UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE MARCOS BANDEIRA DE OLIVEIRA O DESENHO NO PROCESSO DE CRIAÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROJETO: o caso dos Trabalhos Finais de Graduação da Universidade de Fortaleza Fortaleza/CE Dezembro/2014 MARCOS BANDEIRA DE OLIVEIRA O DESENHO NO PROCESSO DE CRIAÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROJETO: o caso dos Trabalhos Finais de Graduação da Universidade de Fortaleza Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Interinstitucional do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie com a Universidade de Fortaleza como quesito para obtenção do Título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Prof. Dr. Rafael Antônio Cunha Perrone Fortaleza/CE Dezembro/2014 O48d Oliveira, Marcos Bandeira de. O desenho no processo de criação e apresentação do projeto : o caso dos trabalhos finais de graduação da Universidade de Fortaleza. – 2015. 210 f. : il. ; 30 cm. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2015. Referências bibliográficas: f. 178-183. 1. Desenho. 2. Projeto de arquitetura. 3. Ensino. 4. TFG. 5. Croquis. 6. UNIFOR. I. Título. CDD 720.284 AGRADECIMENTOS Aos meus pais, José Alves e Kátia, maiores responsáveis por tudo o que sou hoje. A Juliana e Cecília, razões de todos os meus esforços. À Mackenzie, a UNIFOR e à FUNCAP pelo apoio e incentivo. Aos caríssimos colegas de MINTER, pelo companheirismo e inesquecíveis momentos de descontração; Ao Professor Doutor Rafael Perrone, pela orientação e valiosas conversas sobre desenho. Aos Professores Doutores Flora Mendes, Maria Augusta Pisani e Euler Muniz pelo essencial apoio e dedicação ao MINTER desde a sua criação. A todos os professores pela visita ao Ceará e inesquecíveis aulas. O rabisco não é nada, o risco – o traço – é tudo. O risco tem carga , é desenho com determinada intenção – é o “design”. (LÚCIO COSTA). RESUMO Os registros gráficos executados durante o projeto passaram por grandes mudanças em suas técnicas, instrumentos e finalidades depois do aparecimento dos meios digitais. Os estudos sobre metodologia projetual deixam clara a sua complexidade, assim como a dos mecanismos de representação gráfica, que auxiliam e registram esses processos. A computação gráfica não eliminou os instrumentos nem as técnicas analógicas, mas somou-se a elas. Hoje há considerável variedade de ferramentas gráficas para subsidiar a reflexão e o registro do projeto que misturam recursos analógicos e digitais. Essa diversidade é benéfica, mas, para a exploração eficiente das suas potencialidades, requer conhecimentos técnicos, instrumentais e conceituais que ultrapassam os limites da Geometria, do desenho técnico arquitetônico e da computação gráfica. Observam-se no meio acadêmico algumas deficiências na orientação do uso dos novos recursos, além da separação entre o ensino/prática do desenho e sua relação com a realidade do projeto. Os estudos comprovam a pertinência e importância dos recursos analógicos no projeto, além de defenderem a convivência entre eles e os recursos digitais. A repercussão do emprego dos instrumentos digitais ocorreu simultaneamente na prática profissional e nas escolas de Arquitetura e, dentro destas, observa-se que os discentes desenvolvem procedimentos próprios para explorar essa gama de opções. Com o objetivo de traçar um panorama dessas práticas discentes, esta dissertação avaliou a produção analógica, de 2009 e 2014, observada na disciplina Trabalho Final de Graduação (TFG) da Universidade de Fortaleza nos momentos de concepção e de apresentação dos projetos. Para tanto, primeiramente, foi avaliada a matriz curricular que formou esses alunos e, em seguida o material gráfico produzido nas orientações e apresentações dos TFGs. Para esse último, foram feitos, inicialmente, um levantamento quantitativo e uma análise geral qualitativa de todos os trabalhos, tendo sido esta aprofundada por meio de cinco estudos de caso. O material avaliado revela grande atenção dispensada a desenhos específicos durante o processo projetual, destacando-se as plantas e as perspectivas. Os desenhos demonstram deficiências técnicas na execução gráfica e pouca relação com a realidade construída. Constatam-se instrumentos digitais como auxiliares dos desenhos analógicos, mas também verifica-se que os conteúdos das disciplinas de desenho não tratam desse tipo de técnica híbrida. Dessa forma, revelam-se três tipos básicos de técnicas: analógica, digital e híbrida. Os dados explicitam pontos norteadores de decisões didáticas das disciplinas de projeto, de desenho, do próprio TFG e da inter-relação delas. Como resultado deste estudo, fica evidente que o uso do desenho à mão livre continua pertinente no meio acadêmico, mas também que ele não pode ser tratado de maneira conservadora ou atrelada a processos anteriores ao uso dos sistemas digitais. Além disso, conclui-se ser preciso definir e assumir, dentro dos currículos acadêmicos, um desenho específico para o arquiteto, levando em consideração todas as possibilidades tecnológicas, analógicas e digitais. Palavras-chave: Desenho. Projeto de Arquitetura. Ensino. TFG. Croquis. UNIFOR. ABSTRACT The graphic records performed during the design process had major changes in their techniques, instruments and purposes after the appearance of digital tools. Studies on architectural design methodology make clear its complexity as well as the graphical representation mechanisms that assist and record these processes. Computer graphics has not eliminated the instruments and analogue techniques, but added up to them. Today there are a variety of graphical tools to support design process blending analog and digital resources. This diversity is beneficial, but for the efficient exploitation of its potential, requires technical, instrumental and conceptual knowledge that exceed the limits of Geometry, architectural drawing and computer graphics. It is observed in academic circles some deficiencies in the orientation of use of new features in addition to the separation between education / design practice and its relation to the reality of the project. Studies shows the relevance and importance of analog features in the design process as well as defend the coexistence between them and digital resources. The impact of the use of digital instruments simultaneously occurred in professional practice and in architecture schools and, within these, it is observed that the students develop their own procedures to explore this range of options. Aiming to give an overview of these students practice, this dissertation evaluated the analog production, from 2009 to 2014, observed in the discipline Trabalho Final de Graduação (TFG) at the University of Fortaleza in the moments of conceptual design and the presentation of projects. In order to that end, there was a first evaluation of the curricular grade that formed these students and then the drawings produced during professor's orientation and presentations of the TFGs. It was initially made a quantitative survey and a qualitative overview of all work that was deepened through five case studies. The evaluated material shows great attention given to specific drawings during the design process with emphasis on plants and perspectives. The drawings demonstrate technical deficiencies in the graphic execution and little relation to the constructed reality. Digital instruments help the analog designs. The contents of the drawing disciplines do not address this type of hybrid technique. Thus, it is revealed three basic techniques: analog, digital and hybrid. The collected data can help in didactical decisions of design disciplines / drawing, the actual TFG and the interrelation of them. As a result of this study, It is evident that the use of freehand drawing remains relevant in academic circles, but also that it can not be treated in a conservative manner or disconnected from the digital systems way. In addition, it was concluded that we must define and assume, within academic curriculum, a particular drawing for the architect considering all analog and digital technological possibilities. Key-words: design, architecture design , teaching, TFG, sketches, UNIFOR . LISTA DE FIGURAS Figura 1 Aspecto do site oficial do movimento Urban Sketchers 21 Figura 2 Conjunto de desenhos publicados no site oficial 22 Figura 3 Estudos de Frank O. Gehry para Vila Olímpica, Barcelona - Espanha. 23 Figura 4 Estudos em computação gráfica do escritório de Frank O. Gehry, para a Vila Olímpica, Barcelona - Espanha 23 Figura 5 Croquis da Sede do Partido Comunista Francês 29 Figura 6 Perspectiva do Clube Universitário da Cidade Universitária do Brasil - 1936 29 Figura 7 Croqui da Praça do Patriarca 30 Figura 8 Maquete da Praça do Patriarca. 30 Figura 9 Croquis de estudo para residência do Sr. Ernesto Gomes 32 Figura 10 Fachada e corte de residência unifamiliar da disciplina Ateliê I 34 Figura 11 Fachadas de residência unifamiliar da disciplina Ateliê I 34 Figura 12 Croquis de estudo para TFG. 37 Figura 13 Planta de apresentação para TFG 38 Figura 14 Pranchas com cortes para TFG 39 Figura 15 Perspectiva de apresentação 42 Figura 16 Perspectiva de apresentação 42 Figura 17 Croquis de estudo para TFG 44 Figura 18 Croquis de Vilanova Artigas 45 Figura 19 Croquis de Vilanova Artigas 45 Figura 20 Perspectiva de Oswald Bratke para Viaduto Boa Vista 46 Figura 21 Perspectiva linear - Baldassare Peruzzi 47 Figura 22 Croquis de estudo para Sesc Pompéia 48 Figura 23 Perspectiva MASP 49 Figura 24 Perspectiva de Oswald Bratke para sua residência 49 Figura 25 Croqui - São Pedro em Roma - Giuliano da Sangallo 50 Figura 26 Planta - São Pedro em Roma - Giuliano da Sangallo 50 Figura 27 Croquis de estudo para laboratório de pesquisa em Cambridge - CO Architects 51 Figura 28 Croquis de estudo para laboratório de pesquisa em Cambridge - CO Architects 52 Figura 29 Estudos de fachadas para Residência no Morumbi 54 Figura 30 “Oasis" - Planta geral 1957. 55 Figura 31 Corte em perspectiva confeccionado no SketchUp 57 Figura 32 "Plantas" em perspectiva confeccionadas no SketchUp 57 Figura 33 Planta em perspectiva Resid. Blackbourn - 1938 58 Figura 34 Estudo de Frank Lloyd Wright para as fachadas da Residência Goto Shimpei 58 Figura 35 Estudo de Frank Lloyd Wright para o pavimento superior da Residência Goto Shimpei 59 Figura 36 Estudo de Frank Lloyd Wright para o pavimento térreo da Residência Goto Shimpei 59 Figura 37 Axonométricas para uma residência em Stabio, Suíça 61 Figura 38 Axonométrica da residência Rokko 62 Figura 39 Estudo de Frank Lloyd Wright em perspectiva para a Residência H. J. Hullman 63 Figura 40 Perspectiva da residência de Oswald Bratke - 1951 63 Figura 41 Perspectivas de estudo para residência no Morumbi 63 Figura 42 Perspectiva de estudo para o MASP 65 Figura 43 Cortes e Fachadas desenhadas em software CAD 67 Figura 44 Maquete eletrônica de edifício residencial 68 Figura 45 Maquete eletrônica de edifício residencial 68 Figura 46 Perspectiva para reforma de casa de campo 69 Figura 47 Interface do Notability com "croquis digitais" 72 Figura 48 Interface do Procreate com "croquis digitais" 72 Figura 49 Interface do Adobe Line com "croquis digitais” e “régua paralela" 73 Figura 50 Tablet opaca da Wacom 73 Figura 51 Perspectiva feita a partir de base volumétrica do SketchUp 74 Figura 52 Perspectiva feita a partir de base volumétrica do SketchUp 74 Figura 53 Perspectiva a nanquim colorida no computador 75 Figura 54 Croquis de estudo para laboratório de pesquisa em Cambridge - CO Architects 78 Figura 55 Croquis de estudo para Jardim Botânico - Atelier Dreiseitl 81 Figura 56 Diagrama para estudo de implantação 106 Figura 57 Estudo de ângulos para projeto de edifício 106 Figura 58 Coleção de desenhos de estudos. 2 plantas, 3 fachadas e 1 perspectiva 107 Figura 59 Perspectivas de estudo para detalhes construtivos 108 Figura 60 Corte esquemático colorido digitalmente 108 Figura 61 Estudo de percursos para o projeto de uma praça 109 Figura 62 Estudos de fachada 110 Figura 63 Estudo de implantação 111 Figura 64 Implantação para apresentação na qualificação 112 Figura 65 Perspectiva de estudo 113 Figura 66 Perspectiva de apresentação 113 Figura 67 Implantação colorida com lápis de cor 118 Figura 68 Estudos de volumetria 119 Figura 69 Desenhos diversos para estudo de edifício 119 Figura 70 Croqui inicial e resultado final 120 Figura 71 Croqui inicial e resultado final 120 Figura 72 Croquis de estudo 121 Figura 73 Croquis de estudo 121 Figura 74 Planta “de estudo”, implantação final e perspectiva 123 Figura 75 Corte esquemático digital 124 Figura 76 Conjunto de plantas de estudo 125 Figura 77 Perspectiva NPR com resultado da proposta 125 Figura 78 Estudos em perspectiva 126 Figura 79 Estudos em perspectiva 127 Figura 80 Perspectiva de apresentação a partir de base do SketchUp 129 Figura 81 Modelagem 3D usada para estudos 130 Figura 82 Perspectiva de acabamento NPR 131 Figura 83 Perspectiva de acabamento PR 131 Figura 84 Uso da cor nos croquis 132 Figura 85 Estudos de implantação 135 Figura 86 Estudos de layout dos ambientes 136 Figura 87 Estudos coloridos 137 Figura 88 Estudos coloridos 138 Figura 89 Estudos coloridos 139 Figura 90 Implantação a partir de modelo 3D 140 Figura 91 Perspectiva aérea 140 Figura 92 Perspectiva em altura de observador no plano do chão 141 Figura 93 Perspectiva em altura de observador no plano do chão 141 Figura 94 Croqui de setorização da cidade de Baturité 143 Figura 95 Diagramas usados para indicar a ocupação espacial nos municípios 144 Figura 96 Mapa de infraestrutura do maciço de Baturité 145 Figura 97 Croquis de localização das propostas 145 Figura 98 Croquis com propostas conceituais 146 Figura 99 “Axonometria" de equipamento para parque 147 Figura 100 Cortes e planta do sistema viário 147 Figura 101 Planta de detalhe do sistema viário 148 Figura 102 Corte de detalhe do sistema viário 148 Figura 103 Planta híbrida com detalhes do passeio 149 Figura 104 Perspectiva 149 Figura 105 Folha de croquis 151 Figura 106 Folha de croquis 152 Figura 107 Croquis de uma das edificações 152 Figura 108 Croquis dispostos em página da defesa escrita 153 Figura 109 Primeiros esboços das plantas não ortogonais 153 Figura 110 Croquis de estudo para pavimentos do edifício principal 154 Figura 111 Planta final apresentada à banca 154 Figura 112 Detalhes 155 Figura 113 Corte esquemático 155 Figura 114 Fachadas geradas a partir de modelo do SketchUp 156 Figura 115 Perspectiva geral - SketchUp 156 Figura 116 Corte produzido em programa CAD 156 Figura 117 Estudo inicial de implantação 158 Figura 118 Implantação 158 Figura 119 Detalhe de setor 159 Figura 120 Detalhe de setor 159 Figura 121 Perspectiva geral 160 Figura 122 Detalhes do pequeno anfiteatro 160 Figura 123 Estação 161 Figura 124 Quiosque 161 Figura 125 Mirante 162 Figura 126 Restaurante 163 Figura 127 Prédio da administração 163 Figura 128 Fachada lateral do resultado final 165 Figura 129 Planta do pavimento 1 165 Figura 130 Estudos de volumetria 166 Figura 131 Estudos de volumetria 166 Figura 132 Estudos de volumetria 167 Figura 133 Estudos de volumetria e plantas 167 Figura 134 Estudos de volumetria 167 Figura 135 Perspectivas de estudo da forma 168 Figura 136 Perspectivas de estudo da forma 168 Figura 137 Perspectivas de estudo da forma 168 Figura 138 Perspectiva final 169 Figura 139 Perspectiva final. 169 Figura 140 Layouts das salas de aula 170 Figura 141 Layouts de espaços de uso coletivo 170 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Matriz curricular 26.1 86 Tabela 2 Matriz curricular 26.1 86 Tabela 3 Matriz curricular 26.2 92 Tabela 4 Matriz curricular 26.2 92 Tabela 5 Quantidade de TFGs com croquis, por tipo de projeto 115 Tabela 6 Quantidade de TFGs com registros analógicos e/ou híbridos, por ano 116 Tabela 7 Quantidades de desenhos, por tipologia 124 Tabela 8 Quantidades de desenhos, por tipologia e tema do projeto 128 Tabela 9 Quantidades de desenhos, por tipologia e tema do projeto 128 Tabela 10 Quantidades de desenhos, por técnica de confecção 129 Tabela 11 Quantidades de desenhos, por uso de cores 132 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 Quantidade de TFGs com croquis, por ano 115 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 2 O PROCESSO DE PROJETO EM ARQUITETURA 19 5 O USO DO DESENHO NO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO 103 E URBANISMO 29 5.1 Coleta e critérios de seleção 104 2.1 As fases do projeto 31 5.2 Apresentação e análise dos resultados 114 2.2 Os agentes do projeto 41 5.3 Estudo de caso 1: TFG de Luana ferreira 3 O DESENHO NO PROCESSO DE PROJETO 46 3.1 Os tipos: as projeções ortográficas e as perspectivas 53 3.2 As técnicas: a analógica, a digital e a híbrida 3.3 As finalidades: o desenho de concepção e de apresentação 4 5.4 Estudo de caso 2: TFG de Bruna Gripp Ibiapina 142 5.5 Estudo de caso 3: TFG de Danussia Baracho Teixeira 76 5.6 82 83 O segundo Projeto Pedagógico do Curso (PPC) – análise crítica 90 4.2.1 O eixo expressão e representação e o eixo projeto 93 4.2.2 Interdisciplinaridade – o desenho e o projeto 97 4.3 100 A disciplina Trabalho Final de Graduação 150 Estudo de caso 4: TFG de Luma Holanda Vasconcelos O primeiro Projeto Pedagógico do Curso (PPC) – análise crítica 4.2 134 O TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO NA UNIFOR 4.1 65 cavalcante 157 5.7 Estudo de caso 5: TFG de Nicolle Campos Fiuza 164 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 171 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 178 APÊNDICES 184 19 1 INTRODUÇÃO dentro delas, para as mais distintas funções. Nas palavras do Desenhar, segundo Ching (1990), é a ação final de um autor, óptico/sensorial (ver), passando por processos cerebrais que Através do desenho, ora organiza-se, descreve-se, configura-se, ora imagina-se, projeta-se, idea-se. Num modo mais completo, por ser uma configuração visiva, o desenho dá forma à ideia, por ser ideação identifica a configuração, estabelece sua forma por identificá-la e classificála. (P.14) nos permitem interpretar e assimilar aquilo que se Laseau (2001) enaltece essas qualidades e potencialidades vê(visualizar), culminando no ato do desenho. Laseau (2001) quando situa os croquis como determinantes dentro do confirma tal asserção quando subdivide o que chama de pensamento visual, especialmente na Arquitetura, não somente “pensamento visual” em também três etapas básicas: ver, para mostrar e aclarar o que está na mente do criador, mas imaginar e desenhar. também para expor como ele está pensando. Para o autor, no processo que compreende três fases básicas: ver, visualizar (assimilar) e representar. Essas três etapas estão diretamente ligadas a uma complexa rede que inicia no próprio sistema Os autores parecem concordar com a idéia de que o desenho é a etapa final de um processo mental que pode estar ligado tanto à simples observação da realidade e ao seu registro quanto à intervenção nessa realidade mediante o processo criativo. Sua aplicação como forma de expressão e processo criativo, quanto mais a informação girar entre a mente do projetista, sua mão, o registro no papel e daí de volta para seu olho, sua mente e novamente para sua mão e de novo para o papel, mais oportunidades de mudanças e soluções surgirão. Seria desse ciclo continuo que as soluções surgiriam. comunicação, como deixa claro Massironi (1982), é visível nas Isso parece acontecer nas mais diversas situações, envolvendo mais variadas áreas que podem englobar desde as artes o ato criador. Salles (2007) detalha bem essas possibilidades plásticas até as ciências exatas. Para Perrone (1993), quando descreve o uso do desenho dentro das artes plásticas. características como a simplicidade, a flexibilidade e a própria A autora cita o caso de escultores e cineastas que se valem do competência do desenho são as responsáveis por o situarem registro gráfico por meio de croquis para documentar seu como eficiente para executar essas diversas atividades e, processo criativo. É interessante observar que, assim como na 20 Arquitetura, essas duas áreas também buscam um resultado argumentos em defesa da manutenção das ações do desenho final que transcende as próprias característica e como importante instrumento do trabalho do arquiteto e possibilidades do desenho, ou seja, trabalham com tempo e urbanista. O trecho de sua defesa, do final da década de 1990, espaço, mas, mesmo assim, encontram nesse recurso um retrata a necessidade de manutenção de uma prática que forte aliado do seu processo de trabalho. parecia estar em decurso de extinção. Nas palavras do arquiteto italiano, Apesar de os autores retrocitados parecerem não ter dúvidas quanto à importância do desenho como instrumento de registro nas diversas áreas do conhecimento e, em especial, naquelas que envolvem a criação, a sua pertinência e importância como instrumento dentro do projeto de Arquitetura e Urbanismo vêm, desde meados da década de 1990, sendo discutidas. Nessa época, o amadurecimento dos equipamentos (hardware) e dos sistemas digitais (software), bem como o acesso facilitado a esses recursos, mudaram os métodos de representação gráfica e as metodologias de projeto dentro dos escritórios de Arquitetura. A transição de uma realidade totalmente analógica para o novo panorama digital que se descortinava trouxe alguns questionamentos e certa resistência aos novos métodos, além da defesa aos procedimentos e instrumentos analógicos. Sobre isso Rossi (1997) já expunha suas preocupações e Acredito que ainda hoje seja muito importante para um arquiteto saber desenhar: esse aspecto não foi fundamental somente durante a época de ouro do Renascimento – um período em que os arquitetos eram geralmente grandes pintores e vice-versa. O desenho é e sempre será uma forma muito importante de conhecimento do real, aliás insubstituível. Recordo os meus primeiros contados no Politécnico de Milão, com o desenho ao natural: embora fossem desastrosos, eu procurava compreender a potencialidade dos meios, o significado dos signos, o valor do desenho. Esse discurso não é apenas um fator exclusivo, mas se baseia em uma relação de natureza estatística: muitos grandes arquitetos são também grandes desenhistas, ou justamente grandes pintores. Basta lembrar Muthesius, Asplund, Berlage, que pintou até uma certa cidade, ou ainda Adolf Loos, por natureza talvez ainda mais escultor e pintor do que arquiteto. É evidente que a importância de tal componente permaneceu, até o Movimento Moderno, muito forte. Por exemplo, um arquiteto como Mies Van der Rohe, que abriu caminho para a tecnologia, ditando novas condições para a arquitetura, fez desenhos – pensem naqueles que a Alexanderplatz – que pela sua beleza e riqueza de significados podem ser considerados entre as mais importantes obras-de-arte. (ROSSI, 1997, p. 121-122) 21 As preocupações de Rossi (1997) encontram-se hoje evidenciadas e documentadas pela grande quantidade de artigos, dissertações e teses que versam sobre os diversos desdobramentos que o desenho (tanto analógico quanto digital) teria no ato de projetar além das muitas intersecções e possibilidades que os sistemas digitais trouxeram a tais práticas. Se, na época da efetiva entrada dos instrumentos eletrônicos na prática profissional dos arquitetos e urbanistas, se podia ouvir discursos que pregavam a total substituição dos instrumentos e das técnicas analógicas pelos sistemas digitais, o tempo deixou claro que isso não aconteceu e evidências cada vez mais explícitas comprovam isso. O manifesto de Campanário (2011), fundador do movimento Urban Sketchers, fenômeno mundial iniciado no começo da década de 2000, incita qualquer pessoa a registrar, pelo desenho, os lugares, pessoas e objetos das suas viagens e rotinas. A coleção de desenhos publicados no site oficial do movimento Figura 1 - Aspecto do site oficial do movimento Urban Sketchers. Fonte:http:// www.urbansketchers.org/2014/11/by-marc-taro-holmes-in-montreal-qcca.html. Último acesso em 17/11/2014 [Fig. 1] e nos sites correspondentes de cada país participante, inclusive o Brasil, talvez seja o maior testemunho eletrônico, na atualidade, da produção dos desenhistas analógicos. Como se percebe, os registros gráficos por via dos métodos tradicionais 22 persistem e talvez isso ocorra justamente porque encontram, em suas características e virtudes, a razão de sua sobrevivência. Voltando à questão dentro do projeto arquitetônico e urbanístico, se parece inegável que o desenho analógico perdeu espaço em alguns momentos do processo de projeto, principalmente na fase de apresentação e representação técnica, ele parece persistir como instrumento de registro das reflexões e discussões inerentes ao ato de projetar. Mesmo os profissionais que se valem dos mais sofisticados expedientes computacionais não deixaram a ação analógica de lado. Dois dos arquitetos que mais utilizam as tecnologias computacionais, na atualidade, Zaha Hadid e Frank Gehry, não abandonaram o risco no papel [Fig. 3 e 4]. Voltando a Rossi (1997), ele nos dá uma pista das razões dessa sobrevivência quando acentua que Figura 2 - Conjunto de desenhos publicados no site oficial Urban Sketchers Brasil. Fonte: http://brasil.urbansketchers.org/2014/01/ desenhando-pelo-rio-de-janeiro.html. Último acesso em 17/11/2014 […] o desenho é o método imediato de expressão de tudo o que é pensado: provavelmente o mesmo discurso seja válido para a música e para a literatura, ainda que a arquitetura exija depois, para sua realização, um tempo mais longo e um conjunto de competências e de colaborações mais complexo com relação ao trabalho desenvolvido, por exemplo, por um poeta. (P.122) É interessante observar que o discurso de Rossi (1997) encontra apoio, já no ano de 2012, em Graves (2012) quando ele enfatiza a 23 importância do ato de desenhar mesmo diante das impressionantes possibilidades das ferramentas tecnológicas. Nas palavras do Arquiteto, Architecture cannot divorce itself from drawing, no matter how impressive the technology gets. Drawings are not just end products: they are part of the thought process of architectural design. Drawings express the interaction of our minds, eyes and hands. This last statement is absolutely crucial to the difference between those who draw to conceptualize architecture and those who use the computer. (GRAVES, 2012, p.01). Sabe-se que a repercussão do uso dos recursos digitais ocorreu Figura 3 - Estudos de Frank O. Gehry para a Vila Olímpica, Barcelona Espanha. Fonte: Frank O. Gehry: the complete works. Pág. 430 simultaneamente na prática profissional e nas escolas de Arquitetura, embora tenha levado um pouco mais de tempo para se efetivar na segunda. As dificuldades inerentes ao fazer acadêmico, como revisão e adaptação das matrizes curriculares, aquisição de equipamentos, treinamento do corpo docente, entre outros, talvez expliquem esse atraso. Outra razão diz respeito a própria resistência natural a novos recursos. Em um ambiente cujos personagens estão acostumados a fazeres já consolidados é esperado que haja uma rejeição inicial. Piñón (2006) confirma essa impressão, quando assinala Figura 4 - Estudos em computação gráfica do escritório de Frank O. Gehry para Vila Olímpica, Barcelona - Espanha. Fonte: Frank O. Gehry: the complete works. Pág. 431 que o advento de novas tecnologias pode criar naturais reações entre os agentes (professores e profissionais) detentores de certas 24 técnicas e procedimentos consideradas por eles essenciais construtivos e arquitetônicos, transformando o computador em ao fazer arquitetônico. um canteiro de obras virtual. O desenho à mão livre e a pintura Em seu mesmo discurso, embora critique essa resistência a novos sistemas, Piñón (2006, p.144) também alerta que, nas mãos de um incompetente, o computador pode se tornar instrumento para "perverter definitivamente o projeto", ao mesmo tempo em que reconhece ser ele poderoso meio na concepção e verificação do projeto. encontraram nas telas sensíveis ao toque um novo meio de registro de ideias e da arte. Hoje, a pluralidade de meios e métodos mistura o digital e o analógico para propiciar diversos produtos e as mais variadas técnicas de investigação e criação. Instrumentos digitais são usados em ações analógicas (o desenho à mão livre em um Enquanto o desenho manual se mantinha como legítimo tablet) assim como ações totalmente digitais (modelagem instrumento de registro de ideias, da realidade construída e tridimensional e impressoras 3D) podem gerar, por exemplo, de seus personagens, o mundo digital ganhava novas esculturas, objetos que até pouco tempo eram resultado de ferramentas, técnicas e possibilidades de uso para processos exclusivamente analógicos. arquitetos, engenheiros, desenhistas, artistas e áreas correlatas. Os softwares de modelagem tridimensional ganharam espaço, tanto como recurso de representação como de pensamento do projeto, além de se tornarem mais acessíveis e fáceis de usar. As impressoras deram um salto das duas para as três dimensões e trouxeram para o usuário comum as novas possibilidades da fabricação digital. A modelagem parametrizada ultrapassou os limites da representação simbólica e bidimensional dos elementos Acredita-se que essa diversidade de opções é benéfica para o profissional e para o estudante, na medida em que abre inúmeras possibilidades instrumentais e metodológicas para investigar os problemas inerentes à prática projetual. Apesar disso, essa mesma pluralidade pode ensejar questionamentos e dúvidas podendo repercutir negativamente em especial naqueles que têm pouca experiência nos fazeres da profissão. Espera-se, por exemplo, que um profissional bem posicionado 25 no mercado, com um sistema de produção consolidado e das questões relacionados ao desenho aplicado às praticas do experiência de projeto, certamente conseguirá escolher, projeto arquitetônico e urbanístico. Apesar disso, constamos nesse elenco de opções, aquelas que considere mais que, nessas publicações, a avaliação era, na maior parte, da eficientes para otimizar o desempenho de sua prática produção gráfica de profissionais do mercado. Em alguns profissional. A mesma postura, entretanto, não pode ser casos, os textos versavam sobre as práticas acadêmicas esperada dos estudantes que, em sua maioria, carecem de ligadas ao desenho, mas com foco nas metodologias de vivência na área e, portanto, precisam de orientação para o ensino e não na produção dos alunos. trato com essas questões. Essa orientação ocorrerá, em sua maior parte, durante as disciplinas do seu curso de Este trabalho tenciona fazer uma avaliação quantitativa e graduação, mas também na troca de experiências entre qualitativa da produção gráfica, com ênfase nos desenhos colegas, nos estudos pessoais, cursos extracurriculares e analógicos, observada na disciplina Trabalho Final de nos estágios. Graduação (TFG) do curso de Arquitetura e Urbanismo da Perante essa realidade, a questão latente e que foi investigada nesta pesquisa diz respeito a como o discente, dentro do processo de projeto, explora essa gama de opções e até onde seus procedimentos de registro gráfico são influenciados pelo seu percurso acadêmico e profissional. A escassez de trabalhos com esse enfoque também motivou esta investigação. Como já comentado, durante a revisão bibliográfica, observamos a existência de uma quantidade considerável de artigos, livros, dissertações e teses tratando Universidade de Fortaleza (UNIFOR). A pesquisa toma como base os dados primários contidos no arquivo digital dos projetos produzidos nessa cadeira, disponíveis na Coordenação do curso, além da nossa experiência como coordenador do TFG no período de 2008 a 2013. Segundo dados da Vice-Reitoria de Graduação o primeiro concurso vestibular do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR aconteceu dos dias 01 a 03 de julho de 1998. A estrutura curricular inicial (Matriz Curricular 26.1) exibia intensa 26 influência das disciplinas e práticas adotadas no curso da pelo curso da UNIFOR prega a ideia de que a conciliação Universidade Federal do Ceará, único do Estado até então, entre as técnicas analógicas e digitais seria a melhor diretriz. embora uma diretriz se destacasse como uma das premissas do ensino a ser adotado no novo curso: toda produção gráfica Hoje o Estado do Ceará possui sete cursos de graduação em seria executada por meio de instrumentos digitais. Arquitetura e Urbanismo em funcionamento. Eles estão locados nas seguintes instituições, por ordem de surgimento: As práticas de sala de aula e as demandas do mercado Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade de levaram a instituição, em sua reforma curricular de 2004 (que Fortaleza (UNIFOR), Faculdade Nordeste (Fanor), Centro adotou a Matriz Curricular 26.2), a rever o ensinamento da Universitário Estácio do Ceará (FIC), Faculdade 7 de representação gráfica, levando-a, entre outras coisas, nas Setembro (FA7), Faculdade Católica Rainha do Sertão (FCRS) palavras do professor Euler Sobreira Muniz, coordenador do e Centro Universitário Christus (Unichristus). curso na época, a "voltar ao uso da prancheta". Passou-se a cursos, seis se encontram na Capital e um no interior. Além valorizar o desenho instrumental analógico e o desenho à mão desses, existem mais seis em processo de implementação nas livre como meios fundamentais na formação do arquiteto, uma seguintes instituições: Instituto Superior de Tecnologia vez que eles seriam parte importante da criação e reflexão A p l i c a d a ( I N TA ) , F a c u l d a d e M a u r í c i o d e N a s s a u como expresso em passagem anterior desse escrito. (UNINASSAU), Hoje é possível perceber que a postura inicial do corpo docente da UNIFOR se mostrou em parte equivocada, mas também explicitou uma atitude corajosa, na medida em que rompeu com a natural resistência ao uso de novos recursos, como sugere Piñón (2006). Atualmente o discurso adotado Desses sete Faculdade de Juazeiro do Norte (FJN), Faculdade Farias Brito, Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza (FAMETRO) e UFCA (Universidade Federal do Cariri). Essa crescente demanda por formação na área incita o debate sobre o ensino da Arquitetura em nosso Estado e dentro deste, o ensino do desenho aplicado à área. 27 Percebe-se que o cenário da graduação em Arquitetura e Ante um contexto no qual se observa intensiva influência da Urbanismo, no Ceará, é muito distinto daquele encontrado na computação gráfica nos métodos de projeto de Arquitetura, o década de 1990, quando só existia o curso da UFC e quando desafio de estabelecer a medida correta entre o ensino dos surgiu o segundo curso do Estado. Essas mudanças, talvez métodos e instrumentos analógicos de desenho, assim como mais evidentes no parâmetro quantitativo, aconteceram dos digitais, se exprime ainda mais complexo e carente de também nos métodos e instrumentos ligados ao ensino da informações precisas. Arquitetura e, dentro deste, da representação gráfica aplicada, principal ponto de investigação deste ensaio. Dessa forma, como já mencionado, este estudo visa a avaliar as práticas de representação gráfica adotadas pelos discentes Passada a fase (que parece ter influenciado a Matriz 26.1 do dentro da reflexão, concepção e apresentação dos seus curso da UNIFOR) de uso intenso das ferramentas CAD trabalhos finais de graduação. Por ser a disciplina que culmina (Computer Aided Design) que nada mais eram do que a formação do aluno acreditamos ser ela ponto de referência reproduções digitais do que se fazia em pranchetas, para avaliar o uso dos recursos gráficos dentro do processo observa-se nos dias de hoje uma grande diversidade de usos de projeto. Será analisada neste estudo, a produção de de ferramentas computacionais, que tanto interferem no desenhos analógicos, digitais e híbridos, com maior ênfase no modo de produção gráfica quanto no processo de concepção primeiro e no terceiro, produzidos durante a concepção e para de projeto. Ao contrário do que se poderia esperar, a apresentação dos projetos. entretanto, com base no que ocorreu no caso da UNIFOR, as A pesquisa intenta avaliar quantitativa e qualitativamente a disciplinas ligadas ao desenho analógico ainda estão produção gráfica dos alunos, tentando identificar os tipos de presentes nos currículos dos cursos de graduação, assim desenho, algumas características, aplicações e objetivos como se pode observar o uso de termos como "croquis" e gráficos durante a criação, o diálogo com o professor "desenho à mão livre" nas ementas e conteúdos de algumas orientador e a apresentação do seu projeto. de suas disciplinas. 28 Para tanto serão analisadas as peças gráficas contidas nas Arquitetura e Urbanismo, sendo eles: discentes, docentes, monografias de defesa dos TFGs de 2009 a 2014. No coordenadores de curso e pesquisadores. Futuros primeiro momento será feito um estudo mais generalista pesquisadores também podem se beneficiar deste trabalho para coletar dados quantitativos e levantar alguns aspectos na medida em que o método adotado para coleta e qualitativos. No segundo momento cinco trabalhos serão organização dos dados pode ser usado em pesquisas avaliados de forma mais detalhada. similares. Este experimento também pode servir de base a docentes e coordenadores de curso para reflexões sobre o No terceiro momento tencionamos traçar um quadro geral, ensino do desenho em suas diversas vertentes, sua confrontando as práticas de ensino dentro da instituição, inserção nas estruturas curriculares e importância na atual mais especificamente na área de Geometria e Desenho, e formação do arquiteto e urbanista. se estas refletem os anseios e necessidades percebidas pelos alunos durante o desenrolar do projeto. Este trabalho se torna relevante, na medida em que busca traçar um panorama que retrate as técnicas e instrumentos de desenho usados pelos estudantes de Arquitetura e como estas se refletem nas ações de projeto da disciplina que finaliza o curso. Esta dissertação é dirigida à comunidade acadêmica ligada ao ensino do desenho nos cursos de graduação em 30 tivesse tanta importância no seu método de pensar um projeto como bem detalha Pereira (1997). A descrição de seu método pode tanto saciar alguma curiosidade referente a como suas icônicas obras foram criadas, como também provocar questionamentos e/ou servir de inspiração, mas o que parece evidente é que seu método é pessoal e não necessariamente será adequado a todas as situações. Enquanto a manifestação grafada (seja por desenhos ou por textos) foi a marca registrada do Arquiteto carioca, Paulo Mendes Figura 7 - Croqui da Praça do Patriarca. Fonte: http://arcoweb.com.br/ projetodesign/arquitetura/paulo-mendes-da-rocha-praca-do-27-11-2002. Ültimo acesso em 20/11/2014 da Rocha, cuja obra tem reconhecimento internacional pelo prêmio Pritzker, usa a maquete de papel como instrumento em seu processo de criação. É interessante anotar que, a elas [Fig. 7 e 8], o Arquiteto paulista atribui a função de “instrumento de desenho”, de “maquete como croqui” (ROCHA, 2007, p.22). A vinculação de um elemento tridimensional a termos ligados aos registros gráficos só reforça a noção de que a utilização do primeiro tem função similar a dos esboços à mão livre. Tentar definir qual dos dois métodos seria o mais adequado e/ou mais eficiente seria impossível, além de desnecessário. O que talvez seja ponto comum aos dois é, segundo assinala Barki (2003), a capacidade de abstrair as variáveis pertinentes a uma Figura 8 - Maquete da Praça do Patriarca. Fonte: http://arcoweb.com.br/ projetodesign/arquitetura/paulo-mendes-da-rocha-praca-do-27-11-2002. Ültimo acesso em 20/11/2014 31 situação-problema e de antecipar as soluções mediante a bibliográfica com o objetivo de identificar intersecções e/ou apresentação e representação por desenhos, textos ou divergências entre o que relata os tratados sobre metodologia de maquetes. projeto e as práticas adotadas pelos estudantes de arquitetura da A criação em projetos arquitetônicos e urbanísticos e o seu registro gráfico podem acontecer por intermédio de várias metodologias, instrumentos e técnicas. Vários atores UNIFOR, mais precisamente no que diz respeito ao uso dos recursos gráficos. 2.1 As fases do projeto participam desse percurso e das mais diversificadas maneiras. Esse processo, embora revele pontos em comum, não possui metodologia bem definida, podendo apresentar muita variação entre profissionais e estudantes para chegar à solução de um problema. No que se refere à produção gráfica, foco principal deste estudo, nota-se que não há qualquer unanimidade quanto aos instrumentos, em relação aos objetivos que se pretende alcançar com as peças gráficas e no concernente aos seus tipos utilizadas nas várias etapas de um projeto, em especial, nas fases de concepção e apresentação, segundo alvo deste estudo. Arquitetura é antes de mais nada construção, mas, construção concebida com o propósito primordial de ordenar e organizar o espaço para determinada finalidade e visando a determinada intenção. E nesse processo fundamental de ordenar e expressar-se ela se revela igualmente arte plástica, porquanto nos inumeráveis problemas com que se defronta o arquiteto desde a germinação do projeto até a conclusão efetiva da obra, há sempre, para cada caso específico, certa margem final de opção entre os limites - máximo e mínimo - determinados pelo cálculo, preconizados pela técnica, condicionados pelo meio, reclamados pela função ou impostos pelo programa, - cabendo então ao sentimento individual do arquiteto, no que ele tem de artista, portanto, escolher na escala dos valores contidos entre dois valores extremos, a forma plástica apropriada a cada pormenor em função da unidade última da obra idealizada. (COSTA, 1995, p. 246). A afirmação de Lúcio Costa revela, entre outras coisas, que a Neste capítulo, pretendemos abordar algumas questões sobre Arquitetura tem essencialmente por fim a obra construída. Para metodologia de projeto rebatendo os conceitos pertinentes em se chegar, entretanto, a tal, o projeto passa por diversas fases. O algumas práticas de sala de aula. Será feita uma revisão próprio texto, quando do uso de termos como “germinação”, 32 “cálculo”, “função” e “programa”, parece também deixar claro que para se chegar no objeto concreto, há percursos necessários e diversas variáveis a serem consideradas. Martínez (2000) reforça essa impressão e também evidencia a existência de etapas em um projeto quando assinala, de forma resumida e objetiva, que […]o processo projetual implica uma série de operações que resulta em um modelo “do qual será copiado um edifício”. Contudo, não há apenas um único processo projetual, apenas uma única maneira de se levar a cabo esse processo. (P.17). Apesar disso, o autor deixa claro que não parece haver uma unanimidade quanto a como e quando exatamente essas fases acontecem. Sabe-se que existem diversas nomenclaturas assim como variações na quantidade dessas etapas e nos objetivos de cada uma delas. Denominações como levantamento de dados, projeto conceitual, estudo preliminar, anteprojeto, projeto executivo, projeto de obra, projeto legal, dentre outras, podem ser encontradas para titular as diversas etapas de produção que podem ser experimentadas nos escritórios de Arquitetura. Figura 9 - Croquis de estudo para residência do Sr. Ernesto Gomes Fontes. Fonte: Lúcio Costa: registros de uma vivência. Pág. 54 Não faltam documentos e bibliografia propondo algum tipo de padronização e/ou de organização das ações que envolvem um projeto de arquitetura. Barreto (2013), por exemplo, nos lembra a 33 sugestão do Instituto dos Arquitetos do Brasil constante no análise quantitativa e qualitativa, a diversidade de estratégias documento Roteiro para o Desenvolvimento do Projeto de eleitas para uma mesma situação-problema. Se sua avaliação Arquitetura da Edificação. Nele são propostas quatro etapas não demonstra que há diversidade nos processos de criação, básicas, chamadas: estudo preliminar, anteprojeto e/ou ela certamente comprova que a forma de apresentação é projeto de aprovação; projeto de execução; assistência à bastante plural. execução da obra. Não será difícil comprovar a existência dessas etapas em grande parte das situações de projeto enfrentadas por profissionais e até mesmo por estudantes nos ateliês acadêmicos, mas é certo que essas fases, na maioria dos casos, dificilmente produzirão resultados iguais, apesar de poderem demonstrar algumas semelhanças. Nos ateliês acadêmicos essa constatação se faz ainda mais evidente. Martinez (2000) deixa claro que as simulações sugeridas na prática do ensino de projeto fazem com que o professor orientador assuma o papel de cliente, docente e avaliador. Na medida que é orientador, ele também sugerirá como o processo deve ocorrer para a busca das soluções. Mesmo numa situação na qual dois escritórios distintos trabalhassem no mesmo projeto para o mesmo cliente e lote, os percursos usados para se chegar à solução do projeto seriam diferentes, assim como os resultados. Basta ver o que ocorre nos concursos de projeto de Arquitetura. Souza (2009) comprova essa suposição quando detalha os métodos de representação gráfica adotadas pelos três primeiros Consoante Barreto (2013), essa orientação pode ocorrer ou de forma determinista, quando os processos decisórios são mais fechados e restritos, ou probabilista, quando a decisão é mais participativa envolvendo diversos agentes. Percebe-se que o método adotado nas disciplinas de projeto e no TFG tende a ser mais determinista, na medida em que há uma centralização da avaliação/orientação no docente. colocados e as quatro menções honrosas do concurso para o Apesar disso, o que se percebe é a pluralidade de soluções e Teatro de Natal. Embora sua pesquisa foque somente nas de modos de pensar o projeto. As figuras 10 e 11 mostram dois pranchas de apresentação, o autor demonstra, mediante resultados distintos para o mesmo programa de necessidades, 34 lote e orientados pelo mesmo docente. Cremos que as variáveis pessoais e da formação de cada discente também são definidoras do resultado final, mesmo com a tentativa de padronização de processos e diante da mesma situação-problema. Andrade et. al. (2011) nos dão uma pista das razões dessa diversidade quanto estabelecem algumas características e problemas comuns ao processo de projeto. Uma delas diz respeito a má estruturação dos próprios problemas que devem ser resolvidos, ou seja, uma vez estabelecidos os parâmetros e dados dos Figura 10 - Fachada e corte de residência unifamiliar da disciplina Ateliê I. Autora: Beatriz Farias M. Pessoa. Fonte: Acervo do autor programas de necessidades, os atores envolvidos normalmente não conhecem nem os objetivos finais tampouco os meios para se chegar às soluções. Rowe (1998, p. 40-41) propõe uma classificação para essa situação quando estabelece que esses problemas, dentro de uma situação projetual, podem ser: bem formulados (well-defined problems), mal formulados (ill-defined problems) ou sem formulação (wicked-defined problems). Ainda segundo o autor, os problemas enfrentadas por arquitetos, em sua maioria, não têm enunciados bem definidos nem variáveis controláveis, além de poderem ter inúmeras possíveis soluções. Esse descontrole os situa, preferencialmente, na segunda Figura 11 - Fachadas de residência unifamiliar da disciplina Ateliê I. Autora: Lia A. Borges. Fonte: Acervo do autor categoria e, em alguns casos, até mesmo na terceira. 35 Outro ponto abordado por Andrade et. al. (2011) está Nas práticas de ateliê de projeto, como já comentado, podem relacionado ao fato de o projeto arquitetônico estar sempre ser observadas diversas situações que ilustram o que foi em aberto, uma vez que a solução ideal de um edifício não expresso até aqui. Não raro, docentes estabelecem programas existe. A má estruturação do problema traz como de necessidades mal definidos e os discentes, com sua natural consequência a indefinição de metas e, portanto, as soluções inexperiência, tomam decisões iniciais que causariam sempre estarão sujeitas a melhoramentos e/ou estranhamento, como, por exemplo, a escolha dos materiais de questionamentos. uma escada que nem mesmo foi locada na edificação. O último ponto expresso pelos autores diz respeito à constatação de que seria impossível estabelecer um ponto de partida para o processo de projeto. Sobre isso, citam um exemplo genérico (aplicado a projetos de edifícios) no qual normalmente os primeiros esboços sempre tentam elucidar como o edifício se posicionaria no terreno e, então, daí, fazer avaliações e tomar outras decisões que podem confirmar o A própria maneira como essas práticas são feitas induzem ao descontrole e/ou à difícil definição de metas. Voltando a lembrar a afirmação de Martínez (2000), na sala de aula, misturam-se em um mesmo agente (o professor) as figuras do docente, do orientador, do cliente e do juiz que aferirão notas mensurando matematicamente o sucesso ou o fracasso de seu aprendiz, o que torna todo o cenário ainda mais complexo. que já foi registrado ou provocar alterações. Lawson (2011, p. Como se percebe, a enorme complexidade inerente aos 47) confirma a dificuldade de definir o ponto de partida de um processos de projeto dificultam seu estudo e/ou uma possível projeto, quando descreve o caso da arquiteta Eva Jiricna que determinação de metodologias bem definidas que poderiam ser adota um processo oposto ao do exemplo usado por Andrade aplicadas em ambiente acadêmico. Barki (2003) comenta a et. al. (2011). A arquiteta, segundo o autor, revelou que em grande quantidade de autores e as suas diversas abordagens seu processo de projeto, os estudos começam pela escolha no estudo do métodos projetuais. Também de acordo com o de materiais e desenhos de detalhes em tamanho natural. autor, a complexidade inerente a essas práticas parece ser o 36 único ponto em comum aos estudos. Nas suas palavras, […] de todos os pontos de vista os autores parecem hoje convergir para uma conclusão o projeto de arquitetura lida com problemas complexos, lida com determinação e indeterminação ao mesmo tempo. E que, se é que existe de fato um processo, este se dará como uma forma especial de inquirição pela qual os indivíduos não só descrevem, mas prescrevem e dão forma a idéias de ocupação do espaço. A maior dificuldade para compreender as características distintas e específicas desta forma especial de inquirição, deve-se ao fato de que, no seu desenrolar, recorrem-se a fontes de conhecimento e formas de pensamento que, por muitas vezes, são paradoxais e conflitantes. (P.64) Mesmo sendo a única ferramenta disponível para minimizar esse hiato entre as práticas acadêmicas e o mundo construído, a representação gráfica não pode assumir papel de vilã, uma vez que é ela, em suas diversas versões, que possibilita a materialização das ideias e que torna o trabalho do arquiteto tão peculiar. Também é certo que, durante seu percurso acadêmico o aluno tratará dos assuntos referentes à construção civil, tanto de forma teórica quanto prática, mesmo que essa última se restrinja a algumas visitas aos canteiros de Outra questão importante, também descrita por Martínez obras. Sabe-se, contudo, também que somente essas (2000), diz respeito ao afastamento entre as propostas experiências não são suficientes para amadurecer o futuro desenhadas em sala de aula e a realidade construída. A arquiteto nesse quesito. Voltando a Barki (2003), o autor separação entre o “arquiteto realizador” e o “arquiteto parece confirmar essas impressões quando relata que pensador”, observada ao longo da história, parece ainda mais evidente na relação entre o estudante e o seu processo de projeto. Com pouca ou nenhuma vivência de canteiro de obras, e sem nenhuma condição de testemunhar a construção do que projetaram nas disciplinas, sobra aos discentes o registro gráfico de suas ideias por meio dos croquis, modelagens computacionais, maquetes ou experiências de realidade aumentada como forma de conhecer o resultado final de suas ideias. […] o esforço do projetista para ‘resolver problemas' [problem-solving] arquitetônicos exigirá habilitação em uma série de áreas do conhecimento. Se alguém quiser se concentrar naquela habilidade particular que distingue esta atividade de outras, verificará que essa é a capacidade de visualizar e definir lugares antes da sua realização; ou seja, de idealizar formas tridimensionais, definir espaços interiores e aqueles que envolvem a forma tridimensional sem que, de fato, seja necessário construi-las. O veículo fundamental para essa visualização é o desenho de arquitetura: veículo de representação autônomo, específico e particular, que não deve ser confundido com outras formas de desenho. (P.79) 37 Sabe-se que o ponto de partida de um projeto é um momento de reflexão durante o qual normalmente as dúvidas e questionamentos existem mais do que as soluções. Na busca de respostas observam-se ímpetos criativos que se misturam a ações que podem ser extremamente racionais além de angústias, e questionamentos. O ordenamento dessa busca varia de acordo com cada projeto e com cada profissional. Uma das maneiras encontradas pelos arquitetos para essa organização consiste em estabelecer rotinas de trabalho definidas por fases e por objetivos a serem alcançados. Para este estudo, adotaremos, com base no já exposto, que existem três intenções básicas no processo de projeto, sendo elas: conceber, apresentar e documentar. Na concepção estariam embutidas todas as ações necessárias à solução, pelo menos parcial, dos problemas propostos. Na apresentação, aconteceria a exposição das ideias e das soluções imaginadas para esses problemas, ao passo que, na documentação, seriam preparados todos os produtos gráficos necessários à materialização da solução oferecida. As figuras 12, Figura 12 - Croquis de estudo para TFG. Fonte: Acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autora: Renata Freitas 13 e 14 expressam exemplos que ilustram essas fases propostas. Dependendo de cada projeto e de cada agente (arquitetos ou 38 estudantes), esses três momentos ganharão denominações diversas (estudo preliminar, projeto conceitual, anteprojeto, projeto de obra, projeto executivo etc) além de poderem, como já comentado, usar as mais variadas metodologias para atingir os objetivos necessários. O que parece ser uma diretriz comum é que esse conjunto de ações não é linear, mas sim um conjunto de idas e voltas que gravitam, segundo alguns autores, em especial ,Lawson (2011), ao redor de quatro etapas: Análise, Síntese, Avaliação e Representação. Para Andrade et. al (2011) é na fase chamada Análise, que são identificados os principais elementos do projeto, bem como seus Figura 13 - Planta de apresentação para TFG. Fonte: Acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autora: Renata Freitas objetivos e restrições. Nessa etapa, são definidos e coletados dados como, por exemplo, os indicadores urbanos, custos, programa de necessidades, legislação pertinente, dentre outros. Durante a Análise, há somente a coleta de informações, mas percebe-se que os registros gráficos ocorrem com bastante frequência, embora esses, como pôde ser observado na pesquisa, tenham elevado grau de abstração. Os diagramas, esquemas e organogramas se enquadrariam nessa realidade. Essa fase tem pontos em comum com o que o próprio Lawson (2011, p.144) chama de "Primeira Noção” do processo criativo. Para o autor, a "primeira noção" consiste simplesmente no 39 reconhecimento do problema, que deveria estar definido desde o início, e no compromisso em resolvê-lo. É interessante observar que, na maioria dos casos observados em ateliês acadêmicos de projeto, a situação-problema é trazida pelo docente, mas isso não acontece no TFG. Para o seu projeto final de curso, o próprio aluno deve formular uma situação-problema, buscando e organizando todas as variáveis que ele mesmo terá que resolver. Especificamente, para os trabalhos investigados nesta pesquisa, essa formulação acontece na disciplina que antecede o projeto final, como será detalhado no Capítulo 4. Voltando a Andrade et. al (2011), após a coleta das informações e Figura 14 - Pranchas com cortes para TFG. Fonte: Acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autora: Renata Freitas determinação das metas, entra a fase chamada de Síntese, na qual a criatividade passa a ser protagonista. As possíveis soluções começam a surgir condicionadas pelas restrições e objetivos a serem alcançados. Dentro do processo criativo, Lawson (2011) acentua que, em seguida, aconteceria uma das mais importantes fases - a “Incubação”. Para o autor, nela ocorreria um período de afastamento e de redução do ritmo de busca pela soluções. Não é incomum, nas experiências de sala de aula e de orientação de TFG, testemunharmos alguns momentos durante os quais os alunos parecem não conseguir produzir e/ou oferecer respostas às demandas. Esses podem ser os seus momentos de “incubação”, embora se saiba que esses afastamentos podem acontecer por diversos outros motivos. 40 A etapa intitulada Avaliação vem em seguida e, como o próprio nome propõem, as decisões já tomadas na Síntese passam por uma análise crítica que pode levar o projetista a voltar para a etapa anterior. Todas essas etapas estão entrelaçadas e, como já mencionado, não tem necessariamente uma sequência linear. A qualquer momento, pode-se voltar a primeira com base em decisões e/ou percepções conseguidas nas demais etapas. […]enquanto a metodologia clássica de projeto parte da análise para a síntese (das necessidades à concepção do programa e à formulação espacial), o arquiteto, na prática, trabalha de maneira inversa: de uma síntese figurativa preliminar num primeiro momento, passando à análise programática e técnica e retornando então novamente à síntese na qual todos os dados preliminares se encontram articulados em uma solução espacial. (GOUVEIA, 1998, p.26). Como se nota, o caráter indefinido e aparentemente caótico do pensamento projetual leva os arquitetos à busca de soluções mediante um processo de erro e tentativa. Para Laseau (2001), Aqui cabe mencionar a natural resistência do acadêmico a os recursos gráficos são a melhor alternativa para o registro e a essa não linearidade, além da não obediência à sequência comunicação entre os agentes envolvidos em todo esse Análise > Síntese > Avaliação. Normalmente se observa processo. Esse registro gráfico acontece na fase chamada elevado grau de ansiedade no discente para atingir o que, na Representação. Os desenhos usados normalmente são os sua mente, seria a resolução final de seu projeto, além da pré diagramas, as plantas, os cortes, as fachadas e as perspectivas. definição imagética que muitas vezes antecede a própria coleta de dados. Não é incomum que alunos de TFG antecipem a imagem final de seu edifício, antes mesmo de chegarem a uma definição de qual será o terreno para sua locação. Gouveia (1998), por exemplo, ao mesmo tempo que critica a metodologia proposta por Lawson (2011) e defendida por Andrade et. al (2011), parece dar uma explicação ao que se observa nos alunos de TFG. Consoante a autora, Na verdade, essa etapa (Representação) se encontra em todas as demais. Durante, por exemplo, a coleta de dados, já pode haver registros gráficos, e isso parece indispensável. O desenho, seja de um um conjunto de retângulos que organiza um organograma, seja de uma perspectiva de um ambiente urbano, é a linguagem fundamental para o desenvolvimento de todas as etapas supracitadas. Barki (2003) confirma e deixa clara essa importância, quando acentua que, 41 […] o arquiteto, ao riscar e exibir para si mesmo um determinado contexto do mundo sensível e as possibilidades de intervenção ou transformação o faz através de imagens, gráficos e diagramas. Neste processo que constrói imagens, modela e materializa representações de recortes ou simplificações sintéticas do real, os registros gráficos acabam por ganhar vida própria. São estes pensamentos exteriorizados que, possibilitando lidar com uma grande quantidade de informação, recriam uma dada realidade, permitem sua manipulação e possibilitam a ‘construção' de novos conhecimentos. (P.40). mesmo outros momentos de criação. 2.2 Os agentes do projeto Em razão do que foi expresso até aqui, vê-se que o processo de projeto se configura como conjunto de ações de padronização difícil e de grande complexidade. Viu-se também que cabe ao arquiteto o domínio de áreas diversas do conhecimento, na medida em que é ele o gerenciador de todo o processo. As Percebemos, com base no exposto até aqui, que a Análise, a atuais demandas técnico-construtivas, econômicas e normativas Síntese, a Avaliação e a Representação acontecem durante enfrentadas pela Arquitetura solicitam dos escritórios grande as três etapas propostas anteriormente, mas talvez algumas preparo e maior descentralização das decisões. com maior frequência do que outras. Na concepção de um projeto, a coleta de dados (análise) e os momentos criativos (síntese) são mais presentes, mas há vários momentos de avaliação e, é claro, de representação. Na apresentação de um projeto, que pode ser considerada uma grande síntese, já que uma possível solução é explanada ao cliente, pode haver nova coleta de dados e até mesmo o retorno à fase anterior, a concepção. Mesmo durante a documentação, quando se espera que quase todos os problemas estejam resolvidos, o detalhamento de um projeto pode revelar novos problemas e provocar outra coleta de informações e até Benévolo (2007, p.55) descreve essas atuais demandas e cita exemplos de escritórios com grande número de arquitetos, destacando Skidmore Owings and Merrill, com 477, Foster Associeted, com 393, Jean Nouvel Architecture, com 105, Renzo Piano Building Workshop, com 103 e Zaha Hadid, com 70. Esses números talvez não reflitam a realidade brasileira, mas explicitam a necessidade cada vez maior da construção coletiva do projeto. O autor também frisa as novas habilidades necessárias, como, por exemplo, maior capacidade de agregação e de relacionamento entre os agentes internos e externos à empresa. 42 Nesse novo cenário, a especialização parece ser o caminho adotado. Na representação gráfica, foco deste estudo, não é raro encontrar escritórios que contratam ou terceirizam profissionais para tarefas bastante específicas, como, por exemplo, a preparação de imagens realistas para a apresentação de projetos. Há também profissionais mais habilidosos na representação gráfica analógica, que cuidam especificamente dos chamados desenhos conceituais. Até mesmo no meio acadêmico, no qual se espera que o discente Figura 15 - Perspectiva de apresentação. Fonte: Acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autor: Aline Guedes. tenha um cabedal mínimo de habilidades que permita a confecção de seus desenhos, observa-se a terceirização de algumas tarefas. No TFG, sabe-se que, por exemplo, nem todas as perspectivas digitais de acabamento fotorrealista são produzidas por seus autores, mas sim por colegas ou até por profissionais externos à Universidade. As figuras 15 e 16 mostram um caso em que a ex-discente, cujo trabalho foi orientado por nós, demonstra habilidade para o desenho conceitual de seu projeto, feito de forma analógica, mas contrata os serviços de terceiros para conseguir a imagem final fotorrealista. Não é pretensão desta pesquisa investigar a fundo as razões dessa nova realidade, mas sabe-se que, tanto na Arquitetura de uma forma Figura 16 - Perspectiva de apresentação. Fonte: Acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autor: Aline Guedes. geral quanto na representação gráfica, o aparecimento de novos recursos é mais rápido e mais complexo que a capacidade que 43 estudantes e profissionais têm de assimilá-los e daí a Apesar de hoje os instrumentos e técnicas serem muito diversos inevitável necessidade de reportar tarefas. percebe-se que algumas hierarquias entre os agentes envolvidos foram mantidas, enquanto outras mudaram. Sabe-se, No que diz respeito à representação gráfica, mesmo antes da inserção das ferramentas digitais, como assinala Arantes (2012, p.130), os instrumentos analógicos, e suas técnicas quase artesanais, acabavam por determinar práticas hierárquicas associadas a habilidades manuais e à distribuição de funções dentro dos escritórios. Dessa forma, a pessoa responsável pela captação de projetos e alguns outros poucos membros da equipe acabavam se segundo detalha Cardoso (2005), que as ferramentas computacionais ganharam recursos que hoje as situam na posição de auxiliares das decisões do projeto e também que o domínio desses meios não está exatamente nas mãos dos principais gerentes de projeto ou do dono do escritório. Dessa forma, apesar de sempre existir um agente principal, não cabe m mais somente a ele todas as decisões dos rumos que um projeto tomará. encarregando dos estudos iniciais e do gerenciamento do projeto. Paralelamente a isso, estagiários iniciantes ficavam, Mesmo com o uso de instrumentos digitais, ainda se verifica, por exemplo, responsáveis por desenhar margens e carimbos como retrata a pesquisa de Perrone et al. (2006), a adoção do de pranchas e desenhistas e arquitetos mais experientes croqui à mão livre [Fig. 17] como recurso de registro na cuidavam dos desenhos mais complexos como plantas, concepção do projeto e no diálogo entre as demais cortes e fachadas, mas o desenho final, a nanquim e personagens. Em um processo de erro e tentativa, os desenhos normografado, seria entregue a mãos mais cuidadosas de se sobrepõem numa dinâmica de diálogo reflexivo solitário ou algum desenhista ou técnico especializado nessa tarefa. em grupo. Durante esse diálogo, o desenho também é As ações de concepção, como acentua Lawson (2011, p.217), podem ser feitas por um ou mais agentes embora um deles acabe sendo o orientador geral dos rumos que o projeto toma. instrumento de registro, na medida em que, segundo Laseau (2001), materializa, até certo ponto, o que antes eram somente ideias "desenhadas" na mente do projetista. 44 O histórico de croquis, grafado normalmente em papel, explicita e subsidia a discussão entre as partes envolvidas ou a própria inquietação solitária do arquiteto. É importante frisar que os agentes participantes desse processo variarão de acordo com o momento. Acreditamos que a influência dos instrumentos digitais deixou a participação do desenho à mão livre prioritariamente nas fases iniciais do projeto e, mesmo nelas, as técnicas digitais também são marcantes, como poderá ser observado mais adiante. Dentro do TFG, foco deste estudo, podemos considerar que existem dois agentes principais (o aluno e o orientador) e vários secundários, que se relacionam de alguma forma em três momentos principais de diálogo/comunicação - a orientação, a apresentação para a banca de Qualificação do TFG e a apresentação para a banca final de defesa. Na primeira etapa, observa-se que o diálogo ocorre essencialmente Figura 17 -Croquis de estudo para TFG. Fonte: Acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autor: C/cero Eugênio de Mendonça entre o aluno e o professor orientador,. embora se saiba que também existem momentos de monólogo do estudante, assim como diálogo entre ele e seus pares e/ou com outros professores. Esta pesquisa não coletou dados suficientes para avaliar todos esses episódios de comunicação uma vez que, como será demonstrado no Capítulo 5, os desenhos coletados se referem muito mais aos momentos de 46 3 O DESENHO NO PROCESSO DE PROJETO Desenhar é uma atividade básica e necessária ao trabalho do arquiteto. Os problemas com os quais esses profissionais são confrontados, como já exposto, encontram nele o instrumento adequado para a busca de soluções. É também nessa manifestação gráfica que talvez se encontre uma das principais assinaturas e característica do seu trabalho. São recorrentes, por exemplo, entre aqueles que vislumbram adentrar cursos de graduação em Arquitetura e Urbanismo, as angústias e Figura 20 - Perspectiva de Oswald Bratke para Viaduto Boa Vista. Fonte: Oswald Bratke. A arte de bem projetar e construir. Pág. 30 questionamentos sobre as habilidades necessárias a esse ofício, entre elas, o “saber desenhar". O desenho não é privilégio dessa profissão e tampouco precisa, como deixa claro Edwards (2000), estar associado a talentos especiais. Ao contrário, essa linguagem encontra-se nas mais variadas áreas e se manifesta das mais diversas formas, como aponta Lapuerta (1997), ao indicar, por exemplo, o uso dos croquis no trabalho de um diretor de cinema ou de um novelista. Essa linguagem também faz parte do cotidiano e em situações menos corriqueiras. Pode se manifestar durante a explicação que uma pessoa faz a outra para indicar uma localização e, para isso, 47 esboça um mapa, como também pode ser encontrado no gesto do cirurgião que marca a área do corte na pele humana. Sobre essa pluralidade de aplicações, Massironi (1982) expressa que, […] de fato, esta técnica essencial e primária, baseada nos processos da visão, encontra meios e matizes para se adaptar às mais variadas exigências. Ela vai desde a ilustração das funções taxonômicas das ciências da natureza, às descrições expressivas da ilustração artística; da coordenação dos traçados na elaboração de um projeto técnico, à explicação num diagrama do complexo conjunto dos dados interrelacionados entre si; do porem-se sinais sistematicamente modificados, que caricaturando coisas e pessoas os tornam reconhecíveis de um filtro interpretativo, ao esquematizar-se a realeza nos brasões, nos ferretes, nos sinais; ao contribuir para tornar compreensível, porque traçada como um sinal, a hipótese teórica da interligação das partículas da matéria; até exprimir, talvez com uma garatuja, a projecção do mundo afetivo da criança. (P.17). Figura 21 - Perspectiva linear - Baldassare Peruzzi. Arquitetura - Sec. XIII AO XIX. Pág. 106 - 107 Fonte: Desenhos de Apesar do que expõem Betty Edwards e Manfredo Massironi, muitas vezes se atribui a habilidade de “saber desenhar" àqueles cuja destreza permite a produção de peças gráficas de elevada complexidade e alçado realismo [Fig. 20]. Essa herança, como bem exprime Gombrich (2007), é renascentista. Nessa época, as técnicas de perspectiva linear [Fig. 21], desenvolvidas por Alberti e Brunelleschi, abriram horizontes à representação gráfica. Artistas e arquitetos passaram a contar com um recurso geometricamente preciso para alcançar maiores níveis de realismo nas pinturas e 48 nos desenhos de Arquitetura. Não cabe aqui detalhar as outras repercussões dessa revolução nas artes gráficas, mas, entre outras coisas, se passou a atribuir o fazer artístico àqueles que tivessem a capacidade de representar, pela pintura ou pelo desenho e da forma mais fiel possível, aquilo que se observava no mundo real ou o que se pretendia criar. Ainda hoje persiste esse pensamento. Dessa forma, observa-se que estudantes de Arquitetura, e até mesmo profissionais menos afeitos ao desenho, têm dificuldades em ver qualidades gráficas em desenhos como, por exemplo, os mostrados na Figura 22. Eles tendem a desprezar esses registros e demonstram muitas vezes constrangimento em apresentá-los a terceiros. Na visão da maioria, o “bom desenho” estaria mais próximo do que é visto nas Figuras 23 e 24, ou seja, aqueles que tem arte-final mais refinada. Posto isso, é preciso deixar claro que o desenho típico das atividades do arquiteto tem peculiaridades que o diferenciam do desenho artístico, embora, em muitos casos, se utilize de Figura 22 - Croquis de estudo para Sesc Pompeia. Fonte: Lina Bo Bardi: sutis substâncias da arquitetura, pág. 236 alguns atributos desse último. 49 Não pretendemos aqui tratar das possíveis definições e características que identificam o desenho de Arquitetura. Dessa forma, será aceito como referência, primeiramente, o que coloca Perrone (1993) quando assinala que […] a definição do desenho como signo da arquitetura pressupõe uma condição de que este deve ser colimado como a finalidade de que, através dele, possam ser estudados os edifícios, desenvolvidos projetos e executados planos. (P.27) Em seguida, também parece adequado, dentro do escopo desta dissertação, o que assinala Gouveia (1998). Para a autora, Figura 23 - Perspectiva MASP. Fonte: Lina Bo Bardi: sutis substâncias da arquitetura, pág. 321 […] o desenho do arquiteto tem características próprias que não são pertinentes ao processo gráfico, apesar de expressas nele. O desenho é um instrumento, estritamente vinculado à concepção espacial, ao projeto a linguagem mais importante para o fazer do arquiteto (P.28) As visões dos autores deixam claras as especificidades inerentes ao desenho do arquiteto, mas é interessante observar que essas características, apesar de estarem explicitadas e estudadas hoje, já existem há bastante tempo. Consoante Artigas (2011), o uso do desenho como instrumento de reflexão, ação de projeto e registro Figura 24 - Perspectiva de Oswald Bratke para sua residência. Fonte: Oswald Bratke. A arte de bem projetar e construir. Pág. 47 documental, teve as primeiras manifestações, ainda que discretas, com o advento do pensamento humanista do Renascimento. Esse período, como se sabe, transformou fortemente o modo como o 50 homem enxergava o mundo e tentava entendê-lo [Fig.25 e 26]. Dentro desse novo contexto reflexivo, o autor assinala que, No Renascimento o desenho ganha cidadania. E se de um lado é risco, traçado, mediação para expressão de um plano a realizar, linguagem de uma técnica construtiva, de outro lado é desígnio, intenção, propósito, projeto humano no sentido de proposta do espírito. Um espírito que cria objetos novos e os introduz na vida real. (ARTIGAS, 2011, p. 112). As afirmações de Costa (1995) confirmam as impressões do Figura 25 - Croqui - São Pedro em Roma - Giuliano da Sangallo. Fonte: Desenhos de Arquitetura - Sec. XIII ao XIX. Pág. 44 arquiteto paulista, de Gouveia (1998) e de Perrone (1993), quando colocam o desenho desse profissional na posição intencional de expor ideias a serem concretizadas [Fig.27]. Nas palavras do Arquiteto, O rabisco não é nada, o risco – o traço – é tudo. O risco tem carga, é desenho com determinada intenção – é o “design”. É por isto que os antigos empregavam a palavra risco no sentido de “projeto”: o “risco para a capela de São Francisco”, por exemplo. Trêmulo ou firme, esta carga é o que importa. Portinari costumava dar como exemplo a assinatura, feita com esforço, pelo analfabeto (risco), com o simples fingimento de uma assinatura (rabisco). O arquiteto (pretendendo ser modesto) não deve jamais empregar a expressão “rabisco” e sim risco. Risco é desenho não só quando quer compreender ou significar, mas “fazer”, construir. (P.242). Figura 26 - Planta - São Pedro em Roma - Giuliano da Sangallo. Fonte: Desenhos de Arquitetura - Sec. XIII ao XIX. Pág. 45 Esse ato de riscar com intenção projetual talvez encontre nos 51 croquis o seu mais legítimo representante. Esse tipo de desenho, estudado a fundo por Lapuerta (1997), mas também por diversos autores, carrega o peso de ser o maior tradutor do momento mágico, descrito por Lawson (2011), no qual o arquiteto vislumbra as soluções para as mais diversas situações-problema, registrando-as por meio desse, segundo Florio (2010), embrionário, ambíguo e inacabado recurso gráfico [Fig. 27 e 28]. Por outro lado, Piñón (2006, p.142) alerta para o fato de que apesar de ser o croqui “essencial em arquitetura para definir a identidade do objeto” ele também pode afastar o projetista do objeto arquitetônico, na medida em que esse recurso parece denotar uma visão, nas palavras do autor, “sintética e totalizadora”. Também na sua visão, o croquis não tem utilidade se não se referir “a um sistema construtivo concreto e a uma estrutura organizativa Figura 27 - Croquis de estudo para laboratório de pesquisa em Cambridge CO Architects. Fonte: The Sketch Book. Pág. 155 precisa e consistente”. As colocações de Piñon (2006) parecem confirmar o que também já defendia Gouveia (1998). Para a autora, é preciso separar as habilidades referentes ao desenho daquelas necessárias ao ato projetual, que tem relação com a realidade construída. Um estudante, em início de carreira acadêmica, por mais que já tenha conhecimentos e treinamento para a confecção de peças gráficas, 52 não está ainda capacitado e instrumentado para desenvolver projeto de arquitetura, o que só se tornará viável pela integração do desenho com determinadas características básicas de projetação arquitetônica. (P.29). No outro extremo dessa hipótese, o que se observa com maior frequência são estudantes com algum embasamento teórico sobre Arquitetura, construção civil e áreas correlatas, mas com poucas habilidades para expressar suas ideias por via do desenho. É nesse sentido de uso do desenho que esta dissertação se insere, ou seja, o desenho como instrumento de reflexão, registro e apresentação do objeto a ser construído, ainda que em circunstância de simulação, característica básica da produção em ateliês acadêmicos de projeto arquitetônico, e também observada na disciplina Trabalho Final de Graduação, estudo de caso desta pesquisa. Figura 28 - Croquis de estudo para laboratório de pesquisa em Cambridge CO Architects. Fonte: The Sketch Book. Pág. 156 Esse capítulo exibirá um panorama geral da representação gráfica arquitetônica, objetivando primeiramente classificar os principais tipos de desenho aplicados ao projeto e como, pelas suas características, se encaixam nessa prática. Para tanto, serão expressos os seus conceitos geométricos e técnicas gráficas, cruzando e analisando essas informações com desenhos produzidos durante o processo de trabalho de alguns arquitetos. 53 Na sequência, serão feitas explanações a respeito dos tipos e Muitas das questões da representação gráfica aplicada à técnicas de desenho aplicadas ao projeto que envolvem Arquitetura passam primordialmente pelo desafio de grafar, em processos analógicos, digitais e híbridos. mídias bidimensionais, o espaço tridimensional a ser construído ou alterado. Isso pode acontecer de duas formas básicas: por 3.1 Os tipos de desenho: projeções ortográficas e meio das projeções ortogonais ou mediante as perspectivas. É perspectivas importante destacar o fato de que essa mídia tanto pode ser De maneira mais generalista, Massironi (1982, p.33) ressalta que existem somente dois sistemas de representação gráfica relativas a um observador. A primeira considera o plano representado perpendicular ao eixo óptico e a segunda considera os planos representados inclinados ao eixo óptico. Com amparo nessa classificação, podemos afirmar que, no universo do projeto arquitetônico e urbanístico, as plantas, os cortes e as fachadas são exemplos do primeiro caso, enquanto as perspectivas se encaixam no segundo. uma folha de papel na qual se esboça uma perspectiva, quanto uma tela de computador onde se visualiza um modelo em ambiente virtual tridimensional. Em ambos os casos, apesar da ilusão provocada pela perspectiva indicar para objetos de três dimensões, o anteparo continua bidimensional. Os sistemas de projeção ortogonal, derivados dos princípios matemáticos da Geometria plana e da Geometria descritiva, são os responsáveis por fornecer as bases para a redução das três dimensões do espaço em desenhos de duas dimensões. Sabemos que a formação gráfica do arquiteto tem como base Esse sistema, desenvolvido essencialmente para fins de a Geometria plana, espacial e descritiva. Dessas Ciências documentação de projetos, revela características que o fazem matemáticas derivam os produtos gráficos retrocitados, que mais ou menos adequado a diversas situações. Em Arquitetura, são, como nos lembra Zevi (2009), as principais formas essas projeções ortográficas têm nas plantas, cortes e usadas pelos arquitetos para representar o espaço e expor fachadas seus principais exemplos [Fig. 29]. Nas palavras de suas ideias. Ching e Juroszek, 54 os desenhos de vistas múltiplas compreendem os tipos de desenho conhecidos como plantas, elevações e cortes. Cada um deles é a projeção ortogonal de um aspecto particular de objetos ou construções. Estas vistas ortogonais são abstratas, no sentido de que não coincidem com a realidade óptica. Constituem uma forma conceitual de representação, baseada mais no que conhecemos a respeito de alguma coisa e menos no que é visto a partir de determinado ponto no espaço. Não há referência ao observador ou, se há, os olhos do espectador estão a uma distância infinitamente afastada. (2007, p.123). Zevi (2009) faz destaque semelhante, quando demarca que esses desenhos nada mais são do que abstrações contendo símbolos, elementos geométricos e informações alfanuméricas com propósitos bem definidos, mas incapazes de traduzir na sua totalidade o espaço real, verdadeiro protagonista da Arquitetura. Ainda sobre esses pontos, o autor acentua que […] quem quer se iniciar no estudo da arquitetura deve, antes de mais nada, compreender que uma planta pode ser abstratamente bela no papel; quatro fachadas podem parecer bem estudadas pelo equilíbrio dos cheios e dos vazios, dos relevos e das reentrâncias; o volume total do conjunto pode mesmo ser proporcionado, e no entanto o edifício pode resultar arquiteturalmente pobre. (ZEVI, 2009, p.18). As colocações de Zevi parecem reduzir o valor desses produtos gráficos como representantes da essência do espaço Figura 29 - Estudos de fachadas para Residência no Morumbi Fonte: Oswald Bratke. A arte de bem projetar e construir. Pág. 47 arquitetônico, embora ele mesmo também admita que “a planta 55 ainda é o único meio com que podemos julgar a estrutura completa de um obra arquitetônica” (P.30). Le Corbusier (2011, p.27), embora criticado por Zevi (2009), confirma em parte suas impressões sobre as plantas ao mesmo tempo que enaltece seus valores, quando exprime a ideia de que […] a planta está na base. Sem planta, não há nem grandeza de intenção e de expressão, nem ritmo, nem volume nem coerência. Sem planta há essa sensação insuportável ao homem, de informe, de indigência, de desordem, de arbitrário. A planta necessita a mais ativa imaginação. Necessita também a mais severa disciplina. A planta é a determinação do todo; é o momento decisivo. Uma planta não é tão bela para desenhar quanto o rosto de uma Madona; é uma austera abstração; não passa de uma algebrização árida ao olhar. De qualquer modo, o trabalho do matemático permanece uma das mais altas atividades do espírito humano. (P.27) Figura 30 - “Oasis" - Planta geral 1957. Fonte: Frank Lloyd Wright Drawings: Masterworks from the Frank Lloyd Wright Archives. Pág. 155 Hutchison (2012, p.90) destaca outras qualidades inerentes a esse tipo de desenho. Para o autor a planta é o desenho fundamental que, se cuidadosamente confeccionado, consegue transmitir tanto o conceito geral do projeto quanto as próprias habilidades do projetista. O autor também aponta o uso das sombras, cores e vegetação [Fig. 30] como elementos que podem valorizar o desenho e estimular a imaginação do cliente. Apesar de o autor se referir aos projetos de 56 paisagismo, admitimos que suas colocações se aplicam a lembrar como é defendido por Piñon (2006), a função final do outros tipos de projeto. desenho como tradutor de uma intenção tectônica. Nesse Ainda sobre as plantas, Ching e Juroszek (2007) também destacam suas propriedades singulares que possibilitam a leitura de edifícios de uma maneira impossível de acontecer no mundo real, uma vez que podem mostrar o resultado de um prédio cortado paralelamente ao plano do seu piso ou sentido, pode-se destacar a importância dos desenhos resultantes de secções, em especial, os cortes que, pelas suas características, são capazes de explicitar problemas e também apontar soluções técnico-construtivas, como também acredita Hutchison (2012). mesmo apresentarem a sua inserção em um lote. No mundo Embora os autores enfatizem as limitações desses elementos real, talvez uma visão aérea de um edifício, durante sua gráficos em denotarem somente duas dimensões de cada vez, obra, poderia se assemelhar ao que uma planta baixa é fica claro que cada tipo de desenho se adequa a finalidades capaz de mostrar, enquanto a mesma vista aérea do prédio bem distintas como também acreditam Fraser e Henmi (1994, finalizado se assemelharia a uma planta de locação. Além da p.26). evidente dificuldade de conseguir essas vistas, elas também não teriam a principal propriedade das plantas, ou seja, não seriam projeções bidimensionais, mas sim perspectivas. As colocações dos autores supracitados, com exceção de Hutchison (2012), certamente não levaram em consideração as possibilidades de representação que os instrumentos Os autores também observam as potencialidades dos cortes eletrônicos trouxeram a partir da década de 1990, como desenhos capazes de dissecar as nuanças especialmente no que se refere às modelagens tridimensionais construtivas de um edifício, assim como as fachadas como em ambiente virtual. Elas, em especial as modelagens reveladoras dos aspectos formais e textuais dos seus paramétricas, possibilitam a geração automática de plantas, acabamentos e esquadrias; em ambos os casos, também de cortes e fachadas a partir da construção virtual dos edifícios, maneiras impossíveis de acontecer no mundo real. Aqui vale embora se observe a maior incidência desse recurso nas fases 57 de produção das pranchas técnicas para obra (documentação do projeto). As facilidades das ferramentas digitais também possibilitam a geração rápida de algumas variações desses desenhos, como, por exemplo, as plantas e cortes em perspectiva mostradas nas Figuras 31 e 32. Vale anotar que esses tipos de representação não são produtos da era Figura 31 - Corte em perspectiva confeccionado no SketchUp. Projeto e desenho: Marcos Bandeira Fonte: Acervo do Autor informatizada da representação gráfica arquitetônica. Elas já faziam parte do elenco de peças gráficas de muitos escritórios antes mesm o d o s u r g i m e n t o d e q u a l q u e r r e c u r s o computacional, como mostra a Figura 33. Apesar disso, seja sob a forma de croquis de estudo ou de desenhos mais precisos, as plantas, os cortes e as elevações, persistem como legítimos tradutores do espaço e parecem continuar como os preferidos dos agentes envolvidos nas ações de reflexão e desenvolvimento do projeto de Arquitetura. Fraser e Henmi (1994, p.25-26) dão uma pista das razões que levam a essa preferência. Eles assinalam que os desenhos em projeção ortográfica são mais fáceis de gerar, quando comparados, por exemplo, às perspectivas cônicas ou às Figura 32 - "Plantas" em perspectiva confeccionado no SketchUp. Projeto e desenho: Marcos Bandeira. Fonte: Acervo do Autor axonométricas. Ainda segundo os autores, na medida que esse tipo de representação sempre isola uma das três dimensões 59 Figura 35 - Estudo de Frank Lloyd Wright para o pavimento superior da Residência Goto Shimpei Fonte: Frank Lloyd Wright Drawings: Masterworks from the Frank Lloyd Wright Archives. Pag. 29 Figura 36 - Estudo de Frank Lloyd Wright para o pavimento térreo da Residência Goto Shimpei. Fonte: Frank Lloyd Wright Drawings: Masterworks from the Frank Lloyd Wright Archives. Pág. 29 de forma a enriquecer o conjunto gráfico ou a destacar algum elemento construtivo, como pode ser visto, por exemplo, no auxiliares, que tanto poderiam servir ao processo gráfico contorno da coberta na Figura 36. como à reflexão projetual. As plantas também mostram elementos que parecem pertencer Se, mesmo nos dias atuais, o uso das representações em às fases de análise, síntese e avaliação do projeto, já projeções horizontal e vertical parecem ser bastante comentados no Capítulo 2. Os textos, algumas vezes, apontam frequentes durante os estudos de um projeto, o mesmo para o elemento gráfico principal e às vezes o margeiam. É não se pode afirmar em relação às projeções possível enxergar linhas sobrepostas, linhas-guias e malhas axonométricas e às perspectivas. Ching e Juroszek (1999) 60 classificam as projeções ortogonais, nomeando-as como de confecção, um lugar intermediário nos desenhos de projeção “múltipla visão”, das projeções axonométricas que são ortográfica e perspectivas cônicas. Ao mesmo tempo em que representações gráficas de “única visão”. conseguem preservar alguns aspectos técnicos e escalas aplicadas a determinados desenhos, elas também possuem a Essa classificação, apesar de simplória em sua nomenclatura, capacidade de representar objetos com a ilusão das três revela aspectos importantes desses tipos de representação. As dimensões. plantas, cortes e fachadas, apesar de serem capazes de mostrar múltiplas visões de um mesmo objeto, só revelarão a Para a confecção dessas perspectivas, como observam Ching sua totalidade se lidas em conjunto, ao passo que as e Juroszek (2007, p.185), as plantas, cortes e fachadas podem, perspectivas isométricas, dimétricas e trimétricas podem por exemplo, ser desenhadas com as mesmas características descrever um edifício de forma bem mais independente e mais gráficas e escalas e, com origem nelas, perspectivas cavaleiras descritiva, como confirmam Fraser e Henmi (1994) quando podem ser confeccionadas bastando que linhas paralelas assinalam que sejam traçadas dando a ilusão de profundidade. Esse tipo de representação era relativamente fácil de ser feita e observa-se […] an orthographic drawing can describe horizontal relationships (the plan) or vertical relationships (elevation end sections), but none shows horizontal and vertical conditions. Orthogonal projections of plans, sections, or elevations reveal three dimensions in combination, but their constructions require a viewer to meld two or more drawings together in the mind in order to grasp completely the threed i m e n s i o n a l c o m p l e x i t i e s . H o w e v e r, t h e axonometric depicts length and width in relationship to height in a single drawing while retaining the constructional convenience of parallel drawings. (P.46) As axonométricas talvez ocupem, em termos de dificuldade de que, antes do advento dos programas de modelagem tridimensional, apareciam como boa alternativa para apresentação de projetos. Nas palavras dos autores, Por causa de sua natureza pictórica e da facilidade de construção, vistas de linhas paralelas são apropriadas para visualizar uma ideia em três dimensões, no início do processo de projetação. São capazes de fundir plantas, elevações e cortes e ilustrar padrões e composições do espaço tridimensional. Podem ser cortadas ou se tornar transparentes, para que se veja seu interior, através de suas partes, ou ser expandidas, para ilustrar relações espaciais 61 entre as partes do todo. Podem até servir como substitutivo razoável das vistas de pássaro. (CHING e JUROSZEK, 2007, p. 173). Os exemplos mostrados nas Figuras 37 e 38, aplicados respectivamente aos projetos de Mario Botta e Tadao Ando, ilustram tanto a relativa facilidade de confecção das perspectiva como também sua capacidade didática. Enquanto a primeira representa um edifício a partir de uma posição abaixo do solo, a segunda é capaz de mostrar o encaixe das várias camadas do prédio ao longo de uma encosta. É interessante observar a força que esse tipo de representação ainda tem hoje, mesmo com o uso dos expedientes computacionais. Programas de modelagem tridimensional, como o AutoCAD e o Sketchup, apesar de estarem pré-configurados Figura 37 - Axonométricas para uma residência em Stabio, Suíça. Fonte: Mario Botta - Architecture 1960-1985, pág 206 para representarem as perspectivas em projeção cônica, possuem opções de apresentar os modelos em perspectivas de projeção paralela. No primeiro, essa opção é chamada de Isometric View e, no segundo, de Parallel Projection. Se as perspectivas de projeção paralela possuem esse caráter mais didático e relativa facilidade de confecção, a perspectiva de projeção cônica, criação renascentista, é a que, em meio bidimensional, consegue se aproximar ao máximo da realidade 62 observada pelo homem e a de maior complexidade gráfica. Fraser e Henmi (1994, p.59) destacam essas características quando assinalam que, enquanto as primeiras são orientadas ao objeto, a segunda é subordinada ao observador, ou seja, seu resultado gráfico depende da simulação de um ponto de visada. Os autores também destacam o fato de que, em razão das suas propriedades gráficas, capazes de simular a sensação de “estar no local”, esses desenhos são muito usados para a apresentação a terceiros. Os autores também citam o exemplo do escritório de Frank L. Wright [Fig. 39] que dava outra função a esse tipo de representação. Nas palavras dos autores, […] the office of Frank Lloyd Wright used perspective drawings as a key element of their working methods because of its capability to depict an immediate sense of viewing from a specific spot. They rarely used threedimensional models, instead preferring to use twodimensional model of plan, section end elevation supplemented by the spatiality of the perspective. Carefully choosing views and drawings angles to analyze critical aspects of their designs, they selected a variety of viewpoints to focus on issues such as mass, encloses spaces, relationships of elements or placement in the land. (FRASER e HENMI, 1994, p.63). Esse relato parece também traduzir o pensamento adotado pelo arquiteto Oswlad Bratke quando do uso das perspectivas como Figura 38 - Axonométrica da residência Rokko. Fonte: Tadao Ando: complete works, pág. 135 recurso de estudo e de tomada de decisões dos seus projetos. Segawa e Dourado (2012), ao mesmo tempo que ressaltam as 63 peculiaridades da formação do Arquiteto paulista ligadas ao desenho e à arte, destaca suas habilidades na confecção das perspectivas de seus projetos. O autor frisa que o uso delas, a exemplo do que também faz o Arquiteto ianque, não se limitava à apresentação para clientes, como pode ser percebido pelo seu relato. Figura 39 - Estudo de Frank Lloyd Wright em perspectiva para a Residência H. J. Hullman Fonte: Frank Lloyd Wright Drawings: Masterworks from the Frank Lloyd Wright Archives. Pág. 16 As perspectivas não vão ser empregadas por Bratke simplesmente como ferramenta didática voltada aos clientes. Tampouco vão ser consideradas como dos mais significativos instrumentos de vendas de projetos, como fazem freqüentemente os empreendedores imobiliários de hoje, ao encomendar artimanhas gráficas que iludem, sugerem deliberadamente distorções, expondo aos leigos imagens de edifícios, cuja especialidade é completamente diferente daquele que, na realidade, vão adquirir. A partir desse período, tornam-se recursos de estudo tão importantes em seu trabalho quanto os demais desenhos baseados em projeções ortogonais que compõem o planejamento arquitetônico. Na etapa preliminar de elaboração projetual, Bratke utiliza em regra uma série de perspectivas enquanto expediente fundamental para aferir e depurar a arquitetura que está sendo estudada, adotando como livro de cabaceira o Nuevo Trazado de perspectiva para arquitectos, de Reile. (P. 299) A habilidade artística de Bratke, aliada à preocupação do uso do desenho como instrumento de estudo, podem ser sintetizadas nas perspectivas mostradas na Figura 41. A arteFigura 40 - Perspectiva da residência de Oswald Bratke - 1951. Fonte: Oswald Bratke. A arte de bem projetar e construir. Pág. 47 final refinada aparece em duas imagens que podiam ser perfeitamente usadas como desenhos de apresentação, mas 64 são descritas, também por Segawa e Dourado (2012, p.109) como “estudos de composição da face frontal”. É certo que esses dois exemplos são exceções à regra, quando se trata da aplicação das perspectivas cônicas nos projetos de Arquitetura, mas eles são também reveladores de como os vários tipos de desenhos podem ser usados para diversas finalidades, mesmo que suas peculiaridades gráficas sejam mais ou menos adequadas a determinadas situações. Essa gama de possibilidade se mostra ainda mais diversa com as ferramentas da computação gráfica aplicada. Para Hutchison (2012), o uso dos recursos digitais para a confecção das perspectivas tornou-se, pelas evidentes facilidades, o método-padrão. Se parece inegável que a produção desse tipo de desenho, principalmente para a apresentação de projetos, ganhou novas possibilidades com as Figura 41 - Perspectivas de estudo para residência no Morumbi. Fonte: Oswald Bratke. A arte de bem projetar e construir. Pág. 109 ferramentas computacionais, o uso delas, de forma analógica, para estudos e concepção de projetos, ainda é pertinente. Segundo o autor, a confecção manual de perspectivas traz mais benefícios ao processo quando comparada aos métodos eletrônicos [Fig. 42]. De acordo com seu pensamento, 65 […] as vantagens da capacidade de se produzir uma perspectiva à mão livre não deveriam ser subestimadas. A dinâmica intelectual de assistir a uma ideia surgir rapidamente em três dimensões e em vistas realistas costuma ser uma forma rápida de se compreender o conceito de um projeto em sua fase inicial, quando suas bases, ainda em formação, são frágeis e podem ser mal interpretadas. (HUTCHISON, 2012, p.118). No meio acadêmico, observa-se alguma rejeição dos discentes ao desenho das perspectivas de forma analógica. As dificuldades de confecção e, é claro, o fácil acesso aos recursos computacionais, causam esse afastamento. Apesar disso, o levantamento de dados desta pesquisa revelou que as perspectivas, mesmo que tecnicamente mal Figura 42 - Perspectiva de estudo para o MASP. Fonte: Lina Bo Bardi: sutis substâncias da arquitetura, pág. 280 confeccionadas, são o segundo tipo de desenho mais usado nos trabalhos avaliados perdendo somente para as plantas. Chama a atenção o fato de que Lapuerta (1997, p.38) tenha feito a mesma constatação na pesquisa para seu livro. Os detalhes dos dados obtidos para esta dissertação serão abordados mais a frente, no Capítulo 5. 3.2 As técnicas: a analógica, a digital e a híbrida Com o advento das ferramentas digitais, na década de 1990, houve a primeira quebra de paradigma referente aos modos de produção gráfica dentro da criação e desenvolvimento de 66 projetos arquitetônicos. Esse rompimento aconteceu de forma seriam transformados em plantas, cortes, elevações e gradual e, embora tenha ocorrido uma troca mais visível nos perspectivas exatas. instrumentos utilizados, essa substituição não foi tão evidente quando observados as técnicas de desenho e os processos de Sob o ponto de vista gráfico, as técnicas de desenho não concepção de projetos. diferiam muito das usadas em prancheta. Após a confecção das plantas, eram produzidos os cortes e as fachadas pelo Sobre isso, Cardoso (2005, p.108) propõe a existência de três fases. A primeira é caracterizada pela manutenção das tecnologias tradicionais e do uso das ferramentas CAD (Computer Aided Design) como instrumento de desenho, mas, mesmo sistema de projeção e marcação de pontos por linhas de chamada, técnica proveniente da Geometria descritiva, e detalhadas por diversos tratados de desenho arquitetônico, dentre eles, os de Montenegro (1995) e Yee (2009). basicamente, como substituto das pranchetas. No primeiro momento observamos que, malgrado as evidentes vantagens Durante a confecção das peças gráficas nos sistemas CAD, que os sistemas de desenho digital vetorial ofereciam, não tentava-se deixar o desenho impresso com as mesmas houve mudanças tão visíveis em algumas fases do processo características essenciais do seu equivalente feito a caneta de projeto, notadamente no momento da concepção. nanquim e em papel vegetal. Alguns recursos possibilitavam, inclusive, que os encontros de segmentos de reta tivessem o Os estudos iniciais continuavam, como confirma Arantes trespasso característico do desenho de Arquitetura. (2012), nas mãos de um arquiteto ou de uma pequena equipe que, normalmente, por via de croquis ou de maquetes, cuidava A primeira fase, como também lembra Arantes (2012), não da solução do problema arquitetônico e dava as diretrizes explorava os instrumentos digitais no processo de reflexão do gerais do projeto. Depois desse momento caberia aos projeto, mas somente como prancheta digital. A principal desenhistas, estagiários e/ou técnicos, então por via dos finalidade era a produção dos desenhos técnico-arquitetônicos. computadores, o refinamento dos desenhos de estudo que Os estudos por meio de croquis, normalmente, feitos pelo 67 principal responsável pelo projeto, eram o principal meio de investigação, cabendo aos sistemas digitais somente o refino gráfico do que se decidia em prancheta. A figura 43 mostra um exemplo de montagem de cortes e fachadas por um sistema CAD. O posicionamento dos desenhos para a marcação de pontos, mesmo que em um ambiente virtual, é similar ao adotado nos processos analógicos e a técnica gráfica é praticamente a mesma derivada da Geometria de Gaspar Monge. Voltando a Cardoso (2005), na segunda fase desse amadurecimento, já se perceberia a influência dos instrumentos digitais (modelagem tridimensional e simulações) nas decisões de projeto. Essa interferência se deu inicialmente com ênfase nas questões formais, mas evoluiu para outros parâmetros, na medida em que as próprias ferramentas se desenvolviam. O uso dos recursos de modelagem tridimensional virtual possibilitaram que os edifícios fossem apreendidos em sua totalidade e não somente como uma projeção (ortogonal ou perspectiva) de algumas de suas faces em mídia bidimensional. Figura 43 - Cortes e Fachadas desenhadas em software CAD. Autoria do projeto e do desenho: Marcos Bandeira Fonte: Acervo do Autor Apesar disso, algumas técnicas do desenho analógico se 69 algumas semelhanças com a maneira como as perspectivas eram montadas antes do surgimento dos sistemas 3D. Sabe-se que, na impossibilidade de desenhar muitos detalhes usando instrumentos analógicos, o perspectivista usava os elementos básicos da Geometria (ponto, linha, planos e volumes) para passar a mensagem desejada, valendo-se, mesmo que de forma intuitiva, de processos ligados muito mais à percepção, Figura 46 - Perspectiva para reforma de casa de campo - Autoria do projeto e do desenho: Marcos Bandeira. Fonte: Acervo do Autor como bem detalha Arnheim (1998), do que a simples observação. Dessa forma, uma sequência de linhas paralelas poderia ser lida como um revestimento, enquanto a textura do lápis de cor na superfície do papel poderia ser interpretada como, por exemplo, a rugosidade de uma pedra. Na Figura 46 pode-se ver uma perspectiva arte-finalizada à mão. A leitura dessa imagem como um todo não reflete o que está realmente registrado no papel, assim como, na imagem digital [Fig. 45], o resultado final não traduz o que realmente foi modelado. O mesmo pode ser observado nos desenhos técnicos. Conquanto as novas possibilidades e a elevada precisão dos programas, os desenhos continuavam sendo feitos no nível dos símbolos. As portas, por exemplo, continuavam sendo representadas por um arco e um retângulo, mesmo que o 70 sistema CAD permitisse a representação de forramentos, concepção do projeto. O uso desses instrumentos, na maioria alizares, dobradiças, soleiras etc. Os detalhes, quando dos casos, limitou-se à representação gráfica para fins de desenhados, adotavam a mesma técnica da prancheta, ou apresentação e/ou de documentação. Acreditamos que a seja, a ampliação do desenho era feita separadamente e ausência de disciplinas específicas sobre esses assuntos, referenciada no desenho principal. como será visto no Capítulo 4, além das práticas adotadas nos estágios (vale lembrar que grande parte dos escritórios, A terceira fase caracterizava-se, ainda segundo Cardoso em Fortaleza, ainda não adotou sistemas BIM ou processos (2005), pela acentuada participação das técnicas de simulação de projeto assistido por computador) sejam razões para que que agora chegariam a induzir e/ou a viabilizar decisões isso aconteça. projetuais. É interessante lembrar que a maior participação dos sistemas eletrônicos descentralizou a responsabilidade da Tomando como base a classificação de Cardoso (2005) e o reflexão e das decisões finais do projeto, embora, como que foi exposto até aqui, cremos que hoje se configure a também nos recorda Arantes (2012), ainda existisse uma quarta fase da inserção das ferramentas digitais. Nela, hierarquia bem definida nesse processo, cabendo aos líderes notamos um cenário por demais diverso sob o ponto de vista do projeto as principais diretrizes. do ato projetual e da representação gráfica aplicada, na qual Vale registrar, ainda, o fato de que, apesar de hoje observar-se a convergência para o uso dos sistemas que usam modelagem parametrizada e também da grande presença de várias ferramentas digitais, as técnicas da “prancheta digital” ainda é permitido a estudantes, professores e profissionais da área escolher entre várias opções de instrumentos e técnicas, tanto digitais quanto analógicas, para subsidiar tanto as decisões projetuais quanto a sua representação. são bastante usadas. No material coletado para esta Como já comentado, o advento da tecnologia BIM, as dissertação, observamos poucos trabalhos que usaram impressoras 3D e os novos recursos de realidade aumentada programas BIM ou sistemas computacionais para auxiliar a são alguns exemplos das mais recentes atrações entre as 71 ferramentas capazes de subsidiar o processo de projeto. abrigam o tradicional dentro do digital. Dentre seus vários Apesar da grande quantidade de opções e recursos recursos e aplicativos, observamos, em diversos exemplos, a tecnológicos nenhum deles foi capaz de extinguir algumas volta do gesto manual tanto para a caligrafia quanto para o tecnologias analógicas, nem parece haver indicação de que desenho à mão livre. Aplicativos como, por exemplo, o isso ocorra. Observa-se a manutenção de técnicas tradicionais Notability e o Notes, estimulam que as anotações utilizem o ou até mesmo o resgate de alguns procedimentos anteriores à desenho [Fig. 47] e a escrita manual. Vários outros programas, informatização da Arquitetura. mesmo que sem relação com desenho ou escrita, se valem, para seu funcionamento, das ações com o dedo em suas Righi e Celani (2011) alertam para os perigos que o uso exclusivo das ferramentas computacionais podem causar, principalmente aos estudantes. Na opinião dos autores, As ferramentas digitais utilizadas atualmente não devem competir com os meios tradicionais, mas unir-se a ele para uma integração entre tecnologias digitais e analógicas. São muitos os usos dessas ferramentas no processo criativo, e a exploração formal possibilitada por digitalizadores 3D, máquinas de prototipagem rápida e impressoras a laser, por exemplo, estimula os alunos a buscar inovações. Entretanto, repete-se que, mesmo diante de tantas possibilidades tecnológicas, muitos estudantes e arquitetos sentem necessidade e utilizam meios tradicionais como os croquis manuais. (P.489) interfaces, fazendo com que o usuário “desenhe" na tela, nem que sejam elementos simplórios como arcos, segmentos de retas, círculos e outros. Na área gráfica, as telas sensíveis ao toque (tablets LCD), associadas às canetas stylus, possibilitaram o desenvolvimento de aplicativos que permitem ao usuário desenhar à mão livre e pintar de forma bastante natural. Alguns modelos de canetas para esses dispositivos possuem, inclusive, sensibilidade à pressão. Tanto as ferramentas contidas nos aplicativos quanto os equipamentos e acessórios procuram aproximar o usuário o Sobre isso, é interessante observar, por exemplo, a grande máximo possível da experiência vivida nas mídias analógicas. evolução dos equipamentos sensíveis ao toque, O Procreate [Fig. 48], da Savage Interactive, e o SketchBook principalmente os aparelhos celulares e tablets e como eles Pro, da Autodesk, são bons exemplos disso. 72 Figura 47 - Interface do Notability com "croquis digitais". Fonte: Acervo do Autor A Adobe, por exemplo, oferece um pacote completo de aplicativos de criação para tablets e aparelhos celulares (Adobe Illustrator Line, Adobe Ideas, Adobe Shape, Adobe Figura 48 - Interface do Procreate com "croquis digitais". Projeto e desenho: Marcos Bandeira. Fonte: Acervo do Autor francesa além de “gabaritos" de polígonos e elipses. Além disso, as canetas, lápis e marcadores digitais tentam simular os atributos gráficos de seus equivalentes físicos. Brush e Adobe Sketch), todos eles pensados para o desenho à mão livre. Nesse grupo, merece destaque especial o Adobe Esse fenômeno não acontece somente nos tablets. A versão Illustrator Line. Esse pequeno aplicativo possui recursos para computador do Sketchbook Pro, por exemplo, também tanto de desenho à mão livre quanto de desenho possui os mesmos tipos de recursos (réguas, curvas francesas instrumentado [Fig. 49]. Entre as suas ferramentas podem e gabaritos), embora fique evidente que a interface dos ser encontrados os equivalentes à régua paralela, à curva dispositivos móveis seja mais convidativa para esse tipo de 73 aplicação. No casos dos desktops e laptops, quase sempre será necessário o uso de acessórios, como as mesas gráficas (tablets opacos) [Fig. 50]. Vale ressaltar que também já é possível observar uma convergência para a transformação das telas desses computadores em telas sensíveis ao toque, o que, mais uma vez, estimularia o gesto manual como recurso de interação com esses equipamentos. Pelo exposto, notamos uma explícita reprodução, em meio digital, de instrumentos e técnicas usadas em meio analógico. O que talvez fique mais evidente nesses exemplos é a integração entre a ação analógica e o meio Figura 49 - Interface do Adobe Line com "croquis digitais” e “régua paralela". Fonte: Acervo do Autor digital. Dessa forma, nas mãos de um profissional ou de um estudante sem qualquer tipo de conhecimento e treinamento em desenho (principalmente à mão livre), tais recursos seriam, no mínimo, subutilizados. É importante exprimir que existe a equivocada associação entre o desenho manual e o uso de papel e lápis. Tanto o gesto manual em um tablet LCD, quanto um esboço feito com uma varinha na areia molhada são ações analógicas que requerem um mínimo de coordenação e habilidades. É notório, porém, que em ambos Figura 50 - Tablet opaca da Wacom. Fonte: Acervo do Autor os casos os instrumentos são coadjuvantes, enquanto a 74 capacidade de confeccionar desenhos é a atriz principal. A mistura entre ações analógicas e digitais enseja, segundo alguns autores, entre eles Perrone, Lima e Florio (2006) e Souza (2009), o que se denomina desenho híbrido. Esse tipo de técnica adota, em algum momento do processo, algum procedimento tradicional associado a recursos computacionais. Ela mostra-se muito útil para suprir a ausência de algumas Figura 51 - Perspectiva feita a partir de base volumétrica do SketchUp. Autor: Marcos Bandeira Fonte: Acervo do Autor habilidades e/ou para minimizar trabalho. É bastante comum, por exemplo, o uso de desenhos digitais [Fig. 51 e 52] como base para estudos à mão livre ou a digitalização de desenhos manuais para arte-finalização digital [Fig. 53]. Se, pelo exposto até aqui, parece certo que o desenho manual sobrevive mesmo diante dos recursos digitais, o mesmo não se pode afirmar em relação a algumas técnicas associadas ao desenho analógico. É cada vez mais raro, por exemplo, e Hutchison (2012) sugere o mesmo, que as práticas de montagem de perspectivas por técnicas consagradas (Método Mongeano, Pontos Medidores etc) cada vez mais perdem Figura 52 - Perspectiva feita a partir de base volumétrica do SketchUp. Autor: Marcos Bandeira Fonte: Acervo do Autor espaço para as modelagens em ambiente 3D virtuais. Noutro exemplo, percebemos que o uso da modelagem parametrizada tende a cada vez mais diminuir a utilização das técnicas 75 tradicionais de confecção de cortes e fachadas. Leggitt (2004), que além, de arquiteto, é exímio desenhista, mostra possíveis aplicações da técnica híbrida apontando programas de desenho digital (principalmente AutoCAD e SketchUp) como recursos de apoio à confecção dos desenhos à mão livre. O autor indica, por meio dos instrumentos eletrônicos, atalhos que minimizam e automatizam tarefas repetitivas e/ou de solução geométrica difícil, além de conferir Figura 53 - Perspectiva à nanquim colorida no computador. Projeto: Napoleão Ferreira e Marcos Bandeira - Perspectiva: Marcos Bandeira Fonte: Acervo do Autor mais liberdade para edições e uso de cores, texturas e sombras [Fig. 51, 52 e 53]. Em decorrência do que foi expresso até aqui, podemos visualizar um panorama que, embora ainda mal definido, traz a pluralidade de ferramentas e técnicas como sua grande atração. Nele, arquitetos e estudantes podem explorar tanto os recursos digitais quanto os analógicos no que cada um deles tem de mais adequado a cada necessidade. Embora se observe uma evidente tendência à rejeição das técnicas mais tradicionais, também é notória a sua permanência e não somente por teimosia e/ou resistência de alguns profissionais, mas sim por elas possuírem qualidades e características que as tornam singulares na execução de certas tarefas. 76 3.3 As finalidades: o desenho de concepção e de apresentação tarefa simples ou talvez até mesmo seria incorreto como parece sugerir Florio (2010). Nos dizeres do autor, […] em arquitetura, esboços, desenhos técnicos, maquetes físicas e modelos digitais podem servir a diferentes funções cognitivas em cada fase de projeto. Portanto, se os meios de representações podem contribuir ou impedir processos cognitivos, a estratégia de uso e sua alternância em cada etapa do projeto são fundamentais, pois um sistema de representação usado em momento inadequado impedirá o sucesso do processo criativo.( P. 374). De acordo com o exposto até aqui, podemos concluir que os processos de projetação, dentro do âmbito da Arquitetura e Urbanismo, estão longe de atingir algum grau de padronização e/ou de unanimidade entre os seus agentes. De forma geral, o mesmo se pode asserir em relação à representação gráfica aplicada durante esses processos. Dentro de toda essa diversidade, entretanto, pode-se identificar Para esta dissertação, como já detalhado, foi reconhecida, de e classificar os registros gráficos quanto à sua finalidade. maneira generalista e simplificada, a existência de três Dessa forma, serão avaliadas algumas classificações momentos (ou fases) que abraçariam as diversas etapas do sugeridas por alguns autores, tentando identificar quais seriam processo de projeto: os momentos da concepção, da aquelas que melhor se enquadrariam na investigação proposta apresentação e da documentação. Enquanto o primeiro por esta dissertação. tende a ser solitário, embora possa acontecer em grupo, os demais sempre teriam a participação de outros agentes. Quanto à sua finalidade, Frasier e Henmi (1994) assinalam que os registros gráficos na Arquitetura podem basicamente ser Percebemos, também, pelo já exposto, que a coleção de classificados em: Desenhos de Referência (Referential tipos de desenhos e suas técnicas pode ser aplicada das Drawings); Diagramas (Diagrams); Desenhos de Estudo mais diversas formas e que, embora possamos tentar sugerir (Design Drawings); Desenhos de Apresentação (Presentation que algum tipo de desenho (ou técnica) seja mais ou menos Drawings) e Desenhos Visionários (Visionary Drawings). adequado a algumas das fases supracitadas, isso não é No âmbito do universo que esta pesquisa se propôs investigar, 77 será adotada a sugestão de Perrone (1993) que parece se Finalidade Comunicativa, Desenhos de Finalidade Cognitiva e adequar às fases propostas por nós, além de possuir algumas Desenhos de Finalidade Prospectiva. Este último também não interseções com o que sugerem Frasier e Henmi (1994). O entra no elenco de preocupações deste ensaio. autor classifica o desenho de Arquitetura em duas características principais – o desenho Representativo/ Sugestivo e o desenho Descritivo/Operativo. Perrone (1993), Fraser e Henmi (1994), além de Ching (1990), parecem ter pontos em comum em algumas das classificações propostas. O desenho [Fig. 54] cuja principal finalidade é a O primeiro englobaria aqueles registros gráficos que têm a especulação, a investigação, ou seja, a procura e o teste de intenção de subsidiar a reflexão e a apresentação de ideias. ideias, é identificado e categorizado pelos autores, embora Essa classificação se encaixaria bem nas fases de concepção com nomes diferentes. Enquadram-se aqui os Desenhos de e apresentação, propostas anteriormente. No outro grupo, se Estudo Gnosiológico/Metodológico do primeiro autor, cuja enquadraria o que essa pesquisa sugeriu chamar de fase de definição tem vários pontos em comum com os Desenhos de documentação. Os desenhos descritivos/operativos teriam Estudo (Design Drawings) do segundo. Já Ching (1990) como função principal registrar e indicar as informações observa esse tipo de intenção no que ele chama de Desenhos necessárias à materialização do objeto arquitetônico e/ou de Especulação, expressão também adotada mais tarde por urbanístico. Como é perceptível, o segundo tipo estaria fora do Perrone (2008) e evidenciada no seu estudo de caso sobre um escopo desta dissertação. projeto acadêmico liderado pelo arquiteto Luis Telles. Ainda segundo o autor, dentro do grupo de desenhos com Dentro do conjunto de Desenhos de Finalidade Comunicativa, função Representativa/Sugestiva (foco desse trabalho), Perrone (1993) detalha que existiriam três subcategorias – podem-se ainda encontrar, de acordo com suas características, elas: os Desenhos de Apresentação, os Desenhos de funções e finalidades, os seguintes tipos de desenhos: Memoriais ou Explicativos e os Desenhos para Venda. Nesta Desenhos de Estudo Gnosiológico/Metodológico, Desenhos de dissertação, não serão abordados detalhes sobre os dois 78 últimos. A respeito do primeiro, o autor exprime que […] os desenhos de apresentação são executados para expor um projeto, para mostrar sua concepção. Destinam-se a indicar aos empreendedores, aos clientes ou, no caso dos concursos, aos jurados, as características principais de um projeto, descrevendo-o através de plantas, cortes e elevações, e ilustrando-o através de perspectivas ou desenhos de fachadas. (PERRONE, 1993, p.30). Lapuerta (1997) oferece outra visão sobre o que é um desenho de apresentação. Para ele, todo registro gráfico que participe de um diálogo pode ser considerado pertencente a essa categoria já que, como é óbvio perceber, no diálogo, alguém troca ideias com outra pessoa e, se isso ocorre com o uso de desenhos, estes seriam apresentados. Apesar disso, a definição de Perrone (1993) parece se enquadrar melhor nas práticas observadas nos escritórios e no meio acadêmico, além de encontrar abrigo no que também defendem Frasier e Henmi (1994). Aqui vale observar que, especificamente entre os estudantes, é percebido algum pudor Figura 54 - Croquis de estudo para laboratório de pesquisa em Cambridge - CO Architects. Fonte: The Sketch Book. Pág. 158 na exposição dos desenhos considerados, por eles, como de estudo. É recorrente, durante as orientações em ateliê de projeto e nos TFGs, o fato de que os alunos relutem em mostrar a produção de croquis e, quando o fazem, muitas 79 vezes a “apresentação” é precedida por algum pedido de simplesmente por elementos geométricos básicos como desculpas pela aparência tosca dos desenhos e/ou escassez círculos, quadriláteros, setas e riscos, além de textos. Sua de informações. Os números e detalhes que serão mostrados função primordial é investigar aspectos funcionais, relação no Capítulo 5 reforçam essa impressão, assim como a entre espaços e circulações. O que parece ponto comum para colocação de Perrone (2008) quando o autor diz que os autores citados é que os Diagramas são desenhos que se […] os estudantes iniciantes sentem-se incapazes de executar, por meio de seus incipientes desenhos, tão cristalinos croquis. A iniciativa de qualquer traço fica limitada à espera da visualização de uma bem delineada forma. A arquitetura torna-se restrita a perfis, sem materiais, texturas ou sombras. O desenho perde seu caráter investigativo e tenta enquadrar-se num estilo limpo que pouco auxilia nos caminhos da elaboração de um projeto, muito menos incita o estudante a desenvolver sua capacidade e linguagem. (P.45). Dentro dos desenhos cuja finalidade principal é o estudo, destacam-se os Diagramas, tipo de desenho detalhado e discutido por Frasier e Henmi (1994), Ching (1990) e Perrone (2008). O caráter reducionista e objetivo, além dos elementos gráficos mais "enxutos" e abstratos, parecem ser algumas características identificadas em comum pelos autores apresentam bastante adequados para as ações especulativas do processo de projeto, especialmente nos momentos iniciais (análise e síntese). Apesar disso, de forma geral parece certo que não há como indicar a exata finalidade na qual um determinado tipo/técnica de desenho se enquadraria. Qualquer tipo de desenho (diagramas, plantas, cortes, elevações, perspectivas) produzido por qualquer instrumento ou técnica (analógica, digital ou híbrida) pode ser um legítimo representante tanto de um momento de concepção como da indicação de um detalhe construtivo. Sendo o desenho analógico um dos focos principais desta dissertação, tentaremos, a seguir, ilustrar essa afirmação por meio do exemplo dos croquis. retrocitados. Além deles, Reid (2002, p.52) também aponta as qualidades desse tipo de manifestação gráfica. Na descrição A princípio pareceria óbvio indicá-los como os mais adequados do autor, que os nomeia como Diagramas Conceituais, essas às ações de concepção na Arquitetura. Florio (2010) reforça peças gráficas, bastante abstratas, podem ser compostas essa impressão, quando relata que 80 […] o croqui de concepção é um tipo especial de desenho inicial preparatório, embrionário, ambíguo e inacabado. Esse tipo especial de desenho é algo íntimo, testemunho de um mundo secreto, em que nem mesmo o próprio autor pode reconhecer todos os seus significados. Expressivos, esses croquis têm um grande poder de síntese e de estímulo à imaginação. O croqui é uma forma particularmente poderosa de pensar, que permite expressar, sem escala nem instrumentos, múltiplas ideias, sem clareza nem definição. Esse vaguear do pensamento é registrado por esse tipo particular de desenho inicial, sem pretensões de acerto. É importante notar como essas tentativas pulsantes auxiliam na procura de algo sem ainda que se tenha um objetivo claro e preciso. (P.379) Em relação à sua natureza gráfica, Lapuerta (1997, p.39), de modo mais detalhado, identifica as seguintes variáveis nos croquis: a figura, a textura, as cores, a luz e as sombras. A figura está diretamente relacionada com o elemento linear. Esse elemento gráfico fundamental, apesar de não existir no mundo real, é o preferido de arquitetos e estudantes na hora de definir as formas dos edifícios e espaços projetados. Somando-se às linhas, tanto a textura quanto as cores, entram para complementar os desenhos e sugerir informações que podem ser referentes a materiais de acabamentos, a aspectos Além de Florio (2010), as vantagens desse tipo de desenho funcionais, a marcação de setores, dentre outros. Em raros para estudos também são apontadas por diversos autores, casos verifica-se a aplicação desses recursos para fins destacando Lapuerta (1997), que investigou a fundo as suas realistas. As sombras e luzes podem reforçar os cheios e características gráficas e aplicações, e Laseau (2001) que, vazios das formas, bem como enaltecer algum aspecto mais além das questões gráficas, também estudou as relações relevante do projeto [Fig. 55]. desse tipo de desenho com o pensamento do projetista, baseando-se, por vezes, nos estudos de Lawson (2011). É importante frisar a noção de que, apesar da aparente complexidade que envolve esses recursos gráficos, em virtude Entre os vários atributos apontados pelos autores, destacam- da velocidade e espontaneidade com que eles são feitos, isso se, por exemplo, a espontaneidade, a rapidez para sua não se reflete necessariamente, em produtos finamente produção, a facilidade de acesso ao material de desenho e o acabados. Nas palavras do autor, "a rapidez com que são descompromisso técnico, além da relação direta entre a mente feitos os croquis explica a aparência tosca e do criador e o registro no papel. expressiva."(LAPUERTA, 1997, p. 28) 81 gráficas, elas podem transcender a própria função inicial de servir como registro de estudos. Nesses casos, o acabamento gráfico conferido aos croquis aufere outras características que os situa como desenhos de apresentação. Em outro cenário, mesmo denotando as mesmas características gráficas retrocitadas, um desenho rascunhado durante uma visita a uma obra pode perfeitamente ser usado como informação básica para a construção e/ou correção de um determinado detalhe do edifício. Estaria, então, esse croqui categorizado como desenho descritivo/sugestivo? O relato aqui exemplificado por meio do croqui pode perfeitamente ser refeito usando um desenho digital. Dessa Figura 55 - Croquis de estudo para Jardim Botânico - Atelier Dreiseitl. Fonte: The Sketch Book. Pág. 164 forma, tanto um croqui quanto um modelo 3D do SketchUp Como vemos, tais características podem colocar os croquis apresentação e de documentação. Como podemos notar, não como fortes candidatos a principal instrumento gráfico de há impedimentos nem padrões determinados durante os concepção de um projeto e, pelo exposto, isso parece processos de projeto e em como as ferramentas gráficas os inegável. É fácil perceber, entretanto, que esses desenhos subsidiam. O que se constata é a diversidade tanto na prática podem assumir outras funções dentro do processo, como, por profissional quanto na acadêmica. Os capítulos 4 e 5 exemplo, a de apresentação. Sobre isso Lapuerta (1997) procurarão expressar algumas evidências do que foi colocado relata que, dependendo do tratamento dado a essas peças até aqui, em especial, nos Trabalhos Finais de Graduação. poderiam assumir os papéis de desenho de concepção, de 82 4 O TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO NA UNIFOR registro das diretrizes gerais da graduação em Arquitetura e Urbanismo da instituição em estudo. Também serão Acreditamos que o objeto de estudo desta pesquisa teve parte avaliados, dentro do primeiro, os projetos de ensino de cada de suas características e processos influenciados tanto pelas disciplina em especial daquelas ligadas ao desenho e ao informações e práticas externas à Universidade quanto pela projeto. Os documentos usados para essa avaliação formação do aluno ao longo do curso. Nesse sentido, este encontram-se disponíveis na biblioteca da instituição e/ou na capítulo pretende fazer breve apanhado histórico sobre a coordenação do curso. formação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR, dando atenção especial a como o ensino do Desenho se dava e Sabe-se que as práticas de sala de aula não são reflexo como acontece hoje. somente do que está explicitado nestes documentos, mas é O objetivo é fazer uma avaliação crítica dos dois projetos pedagógicos do curso, focando mais especificamente nos eixos intitulados Expressão e Representação e Projeto, presentes em ambos. Será analisado o modo como os assuntos relativos ao desenho eram ou são tratados e como são abordados nas práticas de projeto e, dessa forma, traçar uma linha de investigação até a disciplina Trabalho Final de Graduação de tal forma a identificar as pertinências e ausências dos conteúdos nas práticas discentes. importante frisar que são eles os responsáveis pelo registro das definições feitas pelo colegiado do curso quanto aos conteúdos e objetivos a serem atingidos nas disciplinas, além de serem, em qualquer instituição de ensino, os norteadores das ações didáticas a serem adotadas pelo corpo docente. Dessa forma cremos que suas análises sejam relevantes neste estudo, uma vez que poderão apontar indicadores de convergência e/ou divergência entre o que é ensinado sobre desenho aplicado ao projeto durante o curso de graduação e o que é a realidade observada nos trabalhos finais de Para tanto será feita a análise do documento chamado Projeto Pedagógico do Curso, uma vez que é ele o responsável pelo graduação dos discentes. 83 4.1 O primeiro projeto pedagógico do curso (ppc) – análise crítica (Associação das Empresas Construtoras do Ceará), SINDUSCON (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará), CREA-CE (Conselho Regional de Engenharia e A graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Agronomia), ASPA (Associação dos Profissionais de Arquitetura) Fortaleza teve sua implantação iniciada na década de 1990 e, e IAB-Ce (Instituto dos Arquitetos do Brasil – Departamento como já mencionado, iniciou suas atividades no segundo Ceará). semestre de 1998, ofertando 50 vagas em seu primeiro exame vestibular. Nessa época, como também já comentado, o Outro elemento norteador foram os dados que revelavam a estado do Ceará só dispunha de um curso de graduação carência de oferta de vagas no Estado. De acordo com nessa área vinculado à Universidade Federal do Ceará (UFC), informações do PPC, o Ceará contribuía na época com somente que oferecia 20 vagas semestrais para ingresso por concurso 1,39% de todas as vagas disponíveis no Brasil. Percebia-se uma vestibular. demanda reprimida que podia ser comprovada pelos dados de procura ao exame vestibular do curso da UFC. O concurso A necessidade de implementação do novo curso, segundo os autores do PPC, baseava-se na premissa de ofertar um programa curricular mais próximo às necessidades observadas no mercado de trabalho, o que já revelava uma tentativa de diferenciação em relação às práticas mais acadêmicas adotadas pelo curso da Instituição Pública. O documento também defendia a ideia de que a montagem do novo curso se baseava em pesquisas realizadas em diversas dessa instituição requeria que o candidato fosse submetido a uma prova de habilidades específicas relacionadas ao desenho. Caso fosse aprovado nessa prova, o aluno poderia participar das outras fases para o curso de Arquitetura e Urbanismo. Dessa forma, o número de inscritos para esse teste específico, hoje não mais aplicado, era um forte indicador da procura pelo curso da UFC. Sobre ele o PPC do curso da Unifor comentava que instituições de ensino brasileiras e estrangeiras, além de entidades relacionadas com a profissão como ASSECON […] no início de 1998, ano da implantação do curso da UNIFOR, foram inscritos para o teste de aptidão 84 350 candidatos para as únicas vinte vagas ofertadas pela UFC, ou seja, somente 5,7% dos a) Realizar o estudo e o planejamento físico candidatos interessados lograram aprovação, local, urbano e regional, seus serviços afins e revelando uma demanda reprimida. (PPC, p.01). correlatos; b) Elaborar orçamentos; meia mais vagas de que o curso da UFC, a instituição privada c) Executar e fiscalizar obras e serviços; viria a ser a que formaria mais arquitetos no Estado, podendo d) Montar, operar, prover a manutenção e Percebemos que, à medida em que oferecia duas vezes e assim se tornar força de influência nas práticas controle de qualidade de instalações e profissionais ,assim como de ensino e, dentre elas, as do equipamentos em edificações conjuntos desenho. arquitetônicos; Mesmo não sendo objetivo desta pesquisa analisar a fundo e) Projetar e supervisionar a execução de todas as influências que os dados retrocitados tiveram na mobiliário, peças de arte gráfica e seus formulação da primeira matriz curricular, pode-se observar que congêneres; e o curso da UNIFOR usou como referência diversas entidades ligadas à tecnologia da construção. Isso repercutiu na oferta de f) Pesquisar, ensaiar, experimentar, ensinar e várias disciplinas e na definição do perfil profissional do Responsabilizar-se pelo planejamento, projeto arquiteto egresso que, segundo o primeiro PPC do curso, e construção de espaços edificáveis e deveria apresentar habilidades e conhecimentos para urbanos. a) Conceber, planejar e projetar espaços a Embora, como nos afirma Perrone (1993), não se possa serem edificados para fins residenciais, descartar a necessidade da representação gráfica como comerciais e industriais; habilidade básica para exercer as atividades de nenhum 85 desses itens, destacam-se aqui os verbos “conceber”, de ensino/aprendizagem das matérias e uma fragilidade quanto “planejar” e “projetar”, assim como as letras a, b, f e h como ao rebatimento dessas nas práticas de projeto arquitetônico e determinantes na construção de um eixo de ensino ligado ao urbanístico, como demonstramos a seguir. desenho aplicado à Arquitetura e ao Urbanismo. As Tabelas 1 e 2 mostram o primeiro quadro de oferta de O primeiro PPC destacava Projeto como um de seus dois disciplinas, seus respectivos prerrequisitos e cargas horárias. eixos principais, sendo Urbanismo e Planejamento Urbano o Merece observar que, no segundo ano letivo, o aluno cursava a segundo. Além deles, mais seis eixos auxiliares faziam parte primeira disciplina de projeto, chamada Projeto Arquitetônico I. da estrutura curricular: Fundamentação, Expressão e Nesse momento, esperava-se que o discente já tivesse Representação; Teoria e História; Meio Ambiente e Conforto contemplado a maior parte dos conteúdos de desenho Ambiental; Tecnologia da Construção e Administração e aplicados à prática projetual. É importante comentar que, nessa Gerência. O eixo auxiliar denominado Expressão e época, um crédito correspondia a 15 horas de aula e que, Representação, um dos focos de estudo deste capítulo, segundo dados da Vice-Reitoria de Graduação, essa carga foi envolvia as seguintes disciplinas: Desenho de Observação, alterada para 18 horas em 2007 pela Portaria número 10, do Desenho Básico, Geometria Descritiva, Técnicas de Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão (CEPE) da UNIFOR, Representação e Expressão, Plástica e Computação Gráfica. para adequar a carga horária total de suas disciplinas. Tomando como referência os conceitos e as premissas de No primeiro semestre há somente uma disciplina diretamente aprendizado do desenho aplicado à Arquitetura apresentados relacionada com o desenho e o seu foco, como o próprio nome e discutidos no Capítulo 3 e confrontando os conteúdos e já explicita, é o desenho de observação. A leitura de sua sequência de disciplinas ligadas ao eixo de Expressão e ementa e conteúdo parece evidenciar o objetivo de desenvolver Representação, assim como seus prerrequisitos, notamos habilidades de representação gráfica do espaço existente algumas incoerências no que diz respeito ao processo de (percepção) e idealizado (criação) principalmente por via do 86 Tabela 2: Matriz curricular 26.1 Tabela 1: Matriz curricular 26.1 SEMESTRE - 03 SEMESTRE - 01 Cód Disciplinas h/aula créditos N503 INFORMATICA 108 6 T504 DESENHO DE OBSERVACAO 72 4 H377 HISTORIA E HISTORIOGRAFIA 72 4 H603 PSICOLOGIA DO ESPACO 72 4 N163 ELEMENTOS DE CALCULO 108 6 TOTAL 432 24 pré-requisitos Cód Disciplinas h/aula créditos pré-requisitos H328 FUNDAMENTOS DE SOCIOLOGIA 72 4 T503 GEOMETRIA DESCRITIVA 72 4 T509 T807 TECNICAS DE REPRESENTACAO 72 4 N503 T504 T805 ERGONOMIA 72 4 T803 PLASTICA 72 4 T504 T825 T826 COMUNICACAO VISUAL II 108 6 T825 TOTAL 468 26 SEMESTRE - 02 SEMESTRE - 04 Cód Disciplinas h/aula créditos H379 ANTROPOLOGIA FILOSOFICA 72 4 N220 FISICA DOS FENOMENOS 108 6 T509 DESENHO BASICO 72 4 T825 COMUNICACAO VISUAL I 72 4 H312 METODOLOGIA CIENTIFICA 72 4 T801 INTRODUCAO AO PLANEJAMENTO 72 4 468 26 TOTAL pré-requisitos T504 Fonte: Acervo do autor com suporte nos dados da Vice-Reitoria de Graduação Cód Disciplinas T811 PROJETO ARQUITETONICO I T833 h/aula créditos 108 6 HISTORIA URBANA E DA ARTE I 72 4 T512 TOPOGRAFIA II 72 4 T567 MATERIAIS DE CONSTRUCAO 72 4 T563 CIENCIAS DO AMBIENTE 72 4 N138 ESTATISTICA BASICA 72 4 468 26 TOTAL pré-requisitos T803 T805 T807 T503 Fonte: Acervo do autor com suporte nos dados da Vice-Reitoria de Graduação 87 aprendizado e desenho das perspectivas. curiosamente, ela não pertencia ao eixo auxiliar denominado Embora as práticas de sala de aula pudessem ter alguma Expressão e Representação. Essa disciplina, formatada em um abordagem envolvendo o desenho técnico, não há em seu período no qual já se observavam as características do terceiro projeto de ensino nada relacionado aos sistemas de projeção momento de uso dos recursos computacionais descrito por que, como discutido antes, são essenciais à prática projetual. Cardoso (2005) e já comentado, exibia vários tópicos que Isso nos leva a refletir sobre como as atividades de criação, refletiam as mudanças observadas nos instrumentos de usando somente perspectivas, podiam ter rebatimento na representação gráfica associadas ao computador, mas com realidade do projeto de Arquitetura e Urbanismo. Não alguns hiatos didáticos. questionamos aqui o valor de qualquer ação que envolva o estímulo à criatividade, mas observamos a desvinculação, pelo menos pelo que é registrado no documento analisado, entre do desenho em relação ao projeto. Com um total de 90 horas de aula, seu projeto de ensino dedicava 40 horas a assuntos genéricos da Microinformática, abrangendo, inclusive, a manipulação de editores de texto e planilhas eletrônicas. Vale lembrar que essa abordagem pode Ainda nessa disciplina, vale destacar a presença de uma parecer estranha nessa década de 2010, mas era bastante unidade de capítulo cujo assunto é o uso de croquis na obra comum naquela, época uma vez que os conhecimentos básicos de arte, na Arquitetura e no Urbanismo, embora não fique claro da computação não eram inerentes a todo o corpo discente. se esse tipo de desenho era trabalhado em atividades práticas ou somente por meio de apresentação de casos. A disciplina tinha uma carga de quatro créditos, correspondendo a aproximadamente 16,70% do total do semestre. As 50 horas restantes eram orientadas ao uso dos sistemas gráficos em aplicações que iam desde o desenho vetorial bidimensional (CAD – Computer Aided Design, CAE – Computer Aided Engineering e CAM – Computer Aided A outra matéria que trazia algum assunto relacionado ao Manufacturing), passando pela modelagem tridimensional e desenho, mas digital, chamava-se Informática e, chegando até as animações e simulações realistas. 88 Aqui podemos observar a primeira contradição desta proposta como já comentado, precisaria desses assuntos. curricular. O conteúdo dessa disciplina envolvia uma gama por demais complexa de assuntos, além da manipulação de aplicativos computacionais que precisariam de fundamentação em outras áreas do conhecimento, tais como: desenho técnico, desenho geométrico e desenho arquitetônico. Em seu projeto de ensino, as Unidades IX e X, por exemplo, abordavam atividades de desenho vetorial bidimensional e tridimensional que, como já discutido, deveriam usar o desenho geométrico e descritivo como fundamento. Das 750 horas de aula ministradas até o segundo semestre 60 eram relativas à disciplina Desenho de Observação, embora ela, como já comentado, não tivesse ligação com práticas de projeto. Na disciplina Informática, 50 horas tinham foco na representação gráfica e alguma ligação com a aplicação em projeto, mas grande carência de conteúdos associados. Outras 60 horas de aulas eram dedicadas ao desenho geométrico em disciplina específica, mas também sem qualquer relação com o edifício. Em um cenário no qual o Esses tópicos (desenho geométrico e descritivo), como mostra aluno que ingressava não era submetido a testes de a Tabela 1, só seriam apresentados ao corpo discente no habilidade específica, como acontecia na instituição federal e segundo e terceiro semestres, durante as disciplinas chamadas que, em sua maioria, não trazia do ensino médio qualquer Desenho Básico e Geometria Descritiva. A primeira, única no prática de representação gráfica, constatamos que somente segundo semestre ligada ao eixo auxiliar Expressão e 22,66% do primeiro ano letivo eram focados no ensino do Representação, também continha capítulos ligados ao desenho desenho e com pouca ou nenhuma relação com as práticas de assistido por computador. Eles propunham a apresentação das projeto. ferramentas básicas dos sistemas CADD (Computer Aided Design and Drafting), com o intuito de aplicá-las na construção das formas geométricas e resolução de problemas correlatos. Esse conteúdo específico não parece coerente com a proposta observada na disciplina Informática, do semestre anterior, que, No terceiro semestre, encontravam-se duas disciplinas que pertenciam ao eixo auxiliar em estudo, entretanto, aqui podemos notar alguns pontos contraditórios. A disciplina responsável pelo estudo do desenho arquitetônico, chamada 89 Técnicas de Representação, estava locada para ser cursada Pelo exposto, percebemos que Técnicas de Representação, em conjunto com Geometria Descritiva. Ocorre que as disciplina que supostamente prepararia o aluno para enfrentar as definições de Ching e Juroszek (1999) e de Montenegro práticas de concepção e representação do projeto, tinha uma (1995), já abordadas e aceitas por nós, deixam claro que o grande lacuna didática. No seu projeto de ensino estava desenho de Arquitetura é uma variante do desenho técnico distribuído, em suas 60 horas de aula, todo o conteúdo relativo ao projetivo que por sua vez, é uma aplicação prática da desenho arquitetônico que deveria ser aprendido, tanto em Geometria de Gaspar Monge. Sendo assim, vislumbramos prancheta quanto em mídias digitais, mesmo sem ter a Geometria aqui um lapso de conhecimento na medida que os dois descritiva como prerrequisito. Fica evidente que ela era a matéria assuntos eram vistos simultaneamente. com maior foco no projeto, embora com os problemas já apontados. A análise dos seus projetos de ensino também revela alguns pontos problemáticos. Em Geometria Descritiva, apesar de o De maneira geral, com exceção da disciplina Desenho de assunto “Representação em épura dos poliedros e sólidos de Observação, que, vale lembrar, trazia um só tópico relacionado ao revolução” aparecer na sua ementa, ele não faz parte da sua uso de croquis, as demais disciplinas do eixo Expressão e coleção de capítulos. Isso revela mais uma incoerência, na Representação focavam no ensino do desenho geométrico e/ou medida em que os objetos representados no desenho técnico instrumental, tanto em prancheta quanto por meio de arquitetônico nada mais são do que sólidos complexos. O dispositivos digitais. Em nenhum momento, observamos em seus ensino dessa matéria parece dar mais atenção à projetos de ensino qualquer menção ao uso de desenhos à mão representação em projeção do ponto, da reta e do plano, livre ou a fazeres ligados ao processo criativo. sem no entanto rebater esses conhecimentos na edificação A falta de referência ao uso do croquis será também notada nas ou nas práticas de projeto, revelando um estudo da ementas e conteúdos de todas as disciplinas de projeto Geometria em um sentido mais abstrato e menos prático. arquitetônico e urbanístico. Embora isso não comprove a 90 inexistência do seu uso durante o desenvolvimento dos contraditórias em termos de assuntos e sequência didática, projetos, talvez evidencie que esse recurso fosse relegado ao além de uma carga horária aparentemente deficiente. Também segundo plano por parte do corpo docente. fica explícito, pelo menos nos projetos de ensino, que as É interessante observar como o uso dos sistemas CAD se encontra nas três disciplinas de fundamentação gráfica. Acreditamos que a forte influência das já consolidadas ferramentas computacionais da época, assim como das facilidades de acesso e uso de dispositivos eletrônicos, tenham levado o curso a adotar essa postura. disciplinas não propunham o rebatimento do conteúdo na realidade de projeto. Esse quadro, como será visto mais à frente, é objeto de grandes alterações no segundo projeto pedagógico do curso e em particular, no eixo Expressão e Representação. 4.2 O segundo projeto pedagógico do curso (ppc) – análise crítica Até o aluno alcançar seu primeiro projeto arquitetônico, ele passava por uma carga horária total de 1.140 horas de aulas, sendo que 330 horas (28,94% do total) eram sobre o ensino do desenho em várias de suas vertentes. Dessas 330, apenas 60 horas tinham relação direta com o projeto, ou seja, somente 5,26% do total. Segundo informações da Vice-Reitoria de Graduação, o segundo projeto pedagógico do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR foi aprovado em julho de 2004. Pelo protocolo do sistema acadêmico, a nova matriz foi numerada como a 26.2 (Curso 26, matriz 2). As novas disciplinas Essa breve demonstração indicou algumas fragilidades do começaram a ser ofertadas no semestre 2004.2, de forma eixo de Expressão e Representação no contexto do curso gradual. Sendo assim, as duas matrizes (26.1 e 26.2) foram ofertado na época de sua criação. Até o quarto semestre, mantidas paralelamente durante algum tempo. Hoje não existem quando teoricamente o aluno deveria ter sido apresentado mais alunos matriculados na matriz 26.1. Embora nenhum dos aos conteúdos e instrumentos necessários para pensar e trabalhos coletados e avaliados nesta pesquisa sejam de representar o projeto, notam-se abordagens irregulares e discentes formados nesse antigo currículo, é preciso esclarecer 91 que alguns dos formados em 2009 podem ter cursado algumas criticamente sua área, propondo mudanças e corrigindo as disciplinas da primeira matriz curricular. incoerências mencionadas no item 4.1. As Tabelas 3 e 4 É importante registrar o fato de que o primeiro PPC e a primeira mostram a configuração geral do novo currículo. matriz de disciplinas foram formatados por um pequeno grupo Como comentado antes, os trabalhos selecionados nesta de professores (com graduação em Arquitetura e Urbanismo) já pesquisa são de autoria de alunos formados nessa matriz. pertencentes ao quadro docente do curso de Engenharia Civil Dessa forma, será feita uma análise crítica mais detalhada da instituição. Já o segundo projeto e a segunda matriz tiveram das ementas, conteúdos e prerrequisitos das disciplinas intensa participação dos professores do próprio curso, sendo pertencentes aos dois eixos considerados de maior relevância delegada aos especialistas de cada área a revisão das e/ou com maior influência no resultado final dos trabalhos disciplinas. Acreditamos que a maior experiência de cada grupo finais de graduação – Expressão e Representação e Projeto. nos assuntos assim como as vivências dentro de sala de aula, acabaram sendo determinantes para a construção de uma matriz mais coerente, embora ainda com alguns problemas. Os eixos estruturantes, como já informado, se mantiveram na revisão da matriz 26.1, embora não mais apareça a separação entre Norteadores e Auxiliares observada no A nova reforma curricular não alterou os eixos básicos nem os primeiro projeto do curso. Nessa nova proposta, as disciplinas auxiliares citados no item 4.1. O processo de sua revisão se são agrupadas nos seguintes grupos. Fundamentação; deu inicialmente pela reunião de grupos formados pelos Expressão e Representação; Teoria e História; Meio Ambiente professores que lecionavam as matérias de cada eixo. Cada e Conforto Ambiental; Projeto; Urbanismo e Planejamento grupo trazia a proposta de alteração para discussão com o Urbano; Tecnologia da Construção e Administração e colegiado, ajustes e inserção na matriz completa. Esse Gerência. procedimento trouxe grandes melhorias ao projeto do curso, na medida em que os especialistas tiveram condições de avaliar Percebemos, de uma forma geral, que a separação em 92 Tabela 3: Matriz curricular 26.2 Tabela 4: Matriz curricular 26.2 SEMESTRE - 03 SEMESTRE - 01 Cód Disciplinas H812 PSICOLOGIA AMBIENTAL 72 4 T376 INTRODUÇÃO AO DESENHO 72 4 T377 DESENHO AUX. POR COMPUTADOR I 72 4 T395 DESENHO DE OBSERVACAO T396 T503 h/aula créditos 108 6 ELEMENTOS DE CALCULO 72 4 GEOMETRIA DESCRITIVA 72 4 468 26 pré-requisitos SEMESTRE - 02 Cód Disciplinas H706 ELABORACAO DO TRAB CIENTIFICO 36 H813 ESTETICA E HISTORIA DA ARTE 72 4 T378 DESENHO AUX. POR COMPUTADOR II 72 4 T397 PLASTICA T825 T852 T884 h/aula créditos Cód Disciplinas N372 FUNDAMENTOS DE ESTATISTICA T353 PROJETO ARQUITETONICO I T567 h/aula créditos pré-requisitos 36 2 108 6 T397 MATERIAIS DE CONSTRUCAO 72 4 T396 T805 ERGONOMIA 72 4 H812 T886 TECNICAS DE REPRESENTACAO II 72 4 T884 T888 ANALISE TOPOGRAFICA 72 4 T378 T889 URBANISMO E MEIO AMBIENTE 72 4 T852 504 28 pré-requisitos T852 T884 T884 T503 2 SEMESTRE - 04 108 6 COMUNICACAO VISUAL I 72 4 INTR A ARQUITETURA E URBANISMO 72 4 TECNICAS DE REPRESENTACAO I 72 504 4 Cód Disciplinas H189 SOCIOLOGIA URBANA T354 h/aula créditos pré-requisitos 72 4 T889 PROJETO ARQUITETONICO II 108 6 T353 T355 ANALISE ESTRUTURAL 108 6 T567 T393 INSTALACOES PREDIAIS I 72 4 T886 T877 TEORIA E HISTORIA DA ARQ URB I 72 4 H813 T891 CONFORTO AMBIENTAL I 108 6 T353 540 30 T377 T886 T888 T395 H812 T376 T395 T377 T503 28 Fonte: Acervo do autor com suporte em dados da Vice-Reitoria de Graduação Fonte: Acervo do autor com suporte em dados da Vice-Reitoria de Graduação 93 grupos de matérias por eixos já induz a um rompimento de 4.2.1 O eixo expressão e representação e o eixo projeto assuntos que deveriam ser correlatos, porém, apesar dessa aparente segregação, observamos na tabela geral de disciplinas uma mistura de assuntos em cada semestre e a amarração por prerrequisitos. Em nenhum momento , entretanto, se explicita, nem na grade curricular nem no texto do PPC 26.2, alguma referência à interdisciplinaridade. Os eixos que envolvem as disciplinas que tratam da representação gráfica e das práticas de projeto denotaram significativas mudanças na matriz 26.2. Observamos o aparecimento de outras disciplinas e um aumento da carga horária total em ambas as áreas do conhecimento. Como já detalhado, a sequência das disciplinas da primeira matriz, assim Os assuntos tratados nas disciplinas do eixo Expressão e como seus prerrequisitos, denotavam alguns hiatos didáticos e Representação e no eixo Projeto, como será detalhado a incoerências. Diversos pontos foram corrigidos na nova seguir, mantêm tímida relação e intersecção de conteúdos. proposta embora alguns ainda merecessem mais atenção. Quando a atenção se dá especificamente no trato do desenho dentro das práticas de concepção e reflexão do projeto, foco deste estudo, a fragilidade se revela ainda maior, como se discutirá na sequência. Segundo o texto do novo PPC, as disciplinas que compunham o eixo denominado Expressão e Representação, seriam: Desenho de Observação (DO), Introdução ao Desenho (ID), Desenho Auxiliado por Computador I (DAC I), Técnicas de Representação I (TR I), Desenho Auxiliado por Computador II (DAC II), Plástica e Técnicas de Representação II (TR II). É importante observar que a disciplina Geometria Descritiva (GD) não pertencia a ele e sim ao eixo chamado Fundamentação, sendo a única deste ligada às práticas de desenho. Para este estudo, essa disciplina será incluída no conjunto da área da representação gráfica nas análises seguintes. 94 No eixo denominado Projeto, encontravam-se as seguintes referentes à Geometria plana foram mantidos, embora de modo disciplinas: Comunicação Visual I; Projeto Arquitetônico I (PA mais resumido, quando comparada à situação anterior, em uma I), Projeto Arquitetônico II (PA II), Projeto Arquitetônico III (PA nova disciplina chamada Introdução ao Desenho (ID). Vale III), Projeto Arquitetônico IV (PA IV), Arquitetura de Interiores I, notar que essa disciplina, agora também abordava alguns Projeto Arquitetônico V (PA V), Projeto Urbanístico I, assuntos relacionados ao desenho de perspectivas. Paisagismo, Comunicação Visual II, Projeto Arquitetônico VI (PA VI), Projeto Urbanístico II, Projeto Arquitetônico VII (PA VII), Projeto Urbanístico III, Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo, Trabalho Final de Graduação (TFG). Em paralelo a ela, os conteúdos referentes à Geometria espacial e aos sistemas de projeção eram contemplados na disciplina Geometria Descritiva (GD), mas mantendo a mesma abordagem mais abstrata e matemática da formatação anterior. Comparando as matrizes 26.1 e 26.2, observamos que a área Pontos, retas e planos e suas relações eram estudados sem de representação gráfica, composta antes por seis disciplinas, qualquer rebatimento direto ou indireto nas práticas ligadas ao passa a ter oito matérias (incluída aqui a Geometria projeto de Arquitetura ou mesmo ao estudo dos poliedros. Descritiva) que totalizavam 648 horas de aula, 258 horas a mais em relação à matriz anterior, já se levando em consideração a alteração do valor da hora/aula (h/a) do crédito, que passou de 15 para 18 h/a. Além do incremento de carga horária, houve uma reorganização das sequências e prerrequisitos embora percebamos uma manutenção da estrutura básica dos conteúdos e algumas fragilidades quanto ao rebatimento desses assuntos na realidade do projeto. A análise de seus projetos de ensino mostra que os assuntos Vale comentar que essa disciplina, em especial, foi objeto de uma alteração em seu projeto de ensino. A nova proposta, elaborada por uma equipe liderada por nós, procurava diminuir a distância entre a Geometria de Gaspar Monge e a sua aplicação no projeto. O novo conjunto de unidades trazia em suas 72 horas de aula, 44 voltadas ao estudo dos poliedros que, como já mencionado, acreditamos serem mais coerentes com a realidade arquitetônica. 95 Essas duas disciplinas (ID e GD) passaram a ser Ambas tinham foco instrumental que priorizava o aprendizado prerrequisitos de Técnicas de Representação I, responsável dos softwares, como pode ser visto nos seus projetos de pelo ensino do desenho arquitetônico. Considerando-se, ensino, embora o projeto da primeira não faça menção a como já expresso, que o desenho de Arquitetura é uma nenhuma ferramenta específica como acontece na segunda. aplicação direta desses dois assuntos, a posição da Esse tipo de abordagem pode ser justificado pela posição que disciplina se mostrava agora mais consistente do que na elas ocupavam na estrutura curricular. situação anterior. A oferta de ambas acontecia, respectivamente, no primeiro e A disciplina Informática, que possuía as várias incoerências segundo semestres. Isso acabava fazia que o aluno recém- já discutidas, foi desmembrada em duas, que se chamavam adimitido tivesse contato precoce com os instrumentos digitais. Desenho Auxiliado por Computador I e II (DAC I e DAC II), A natural inexperiência do calouro, tanto em desenho quanto sendo a primeira responsável pelos assuntos do desenho em projeto, impossibilitava uma abordagem mais plural no digital vetorial, tanto em ambiente bidimensional quanto sentido do uso das ferramentas digitais, tanto como tridimensional, além de também ser prerrequisito para TR I. instrumentos de representação quanto de reflexão do projeto. O principal programa usado para o primeiro assunto era o A carga horária total delas era de 144 horas, representando AutoCAD, enquanto o SketchUp cobria o segundo tópico. 22,22% do total da área de representação e expressão. Como também observado na primeira matriz curricular, TR I A disciplina DAC II cobria os conteúdos relacionados à tinha posição de destaque podendo ser considerada a mais manipulação de imagem digital, tanto em mapas de bits importante matéria que antecedia a sequência de projetos quanto de forma vetorial. Para o estudo de cada um dos arquitetônicos e urbanísticos. Malgrado, porém, a maior assuntos, eram adotados, respectivamente, o Photoshop e o coerência didática observada, os projetos de ensino CorelDraw. retrocitados apontam para uma circunstância que posicionava 96 o ensino da Geometria como assunto autônomo e sem 3. Suas unidades de conteúdo mostram-se bastante densas, nenhuma ligação direta com as atividades práticas do com uma abordagem detalhada dos processos geométricos de projetar, ou seja, as diretrizes que levavam o aluno ao construção das perspectivas de projeção paralela (ortogonal e desenho arquitetônico denotavam foco predominantemente obliqua) e cônica, chegando inclusive ao estudo das sombras. teórico. O mesmo pode ser observado em Desenho de Observação, ofertado no primeiro semestre e única disciplina com abordagem explícita sobre desenho à mão livre. Embora notemos mudanças em seu projeto de ensino, o foco principal se manteve na representação da realidade construída que domina 81,48% (88 horas) da sua carga horária, cabendo aos 18,52% (20 horas) restantes os assuntos ligados ao uso do croqui como instrumento para exercícios de criação que, embora válidos, não poderiam ter rebatimento projetual, dada a natural imaturidade dos alunos nesse quesito. Embora não se possa negar a importância desses assuntos sob a óptica conceitual e também como instrumento de desenvolvimento da visão e do raciocínio espacial, a configuração do seu conteúdo parece superdimensionada, visto que o mesmo foi formatado em um momento, já descrito por Cardoso (2005), do uso das ferramentas computacionais, em especial da modelagem tridimensional virtual, tanto para fins de representação como de auxílio na concepção de projetos. Observamos também, um sombreamento de assuntos dessa disciplina (Unidade VIII – Perspectivas) com a última unidade da disciplina Introdução ao Desenho. No semestre em que o discente inicia a sequência de projetos arquitetônicos, ele também cursava a disciplina chamada Técnicas de Representação II (TR II). Fica muito claro pelo seu projeto de ensino que seu alvo de estudos são os sistemas de projeção perspectiva, comentados no capítulo Nessa nova conformação de matérias, até o discente alcançar seu primeiro projeto arquitetônico, ele cursava um total de 972 horas de aulas, 168 a menos do que na situação anterior. É importante lembrar que, apesar do crédito ter subido de 15 para 97 18 horas, a disciplina Projeto Arquitetônico I foi deslocada do uma separação de assuntos e uma escassez de vínculos entre quarto para o terceiro semestre, refletindo nessa redução. essas áreas como será detalhado na seção seguinte. Dessas 972 horas, 468 (48,14% do total) tratavam do ensino do desenho (analógico e digital), enquanto na situação anterior, somente 25,43% (das disciplinas cursadas até o PA 4.2.2 Interdisciplinaridade – o desenho e o projeto I) tinham esse foco. Baseado no exposto antes, podemos afirmar que o incremento de carga horária e a reordenação de conteúdos e prerrequisitos Vale ressaltar que em nenhum momento se nota qualquer do novo PPC refletiram pelo menos em uma proposta mais menção ao uso dos sistemas digitais e/ou analógicos nas coesa de metodologia do ensino do desenho aplicado à praticas de concepção de projetos. Também não há nada Arquitetura. A sucessão de tópicos mostrava-se agora mais que evidencie, mesmo nas disciplinas notadamente consistente, na medida que as matérias demonstravam uma instrumentais, qualquer conteúdo que faça referência às hierarquia mais nítida que culminava no aprendizado do técnicas híbridas descritas por Perrone (1993), detalhadas desenho arquitetônico durante a disciplina Técnicas de por Leggitt (2004) e discutidas no capítulo 3. Representação I. Nessa matéria, contudo, deveriam estar concentrados, em Como depreendemos, houve uma readequação significativa somente 72 horas de aula, todos os assuntos básicos referentes dos conteúdos e um incremento de carga horária na área de ao desenho técnico aplicado à Arquitetura. A disciplina abrangia representação gráfica. Apesar disso, o texto dos projetos de conteúdos que iam desde o estudo das normas da Associação ensino das disciplinas do eixo Projeto não deixam evidente o Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) até o desenho de modo como esses assuntos e habilidades desenvolvidos plantas, cortes e fachadas, tanto em meios analógicos como em poderiam ser explorados na prática projetual. Parece haver meio digital (AutoCAD) como revela o seu projeto de ensino. 98 A análise desse documento mostra, entre outras coisas, que Mediante a leitura dos projetos de ensino das disciplinas de sua carga horária correspondia a somente 15,38% do total das projeto (Projeto Arquitetônico I ao VII), podemos constatar, horas dedicadas à representação gráfica, além de ser a única mais uma vez, essa separação. O desenho, tanto nas suas com abordagem diretamente ligada ao projeto de Arquitetura. versões analógicas quanto digitais, não aparece em nenhum Aqui vale salientar o fato de que não havia nenhuma disciplina momento como instrumento de concepção e reflexão do que privilegiasse o desenho aplicado ao projeto urbanístico. projeto. Quando termos relacionados à representação gráfica A baixa carga horária observada, além da natural imaturidade e inexperiência dos alunos, faziam com que a disciplina abraçasse somente o estudo do desenho de residências aparecem nos textos, eles parecem se referir somente a produtos gráficos a serem entregues nas etapas de desenvolvimento do projeto. dúplex unifamiliares. Isso se mostrava insuficiente para as Os projetos de ensino também não exprimem regularidade necessidades de representação gráfica dos edifícios de maior quanto à definição das etapas que o aluno deveria usar como porte abordados nas disciplinas de projeto. Podemos observar orientação no desenvolvimento de seu projeto. Em alguns as consequências disso em alguns produtos gráficos de alguns textos, não fica evidente quando aconteceriam as fases trabalhos finais de graduação como será detalhado no capítulo Análise, Síntese, Avaliação e Representação ou mesmo as 5. etapas de produção (concepção, apresentação e Além dessas limitações, e apesar da coerente sequência documentação) já discutidas no Capítulo 2. didática de tópicos, verificamos, também, pelo menos pela Em relação ao uso do desenho à mão livre como instrumento análise dos textos dos projetos de ensino, uma separação de projeto, uma excessão pode ser constatada no projeto de entre o ensino do desenho e da Geometria das suas ensino de Projeto Arquitetônico II. Em sua Unidade III, cujo aplicações práticas, mais especificamente ligadas à área de objetivo é a definição do partido arquitetônico, resta claro que a projeto. análise e avaliação de todas as informações coletadas, 99 necessárias à adoção do partido arquitetônico da edificação, disciplinas de desenho e de projeto arquitetônico, focos devem ser explicados por meio de um texto e croquis. deste estudo, constatamos, nos textos dos seus projetos de Resta claro, nessa unidade, a cobrança do uso de croquis como instrumento de comunicação e registro das ideias do aluno, com origem no desenvolvimento gráfico do partido adotado. Essa abordagem pode ser considerada válida, mas denota uma incoerência fundamental. O uso do croqui como instrumento de registro de ideias em situações de projeto ensino, alguma coerência didática, na medida em que o ensino do desenho e do projeto obedece uma hierarquia de incremento de complexidades. Apesar disso, é notória, também, especificamente na área de representação gráfica, uma separação entre os assuntos da Geometria e do desenho e o seu rebatimento no projeto. nunca teria sido abordado em nenhuma das disciplinas de Essa ruptura, constatada nesta análise, é expressa desde as desenho tanto em suas vertentes conceituais quanto primeiras disciplinas sobre representação gráfica e instrumentais. Vale lembrar que a única disciplina que fazia Geometria, e parece acontecer de modo mais evidente na menção ao uso do desenho no processo criativo era Desenho disciplina Técnicas de Representação I que, como já de Observação, mas, mesmo assim, em um momento de exposto, não conseguia atender às necessidades gráficas pouca ou quase nenhuma experiência e/ou maturidade do das disciplinas de projeto. Nessas últimas, como já aluno nas relações com o projeto de Arquitetura. comentado, o desenho é tratado somente como pacotes Como vemos nas Tabelas 3 e 4, até o aluno atingir seu projeto final de curso (Trabalho Final de Graduação), disciplina de estudo desta dissertação, ele passava por seis disciplinas ligadas à representação gráfica, sete disciplinas de projeto arquitetônico, três de projeto urbanístico e uma de projeto paisagístico. Se levadas em consideração somente as gráficos de registro de entrega das propostas projetuais dos alunos, e os instrumentos, tanto analógicos quanto digitais, são desconsiderados como ferramentas de reflexão do projeto. 100 4.3 A disciplina Trabalho Final de Graduação sob o ponto de vista didático, é submeter o trabalho a uma avaliação crítica anterior à banca final, mas também de dar A disciplina Trabalho Final de Graduação (TFG) faz parte do conhecimento, à comunidade acadêmica, sobre a produção do eixo Projeto da matriz curricular 26.2 adotada em 2004 pela curso, bem como de estimular o debate arquitetônico e UNIFOR. Essa disciplina, posicionada no décimo semestre urbanístico entre docentes e discentes dentro da instituição. letivo, é precedida por outra chamada Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo (PAURB), locada no semestre O período no qual o evento acontece não favorece que o anterior. O principal objetivo da PAURB é produzir um texto projeto esteja em um nível avançado de definições e isso nem monográfico, no qual devem ser abordados os conceitos mesmo é desejado dentro da metodologia da disciplina. teóricos e onde há de estar registrado o levantamento de Podemos afirmar, tomando como base o que foi detalhado no dados do projeto a ser desenvolvido no semestre seguinte. Capítulo 2, que os trabalhos estão, em sua maioria, entre as Essa pesquisa é orientada, obrigatoriamente por um etapas de concepção e apresentação (estudo preliminar), mas professor com graduação em Arquitetura e Urbanismo, ainda com forte presença de ações de análise, síntese, pertencente ao quadro docente da instituição. Esse mesmo avaliação e representação. professor continuará orientando o aluno no semestre seguinte, em seu projeto final de graduação. Apesar disso, nessa etapa, já se pode observar intersecções das fases bem como idas e voltas à fase de representação. Durante o semestre de desenvolvimento do TFG, existem Com suporte no que foi discutido no Capítulo 3, acreditamos alguns compromissos que devem ser cumpridos pelo aluno, que é justamente pelo caráter de indefinição que, para o sendo o principal deles a Qualificação do TFG. Nesse evento, registro gráfico (representação), o desenho à mão livre se os alunos são obrigados a apresentar o estudo preliminar do mostra mais adequado. As barreiras enfrentadas pelos seu projeto para uma banca de professores e para a discentes, entretanto, tanto no âmbito pessoal quanto das comunidade acadêmica. O objetivo principal desse momento, limitações da sua própria formação gráfica, repercutem, 101 entre outras coisas, na já citada deficiência gráfica e falta de A forma de apresentação dos projetos é livre, mas deve ser feita estímulo ao uso do desenho à mão livre. Observa-se essa obrigatoriamente em equipamentos de projeção do tipo ausência, tanto no processo de desenvolvimento e estudo do Datashow. O aluno pode usar recursos digitais, analógicos e/ou seu TFG, quanto como recurso de apresentação. híbridos para produzir os desenhos, embora haja uma orientação geral, por parte da coordenação do TFG e de alguns Ciente desses problemas, o colegiado do curso, em acordo orientadores, para o uso do desenho à mão livre. com a coordenação do TFG (composta por nós à época), adotou, em 2011, a obrigatoriedade de o aluno apresentar, Depois da qualificação, o aluno deverá preparar o conjunto final tanto na qualificação quanto na defesa da banca final, um para a entrega à banca de defesa. Esse conjunto deve ser histórico dos croquis produzidos durante a concepção e entregue para a coordenação do curso e é composto discussão de seu projeto. Esse requisito teve como objetivo basicamente pela monografia, desenvolvida no semestre estimular, tanto nos alunos como nos professores, a prática anterior, pelas pranchas de desenhos técnicos e pelas da reflexão do projeto por meio do croqui. Além disso, ela perspectivas. A parte textual do conjunto deve conter, de acordo também se mostrou eficiente como recurso de registro do com as diretrizes da disciplina Pesquisa em Arquitetura e processo e, por consequência, como mecanismo de Urbanismo, os conceitos teóricos relativos ao seu objeto de legitimação da autoria do aluno, podendo inclusive ser usado estudo, além dos dados levantados, como: índices urbanísticos como referência na avaliação da banca final. do terreno, programa de necessidades, levantamentos topográficos, diagnósticos urbanos, dentre outros. Na disciplina A princípio, a obrigação do uso do desenho à mão livre diz TFG, esse texto deve ser acrescido da defesa escrita do projeto respeito somente à fase de concepção do projeto, mas em e é nesse momento que os croquis deveriam ser inseridos, nenhum momento as regras da disciplina proíbem o uso embora isso nem sempre ocorra. dessa técnica para os desenhos de apresentação, seja para a banca de qualificação ou para a banca final. 102 Durante todo o processo, o concludente produz basicamente alunos, também sob a orientação de um professor arquiteto (na quatro produtos: a monografia teórica do seu tema com a maioria das vezes o mesmo que o orientará no TFG), já defesa final escrita; a apresentação (PowerPoint) para a banca estudaram os conceitos, tecnologias, legislação e o programa de qualificação; a apresentação (PowerPoint) para a banca de necessidades referentes ao tema escolhido, além da final; o conjunto de pranchas com os desenhos técnicos. escolha do terreno. Dessa forma, os agentes do processo, A partir de 2010, todo o material passou a ser recebido em mídia CD-ROM. No CD, todos os arquivos (textos e desenhos) devem estar gravados em formato PDF. A monografia deve orientador e discente, já têm em mãos, mas principalmente na do último, as informações necessárias para dar início aos estudos de concepção do projeto. estar em arquivo único, assim como cada prancha de desenho Pelo exposto, percebemos que, quando o aluno inicia a deve ser gravada em arquivos, separadamente. A entrega dos disciplina final de seu curso, todas as condições para arquivos PowerPoint com as apresentações não é obrigatória. desenvolver o projeto já estão configuradas. Assim, o A metodologia adotada na disciplina Trabalho Final de Graduação determina que cada aluno seja orientado por um professor da instituição, pertencente ao quadro de docentes do curso de Arquitetura e que tenha obrigatoriamente graduação em Arquitetura e Urbanismo, mas podendo ter pós-graduação em áreas afins. A orientação deve acontecer por meio de encontros presenciais pelo menos uma vez por semana. Vale lembrar que essa disciplina foi antecedida por PAURB, na qual os concludente encontra uma situação favorável para expor suas ideias. Essa exposição se dará pelo desenho. A maneira como isso ocorre e os instrumentos utilizados, foco desta pesquisa, serão detalhados e discutidos no capítulo 5. 103 5 O USO DO DESENHO NO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO disciplinas de projeto, contemplaria uma considerável coleção de exemplares gráficos, com relativo amadurecimento, que poderiam retratar, pelo menos em parte, a instrumentalização Como demonstrado até aqui, os processos de criação e registro gráfico em projetos arquitetônicos e urbanísticos podem acontecer por intermédio de vários tipos de desenho, técnicas e instrumentos, assim como do monólogo e/ou do diálogo entre dois ou mais personagens. No que se refere ao desenho, este estudo aponta como esse assunto é tratado dentro do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo da gráfica do estudante de Arquitetura ante às situações de projeto. Deste modo, nos projetos aí desenvolvidos, seria possível observar um panorama do estado do uso dos recursos gráficos por parte do aluno concludente. Acreditamos que essa produção também reflete o que o discente acumulou de experiências extracurriculares no que diz respeito a expressão gráfica. Universidade de Fortaleza e como ele converge ou não para a aplicação em práticas de projeto, mais especificamente, nas Já foi mencionado que os discentes matriculados no TFG fases de concepção e de apresentação. devem cumprir uma série de compromissos para obter a Como estudo de caso para essa dissertação, foram analisados os projetos desenvolvidos para a disciplina Trabalho Final de Graduação (TFG) da instituição supracitada. A escolha desse material parte do pressuposto de que a coleção de assuntos e disciplinas ligados à representação e expressão gráficas tem como um dos objetivos fundamentais fornecer as bases gráficas necessárias para as disciplinas de projeto e, dentre elas, o TFG. Dessa forma, acreditamos que a produção observada nessa disciplina, que culmina na sequência de aprovação. No final do processo, o discente deve entregar à coordenação do curso, para arquivamento, o conjunto composto pela sua monografia e pelos desenhos do projeto. Nesse material, devem estar contidos os registros gráficos (croquis de estudo, desenhos de apresentação e desenhos técnicos) produzidos ao longo da disciplina. Como se percebe, esse material encerra valioso conteúdo gráfico capaz de revelar elementos e rotinas inerentes ao modo como o estudante usa o desenho na criação e na apresentação de seu projeto. 104 Neste capítulo, serão avaliados os desenhos coletados nos 5.1 Coleta e critérios de seleção TFGs que pertencem ao banco de dados físico e digital da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo, O acervo de TFGs da UNIFOR contava, de 2003 até o final do guardados nas salas P14 e J6 do Campus da UNIFOR. A semestre 2014.1, com 274 CD-ROMs e 286 conjuntos análise buscará identificar o comportamento gráfico do impressos, contendo basicamente dois tipos de documentos: a discente e quais são, caso existam, as convergências e monografia de pesquisa do tema desenvolvido no TFG e as divergências com a matriz curricular cursada pelos autores pranchas do projeto defendido na banca final. Vale lembrar que dos projetos. Também será traçado um panorama dos a monografia tem início um semestre antes, na disciplina métodos, instrumentos e características das peças gráficas Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo e que, na disciplina produzidas pelos ex-discentes. Trabalho Final de Graduação, ela é complementada com a A avaliação será feita em dois momentos. No primeiro, mais parte referente à defesa escrita do projeto. É importante deixar generalista, serão considerados os dados quantitativos e registrado o fato de que esses números podem ser objeto de alguns quesitos qualitativos relativos a todo o material alterações visto que muitos alunos só depositam o trabalho reunido, ou seja, os 2.091 desenhos encontrados. No corrigido algum tempo depois de sua defesa. Esse tempo varia segundo momento, mas específico, será feito o estudo de bastante, podendo ser até mesmo de vários anos. caso dos trabalhos considerados mais relevantes de toda a Todos os arquivos digitais principais (monografia e projeto) amostra. Os critérios de escolha e justificativas serão encontram-se em formato PDF. Em alguns CDs, foram mostrados logo agora. observadas quebras de protocolo por parte do aluno. Dessa forma, foram encontrados arquivos de imagem digital (JPG) e de apresentação de slides (PPT). Nas monografias, que são entregues em arquivo único, são inseridos os croquis de 105 estudo e, em alguns casos, desenhos analógicos usados para ocorrência de desenho com alguma característica analógica apresentação do projeto. No mesmo documento também está entrou na seleção inicial. É importante comentar que, por esse o texto de fundamentação teórica do projeto (já detalhado) no critério, a peça gráfica não precisava ter sido confeccionada qual o ex-discente também relata suas intenções e partido por métodos totalmente manuais, bastando haver qualquer adotado. Esse foi o principal material usado na pesquisa. indício de ação analógica. Deste modo, trabalhos que contivessem, por exemplo, somente desenhos híbridos, já O CD-ROM também contém todas as pranchas técnicas do projeto. Nesse caso, cada arquivo equivale a uma prancha. Em alguns casos, as perspectivas finais de apresentação estavam inseridas nessas pranchas. Esse material só foi levado em consideração em alguns exemplos específicos e/ou na análise dos estudos de caso individuais. discutidos no capítulo 3, foram considerados. Inicialmente foram analisados todos os trabalhos arquivados na Coordenação do curso, desde o ano de 2009 até o primeiro semestre de 2014. O recorte temporal tomou como base a análise feita no capítulo 3. Procuramos usar uma amostra de alunos que tivessem sido formados por uma só estrutura Como já exposto, o foco deste trabalho é o desenho analógico curricular para minimizar algumas variáveis. Dessa forma, usado para estudo, concepção e apresentação dos projetos todos os trabalhos avaliados pertencem a ex-alunos formados finais de graduação. Dessa forma, o primeiro critério de na matriz 26.2. Embora durante a pesquisa tenham sido classificação adotado foi bastante simples e eliminou todos os encontrados bons conjuntos de peças gráficas produzidas por trabalhos que não traziam registro de desenhos feitos por alunos formados de 2003 a 2008, elas foram descartadas. métodos analógicos. Nesse momento, não foram levadas em Dentro do recorte temporal foram identificados 39 trabalhos consideração a quantidade de desenhos dessa natureza no arquivados de forma impressa sendo 25 do ano de 2009 e 14 conjunto de documentos do aluno nem suas características. de 2010. Esse material também foi considerado na pesquisa. Qualquer trabalho onde se verificou pelo menos uma A primeira triagem, como já comentado, descartou todos os 106 trabalhos que não continham desenhos analógicos. Essa seleção inicial permitiu a visualização prévia, nos trabalhos que continham desenhos válidos, de todo o material arquivado. Isso possibilitou a identificação de algumas características gráficas e também de tipos de desenhos. Com essa constatação, foi feito um levantamento quantitativo, buscando dados relativos aos desenhos em três vertentes: quanto ao tipo, à técnica de confecção e ao uso de cores. Dessa forma, para o primeiro critério, foram identificados cinco tipos básicos de peças gráficas: diagramas, plantas, cortes, Figura 56 - Diagrama para estudo de implantação. Fonte: Acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autor: Arthur Braun. fachadas e perspectivas. Com suporte no que foi expresso no capítulo 3, foram considerados diagramas aquelas manifestações gráficas que continham elementos genéricos, cuja finalidade era de visualização de organogramas, programa de necessidades, relações entre elementos, dentre outros. É importante registrar o fato de que, para ser considerado um diagrama, o desenho não podia conter elementos gráficos com características da simbologia arquitetônica, tais como portas, árvores, caminhos, paredes, Figura 57 - Estudo de ângulos para projeto de edifício. Fonte: Acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autor: Camila Bezerra Pereira. escadas etc. As figuras 56 e 57 ilustram alguns exemplos dessa tipologia. Para as plantas foram consideradas todas as suas categorias 107 – plantas de situação, locação, planta baixa, coberta e plantas de pavimentos. No caso de projetos urbanísticos, qualquer recorte da área urbana de estudo representada em projeção horizontal entrou na contagem das plantas. Para as perspectivas, também foi adotada a mesma postura, podendo elas ser de projeção cilíndrica ou cônica. Para todos os desenhos (plantas, cortes, fachadas e perspectivas), foram aceitos tanto aqueles que mostravam a totalidade da edificação, quanto os que exibiam somente alguma parte do edifício, do ambiente urbano ou somente um detalhe construtivo. As figuras 58 e 59 exibem alguns exemplos. Figura 58 - Coleção de desenhos de estudos. 2 plantas, 3 fachadas e 1 perspectiva. Fonte: Acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autor: Luma Oliveira Pode-se dizer que na contagem foi considerada muito mais a intenção de registro do aluno do que as características gráficas do desenho. Sendo assim, se o desenho demonstrava que o autor estava registrando sua ideia por meio de seções, ele seria contabilizado como corte. Se a manifestação gráfica ocorria em projeções no plano horizontal, seria contada como planta. Se ocorresse o registro de uma projeção em plano vertical, ele seria anotado como elevação e, se fosse um desenho de vista múltipla, seria registrado como perspectiva. 108 Como já discutido, observamos que hoje existe grande diversidade de técnicas que misturam recursos analógicos e/ou digitais. Dessa forma, para a avaliação do material coletado, o outro critério adotado se refere aos recursos utilizados na produção dos croquis, havendo duas possibilidades: desenhos produzidos sem a participação de recursos digitais (técnica analógica) [Fig. 59] e desenhos produzidos com a participação de recursos digitais (técnica híbrida) [Fig. 60]. Apesar de algumas evidências poderem denunciar os instrumentos utilizados para a feitura das peças gráficas, optamos Figura 59 - Perspectivas de estudo para detalhes construtivos. Fonte: Acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autor: Fernando Melônio por não considerar as ferramentas usadas no levantamento, pois cremos que haveria grande possibilidade de incorrer em erros. Dessa forma, para esse levantamento de dados, foi considerado o aspecto final do desenho, ou seja, se o registro tinha evidências do uso de qualquer recurso digital, ele foi considerado como híbrido, caso contrário, como analógico. Em alguns casos, como será detalhado nos estudos de caso individuais, o texto do exdiscente fazia menção ao modo como o estudo foi feito, revelando os instrumentos usados. Em outros casos, as entrevistas Figura 60 - Corte esquemático colorido digitalmente. Fonte: Acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autor: Nikassio Freire aplicadas (Apêndice D) também apontaram para algumas pistas a esse respeito. 109 Sabemos que os croquis digitalizados podem ser objeto de intervenções digitais para melhoramentos de contraste, brilho e limpezas de sombras e/ou imperfeições da mídia utilizada, mas, para esse quesito, é importante esclarecer que esse tipo de edição não foi considerada para classificar a técnica do desenho como híbrida. No quesito cores, a avaliação tentou manter a objetividade das demais. Foi considerado como colorido todo desenho que continha qualquer outra informação de cor [Fig. 62] que fosse diferente do preto e/ou do cinza-grafite, quando houvesse pelo Figura 61 - Estudo de percursos para o projeto de uma praça. Fonte: Acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autor: José Aderson A. Passos menos um deles. Baseado nisso, croquis feitos em sépia,[Fig. 61] por exemplo, seriam considerados monocromáticos. A escolha desse critério baseia-se na suposição, confirmada por Lapuerta (1997), de que esse recurso é importante na visualização e setorização das decisões projetuais por parte dos alunos, além de determinante para a legibilidade nos sistemas de projeção, como, por exemplo, o Datashow. Todos os itens foram cruzados e organizados em tabela única (Apêndice A). A organização das linhas e colunas permitiu, ao final do levantamento, conseguir os quantitativos dos desenhos com três características distintas. Sendo assim, por exemplo, podemos 111 concepção e apresentação, discutidas no Capítulo 2, procuramos selecionar, dentro do conjunto de desenhos encontrados, somente aqueles trabalhos que contivessem os desenhos produzidos como recurso de estudo e/ou de diálogo entre o aluno e seu orientador, assim como os desenhos que foram confeccionados para a apresentação, tanto para a banca de Qualificação do TFG quanto para a banca final de defesa. Por esse critério, dos 34 conjuntos pré-selecionados restaram 15. Como terceiro filtro consideramos a maneira como os desenhos se relacionavam com o texto. Nesse caso, foram escolhidos os trabalhos que usaram os croquis paralelamente ao texto para defender a concepção de seu projeto. Aqui restaram os cinco Figura 63 - Estudo de implantação. Fonte: Acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unifor. Autor: Bruna Costa. trabalhos que julgamos serem os mais adequados para os estudos de caso individuais. Para esses cinco projetos, outros critérios de avaliação foram aplicados. O primeiro levou em consideração o foco desta pesquisa. Dessa forma, buscamos separar quais seriam os desenhos de estudo e quais seriam os desenhos de apresentação. Foram considerados “desenhos de estudos” aqueles que faziam parte do histórico de croquis, caracterizando- 112 se como registro de ideias. Foram considerados como “desenhos de apresentação” aqueles que apontavam para uma representação gráfica de um determinado aspecto do projeto, possuindo características gráficas de arte-final. As diferenças entre esses dois quesitos podem ser observadas nas Figuras 63, 64, 65 e 66. Em todos os casos (desenhos de estudo ou de apresentação, analógicos ou híbridos) foram avaliados como os principais tipos de desenho adotados (plantas, cortes, fachadas e perspectivas) eram usados no desenvolvimento do projeto. A menor quantidade Figura 64 - Implantação para apresentação na Qualificação. Fonte: Acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unifor. Autor: Bruna Costa. de desenhos nessa última seleção permitiu que fossem avaliadas as características das peças gráficas (traços, sombras, texturas, cores) e os instrumentos e técnicas utilizadas para sua execução. Também foi investigado o modo como essas características se relacionavam com o estudo do projeto e com a formação do aluno. É importante observar que alguns dos critérios poderiam não existir. Dessa forma, alguns conjuntos de desenhos não exibiam, por exemplo, o uso de cores. Em outros casos, não foram encontrados todos os tipos de desenho (plantas, cortes, fachadas e perspectivas) ou não continham exemplares de técnicas mistas 113 ou analógicas. Os detalhes serão discutidos posteriormente. Para coleta e organização das peças gráficas, foi usado o recurso de captura de tela para desmembrar os desenhos do restante do arquivo. Para garantir um mínimo de qualidade gráfica, a captura foi feita na tela de um iPad quarta geração, que possui 2048x1536 pixels de resolução, respeitada a resolução original da imagem. Uma vez separados os desenhos de seus arquivos PDF, eles foram organizados em pastas devidamente identificadas pelos nomes dos autores. Figura 65 - Perspectiva de estudo. Fonte: Acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unifor. Autor: Aline Guedes. Para complementar as observações e/ou confirmar algumas impressões conseguidas no material gráfico, foram aplicados dois questionários, sendo o primeiro (Apêndice B) aos professores orientadores e o segundo (Apêndice D) aos alunos selecionados para os estudos de caso. A seguir, será feita a análise geral dos dados. Com era esperado, a maior incidência de croquis acontece desde os trabalhos defendidos depois do semestre 2011.2, quando foi implementada (depois de reunião do colegiado do curso) a obrigação do aluno apresentar o histórico de croquis como quesito da sua Figura 66 - Perspectiva de apresentação. Fonte: Acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unifor. Autor: Aline Guedes. 114 qualificação. Apesar disso, observamos também um 5.2 Apresentação e análise dos resultados considerável número de trabalhos sem nenhuma menção ou registro de desenhos analógicos, como será detalhado mais Foi coletado um total de 2.091 peças gráficas, sendo que, adiante. destas, 1.278 são desenhos analógicos e/ou híbridos e 813 são totalmente digitais. Todas foram usadas ou na fase de Nos trabalhos nos quais eles apareciam, verificamos que há muita variação de técnicas gráficas, tipologias e quantidades. Em alguns momentos os alunos tomam partido do desenho como elemento para explicar suas intenções de projeto e em concepção ou na fase de apresentação dos projetos. Elas estão em 122 trabalhos dos 295 avaliados. Os números apontam para algumas constatações e podem indicar fragilidades e potenciais a serem explorados. outros ele apenas aparece durante o texto sem nenhum tipo de referência. Também percebemos considerável diversidade Dada a quantidade considerável de desenhos, optamos aqui e irregularidade nos aspectos gráficos, como será por explanar primeiro sobre as impressões gerais percebidas demonstrado na sequência. durante a coleta e organização do material, usando alguns exemplos para ilustrar as observações. Tabelas e gráficos serão usados para explicar os dados. Na sequência, de acordo com o exposto antes, serão mostrados os estudos de caso. Na primeira avaliação geral, algumas constatações já puderam ser feitas. Quanto ao tipo de projeto, apesar de somente 18,30% deles serem de temática ligada ao urbanismo, a pesquisa conseguiu levantar que o percentual de ocorrências de desenhos analógicos nesse tipo de projeto é praticamente igual ao observado em projetos de Arquitetura. A diferença foi 116 Tabela 6 - Quantidade de TFGs com registros analógicos e/ou híbridos, por ano registro gráfico somente em 2012 e por força de uma decisão do colegiado, talvez esteja na própria estrutura curricular do curso, ANO TFGs COM DESENHOS ANALÓGICOS/ HÍBRIDOS 2009 47 14 29,79% De acordo com o já levantado, a Matriz Curricular 26.2, que 2010 54 11 20,37% formou os alunos dessa amostragem, tinha ao todo cinco 2011 61 18 29,51% disciplinas que tratavam especificamente da representação 2012 66 40 60,61% gráfica, sete disciplinas de projeto arquitetônico, três de projeto 2013 53 33 62,26% urbanístico e uma de paisagismo. Quando, porém, procuramos 2014 14 6 42,86% nas ementas e conteúdos dessa mesma matriz termos como Total 295 122 41,36% “croquis” e/ou “desenho à mão livre” somente o primeiro é Fonte: Acervo do autor PERCENTUAL avaliada no capítulo 4. encontrado e em apenas uma disciplina do eixo de projeto (Projeto Arquitetônico II). Os dois termos são achados em única disciplina do eixo Representação e Expressão (Desenho de Observação), que se encontra no primeiro semestre quando os alunos ainda não adotam práticas de projeto. Nas demais disciplinas, além da ausência dessas palavraschave, também não são identificados capítulos e/ou frases que façam qualquer menção ao uso desses recursos. Nota-se, portanto, que parece existir uma lacuna entre as disciplinas que contemplam o cabedal de conhecimentos da área de desenho e 117 as disciplinas de projeto arquitetônico (inclusive o Trabalho A falta de formalização do ensino/aprendizagem do desenho à Final de Graduação), onde esses assuntos deveriam ser mão livre nas disciplinas dos eixos Representação e Expressão e aplicados. Projeto parece também não repercutir na ausência dessas habilidades nos alunos concludentes. Acreditamos que haja muito Apesar de observada a ausência quase total dos termos retrocitados das ementas e conteúdos das disciplinas de projeto, sabemos que existe o estímulo ao uso do croqui como instrumento de concepção de projeto por parte de alguns docentes, como revela o resultado do questionário mais a falta de hábito no uso do croqui e/ou da percepção de como o desenho à mão livre poderia ser explorado no processo de projeto. Uma das consequências disso foi a necessidade da já comentada cobrança, a partir de 2012, do uso desse instrumento como quesito básico da Qualificação do TFG. aplicado a eles (Apêndice B). Vale registrar o fato de que a baixa incidência de croquis De acordo com os dados (Apêndice C), todos os orientadores revelaram que cobram o uso de croquis na concepção do projeto e nos estudos preliminares, tanto nas disciplinas de projeto quanto no TFG. Alguns informaram que também exigem que esse recurso seja usado para a apresentação dos inseridos nos trabalhos de 2009 a 2011 não quer dizer que eles não tenham sido usados durante os TFGs dessa época, mas os números parecem revelar o desinteresse e/ou a desorientação do aluno, nesse período, sobre as possibilidades de usá-lo como componente do histórico de seu projeto final de graduação. projetos. Praticamente 50% dos professores que responderam ao questionário anotaram que o uso do croqui é Não é objetivo desta pesquisa mensurar se esse requisito trouxe obrigatório enquanto a outra metade relata que solicita o uso ou não incremento na qualidade dos projetos, mas é certo que a do desenho à mão livre, mas deixa a critério do aluno usá-lo obrigação de o formando exibir a concepção do projeto por meio ou não. Percebemos, portanto, que, embora o documento que de croquis, pelo menos, o induziu a produzir esse tipo de norteia o curso pareça relegar esse recurso ao segundo desenho e explicitou tanto as suas deficiências quanto as suas plano, isso não se reflete na atitude dos docentes. habilidades gráficas. 118 É interessante observar que esperávamos que o histórico de croquis e a descrição do processo de concepção do projeto estariam em todos os arquivos das monografias, mas isso só foi observado em 41,08% dos casos. Alguns fatores podem explicar esse dado. Um deles se dá pelo próprio processo da disciplina. De acordo com o levantamento, notamos que a obrigatoriedade de mostrar um histórico de croquis aumentou o uso desse recurso na confecção do TFG. Basta ver quantos exemplos foram encontrados no ano de 2012, quando o requisito foi implementado, em comparação com 2009. Percebemos, entretanto, que esse item obrigatório não atingiu todos os concludentes e/ou seus orientadores. Em algumas situações, como mostra o exemplo da Figura 67, a discente Figura 67 - Implantação colorida com lápis de cor. Fonte: Acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autor: Ana Lúcia Figueiredo. apresentou um só exemplo de croqui na defesa escrita do projeto e mesmo ele não aparenta ser um desenho de estudo, mas sim de apresentação. Em nenhum dos casos descritos, é possível concluir que não houve o uso dos croquis durante o desenvolvimento do projeto/ orientação; e as respostas do questionário aplicado aos orientadores confirma isso. Parece ficar explícito, entretanto, que o autor deu pouca importância a esse recurso e/ou tentou usá-lo 119 somente para cumprir um dos requisitos da disciplina. Essa hipótese ganha força, quando comparamos esses exemplos com aqueles que usaram fartamente os croquis no seu projeto. Percebemos, nesses casos, que a evolução do pensamento encontrou no registro de esboços um forte e importante aliado na defesa do projeto. As Figura 68 e 69 mostram exemplos desses casos. Figura 68 - Estudos de volumetria. Fonte: Acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autor: José Berlan Filho Algumas outras especulações podem ser suscitadas. Sabemos, por exemplo, que existe uma tendência natural, já descrita por Edwards (2000), por parte de algumas pessoas, de menosprezar e/ou abandonar aqueles registros gráficos que não se enquadrariam nos modelos de desenhos bonitos ou bem acabados. Dessa forma, passada a fase na qual a apresentação dos croquis é obrigatória, o autor os abandona e/ou seleciona somente aqueles que julga dignos de compor seu conjunto de entrega final. Os números levantados dão força a essa hipótese. De todos os conjuntos analisados, somente em 41,36% dos casos observamos de desenhos analógicos e/ou híbridos. Entre os 122 Figura 69 - Desenhos diversos para estudo de edifício. Fonte: Acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autor: Camila Bezerra trabalhos que contêm esses desenhos, 39 têm cinco ou menos registros dessa natureza, o que equivale a 31,96% do total. 120 Dentro desses 39 conjuntos, dez trazem somente um exemplar de desenho com ação analógica. Em muitos casos, os desenhos de estudo não aparecem ou não ocorrem em quantidade suficiente para caracterizar estudos aprofundados. Se esses números não são capazes de revelar que somente esses desenhos tenham sido confeccionados durante o processo, eles certamente revelam que, para esses alunos, seus Figura 70 - Croqui inicial e resultado final. Fonte: Acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autor: Ivaldo Castanhede croquis não foram considerados suficientemente relevantes para participarem da defesa escrita de suas ideias, já que foram excluídos da entrega final do TFG para a banca. Observemos na Figura 70 o comparativo entre o único croqui apresentado pelo autor do projeto e o resultado da implantação de seu conjunto. No seu texto, o ex-discente declara que o croqui representa sua “ideia inicial”. Percebe-se que o resultado final tem coerência com essa primeira ideia, mas, ao mesmo tempo revela que possivelmente o aluno não tenha atravessado as etapas previstas por Lawson (2011) e discutidas no capítulo 2. A Figura 71 - Croqui inicial e resultado final. Fonte: Acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autor: Bruna Diógenes. primeira ação de síntese e registro não passou, pelo menos não através do uso de croquis, pelas revisões do autor até chegar ao resultado final. 121 A escassez de registros de estudos também pode ser explicada pela ansiedade natural dos estudantes, mesmo os concludentes, em considerar o projeto resolvido já nos primeiros sinais de solução. Também é preciso considerar que, como apontado pela entrevista feita com os professores, muitos optam por discutir e estudar o projeto diretamente no computador por meio de ferramentas como, por exemplo, o AutoCad. Sobre isso, os docentes revelaram que a apresentação dos estudos do projeto por meio de recursos digitais, tanto em 2D quanto em 3D, é Figura 72 - Croquis de estudo Fonte: Acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autor: Juliana Guerreiro bastante frequente. Na Figura 71, vemos mais um exemplo de um desenho declarado como “de estudo" por outra autora e o resultado final apresentado em banca. Percebemos a fragilidade técnica do registro, que parece misturar uma seção de terreno com uma perspectiva axonométrica, além da também frágil relação com a proposta final. Tanto nesses exemplos como em outros, nota-se uma grande variedade de características que deixam evidenciado o grau de amadurecimento gráfico do concludente, como pode ser visto nas Figura 73 - Croquis de estudo Fonte: Acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autor: Nikassio Freire Figuras 72 e 73. Sabe-se, e Edwards (1997) também nos confirma, que a falta de prática e de referências gráficas pode 122 resultar em desenhos com aspecto infantil, mesmo que embora se saiba que ela não existe. Esse pensamento, produzidos por adultos. A autora deixa claro que não há nada acreditamos, atrapalha a relação entre o concludente e os de anormal nisso, uma vez que nesses casos a imagem croquis de estudo. impregnada na mente do agora adulto ainda é a dos desenhos feitos enquanto criança. Podemos tentar fazer alguma especulação sobre qual seria o comportamento dos alunos se as normas da disciplina os Os problemas didáticos e lapsos de conteúdos já discutidos obrigassem a inserir todos os produtos gráficos na entrega final. dão um indicativo para explicar esse problema. O uso de Parece evidente que os números seriam bem maiores, mas croquis como instrumento de projeto não é abordado nas também devemos considerar que a inclusão espontânea desses disciplinas de fundamentação gráfica. A falta de referências e registros cria um filtro natural de exemplares, na medida que é de exercício constante do desenho à mão livre no ato projetual razoável admitir que esses desenhos não estariam presentes se causa desconforto e insegurança aos alunos. Ciriani1 apud La não tivessem sido considerados relevantes pelo autor para Puerta (1997, p. 103) nos dá uma pista das razões que levam explicar seu pensamento ao desenvolver o projeto. a essa insegurança, quando comenta sobre os sentimentos de prazer ou de angústia que alunos podem ter no ato de projetar. Nas palavras do autor, “al principio, el placer aparece cuando la angustia de representar mal es vencida”. Essa "má representação” pode ser notada no material colhido. É notória a falta de amadurecimento gráfico e como consequência direta disso vem o receio do aluno em explicitar os croquis produzidos. Parece haver, na concepção do aluno, uma relação direta entre desenhos bem feitos e bons projetos, Foi observado também que, em alguns trabalhos, o aluno aparenta estar somente cumprindo a exigência da disciplina. Em um dos conjuntos, por exemplo, observamos que todos os desenhos de plantas e cortes tinham sido produzidos em meio digital, mas com a aplicação de filtros que simulavam o desenho à mão livre. Notamos aqui uma distorção do uso do croqui, na medida em que as características e possibilidades inerentes ao registro livre, defendidas por Laseau (2001) e já discutidas, são abandonadas, ficando somente a “estética gráfica”, ou seja, o 1 Ciriani, Henri Eduard. Letters Ouverts en el Catálogo Imagenes et Imaginaires …, p.142 125 Por outro lado, esse número também pode revelar uma atenção exagerada dos alunos à representação em plano horizontal, limitando sua percepção às suas duas dimensões (larguras e profundidades) enquanto que a altura, que complementaria os aspectos espaciais, tanto interna quanto externamente, ficaria relegada a segundo plano. Considerando o que afirma Zevi (2009), se a planta é incapaz de oferecer todos os aspectos necessários para perceber a arquitetura em sua totalidade, outros recursos gráficos deveriam entrar em cena. Seriam eles os cortes, as fachadas e as perspectivas. Figura 76 - Conjunto de plantas de estudo. Fonte: Edição do autor a partir do acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autoria dos desenhos: Tamirys Soares Sena. Sobre os dois primeiros, os números mostram que seu uso é pequeno quando comparado às plantas e às perspectivas, destacando as fachadas, que só aparecem em 6,28% dos casos. Já foi detalhado que, segundo Fraser e Henmi (1994), o uso de somente duas dimensões no desenho de cortes e fachadas permite maior concentração em determinados aspectos de um edifício, sendo essa uma das características da força desse tipo de representação. O que percebemos, contudo, é que é justamente a abstração da projeção em plano vertical que talvez Figura 77 - Perspectiva NPR com resultado da proposta. Fonte: Edição do autor a partir do acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autoria dos desenhos: Tamirys Soares Sena. afaste o aluno desse recurso. Vale lembrar que plantas, cortes e fachadas são visualizações difíceis de serem percebidas nas 126 obras construídas de Arquitetura. Isso também fica latente quando se observa a quantidade de perspectivas que representam 27,63% do total. O número surpreende, na medida em que essa seria a representação que traria mais dificuldades técnicas para a confecção, mas parece que aqui prevalece o que é defendido por Ching e Juroszek (2007). O fato de a perspectiva proporcionar a múltipla visão (visualização de várias faces) do objeto e de oferecer uma representação mais próxima da realidade, quando comparada aos cortes e fachadas, atrai o aluno. O que a pesquisa constatou, Figura 78 - Estudos em perspectiva. Fonte: Edição do autor a partir do acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autoria dos desenhos: Maria Consuelo Nóbrega entretanto, foi que, de uma maneira geral, os desenhos carecem de apuro técnico e precisão. Em muitos casos, não é possível definir em qual categoria a perspectiva se encaixa, como pode ser percebido nas Figuras 78 e 79. Vale lembrar que a matriz curricular que formou esses arquitetos possuía uma disciplina específica e bastante detalhada sobre perspectivas. Com o suporte dessa cadeira, esperávamos um resultado gráfico mais consistente. É fácil perceber, entretanto, que os discentes, após serem aprovados nessa disciplina, dão prioridade ao uso dos programas de modelagem para conseguir as perspectivas dos projetos acadêmicos. Sendo assim, quando 127 tomam a iniciativa de fazer perspectivas usando croquis, faltamlhes conhecimento e práticas necessárias. É preciso deixar claro que a ausência de correção geométrica não invalida os desenhos como estudo. Se eles tiverem sido capazes de registrar o pensamento do autor e de orientá-lo na tomada de decisões, então terão sido exitosos. A quantidade de desenhos sofre algumas variações quando são considerados os projetos de edificação, em comparação com os projetos de temática urbanística. As Tabelas 8 e 9 mostram esses números. Os dados apenas comprovam que determinados desenhos são mais adequados a alguns tipos de projeto. Nos projetos envolvendo questões urbanísticas, os cortes aparecem Figura 79 - Estudos em perspectiva. Fonte: Edição do autor a partir do acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autoria dos desenhos: Arthur Braun. na frente das plantas, principal estrela dos projetos de edifícios, mas perdem o posto de primeiro lugar para os diagramas. Como era esperado, o número de desenhos de elevações decresce bastante, enquanto as perspectivas mantêm um percentual similar ao que acontece nos projetos de Arquitetura. Ao mesmo tempo que esses dados revelam uma tendência ao uso de tipos de desenhos de acordo com os tipos de projeto eles também explicitam alguns aspectos que merecem atenção. Em ambos os casos, projetos de arquitetura e projetos urbanísticos, a 128 Tabela 8 - Quantidades de desenhos, por tipologia e tema do projeto principal forma de representação são os diagramas, as projeções horizontais e verticais (plantas, cortes e fachadas) que ARQUITETURA TIPO DE DESENHO TOTAL PERCENTUAL DIAGRAMAS 96 10,28% PLANTAS 362 38,76% CORTES 128 13,70% FACH/ELEV 74 7,92% PERSPECTIVAS 274 29,34% Total 934 100,00% correspondem, respectivamente, a 70,66 % e 77,33% dos desenhos usados, o que pode indicar mais uma vez uma atenção menor aos aspectos espaciais das propostas. Também foi constatado no levantamento o fato de que o desenho à mão livre não está restrito aos critérios da disciplina, ou seja, esse recurso não é usado somente para apresentar o histórico de croquis de estudo. Observamos que há uma quantidade considerável de uso desse recurso como instrumento de Fonte: Acervo do autor confecção de desenhos de apresentação. Como não há Tabela 9 - Quantidades de desenhos, por tipologia e tema do projeto obrigação dentro da disciplina, acreditamos ser essa uma opção espontânea do aluno e/ou sugestão do seu orientador. URBANISMO TIPO DE DESENHO TOTAL PERCENTUAL DIAGRAMAS 95 27,62% PLANTAS 76 22,09% CORTES 89 25,87% FACH/ELEV 6 1,74% PERSPECTIVAS 78 22,67% que usa desenhos técnicos feitos em programas CAD e/ou Total 344 100,00% modelos tridimensionais genéricos como base para a confecção Fonte: Acervo do autor Vale ressaltar, entretanto, a ideia de que esses desenhos são fortemente subsidiados pelos recursos digitais, como mostram os dados da Tabela 10. Nela, se percebe que praticamente 1/3 dos desenhos analógicos tive a intervenção de algum recurso computacional. A técnica que aparece com maior frequência é a de plantas, cortes, fachadas e perspectivas com acabamentos à 129 Tabela 10 - Quantidades de desenhos por técnica de confecção mão livre geralmente, em caneta e lápis de cor. Um exemplo pode ser visto na Figuras 80. CARACTERÍSTICAS TOTAL PERCENTUAL ANALÓGICOS 942 73.71% Apesar disso, notamos também que o computador é usado pelo HÍBRIDOS 336 26.29% aluno prioritariamente como recurso de representação gráfica Total 1,278 100.00% seja por técnica híbrida ou totalmente digital. Somente em alguns Fonte: Acervo do autor episódios, foi constatado o uso de softwares simuladores para auxiliar nas decisões de projeto. Um exemplo pode ser visto na Figura 81. O uso dos recursos eletrônicos somente como instrumento de representação observado na maioria dos trabalhos, embora evidencie, segundo Cardoso (2005), uma subutilização dessas ferramentas, parece coerente com o modo como os ex-alunos foram orientados durante curso. De acordo com o relatado no capítulo 4, as atividades das disciplinas específicas, da área de computação gráfica aplicada, eram trabalhadas em separado da realidade dos projetos com foco prioritário no aprendizado instrumental. Situação semelhante observamos nas disciplinas de projeto. Mais uma vez, vale lembrar que esse tipo de orientação Figura 80 - Perspectiva de apresentação a partir de base do SketchUp. Fonte: Edição do autor a partir do acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autoria dos desenhos: Renata Freitas pode ter ocorrido por parte de alguns professores, mesmo que os documentos da disciplina (projeto de ensino) não o fizessem. Mesmo assim, esse tipo de aplicação foi quase inexistente ou, 130 pelo menos, pouco registrado na defesa escrita dos projetos. Aqui cabe uma observação feita por nós que não guarda relação direta com o foco de estudo, mas que revela uma rotina dos alunos em relação ao uso do computador e às perspectivas finais. O levantamento quantitativo da amostra revelou que, como já esperado, 100% das perspectivas finais foram produzidas por meio de ferramentas digitais ou, pelo menos, de forma híbrida. Elas aparecem até mesmo no caso em que os alunos optaram por usar o desenho à mão livre para os desenhos de apresentação. Figura 81 - Modelagem 3D usada para estudos. Fonte: Edição do autor a partir do acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autoria dos desenhos: Davi Felício Fiúza Apesar disso, não há grande variação no tipo de software utilizado. A maioria desses produtos gráficos foi gerada no SketchUp. Essas constatações não surpreendem, visto que esse instrumento, além de ter elevado grau de aceitação entre os discentes, é a principal ferramenta digital ensinada no curso. Um dado, entretanto, chamou-nos a atenção. De todas as perspectivas eletrônicas usadas para a apresentação dos projetos, 65% delas tinham acabamento final (Rendering) do tipo NPR (Non Photo Realistic) que tem como principal característica o aspecto similar ao do desenho artístico e analógico. Em dois dos casos estudados, os alunos optaram, inclusive, por usar esse 132 Tabela 11 - Quantidades de desenhos por uso de cores O uso de cores se mostrou muito presente na amostra coletada, CARACTERÍSTICA TOTAL PERCENTUAL como é notório nos percentuais da Tabela 11. Percebemos na COLORIDOS 853 66,74% análise dos desenhos que esse recurso gráfico não tem por MONOCRO 425 33,26% objetivo a representação realista dos materiais especificados nos Total 1278 100,00% projetos. O que constatamos é o uso da cor como elemento Fonte: Acervo do autor gráfico para apresentar intenções de acabamentos, para estabelecer hierarquias de funções ou compor legendas indicativas como visto na Figura 84. Podemos também notar que, de maneira geral, os desenhos coletados não denotam graves erros de âmbito geométrico embora sejam carentes quanto à hierarquia de traços, principalmente quando se consideram aqueles usados para apresentação. O fato de a apresentação acontecer obrigatoriamente em dispositivos de projeção com resolução máxima de 800x600 pixels (Datashow) força o aluno a digitalizar os croquis e isso nem sempre é feito de maneira correta, ocasionando a perda de qualidade e até mesmo de legibilidade. Já foi dito que a única disciplina que aborda diretamente o ensino do desenho à mão livre no curso da UNIFOR é Desenho de Observação, e ela se encontra no primeiro semestre. Depois há somente uma menção à palavra croquis na disciplina Projeto 133 Arquitetônico II e a total ausência de procedimentos didáticos para o ensino desse recurso. Apesar desse hiato, a resposta dos alunos à solicitação de apresentar croquis no desenvolvimento do TFG parece satisfatória e demonstra que, apesar de não haver treinamento e/ou ensinamentos diretos desse instrumento, há alguma habilidade adquirida. Acreditamos que ela possa vir de cursos extracurriculares, do próprio estímulo de alguns professores nas disciplinas de projeto e/ou do interesse natural de alguns discentes. A seguir serão mostrados os estudos de caso. Para esses trabalhos, a avaliação foi mais minuciosa e contou com as informações obtidas em questionário aplicados aos autores dos projetos. Figura 84 - Uso da cor nos croquis. Fonte: Edição do autor a partir do acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autoria dos desenhos: Lisiane Freitas 134 5.3 Estudo de caso 1: TFG de Luana Ferreira Cavalcante Arquiteta: Luana Ferreira Cavalcante. Ano/Semestre da defesa do TFG: 2013/1. Orientador(a): Prof. Mário Antônio da Silva Guerra Roque. Tema: Complexo de Cinema do Ceará. Matriz Curricular: 26.2. Instrumentos analógicos utilizados: Canetas tipo Unipin, canetas Tombow, lápis 2B, lapiseiras 0.7 e 0.9, papel manteiga, papel formatos A4 e A3 (texto da entrevistada). Ferramentas digitais utilizadas: Sketchup, CorelDraw e o AutoCAD em computador pessoal. Data dos desenhos: Janeiro a julho de 2013. Peças gráficas: Plantas e perspectivas. Autoria: Todos os desenhos analógicos e digitais foram produzidos pela autora do projeto. Resumo do projeto: O projeto da ex-discente propõe, através de edificações predominante horizontais, um complexo de salas de cinema e equipamentos correlatos em um terreno que abarca dois quarteirões localizado na zona sul de Fortaleza às margens de sua principal avenida, a Washington Soares. Respostas do questionário: Apêndice E. 135 O partido do projeto surgiu da concepção de que um equipamento urbano de grande porte, como o aqui proposto, deve possuir total relação com o seu entorno imediato e com a cidade. Assim, desde o início houve a preocupação para que a forma dos blocos contribuísse para a melhor relação do conjunto com a cidade. Desta forma, pensou-se em dispor os edifícios a partir de um ponto central, sempre levando em consideração a ventilação, a insolação, a topografia acentuada do terreno, os acessos principais e as visuais mais marcantes. (CAVALCANTE, 2013, p. 60) As palavras da autora do projeto deixam claro que, nos seus estudos iniciais, a relação dos edifícios com seu entorno imediato era ponto fundamental do partido adotado. Essa postura aponta Figura 85 - Estudos de implantação. a razão pela qual foi dada grande atenção a plantas e Fonte: Complexo de Cinema do Ceará - Pág. 61a perspectivas aéreas, como será detalhado a seguir. A escolha pelas projeções ortográficas em vista superior, como já exposto antes e afirmado por Fraser e Henmi (1994), mostra-se pelas suas características, adequada para o estudo das massas e suas relações com o lote e com os seus acessos. Podemos observar nos croquis de estudo a evolução das decisões da ex-discente no sentido de organizar espacial e geometricamente os volumes principais do complexo proposto. 136 Os desenhos [Fig. 85], feitos a lápis sobre papel sulfite, mostram inicialmente três formas básicas que se interceptam, mas de forma quase aleatória e aparentemente sem rigor geométrico. As linhas rapidamente esboçadas parecem querer ter alguma relação com os centros geométricos do elemento em formato de meia-lua, mas os traços não demonstram isso. Como também afirma a autora, a convergência dos edifícios para um centro é outro ponto norteador das suas decisões e como consequência disso o elemento principal, que abrigará as salas Figura 86 - Estudos de layout dos ambientes. Fonte: Complexo de Cinema do Ceará - Pág. 61a de cinema, acaba tomando forma dominante e diferenciada na proposta, sendo a única constante em todos os esboços. Enquanto ele vai sendo refinado geometricamente observamos que as edificações anexas vão passando por variações em formato e posição. Nos cinco primeiros croquis [Fig. 85], fica nítido o modo como as ideias vão sendo filtradas em uma dinâmica gráfica que tem as características do que é definido por Perrone (2008) como Croqui Especulativo. Independentemente da quantidade real de desenhos usados para se chegar ao resultado final, acreditamos que, como já mencionado, estes sejam os registros gráficos 137 eleitos pela própria autora como síntese de suas preocupações. Observa-se nos dois últimos desenhos maior correção geométrica acompanhada de maior detalhamento das plantas. Já se pode perceber a divisão dos compartimentos que abrigarão o programa de necessidades. Os grafismos ainda são muito simples e estilizados. Uma só linha representa as paredes. A primeira ampliação de escala do conjunto [Fig. 86] é relativa à quarta opção de planta do primeiro grupo de croquis [Fig. 85] e nela já se podem notar manchas, setas e rabiscos sobrepostos ao desenho principal, denotando a provável inquietação da Figura 87 - Estudos coloridos. Fonte: Complexo de Cinema do Ceará - Pág. 61b autora quanto a questões funcionais. O lote aparece pela primeira vez representado por um retângulo que abraça todos os blocos. Um dos ambientes traz linhas paralelas que marcam o que viria a ser a distribuição de assentos em um auditório. É importante lembrar aqui a importância que os códigos e símbolos arquitetônicos, definidos por Lawsson (2002) além das leis da percepção apregoadas por Arnheim (1998), têm nesse contexto. Os elementos gráficos são extremamente abstratos e 138 simplórios, mas seu posicionamento, escala e relação com o contexto remetem a interpretá-los como objetos da Arquitetura. Duas opções de plantas são apresentadas agora em cores [Fig. 87 e Fig. 88]. O uso desse recurso gráfico não tem qualquer relação com os materiais de construção e sim com a setorização funcional do complexo. O texto surge nesse momento dando a ideia de maior definição quanto à distribuição dos ambientes. O uso da caneta marcando os contornos das edificações com traços mais espessos aponta para uma aproximação com a solução desejada embora ainda se observem variações formais Figura 88 - Estudos coloridos. Fonte: Complexo de Cinema do Ceará Pág. 61b nas formas e se percebam duas propostas, sendo uma mais fragmentada do que a outra. O desenho mostrado na Figura 89, embora com alterações em relação aos anteriores, indica a escolha pela implantação mais fragmentada. Mais uma vez a caneta aparece como demarcadora dos limites dos edifícios que agora surgem mais detalhados e resolvidos mediante um desenho digital. A base em CAD é usada como suporte mais preciso para o estudo das áreas entre os volumes. A cor agora marca jardins, áreas pavimentados, calçadas e caminhos. Observam-se setas 139 em vermelho, ressaltando outro ponto importante defendido pela autora: os acessos pulverizados e apontando para o que ela entende ser a atração principal do projeto, ou seja, o bloco das salas de cinema e museu. Em seu texto, há inclusive uma defesa metafórica dessa solução espacial no sentido de destacar a importância da chamada sétima arte. Nos seus dizeres, A centralidade ocorre como meio de exaltar o Edifício Central, que abriga o Museu da Produção Cinematográfica Cearense. A importância de levar as visuais do projeto para este bloco é uma referência a necessidade de maior visibilidade que o cenário cinematográfico cearense tanto precisa – e merece. (CAVALCANTE, 2013 p. 61). Figura 89 - Estudos coloridos. Fonte- Complexo de Cinema do Ceará - Pág. 62 Nesse mesmo texto, a autora faz referência ao uso de alturas diferenciadas nos blocos, ressaltando sua importância na manutenção da ventilação e iluminação natural das edificações. O discurso parece incoerente com os desenhos de estudo que focam na solução em planta. Somente após uma modelagem tridimensional produzida pelo programa Sketchup, percebem-se as intenções plásticas do projeto em sua totalidade. Mediante uma projeção bidimensional do modelo 3D [Fig. 90], surge aquela 140 que seria, nesse momento, a implantação definitiva na qual se pode ler, por meio das sombras projetadas alguma informação de altura. Essa configuração já traz novas definições em relação ao último croqui avaliado. Aqui percebe-se o uso dos sistemas digitais não só como suporte de representação gráfica, mas também como instrumentos de estudo do projeto, como já discutido nas afirmações de Cardoso (2005). Durante a modelagem, feita também pela autora, foram sendo percebidas novas Figura 90 – Implantação a partir de modelo 3D. Fonte- Complexo de Cinema do Ceará - Pág. 63 possibilidades e problemas, resultando na solução final [Fig. 91]. A perspectiva é aérea e, embora não mostre uma visão possível pelo observador mais comum, é bastante didática. As imagens, apesar de geradas em meio digital, não são de acabamento realista. Alguns elementos como, por exemplo, as árvores e figuras humanas bidimensionais, surgindo dos passeios e jardins como silhuetas denunciam a despreocupação da autora Figura 91 - Perspectiva aérea. Fonte: Complexo de Cinema do Ceará - Pág. 65 com esse aspecto [Fig. 92 e 93]. As perspectivas se enquadram na categoria NPR (Não fotorrealista), já mencionada. 141 Essa atitude gráfica se repetirá nas perspectivas seguintes, agora sim, apresentadas na altura de um observador comum. Fica evidente que o recurso gráfico, ao mesmo tempo, é caracterizado como o desenho de apresentação definido por Fraser e Henmi (1994), mas, como também comenta o autor, não tem intenção de ser um produto artístico. Sua função é de apresentar, prioritariamente, a configuração espacial, deixando em segundo plano os acabamentos de materiais e efeitos de luz. Figura 92 - Perspectiva em altura de observador no plano do chão. Fonte: Complexo de Cinema do Ceará - Pág. 73 Embora só duas imagens sejam mostradas nesta pesquisa foram usadas 12 perspectivas com essas características na defesa da ex-aluna. Isso deixa mais evidente a importância dada, desde os primeiros croquis, à configuração espacial resultante da implantação dos blocos no terreno. Apesar disso, vale registrar que não foram observados, no conjunto de seu trabalho, croquis de estudo que buscassem a visualização dessa intenção antes do uso dos recursos computacionais. As perspectivas geradas pelo modelo do SketchUp aparentam ter função tanto especulativa quanto de apresentação, ou seja, Figura 93 - Perspectiva em altura de observador no plano do chão. Fonte: Complexo de Cinema do Ceará - Pág. 76 decisões e/ou alterações do projeto podem ter sido tomadas durante o seu processo de confecção. 142 5.4 Estudo de caso 2: TFG de Bruna Gripp Ibiapina Arquiteta: Bruna Gripp Ibiapina. Ano/Semestre da defesa do TFG: 2011/2. Orientadoras: Profa. Carla Camila Girão e Profa. Amíria Brasil. Tema: Planejamento Estratégico e a Cidade de Guaramiranga: Uma proposta para o Desenvolvimento Urbano Local. Matriz Curricular: 26.2. Instrumentos analógicos utilizados: Papel vegetal, lapiseiras de grafite mais grosso e lápis aquarela. Ferramentas digitais utilizadas: Sketchup, CorelDraw e o AutoCAD em computador pessoal. Data dos desenhos: Julho a novembro de 2011. Peças gráficas: Diagramas, plantas, cortes, e perspectivas. Autoria: Todos os desenhos analógicos e digitais foram produzidos pela autora do projeto. Resumo do projeto: O trabalho, além de fazer levantamento qualitativo das atividades e da ocupação urbana da cidade de Guaramiranga, também propõe, de forma conceitual e generalista, estratégias de reordenamento de algumas atividades, o redesenho e a criação de alguns equipamentos de uso coletivo. Essa cidade, inserida no Maciço de Baturité, é importante polo turístico e cultural do Ceará. Respostas do questionário: Apêndice F 143 Como já comentado, durante a avaliação de todo o material, foi constatada grande variedade na maneira como os alunos concludentes exploraram o uso do desenho na defesa escrita de seu projeto. De todos os trabalhos coletados, este se mostrou como o que mais usou o croqui como instrumento de análise e de estudo do projeto, além de recurso didático para sua defesa. Ao longo de todo o trabalho, podemos perceber a intima relação do texto com os croquis em uma dinâmica que ora analisa ora propõem intervenções. Em ambos os casos, o desenho é o meio utilizado para registrar impressões assim como para apresentar soluções. O conjunto de desenhos é bastante diverso, sendo composto por uma grande quantidade de diagramas e mapas. De uma forma geral, foi observado que os projetos com temática ligada ao urbanismo usavam os mapas como principal recurso para registrar Figura 94 - Croqui de setorização da cidade de Baturité. Fonte: Planejamento Estratégico e a Cidade de Guaramiranga: Uma proposta para o Desenvolvimento Urbano Local - Pág. 23 graficamente os dados coletados nos diagnósticos. O principal instrumento utilizado foi o desenho vetorial em cores, possivelmente produzidos em CorelDraw e/ou AutoCAD, mas, em diversas ocasiões, foram percebidas ações analógicas efetuadas em mapas digitais, como, por exemplo, a pintura a lápis. Nesse estudo de caso, parte dos mapas e diagramas utilizou essa técnica, mas em diversas ocasiões eles foram confeccionados 145 Nota-se a maior presença de elementos geométricos, inseridos posteriormente de forma digital, e o uso das cores, a lápis, em plantas obtidas de forma vetorial. Na figura 96, podemos perceber essa técnica. É interessante observar que a legenda, presente em vários outros mapas, usa textos digitais, mas os elementos gráficos são analógicos e fazem referências tanto às cores quanto ao próprio grafismo usado no desenho principal. Na medida em que ocorre a transição entre a apresentação do diagnóstico e a demonstração das ideias do projeto, os desenhos mudam algumas características geométricas, mas mantêm seu Figura 96 - Mapa de infraestrutura do Maciço de Baturité. Fonte: Planejamento Estratégico e a Cidade de Guaramiranga: Uma proposta para o Desenvolvimento Urbano Local - Pág. 28 caráter lúdico. As três primeiras propostas, das oito que a exdiscente indica para a região, sugerem a criação de um centro de pesquisa, além do incentivo à produção agrícola e de flores, mas sem apontar para o desenho de edifícios e/ou de equipamentos. Dessa forma, na sua justificativa, os desenhos são bastante abstratos (diagramas) [Fig. 97] e mostram, por meio de curvas sinuosas e cores, além da relação entre os municípios, a localização vocacionada a ser atendida pela proposta da arquiteta. Mais uma vez a cor, em lápis aquarelado, é elemento didático que Figura 97 - Croquis de localização das propostas. Fonte: Planejamento Estratégico e a Cidade de Guaramiranga: Uma proposta para o Desenvolvimento Urbano Local - Pág. 48 orienta a leitura do desenho no qual podemos observar textos digitais e caligrafados. 146 As propostas de números 4 e 6 têm maior relação com elementos arquitetônicos e desenho de mobiliário urbano. Elas indicam a criação de parques urbanos e o estabelecimento de parâmetros para edificações sustentáveis. Dessa forma, como seria esperado, as peças gráficas mudam de configuração e passam a assumir características do desenho arquitetônico, mas de uma forma intuitiva e ainda lúdica. O texto é permeado por uma coleção de plantas, cortes, elevações e perspectivas [Fig. 98] que ilustram as intenções da autora para os equipamentos. A linguagem, descontraída e sem qualquer rigor técnico deixa claro que essas propostas de edifícios e equipamentos não serão detalhadas, ficando no nível conceitual. Os desenhos, menos pela configuração técnica e mais pelo minimalismo de elementos gráficos, pode ser comparado ao que propõem Leggitt (2004) para propostas conceituais, embora não se observe, em nenhum deles, qualquer base digital. A autora, mesmo tendo mudado os tipos de desenho, parece manter a mesma postura adotada para os diagramas, ou seja, os desenhos têm caráter intuitivo e, em várias oportunidades, é notória, inclusive, a ausência de uma escala determinada. Figura 98 - Croquis com propostas conceituais. Fonte: Planejamento Estratégico e a Cidade de Guaramiranga: Uma proposta para o Desenvolvimento Urbano Local - Pág. 51 Não há como definir com precisão em qual categoria as 147 perspectivas [Fig. 99] se enquadram (isométricas, dimétricas etc), mas é evidente a opção pela projeção obliqua ou por algum tipo de axonometria, talvez reflexo da já comentada dificuldade de execução das perspectivas de projeção cônica ou simplesmente pelas características dos elementos que se quer representar. Como é possível notar até aqui, o uso da aquarela conferiu aos desenhos um caráter peculiar, lembrando em vários momentos os croquis da arquiteta Lina Bo Bardi que, como declara essa autora Figura 99 - “Axonometria" de equipamento para parque. Fonte: Planejamento Estratégico e a Cidade de Guaramiranga: Uma proposta para o Desenvolvimento Urbano Local - Pág. 52 na entrevista, foi fonte de inspiração para sua produção gráfica. Os cortes [Fig. 100] surgem com maior força e, de maneira coerente, quando o trabalho avança para as propostas de intervenção no sistema viário. Eles são os principais protagonistas na representação das intervenções nas vias, aparecendo, com esse objetivo, em 17 oportunidades de um total de 22. Esses desenhos continuam intuitivos e a ausência de escala é denunciada em certas ocasiões pela representação dos automóveis, das figuras humanas e pelas cotas das seções das ruas. Mais uma vez fica evidente o descompromisso com o rigor técnico que parece não invalidar a leitura e tampouco a Figura 100 - Cortes e planta do sistema viário. Fonte: Planejamento Estratégico e a Cidade de Guaramiranga: Uma proposta para o Desenvolvimento Urbano Local - Pág. 55 compreensão das propostas do projeto que, até esse momento, são evidentemente conceituais e generalistas. 148 Na medida em que o texto avança e as propostas se tornam mais concretas, percebemos que os desenhos [Fig. 101 e 102] vão ganhando mais detalhes e notamos a maior participação dos recursos digitais, assim como maior cuidado com as escalas e a técnica de execução. Mesmo assim, o aspecto lúdico e descontraído persiste, conferindo uma unidade gráfica ao conjunto e um elevado nível de personalização ao trabalho. As características listadas até aqui não encontram rebatimento em nenhuma das disciplinas de desenho cursadas e citadas pela exaluna na sua entrevista (Anexo 2). Notória é a influencia que a Figura 101 - Planta de detalhe do sistema viário. Fonte: Planejamento Estratégico e a Cidade de Guaramiranga: Uma proposta para o Desenvolvimento Urbano Local - Pág. 79 arquiteta Lina Bo Bardi tem na sua produção gráfica e como o uso da aquarela, usado por ela desde criança, tem força de influência até mesmo para determinar o comportamento dos elementos digitais que sempre aparecem em tons pastéis. Figura 102 - Corte de detalhe do sistema viário. Fonte: Planejamento Estratégico e a Cidade de Guaramiranga: Uma proposta para o Desenvolvimento Urbano Local - Pág. 79 149 Ao contrário do que acontece com os outros TFGs avaliados (compostos por croquis + texto + pranchas técnicas + perspectivas), o conjunto de peças gráficas usadas na defesa escrita é o único de todo o trabalho. Isso faz com que todos os desenhos tenham função de estudo/concepção, de apresentação e de documentação, mesmo que para essa última seja de forma conceitual. Em uma organização bastante didática, textos e desenhos se complementam e levam o leitor a compreender como aconteceram as análises e propostas da, hoje, arquiteta e Figura 103 - Planta híbrida com detalhes do passeio. Fonte: Planejamento Estratégico e a Cidade de Guaramiranga: Uma proposta para o Desenvolvimento Urbano Local - Pág. 85 urbanista. Como já comentado, na medida em que as propostas passam a apontar para áreas de menor envergadura, os desenhos ganham mais detalhes e mais apuro [Fig. 103 e 104], mas sempre mantendo as características já apontadas. O trabalho, além de singular, também explicita a coragem e a personalidade da autora, que, para representar e demonstrar suas ideias e propostas de intervenção, abriu mão das imagens realistas e dos desenhos tecnicamente precisos. Figura 104 - Perspectiva. Fonte: Planejamento Estratégico e a Cidade de Guaramiranga: Uma proposta para o Desenvolvimento Urbano Local - Pág. 87 150 5.5 Estudo de caso 3: TFG de Danússia Baracho Teixeira Arquiteta: Danússia Baracho Teixeira. Ano/Semestre da defesa do TFG: 2013/2. Orientador(a): Prof. Marcos Bandeira de Oliveira. Tema: Escola de Design. Matriz Curricular: 26.2. Instrumentos analógicos utilizados: Escalímetro, papel-manteiga e vegetal, lápis de cor, lapiseira, canetas UniPin. Ferramentas digitais utilizadas: SketchUp, CorelDraw e o AutoCAD em computador pessoal. Data dos desenhos: Julho a novembro de 2013. Peças gráficas: Plantas, cortes, fachadas, detalhes construtivos e perspectivas. Autoria: Todos os desenhos analógicos e digitais foram produzidos pela autora do projeto. Resumo do projeto: Esse trabalho apresenta o projeto de uma Escola de Design na zona Sul da Capital cearense, região detentora do segundo metro quadrado mais caro de Fortaleza. A proposta, com forte apelo formal, procura respeitar a topografia do terreno tentando manter um diálogo com o entorno através de edificações ricas em atrativos visuais e espaciais. Respostas do questionário: Apêndice G. 151 Como detalhado antes, a rapidez, a espontaneidade e o caráter indefinido são algumas características que fazem dos croquis um dos instrumentos gráficos preferidos para os estudos iniciais de um projeto. São justamente esses aspectos que despertam a atenção nesse trabalho. Os desenhos deixam evidente a inquietação da autora na busca de soluções de âmbito funcional e formal e/ou da definição de seu partido que, de acordo com o observado no histórico de croquis, parece mudar algumas vezes. As características gráficas, e até mesmo o modo como os desenhos são dispostos de forma Figura 105 - Folha de croquis. Fonte: Escola de Design (TFG) - acervo da autora espontânea na folha de papel, deixam claro o caráter especulativo apontado por Perrone (2008) e Ching (1990). Os estudos iniciais, mostrados nas figuras 105 e 106, mostram fragmentos de edifícios representados quase que em forma de diagramas. Podem ser identificadas seções e projeções em plano horizontal e vertical, mas não resta clara a relação entre as partes, se há uma escala definida ou mesmo quais os tipos de desenho usados (plantas, cortes ou fachadas). O terreno não é usado nos estudos iniciais, o que – assim como também foi observado no Estudo de Caso 1 – expõe a ação de 154 Figura 110 - Croquis de estudo para pavimentos do edifício principal. Fonte: Escola de Design (TFG) - Pag. 33 A sequência de desenhos da figura 110 mostra as diversas alterações na planta da principal edificação. É possível enxergar as sobreposições de traços características do processo de investigação. O quarto desenho da série, já com um elemento de ligação entre dois blocos, traz aquela que seria a alternativa mais próxima ao que foi defendido na banca final [Fig 111]. Nota-se, entretanto, que o croqui difere da planta final revelando que o desenho em CAD também foi usado para tomada de novas decisões e para promover alterações no Figura 111 - Planta final apresentada à banca. Fonte: Escola de Design (TFG) projeto. 157 5.6 Estudo de caso 4: TFG de Luma Holanda Vasconcelos Arquiteta: Luma Holanda Vasconcelos. Ano/Semestre da defesa do TFG: 2013/2. Orientador(a): Prof. Francisco Edilson P Aragão. Tema: Parque Lagoa da Maraponga. Matriz Curricular: 26.2. Instrumentos analógicos utilizados: Papel manteiga, papel vegetal, papel ofício, folhas A3, lápis de cor, canetas Unipin, lapiseiras, lápis 2B, borracha, canetinhas, lápis de carvão, giz de cera, esquadros, régua, escalímetro, compasso. Ferramentas digitais utilizadas: AutoCad, CorelDraw, Sketchup, Prezi, Google Earth em computador pessoal. Data dos desenhos: Julho a novembro de 2013 Peças gráficas: Diagramas, plantas, cortes, fachadas, detalhes construtivos e perspectivas. Autoria: Todos os desenhos analógicos e digitais foram produzidos pela autora do projeto. Resumo do projeto: O projeto apresenta, de forma conceitual e generalista, proposta de implantação de um parque ao redor da Lagoa da Maraponga, importante recurso hídrico e área de lazer da região sudoeste de Fortaleza. Respostas do questionário: Apêndice H 159 desenho, o que recomendam Hutchison (2012) e Reid (2002), comentado no Capítulo 3. Na sequência, o mesmo tipo de técnica é aplicado no desenho nomeado pela autora como “Implantação” [Fig. 118]. Ele passa a ter características de desenho de apresentação e é a base para as várias ampliações dos diversos setores propostos no projeto. É importante notar que os detalhes não são ampliados graficamente. Ocorre apenas uma aproximação digital que pode ter sido feita ou por redimensionamento da imagem ou por alguma ferramenta de Figura 119 - Detalhe de setor. Fonte: Parque Lagoa da Maraponga (apresentação). visualização (Zoom e/ou Pan), como pode ser visto nas figuras 119 e 120. Apesar de ser alternativa viável, a ausência de escala gráfica prejudica a leitura e a percepção do percentual de ampliação. Observa-se que a pintura, agora com acabamento mais refinado, é complementada por manchas aplicadas posteriormente por algum recurso digital. A vegetação é desenhada de forma analógica, via lápis de cor, e observa-se a diferenciação das tipologias vegetais por tons de verdes e/ou por características gráficas. A marcação dos caminhos, os polígonos representando edificações, os piers e os limites do próprio parque são acrescentados de forma Figura 120 - Detalhe de setor. Fonte: Parque Lagoa da Maraponga (apresentação). digital. Isso confere um caráter não uniforme ao seu acabamento 160 gráfico. A textura e a irregularidade natural do lápis concorrem e contrastam fortemente com a homogeneidade da pintura sólida digital. A mesma planta geral é usada de uma maneira pouco observada nos TFGs avaliados. Mediante sua inserção em um modelador tridimensional, ela é apresentada quase que Figura 121 - Perspectiva geral Fonte: Parque Lagoa da Maraponga (apresentação). em toda sua extensão somente no planto XY, enquanto alguns pequenos volumes se elevem no eixo Z. A autora nomeia esse desenho [Fig. 121] como perspectiva, mas, embora isso não esteja incorreto, a ilustração não explora toda a potencialidade desse tipo de visualização. De acordo com o expresso no Capítulo 3 e defendido por Leggitt (2004), para esse tipo de técnica esperar-se-ia uma ação analógica para acrescentar, via desenho à mão livre, os demais detalhes à imagem. Com base nas demais peças gráficas da própria autora, [Fig.123 a 127], cremos que não faltariam habilidades a ela, mas isso não ocorreu. A proposta da hoje arquiteta previa, para o parque, a construção de alguns equipamentos, sendo eles: quiosques, Figura 122 - Detalhes do pequeno anfiteatro. Fonte: Parque Lagoa da Maraponga (apresentação). estações de ônibus, mirante, restaurante e edifícios 161 administrativos. Todos eles foram apresentados na sua defesa oral de forma conceitual e o único instrumento gráfico para isso foi o desenho à mão livre. Esses equipamentos não são representados nem mesmo nas pranchas técnicas. O conjunto (Fig, 122 a 127] é bem interessante e didático. Cada exemplar é ilustrado por um grupo diversificado de desenhos (plantas, elevações, cortes e perspectivas) coloridos prioritariamente a lápis de cor. A mesma técnica e características observadas antes se repetem aqui, ou seja, Figura 123 - Estação. Fonte: Parque Lagoa da Maraponga (apresentação). alguns desenhos recebem intervenção digital posterior na sua pintura. A cores são exploradas em alguns momentos para sugerir algum tipo de acabamento de material e em outros para marcar setores de uso dentro de um edifício. Apesar do intenso emprego de cores, não se notam sombras nem mesmo nas perspectivas. Não há indícios do uso de recursos digitais anteriores às ações analógicas. Tanto os desenhos de projeção ortogonal quando as perspectivas denotam algumas irregularidades Figura 124 - Quiosque. Fonte: Parque Lagoa da Maraponga (apresentação). gráficas que não chegam a prejudicar sua leitura, mas que legitimam a técnica usada na sua confecção, o desenho à 162 mão livre. Nas perspectivas, também é notório o isolamento entre o objeto e o contexto no qual ele estaria inserido, ou seja, o parque. A opção pela representação com ênfase nos edifícios parece condizente com o que defende Massironi (1982), e é certo que reforça os seus detalhes, mas, por outro lado, transfere para quem vê os desenhos a responsabilidade de imaginar como a paisagem abraçaria tais equipamentos. Essa postura não é incorreta, mas pode fazer com que algumas decisões de projeto escapem do domínio do seu autor. Figura 125 - Mirante. Fonte: Parque Lagoa da Maraponga (apresentação). Ainda sobre as perspectivas, a ausência de desenhos representando a escala humana, a vegetação e o mobiliário urbano dificulta a leitura das reais proporções dos equipamentos. Destaca-se aqui o mirante, cujas proporções, mostradas no desenho conceitual da Figura 125, não parecem equivalentes às do volume (cor magenta) que o representa na Figura 121, assinalado pela elipse vermelha. 163 O trabalho completo tem ao todo 28 pranchas técnicas. Nelas o projeto é detalhado, principalmente, por meio de plantas e cortes. Chama a atenção o fato de que em nenhum momento são utilizadas perspectivas provenientes de modeladores 3D (Ex: SketchUp), nem são usadas imagens realistas para ilustrar a proposta. Ao contrário, a atração principal da apresentação, preparada pela ex-discente para a banca final, são os desenhos à mão livre. A proposta, além de se diferenciar dos outros trabalhos defendidos na UNIFOR pelas características das peças Figura 126 - Restaurante. Fonte: Parque Lagoa da Maraponga (apresentação). Figura 127 - Prédio da administração. Fonte: Parque Lagoa da Maraponga (apresentação). gráficas, revela também a coragem e a confiança da autora em seus croquis. 164 5.7 Estudo de caso 4: TFG de Nicole Campos Fiúza Arquiteta: Nicole Campos Fiuza. Ano/Semestre da defesa do TFG: 2009/1. Orientador(a): Profa. Márcia Cavalcante e Prof. Marcos Bandeira de Oliveira. Tema: Curso de Gastronomia UNIFOR. Matriz Curricular: 26.2. Instrumentos analógicos utilizados: Papel, lápis, lapiseiras, canetas coloridas, escalas, esquadros, pranchetas. Ferramentas digitais utilizadas: Autocad, Sketchup. Data dos desenhos: Fevereiro a junho de 2009. Peças gráficas: Plantas, cortes, fachadas, detalhes construtivos e perspectivas. Autoria: Todos os desenhos analógicos foram produzidos pela autora do projeto. Resumo do projeto: O projeto sugere a criação de uma edificação, de forte apelo formal e locada em terreno dentro do Campus da UNIFOR, que abrigaria o curso de Gastronomia da instituição. Respostas do questionário: Apêndice I 165 A coleção de desenhos com ação analógica desse trabalho traz algumas particularidades em relação aos demais TFGs avaliados. Uma delas diz respeito à constatação da quase ausência de desenhos de estudo com foco na funcionalidade, e a outra, talvez reflexo da primeira, se refere à quantidade de perspectivas usadas para o estudo das questões formais da edificação. Figura 128 - Fachada lateral do resultado final. Fonte: Curso de Gastronomia da Unifor (TFG) prancha 12/15 O programa de necessidades, relativamente simples, é resolvido pela autora em um só bloco principal de estrutura modular. Esse bloco é atravessado, em formato de cruz latina, por dois grandes balanços sustentados por um pilar central de onde saem tirantes. Os desenhos das Figuras 128 e 129 mostram, em dois desenhos técnicos, o aspecto final do projeto. Por eles, é possível entender melhor a busca da autora, relatada em seu texto, por um partido que privilegiava a forma. Essa constatação ganha força quando são observados os croquis de estudo usados na defesa escrita e também na sua apresentação para a banca final [Fig. 130 a 137]. O Figura 129 - Planta do pavimento 1. Fonte: Curso de Gastronomia da Unifor (TFG) prancha 07/15 conjunto de perspectivas, quase todas analógicas, mostra a evolução do partido. É interessante observar que o 166 Figura 130 - Estudos de volumetria. Fonte: Curso de Gastronomia da UNIFOR (TFG) p.53 pensamento e as ideias da autora. Por exemplo, sobre o esboço mostrado na Figura 131, a autora exprime, Primeiramente foi pensado em fazer um grande bloco com um grande pátio interno e um anexo em estrutura metálica e vidro para dar uma certa transparência para aqueles que passassem pela rua. (FIUZA, 2009, p.53). Figura 131 - Estudos de volumetria. Fonte: Curso de Gastronomia da UNIFOR (TFG) p.53 O mesmo pode ser observado nas perspectivas das Figuras 132, desenho vai amadurecendo na medida em que a 133 e 134. É interessante observar que essas perspectivas não edificação vai se aproximando do resultado esperado têm uma definição precisa quanto ao tipo. Os três primeiros pela autora. As primeiras perspectivas [Fig. 130 e 131] desenhos parecem perspectivas cavaleiras desenhadas com base são bastante volumétricas, mas parecem ter proporções em um esboço de fachada, enquanto os dois últimos se apoiam destoantes em suas dimensões. Apesar disso, já em eixos isométricos, embora com alguns problemas de apresentam o elemento ondulado nas fachadas que viria paralelismo. a ser determinante na definição plástica do edifício. Apesar disso, a aparente confusão gráfica não parece ter sido Enquanto o projeto vai avançando, os desenhos vão problema para a autora que, mais uma vez através de seu texto, ganhando detalhes. As perspectivas, embora denotem mostra coerência com o que tentava representar. Termos como incorreções na sua construção geométrica, expõem o “grande balanço no bloco central", “varanda” e "teto verde”, 167 expressos em sua defesa escrita, têm seus respectivos representantes nessas peças gráficas mesmo que desenhados com alguma incorreção geométrica. Observa-se o uso das cores e texturas como representantes dos acabamentos desejados para os materiais das fachadas. Figura 132 - Estudos de volumetria. Fonte: Curso de Gastronomia da UNIFOR (TFG) p.54 Na continuação de sua defesa, a ex-discente volta a fazer referências ao modo como o projeto vai mudando, e é válido observar como essas mudanças vão se refletindo nos desenhos apresentados [Fig. 135 e 136]. Nota-se que agora as perspectivas ganham detalhes construtivos mais bem definidos e proporções mais coerentes. Há também uma definição mais clara quando ao tipo de perspectiva (cônica com dois pontos de fuga Figura 133 - Estudos de volumetria e plantas. Fonte: Curso de Gastronomia da UNIFOR (TFG) p.54 principais), além de um incremento na qualidade gráfica. A técnica não muda muito ao longo do processo. A paleta de cores se mantém praticamente a mesma e o traço, as vezes a caneta e às vezes a lápis de cor, é o elemento gráfico definidor dos volumes, assim como dos brises e cobogós, elementos também mencionados ao longo do texto. As cores, como já comentado, tem nítida função de investigação estética. Figura 134 - Estudos de volumetria. Fonte: Curso de Gastronomia da UNIFOR (TFG) p.54 O último conjunto de desenhos, mostrados na Figura 137, deixa 169 claro, quando comparados à imagens finais [Fig. 138 e 139], que o edifício estava praticamente resolvido, pelo menos no que diz respeito à sua proposta plástica. Pode-se observar que os desenhos mantêm a coerência gráfica, mas, nesse momento, subsidiado por uma base volumétrica produzida em SketchUp, as perspectiva ganham nova configuração geométrica, mostrando-se bastante coerentes com o resultado final. Vale frisar que essa base volumétrica foi usada como substrato para o último momento de investigação durante o Figura 138 - Perspectiva final. Fonte: Curso de Gastronomia da UNIFOR (TFG) prancha 15/15 qual a autora pôde verificar a composição final de suas fachadas. Ao contrário do observado na maioria dos TFGs, não foi observado o uso excessivo de plantas como desenho de estudo. Apesar disso esses desenhos foram bastante explorados pela autora para apresentar, por uma técnica híbrida, os layouts dos diversos tipos de salas e espaços de uso coletivo [Fig. 140 e 141]. Os desenhos, usados para ilustrar o texto, foram feitos com os mesmos materiais analógicos empregados nas perspectivas, por cima de uma base em CAD. Figura 139 - Perspectiva final. Fonte: Curso de Gastronomia da UNIFOR (TFG) prancha 15/15 De maneira geral, constatamos, nesse estudo de caso, o uso do desenho como elemento definidor da uma proposta de projeto e como instrumento didático da defesa escrita da autora. 171 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS padronização dos resultados gráficos e metodologias de projeto, embora saibamos que existam similaridades em alguns métodos e que alguns produtos gráficos como, por A investigação feita nesta dissertação aponta para algumas constatações e abre caminho para outras discussões no que exemplo, as chamadas maquetes eletrônicas, não se diferenciem muito entre profissionais diversos. se refere, especificamente, ao uso dos registros gráficos durante o processo de projeto. É certo que a avaliação geral Os estudos em curso na área de metodologia de projetos, de todos os TFGs de 2009 a 2014 da UNIFOR, assim como alguns deles discutidos aqui, deixam clara a diversidade de dos cinco estudos de caso específicos, consegue constituir variáveis envolvidas, assim como as complexidades um panorama dos processos gráficos dos ex-discentes dessa encontradas nas tentativas de sistematizar esses processos. instituição durante o seu último projeto acadêmico, mas Com base no que foi investigado nessa dissertação, podemos acreditamos que os dados quantitativos e as avaliações também afirmar que os mecanismos de representação qualitativas podem encontrar retratos similares em outras gráfica, que auxiliam e registram esse percurso, demonstram- escolas do país. se tão plurais e complexos quanto o próprio processo de A suspeita toma como base a universalização das ferramentas e técnicas gráficas, principalmente daquelas que projeto, mas carecem de orientação, tanto aos profissionais quanto aos estudantes, durante seu desenvolvimento. usam instrumentos digitais, bem assim das facilidades cada A computação gráfica, como se viu, não eliminou vez maiores de comunicação que permitem a troca de instrumentos nem as técnicas analógicas, mas se somou à informações, o treinamento, a aquisição de equipamentos elas. Fica constatado, pelo exposto, que cada técnica e cada (tanto analógicos quanto digitais) e o acesso a programas tipo de desenho tem características singulares que podem ser gráficos. Vale observar, no entanto, que essa espécie de exploradas nas mais diversas situações e etapas do processo globalização dos instrumentos e técnicas não significou a de projeto, não sendo possível estabelecer "o que" é mais ou 172 menos adequado "a que". Haverá o momento do risco habilidades, além de treinamento para a manipulação de analógico no papel ou na tela de um tablet LCD, da construção instrumentos e aplicação de técnicas. virtual de um edifício, do risco sobre o desenho digital impresso, da impressão tridimensional, da maquete de papel, Essas habilidades e esse treinamento ultrapassam os limites da pintura digital sobre o desenho à mão livre e outros mais. da Geometria (plana e espacial), do desenho arquitetônico e Ficou evidente, também, que nenhuma dessas ações é urbanístico e da computação gráfica. Ele solicita, de alunos e propriedade específica do momento de concepção, nem da de profissionais, o domínio das questões tectônicas, além da fase de apresentação, tampouco da documentação do projeto. percepção e composição do espaço construído. Mesmo Cada etapa poderá explorar o que cada ferramenta tem de considerando somente o desenho analógico, em especial o mais adequado para oferecer. Essa diversidade é benéfica, uso dos croquis para estudos, que a priori requereriam menos mas, ao mesmo tempo, requer orientação além de apuro técnico e/ou refino gráfico para sua confecção, há uma conhecimentos técnicos, instrumentais e conceituais. Saber coleção mínima de técnicas gráficas e sintaxe visual, como manipular um software ou possuir um conjunto com dezenas também de requisitos instrumentais para a representação do de lápis de cor não conferirá a nenhum usuário as habilidades, espaço tridimensional (existente ou imaginado) mediante os saberes necessários nem a capacidade de aplicar esses projeções ortográficas e/ou de perspectivas, além de, é claro, instrumentos nas práticas de projeto com eficiência. saberes relacionados ao objeto que se pretende representar, seja ele o edifício, o espaço urbano ou uma peça de A pesquisa confirma a existência de um desenho específico aplicado à Arquitetura que, mesmo que se alimente dos conceitos básicos da expressão gráfica, possui características únicas. Esse desenho, nas suas vertentes analógica, digital e híbrida, tem peculiaridades e requer conhecimento teórico específico, assim como o desenvolvimento de certas mobiliário. Dessa forma, o ensino e a aprendizagem desse "desenho de arquiteto" também deveria envolver a capacitação da mente, no sentido de capacitar o discente a, concomitantemente ao processo de criação e busca de soluções, representar 173 graficamente suas ideias de forma expressiva, comunicativa e projeto quanto no TFG. Apesar disso, sabe-se que, tanto nos vinculada à construção. Sabemos, porém, que isso raramente ateliês quanto na orientação, há uma separação entre projeto acontece. A falta de orientação para o uso dos novos e representação gráfica. Sobre isso, cremos que alguns recursos, tanto no âmbito gráfico quanto de metodologia de docentes se colocam na posição de "professores de projeto” e projeto, fica clara pelos dados e pela avaliação qualitativa do que, na defesa dessa auto titulação, se recusam a orientar e/ material coletado. A matriz curricular, analisada no estudo de ou ensinar recursos gráficos que subsidiem as investigações caso, evidencia a separação entre o ensino/aprendizagem do projetuais. Essa recusa pode acontecer por mera convicção desenho e sua relação com a realidade do projeto. do professor de que o desenho deve ser ensinado antes do projeto ou porque ele simplesmente não domina e/ou não Sob o ponto de vista gráfico, percebemos que os está interessado em aprender novos expedientes gráficos. ensinamentos relativos ao desenho de Arquitetura, embora não tenham abandonado por completo as práticas analógicas, Algumas características encontradas no material avaliado em especial o uso do desenho à mão livre, estão cada vez corroboram as observações postas até aqui. Por exemplo, a mais inclinados para a priorização das ferramentas digitais. Já grande atenção dispensada ao estudo e à apresentação dos em relação às questões do processo de projeto, nota-se projetos por meio de alguns desenhos específicos aponta também que, tanto para o analógico quanto para o digital, não para alguns possíveis lapsos do processo de ensino- parece haver vinculação entre esse ensino-aprendizado aprendizado em termos gráficos, técnico-construtivos e/ou gráfico e o seu reflexo no projeto e/ou no domínio dos arquitetônicos. espaços construídos. Destaca-se, por exemplo, o predomínio do uso de plantas em A entrevista aplicada aos professores (Apêndice B) constatou relação aos demais tipos de desenho (Apêndice A), em que todos consideram importante o uso do croqui no projeto e especial os cortes e fachadas (os números levantados na que a maioria exige essa prática tanto nas disciplinas de pesquisa foram confirmados também pela entrevista aos 174 docentes). A princípio, não é possível apontar essa exigências dos programas de necessidades, enquanto constatação como um procedimento equivocado, mas, além relegam a segundo plano a definição dos espaços internos e do foco exagerado nesse tipo de representação, parece haver externos, assim como a composição das fachadas e a também a desvinculação entre o que é desenhado em investigação das questões construtivas do objeto projeção horizontal e o seu rebatimento na realidade arquitetônico e/ou urbanístico. Os edifícios se tornam tridimensional. A baixa incidência de uso de cortes e produtos de uma extrusão, mal pensada, das suas plantas. elevações durante os estudos denuncia a falta de Em alguns casos, observa-se que os edifícios recebem algum investigação, na terceira dimensão, do que supostamente tratamento por meio de revestimentos superficiais e estaria resolvido nas outras duas dimensões. A inabilidade epidérmicos e/ou peles paralelas às suas paredes de gráfica para confeccionar e/ou perceber como cortes e vedação, na tentativa de tornar o projeto mais palatável. fachadas poderiam ser úteis ao raciocínio espacial e/ou técnico construtivo pode ser uma razão para essa Os espaços urbanos, pensados e representados desproporção. Vê-se aqui um exemplo de como a intervenção prioritariamente por meio de plantas e cortes, não tem suas do professor orientador poderia diminuir essa diferença, assim qualidades espaciais estudadas, por exemplo, por como direcionar o discente para um uso mais adequado de perspectivas com observador na altura do pedestre. Não são certos tipos de desenho para determinadas situações de incomuns os projetos urbanísticos cujas caixas de rua e de projeto. passeio estão corretamente dimensionados, assim como seus acessos, mobiliário urbano e elementos da vegetação. A grande atenção dada às plantas também pode indicar um desequilíbrio entre os esforços dirigidos à busca de soluções de cunho funcional em relação à investigação das questões Entretanto não se percebe o rebatimento dessas definições técnicas na qualificação do espaço que sofreu a intervenção projetual e nem seu registro através de perspectivas. plásticas, espaciais, de conforto ambiental e/ou técnicoconstrutivas. Observa-se intensa preocupação em atender as As perspectivas, apontadas no levantamento como o segundo 175 tipo de desenho preferido pelos discentes, quando práticas de projeto e são substituídas pelos sistemas digitais. desenhadas à mão livre para estudos, têm baixa qualidade Uma proposta didática que abraçasse a exploração dos técnica na maior parte dos episódios. Nota-se que, por serem recursos da modelagem tridimensional e a espontaneidade e desenhos que permitem uma visualização prévia mais rapidez do desenho à mão livre talvez fosse mais adequada e imediata das ideias, elas tomam o lugar dos cortes e sofresse menor rejeição. fachadas. Apesar disso, é notória a grande dificuldade na sua confecção por parte dos discentes. Em vários desenhos Ainda sobre isso, a pesquisa comprovou a intensa presença dessa natureza, não é possível indicar se a peça gráfica tem dos instrumentos digitais como auxiliares da confecção e origem ou se instaura por meio de uma perspectiva edição dos desenhos analógicos, mas também mostrou a axonométrica ou cônica, assim como se nota uma desatenção ausência de conteúdos sobre técnicas híbridas nas disciplinas e/ou incapacidade em estabelecer proporções corretas entre avaliadas. Isso revela mais uma vez a desatualização os elementos componentes do desenho (figura humana, curricular e também indica a real necessidade de reforço no vegetação e elementos construtivos). A atrofia causada pelos ensino de técnicas mistas que possam aliar as recursos computacionais parece explicar em parte essa potencialidades do desenho à mão livre com os recursos constatação. É interessante observar, entretanto, que mesmo computacionais. quando as perspectivas são totalmente geradas por computadores, recursos como sombras, texturas, cores, escala humana e posição do observador são explorados de forma confusa e às vezes equivocada. A pesquisa como um todo reforça a pertinência do desenho analógico nas práticas de projeto acadêmico, mas deixa evidente que falta continuidade de orientação para sua correta aplicação. Os estudos de caso individuais Deduzimos, portanto, que as técnicas de perspectiva demonstram o interesse e o esforço do concludente para lecionadas na disciplina específica (Técnicas de explorar o croqui como meio legítimo do seu processo de Representação II) não encontram continuidade de uso nas projeto, ao mesmo tempo em que externam algumas 176 dificuldades técnicas dos alunos em produzi-los. Em dois dos entre o objetivo que se pretende alcançar dentro de uma cinco trabalhos analisados, o uso do desenho analógico foi projeto e os meios utilizados para tanto. Esperamos, por mais incisivo e corajoso. Os croquis foram utilizados tanto exemplo, que o aluno, normalmente imaturo graficamente, como instrumento de estudo quanto como apoio didático da seja capaz de produzir uma perspectiva com dois pontos de defesa do projeto, chegando, inclusive, a assumir o papel de fuga e que ela tenha suas proporções e relações espaciais desenhos de apresentação no lugar das modelagens bem resolvidas, mesmo sabendo-se ser esse um desenho de tridimensionais e renderings realistas. difícil confecção. Para esse mesmo exercício, contudo, dificilmente se orienta o aluno a fazer uma modelagem 3D Os outros três estudos de caso individuais, assim como os outros TFGs avaliados, confirmaram que, uma vez estimulados a usar o desenho à mão livre, os alunos, além de básica e, com base nela, delinear de forma preliminar suas ideias sem preocupações com pontos de fugas e/ou proporções exatas. demonstrarem alguma habilidade para a confecção de croquis, também expõem processos particulares que, podem De maneira geral, observamos que o desenho, quando parecer estranhos em determinados momentos, mas são totalmente analógico, atende às necessidades de reflexão e legítimos e, à sua maneira, participam e auxiliam os discentes investigação do projeto, ao passo que, nas suas vertentes a tomar diversas decisões. digital e híbrida, o foco maior é a representação para fins de Restou, também, evidenciado na pesquisa o fato de que há três tipos básicos de técnicas: analógica, digital e híbrida. Como já comentado, porém, fica evidente que a mistura do digital e do analógico não é reconhecida nos processos didáticos que parecem sempre se inclinar para um ou para o outro. Uma das consequências disso é a falta de coerência apresentação de projeto. Foi constatado baixo índice de uso dos recursos computacionais para fins de estudos do projeto. A principal função das modelagens 3D é a produção das perspectivas digitais, embora não seja possível afirmar se durante a confecção desses desenhos, quando produzidos pelo próprio autor, não houve ações de investigação. 177 Em síntese, é válido asserir que os dados, apesar de não parece fundamental. A capacidade desse público de se serem conclusivos, explicitam alguns pontos que podem ser atualizar e de se interessar pelas novidades tecnológicas, usados como parâmetros para nortear decisões didáticas bem como de adequar as ferramentas digitais às suas (com ênfase nas questões da representação gráfica) das necessidades, não pode ser ignorada. Aliar essa energia e disciplinas de projeto, do próprio TFG, das disciplinas de essa constante renovação à maturidade e ao acúmulo de desenho e, principalmente, da inter-relação delas. A pesquisa experiências dos mestres talvez seja, nos dias de hoje, a traz questionamentos e produz novas dúvidas, mas também técnica híbrida que pode trazer os melhores resultados para o evidencia que o uso do desenho à mão livre continua desenvolvimento e amadurecimento da representação gráfica pertinente no meio acadêmico. Apesar disso, é preciso anotar aplicada ao projeto de Arquitetura e Urbanismo. que ele acontece hoje dentro de um cenário plural, cercado de recursos computacionais e que, por isso, não pode ser encarado de maneira conservadora ou atrelada a processos anteriores ao uso dos sistemas digitais. Concluímos também, ser preciso definir e assumir, dentro dos currículos acadêmicos, um conjunto de desenhos específico para as práticas do arquiteto que abrace todas as possibilidades tecnológicas analógicas e digitais. Também é necessário que haja uma apresentação, aos alunos, das características e potencialidades de cada tipo de desenho/ técnica dentro do projeto e do universo que esse "desenho de arquiteto" abraça. Trazer o discente para essa discussão 178 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, Max L.V.X.; RUSCHEL, Regina Coeli; MOREIRA, Daniel de C.. O processo e os métodos. In: KOWALTOWSKI, Doris C.C.K.; MOREIRA, Daniel de C.; PETRECHE, João R.D.; FABRÍCIO, Márcio M.. (Org.) 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Monografia (Graduação). Fortaleza: UNIFOR, 2009. CD-ROM. IBIAPINA, Bruna Gripp. Planejamento Estratégico e a Cidade de Guaramiranga: Uma proposta para o Desenvolvimento Urbano Local. Monografia (Graduação). Fortaleza: UNIFOR, 2011. CD-ROM. TEIXEIRA, Danússia Baracho. Escola de Design. Monografia (Graduação). Fortaleza: UNIFOR, 2013. CD-ROM. VASCONCELOS, Luma Holanda. Parque Lagoa da Maraponga. Monografia (Graduação). Fortaleza: UNIFOR, 2013. CD-ROM 184 APÊNDICES 190 APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO APLICADO AOS PROFESSORES 191 APÊNDICE C - RESPOSTAS DO QUESTIONÁRIO APLICADO AOS PROFESSORES 192 APÊNDICE D - QUESTIONÁRIO APLICADO ÀS ALUNAS SELECIONADAS PARA OS ESTUDO DE CASO 193 194 195 APÊNDICE E - RESPOSTAS AO QUESTIONÁRIO – ESTUDO DE CASO 1 Data das respostas: 26/05/2014 21:27:06 Nome completo: Luana Ferreira Cavalcante Nome do professor orientador Mário Antonio da Silva Guerra Roque Título do trabalho final de graduação Complexo de Cinema do Ceará Ano da defesa 2013 Você costuma desenhar (desenho à mão livre, modelarem 3D, pintura, desenho vetorial) em dispositivos portáteis como tablets e/ou aparelhos celulares? Se SIM, em qual equipamento e com quais aplicativos? Não Qual sua faixa etária na época de seu TFG? 23 a 27 anos Você considera o desenho à mão livre importante para o trabalho do arquiteto? (De 1 a 5 sendo 1 o menos importante) 3 Como você classificaria suas habilidades para fazer desenhos à mão livre? (De 1 a 5 sendo 1 o menos importante) 3 Como você classificaria seu grau de interesse e de uso do desenho à mão livre? (De 1 a 5 sendo 1 o menos importante) Não uso, mas tenho interesse em usar/aprender 196 Durante as ORIENTAÇÕES do seu TFG, quais foram os recursos utilizados por VOCÊ para comunicar e discutir suas ideias com seu orientador? Desenho à mão livre, Modelagem digital bidimensional (Ex: AutoCAD, Corel Draw ou outros) Durante as ORIENTAÇÕES do seu TFG, quais foram os tipos de DESENHO utilizados por VOCÊ para comunicar e discutir suas ideias com seu orientador? Plantas, Cortes Na fase de CRIAÇÃO/CONCEPÇÃO do seu TFG, quais os INSTRUMENTOS utilizados por você para pensar o projeto? Desenho à mão livre, Modelagem digital tridimensional (Ex: SketchUp, ou outros) Na fase de CRIAÇÃO/CONCEPÇÃO do projeto, quais os DESENHOS utilizados por você para pensar o projeto? Plantas, Cortes, Perspectivas Na fase de APRESENTAÇÃO do projeto, quais os INSTRUMENTOS utilizados por você para representar o projeto? Desenho à mão livre, Modelagem digital tridimensional (Ex: SketchUp, ou outros), Maquetes físicas Na fase de APRESENTAÇÃO do projeto, quais os DESENHOS utilizados por você para representar o projeto? Plantas, Cortes, Perspectivas Na fase de DOCUMENTAÇÃO do projeto, quais os INSTRUMENTOS utilizados por você para confeccionar os desenhos técnicos? Modelagem digital bidimensional (Ex: AutoCAD, Corel Draw ou outros) Na fase de DOCUMENTAÇÃO do projeto, quais os DESENHOS utilizados por você para confeccionar os desenhos técnicos? Plantas, Cortes, Fachadas, Detalhes construtivos Das disciplinas de desenho listadas abaixo quais você considera que foram fundamentais para formar sua base gráfica? Desenho de Observação, Desenho Auxiliado por Computador I (DAC I), Técnicas de Representação I Das disciplinas de desenho listadas abaixo quais você considera que tiveram conteúdos e/ou atividades didáticas relacionadas com as práticas de projeto? Desenho Auxiliado por Computador I (DAC I), Técnicas de Representação I 197 Durante as disciplinas de projeto listadas abaixo você foi orientado(a) pelo(a) professor(a) a usar algum instrumento e/ou método específico de representação gráfica como parte dos requisitos do PROCESSO DE PROJETO e/ou DIDÁTICO DA DISCIPLINA tais como: desenho à mão livre, desenho assistido por computador, maquetes digitais ou físicas, etc.? Se sim, quais foram as disciplinas e os métodos adotados? Em Projeto Arquitetônico I fui orientada a usar apenas o desenho à mão livre aliado à maquete eletrônica. Em Projeto Arquitetônico III, IV, V, VI e Trabalho Final de Graduação foi sugerido o uso do desenho à mão livre nas fases iniciais do projeto e então o uso do desenho assistido por computador nas fases seguintes. A maquete física foi exigida também nas disciplinas de projeto V, VI e Trabalho Final de Graduação. Quais disciplinas do seu curso você considera que foram fundamentais para definir sua metodologia de concepção de projetos e por que? O projeto arquitetônico, para mim, se inicia com um croqui. A disciplina de Desenho de Observação foi a primeira a apresentar esta forma de representação, e a primeira a me ensinar técnicas de desenho à mão livre. Foi durante as disciplinas de Projeto Arquitetônico que aprendi a importância e o significado do croqui na arte de criar, estudar e pensar o projeto arquitetônico. Já na fase de estudo preliminar de um projeto, eu começo a desenhar no computador. Em Desenho Auxiliado por Computador 1 pude conhecer os principais programas de desenho arquitetônico, aprendendo os princípios básicos do desenho no computador. Quais foram suas experiências profissionais e/ou acadêmicas fora da universidade (estágios, cursos, eventos) e como você acha que elas influenciaram seu processo de representação gráfica e de projeto? Fora da universidade eu tive dois estágios. O primeiro foi na área de arquitetura de interiores, no qual pude aperfeiçoar minhas habilidades no uso no Sketchup. O segundo foi na área de arquitetura e urbanismo, onde pude trabalhar com um arquiteto que fazia uso do desenho à mão livre durante o processo de criação e, as vezes, apresentação. É importante salientar que este mesmo arquiteto possuiu um formação acadêmica bem diferente da minha, em sua época de faculdade só existia o desenho à mão, o que fez com que ele dominasse completamente as diversas técnicas de desenho em arquitetura. A meu ver, isso acrescenta muito nos seus desenhos assistidos por computador, pois ao dominar completamente a técnicas de perspectiva e de desenho técnico em geral, seus resultados no computador sempre ficam exemplares. Neste segundo estágio, pude aprender a utilizar o CorelDraw e o Revit Architecture. Vejo muitas influências de projeto retiradas no convívio com o arquiteto Ricardo Muratori. Fui muito influenciada por sua forma de pensar e projetar arquitetura. Porém acredito que graficamente eu desenvolvi um apreço pessoal pela perspectiva não realista do Sketchup. Sempre gostei de um “desenho mais livre” para as apresentações, com muitas cores e poucos textos explicativos, e o Sketchup e o desenho à mão foram as técnicas que mais me agradaram 198 durante meu período na universidade. O meu desenho técnico de arquitetura também foi influenciado pelo tempo que passei trabalhando no escritório do Ricardo, no qual aprendi como representar melhor alguns elementos construtivos no Autocad. Vale ressaltar também que sempre tive o costume de acompanhar sites e ler revistas de arquitetura, nos quais era comum ver uma nova forma de representação, e assim pude extrair o que achava mais interessante e tentar aplicar no meu processo de representação gráfica. Quais instrumentos e técnicas de desenho ANALÓGICO você costumava usar durante as disciplinas de projeto (P.A.s, P.U.s e Paisagismo)? Os instrumentos eram basicamente canetas tipo unipin, canetinhas tombow, lapis 2b, lapiseiras 0.7 e 0.9, papel manteiga, papel a4 e a3. A técnica era essencialmente o uso de croquis a nível de estudos iniciais do projeto. Algumas vezes houve o uso destes croquis para apresentações de estudos preliminares. Quais instrumentos e técnicas de desenho DIGITAL você costumava usar durante as disciplinas de projeto (P.A.s, P.U.s e Paisagismo)? O instrumento principal era o computador e os softwares eram o sketchup, o coreldraw e o autocad. FIM DA ENTREVISTA 1 199 APÊNDICE F - RESPOSTAS AO QUESTIONÁRIO – ESTUDO DE CASO 2 Data das respostas: 17/11/2014 17:55:14 Nome completo: BRUNA GRIPP IBIAPINA Nome do professor orientador CARLA CAMILA GIRÃO e AMIRIA BRASIL Título do trabalho final de graduação Planejamento Estratégico e a Cidade de Guaramiranga: Uma proposta para o Desenvolvimento Urbano Local Ano da defesa 2011 Você costuma desenhar (desenho à mão livre, modelarem 3D, pintura, desenho vetorial) em dispositivos portáteis como tablets e/ou aparelhos celulares? Se SIM, em qual equipamento e com quais aplicativos? Não Qual sua faixa etária na época de seu TFG? 23 a 27 anos Você considera o desenho à mão livre importante para o trabalho do arquiteto? (De 1 a 5 sendo 1 o menos importante) 5 Como você classificaria suas habilidades para fazer desenhos à mão livre? (De 1 a 5 sendo 1 o menos importante) 3 Como você classificaria seu grau de interesse e de uso do desenho à mão livre? (De 1 a 5 sendo 1 o menos importante) Uso, mas tenho interesse em aperfeiçoar minhas habilidades 200 Durante as ORIENTAÇÕES do seu TFG, quais foram os recursos utilizados por VOCÊ para comunicar e discutir suas ideias com seu orientador? Desenho à mão livre, Modelagem digital bidimensional (Ex: AutoCAD, Corel Draw ou outros), Maquetes físicas Durante as ORIENTAÇÕES do seu TFG, quais foram os tipos de DESENHO utilizados por VOCÊ para comunicar e discutir suas ideias com seu orientador? Plantas, Mapas Na fase de CRIAÇÃO/CONCEPÇÃO do seu TFG, quais os INSTRUMENTOS utilizados por você para pensar o projeto? Desenho à mão livre, Maquetes físicas Na fase de CRIAÇÃO/CONCEPÇÃO do projeto, quais os DESENHOS utilizados por você para pensar o projeto? Plantas, Perspectivas, Mapas Na fase de APRESENTAÇÃO do projeto, quais os INSTRUMENTOS utilizados por você para representar o projeto? Desenho à mão livre, Modelagem digital bidimensional (Ex: AutoCAD, Corel Draw ou outros), Maquetes físicas Na fase de APRESENTAÇÃO do projeto, quais os DESENHOS utilizados por você para representar o projeto? Plantas, Cortes, Perspectivas Na fase de DOCUMENTAÇÃO do projeto, quais os INSTRUMENTOS utilizados por você para confeccionar os desenhos técnicos? Desenho à mão livre, Modelagem digital tridimensional (Ex: SketchUp, ou outros), Modelagem digital bidimensional (Ex: AutoCAD, Corel Draw ou outros), Maquetes físicas Na fase de DOCUMENTAÇÃO do projeto, quais os DESENHOS utilizados por você para confeccionar os desenhos técnicos? Plantas, Cortes, Perspectivas, Detalhes construtivos Das disciplinas de desenho listadas abaixo quais você considera que foram fundamentais para formar sua base gráfica? Geometria Descritiva, Desenho de Observação, Desenho Auxiliado por Computador I (DAC I), Desenho Auxiliado por Computador II (DAC II) 201 Das disciplinas de desenho listadas abaixo quais você considera que tiveram conteúdos e/ou atividades didáticas relacionadas com as práticas de projeto? Desenho de Observação, Desenho Auxiliado por Computador I (DAC I), Desenho Auxiliado por Computador II (DAC II) Durante as disciplinas de projeto listadas abaixo você foi orientado(a) pelo(a) professor(a) a usar algum instrumento e/ ou método específico de representação gráfica como parte dos requisitos do PROCESSO DE PROJETO e/ou DIDÁTICO DA DISCIPLINA tais como: desenho à mão livre, desenho assistido por computador, maquetes digitais ou físicas, etc.? Se sim, quais foram as disciplinas e os métodos adotados? Em todos os PAs, com exceção do PA I que foi todo feito a mão na prancheta, o processo se iniciava a mão livre para desenvolver conceitos, depois desenhos a mão com auxilio de réguas e escalimetro, posteriormente desenhos técnicos em cad e por fim perspectivas a mão ou por sketchup. O único que foi pedido maquete física foi o PA VI. PU I desenho a mao livre. PU II - desenho a mao livre e em cad. PU III _ desenho a mao livre e em cad Quais disciplinas do seu curso você considera que foram fundamentais para definir sua metodologia de concepção de projetos? Projeto Urbano Quais foram suas experiências profissionais e/ou acadêmicas fora da universidade (estágios, cursos, eventos) e como você acha que elas influenciaram seu processo de representação gráfica e de projeto? O que influenciou diretamente no meu projeto foi a participação no grupo de pesquisa da UNIFOR por mais ou menos 2 anos e a participação em eventos como encontros, bienais de arquitetura, Anpur e etc. No processo de representação gráfica eu, desde criança, sempre desenhei com lápis aquarela e por influencia dos desenhos da Lina Bo Bardi eu defini essa técnica para representar meu projeto. Quais instrumentos e técnicas de desenho ANALÓGICO você costumava usar durante as disciplinas de projeto (P.A.s, P.U.s e Paisagismo)? Quase sempre utilizei para desenhos o papel vegetal, lapiseiras de grafite mais grosso e lápis aquarela. Em algumas disciplinas gostava de utilizar papelão, jornal, caixas, papel reciclado, colagens e tintas para apresentação de trabalhos. Quais instrumentos e técnicas de desenho DIGITAL você costumava usar durante as disciplinas de projeto (P.A.s, P.U.s e Paisagismo)? CAD, SKETSHUP E CORELDRAW FIM DA ENTREVISTA 2 202 APÊNDICE G - RESPOSTAS AO QUESTIONÁRIO – ESTUDO DE CASO 3 Data das respostas: 19/11/2014 01:06:17 Nome completo: Danússia Baracho Teixeira Nome do professor orientador Marcos Bandeira de Oliveira Título do trabalho final de graduação Escola de Design Ano da defesa 2013 Você costuma desenhar (desenho à mão livre, modelarem 3D, pintura, desenho vetorial) em dispositivos portáteis como tablets e/ou aparelhos celulares? Se SIM, em qual equipamento e com quais aplicativos? Não Qual sua faixa etária na época de seu TFG? 23 a 27 anos Você considera o desenho à mão livre importante para o trabalho do arquiteto? (De 1 a 5 sendo 1 o menos importante) 4 Como você classificaria suas habilidades para fazer desenhos à mão livre? (De 1 a 5 sendo 1 o menos importante) 2 Como você classificaria seu grau de interesse e de uso do desenho à mão livre? (De 1 a 5 sendo 1 o menos importante) Não uso, mas tenho interesse em usar/aprender Durante as ORIENTAÇÕES do seu TFG, quais foram os recursos utilizados por VOCÊ para comunicar e discutir suas ideias com seu orientador? 203 Desenho à mão livre, Modelagem digital tridimensional (Ex: SketchUp, ou outros), Modelagem digital bidimensional (Ex: AutoCAD, Corel Draw ou outros), Maquetes físicas. Durante as ORIENTAÇÕES do seu TFG, quais foram os tipos de DESENHO utilizados por VOCÊ para comunicar e discutir suas ideias com seu orientador? Plantas, Cortes, Fachadas, Detalhes construtivos Na fase de CRIAÇÃO/CONCEPÇÃO do seu TFG, quais os INSTRUMENTOS utilizados por você para pensar o projeto? Desenho à mão livre, Modelagem digital tridimensional (Ex: SketchUp, ou outros), Modelagem digital bidimensional (Ex: AutoCAD, Corel Draw ou outros) Na fase de CRIAÇÃO/CONCEPÇÃO do projeto, quais os DESENHOS utilizados por você para pensar o projeto? Plantas, Fachadas Na fase de APRESENTAÇÃO do projeto, quais os INSTRUMENTOS utilizados por você para representar o projeto? Desenho à mão livre, Modelagem digital tridimensional (Ex: SketchUp, ou outros), Modelagem digital bidimensional (Ex: AutoCAD, Corel Draw ou outros), Maquetes físicas Na fase de APRESENTAÇÃO do projeto, quais os DESENHOS utilizados por você para representar o projeto? Plantas, Cortes, Fachadas, Perspectivas, Detalhes construtivos Na fase de DOCUMENTAÇÃO do projeto, quais os INSTRUMENTOS utilizados por você para confeccionar os desenhos técnicos? Modelagem digital bidimensional (Ex: AutoCAD, Corel Draw ou outros) Na fase de DOCUMENTAÇÃO do projeto, quais os DESENHOS utilizados por você para confeccionar os desenhos técnicos? Plantas, Cortes, Fachadas, Detalhes construtivos Das disciplinas de desenho listadas abaixo quais você considera que foram fundamentais para formar sua base gráfica? Desenho Auxiliado por Computador I (DAC I), Técnicas de Representação I, Técnicas de Representação II Das disciplinas de desenho listadas abaixo quais você considera que tiveram conteúdos e/ou atividades didáticas relacionadas com as práticas de projeto? 204 Introdução ao Desenho, Desenho Auxiliado por Computador I (DAC I), Técnicas de Representação I Durante as disciplinas de projeto listadas abaixo você foi orientado(a) pelo(a) professor(a) a usar algum instrumento e/ ou método específico de representação gráfica como parte dos requisitos do PROCESSO DE PROJETO e/ou DIDÁTICO DA DISCIPLINA tais como: desenho à mão livre, desenho assistido por computador, maquetes digitais ou físicas, etc.? Se sim, quais foram as disciplinas e os métodos adotados? Em todas, com exceção de Paisagismo, foi utilizado o desenho assistido por computador. Os métodos usados em Paisagismo foram desenho à mão livre e maquete física. Também houve maquete física em Projeto Arquitetônico V e VI e TFG. Os desenhos à mão livre foram mais valorizados em Projeto Arquitetônico V, Projeto Urbanístico I, Paisagismo, Projeto Urbanístico II e TFG. Quais disciplinas do seu curso você considera que foram fundamentais para definir sua metodologia de concepção de projetos e por que? Projeto Arquitetônico, Técnicas de Representação I, DAC I, Sistemas Estruturais I Quais foram suas experiências profissionais e/ou acadêmicas fora da universidade (estágios, cursos, eventos) e como você acha que elas influenciaram seu processo de representação gráfica e de projeto? Os estágios ajudaram a desenvolver o desenho dos detalhes e a analisar melhor quais informações gráficas são suficientes para o entendimento do projeto. Já nos eventos, como Congressos e Fóruns, a qualidade gráfica dos projetos apresentados ajuda a perceber e raciocinar de que maneira os desenhos explicativos do projeto podem ser organizados de maneira simples e didática. Quais instrumentos e técnicas de desenho ANALÓGICO você costumava usar durante as disciplinas de projeto (P.A.s, P.U.s e Paisagismo)? Escalímetro, papel manteiga e vegetal, lápis de cor, lapiseira, canetas UniPin Quais instrumentos e técnicas de desenho DIGITAL você costumava usar durante as disciplinas de projeto (P.A.s, P.U.s e Paisagismo)? AutoCAD, SketchUp, Corel Draw FIM DA ENTREVISTA 3 205 APÊNDICE H - RESPOSTAS AO QUESTIONÁRIO – ESTUDO DE CASO 4 Data das respostas: 18/11/2014 10:00:29 Nome completo: Luma Holanda Vasconcelos Nome do professor orientador Francisco Edilson P Aragão Título do trabalho final de graduação Parque Lagoa da Maraponga Ano da defesa 2013 Você costuma desenhar (desenho à mão livre, modelarem 3D, pintura, desenho vetorial) em dispositivos portáteis como tablets e/ou aparelhos celulares? Se SIM, em qual equipamento e com quais aplicativos? Sim, tablet, sketchbook Qual sua faixa etária na época de seu TFG? 23 a 27 anos Você considera o desenho à mão livre importante para o trabalho do arquiteto? (De 1 a 5 sendo 1 o menos importante) 4 Como você classificaria suas habilidades para fazer desenhos à mão livre? (De 1 a 5 sendo 1 o menos importante) 3 Como você classificaria seu grau de interesse e de uso do desenho à mão livre? (De 1 a 5 sendo 1 o menos importante) Uso, mas tenho interesse em aperfeiçoar minhas habilidades Durante as ORIENTAÇÕES do seu TFG, quais foram os recursos utilizados por VOCÊ para comunicar e discutir suas ideias com seu orientador? Desenho à mão livre, Modelagem digital bidimensional (Ex: AutoCAD, Corel Draw ou outros) 206 Durante as ORIENTAÇÕES do seu TFG, quais foram os tipos de DESENHO utilizados por VOCÊ para comunicar e discutir suas ideias com seu orientador? Plantas, Fachadas, Perspectivas Na fase de CRIAÇÃO/CONCEPÇÃO do seu TFG, quais os INSTRUMENTOS utilizados por você para pensar o projeto? Desenho à mão livre Na fase de CRIAÇÃO/CONCEPÇÃO do projeto, quais os DESENHOS utilizados por você para pensar o projeto? Plantas, Fachadas, Perspectivas Na fase de APRESENTAÇÃO do projeto, quais os INSTRUMENTOS utilizados por você para representar o projeto? Desenho à mão livre, Desenho instrumentado em prancheta (régua paralela, esquadros, compasso e outros), Modelagem digital tridimensional (Ex: SketchUp, ou outros), Modelagem digital bidimensional (Ex: AutoCAD, Corel Draw ou outros), Maquetes físicas Na fase de APRESENTAÇÃO do projeto, quais os DESENHOS utilizados por você para representar o projeto? Plantas, Cortes, Perspectivas, Detalhes construtivos Na fase de DOCUMENTAÇÃO do projeto, quais os INSTRUMENTOS utilizados por você para confeccionar os desenhos técnicos? Desenho à mão livre, Desenho instrumentado em prancheta (régua paralela, esquadros, compasso e outros), Modelagem digital tridimensional (Ex: SketchUp, ou outros), Modelagem digital bidimensional (Ex: AutoCAD, Corel Draw ou outros) Na fase de DOCUMENTAÇÃO do projeto, quais os DESENHOS utilizados por você para confeccionar os desenhos técnicos? Plantas, Cortes, Fachadas, Perspectivas, Detalhes construtivos Das disciplinas de desenho listadas abaixo quais você considera que foram fundamentais para formar sua base gráfica? Introdução ao Desenho, Desenho Auxiliado por Computador I (DAC I), Técnicas de Representação I, Técnicas de Representação II Das disciplinas de desenho listadas abaixo quais você considera que tiveram conteúdos e/ou atividades didáticas relacionadas com as práticas de projeto? Desenho de Observação, Introdução ao Desenho, Desenho Auxiliado por Computador I (DAC I), Desenho Auxiliado por Computador II (DAC II), Técnicas de Representação II 207 método específico de representação gráfica como parte dos requisitos do PROCESSO DE PROJETO e/ou DIDÁTICO DA DISCIPLINA tais como: desenho à mão livre, desenho assistido por computador, maquetes digitais ou físicas, etc.? Se sim, quais foram as disciplinas e os métodos adotados? Desenho à mão livre, maquete física, maquete digital, desenho assistido por computador. Projeto urbanístico I e II, Projeto arquitetônico III e V, Paisagismo. Quais disciplinas do seu curso você considera que foram fundamentais para definir sua metodologia de concepção de projetos e por que? Planejamento urbano I e II, projeto urbanístico I, II e III, paisagismo, projeto arquitetônico III e V, sistemas estruturais, pesquisa. Quais foram suas experiências profissionais e/ou acadêmicas fora da universidade (estágios, cursos, eventos) e como você acha que elas influenciaram seu processo de representação gráfica e de projeto? Estágios em que tinha que utilizar muitos softwares para elaboração de projetos. Visitas técnicas acadêmicas e profissionais que ajudam a ter uma maior e melhor percepção do ambiente e suas necessidades. Quais instrumentos e técnicas de desenho ANALÓGICO você costumava usar durante as disciplinas de projeto (P.A.s, P.U.s e Paisagismo)? Desenho à mão livre. Papel manteiga, papel vegetal, papel ofício, folhas A3, lápis de cor, canetas unipin, lapiseiras, lápis 2B, borracha, canetinhas, lápis de carvão, giz de cera, esquadros, régua, escalímetro, compasso. Quais instrumentos e técnicas de desenho DIGITAL você costumava usar durante as disciplinas de projeto (P.A.s, P.U.s e Paisagismo)? Laptop, desktop, AutoCad, corelDraw, Sketchup, Prezi, Google Earth. FIM DA ENTREVISTA 4 208 APÊNDICE I - RESPOSTAS AO QUESTIONÁRIO – ESTUDO DE CASO 5 Data das respostas: 18/11/2014 14:26:36 Nome completo: Nicole Campos Fiúza Nome do professor orientador Márcia Cavalcante e Marcos Bandeira de Oliveira Título do trabalho final de graduação Curso de Gastronomia Unifor Ano da defesa 2009 Você costuma desenhar (desenho à mão livre, modelarem 3D, pintura, desenho vetorial) em dispositivos portáteis como tablets e/ou aparelhos celulares? Se SIM, em qual equipamento e com quais aplicativos? Não Qual sua faixa etária na época de seu TFG? 23 a 27 anos Você considera o desenho à mão livre importante para o trabalho do arquiteto? (De 1 a 5 sendo 1 o menos importante) 4 Como você classificaria suas habilidades para fazer desenhos à mão livre? (De 1 a 5 sendo 1 o menos importante) 2 Como você classificaria seu grau de interesse e de uso do desenho à mão livre? (De 1 a 5 sendo 1 o menos importante) Não uso, mas tenho interesse em usar/aprender Durante as ORIENTAÇÕES do seu TFG, quais foram os recursos utilizados por VOCÊ para comunicar e discutir suas ideias com seu orientador? 209 Desenho à mão livre, Modelagem digital tridimensional (Ex: SketchUp, ou outros), Modelagem digital bidimensional (Ex: AutoCAD, Corel Draw ou outros) Durante as ORIENTAÇÕES do seu TFG, quais foram os tipos de DESENHO utilizados por VOCÊ para comunicar e discutir suas ideias com seu orientador? Plantas, Cortes, Fachadas, Perspectivas, Detalhes construtivos Na fase de CRIAÇÃO/CONCEPÇÃO do seu TFG, quais os INSTRUMENTOS utilizados por você para pensar o projeto? Desenho à mão livre, Desenho instrumentado em prancheta (régua paralela, esquadros, compasso e outros), Modelagem digital tridimensional (Ex: SketchUp, ou outros), Modelagem digital bidimensional (Ex: AutoCAD, Corel Draw ou outros) Na fase de CRIAÇÃO/CONCEPÇÃO do projeto, quais os DESENHOS utilizados por você para pensar o projeto? Plantas, Cortes, Fachadas, Perspectivas, Detalhes construtivos Na fase de APRESENTAÇÃO do projeto, quais os INSTRUMENTOS utilizados por você para representar o projeto? Desenho à mão livre, Desenho instrumentado em prancheta (régua paralela, esquadros, compasso e outros), Modelagem digital tridimensional (Ex: SketchUp, ou outros), Modelagem digital bidimensional (Ex: AutoCAD, Corel Draw ou outros) Na fase de APRESENTAÇÃO do projeto, quais os DESENHOS utilizados por você para representar o projeto? Plantas, Cortes, Fachadas, Perspectivas, Detalhes construtivos Na fase de DOCUMENTAÇÃO do projeto, quais os INSTRUMENTOS utilizados por você para confeccionar os desenhos técnicos? Desenho à mão livre, Desenho instrumentado em prancheta (régua paralela, esquadros, compasso e outros), Modelagem digital tridimensional (Ex: SketchUp, ou outros), Modelagem digital bidimensional (Ex: AutoCAD, Corel Draw ou outros) Na fase de DOCUMENTAÇÃO do projeto, quais os DESENHOS utilizados por você para confeccionar os desenhos técnicos? Plantas, Cortes, Fachadas, Perspectivas, Detalhes construtivos 210 Das disciplinas de desenho listadas abaixo quais você considera que foram fundamentais para formar sua base gráfica? Desenho de Observação, Introdução ao Desenho, Desenho Auxiliado por Computador I (DAC I), Desenho Auxiliado por Computador II (DAC II), Técnicas de Representação I, Técnicas de Representação II Durante as disciplinas de projeto listadas abaixo você foi orientado(a) pelo(a) professor(a) a usar algum instrumento e/ ou método específico de representação gráfica como parte dos requisitos do PROCESSO DE PROJETO e/ou DIDÁTICO DA DISCIPLINA tais como: desenho à mão livre, desenho assistido por computador, maquetes digitais ou físicas, etc.? Se sim, quais foram as disciplinas e os métodos adotados? PA´s, Arquitetura de Interiores, PU´s e Trabalho Final de Graduação. Quais disciplinas do seu curso você considera que foram fundamentais para definir sua metodologia de concepção de projetos? As disciplinas relacionadas a técnicas de desenho, tanto na prancheta quanto no computador e os PA´s. Quais foram suas experiências profissionais e/ou acadêmicas fora da universidade (estágios, cursos, eventos) e como você acha que elas influenciaram seu processo de representação gráfica e de projeto? Os estágios com certeza são de grande importância para a minha vida acadêmica. Conseguimos aprender a desenvolver meios de comunicação em desenho diretamente a um cliente "real", para que o projeto saia do papel e vire realidade. Quais instrumentos e técnicas de desenho ANALÓGICO você costumava usar durante as disciplinas de projeto (P.A.s, P.U.s e Paisagismo)? Papel, lápis, lapiseiras, canetas coloridas, escalas, esquadros, pranchetas. Quais instrumentos e técnicas de desenho DIGITAL você costumava usar durante as disciplinas de projeto (P.A.s, P.U.s e Paisagismo)? Autocad, Sketchup. FIM DA ENTREVISTA 5