Para cada 10 toquinhos trocar por uma barrinha. Colocar ao lado dos toquinhos a ficha com o numeral correspondente. Anais do VIII ENEM – Minicurso GT 1 – Educação Matemática nas Séries Iniciais 7 4 - Jogo do tabuleiro Jogar em duplas ou trios. Confeccionar o tabuleiro com a quantidade desejada. Jogar o dado e preencher o tabuleiro. Professor mediador: _Quem está ganhando? _ Faltam quantos para você ganhar? _Será que apenas em uma jogada você pode ganhar? 5 - Jogo do consórcio Jogar em grupos de no mínimo 3 pessoas. Dar 50 gravuras de carro, avião, bicicleta e guitarra. Pedir que coloquem em uma seqüência (-- Qual vale mais) Regras: jogar o dado e ganhar figuras (que vale menos). A cada 10 troca por uma que vale mais, até chegar na mais valiosa. 6 - Jogo das figuras geométricas Um dado com figuras geométricas Um dado de 0 a 3 Um dado com cores diferentes Uma caixinha com várias figuras, coloridas, tamanhos diferentes, feitas com papel. Regras: jogar os três dados simultaneamente pegar a quantidade, na cor, da figura que for sorteado. Após um tempo pregar as figuras num papel, fazendo uma montagem livre. 7 - Circuito psicomotor Explorando retas e curvas. 8 - Mapas: Explorando retas e curvas, desenhar a sala de aula, a escola, etc. 9 - Brincando de medir - Medir a sala com o "passo" ou a "braça". - Medir a mesa com "palmo" ou “polegada". - Comparar a largura do caderno com o comprimento de um palito de fósforo. - Comparar a extensão da sala com o tamanho do pé. Anais do VIII ENEM – Minicurso GT 1 – Educação Matemática nas Séries Iniciais 8 - Medir a sua "jarda" com um barbante. Comparar com os colegas o tamanho do barbante. Professor mediador: _Verificar se todas são do mesmo tamanho. _Qual é maior a minha ou a sua? Por que? - Medir a mesa com um barbante e um elástico. Comparar os dois tamanhos. Depois esticar o elástico e perguntar qual dos dois está maior e por quê. 10 - Brincando em 1 minuto. Usar uma ampulheta ou marcar num relógio o podemos fazer em um minuto. Desenhar Correr Ficar em silêncio Falar 11) Brincando com os pratinhos ( Bertoni,1997) adaptações: prof. Dr.Cristiano Muniz - UnB RELAÇÃO SÍMBOLO / QUANTIDADE - Mostrar um pratinho e pedir que se abracem formando grupos que tenham a mesma quantidade apresentada. O professor passará de grupo em grupo pedindo que contem em voz alta para conferir. - Mostrar o numeral e pedir para se abraçarem. - Fazer a contagem para conferir. RELAÇÃO QUANTIDADE / SÍMBOLO - Falar a quantidade para eles pegarem o numeral. - Mostrar o pratinho e eles pegam o numeral. RELAÇÃO QUANTIDADE / QUANTIDADE Formar 2 grupos, em círculo; cada grupo manda 1 representante para participar , a cada vez. Os pratinhos devem estar espalhados pelo chão, ao centro. - O professor fala uma quantidade e os representantes têm que pegar os pratinhos com aquela quantidade. Ganha ponto o grupo que o representante pegar mais pratinhos. - O professor pede para "pegar todos os pratinhos que têm mais de 5 'brigadeiros'". - "Pegar pratinhos que juntos vão dar 8 'brigadeiros' ". Anais do VIII ENEM – Minicurso GT 1 – Educação Matemática nas Séries Iniciais 9 - Pedir que eles formem um trenzinho começando do menor para o maior. Ganha quem fizer o trenzinho mais comprido. CRIE OUTROS COMANDOS!!! 12) Batalha - (com baralho) Jogar com todas as cartas de 2 a 10. Distribuir, sem olhar, as cartas igualmente para os 2 jogadores. Cada um coloca a sua pilha com as cartas viradas para baixo na sua frente. Os 2 jogadores simultaneamente viram as cartas de cima, quem virar a maior ganha as duas. O jogador que tiver o maior número de cartas no final do jogo é o vencedor. Batalha dupla Usar 32 cartas, 8 cartas de 1 a 4. As crianças devem jogar com 2 pilhas cada uma. Virar as 2 cartas de cima simultaneamente. Somar os valores, quem ganhar mais, ganha as 4 cartas. (pode ser jogado com valores maiores) 13) - Brincando com massa de modelar RECEITA 1 copo de farinha de trigo 1/2 copo de sal 1 copo de água 1 colher de óleo K-suco colorido levar ao fogo, mexendo até desgrudar. Deixar as crianças brincarem livremente. Estipular uma medida padrão para dividir a massa igualmente. Professor mediador: Propor uma festa! Todos farão a comida para a festa. Comparar a produção das crianças e questionar por que um fez tantos docinhos e o outro fez poucos, será que ele tinha menos massa? Palavras-chaves: brincar, mediação, construção BIBLIOGRAFIA: ANTUNES, C. Vygotsky, quem diria ?! Em minha sala de aula. Petrópolis, RJ: Vozes, Anais do VIII ENEM – Minicurso GT 1 – Educação Matemática nas Séries Iniciais 10 2002. ASSIS, O. Z. M. de. Uma nova metodologia de educação pré-escolar. São Paulo: Enio Matheus Guazzelli & Cia. Ltda, 1982. BERTONI, N. E. & GUIDI, R.M. Numerização. 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