UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE MARCOS BANDEIRA DE OLIVEIRA
O DESENHO NO PROCESSO DE CRIAÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROJETO: o caso dos Trabalhos Finais de Graduação da Universidade de Fortaleza
Fortaleza/CE Dezembro/2014
MARCOS BANDEIRA DE OLIVEIRA
O DESENHO NO PROCESSO DE CRIAÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROJETO: o caso dos Trabalhos Finais de Graduação da Universidade de Fortaleza
Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Interinstitucional do
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Presbiteriana Mackenzie com a Universidade de Fortaleza como quesito para
obtenção do Título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.
Orientador: Prof. Dr. Rafael Antônio Cunha Perrone
Fortaleza/CE Dezembro/2014
O48d
Oliveira, Marcos Bandeira de.
O desenho no processo de criação e apresentação do projeto : o
caso dos trabalhos finais de graduação da Universidade de
Fortaleza. – 2015.
210 f. : il. ; 30 cm.
Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) –
Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2015.
Referências bibliográficas: f. 178-183.
1. Desenho. 2. Projeto de arquitetura. 3. Ensino. 4. TFG. 5.
Croquis. 6. UNIFOR. I. Título.
CDD 720.284
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, José Alves e Kátia, maiores responsáveis por tudo
o que sou hoje.
A Juliana e Cecília, razões de todos os meus esforços.
À Mackenzie, a UNIFOR e à FUNCAP pelo apoio e incentivo.
Aos caríssimos colegas de MINTER, pelo companheirismo e
inesquecíveis momentos de descontração;
Ao Professor Doutor Rafael Perrone, pela orientação e valiosas
conversas sobre desenho.
Aos Professores Doutores Flora Mendes, Maria Augusta Pisani e
Euler Muniz pelo essencial apoio e dedicação ao MINTER desde a
sua criação.
A todos os professores pela visita ao Ceará e inesquecíveis aulas.
O rabisco não é nada, o risco – o traço – é tudo. O risco tem carga
, é desenho com determinada intenção – é o “design”. (LÚCIO
COSTA).
RESUMO
Os registros gráficos executados durante o projeto passaram
por grandes mudanças em suas técnicas, instrumentos e
finalidades depois do aparecimento dos meios digitais. Os
estudos sobre metodologia projetual deixam clara a sua
complexidade, assim como a dos mecanismos de
representação gráfica, que auxiliam e registram esses
processos. A computação gráfica não eliminou os instrumentos
nem as técnicas analógicas, mas somou-se a elas. Hoje há
considerável variedade de ferramentas gráficas para subsidiar
a reflexão e o registro do projeto que misturam recursos
analógicos e digitais. Essa diversidade é benéfica, mas, para a
exploração eficiente das suas potencialidades, requer
conhecimentos técnicos, instrumentais e conceituais que
ultrapassam os limites da Geometria, do desenho técnico
arquitetônico e da computação gráfica. Observam-se no meio
acadêmico algumas deficiências na orientação do uso dos
novos recursos, além da separação entre o ensino/prática do
desenho e sua relação com a realidade do projeto. Os estudos
comprovam a pertinência e importância dos recursos
analógicos no projeto, além de defenderem a convivência
entre eles e os recursos digitais. A repercussão do emprego
dos instrumentos digitais ocorreu simultaneamente na prática
profissional e nas escolas de Arquitetura e, dentro destas,
observa-se que os discentes desenvolvem procedimentos
próprios para explorar essa gama de opções. Com o objetivo
de traçar um panorama dessas práticas discentes, esta
dissertação avaliou a produção analógica, de 2009 e 2014,
observada na disciplina Trabalho Final de Graduação (TFG) da
Universidade de Fortaleza nos momentos de concepção e de
apresentação dos projetos. Para tanto, primeiramente, foi
avaliada a matriz curricular que formou esses alunos e, em
seguida o material gráfico produzido nas orientações e
apresentações dos TFGs. Para esse último, foram feitos,
inicialmente, um levantamento quantitativo e uma análise geral
qualitativa de todos os trabalhos, tendo sido esta aprofundada
por meio de cinco estudos de caso. O material avaliado revela
grande atenção dispensada a desenhos específicos durante o
processo projetual, destacando-se as plantas e as
perspectivas. Os desenhos demonstram deficiências técnicas
na execução gráfica e pouca relação com a realidade
construída. Constatam-se instrumentos digitais como auxiliares
dos desenhos analógicos, mas também verifica-se que os
conteúdos das disciplinas de desenho não tratam desse tipo de
técnica híbrida. Dessa forma, revelam-se três tipos básicos de
técnicas: analógica, digital e híbrida. Os dados explicitam
pontos norteadores de decisões didáticas das disciplinas de
projeto, de desenho, do próprio TFG e da inter-relação delas.
Como resultado deste estudo, fica evidente que o uso do
desenho à mão livre continua pertinente no meio acadêmico,
mas também que ele não pode ser tratado de maneira
conservadora ou atrelada a processos anteriores ao uso dos
sistemas digitais. Além disso, conclui-se ser preciso definir e
assumir, dentro dos currículos acadêmicos, um desenho
específico para o arquiteto, levando em consideração todas as
possibilidades tecnológicas, analógicas e digitais.
Palavras-chave: Desenho. Projeto de Arquitetura. Ensino. TFG.
Croquis. UNIFOR.
ABSTRACT
The graphic records performed during the design process had
major changes in their techniques, instruments and purposes
after the appearance of digital tools. Studies on architectural
design methodology make clear its complexity as well as the
graphical representation mechanisms that assist and record
these processes. Computer graphics has not eliminated the
instruments and analogue techniques, but added up to them.
Today there are a variety of graphical tools to support design
process blending analog and digital resources. This diversity is
beneficial, but for the efficient exploitation of its potential,
requires technical, instrumental and conceptual knowledge
that exceed the limits of Geometry, architectural drawing and
computer graphics. It is observed in academic circles some
deficiencies in the orientation of use of new features in
addition to the separation between education / design practice
and its relation to the reality of the project. Studies shows the
relevance and importance of analog features in the design
process as well as defend the coexistence between them and
digital resources. The impact of the use of digital instruments
simultaneously occurred in professional practice and in
architecture schools and, within these, it is observed that the
students develop their own procedures to explore this range of
options. Aiming to give an overview of these students practice,
this dissertation evaluated the analog production, from 2009 to
2014, observed in the discipline Trabalho Final de Graduação
(TFG) at the University of Fortaleza in the moments of
conceptual design and the presentation of projects. In order to
that end, there was a first evaluation of the curricular grade
that formed these students and then the drawings produced
during professor's orientation and presentations of the TFGs.
It was initially made a quantitative survey and a qualitative
overview of all work that was deepened through five case
studies. The evaluated material shows great attention given to
specific drawings during the design process with emphasis on
plants and perspectives. The drawings demonstrate technical
deficiencies in the graphic execution and little relation to the
constructed reality. Digital instruments help the analog
designs. The contents of the drawing disciplines do not
address this type of hybrid technique. Thus, it is revealed
three basic techniques: analog, digital and hybrid. The
collected data can help in didactical decisions of design
disciplines / drawing, the actual TFG and the interrelation of
them. As a result of this study, It is evident that the use of
freehand drawing remains relevant in academic circles, but
also that it can not be treated in a conservative manner or
disconnected from the digital systems way. In addition, it was
concluded that we must define and assume, within academic
curriculum, a particular drawing for the architect considering
all analog and digital technological possibilities.
Key-words: design, architecture design , teaching, TFG,
sketches, UNIFOR .
LISTA DE FIGURAS
Figura 1
Aspecto do site oficial do movimento Urban Sketchers
21
Figura 2
Conjunto de desenhos publicados no site oficial
22
Figura 3
Estudos de Frank O. Gehry para Vila Olímpica, Barcelona - Espanha.
23
Figura 4
Estudos em computação gráfica do escritório de Frank O. Gehry, para a Vila Olímpica, Barcelona - Espanha
23
Figura 5
Croquis da Sede do Partido Comunista Francês
29
Figura 6
Perspectiva do Clube Universitário da Cidade Universitária do Brasil - 1936
29
Figura 7
Croqui da Praça do Patriarca
30
Figura 8
Maquete da Praça do Patriarca.
30
Figura 9
Croquis de estudo para residência do Sr. Ernesto Gomes
32
Figura 10 Fachada e corte de residência unifamiliar da disciplina Ateliê I
34
Figura 11 Fachadas de residência unifamiliar da disciplina Ateliê I
34
Figura 12 Croquis de estudo para TFG.
37
Figura 13 Planta de apresentação para TFG
38
Figura 14 Pranchas com cortes para TFG
39
Figura 15 Perspectiva de apresentação
42
Figura 16 Perspectiva de apresentação
42
Figura 17 Croquis de estudo para TFG
44
Figura 18 Croquis de Vilanova Artigas
45
Figura 19 Croquis de Vilanova Artigas
45
Figura 20 Perspectiva de Oswald Bratke para Viaduto Boa Vista
46
Figura 21 Perspectiva linear - Baldassare Peruzzi
47
Figura 22 Croquis de estudo para Sesc Pompéia
48
Figura 23 Perspectiva MASP
49
Figura 24 Perspectiva de Oswald Bratke para sua residência
49
Figura 25 Croqui - São Pedro em Roma - Giuliano da Sangallo
50
Figura 26 Planta - São Pedro em Roma - Giuliano da Sangallo
50
Figura 27 Croquis de estudo para laboratório de pesquisa em Cambridge - CO Architects
51
Figura 28 Croquis de estudo para laboratório de pesquisa em Cambridge - CO Architects
52
Figura 29 Estudos de fachadas para Residência no Morumbi
54
Figura 30 “Oasis" - Planta geral 1957.
55
Figura 31 Corte em perspectiva confeccionado no SketchUp
57
Figura 32 "Plantas" em perspectiva confeccionadas no SketchUp
57
Figura 33 Planta em perspectiva Resid. Blackbourn - 1938
58
Figura 34 Estudo de Frank Lloyd Wright para as fachadas da Residência Goto Shimpei
58
Figura 35 Estudo de Frank Lloyd Wright para o pavimento superior da Residência Goto Shimpei
59
Figura 36 Estudo de Frank Lloyd Wright para o pavimento térreo da Residência Goto Shimpei
59
Figura 37 Axonométricas para uma residência em Stabio, Suíça
61
Figura 38 Axonométrica da residência Rokko
62
Figura 39 Estudo de Frank Lloyd Wright em perspectiva para a Residência H. J. Hullman
63
Figura 40 Perspectiva da residência de Oswald Bratke - 1951
63
Figura 41 Perspectivas de estudo para residência no Morumbi
63
Figura 42 Perspectiva de estudo para o MASP
65
Figura 43 Cortes e Fachadas desenhadas em software CAD
67
Figura 44 Maquete eletrônica de edifício residencial
68
Figura 45 Maquete eletrônica de edifício residencial
68
Figura 46 Perspectiva para reforma de casa de campo
69
Figura 47 Interface do Notability com "croquis digitais"
72
Figura 48 Interface do Procreate com "croquis digitais"
72
Figura 49 Interface do Adobe Line com "croquis digitais” e “régua paralela"
73
Figura 50 Tablet opaca da Wacom
73
Figura 51 Perspectiva feita a partir de base volumétrica do SketchUp
74
Figura 52 Perspectiva feita a partir de base volumétrica do SketchUp
74
Figura 53 Perspectiva a nanquim colorida no computador
75
Figura 54 Croquis de estudo para laboratório de pesquisa em Cambridge - CO Architects
78
Figura 55 Croquis de estudo para Jardim Botânico - Atelier Dreiseitl
81
Figura 56 Diagrama para estudo de implantação
106
Figura 57 Estudo de ângulos para projeto de edifício
106
Figura 58 Coleção de desenhos de estudos. 2 plantas, 3 fachadas e 1 perspectiva
107
Figura 59 Perspectivas de estudo para detalhes construtivos
108
Figura 60 Corte esquemático colorido digitalmente
108
Figura 61 Estudo de percursos para o projeto de uma praça
109
Figura 62 Estudos de fachada
110
Figura 63 Estudo de implantação
111
Figura 64 Implantação para apresentação na qualificação
112
Figura 65 Perspectiva de estudo
113
Figura 66 Perspectiva de apresentação
113
Figura 67 Implantação colorida com lápis de cor
118
Figura 68 Estudos de volumetria
119
Figura 69 Desenhos diversos para estudo de edifício
119
Figura 70 Croqui inicial e resultado final
120
Figura 71 Croqui inicial e resultado final
120
Figura 72 Croquis de estudo
121
Figura 73 Croquis de estudo
121
Figura 74 Planta “de estudo”, implantação final e perspectiva
123
Figura 75 Corte esquemático digital
124
Figura 76 Conjunto de plantas de estudo
125
Figura 77 Perspectiva NPR com resultado da proposta
125
Figura 78 Estudos em perspectiva
126
Figura 79 Estudos em perspectiva
127
Figura 80 Perspectiva de apresentação a partir de base do SketchUp
129
Figura 81 Modelagem 3D usada para estudos
130
Figura 82 Perspectiva de acabamento NPR
131
Figura 83 Perspectiva de acabamento PR
131
Figura 84 Uso da cor nos croquis
132
Figura 85 Estudos de implantação
135
Figura 86 Estudos de layout dos ambientes
136
Figura 87 Estudos coloridos
137
Figura 88 Estudos coloridos
138
Figura 89 Estudos coloridos
139
Figura 90 Implantação a partir de modelo 3D
140
Figura 91 Perspectiva aérea
140
Figura 92 Perspectiva em altura de observador no plano do chão
141
Figura 93 Perspectiva em altura de observador no plano do chão
141
Figura 94 Croqui de setorização da cidade de Baturité
143
Figura 95 Diagramas usados para indicar a ocupação espacial nos municípios
144
Figura 96 Mapa de infraestrutura do maciço de Baturité
145
Figura 97 Croquis de localização das propostas
145
Figura 98 Croquis com propostas conceituais
146
Figura 99 “Axonometria" de equipamento para parque
147
Figura 100 Cortes e planta do sistema viário
147
Figura 101 Planta de detalhe do sistema viário
148
Figura 102 Corte de detalhe do sistema viário
148
Figura 103 Planta híbrida com detalhes do passeio
149
Figura 104 Perspectiva
149
Figura 105 Folha de croquis
151
Figura 106 Folha de croquis
152
Figura 107 Croquis de uma das edificações
152
Figura 108 Croquis dispostos em página da defesa escrita
153
Figura 109 Primeiros esboços das plantas não ortogonais
153
Figura 110 Croquis de estudo para pavimentos do edifício principal
154
Figura 111 Planta final apresentada à banca
154
Figura 112 Detalhes
155
Figura 113 Corte esquemático
155
Figura 114 Fachadas geradas a partir de modelo do SketchUp
156
Figura 115 Perspectiva geral - SketchUp
156
Figura 116 Corte produzido em programa CAD
156
Figura 117 Estudo inicial de implantação
158
Figura 118 Implantação
158
Figura 119 Detalhe de setor
159
Figura 120 Detalhe de setor
159
Figura 121 Perspectiva geral
160
Figura 122 Detalhes do pequeno anfiteatro
160
Figura 123 Estação
161
Figura 124 Quiosque
161
Figura 125 Mirante
162
Figura 126 Restaurante
163
Figura 127 Prédio da administração
163
Figura 128 Fachada lateral do resultado final
165
Figura 129 Planta do pavimento 1
165
Figura 130 Estudos de volumetria
166
Figura 131 Estudos de volumetria
166
Figura 132 Estudos de volumetria
167
Figura 133 Estudos de volumetria e plantas
167
Figura 134 Estudos de volumetria
167
Figura 135 Perspectivas de estudo da forma
168
Figura 136 Perspectivas de estudo da forma
168
Figura 137 Perspectivas de estudo da forma
168
Figura 138 Perspectiva final
169
Figura 139 Perspectiva final.
169
Figura 140 Layouts das salas de aula
170
Figura 141 Layouts de espaços de uso coletivo
170
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Matriz curricular 26.1
86
Tabela 2 Matriz curricular 26.1
86
Tabela 3 Matriz curricular 26.2
92
Tabela 4 Matriz curricular 26.2
92
Tabela 5 Quantidade de TFGs com croquis, por tipo de projeto
115
Tabela 6 Quantidade de TFGs com registros analógicos e/ou híbridos, por ano
116
Tabela 7 Quantidades de desenhos, por tipologia
124
Tabela 8 Quantidades de desenhos, por tipologia e tema do projeto
128
Tabela 9 Quantidades de desenhos, por tipologia e tema do projeto
128
Tabela 10 Quantidades de desenhos, por técnica de confecção
129
Tabela 11 Quantidades de desenhos, por uso de cores
132
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 Quantidade de TFGs com croquis, por ano
115
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO
2
O PROCESSO DE PROJETO EM ARQUITETURA
19
5
O USO DO DESENHO NO TRABALHO FINAL
DE GRADUAÇÃO
103
E URBANISMO
29
5.1
Coleta e critérios de seleção
104
2.1
As fases do projeto
31
5.2
Apresentação e análise dos resultados
114
2.2
Os agentes do projeto
41
5.3
Estudo de caso 1: TFG de Luana ferreira
3
O DESENHO NO PROCESSO DE PROJETO
46
3.1
Os tipos: as projeções ortográficas e as perspectivas 53
3.2
As técnicas: a analógica, a digital e a híbrida
3.3
As finalidades: o desenho de concepção e de
apresentação
4
5.4
Estudo de caso 2: TFG de Bruna Gripp Ibiapina
142
5.5
Estudo de caso 3: TFG de Danussia Baracho
Teixeira
76
5.6
82
83
O segundo Projeto Pedagógico do Curso (PPC) –
análise crítica
90
4.2.1 O eixo expressão e representação e o eixo projeto
93
4.2.2 Interdisciplinaridade – o desenho e o projeto
97
4.3
100
A disciplina Trabalho Final de Graduação
150
Estudo de caso 4: TFG de Luma Holanda
Vasconcelos
O primeiro Projeto Pedagógico do Curso (PPC) –
análise crítica
4.2
134
O TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO NA
UNIFOR
4.1
65
cavalcante
157
5.7
Estudo de caso 5: TFG de Nicolle Campos Fiuza 164
6
CONSIDERAÇÕES FINAIS
171
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
178
APÊNDICES
184
19
1 INTRODUÇÃO
dentro delas, para as mais distintas funções. Nas palavras do
Desenhar, segundo Ching (1990), é a ação final de um
autor,
óptico/sensorial (ver), passando por processos cerebrais que
Através do desenho, ora organiza-se, descreve-se,
configura-se, ora imagina-se, projeta-se, idea-se.
Num modo mais completo, por ser uma
configuração visiva, o desenho dá forma à ideia,
por ser ideação identifica a configuração,
estabelece sua forma por identificá-la e classificála. (P.14)
nos permitem interpretar e assimilar aquilo que se
Laseau (2001) enaltece essas qualidades e potencialidades
vê(visualizar), culminando no ato do desenho. Laseau (2001)
quando situa os croquis como determinantes dentro do
confirma tal asserção quando subdivide o que chama de
pensamento visual, especialmente na Arquitetura, não somente
“pensamento visual” em também três etapas básicas: ver,
para mostrar e aclarar o que está na mente do criador, mas
imaginar e desenhar.
também para expor como ele está pensando. Para o autor, no
processo que compreende três fases básicas: ver, visualizar
(assimilar) e representar. Essas três etapas estão diretamente
ligadas a uma complexa rede que inicia no próprio sistema
Os autores parecem concordar com a idéia de que o desenho
é a etapa final de um processo mental que pode estar ligado
tanto à simples observação da realidade e ao seu registro
quanto à intervenção nessa realidade mediante o processo
criativo. Sua aplicação como forma de expressão e
processo criativo, quanto mais a informação girar entre a mente
do projetista, sua mão, o registro no papel e daí de volta para
seu olho, sua mente e novamente para sua mão e de novo para
o papel, mais oportunidades de mudanças e soluções surgirão.
Seria desse ciclo continuo que as soluções surgiriam.
comunicação, como deixa claro Massironi (1982), é visível nas
Isso parece acontecer nas mais diversas situações, envolvendo
mais variadas áreas que podem englobar desde as artes
o ato criador. Salles (2007) detalha bem essas possibilidades
plásticas até as ciências exatas. Para Perrone (1993),
quando descreve o uso do desenho dentro das artes plásticas.
características como a simplicidade, a flexibilidade e a própria
A autora cita o caso de escultores e cineastas que se valem do
competência do desenho são as responsáveis por o situarem
registro gráfico por meio de croquis para documentar seu
como eficiente para executar essas diversas atividades e,
processo criativo. É interessante observar que, assim como na
20
Arquitetura, essas duas áreas também buscam um resultado
argumentos em defesa da manutenção das ações do desenho
final que transcende as próprias característica e
como importante instrumento do trabalho do arquiteto e
possibilidades do desenho, ou seja, trabalham com tempo e
urbanista. O trecho de sua defesa, do final da década de 1990,
espaço, mas, mesmo assim, encontram nesse recurso um
retrata a necessidade de manutenção de uma prática que
forte aliado do seu processo de trabalho.
parecia estar em decurso de extinção. Nas palavras do
arquiteto italiano,
Apesar de os autores retrocitados parecerem não ter dúvidas
quanto à importância do desenho como instrumento de
registro nas diversas áreas do conhecimento e, em especial,
naquelas que envolvem a criação, a sua pertinência e
importância como instrumento dentro do projeto de Arquitetura
e Urbanismo vêm, desde meados da década de 1990, sendo
discutidas. Nessa época, o amadurecimento dos
equipamentos (hardware) e dos sistemas digitais (software),
bem como o acesso facilitado a esses recursos, mudaram os
métodos de representação gráfica e as metodologias de
projeto dentro dos escritórios de Arquitetura.
A transição de uma realidade totalmente analógica para o
novo panorama digital que se descortinava trouxe alguns
questionamentos e certa resistência aos novos métodos, além
da defesa aos procedimentos e instrumentos analógicos.
Sobre isso Rossi (1997) já expunha suas preocupações e
Acredito que ainda hoje seja muito importante para
um arquiteto saber desenhar: esse aspecto não foi
fundamental somente durante a época de ouro do
Renascimento – um período em que os arquitetos
eram geralmente grandes pintores e vice-versa. O
desenho é e sempre será uma forma muito
importante de conhecimento do real, aliás
insubstituível. Recordo os meus primeiros
contados no Politécnico de Milão, com o desenho
ao natural: embora fossem desastrosos, eu
procurava compreender a potencialidade dos
meios, o significado dos signos, o valor do
desenho. Esse discurso não é apenas um fator
exclusivo, mas se baseia em uma relação de
natureza estatística: muitos grandes arquitetos são
também grandes desenhistas, ou justamente
grandes pintores. Basta lembrar Muthesius,
Asplund, Berlage, que pintou até uma certa
cidade, ou ainda Adolf Loos, por natureza talvez
ainda mais escultor e pintor do que arquiteto. É
evidente que a importância de tal componente
permaneceu, até o Movimento Moderno, muito
forte. Por exemplo, um arquiteto como Mies Van
der Rohe, que abriu caminho para a tecnologia,
ditando novas condições para a arquitetura, fez
desenhos – pensem naqueles que a
Alexanderplatz – que pela sua beleza e riqueza de
significados podem ser considerados entre as
mais importantes obras-de-arte. (ROSSI, 1997, p.
121-122)
21
As preocupações de Rossi (1997) encontram-se hoje
evidenciadas e documentadas pela grande quantidade de artigos,
dissertações e teses que versam sobre os diversos
desdobramentos que o desenho (tanto analógico quanto digital)
teria no ato de projetar além das muitas intersecções e
possibilidades que os sistemas digitais trouxeram a tais práticas.
Se, na época da efetiva entrada dos instrumentos eletrônicos na
prática profissional dos arquitetos e urbanistas, se podia ouvir
discursos que pregavam a total substituição dos instrumentos e
das técnicas analógicas pelos sistemas digitais, o tempo deixou
claro que isso não aconteceu e evidências cada vez mais
explícitas comprovam isso. O manifesto de Campanário (2011),
fundador do movimento Urban Sketchers, fenômeno mundial
iniciado no começo da década de 2000, incita qualquer pessoa a
registrar, pelo desenho, os lugares, pessoas e objetos das suas
viagens e rotinas.
A coleção de desenhos publicados no site oficial do movimento
Figura 1 - Aspecto do site oficial do movimento Urban Sketchers. Fonte:http://
www.urbansketchers.org/2014/11/by-marc-taro-holmes-in-montreal-qcca.html. Último acesso em 17/11/2014
[Fig. 1] e nos sites correspondentes de cada país participante,
inclusive o Brasil, talvez seja o maior testemunho eletrônico, na
atualidade, da produção dos desenhistas analógicos. Como se
percebe, os registros gráficos por via dos métodos tradicionais
22
persistem e talvez isso ocorra justamente porque encontram, em
suas características e virtudes, a razão de sua sobrevivência.
Voltando à questão dentro do projeto arquitetônico e urbanístico,
se parece inegável que o desenho analógico perdeu espaço em
alguns momentos do processo de projeto, principalmente na fase
de apresentação e representação técnica, ele parece persistir
como instrumento de registro das reflexões e discussões inerentes
ao ato de projetar. Mesmo os profissionais que se valem dos mais
sofisticados expedientes computacionais não deixaram a ação
analógica de lado. Dois dos arquitetos que mais utilizam as
tecnologias computacionais, na atualidade, Zaha Hadid e Frank
Gehry, não abandonaram o risco no papel [Fig. 3 e 4]. Voltando a
Rossi (1997), ele nos dá uma pista das razões dessa
sobrevivência quando acentua que
Figura 2 - Conjunto de desenhos publicados no site oficial Urban
Sketchers Brasil. Fonte: http://brasil.urbansketchers.org/2014/01/
desenhando-pelo-rio-de-janeiro.html. Último acesso em 17/11/2014
[…] o desenho é o método imediato de expressão de
tudo o que é pensado: provavelmente o mesmo
discurso seja válido para a música e para a literatura,
ainda que a arquitetura exija depois, para sua
realização, um tempo mais longo e um conjunto de
competências e de colaborações mais complexo com
relação ao trabalho desenvolvido, por exemplo, por
um poeta. (P.122)
É interessante observar que o discurso de Rossi (1997) encontra
apoio, já no ano de 2012, em Graves (2012) quando ele enfatiza a
23
importância do ato de desenhar mesmo diante das
impressionantes possibilidades das ferramentas tecnológicas. Nas
palavras do Arquiteto,
Architecture cannot divorce itself from drawing, no
matter how impressive the technology gets. Drawings
are not just end products: they are part of the thought
process of architectural design. Drawings express the
interaction of our minds, eyes and hands. This last
statement is absolutely crucial to the difference
between those who draw to conceptualize
architecture and those who use the computer.
(GRAVES, 2012, p.01).
Sabe-se que a repercussão do uso dos recursos digitais ocorreu
Figura 3 - Estudos de Frank O. Gehry para a Vila Olímpica, Barcelona Espanha. Fonte: Frank O. Gehry: the complete works. Pág. 430
simultaneamente na prática profissional e nas escolas de
Arquitetura, embora tenha levado um pouco mais de tempo para
se efetivar na segunda. As dificuldades inerentes ao fazer
acadêmico, como revisão e adaptação das matrizes curriculares,
aquisição de equipamentos, treinamento do corpo docente, entre
outros, talvez expliquem esse atraso.
Outra razão diz respeito a própria resistência natural a novos
recursos. Em um ambiente cujos personagens estão acostumados
a fazeres já consolidados é esperado que haja uma rejeição
inicial. Piñón (2006) confirma essa impressão, quando assinala
Figura 4 - Estudos em computação gráfica do escritório de Frank O. Gehry
para Vila Olímpica, Barcelona - Espanha. Fonte: Frank O. Gehry: the complete
works. Pág. 431
que o advento de novas tecnologias pode criar naturais reações
entre os agentes (professores e profissionais) detentores de certas
24
técnicas e procedimentos consideradas por eles essenciais
construtivos e arquitetônicos, transformando o computador em
ao fazer arquitetônico.
um canteiro de obras virtual. O desenho à mão livre e a pintura
Em seu mesmo discurso, embora critique essa resistência a
novos sistemas, Piñón (2006, p.144) também alerta que, nas
mãos de um incompetente, o computador pode se tornar
instrumento para "perverter definitivamente o projeto", ao
mesmo tempo em que reconhece ser ele poderoso meio na
concepção e verificação do projeto.
encontraram nas telas sensíveis ao toque um novo meio de
registro de ideias e da arte.
Hoje, a pluralidade de meios e métodos mistura o digital e o
analógico para propiciar diversos produtos e as mais variadas
técnicas de investigação e criação. Instrumentos digitais são
usados em ações analógicas (o desenho à mão livre em um
Enquanto o desenho manual se mantinha como legítimo
tablet) assim como ações totalmente digitais (modelagem
instrumento de registro de ideias, da realidade construída e
tridimensional e impressoras 3D) podem gerar, por exemplo,
de seus personagens, o mundo digital ganhava novas
esculturas, objetos que até pouco tempo eram resultado de
ferramentas, técnicas e possibilidades de uso para
processos exclusivamente analógicos.
arquitetos, engenheiros, desenhistas, artistas e áreas
correlatas. Os softwares de modelagem tridimensional
ganharam espaço, tanto como recurso de representação
como de pensamento do projeto, além de se tornarem mais
acessíveis e fáceis de usar. As impressoras deram um salto
das duas para as três dimensões e trouxeram para o usuário
comum as novas possibilidades da fabricação digital. A
modelagem parametrizada ultrapassou os limites da
representação simbólica e bidimensional dos elementos
Acredita-se que essa diversidade de opções é benéfica para o
profissional e para o estudante, na medida em que abre
inúmeras possibilidades instrumentais e metodológicas para
investigar os problemas inerentes à prática projetual. Apesar
disso, essa mesma pluralidade pode ensejar questionamentos
e dúvidas podendo repercutir negativamente em especial
naqueles que têm pouca experiência nos fazeres da profissão.
Espera-se, por exemplo, que um profissional bem posicionado
25
no mercado, com um sistema de produção consolidado e
das questões relacionados ao desenho aplicado às praticas do
experiência de projeto, certamente conseguirá escolher,
projeto arquitetônico e urbanístico. Apesar disso, constamos
nesse elenco de opções, aquelas que considere mais
que, nessas publicações, a avaliação era, na maior parte, da
eficientes para otimizar o desempenho de sua prática
produção gráfica de profissionais do mercado. Em alguns
profissional. A mesma postura, entretanto, não pode ser
casos, os textos versavam sobre as práticas acadêmicas
esperada dos estudantes que, em sua maioria, carecem de
ligadas ao desenho, mas com foco nas metodologias de
vivência na área e, portanto, precisam de orientação para o
ensino e não na produção dos alunos.
trato com essas questões. Essa orientação ocorrerá, em sua
maior parte, durante as disciplinas do seu curso de
Este trabalho tenciona fazer uma avaliação quantitativa e
graduação, mas também na troca de experiências entre
qualitativa da produção gráfica, com ênfase nos desenhos
colegas, nos estudos pessoais, cursos extracurriculares e
analógicos, observada na disciplina Trabalho Final de
nos estágios.
Graduação (TFG) do curso de Arquitetura e Urbanismo da
Perante essa realidade, a questão latente e que foi
investigada nesta pesquisa diz respeito a como o discente,
dentro do processo de projeto, explora essa gama de opções
e até onde seus procedimentos de registro gráfico são
influenciados pelo seu percurso acadêmico e profissional.
A escassez de trabalhos com esse enfoque também motivou
esta investigação. Como já comentado, durante a revisão
bibliográfica, observamos a existência de uma quantidade
considerável de artigos, livros, dissertações e teses tratando
Universidade de Fortaleza (UNIFOR). A pesquisa toma como
base os dados primários contidos no arquivo digital dos
projetos produzidos nessa cadeira, disponíveis na
Coordenação do curso, além da nossa experiência como
coordenador do TFG no período de 2008 a 2013.
Segundo dados da Vice-Reitoria de Graduação o primeiro
concurso vestibular do curso de Arquitetura e Urbanismo da
UNIFOR aconteceu dos dias 01 a 03 de julho de 1998. A
estrutura curricular inicial (Matriz Curricular 26.1) exibia intensa
26
influência das disciplinas e práticas adotadas no curso da
pelo curso da UNIFOR prega a ideia de que a conciliação
Universidade Federal do Ceará, único do Estado até então,
entre as técnicas analógicas e digitais seria a melhor diretriz.
embora uma diretriz se destacasse como uma das premissas
do ensino a ser adotado no novo curso: toda produção gráfica
Hoje o Estado do Ceará possui sete cursos de graduação em
seria executada por meio de instrumentos digitais.
Arquitetura e Urbanismo em funcionamento. Eles estão
locados nas seguintes instituições, por ordem de surgimento:
As práticas de sala de aula e as demandas do mercado
Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade de
levaram a instituição, em sua reforma curricular de 2004 (que
Fortaleza (UNIFOR), Faculdade Nordeste (Fanor), Centro
adotou a Matriz Curricular 26.2), a rever o ensinamento da
Universitário Estácio do Ceará (FIC), Faculdade 7 de
representação gráfica, levando-a, entre outras coisas, nas
Setembro (FA7), Faculdade Católica Rainha do Sertão (FCRS)
palavras do professor Euler Sobreira Muniz, coordenador do
e Centro Universitário Christus (Unichristus).
curso na época, a "voltar ao uso da prancheta". Passou-se a
cursos, seis se encontram na Capital e um no interior. Além
valorizar o desenho instrumental analógico e o desenho à mão
desses, existem mais seis em processo de implementação nas
livre como meios fundamentais na formação do arquiteto, uma
seguintes instituições: Instituto Superior de Tecnologia
vez que eles seriam parte importante da criação e reflexão
A p l i c a d a ( I N TA ) , F a c u l d a d e M a u r í c i o d e N a s s a u
como expresso em passagem anterior desse escrito.
(UNINASSAU),
Hoje é possível perceber que a postura inicial do corpo
docente da UNIFOR se mostrou em parte equivocada, mas
também explicitou uma atitude corajosa, na medida em que
rompeu com a natural resistência ao uso de novos recursos,
como sugere Piñón (2006). Atualmente o discurso adotado
Desses sete
Faculdade de Juazeiro do Norte (FJN),
Faculdade Farias Brito, Faculdade Metropolitana da Grande
Fortaleza (FAMETRO) e UFCA (Universidade Federal do
Cariri). Essa crescente demanda por formação na área incita o
debate sobre o ensino da Arquitetura em nosso Estado e
dentro deste, o ensino do desenho aplicado à área.
27
Percebe-se que o cenário da graduação em Arquitetura e
Ante um contexto no qual se observa intensiva influência da
Urbanismo, no Ceará, é muito distinto daquele encontrado na
computação gráfica nos métodos de projeto de Arquitetura, o
década de 1990, quando só existia o curso da UFC e quando
desafio de estabelecer a medida correta entre o ensino dos
surgiu o segundo curso do Estado. Essas mudanças, talvez
métodos e instrumentos analógicos de desenho, assim como
mais evidentes no parâmetro quantitativo, aconteceram
dos digitais, se exprime ainda mais complexo e carente de
também nos métodos e instrumentos ligados ao ensino da
informações precisas.
Arquitetura e, dentro deste, da representação gráfica
aplicada, principal ponto de investigação deste ensaio.
Dessa forma, como já mencionado, este estudo visa a avaliar
as práticas de representação gráfica adotadas pelos discentes
Passada a fase (que parece ter influenciado a Matriz 26.1 do
dentro da reflexão, concepção e apresentação dos seus
curso da UNIFOR) de uso intenso das ferramentas CAD
trabalhos finais de graduação. Por ser a disciplina que culmina
(Computer Aided Design) que nada mais eram do que
a formação do aluno acreditamos ser ela ponto de referência
reproduções digitais do que se fazia em pranchetas,
para avaliar o uso dos recursos gráficos dentro do processo
observa-se nos dias de hoje uma grande diversidade de usos
de projeto. Será analisada neste estudo, a produção de
de ferramentas computacionais, que tanto interferem no
desenhos analógicos, digitais e híbridos, com maior ênfase no
modo de produção gráfica quanto no processo de concepção
primeiro e no terceiro, produzidos durante a concepção e para
de projeto. Ao contrário do que se poderia esperar,
a apresentação dos projetos.
entretanto, com base no que ocorreu no caso da UNIFOR, as
A pesquisa intenta avaliar quantitativa e qualitativamente a
disciplinas ligadas ao desenho analógico ainda estão
produção gráfica dos alunos, tentando identificar os tipos de
presentes nos currículos dos cursos de graduação, assim
desenho, algumas características, aplicações e objetivos
como se pode observar o uso de termos como "croquis" e
gráficos durante a criação, o diálogo com o professor
"desenho à mão livre" nas ementas e conteúdos de algumas
orientador e a apresentação do seu projeto.
de suas disciplinas.
28
Para tanto serão analisadas as peças gráficas contidas nas
Arquitetura e Urbanismo, sendo eles: discentes, docentes,
monografias de defesa dos TFGs de 2009 a 2014. No
coordenadores de curso e pesquisadores. Futuros
primeiro momento será feito um estudo mais generalista
pesquisadores também podem se beneficiar deste trabalho
para coletar dados quantitativos e levantar alguns aspectos
na medida em que o método adotado para coleta e
qualitativos. No segundo momento cinco trabalhos serão
organização dos dados pode ser usado em pesquisas
avaliados de forma mais detalhada.
similares. Este experimento também pode servir de base a
docentes e coordenadores de curso para reflexões sobre o
No terceiro momento tencionamos traçar um quadro geral,
ensino do desenho em suas diversas vertentes, sua
confrontando as práticas de ensino dentro da instituição,
inserção nas estruturas curriculares e importância na atual
mais especificamente na área de Geometria e Desenho, e
formação do arquiteto e urbanista.
se estas refletem os anseios e necessidades percebidas
pelos alunos durante o desenrolar do projeto.
Este trabalho se torna relevante, na medida em que busca
traçar um panorama que retrate as técnicas e instrumentos
de desenho usados pelos estudantes de Arquitetura e como
estas se refletem nas ações de projeto da disciplina que
finaliza o curso.
Esta dissertação é dirigida à comunidade acadêmica ligada
ao ensino do desenho nos cursos de graduação em
30
tivesse tanta importância no seu método de pensar um projeto
como bem detalha Pereira (1997).
A descrição de seu método pode tanto saciar alguma curiosidade
referente a como suas icônicas obras foram criadas, como
também provocar questionamentos e/ou servir de inspiração, mas
o que parece evidente é que seu método é pessoal e não
necessariamente será adequado a todas as situações.
Enquanto a manifestação grafada (seja por desenhos ou por
textos) foi a marca registrada do Arquiteto carioca, Paulo Mendes
Figura 7 - Croqui da Praça do Patriarca. Fonte: http://arcoweb.com.br/
projetodesign/arquitetura/paulo-mendes-da-rocha-praca-do-27-11-2002.
Ültimo acesso em 20/11/2014
da Rocha, cuja obra tem reconhecimento internacional pelo
prêmio Pritzker, usa a maquete de papel como instrumento em
seu processo de criação. É interessante anotar que, a elas [Fig. 7
e 8], o Arquiteto paulista atribui a função de “instrumento de
desenho”, de “maquete como croqui” (ROCHA, 2007, p.22). A
vinculação de um elemento tridimensional a termos ligados aos
registros gráficos só reforça a noção de que a utilização do
primeiro tem função similar a dos esboços à mão livre.
Tentar definir qual dos dois métodos seria o mais adequado e/ou
mais eficiente seria impossível, além de desnecessário. O que
talvez seja ponto comum aos dois é, segundo assinala Barki
(2003), a capacidade de abstrair as variáveis pertinentes a uma
Figura 8 - Maquete da Praça do Patriarca. Fonte: http://arcoweb.com.br/
projetodesign/arquitetura/paulo-mendes-da-rocha-praca-do-27-11-2002.
Ültimo acesso em 20/11/2014
31
situação-problema e de antecipar as soluções mediante a
bibliográfica com o objetivo de identificar intersecções e/ou
apresentação e representação por desenhos, textos ou
divergências entre o que relata os tratados sobre metodologia de
maquetes.
projeto e as práticas adotadas pelos estudantes de arquitetura da
A criação em projetos arquitetônicos e urbanísticos e o seu
registro gráfico podem acontecer por intermédio de várias
metodologias, instrumentos e técnicas. Vários atores
UNIFOR, mais precisamente no que diz respeito ao uso dos
recursos gráficos.
2.1 As fases do projeto
participam desse percurso e das mais diversificadas maneiras.
Esse processo, embora revele pontos em comum, não possui
metodologia bem definida, podendo apresentar muita variação
entre profissionais e estudantes para chegar à solução de um
problema.
No que se refere à produção gráfica, foco principal deste
estudo, nota-se que não há qualquer unanimidade quanto aos
instrumentos, em relação aos objetivos que se pretende
alcançar com as peças gráficas e no concernente aos seus
tipos utilizadas nas várias etapas de um projeto, em especial,
nas fases de concepção e apresentação, segundo alvo deste
estudo.
Arquitetura é antes de mais nada construção, mas,
construção concebida com o propósito primordial de
ordenar e organizar o espaço para determinada
finalidade e visando a determinada intenção. E
nesse processo fundamental de ordenar e
expressar-se ela se revela igualmente arte plástica,
porquanto nos inumeráveis problemas com que se
defronta o arquiteto desde a germinação do projeto
até a conclusão efetiva da obra, há sempre, para
cada caso específico, certa margem final de opção
entre os limites - máximo e mínimo - determinados
pelo cálculo, preconizados pela técnica,
condicionados pelo meio, reclamados pela função
ou impostos pelo programa, - cabendo então ao
sentimento individual do arquiteto, no que ele tem
de artista, portanto, escolher na escala dos valores
contidos entre dois valores extremos, a forma
plástica apropriada a cada pormenor em função da
unidade última da obra idealizada. (COSTA, 1995,
p. 246).
A afirmação de Lúcio Costa revela, entre outras coisas, que a
Neste capítulo, pretendemos abordar algumas questões sobre
Arquitetura tem essencialmente por fim a obra construída. Para
metodologia de projeto rebatendo os conceitos pertinentes em
se chegar, entretanto, a tal, o projeto passa por diversas fases. O
algumas práticas de sala de aula. Será feita uma revisão
próprio texto, quando do uso de termos como “germinação”,
32
“cálculo”, “função” e “programa”, parece também deixar claro que
para se chegar no objeto concreto, há percursos necessários e
diversas variáveis a serem consideradas. Martínez (2000) reforça
essa impressão e também evidencia a existência de etapas em
um projeto quando assinala, de forma resumida e objetiva, que
[…]o processo projetual implica uma série de
operações que resulta em um modelo “do qual será
copiado um edifício”. Contudo, não há apenas um
único processo projetual, apenas uma única maneira
de se levar a cabo esse processo. (P.17).
Apesar disso, o autor deixa claro que não parece haver uma
unanimidade quanto a como e quando exatamente essas fases
acontecem.
Sabe-se que existem diversas nomenclaturas assim como
variações na quantidade dessas etapas e nos objetivos de cada
uma delas. Denominações como levantamento de dados, projeto
conceitual, estudo preliminar, anteprojeto, projeto executivo,
projeto de obra, projeto legal, dentre outras, podem ser
encontradas para titular as diversas etapas de produção que
podem ser experimentadas nos escritórios de Arquitetura.
Figura 9 - Croquis de estudo para residência do Sr. Ernesto Gomes
Fontes. Fonte: Lúcio Costa: registros de uma vivência. Pág. 54
Não faltam documentos e bibliografia propondo algum tipo de
padronização e/ou de organização das ações que envolvem um
projeto de arquitetura. Barreto (2013), por exemplo, nos lembra a
33
sugestão do Instituto dos Arquitetos do Brasil constante no
análise quantitativa e qualitativa, a diversidade de estratégias
documento Roteiro para o Desenvolvimento do Projeto de
eleitas para uma mesma situação-problema. Se sua avaliação
Arquitetura da Edificação. Nele são propostas quatro etapas
não demonstra que há diversidade nos processos de criação,
básicas, chamadas: estudo preliminar, anteprojeto e/ou
ela certamente comprova que a forma de apresentação é
projeto de aprovação; projeto de execução; assistência à
bastante plural.
execução da obra. Não será difícil comprovar a existência
dessas etapas em grande parte das situações de projeto
enfrentadas por profissionais e até mesmo por estudantes
nos ateliês acadêmicos, mas é certo que essas fases, na
maioria dos casos, dificilmente produzirão resultados iguais,
apesar de poderem demonstrar algumas semelhanças.
Nos ateliês acadêmicos essa constatação se faz ainda mais
evidente. Martinez (2000) deixa claro que as simulações
sugeridas na prática do ensino de projeto fazem com que o
professor orientador assuma o papel de cliente, docente e
avaliador. Na medida que é orientador, ele também sugerirá
como o processo deve ocorrer para a busca das soluções.
Mesmo numa situação na qual dois escritórios distintos
trabalhassem no mesmo projeto para o mesmo cliente e lote,
os percursos usados para se chegar à solução do projeto
seriam diferentes, assim como os resultados. Basta ver o que
ocorre nos concursos de projeto de Arquitetura. Souza (2009)
comprova essa suposição quando detalha os métodos de
representação gráfica adotadas pelos três primeiros
Consoante Barreto (2013), essa orientação pode ocorrer ou de
forma determinista, quando os processos decisórios são mais
fechados e restritos, ou probabilista, quando a decisão é mais
participativa envolvendo diversos agentes. Percebe-se que o
método adotado nas disciplinas de projeto e no TFG tende a ser
mais determinista, na medida em que há uma centralização da
avaliação/orientação no docente.
colocados e as quatro menções honrosas do concurso para o
Apesar disso, o que se percebe é a pluralidade de soluções e
Teatro de Natal. Embora sua pesquisa foque somente nas
de modos de pensar o projeto. As figuras 10 e 11 mostram dois
pranchas de apresentação, o autor demonstra, mediante
resultados distintos para o mesmo programa de necessidades,
34
lote e orientados pelo mesmo docente. Cremos que as variáveis
pessoais e da formação de cada discente também são definidoras
do resultado final, mesmo com a tentativa de padronização de
processos e diante da mesma situação-problema.
Andrade et. al. (2011) nos dão uma pista das razões dessa
diversidade quanto estabelecem algumas características e
problemas comuns ao processo de projeto. Uma delas diz respeito a
má estruturação dos próprios problemas que devem ser resolvidos,
ou seja, uma vez estabelecidos os parâmetros e dados dos
Figura 10 - Fachada e corte de residência unifamiliar da disciplina
Ateliê I. Autora: Beatriz Farias M. Pessoa. Fonte: Acervo do autor
programas de necessidades, os atores envolvidos normalmente não
conhecem nem os objetivos finais tampouco os meios para se
chegar às soluções.
Rowe (1998, p. 40-41) propõe uma classificação para essa situação
quando estabelece que esses problemas, dentro de uma situação
projetual, podem ser: bem formulados (well-defined problems), mal
formulados (ill-defined problems) ou sem formulação (wicked-defined
problems). Ainda segundo o autor, os problemas enfrentadas por
arquitetos, em sua maioria, não têm enunciados bem definidos nem
variáveis controláveis, além de poderem ter inúmeras possíveis
soluções. Esse descontrole os situa, preferencialmente, na segunda
Figura 11 - Fachadas de residência unifamiliar da disciplina Ateliê I.
Autora: Lia A. Borges. Fonte: Acervo do autor
categoria e, em alguns casos, até mesmo na terceira.
35
Outro ponto abordado por Andrade et. al. (2011) está
Nas práticas de ateliê de projeto, como já comentado, podem
relacionado ao fato de o projeto arquitetônico estar sempre
ser observadas diversas situações que ilustram o que foi
em aberto, uma vez que a solução ideal de um edifício não
expresso até aqui. Não raro, docentes estabelecem programas
existe. A má estruturação do problema traz como
de necessidades mal definidos e os discentes, com sua natural
consequência a indefinição de metas e, portanto, as soluções
inexperiência, tomam decisões iniciais que causariam
sempre estarão sujeitas a melhoramentos e/ou
estranhamento, como, por exemplo, a escolha dos materiais de
questionamentos. uma escada que nem mesmo foi locada na edificação.
O último ponto expresso pelos autores diz respeito à
constatação de que seria impossível estabelecer um ponto
de partida para o processo de projeto. Sobre isso, citam um
exemplo genérico (aplicado a projetos de edifícios) no qual
normalmente os primeiros esboços sempre tentam elucidar
como o edifício se posicionaria no terreno e, então, daí, fazer
avaliações e tomar outras decisões que podem confirmar o
A própria maneira como essas práticas são feitas induzem ao
descontrole e/ou à difícil definição de metas. Voltando a lembrar
a afirmação de Martínez (2000), na sala de aula, misturam-se
em um mesmo agente (o professor) as figuras do docente, do
orientador, do cliente e do juiz que aferirão notas mensurando
matematicamente o sucesso ou o fracasso de seu aprendiz, o
que torna todo o cenário ainda mais complexo.
que já foi registrado ou provocar alterações. Lawson (2011, p.
Como se percebe, a enorme complexidade inerente aos
47) confirma a dificuldade de definir o ponto de partida de um
processos de projeto dificultam seu estudo e/ou uma possível
projeto, quando descreve o caso da arquiteta Eva Jiricna que
determinação de metodologias bem definidas que poderiam ser
adota um processo oposto ao do exemplo usado por Andrade
aplicadas em ambiente acadêmico. Barki (2003) comenta a
et. al. (2011). A arquiteta, segundo o autor, revelou que em
grande quantidade de autores e as suas diversas abordagens
seu processo de projeto, os estudos começam pela escolha
no estudo do métodos projetuais. Também de acordo com o
de materiais e desenhos de detalhes em tamanho natural.
autor, a complexidade inerente a essas práticas parece ser o
36
único ponto em comum aos estudos. Nas suas palavras,
[…] de todos os pontos de vista os autores
parecem hoje convergir para uma conclusão o
projeto de arquitetura lida com problemas
complexos, lida com determinação e
indeterminação ao mesmo tempo. E que, se é que
existe de fato um processo, este se dará como
uma forma especial de inquirição pela qual os
indivíduos não só descrevem, mas prescrevem e
dão forma a idéias de ocupação do espaço. A
maior dificuldade para compreender as
características distintas e específicas desta forma
especial de inquirição, deve-se ao fato de que, no
seu desenrolar, recorrem-se a fontes de
conhecimento e formas de pensamento que, por
muitas vezes, são paradoxais e conflitantes. (P.64)
Mesmo sendo a única ferramenta disponível para minimizar
esse hiato entre as práticas acadêmicas e o mundo
construído, a representação gráfica não pode assumir papel
de vilã, uma vez que é ela, em suas diversas versões, que
possibilita a materialização das ideias e que torna o trabalho
do arquiteto tão peculiar. Também é certo que, durante seu
percurso acadêmico o aluno tratará dos assuntos referentes à
construção civil, tanto de forma teórica quanto prática, mesmo
que essa última se restrinja a algumas visitas aos canteiros de
Outra questão importante, também descrita por Martínez
obras. Sabe-se, contudo, também que somente essas
(2000), diz respeito ao afastamento entre as propostas
experiências não são suficientes para amadurecer o futuro
desenhadas em sala de aula e a realidade construída. A
arquiteto nesse quesito. Voltando a Barki (2003), o autor
separação entre o “arquiteto realizador” e o “arquiteto
parece confirmar essas impressões quando relata que
pensador”, observada ao longo da história, parece ainda mais
evidente na relação entre o estudante e o seu processo de
projeto. Com pouca ou nenhuma vivência de canteiro de obras,
e sem nenhuma condição de testemunhar a construção do que
projetaram nas disciplinas, sobra aos discentes o registro
gráfico de suas ideias por meio dos croquis, modelagens
computacionais, maquetes ou experiências de realidade
aumentada como forma de conhecer o resultado final de suas
ideias.
[…] o esforço do projetista para ‘resolver
problemas' [problem-solving] arquitetônicos
exigirá habilitação em uma série de áreas do
conhecimento. Se alguém quiser se concentrar
naquela habilidade particular que distingue esta
atividade de outras, verificará que essa é a
capacidade de visualizar e definir lugares antes
da sua realização; ou seja, de idealizar formas
tridimensionais, definir espaços interiores e
aqueles que envolvem a forma tridimensional
sem que, de fato, seja necessário construi-las. O
veículo fundamental para essa visualização é o
desenho de arquitetura: veículo de
representação autônomo, específico e particular,
que não deve ser confundido com outras formas
de desenho. (P.79)
37
Sabe-se que o ponto de partida de um projeto é um momento de
reflexão durante o qual normalmente as dúvidas e
questionamentos existem mais do que as soluções. Na busca de
respostas observam-se ímpetos criativos que se misturam a ações
que podem ser extremamente racionais além de angústias, e
questionamentos. O ordenamento dessa busca varia de acordo
com cada projeto e com cada profissional. Uma das maneiras
encontradas pelos arquitetos para essa organização consiste em
estabelecer rotinas de trabalho definidas por fases e por objetivos
a serem alcançados. Para este estudo, adotaremos, com base no
já exposto, que existem três intenções básicas no processo de
projeto, sendo elas: conceber, apresentar e documentar.
Na concepção estariam embutidas todas as ações necessárias à
solução, pelo menos parcial, dos problemas propostos. Na
apresentação, aconteceria a exposição das ideias e das soluções
imaginadas para esses problemas, ao passo que, na
documentação, seriam preparados todos os produtos gráficos
necessários à materialização da solução oferecida. As figuras 12,
Figura 12 - Croquis de estudo para TFG. Fonte: Acervo da coordenação do
curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autora: Renata Freitas
13 e 14 expressam exemplos que ilustram essas fases propostas.
Dependendo de cada projeto e de cada agente (arquitetos ou
38
estudantes), esses três momentos ganharão denominações diversas
(estudo preliminar, projeto conceitual, anteprojeto, projeto de obra,
projeto executivo etc) além de poderem, como já comentado, usar as
mais variadas metodologias para atingir os objetivos necessários. O
que parece ser uma diretriz comum é que esse conjunto de ações
não é linear, mas sim um conjunto de idas e voltas que gravitam,
segundo alguns autores, em especial ,Lawson (2011), ao redor de
quatro etapas: Análise, Síntese, Avaliação e Representação.
Para Andrade et. al (2011) é na fase chamada Análise, que são
identificados os principais elementos do projeto, bem como seus
Figura 13 - Planta de apresentação para TFG. Fonte: Acervo da coordenação
do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autora: Renata Freitas
objetivos e restrições. Nessa etapa, são definidos e coletados dados
como, por exemplo, os indicadores urbanos, custos, programa de
necessidades, legislação pertinente, dentre outros. Durante a
Análise, há somente a coleta de informações, mas percebe-se que
os registros gráficos ocorrem com bastante frequência, embora
esses, como pôde ser observado na pesquisa, tenham elevado grau
de abstração. Os diagramas, esquemas e organogramas se
enquadrariam nessa realidade.
Essa fase tem pontos em comum com o que o próprio Lawson
(2011, p.144) chama de "Primeira Noção” do processo criativo. Para
o autor, a "primeira noção" consiste simplesmente no
39
reconhecimento do problema, que deveria estar definido desde o
início, e no compromisso em resolvê-lo. É interessante observar que,
na maioria dos casos observados em ateliês acadêmicos de projeto, a
situação-problema é trazida pelo docente, mas isso não acontece no
TFG. Para o seu projeto final de curso, o próprio aluno deve formular
uma situação-problema, buscando e organizando todas as variáveis
que ele mesmo terá que resolver. Especificamente, para os trabalhos
investigados nesta pesquisa, essa formulação acontece na disciplina
que antecede o projeto final, como será detalhado no Capítulo 4.
Voltando a Andrade et. al (2011), após a coleta das informações e
Figura 14 - Pranchas com cortes para TFG. Fonte: Acervo da
coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autora:
Renata Freitas
determinação das metas, entra a fase chamada de Síntese, na qual a
criatividade passa a ser protagonista. As possíveis soluções começam
a surgir condicionadas pelas restrições e objetivos a serem
alcançados. Dentro do processo criativo, Lawson (2011) acentua que,
em seguida, aconteceria uma das mais importantes fases - a
“Incubação”. Para o autor, nela ocorreria um período de afastamento e
de redução do ritmo de busca pela soluções. Não é incomum, nas
experiências de sala de aula e de orientação de TFG, testemunharmos
alguns momentos durante os quais os alunos parecem não conseguir
produzir e/ou oferecer respostas às demandas. Esses podem ser os
seus momentos de “incubação”, embora se saiba que esses
afastamentos podem acontecer por diversos outros motivos.
40
A etapa intitulada Avaliação vem em seguida e, como o
próprio nome propõem, as decisões já tomadas na Síntese
passam por uma análise crítica que pode levar o projetista a
voltar para a etapa anterior. Todas essas etapas estão
entrelaçadas e, como já mencionado, não tem
necessariamente uma sequência linear. A qualquer momento,
pode-se voltar a primeira com base em decisões e/ou
percepções conseguidas nas demais etapas.
[…]enquanto a metodologia clássica de projeto
parte da análise para a síntese (das necessidades à
concepção do programa e à formulação espacial), o
arquiteto, na prática, trabalha de maneira inversa:
de uma síntese figurativa preliminar num primeiro
momento, passando à análise programática e
técnica e retornando então novamente à síntese na
qual todos os dados preliminares se encontram
articulados em uma solução espacial. (GOUVEIA,
1998, p.26).
Como se nota, o caráter indefinido e aparentemente caótico do
pensamento projetual leva os arquitetos à busca de soluções
mediante um processo de erro e tentativa. Para Laseau (2001),
Aqui cabe mencionar a natural resistência do acadêmico a
os recursos gráficos são a melhor alternativa para o registro e a
essa não linearidade, além da não obediência à sequência
comunicação entre os agentes envolvidos em todo esse
Análise > Síntese > Avaliação. Normalmente se observa
processo. Esse registro gráfico acontece na fase chamada
elevado grau de ansiedade no discente para atingir o que, na
Representação. Os desenhos usados normalmente são os
sua mente, seria a resolução final de seu projeto, além da pré
diagramas, as plantas, os cortes, as fachadas e as perspectivas.
definição imagética que muitas vezes antecede a própria
coleta de dados. Não é incomum que alunos de TFG
antecipem a imagem final de seu edifício, antes mesmo de
chegarem a uma definição de qual será o terreno para sua
locação. Gouveia (1998), por exemplo, ao mesmo tempo que
critica a metodologia proposta por Lawson (2011) e defendida
por Andrade et. al (2011), parece dar uma explicação ao que
se observa nos alunos de TFG. Consoante a autora,
Na verdade, essa etapa (Representação) se encontra em todas
as demais. Durante, por exemplo, a coleta de dados, já pode
haver registros gráficos, e isso parece indispensável. O desenho,
seja de um um conjunto de retângulos que organiza um
organograma, seja de uma perspectiva de um ambiente urbano,
é a linguagem fundamental para o desenvolvimento de todas as
etapas supracitadas. Barki (2003) confirma e deixa clara essa
importância, quando acentua que,
41
[…] o arquiteto, ao riscar e exibir para si
mesmo um determinado contexto do mundo
sensível e as possibilidades de intervenção ou
transformação o faz através de imagens,
gráficos e diagramas. Neste processo que
constrói imagens, modela e materializa
representações de recortes ou simplificações
sintéticas do real, os registros gráficos acabam
por ganhar vida própria. São estes
pensamentos exteriorizados que, possibilitando
lidar com uma grande quantidade de
informação, recriam uma dada realidade,
permitem sua manipulação e possibilitam a
‘construção' de novos conhecimentos. (P.40).
mesmo outros momentos de criação.
2.2 Os agentes do projeto
Em razão do que foi expresso até aqui, vê-se que o processo de
projeto se configura como conjunto de ações de padronização
difícil e de grande complexidade. Viu-se também que cabe ao
arquiteto o domínio de áreas diversas do conhecimento, na
medida em que é ele o gerenciador de todo o processo. As
Percebemos, com base no exposto até aqui, que a Análise, a
atuais demandas técnico-construtivas, econômicas e normativas
Síntese, a Avaliação e a Representação acontecem durante
enfrentadas pela Arquitetura solicitam dos escritórios grande
as três etapas propostas anteriormente, mas talvez algumas
preparo e maior descentralização das decisões.
com maior frequência do que outras. Na concepção de um
projeto, a coleta de dados (análise) e os momentos criativos
(síntese) são mais presentes, mas há vários momentos de
avaliação e, é claro, de representação. Na apresentação de
um projeto, que pode ser considerada uma grande síntese, já
que uma possível solução é explanada ao cliente, pode
haver nova coleta de dados e até mesmo o retorno à fase
anterior, a concepção. Mesmo durante a documentação,
quando se espera que quase todos os problemas estejam
resolvidos, o detalhamento de um projeto pode revelar novos
problemas e provocar outra coleta de informações e até
Benévolo (2007, p.55) descreve essas atuais demandas e cita
exemplos de escritórios com grande número de arquitetos,
destacando Skidmore Owings and Merrill, com 477, Foster
Associeted, com 393, Jean Nouvel Architecture, com 105,
Renzo Piano Building Workshop, com 103 e Zaha Hadid, com
70. Esses números talvez não reflitam a realidade brasileira,
mas explicitam a necessidade cada vez maior da construção
coletiva do projeto. O autor também frisa as novas habilidades
necessárias, como, por exemplo, maior capacidade de
agregação e de relacionamento entre os agentes internos e
externos à empresa.
42
Nesse novo cenário, a especialização parece ser o caminho adotado.
Na representação gráfica, foco deste estudo, não é raro encontrar
escritórios que contratam ou terceirizam profissionais para tarefas
bastante específicas, como, por exemplo, a preparação de imagens
realistas para a apresentação de projetos. Há também profissionais
mais habilidosos na representação gráfica analógica, que cuidam
especificamente dos chamados desenhos conceituais.
Até mesmo no meio acadêmico, no qual se espera que o discente
Figura 15 - Perspectiva de apresentação. Fonte: Acervo da
coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autor:
Aline Guedes.
tenha um cabedal mínimo de habilidades que permita a confecção de
seus desenhos, observa-se a terceirização de algumas tarefas. No
TFG, sabe-se que, por exemplo, nem todas as perspectivas digitais de
acabamento fotorrealista são produzidas por seus autores, mas sim
por colegas ou até por profissionais externos à Universidade. As
figuras 15 e 16 mostram um caso em que a ex-discente, cujo trabalho
foi orientado por nós, demonstra habilidade para o desenho conceitual
de seu projeto, feito de forma analógica, mas contrata os serviços de
terceiros para conseguir a imagem final fotorrealista.
Não é pretensão desta pesquisa investigar a fundo as razões dessa
nova realidade, mas sabe-se que, tanto na Arquitetura de uma forma
Figura 16 - Perspectiva de apresentação. Fonte: Acervo da
coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autor:
Aline Guedes.
geral quanto na representação gráfica, o aparecimento de novos
recursos é mais rápido e mais complexo que a capacidade que
43
estudantes e profissionais têm de assimilá-los e daí a
Apesar de hoje os instrumentos e técnicas serem muito diversos
inevitável necessidade de reportar tarefas.
percebe-se que algumas hierarquias entre os agentes
envolvidos foram mantidas, enquanto outras mudaram. Sabe-se,
No que diz respeito à representação gráfica, mesmo antes da
inserção das ferramentas digitais, como assinala Arantes
(2012, p.130), os instrumentos analógicos, e suas técnicas
quase artesanais, acabavam por determinar práticas
hierárquicas associadas a habilidades manuais e à
distribuição de funções dentro dos escritórios. Dessa forma, a
pessoa responsável pela captação de projetos e alguns
outros poucos membros da equipe acabavam se
segundo detalha Cardoso (2005), que as ferramentas
computacionais ganharam recursos que hoje as situam na
posição de auxiliares das decisões do projeto e também que o
domínio desses meios não está exatamente nas mãos dos
principais gerentes de projeto ou do dono do escritório. Dessa
forma, apesar de sempre existir um agente principal, não cabe m
mais somente a ele todas as decisões dos rumos que um projeto
tomará.
encarregando dos estudos iniciais e do gerenciamento do
projeto. Paralelamente a isso, estagiários iniciantes ficavam,
Mesmo com o uso de instrumentos digitais, ainda se verifica,
por exemplo, responsáveis por desenhar margens e carimbos
como retrata a pesquisa de Perrone et al. (2006), a adoção do
de pranchas e desenhistas e arquitetos mais experientes
croqui à mão livre [Fig. 17] como recurso de registro na
cuidavam dos desenhos mais complexos como plantas,
concepção do projeto e no diálogo entre as demais
cortes e fachadas, mas o desenho final, a nanquim e
personagens. Em um processo de erro e tentativa, os desenhos
normografado, seria entregue a mãos mais cuidadosas de
se sobrepõem numa dinâmica de diálogo reflexivo solitário ou
algum desenhista ou técnico especializado nessa tarefa.
em grupo. Durante esse diálogo, o desenho também é
As ações de concepção, como acentua Lawson (2011, p.217),
podem ser feitas por um ou mais agentes embora um deles
acabe sendo o orientador geral dos rumos que o projeto toma.
instrumento de registro, na medida em que, segundo Laseau
(2001), materializa, até certo ponto, o que antes eram somente
ideias "desenhadas" na mente do projetista.
44
O histórico de croquis, grafado normalmente em papel, explicita e
subsidia a discussão entre as partes envolvidas ou a própria
inquietação solitária do arquiteto.
É importante frisar que os agentes participantes desse processo
variarão de acordo com o momento. Acreditamos que a influência dos
instrumentos digitais deixou a participação do desenho à mão livre
prioritariamente nas fases iniciais do projeto e, mesmo nelas, as
técnicas digitais também são marcantes, como poderá ser observado
mais adiante.
Dentro do TFG, foco deste estudo, podemos considerar que existem
dois agentes principais (o aluno e o orientador) e vários secundários,
que se relacionam de alguma forma em três momentos principais de
diálogo/comunicação - a orientação, a apresentação para a banca de
Qualificação do TFG e a apresentação para a banca final de defesa.
Na primeira etapa, observa-se que o diálogo ocorre essencialmente
Figura 17 -Croquis de estudo para TFG. Fonte: Acervo da coordenação do
curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autor: C/cero Eugênio de
Mendonça
entre o aluno e o professor orientador,. embora se saiba que também
existem momentos de monólogo do estudante, assim como diálogo
entre ele e seus pares e/ou com outros professores. Esta pesquisa
não coletou dados suficientes para avaliar todos esses episódios de
comunicação uma vez que, como será demonstrado no Capítulo 5,
os desenhos coletados se referem muito mais aos momentos de
46
3 O DESENHO NO PROCESSO DE PROJETO
Desenhar é uma atividade básica e necessária ao trabalho do
arquiteto. Os problemas com os quais esses profissionais são
confrontados, como já exposto, encontram nele o instrumento
adequado para a busca de soluções. É também nessa
manifestação gráfica que talvez se encontre uma das principais
assinaturas e característica do seu trabalho. São recorrentes, por
exemplo, entre aqueles que vislumbram adentrar cursos de
graduação em Arquitetura e Urbanismo, as angústias e
Figura 20 - Perspectiva de Oswald Bratke para Viaduto Boa Vista. Fonte:
Oswald Bratke. A arte de bem projetar e construir. Pág. 30
questionamentos sobre as habilidades necessárias a esse ofício,
entre elas, o “saber desenhar".
O desenho não é privilégio dessa profissão e tampouco precisa,
como deixa claro Edwards (2000), estar associado a talentos
especiais. Ao contrário, essa linguagem encontra-se nas mais
variadas áreas e se manifesta das mais diversas formas, como
aponta Lapuerta (1997), ao indicar, por exemplo, o uso dos croquis
no trabalho de um diretor de cinema ou de um novelista. Essa
linguagem também faz parte do cotidiano e em situações menos
corriqueiras. Pode se manifestar durante a explicação que uma
pessoa faz a outra para indicar uma localização e, para isso,
47
esboça um mapa, como também pode ser encontrado no gesto do
cirurgião que marca a área do corte na pele humana. Sobre essa
pluralidade de aplicações, Massironi (1982) expressa que,
[…] de fato, esta técnica essencial e primária,
baseada nos processos da visão, encontra meios e
matizes para se adaptar às mais variadas exigências.
Ela vai desde a ilustração das funções taxonômicas
das ciências da natureza, às descrições expressivas
da ilustração artística; da coordenação dos traçados
na elaboração de um projeto técnico, à explicação
num diagrama do complexo conjunto dos dados
interrelacionados entre si; do porem-se sinais
sistematicamente modificados, que caricaturando
coisas e pessoas os tornam reconhecíveis de um filtro
interpretativo, ao esquematizar-se a realeza nos
brasões, nos ferretes, nos sinais; ao contribuir para
tornar compreensível, porque traçada como um sinal,
a hipótese teórica da interligação das partículas da
matéria; até exprimir, talvez com uma garatuja, a
projecção do mundo afetivo da criança. (P.17).
Figura 21 - Perspectiva linear - Baldassare Peruzzi.
Arquitetura - Sec. XIII AO XIX. Pág. 106 - 107
Fonte: Desenhos de
Apesar do que expõem Betty Edwards e Manfredo Massironi,
muitas vezes se atribui a habilidade de “saber desenhar" àqueles
cuja destreza permite a produção de peças gráficas de elevada
complexidade e alçado realismo [Fig. 20]. Essa herança, como
bem exprime Gombrich (2007), é renascentista. Nessa época, as
técnicas de perspectiva linear [Fig. 21], desenvolvidas por Alberti e
Brunelleschi, abriram horizontes à representação gráfica. Artistas e
arquitetos passaram a contar com um recurso geometricamente
preciso para alcançar maiores níveis de realismo nas pinturas e
48
nos desenhos de Arquitetura. Não cabe aqui detalhar as outras
repercussões dessa revolução nas artes gráficas, mas, entre
outras coisas, se passou a atribuir o fazer artístico àqueles que
tivessem a capacidade de representar, pela pintura ou pelo
desenho e da forma mais fiel possível, aquilo que se
observava no mundo real ou o que se pretendia criar. Ainda
hoje persiste esse pensamento.
Dessa forma, observa-se que estudantes de Arquitetura, e até
mesmo profissionais menos afeitos ao desenho, têm
dificuldades em ver qualidades gráficas em desenhos como,
por exemplo, os mostrados na Figura 22. Eles tendem a
desprezar esses registros e demonstram muitas vezes
constrangimento em apresentá-los a terceiros. Na visão da
maioria, o “bom desenho” estaria mais próximo do que é visto
nas Figuras 23 e 24, ou seja, aqueles que tem arte-final mais
refinada.
Posto isso, é preciso deixar claro que o desenho típico das
atividades do arquiteto tem peculiaridades que o diferenciam
do desenho artístico, embora, em muitos casos, se utilize de
Figura 22 - Croquis de estudo para Sesc Pompeia.
Fonte: Lina Bo Bardi: sutis substâncias da arquitetura, pág. 236
alguns atributos desse último.
49
Não pretendemos aqui tratar das possíveis definições e
características que identificam o desenho de Arquitetura. Dessa
forma, será aceito como referência, primeiramente, o que coloca
Perrone (1993) quando assinala que
[…] a definição do desenho como signo da arquitetura
pressupõe uma condição de que este deve ser
colimado como a finalidade de que, através dele,
possam ser estudados os edifícios, desenvolvidos
projetos e executados planos. (P.27)
Em seguida, também parece adequado, dentro do escopo desta
dissertação, o que assinala Gouveia (1998). Para a autora,
Figura 23 - Perspectiva MASP.
Fonte: Lina Bo Bardi: sutis substâncias da arquitetura, pág. 321
[…] o desenho do arquiteto tem características
próprias que não são pertinentes ao processo gráfico,
apesar de expressas nele. O desenho é um
instrumento, estritamente vinculado à concepção
espacial, ao projeto a linguagem mais importante
para o fazer do arquiteto (P.28)
As visões dos autores deixam claras as especificidades inerentes
ao desenho do arquiteto, mas é interessante observar que essas
características, apesar de estarem explicitadas e estudadas hoje,
já existem há bastante tempo. Consoante Artigas (2011), o uso do
desenho como instrumento de reflexão, ação de projeto e registro
Figura 24 - Perspectiva de Oswald Bratke para sua residência.
Fonte: Oswald Bratke. A arte de bem projetar e construir. Pág. 47
documental, teve as primeiras manifestações, ainda que discretas,
com o advento do pensamento humanista do Renascimento. Esse
período, como se sabe, transformou fortemente o modo como o
50
homem enxergava o mundo e tentava entendê-lo [Fig.25 e 26].
Dentro desse novo contexto reflexivo, o autor assinala que,
No Renascimento o desenho ganha cidadania. E se
de um lado é risco, traçado, mediação para expressão
de um plano a realizar, linguagem de uma técnica
construtiva, de outro lado é desígnio, intenção,
propósito, projeto humano no sentido de proposta do
espírito. Um espírito que cria objetos novos e os
introduz na vida real. (ARTIGAS, 2011, p. 112).
As afirmações de Costa (1995) confirmam as impressões do
Figura 25 - Croqui - São Pedro em Roma - Giuliano da Sangallo. Fonte: Desenhos de Arquitetura - Sec. XIII ao XIX. Pág. 44
arquiteto paulista, de Gouveia (1998) e de Perrone (1993), quando
colocam o desenho desse profissional na posição intencional de
expor ideias a serem concretizadas [Fig.27]. Nas palavras do
Arquiteto,
O rabisco não é nada, o risco – o traço – é tudo. O
risco tem carga, é desenho com determinada intenção
– é o “design”. É por isto que os antigos empregavam
a palavra risco no sentido de “projeto”: o “risco para a
capela de São Francisco”, por exemplo. Trêmulo ou
firme, esta carga é o que importa. Portinari costumava
dar como exemplo a assinatura, feita com esforço,
pelo analfabeto (risco), com o simples fingimento de
uma assinatura (rabisco). O arquiteto (pretendendo
ser modesto) não deve jamais empregar a expressão
“rabisco” e sim risco. Risco é desenho não só quando
quer compreender ou significar, mas “fazer”, construir.
(P.242).
Figura 26 - Planta - São Pedro em Roma - Giuliano da Sangallo. Fonte: Desenhos de Arquitetura - Sec. XIII ao XIX. Pág. 45
Esse ato de riscar com intenção projetual talvez encontre nos
51
croquis o seu mais legítimo representante. Esse tipo de desenho,
estudado a fundo por Lapuerta (1997), mas também por diversos
autores, carrega o peso de ser o maior tradutor do momento
mágico, descrito por Lawson (2011), no qual o arquiteto vislumbra
as soluções para as mais diversas situações-problema,
registrando-as por meio desse, segundo Florio (2010),
embrionário, ambíguo e inacabado recurso gráfico [Fig. 27 e 28].
Por outro lado, Piñón (2006, p.142) alerta para o fato de que
apesar de ser o croqui “essencial em arquitetura para definir a
identidade do objeto” ele também pode afastar o projetista do
objeto arquitetônico, na medida em que esse recurso parece
denotar uma visão, nas palavras do autor, “sintética e totalizadora”.
Também na sua visão, o croquis não tem utilidade se não se referir
“a um sistema construtivo concreto e a uma estrutura organizativa
Figura 27 - Croquis de estudo para laboratório de pesquisa em Cambridge CO Architects. Fonte: The Sketch Book. Pág. 155
precisa e consistente”.
As colocações de Piñon (2006) parecem confirmar o que também
já defendia Gouveia (1998). Para a autora, é preciso separar as
habilidades referentes ao desenho daquelas necessárias ao ato
projetual, que tem relação com a realidade construída. Um
estudante, em início de carreira acadêmica, por mais que já tenha
conhecimentos e treinamento para a confecção de peças gráficas,
52
não está ainda capacitado e instrumentado para
desenvolver projeto de arquitetura, o que só se
tornará viável pela integração do desenho com
determinadas características básicas de projetação
arquitetônica. (P.29).
No outro extremo dessa hipótese, o que se observa com maior
frequência são estudantes com algum embasamento teórico sobre
Arquitetura, construção civil e áreas correlatas, mas com poucas
habilidades para expressar suas ideias por via do desenho.
É nesse sentido de uso do desenho que esta dissertação se
insere, ou seja, o desenho como instrumento de reflexão, registro
e apresentação do objeto a ser construído, ainda que em
circunstância de simulação, característica básica da produção em
ateliês acadêmicos de projeto arquitetônico, e também observada
na disciplina Trabalho Final de Graduação, estudo de caso desta
pesquisa.
Figura 28 - Croquis de estudo para laboratório de pesquisa em Cambridge CO Architects. Fonte: The Sketch Book. Pág. 156
Esse capítulo exibirá um panorama geral da representação gráfica
arquitetônica, objetivando primeiramente classificar os principais
tipos de desenho aplicados ao projeto e como, pelas suas
características, se encaixam nessa prática. Para tanto, serão
expressos os seus conceitos geométricos e técnicas gráficas,
cruzando e analisando essas informações com desenhos
produzidos durante o processo de trabalho de alguns arquitetos.
53
Na sequência, serão feitas explanações a respeito dos tipos e
Muitas das questões da representação gráfica aplicada à
técnicas de desenho aplicadas ao projeto que envolvem
Arquitetura passam primordialmente pelo desafio de grafar, em
processos analógicos, digitais e híbridos.
mídias bidimensionais, o espaço tridimensional a ser construído
ou alterado. Isso pode acontecer de duas formas básicas: por
3.1 Os tipos de desenho: projeções ortográficas e
meio das projeções ortogonais ou mediante as perspectivas. É
perspectivas
importante destacar o fato de que essa mídia tanto pode ser
De maneira mais generalista, Massironi (1982, p.33) ressalta
que existem somente dois sistemas de representação gráfica
relativas a um observador. A primeira considera o plano
representado perpendicular ao eixo óptico e a segunda
considera os planos representados inclinados ao eixo óptico.
Com amparo nessa classificação, podemos afirmar que, no
universo do projeto arquitetônico e urbanístico, as plantas, os
cortes e as fachadas são exemplos do primeiro caso,
enquanto as perspectivas se encaixam no segundo.
uma folha de papel na qual se esboça uma perspectiva, quanto
uma tela de computador onde se visualiza um modelo em
ambiente virtual tridimensional. Em ambos os casos, apesar da
ilusão provocada pela perspectiva indicar para objetos de três
dimensões, o anteparo continua bidimensional.
Os sistemas de projeção ortogonal, derivados dos princípios
matemáticos da Geometria plana e da Geometria descritiva,
são os responsáveis por fornecer as bases para a redução das
três dimensões do espaço em desenhos de duas dimensões.
Sabemos que a formação gráfica do arquiteto tem como base
Esse sistema, desenvolvido essencialmente para fins de
a Geometria plana, espacial e descritiva. Dessas Ciências
documentação de projetos, revela características que o fazem
matemáticas derivam os produtos gráficos retrocitados, que
mais ou menos adequado a diversas situações. Em Arquitetura,
são, como nos lembra Zevi (2009), as principais formas
essas projeções ortográficas têm nas plantas, cortes e
usadas pelos arquitetos para representar o espaço e expor
fachadas seus principais exemplos [Fig. 29]. Nas palavras de
suas ideias.
Ching e Juroszek,
54
os desenhos de vistas múltiplas compreendem os
tipos de desenho conhecidos como plantas,
elevações e cortes. Cada um deles é a projeção
ortogonal de um aspecto particular de objetos ou
construções. Estas vistas ortogonais são
abstratas, no sentido de que não coincidem com
a realidade óptica. Constituem uma forma
conceitual de representação, baseada mais no
que conhecemos a respeito de alguma coisa e
menos no que é visto a partir de determinado
ponto no espaço. Não há referência ao
observador ou, se há, os olhos do espectador
estão a uma distância infinitamente afastada.
(2007, p.123).
Zevi (2009) faz destaque semelhante, quando demarca que
esses desenhos nada mais são do que abstrações contendo
símbolos, elementos geométricos e informações alfanuméricas
com propósitos bem definidos, mas incapazes de traduzir na
sua totalidade o espaço real, verdadeiro protagonista da
Arquitetura. Ainda sobre esses pontos, o autor acentua que
[…] quem quer se iniciar no estudo da arquitetura
deve, antes de mais nada, compreender que uma
planta pode ser abstratamente bela no papel;
quatro fachadas podem parecer bem estudadas
pelo equilíbrio dos cheios e dos vazios, dos
relevos e das reentrâncias; o volume total do
conjunto pode mesmo ser proporcionado, e no
entanto o edifício pode resultar arquiteturalmente
pobre. (ZEVI, 2009, p.18).
As colocações de Zevi parecem reduzir o valor desses
produtos gráficos como representantes da essência do espaço
Figura 29 - Estudos de fachadas para Residência no Morumbi
Fonte: Oswald Bratke. A arte de bem projetar e construir. Pág. 47
arquitetônico, embora ele mesmo também admita que “a planta
55
ainda é o único meio com que podemos julgar a estrutura
completa de um obra arquitetônica” (P.30).
Le Corbusier (2011, p.27), embora criticado por Zevi (2009),
confirma em parte suas impressões sobre as plantas ao
mesmo tempo que enaltece seus valores, quando exprime a
ideia de que
[…] a planta está na base. Sem planta, não há
nem grandeza de intenção e de expressão, nem
ritmo, nem volume nem coerência. Sem planta há
essa sensação insuportável ao homem, de
informe, de indigência, de desordem, de
arbitrário. A planta necessita a mais ativa
imaginação. Necessita também a mais severa
disciplina. A planta é a determinação do todo; é o
momento decisivo. Uma planta não é tão bela
para desenhar quanto o rosto de uma Madona; é
uma austera abstração; não passa de uma
algebrização árida ao olhar. De qualquer modo, o
trabalho do matemático permanece uma das mais
altas atividades do espírito humano. (P.27)
Figura 30 - “Oasis" - Planta geral 1957. Fonte: Frank Lloyd Wright Drawings: Masterworks from the Frank Lloyd Wright
Archives. Pág. 155
Hutchison (2012, p.90) destaca outras qualidades inerentes a
esse tipo de desenho. Para o autor a planta é o desenho
fundamental que, se cuidadosamente confeccionado,
consegue transmitir tanto o conceito geral do projeto quanto as
próprias habilidades do projetista. O autor também aponta o
uso das sombras, cores e vegetação [Fig. 30] como elementos
que podem valorizar o desenho e estimular a imaginação do
cliente. Apesar de o autor se referir aos projetos de
56
paisagismo, admitimos que suas colocações se aplicam a
lembrar como é defendido por Piñon (2006), a função final do
outros tipos de projeto.
desenho como tradutor de uma intenção tectônica. Nesse
Ainda sobre as plantas, Ching e Juroszek (2007) também
destacam suas propriedades singulares que possibilitam a
leitura de edifícios de uma maneira impossível de acontecer
no mundo real, uma vez que podem mostrar o resultado de
um prédio cortado paralelamente ao plano do seu piso ou
sentido, pode-se destacar a importância dos desenhos
resultantes de secções, em especial, os cortes que, pelas suas
características, são capazes de explicitar problemas e também
apontar soluções técnico-construtivas, como também acredita
Hutchison (2012).
mesmo apresentarem a sua inserção em um lote. No mundo
Embora os autores enfatizem as limitações desses elementos
real, talvez uma visão aérea de um edifício, durante sua
gráficos em denotarem somente duas dimensões de cada vez,
obra, poderia se assemelhar ao que uma planta baixa é
fica claro que cada tipo de desenho se adequa a finalidades
capaz de mostrar, enquanto a mesma vista aérea do prédio
bem distintas como também acreditam Fraser e Henmi (1994,
finalizado se assemelharia a uma planta de locação. Além da
p.26).
evidente dificuldade de conseguir essas vistas, elas também
não teriam a principal propriedade das plantas, ou seja, não
seriam projeções bidimensionais, mas sim perspectivas.
As colocações dos autores supracitados, com exceção de
Hutchison (2012), certamente não levaram em consideração as
possibilidades de representação que os instrumentos
Os autores também observam as potencialidades dos cortes
eletrônicos trouxeram a partir da década de 1990,
como desenhos capazes de dissecar as nuanças
especialmente no que se refere às modelagens tridimensionais
construtivas de um edifício, assim como as fachadas como
em ambiente virtual. Elas, em especial as modelagens
reveladoras dos aspectos formais e textuais dos seus
paramétricas, possibilitam a geração automática de plantas,
acabamentos e esquadrias; em ambos os casos, também de
cortes e fachadas a partir da construção virtual dos edifícios,
maneiras impossíveis de acontecer no mundo real. Aqui vale
embora se observe a maior incidência desse recurso nas fases
57
de produção das pranchas técnicas para obra (documentação
do projeto). As facilidades das ferramentas digitais também
possibilitam a geração rápida de algumas variações desses
desenhos, como, por exemplo, as plantas e cortes em
perspectiva mostradas nas Figuras 31 e 32. Vale anotar que
esses tipos de representação não são produtos da era
Figura 31 - Corte em perspectiva confeccionado no SketchUp. Projeto e
desenho: Marcos Bandeira
Fonte: Acervo do Autor
informatizada da representação gráfica arquitetônica. Elas já
faziam parte do elenco de peças gráficas de muitos escritórios
antes mesm o d o s u r g i m e n t o d e q u a l q u e r r e c u r s o
computacional, como mostra a Figura 33.
Apesar disso, seja sob a forma de croquis de estudo ou de
desenhos mais precisos, as plantas, os cortes e as elevações,
persistem como legítimos tradutores do espaço e parecem
continuar como os preferidos dos agentes envolvidos nas
ações de reflexão e desenvolvimento do projeto de Arquitetura.
Fraser e Henmi (1994, p.25-26) dão uma pista das razões que
levam a essa preferência. Eles assinalam que os desenhos em
projeção ortográfica são mais fáceis de gerar, quando
comparados, por exemplo, às perspectivas cônicas ou às
Figura 32 - "Plantas" em perspectiva confeccionado no SketchUp.
Projeto e desenho: Marcos Bandeira.
Fonte: Acervo do Autor
axonométricas. Ainda segundo os autores, na medida que esse
tipo de representação sempre isola uma das três dimensões
59
Figura 35 - Estudo de Frank Lloyd Wright para o pavimento superior da
Residência Goto Shimpei Fonte: Frank Lloyd Wright Drawings: Masterworks
from the Frank Lloyd Wright Archives. Pag. 29
Figura 36 - Estudo de Frank Lloyd Wright para o pavimento térreo da
Residência Goto Shimpei. Fonte: Frank Lloyd Wright Drawings: Masterworks
from the Frank Lloyd Wright Archives. Pág. 29
de forma a enriquecer o conjunto gráfico ou a destacar algum
elemento construtivo, como pode ser visto, por exemplo, no
auxiliares, que tanto poderiam servir ao processo gráfico
contorno da coberta na Figura 36.
como à reflexão projetual.
As plantas também mostram elementos que parecem pertencer
Se, mesmo nos dias atuais, o uso das representações em
às fases de análise, síntese e avaliação do projeto, já
projeções horizontal e vertical parecem ser bastante
comentados no Capítulo 2. Os textos, algumas vezes, apontam
frequentes durante os estudos de um projeto, o mesmo
para o elemento gráfico principal e às vezes o margeiam. É
não se pode afirmar em relação às projeções
possível enxergar linhas sobrepostas, linhas-guias e malhas
axonométricas e às perspectivas. Ching e Juroszek (1999)
60
classificam as projeções ortogonais, nomeando-as como de
confecção, um lugar intermediário nos desenhos de projeção
“múltipla visão”, das projeções axonométricas que são
ortográfica e perspectivas cônicas. Ao mesmo tempo em que
representações gráficas de “única visão”.
conseguem preservar alguns aspectos técnicos e escalas
aplicadas a determinados desenhos, elas também possuem a
Essa classificação, apesar de simplória em sua nomenclatura,
capacidade de representar objetos com a ilusão das três
revela aspectos importantes desses tipos de representação. As
dimensões.
plantas, cortes e fachadas, apesar de serem capazes de
mostrar múltiplas visões de um mesmo objeto, só revelarão a
Para a confecção dessas perspectivas, como observam Ching
sua totalidade se lidas em conjunto, ao passo que as
e Juroszek (2007, p.185), as plantas, cortes e fachadas podem,
perspectivas isométricas, dimétricas e trimétricas podem
por exemplo, ser desenhadas com as mesmas características
descrever um edifício de forma bem mais independente e mais
gráficas e escalas e, com origem nelas, perspectivas cavaleiras
descritiva, como confirmam Fraser e Henmi (1994) quando
podem ser confeccionadas bastando que linhas paralelas
assinalam que
sejam traçadas dando a ilusão de profundidade. Esse tipo de
representação era relativamente fácil de ser feita e observa-se
[…] an orthographic drawing can describe
horizontal relationships (the plan) or vertical
relationships (elevation end sections), but none
shows horizontal and vertical conditions.
Orthogonal projections of plans, sections, or
elevations reveal three dimensions in
combination, but their constructions require a
viewer to meld two or more drawings together in
the mind in order to grasp completely the threed i m e n s i o n a l c o m p l e x i t i e s . H o w e v e r, t h e
axonometric depicts length and width in
relationship to height in a single drawing while
retaining the constructional convenience of
parallel drawings. (P.46)
As axonométricas talvez ocupem, em termos de dificuldade de
que, antes do advento dos programas de modelagem
tridimensional, apareciam como boa alternativa para
apresentação de projetos. Nas palavras dos autores,
Por causa de sua natureza pictórica e da
facilidade de construção, vistas de linhas
paralelas são apropriadas para visualizar uma
ideia em três dimensões, no início do processo de
projetação. São capazes de fundir plantas,
elevações e cortes e ilustrar padrões e
composições do espaço tridimensional. Podem
ser cortadas ou se tornar transparentes, para que
se veja seu interior, através de suas partes, ou
ser expandidas, para ilustrar relações espaciais
61
entre as partes do todo. Podem até servir como
substitutivo razoável das vistas de pássaro. (CHING e
JUROSZEK, 2007, p. 173).
Os exemplos mostrados nas Figuras 37 e 38, aplicados
respectivamente aos projetos de Mario Botta e Tadao Ando,
ilustram tanto a relativa facilidade de confecção das perspectiva
como também sua capacidade didática. Enquanto a primeira
representa um edifício a partir de uma posição abaixo do solo, a
segunda é capaz de mostrar o encaixe das várias camadas do
prédio ao longo de uma encosta.
É interessante observar a força que esse tipo de representação
ainda tem hoje, mesmo com o uso dos expedientes
computacionais. Programas de modelagem tridimensional, como
o AutoCAD e o Sketchup, apesar de estarem pré-configurados
Figura 37 - Axonométricas para uma residência em Stabio, Suíça.
Fonte: Mario Botta - Architecture 1960-1985, pág 206
para representarem as perspectivas em projeção cônica,
possuem opções de apresentar os modelos em perspectivas de
projeção paralela. No primeiro, essa opção é chamada de
Isometric View e, no segundo, de Parallel Projection.
Se as perspectivas de projeção paralela possuem esse caráter
mais didático e relativa facilidade de confecção, a perspectiva de
projeção cônica, criação renascentista, é a que, em meio
bidimensional, consegue se aproximar ao máximo da realidade
62
observada pelo homem e a de maior complexidade gráfica. Fraser e
Henmi (1994, p.59) destacam essas características quando
assinalam que, enquanto as primeiras são orientadas ao objeto, a
segunda é subordinada ao observador, ou seja, seu resultado gráfico
depende da simulação de um ponto de visada.
Os autores também destacam o fato de que, em razão das suas
propriedades gráficas, capazes de simular a sensação de “estar no
local”, esses desenhos são muito usados para a apresentação a
terceiros. Os autores também citam o exemplo do escritório de Frank
L. Wright [Fig. 39] que dava outra função a esse tipo de
representação. Nas palavras dos autores,
[…] the office of Frank Lloyd Wright used perspective
drawings as a key element of their working methods
because of its capability to depict an immediate sense of
viewing from a specific spot. They rarely used threedimensional models, instead preferring to use twodimensional model of plan, section end elevation
supplemented by the spatiality of the perspective.
Carefully choosing views and drawings angles to analyze
critical aspects of their designs, they selected a variety of
viewpoints to focus on issues such as mass, encloses
spaces, relationships of elements or placement in the
land. (FRASER e HENMI, 1994, p.63).
Esse relato parece também traduzir o pensamento adotado pelo
arquiteto Oswlad Bratke quando do uso das perspectivas como
Figura 38 - Axonométrica da residência Rokko. Fonte: Tadao Ando: complete works, pág. 135
recurso de estudo e de tomada de decisões dos seus projetos.
Segawa e Dourado (2012), ao mesmo tempo que ressaltam as
63
peculiaridades da formação do Arquiteto paulista ligadas ao
desenho e à arte, destaca suas habilidades na confecção das
perspectivas de seus projetos. O autor frisa que o uso delas, a
exemplo do que também faz o Arquiteto ianque, não se
limitava à apresentação para clientes, como pode ser
percebido pelo seu relato.
Figura 39 - Estudo de Frank Lloyd Wright em perspectiva para a Residência H. J.
Hullman Fonte: Frank Lloyd Wright Drawings: Masterworks from the Frank Lloyd
Wright Archives. Pág. 16
As perspectivas não vão ser empregadas por
Bratke simplesmente como ferramenta didática
voltada aos clientes. Tampouco vão ser
consideradas como dos mais significativos
instrumentos de vendas de projetos, como fazem
freqüentemente os empreendedores imobiliários
de hoje, ao encomendar artimanhas gráficas que
iludem, sugerem deliberadamente distorções,
expondo aos leigos imagens de edifícios, cuja
especialidade é completamente diferente daquele
que, na realidade, vão adquirir. A partir desse
período, tornam-se recursos de estudo tão
importantes em seu trabalho quanto os demais
desenhos baseados em projeções ortogonais que
compõem o planejamento arquitetônico. Na etapa
preliminar de elaboração projetual, Bratke utiliza
em regra uma série de perspectivas enquanto
expediente fundamental para aferir e depurar a
arquitetura que está sendo estudada, adotando
como livro de cabaceira o Nuevo Trazado de
perspectiva para arquitectos, de Reile. (P. 299)
A habilidade artística de Bratke, aliada à preocupação do uso
do desenho como instrumento de estudo, podem ser
sintetizadas nas perspectivas mostradas na Figura 41. A arteFigura 40 - Perspectiva da residência de Oswald Bratke - 1951. Fonte: Oswald Bratke. A arte de bem projetar e construir. Pág. 47
final refinada aparece em duas imagens que podiam ser
perfeitamente usadas como desenhos de apresentação, mas
64
são descritas, também por Segawa e Dourado (2012, p.109)
como “estudos de composição da face frontal”.
É certo que esses dois exemplos são exceções à regra,
quando se trata da aplicação das perspectivas cônicas nos
projetos de Arquitetura, mas eles são também reveladores de
como os vários tipos de desenhos podem ser usados para
diversas finalidades, mesmo que suas peculiaridades gráficas
sejam mais ou menos adequadas a determinadas situações.
Essa gama de possibilidade se mostra ainda mais diversa com
as ferramentas da computação gráfica aplicada.
Para Hutchison (2012), o uso dos recursos digitais para a
confecção das perspectivas tornou-se, pelas evidentes
facilidades, o método-padrão. Se parece inegável que a
produção desse tipo de desenho, principalmente para a
apresentação de projetos, ganhou novas possibilidades com as
Figura 41 - Perspectivas de estudo para residência no Morumbi. Fonte: Oswald Bratke. A arte de bem projetar e construir. Pág. 109
ferramentas computacionais, o uso delas, de forma analógica,
para estudos e concepção de projetos, ainda é pertinente.
Segundo o autor, a confecção manual de perspectivas traz
mais benefícios ao processo quando comparada aos métodos
eletrônicos [Fig. 42]. De acordo com seu pensamento,
65
[…] as vantagens da capacidade de se
produzir uma perspectiva à mão livre não
deveriam ser subestimadas. A dinâmica
intelectual de assistir a uma ideia surgir
rapidamente em três dimensões e em vistas
realistas costuma ser uma forma rápida de se
compreender o conceito de um projeto em sua
fase inicial, quando suas bases, ainda em
formação, são frágeis e podem ser mal
interpretadas. (HUTCHISON, 2012, p.118).
No meio acadêmico, observa-se alguma rejeição dos
discentes ao desenho das perspectivas de forma analógica.
As dificuldades de confecção e, é claro, o fácil acesso aos
recursos computacionais, causam esse afastamento. Apesar
disso, o levantamento de dados desta pesquisa revelou que
as perspectivas, mesmo que tecnicamente mal
Figura 42 - Perspectiva de estudo para o MASP.
Fonte: Lina Bo Bardi: sutis substâncias da arquitetura, pág. 280
confeccionadas, são o segundo tipo de desenho mais usado
nos trabalhos avaliados perdendo somente para as plantas.
Chama a atenção o fato de que Lapuerta (1997, p.38) tenha
feito a mesma constatação na pesquisa para seu livro. Os
detalhes dos dados obtidos para esta dissertação serão
abordados mais a frente, no Capítulo 5.
3.2 As técnicas: a analógica, a digital e a híbrida
Com o advento das ferramentas digitais, na década de 1990,
houve a primeira quebra de paradigma referente aos modos
de produção gráfica dentro da criação e desenvolvimento de
66
projetos arquitetônicos. Esse rompimento aconteceu de forma
seriam transformados em plantas, cortes, elevações e
gradual e, embora tenha ocorrido uma troca mais visível nos
perspectivas exatas.
instrumentos utilizados, essa substituição não foi tão evidente
quando observados as técnicas de desenho e os processos de
Sob o ponto de vista gráfico, as técnicas de desenho não
concepção de projetos.
diferiam muito das usadas em prancheta. Após a confecção
das plantas, eram produzidos os cortes e as fachadas pelo
Sobre isso, Cardoso (2005, p.108) propõe a existência de três
fases. A primeira é caracterizada pela manutenção das
tecnologias tradicionais e do uso das ferramentas CAD
(Computer Aided Design) como instrumento de desenho, mas,
mesmo sistema de projeção e marcação de pontos por linhas
de chamada, técnica proveniente da Geometria descritiva, e
detalhadas por diversos tratados de desenho arquitetônico,
dentre eles, os de Montenegro (1995) e Yee (2009).
basicamente, como substituto das pranchetas. No primeiro
momento observamos que, malgrado as evidentes vantagens
Durante a confecção das peças gráficas nos sistemas CAD,
que os sistemas de desenho digital vetorial ofereciam, não
tentava-se deixar o desenho impresso com as mesmas
houve mudanças tão visíveis em algumas fases do processo
características essenciais do seu equivalente feito a caneta
de projeto, notadamente no momento da concepção.
nanquim e em papel vegetal. Alguns recursos possibilitavam,
inclusive, que os encontros de segmentos de reta tivessem o
Os estudos iniciais continuavam, como confirma Arantes
trespasso característico do desenho de Arquitetura.
(2012), nas mãos de um arquiteto ou de uma pequena equipe
que, normalmente, por via de croquis ou de maquetes, cuidava
A primeira fase, como também lembra Arantes (2012), não
da solução do problema arquitetônico e dava as diretrizes
explorava os instrumentos digitais no processo de reflexão do
gerais do projeto. Depois desse momento caberia aos
projeto, mas somente como prancheta digital. A principal
desenhistas, estagiários e/ou técnicos, então por via dos
finalidade era a produção dos desenhos técnico-arquitetônicos.
computadores, o refinamento dos desenhos de estudo que
Os estudos por meio de croquis, normalmente, feitos pelo
67
principal responsável pelo projeto, eram o principal meio de
investigação, cabendo aos sistemas digitais somente o refino
gráfico do que se decidia em prancheta. A figura 43 mostra um
exemplo de montagem de cortes e fachadas por um sistema
CAD. O posicionamento dos desenhos para a marcação de
pontos, mesmo que em um ambiente virtual, é similar ao
adotado nos processos analógicos e a técnica gráfica é
praticamente a mesma derivada da Geometria de Gaspar
Monge.
Voltando a Cardoso (2005), na segunda fase desse
amadurecimento, já se perceberia a influência dos
instrumentos digitais (modelagem tridimensional e simulações)
nas decisões de projeto. Essa interferência se deu inicialmente
com ênfase nas questões formais, mas evoluiu para outros
parâmetros, na medida em que as próprias ferramentas se
desenvolviam. O uso dos recursos de modelagem
tridimensional virtual possibilitaram que os edifícios fossem
apreendidos em sua totalidade e não somente como uma
projeção (ortogonal ou perspectiva) de algumas de suas faces
em mídia bidimensional.
Figura 43 - Cortes e Fachadas desenhadas em software CAD. Autoria
do projeto e do desenho: Marcos Bandeira
Fonte: Acervo do Autor
Apesar disso, algumas técnicas do desenho analógico se
69
algumas semelhanças com a maneira como as perspectivas
eram montadas antes do surgimento dos sistemas 3D. Sabe-se
que, na impossibilidade de desenhar muitos detalhes usando
instrumentos analógicos, o perspectivista usava os elementos
básicos da Geometria (ponto, linha, planos e volumes) para
passar a mensagem desejada, valendo-se, mesmo que de
forma intuitiva, de processos ligados muito mais à percepção,
Figura 46 - Perspectiva para reforma de casa de campo - Autoria do projeto e do
desenho: Marcos Bandeira. Fonte: Acervo do Autor
como bem detalha Arnheim (1998), do que a simples
observação. Dessa forma, uma sequência de linhas paralelas
poderia ser lida como um revestimento, enquanto a textura do
lápis de cor na superfície do papel poderia ser interpretada
como, por exemplo, a rugosidade de uma pedra. Na Figura 46
pode-se ver uma perspectiva arte-finalizada à mão. A leitura
dessa imagem como um todo não reflete o que está realmente
registrado no papel, assim como, na imagem digital [Fig. 45], o
resultado final não traduz o que realmente foi modelado.
O mesmo pode ser observado nos desenhos técnicos.
Conquanto as novas possibilidades e a elevada precisão dos
programas, os desenhos continuavam sendo feitos no nível
dos símbolos. As portas, por exemplo, continuavam sendo
representadas por um arco e um retângulo, mesmo que o
70
sistema CAD permitisse a representação de forramentos,
concepção do projeto. O uso desses instrumentos, na maioria
alizares, dobradiças, soleiras etc. Os detalhes, quando
dos casos, limitou-se à representação gráfica para fins de
desenhados, adotavam a mesma técnica da prancheta, ou
apresentação e/ou de documentação. Acreditamos que a
seja, a ampliação do desenho era feita separadamente e
ausência de disciplinas específicas sobre esses assuntos,
referenciada no desenho principal.
como será visto no Capítulo 4, além das práticas adotadas
nos estágios (vale lembrar que grande parte dos escritórios,
A terceira fase caracterizava-se, ainda segundo Cardoso
em Fortaleza, ainda não adotou sistemas BIM ou processos
(2005), pela acentuada participação das técnicas de simulação
de projeto assistido por computador) sejam razões para que
que agora chegariam a induzir e/ou a viabilizar decisões
isso aconteça.
projetuais. É interessante lembrar que a maior participação dos
sistemas eletrônicos descentralizou a responsabilidade da
Tomando como base a classificação de Cardoso (2005) e o
reflexão e das decisões finais do projeto, embora, como
que foi exposto até aqui, cremos que hoje se configure a
também nos recorda Arantes (2012), ainda existisse uma
quarta fase da inserção das ferramentas digitais. Nela,
hierarquia bem definida nesse processo, cabendo aos líderes
notamos um cenário por demais diverso sob o ponto de vista
do projeto as principais diretrizes.
do ato projetual e da representação gráfica aplicada, na qual
Vale registrar, ainda, o fato de que, apesar de hoje observar-se
a convergência para o uso dos sistemas que usam modelagem
parametrizada e também da grande presença de várias
ferramentas digitais, as técnicas da “prancheta digital” ainda
é permitido a estudantes, professores e profissionais da área
escolher entre várias opções de instrumentos e técnicas,
tanto digitais quanto analógicas, para subsidiar tanto as
decisões projetuais quanto a sua representação.
são bastante usadas. No material coletado para esta
Como já comentado, o advento da tecnologia BIM, as
dissertação, observamos poucos trabalhos que usaram
impressoras 3D e os novos recursos de realidade aumentada
programas BIM ou sistemas computacionais para auxiliar a
são alguns exemplos das mais recentes atrações entre as
71
ferramentas capazes de subsidiar o processo de projeto.
abrigam o tradicional dentro do digital. Dentre seus vários
Apesar da grande quantidade de opções e recursos
recursos e aplicativos, observamos, em diversos exemplos, a
tecnológicos nenhum deles foi capaz de extinguir algumas
volta do gesto manual tanto para a caligrafia quanto para o
tecnologias analógicas, nem parece haver indicação de que
desenho à mão livre. Aplicativos como, por exemplo, o
isso ocorra. Observa-se a manutenção de técnicas tradicionais
Notability e o Notes, estimulam que as anotações utilizem o
ou até mesmo o resgate de alguns procedimentos anteriores à
desenho [Fig. 47] e a escrita manual. Vários outros programas,
informatização da Arquitetura.
mesmo que sem relação com desenho ou escrita, se valem,
para seu funcionamento, das ações com o dedo em suas
Righi e Celani (2011) alertam para os perigos que o uso
exclusivo das ferramentas computacionais podem causar,
principalmente aos estudantes. Na opinião dos autores,
As ferramentas digitais utilizadas atualmente não
devem competir com os meios tradicionais, mas
unir-se a ele para uma integração entre
tecnologias digitais e analógicas. São muitos os
usos dessas ferramentas no processo criativo, e
a exploração formal possibilitada por
digitalizadores 3D, máquinas de prototipagem
rápida e impressoras a laser, por exemplo,
estimula os alunos a buscar inovações.
Entretanto, repete-se que, mesmo diante de
tantas possibilidades tecnológicas, muitos
estudantes e arquitetos sentem necessidade e
utilizam meios tradicionais como os croquis
manuais. (P.489)
interfaces, fazendo com que o usuário “desenhe" na tela, nem
que sejam elementos simplórios como arcos, segmentos de
retas, círculos e outros.
Na área gráfica, as telas sensíveis ao toque (tablets LCD),
associadas às canetas stylus, possibilitaram o desenvolvimento
de aplicativos que permitem ao usuário desenhar à mão livre e
pintar de forma bastante natural. Alguns modelos de canetas
para esses dispositivos possuem, inclusive, sensibilidade à
pressão. Tanto as ferramentas contidas nos aplicativos quanto
os equipamentos e acessórios procuram aproximar o usuário o
Sobre isso, é interessante observar, por exemplo, a grande
máximo possível da experiência vivida nas mídias analógicas.
evolução dos equipamentos sensíveis ao toque,
O Procreate [Fig. 48], da Savage Interactive, e o SketchBook
principalmente os aparelhos celulares e tablets e como eles
Pro, da Autodesk, são bons exemplos disso.
72
Figura 47 - Interface do Notability com "croquis digitais". Fonte: Acervo do Autor
A Adobe, por exemplo, oferece um pacote completo de
aplicativos de criação para tablets e aparelhos celulares
(Adobe Illustrator Line, Adobe Ideas, Adobe Shape, Adobe
Figura 48 - Interface do Procreate com "croquis digitais". Projeto e desenho:
Marcos Bandeira. Fonte: Acervo do Autor
francesa além de “gabaritos" de polígonos e elipses. Além
disso, as canetas, lápis e marcadores digitais tentam simular
os atributos gráficos de seus equivalentes físicos.
Brush e Adobe Sketch), todos eles pensados para o desenho
à mão livre. Nesse grupo, merece destaque especial o Adobe
Esse fenômeno não acontece somente nos tablets. A versão
Illustrator Line. Esse pequeno aplicativo possui recursos
para computador do Sketchbook Pro, por exemplo, também
tanto de desenho à mão livre quanto de desenho
possui os mesmos tipos de recursos (réguas, curvas francesas
instrumentado [Fig. 49]. Entre as suas ferramentas podem
e gabaritos), embora fique evidente que a interface dos
ser encontrados os equivalentes à régua paralela, à curva
dispositivos móveis seja mais convidativa para esse tipo de
73
aplicação. No casos dos desktops e laptops, quase sempre
será necessário o uso de acessórios, como as mesas
gráficas (tablets opacos) [Fig. 50]. Vale ressaltar que também
já é possível observar uma convergência para a
transformação das telas desses computadores em telas
sensíveis ao toque, o que, mais uma vez, estimularia o gesto
manual como recurso de interação com esses
equipamentos.
Pelo exposto, notamos uma explícita reprodução, em meio
digital, de instrumentos e técnicas usadas em meio
analógico. O que talvez fique mais evidente nesses
exemplos é a integração entre a ação analógica e o meio
Figura 49 - Interface do Adobe Line com "croquis digitais” e “régua paralela". Fonte:
Acervo do Autor
digital. Dessa forma, nas mãos de um profissional ou de um
estudante sem qualquer tipo de conhecimento e treinamento
em desenho (principalmente à mão livre), tais recursos
seriam, no mínimo, subutilizados. É importante exprimir que
existe a equivocada associação entre o desenho manual e o
uso de papel e lápis. Tanto o gesto manual em um tablet
LCD, quanto um esboço feito com uma varinha na areia
molhada são ações analógicas que requerem um mínimo de
coordenação e habilidades. É notório, porém, que em ambos
Figura 50 - Tablet opaca da Wacom. Fonte: Acervo do Autor
os casos os instrumentos são coadjuvantes, enquanto a
74
capacidade de confeccionar desenhos é a atriz principal. A mistura entre ações analógicas e digitais enseja, segundo
alguns autores, entre eles Perrone, Lima e Florio (2006) e
Souza (2009), o que se denomina desenho híbrido. Esse tipo
de técnica adota, em algum momento do processo, algum
procedimento tradicional associado a recursos computacionais.
Ela mostra-se muito útil para suprir a ausência de algumas
Figura 51 - Perspectiva feita a partir de base volumétrica do SketchUp. Autor:
Marcos Bandeira
Fonte: Acervo do Autor
habilidades e/ou para minimizar trabalho. É bastante comum,
por exemplo, o uso de desenhos digitais [Fig. 51 e 52] como
base para estudos à mão livre ou a digitalização de desenhos
manuais para arte-finalização digital [Fig. 53].
Se, pelo exposto até aqui, parece certo que o desenho manual
sobrevive mesmo diante dos recursos digitais, o mesmo não se
pode afirmar em relação a algumas técnicas associadas ao
desenho analógico. É cada vez mais raro, por exemplo, e
Hutchison (2012) sugere o mesmo, que as práticas de
montagem de perspectivas por técnicas consagradas (Método
Mongeano, Pontos Medidores etc) cada vez mais perdem
Figura 52 - Perspectiva feita a partir de base volumétrica do SketchUp. Autor:
Marcos Bandeira
Fonte: Acervo do Autor
espaço para as modelagens em ambiente 3D virtuais. Noutro
exemplo, percebemos que o uso da modelagem parametrizada
tende a cada vez mais diminuir a utilização das técnicas
75
tradicionais de confecção de cortes e fachadas.
Leggitt (2004), que além, de arquiteto, é exímio desenhista,
mostra possíveis aplicações da técnica híbrida apontando
programas de desenho digital (principalmente AutoCAD e
SketchUp) como recursos de apoio à confecção dos desenhos
à mão livre. O autor indica, por meio dos instrumentos
eletrônicos, atalhos que minimizam e automatizam tarefas
repetitivas e/ou de solução geométrica difícil, além de conferir
Figura 53 - Perspectiva à nanquim colorida no computador. Projeto: Napoleão
Ferreira e Marcos Bandeira - Perspectiva: Marcos Bandeira
Fonte: Acervo do Autor
mais liberdade para edições e uso de cores, texturas e
sombras [Fig. 51, 52 e 53].
Em decorrência do que foi expresso até aqui, podemos
visualizar um panorama que, embora ainda mal definido, traz a
pluralidade de ferramentas e técnicas como sua grande
atração. Nele, arquitetos e estudantes podem explorar tanto os
recursos digitais quanto os analógicos no que cada um deles
tem de mais adequado a cada necessidade. Embora se
observe uma evidente tendência à rejeição das técnicas mais
tradicionais, também é notória a sua permanência e não
somente por teimosia e/ou resistência de alguns profissionais,
mas sim por elas possuírem qualidades e características que
as tornam singulares na execução de certas tarefas.
76
3.3 As finalidades: o desenho de concepção e de
apresentação
tarefa simples ou talvez até mesmo seria incorreto como
parece sugerir Florio (2010). Nos dizeres do autor,
[…] em arquitetura, esboços, desenhos técnicos,
maquetes físicas e modelos digitais podem servir
a diferentes funções cognitivas em cada fase de
projeto. Portanto, se os meios de representações
podem contribuir ou impedir processos cognitivos,
a estratégia de uso e sua alternância em cada
etapa do projeto são fundamentais, pois um
sistema de representação usado em momento
inadequado impedirá o sucesso do processo
criativo.( P. 374).
De acordo com o exposto até aqui, podemos concluir que os
processos de projetação, dentro do âmbito da Arquitetura e
Urbanismo, estão longe de atingir algum grau de
padronização e/ou de unanimidade entre os seus agentes.
De forma geral, o mesmo se pode asserir em relação à
representação gráfica aplicada durante esses processos.
Dentro de toda essa diversidade, entretanto, pode-se identificar
Para esta dissertação, como já detalhado, foi reconhecida, de
e classificar os registros gráficos quanto à sua finalidade.
maneira generalista e simplificada, a existência de três
Dessa forma, serão avaliadas algumas classificações
momentos (ou fases) que abraçariam as diversas etapas do
sugeridas por alguns autores, tentando identificar quais seriam
processo de projeto: os momentos da concepção, da
aquelas que melhor se enquadrariam na investigação proposta
apresentação e da documentação. Enquanto o primeiro
por esta dissertação.
tende a ser solitário, embora possa acontecer em grupo, os
demais sempre teriam a participação de outros agentes.
Quanto à sua finalidade, Frasier e Henmi (1994) assinalam que
os registros gráficos na Arquitetura podem basicamente ser
Percebemos, também, pelo já exposto, que a coleção de
classificados em: Desenhos de Referência (Referential
tipos de desenhos e suas técnicas pode ser aplicada das
Drawings); Diagramas (Diagrams); Desenhos de Estudo
mais diversas formas e que, embora possamos tentar sugerir
(Design Drawings); Desenhos de Apresentação (Presentation
que algum tipo de desenho (ou técnica) seja mais ou menos
Drawings) e Desenhos Visionários (Visionary Drawings).
adequado a algumas das fases supracitadas, isso não é
No âmbito do universo que esta pesquisa se propôs investigar,
77
será adotada a sugestão de Perrone (1993) que parece se
Finalidade Comunicativa, Desenhos de Finalidade Cognitiva e
adequar às fases propostas por nós, além de possuir algumas
Desenhos de Finalidade Prospectiva. Este último também não
interseções com o que sugerem Frasier e Henmi (1994). O
entra no elenco de preocupações deste ensaio.
autor classifica o desenho de Arquitetura em duas
características principais – o desenho Representativo/
Sugestivo e o desenho Descritivo/Operativo.
Perrone (1993), Fraser e Henmi (1994), além de Ching (1990),
parecem ter pontos em comum em algumas das classificações
propostas. O desenho [Fig. 54] cuja principal finalidade é a
O primeiro englobaria aqueles registros gráficos que têm a
especulação, a investigação, ou seja, a procura e o teste de
intenção de subsidiar a reflexão e a apresentação de ideias.
ideias, é identificado e categorizado pelos autores, embora
Essa classificação se encaixaria bem nas fases de concepção
com nomes diferentes. Enquadram-se aqui os Desenhos de
e apresentação, propostas anteriormente. No outro grupo, se
Estudo Gnosiológico/Metodológico do primeiro autor, cuja
enquadraria o que essa pesquisa sugeriu chamar de fase de
definição tem vários pontos em comum com os Desenhos de
documentação. Os desenhos descritivos/operativos teriam
Estudo (Design Drawings) do segundo. Já Ching (1990)
como função principal registrar e indicar as informações
observa esse tipo de intenção no que ele chama de Desenhos
necessárias à materialização do objeto arquitetônico e/ou
de Especulação, expressão também adotada mais tarde por
urbanístico. Como é perceptível, o segundo tipo estaria fora do
Perrone (2008) e evidenciada no seu estudo de caso sobre um
escopo desta dissertação.
projeto acadêmico liderado pelo arquiteto Luis Telles.
Ainda segundo o autor, dentro do grupo de desenhos com
Dentro do conjunto de Desenhos de Finalidade Comunicativa,
função Representativa/Sugestiva (foco desse trabalho),
Perrone (1993) detalha que existiriam três subcategorias –
podem-se ainda encontrar, de acordo com suas características,
elas: os Desenhos de Apresentação, os Desenhos de
funções e finalidades, os seguintes tipos de desenhos:
Memoriais ou Explicativos e os Desenhos para Venda. Nesta
Desenhos de Estudo Gnosiológico/Metodológico, Desenhos de
dissertação, não serão abordados detalhes sobre os dois
78
últimos. A respeito do primeiro, o autor exprime que
[…] os desenhos de apresentação são
executados para expor um projeto, para mostrar
sua concepção. Destinam-se a indicar aos
empreendedores, aos clientes ou, no caso dos
concursos, aos jurados, as características
principais de um projeto, descrevendo-o através
de plantas, cortes e elevações, e ilustrando-o
através de perspectivas ou desenhos de
fachadas. (PERRONE, 1993, p.30).
Lapuerta (1997) oferece outra visão sobre o que é um desenho
de apresentação. Para ele, todo registro gráfico que participe
de um diálogo pode ser considerado pertencente a essa
categoria já que, como é óbvio perceber, no diálogo, alguém
troca ideias com outra pessoa e, se isso ocorre com o uso de
desenhos, estes seriam apresentados.
Apesar disso, a definição de Perrone (1993) parece se
enquadrar melhor nas práticas observadas nos escritórios e no
meio acadêmico, além de encontrar abrigo no que também
defendem Frasier e Henmi (1994). Aqui vale observar que,
especificamente entre os estudantes, é percebido algum pudor
Figura 54 - Croquis de estudo para laboratório de pesquisa em Cambridge - CO
Architects. Fonte: The Sketch Book. Pág. 158
na exposição dos desenhos considerados, por eles, como de
estudo. É recorrente, durante as orientações em ateliê de
projeto e nos TFGs, o fato de que os alunos relutem em
mostrar a produção de croquis e, quando o fazem, muitas
79
vezes a “apresentação” é precedida por algum pedido de
simplesmente por elementos geométricos básicos como
desculpas pela aparência tosca dos desenhos e/ou escassez
círculos, quadriláteros, setas e riscos, além de textos. Sua
de informações. Os números e detalhes que serão mostrados
função primordial é investigar aspectos funcionais, relação
no Capítulo 5 reforçam essa impressão, assim como a
entre espaços e circulações. O que parece ponto comum para
colocação de Perrone (2008) quando o autor diz que
os autores citados é que os Diagramas são desenhos que se
[…] os estudantes iniciantes sentem-se incapazes
de executar, por meio de seus incipientes
desenhos, tão cristalinos croquis. A iniciativa de
qualquer traço fica limitada à espera da
visualização de uma bem delineada forma. A
arquitetura torna-se restrita a perfis, sem
materiais, texturas ou sombras. O desenho perde
seu caráter investigativo e tenta enquadrar-se
num estilo limpo que pouco auxilia nos caminhos
da elaboração de um projeto, muito menos incita
o estudante a desenvolver sua capacidade e
linguagem. (P.45).
Dentro dos desenhos cuja finalidade principal é o estudo,
destacam-se os Diagramas, tipo de desenho detalhado e
discutido por Frasier e Henmi (1994), Ching (1990) e Perrone
(2008). O caráter reducionista e objetivo, além dos elementos
gráficos mais "enxutos" e abstratos, parecem ser algumas
características identificadas em comum pelos autores
apresentam bastante adequados para as ações especulativas
do processo de projeto, especialmente nos momentos iniciais
(análise e síntese).
Apesar disso, de forma geral parece certo que não há como
indicar a exata finalidade na qual um determinado tipo/técnica
de desenho se enquadraria. Qualquer tipo de desenho
(diagramas, plantas, cortes, elevações, perspectivas)
produzido por qualquer instrumento ou técnica (analógica,
digital ou híbrida) pode ser um legítimo representante tanto de
um momento de concepção como da indicação de um detalhe
construtivo. Sendo o desenho analógico um dos focos
principais desta dissertação, tentaremos, a seguir, ilustrar essa
afirmação por meio do exemplo dos croquis.
retrocitados. Além deles, Reid (2002, p.52) também aponta as
qualidades desse tipo de manifestação gráfica. Na descrição
A princípio pareceria óbvio indicá-los como os mais adequados
do autor, que os nomeia como Diagramas Conceituais, essas
às ações de concepção na Arquitetura. Florio (2010) reforça
peças gráficas, bastante abstratas, podem ser compostas
essa impressão, quando relata que
80
[…] o croqui de concepção é um tipo especial de
desenho inicial preparatório, embrionário,
ambíguo e inacabado. Esse tipo especial de
desenho é algo íntimo, testemunho de um mundo
secreto, em que nem mesmo o próprio autor pode
reconhecer todos os seus significados.
Expressivos, esses croquis têm um grande poder
de síntese e de estímulo à imaginação. O croqui é
uma forma particularmente poderosa de pensar,
que permite expressar, sem escala nem
instrumentos, múltiplas ideias, sem clareza nem
definição. Esse vaguear do pensamento é
registrado por esse tipo particular de desenho
inicial, sem pretensões de acerto. É importante
notar como essas tentativas pulsantes auxiliam
na procura de algo sem ainda que se tenha um
objetivo claro e preciso. (P.379)
Em relação à sua natureza gráfica, Lapuerta (1997, p.39), de
modo mais detalhado, identifica as seguintes variáveis nos
croquis: a figura, a textura, as cores, a luz e as sombras. A
figura está diretamente relacionada com o elemento linear.
Esse elemento gráfico fundamental, apesar de não existir no
mundo real, é o preferido de arquitetos e estudantes na hora
de definir as formas dos edifícios e espaços projetados.
Somando-se às linhas, tanto a textura quanto as cores, entram
para complementar os desenhos e sugerir informações que
podem ser referentes a materiais de acabamentos, a aspectos
Além de Florio (2010), as vantagens desse tipo de desenho
funcionais, a marcação de setores, dentre outros. Em raros
para estudos também são apontadas por diversos autores,
casos verifica-se a aplicação desses recursos para fins
destacando Lapuerta (1997), que investigou a fundo as suas
realistas. As sombras e luzes podem reforçar os cheios e
características gráficas e aplicações, e Laseau (2001) que,
vazios das formas, bem como enaltecer algum aspecto mais
além das questões gráficas, também estudou as relações
relevante do projeto [Fig. 55].
desse tipo de desenho com o pensamento do projetista,
baseando-se, por vezes, nos estudos de Lawson (2011).
É importante frisar a noção de que, apesar da aparente
complexidade que envolve esses recursos gráficos, em virtude
Entre os vários atributos apontados pelos autores, destacam-
da velocidade e espontaneidade com que eles são feitos, isso
se, por exemplo, a espontaneidade, a rapidez para sua
não se reflete necessariamente, em produtos finamente
produção, a facilidade de acesso ao material de desenho e o
acabados. Nas palavras do autor, "a rapidez com que são
descompromisso técnico, além da relação direta entre a mente
feitos os croquis explica a aparência tosca e
do criador e o registro no papel.
expressiva."(LAPUERTA, 1997, p. 28)
81
gráficas, elas podem transcender a própria função inicial de
servir como registro de estudos. Nesses casos, o acabamento
gráfico conferido aos croquis aufere outras características que
os situa como desenhos de apresentação.
Em outro cenário, mesmo denotando as mesmas
características gráficas retrocitadas, um desenho rascunhado
durante uma visita a uma obra pode perfeitamente ser usado
como informação básica para a construção e/ou correção de
um determinado detalhe do edifício. Estaria, então, esse croqui
categorizado como desenho descritivo/sugestivo?
O relato aqui exemplificado por meio do croqui pode
perfeitamente ser refeito usando um desenho digital. Dessa
Figura 55 - Croquis de estudo para Jardim Botânico - Atelier Dreiseitl. Fonte: The Sketch Book. Pág. 164
forma, tanto um croqui quanto um modelo 3D do SketchUp
Como vemos, tais características podem colocar os croquis
apresentação e de documentação. Como podemos notar, não
como fortes candidatos a principal instrumento gráfico de
há impedimentos nem padrões determinados durante os
concepção de um projeto e, pelo exposto, isso parece
processos de projeto e em como as ferramentas gráficas os
inegável. É fácil perceber, entretanto, que esses desenhos
subsidiam. O que se constata é a diversidade tanto na prática
podem assumir outras funções dentro do processo, como, por
profissional quanto na acadêmica. Os capítulos 4 e 5
exemplo, a de apresentação. Sobre isso Lapuerta (1997)
procurarão expressar algumas evidências do que foi colocado
relata que, dependendo do tratamento dado a essas peças
até aqui, em especial, nos Trabalhos Finais de Graduação.
poderiam assumir os papéis de desenho de concepção, de
82
4 O TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO NA UNIFOR
registro das diretrizes gerais da graduação em Arquitetura e
Urbanismo da instituição em estudo. Também serão
Acreditamos que o objeto de estudo desta pesquisa teve parte
avaliados, dentro do primeiro, os projetos de ensino de cada
de suas características e processos influenciados tanto pelas
disciplina em especial daquelas ligadas ao desenho e ao
informações e práticas externas à Universidade quanto pela
projeto. Os documentos usados para essa avaliação
formação do aluno ao longo do curso. Nesse sentido, este
encontram-se disponíveis na biblioteca da instituição e/ou na
capítulo pretende fazer breve apanhado histórico sobre a
coordenação do curso.
formação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR,
dando atenção especial a como o ensino do Desenho se dava e
Sabe-se que as práticas de sala de aula não são reflexo
como acontece hoje.
somente do que está explicitado nestes documentos, mas é
O objetivo é fazer uma avaliação crítica dos dois projetos
pedagógicos do curso, focando mais especificamente nos eixos
intitulados Expressão e Representação e Projeto, presentes em
ambos. Será analisado o modo como os assuntos relativos ao
desenho eram ou são tratados e como são abordados nas
práticas de projeto e, dessa forma, traçar uma linha de
investigação até a disciplina Trabalho Final de Graduação de tal
forma a identificar as pertinências e ausências dos conteúdos
nas práticas discentes.
importante frisar que são eles os responsáveis pelo registro
das definições feitas pelo colegiado do curso quanto aos
conteúdos e objetivos a serem atingidos nas disciplinas, além
de serem, em qualquer instituição de ensino, os norteadores
das ações didáticas a serem adotadas pelo corpo docente.
Dessa forma cremos que suas análises sejam relevantes
neste estudo, uma vez que poderão apontar indicadores de
convergência e/ou divergência entre o que é ensinado sobre
desenho aplicado ao projeto durante o curso de graduação e
o que é a realidade observada nos trabalhos finais de
Para tanto será feita a análise do documento chamado Projeto
Pedagógico do Curso, uma vez que é ele o responsável pelo
graduação dos discentes.
83
4.1 O primeiro projeto pedagógico do curso (ppc) – análise
crítica
(Associação das Empresas Construtoras do Ceará),
SINDUSCON (Sindicato da Indústria da Construção Civil do
Ceará), CREA-CE (Conselho Regional de Engenharia e
A graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade de
Agronomia), ASPA (Associação dos Profissionais de Arquitetura)
Fortaleza teve sua implantação iniciada na década de 1990 e,
e IAB-Ce (Instituto dos Arquitetos do Brasil – Departamento
como já mencionado, iniciou suas atividades no segundo
Ceará).
semestre de 1998, ofertando 50 vagas em seu primeiro exame
vestibular. Nessa época, como também já comentado, o
Outro elemento norteador foram os dados que revelavam a
estado do Ceará só dispunha de um curso de graduação
carência de oferta de vagas no Estado. De acordo com
nessa área vinculado à Universidade Federal do Ceará (UFC),
informações do PPC, o Ceará contribuía na época com somente
que oferecia 20 vagas semestrais para ingresso por concurso
1,39% de todas as vagas disponíveis no Brasil. Percebia-se uma
vestibular.
demanda reprimida que podia ser comprovada pelos dados de
procura ao exame vestibular do curso da UFC. O concurso
A necessidade de implementação do novo curso, segundo os
autores do PPC,
baseava-se na premissa de ofertar um
programa curricular mais próximo às necessidades
observadas no mercado de trabalho, o que já revelava uma
tentativa de diferenciação em relação às práticas mais
acadêmicas adotadas pelo curso da Instituição Pública. O
documento também defendia a ideia de que a montagem do
novo curso se baseava em pesquisas realizadas em diversas
dessa instituição requeria que o candidato fosse submetido a
uma prova de habilidades específicas relacionadas ao desenho.
Caso fosse aprovado nessa prova, o aluno poderia participar
das outras fases para o curso de Arquitetura e Urbanismo.
Dessa forma, o número de inscritos para esse teste específico,
hoje não mais aplicado, era um forte indicador da procura pelo
curso da UFC. Sobre ele o PPC do curso da Unifor comentava
que
instituições de ensino brasileiras e estrangeiras, além de
entidades relacionadas com a profissão como ASSECON
[…] no início de 1998, ano da implantação do curso
da UNIFOR, foram inscritos para o teste de aptidão
84
350 candidatos para as únicas vinte vagas
ofertadas pela UFC, ou seja, somente 5,7% dos
a)
Realizar o estudo e o planejamento físico
candidatos interessados lograram aprovação,
local, urbano e regional, seus serviços afins e
revelando uma demanda reprimida. (PPC, p.01).
correlatos;
b)
Elaborar orçamentos;
meia mais vagas de que o curso da UFC, a instituição privada
c)
Executar e fiscalizar obras e serviços;
viria a ser a que formaria mais arquitetos no Estado, podendo
d)
Montar, operar, prover a manutenção e
Percebemos que, à medida em que oferecia duas vezes e
assim se tornar força de influência nas práticas
controle de qualidade de instalações e
profissionais ,assim como de ensino e, dentre elas, as do
equipamentos em edificações conjuntos
desenho.
arquitetônicos;
Mesmo não sendo objetivo desta pesquisa analisar a fundo
e)
Projetar e supervisionar a execução de
todas as influências que os dados retrocitados tiveram na
mobiliário, peças de arte gráfica e seus
formulação da primeira matriz curricular, pode-se observar que
congêneres; e
o curso da UNIFOR usou como referência diversas entidades
ligadas à tecnologia da construção. Isso repercutiu na oferta de
f)
Pesquisar, ensaiar, experimentar, ensinar e
várias disciplinas e na definição do perfil profissional do
Responsabilizar-se pelo planejamento, projeto
arquiteto egresso que, segundo o primeiro PPC do curso,
e construção de espaços edificáveis e
deveria apresentar habilidades e conhecimentos para
urbanos.
a)
Conceber, planejar e projetar espaços a
Embora, como nos afirma Perrone (1993), não se possa
serem edificados para fins residenciais,
descartar a necessidade da representação gráfica como
comerciais e industriais;
habilidade básica para exercer as atividades de nenhum
85
desses itens, destacam-se aqui os verbos “conceber”,
de ensino/aprendizagem das matérias e uma fragilidade quanto
“planejar” e “projetar”, assim como as letras a, b, f e h como
ao rebatimento dessas nas práticas de projeto arquitetônico e
determinantes na construção de um eixo de ensino ligado ao
urbanístico, como demonstramos a seguir.
desenho aplicado à Arquitetura e ao Urbanismo.
As Tabelas 1 e 2 mostram o primeiro quadro de oferta de
O primeiro PPC destacava Projeto como um de seus dois
disciplinas, seus respectivos prerrequisitos e cargas horárias.
eixos principais, sendo Urbanismo e Planejamento Urbano o
Merece observar que, no segundo ano letivo, o aluno cursava a
segundo. Além deles, mais seis eixos auxiliares faziam parte
primeira disciplina de projeto, chamada Projeto Arquitetônico I.
da estrutura curricular: Fundamentação, Expressão e
Nesse momento, esperava-se que o discente já tivesse
Representação; Teoria e História; Meio Ambiente e Conforto
contemplado a maior parte dos conteúdos de desenho
Ambiental; Tecnologia da Construção e Administração e
aplicados à prática projetual. É importante comentar que, nessa
Gerência. O eixo auxiliar denominado Expressão e
época, um crédito correspondia a 15 horas de aula e que,
Representação, um dos focos de estudo deste capítulo,
segundo dados da Vice-Reitoria de Graduação, essa carga foi
envolvia as seguintes disciplinas: Desenho de Observação,
alterada para 18 horas em 2007 pela Portaria número 10, do
Desenho Básico, Geometria Descritiva, Técnicas de
Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão (CEPE) da UNIFOR,
Representação e Expressão, Plástica e Computação Gráfica.
para adequar a carga horária total de suas disciplinas.
Tomando como referência os conceitos e as premissas de
No primeiro semestre há somente uma disciplina diretamente
aprendizado do desenho aplicado à Arquitetura apresentados
relacionada com o desenho e o seu foco, como o próprio nome
e discutidos no Capítulo 3 e confrontando os conteúdos e
já explicita, é o desenho de observação. A leitura de sua
sequência de disciplinas ligadas ao eixo de Expressão e
ementa e conteúdo parece evidenciar o objetivo de desenvolver
Representação, assim como seus prerrequisitos, notamos
habilidades de representação gráfica do espaço existente
algumas incoerências no que diz respeito ao processo de
(percepção) e idealizado (criação) principalmente por via do
86
Tabela 2: Matriz curricular 26.1
Tabela 1: Matriz curricular 26.1
SEMESTRE - 03
SEMESTRE - 01
Cód
Disciplinas
h/aula
créditos
N503
INFORMATICA
108
6
T504
DESENHO DE OBSERVACAO
72
4
H377
HISTORIA E HISTORIOGRAFIA
72
4
H603
PSICOLOGIA DO ESPACO
72
4
N163
ELEMENTOS DE CALCULO
108
6
TOTAL
432
24
pré-requisitos
Cód
Disciplinas
h/aula
créditos
pré-requisitos
H328
FUNDAMENTOS DE SOCIOLOGIA
72
4
T503
GEOMETRIA DESCRITIVA
72
4
T509
T807
TECNICAS DE REPRESENTACAO
72
4
N503
T504
T805
ERGONOMIA
72
4
T803
PLASTICA
72
4
T504
T825
T826
COMUNICACAO VISUAL II
108
6
T825
TOTAL
468
26
SEMESTRE - 02
SEMESTRE - 04
Cód
Disciplinas
h/aula
créditos
H379
ANTROPOLOGIA FILOSOFICA
72
4
N220
FISICA DOS FENOMENOS
108
6
T509
DESENHO BASICO
72
4
T825
COMUNICACAO VISUAL I
72
4
H312
METODOLOGIA CIENTIFICA
72
4
T801
INTRODUCAO AO PLANEJAMENTO
72
4
468
26
TOTAL
pré-requisitos
T504
Fonte: Acervo do autor com suporte nos dados da Vice-Reitoria de Graduação
Cód
Disciplinas
T811
PROJETO ARQUITETONICO I
T833
h/aula
créditos
108
6
HISTORIA URBANA E DA ARTE I
72
4
T512
TOPOGRAFIA II
72
4
T567
MATERIAIS DE CONSTRUCAO
72
4
T563
CIENCIAS DO AMBIENTE
72
4
N138
ESTATISTICA BASICA
72
4
468
26
TOTAL
pré-requisitos
T803
T805
T807
T503
Fonte: Acervo do autor com suporte nos dados da Vice-Reitoria de Graduação
87
aprendizado e desenho das perspectivas.
curiosamente, ela não pertencia ao eixo auxiliar denominado
Embora as práticas de sala de aula pudessem ter alguma
Expressão e Representação. Essa disciplina, formatada em um
abordagem envolvendo o desenho técnico, não há em seu
período no qual já se observavam as características do terceiro
projeto de ensino nada relacionado aos sistemas de projeção
momento de uso dos recursos computacionais descrito por
que, como discutido antes, são essenciais à prática projetual.
Cardoso (2005) e já comentado, exibia vários tópicos que
Isso nos leva a refletir sobre como as atividades de criação,
refletiam as mudanças observadas nos instrumentos de
usando somente perspectivas, podiam ter rebatimento na
representação gráfica associadas ao computador, mas com
realidade do projeto de Arquitetura e Urbanismo. Não
alguns hiatos didáticos.
questionamos aqui o valor de qualquer ação que envolva o
estímulo à criatividade, mas observamos a desvinculação, pelo
menos pelo que é registrado no documento analisado, entre
do desenho em relação ao projeto.
Com um total de 90 horas de aula, seu projeto de ensino
dedicava 40 horas a assuntos genéricos da Microinformática,
abrangendo, inclusive, a manipulação de editores de texto e
planilhas eletrônicas. Vale lembrar que essa abordagem pode
Ainda nessa disciplina, vale destacar a presença de uma
parecer estranha nessa década de 2010, mas era bastante
unidade de capítulo cujo assunto é o uso de croquis na obra
comum naquela, época uma vez que os conhecimentos básicos
de arte, na Arquitetura e no Urbanismo, embora não fique claro
da computação não eram inerentes a todo o corpo discente.
se esse tipo de desenho era trabalhado em atividades práticas
ou somente por meio de apresentação de casos. A disciplina
tinha uma carga de quatro créditos, correspondendo a
aproximadamente 16,70% do total do semestre.
As 50 horas restantes eram orientadas ao uso dos sistemas
gráficos em aplicações que iam desde o desenho vetorial
bidimensional (CAD – Computer Aided Design, CAE –
Computer Aided Engineering
e CAM – Computer Aided
A outra matéria que trazia algum assunto relacionado ao
Manufacturing), passando pela modelagem tridimensional e
desenho, mas digital, chamava-se Informática e,
chegando até as animações e simulações realistas.
88
Aqui podemos observar a primeira contradição desta proposta
como já comentado, precisaria desses assuntos.
curricular. O conteúdo dessa disciplina envolvia uma gama por
demais complexa de assuntos, além da manipulação de
aplicativos computacionais que precisariam de fundamentação
em outras áreas do conhecimento, tais como: desenho técnico,
desenho geométrico e desenho arquitetônico. Em seu projeto
de ensino, as Unidades IX e X, por exemplo, abordavam
atividades de desenho vetorial bidimensional e tridimensional
que, como já discutido, deveriam usar o desenho geométrico e
descritivo como fundamento.
Das 750 horas de aula ministradas até o segundo semestre 60
eram relativas à disciplina Desenho de Observação, embora
ela, como já comentado, não tivesse ligação com práticas de
projeto. Na disciplina Informática, 50 horas tinham foco na
representação gráfica e alguma ligação com a aplicação em
projeto, mas grande carência de conteúdos associados.
Outras 60 horas de aulas eram dedicadas ao desenho
geométrico em disciplina específica, mas também sem
qualquer relação com o edifício. Em um cenário no qual o
Esses tópicos (desenho geométrico e descritivo), como mostra
aluno que ingressava não era submetido a testes de
a Tabela 1, só seriam apresentados ao corpo discente no
habilidade específica, como acontecia na instituição federal e
segundo e terceiro semestres, durante as disciplinas chamadas
que, em sua maioria, não trazia do ensino médio qualquer
Desenho Básico e Geometria Descritiva. A primeira, única no
prática de representação gráfica, constatamos que somente
segundo semestre ligada ao eixo auxiliar Expressão e
22,66% do primeiro ano letivo eram focados no ensino do
Representação, também continha capítulos ligados ao desenho
desenho e com pouca ou nenhuma relação com as práticas de
assistido por computador. Eles propunham a apresentação das
projeto.
ferramentas básicas dos sistemas CADD (Computer Aided
Design and Drafting), com o intuito de aplicá-las na construção
das formas geométricas e resolução de problemas correlatos.
Esse conteúdo específico não parece coerente com a proposta
observada na disciplina Informática, do semestre anterior, que,
No terceiro semestre, encontravam-se duas disciplinas que
pertenciam ao eixo auxiliar em estudo, entretanto, aqui
podemos notar alguns pontos contraditórios. A disciplina
responsável pelo estudo do desenho arquitetônico, chamada
89
Técnicas de Representação, estava locada para ser cursada
Pelo exposto, percebemos que Técnicas de Representação,
em conjunto com Geometria Descritiva. Ocorre que as
disciplina que supostamente prepararia o aluno para enfrentar as
definições de Ching e Juroszek (1999) e de Montenegro
práticas de concepção e representação do projeto, tinha uma
(1995), já abordadas e aceitas por nós, deixam claro que o
grande lacuna didática. No seu projeto de ensino estava
desenho de Arquitetura é uma variante do desenho técnico
distribuído, em suas 60 horas de aula, todo o conteúdo relativo ao
projetivo que por sua vez, é uma aplicação prática da
desenho arquitetônico que deveria ser aprendido, tanto em
Geometria de Gaspar Monge. Sendo assim, vislumbramos
prancheta quanto em mídias digitais, mesmo sem ter a Geometria
aqui um lapso de conhecimento na medida que os dois
descritiva como prerrequisito. Fica evidente que ela era a matéria
assuntos eram vistos simultaneamente.
com maior foco no projeto, embora com os problemas já
apontados.
A análise dos seus projetos de ensino também revela alguns
pontos problemáticos. Em Geometria Descritiva, apesar de o
De maneira geral, com exceção da disciplina Desenho de
assunto “Representação em épura dos poliedros e sólidos de
Observação, que, vale lembrar, trazia um só tópico relacionado ao
revolução” aparecer na sua ementa, ele não faz parte da sua
uso de croquis, as demais disciplinas do eixo Expressão e
coleção de capítulos. Isso revela mais uma incoerência, na
Representação focavam no ensino do desenho geométrico e/ou
medida em que os objetos representados no desenho
técnico instrumental, tanto em prancheta quanto por meio de
arquitetônico nada mais são do que sólidos complexos. O
dispositivos digitais. Em nenhum momento, observamos em seus
ensino dessa matéria parece dar mais atenção à
projetos de ensino qualquer menção ao uso de desenhos à mão
representação em projeção do ponto, da reta e do plano,
livre ou a fazeres ligados ao processo criativo.
sem no entanto rebater esses conhecimentos na edificação
A falta de referência ao uso do croquis será também notada nas
ou nas práticas de projeto, revelando um estudo da
ementas e conteúdos de todas as disciplinas de projeto
Geometria em um sentido mais abstrato e menos prático.
arquitetônico e urbanístico. Embora isso não comprove a
90
inexistência do seu uso durante o desenvolvimento dos
contraditórias em termos de assuntos e sequência didática,
projetos, talvez evidencie que esse recurso fosse relegado ao
além de uma carga horária aparentemente deficiente. Também
segundo plano por parte do corpo docente.
fica explícito, pelo menos nos projetos de ensino, que as
É interessante observar como o uso dos sistemas CAD se
encontra nas três disciplinas de fundamentação gráfica.
Acreditamos que a forte influência das já consolidadas
ferramentas computacionais da época, assim como das
facilidades de acesso e uso de dispositivos eletrônicos,
tenham levado o curso a adotar essa postura.
disciplinas não propunham o rebatimento do conteúdo na
realidade de projeto. Esse quadro, como será visto mais à
frente, é objeto de grandes alterações no segundo projeto
pedagógico do curso e em particular, no eixo Expressão e
Representação.
4.2 O segundo projeto pedagógico do curso (ppc) – análise
crítica
Até o aluno alcançar seu primeiro projeto arquitetônico, ele
passava por uma carga horária total de 1.140 horas de aulas,
sendo que 330 horas (28,94% do total) eram sobre o ensino
do desenho em várias de suas vertentes. Dessas 330, apenas
60 horas tinham relação direta com o projeto, ou seja,
somente 5,26% do total.
Segundo informações da Vice-Reitoria de Graduação, o
segundo projeto pedagógico do curso de Arquitetura e
Urbanismo da UNIFOR foi aprovado em julho de 2004. Pelo
protocolo do sistema acadêmico, a nova matriz foi numerada
como a 26.2 (Curso 26, matriz 2). As novas disciplinas
Essa breve demonstração indicou algumas fragilidades do
começaram a ser ofertadas no semestre 2004.2, de forma
eixo de Expressão e Representação no contexto do curso
gradual. Sendo assim, as duas matrizes (26.1 e 26.2) foram
ofertado na época de sua criação. Até o quarto semestre,
mantidas paralelamente durante algum tempo. Hoje não existem
quando teoricamente o aluno deveria ter sido apresentado
mais alunos matriculados na matriz 26.1. Embora nenhum dos
aos conteúdos e instrumentos necessários para pensar e
trabalhos coletados e avaliados nesta pesquisa sejam de
representar o projeto, notam-se abordagens irregulares e
discentes formados nesse antigo currículo, é preciso esclarecer
91
que alguns dos formados em 2009 podem ter cursado algumas
criticamente sua área, propondo mudanças e corrigindo as
disciplinas da primeira matriz curricular.
incoerências mencionadas no item 4.1. As Tabelas 3 e 4
É importante registrar o fato de que o primeiro PPC e a primeira
mostram a configuração geral do novo currículo.
matriz de disciplinas foram formatados por um pequeno grupo
Como comentado antes, os trabalhos selecionados nesta
de professores (com graduação em Arquitetura e Urbanismo) já
pesquisa são de autoria de alunos formados nessa matriz.
pertencentes ao quadro docente do curso de Engenharia Civil
Dessa forma, será feita uma análise crítica mais detalhada
da instituição. Já o segundo projeto e a segunda matriz tiveram
das ementas, conteúdos e prerrequisitos das disciplinas
intensa participação dos professores do próprio curso, sendo
pertencentes aos dois eixos considerados de maior relevância
delegada aos especialistas de cada área a revisão das
e/ou com maior influência no resultado final dos trabalhos
disciplinas. Acreditamos que a maior experiência de cada grupo
finais de graduação – Expressão e Representação e Projeto.
nos assuntos assim como as vivências dentro de sala de aula,
acabaram sendo determinantes para a construção de uma
matriz mais coerente, embora ainda com alguns problemas.
Os eixos estruturantes, como já informado, se mantiveram na
revisão da matriz 26.1, embora não mais apareça a
separação entre Norteadores e Auxiliares observada no
A nova reforma curricular não alterou os eixos básicos nem os
primeiro projeto do curso. Nessa nova proposta, as disciplinas
auxiliares citados no item 4.1. O processo de sua revisão se
são agrupadas nos seguintes grupos. Fundamentação;
deu inicialmente pela reunião de grupos formados pelos
Expressão e Representação; Teoria e História; Meio Ambiente
professores que lecionavam as matérias de cada eixo. Cada
e Conforto Ambiental; Projeto; Urbanismo e Planejamento
grupo trazia a proposta de alteração para discussão com o
Urbano; Tecnologia da Construção e Administração e
colegiado, ajustes e inserção na matriz completa. Esse
Gerência.
procedimento trouxe grandes melhorias ao projeto do curso, na
medida em que os especialistas tiveram condições de avaliar
Percebemos, de uma forma geral, que a separação em
92
Tabela 3: Matriz curricular 26.2
Tabela 4: Matriz curricular 26.2
SEMESTRE - 03
SEMESTRE - 01
Cód
Disciplinas
H812
PSICOLOGIA AMBIENTAL
72
4
T376
INTRODUÇÃO AO DESENHO
72
4
T377
DESENHO AUX. POR
COMPUTADOR I
72
4
T395
DESENHO DE OBSERVACAO
T396
T503
h/aula
créditos
108
6
ELEMENTOS DE CALCULO
72
4
GEOMETRIA DESCRITIVA
72
4
468
26
pré-requisitos
SEMESTRE - 02
Cód
Disciplinas
H706
ELABORACAO DO TRAB
CIENTIFICO
36
H813
ESTETICA E HISTORIA DA
ARTE
72
4
T378
DESENHO AUX. POR
COMPUTADOR II
72
4
T397
PLASTICA
T825
T852
T884
h/aula
créditos
Cód
Disciplinas
N372
FUNDAMENTOS DE
ESTATISTICA
T353
PROJETO ARQUITETONICO I
T567
h/aula
créditos
pré-requisitos
36
2
108
6
T397
MATERIAIS DE
CONSTRUCAO
72
4
T396
T805
ERGONOMIA
72
4
H812
T886
TECNICAS DE
REPRESENTACAO II
72
4
T884
T888
ANALISE TOPOGRAFICA
72
4
T378
T889
URBANISMO E MEIO
AMBIENTE
72
4
T852
504
28
pré-requisitos
T852
T884
T884
T503
2
SEMESTRE - 04
108
6
COMUNICACAO VISUAL I
72
4
INTR A ARQUITETURA E
URBANISMO
72
4
TECNICAS DE
REPRESENTACAO I
72
504
4
Cód
Disciplinas
H189
SOCIOLOGIA URBANA
T354
h/aula
créditos
pré-requisitos
72
4
T889
PROJETO ARQUITETONICO
II
108
6
T353
T355
ANALISE ESTRUTURAL
108
6
T567
T393
INSTALACOES PREDIAIS I
72
4
T886
T877
TEORIA E HISTORIA DA ARQ
URB I
72
4
H813
T891
CONFORTO AMBIENTAL I
108
6
T353
540
30
T377
T886
T888
T395
H812
T376
T395
T377
T503
28
Fonte: Acervo do autor com suporte em dados da Vice-Reitoria de Graduação
Fonte: Acervo do autor com suporte em dados da Vice-Reitoria de Graduação
93
grupos de matérias por eixos já induz a um rompimento de
4.2.1 O eixo expressão e representação e o eixo projeto
assuntos que deveriam ser correlatos, porém, apesar dessa
aparente segregação, observamos na tabela geral de
disciplinas uma mistura de assuntos em cada semestre e a
amarração por prerrequisitos. Em nenhum momento ,
entretanto, se explicita, nem na grade curricular nem no texto
do PPC 26.2, alguma referência à interdisciplinaridade.
Os eixos que envolvem as disciplinas que tratam da
representação gráfica e das práticas de projeto denotaram
significativas mudanças na matriz 26.2. Observamos o
aparecimento de outras disciplinas e um aumento da carga
horária total em ambas as áreas do conhecimento. Como já
detalhado, a sequência das disciplinas da primeira matriz, assim
Os assuntos tratados nas disciplinas do eixo Expressão e
como seus prerrequisitos, denotavam alguns hiatos didáticos e
Representação e no eixo Projeto, como será detalhado a
incoerências. Diversos pontos foram corrigidos na nova
seguir, mantêm tímida relação e intersecção de conteúdos.
proposta embora alguns ainda merecessem mais atenção.
Quando a atenção se dá especificamente no trato do
desenho dentro das práticas de concepção e reflexão do
projeto, foco deste estudo, a fragilidade se revela ainda
maior, como se discutirá na sequência.
Segundo o texto do novo PPC, as disciplinas que compunham o
eixo denominado Expressão e Representação, seriam: Desenho
de Observação (DO), Introdução ao Desenho (ID), Desenho
Auxiliado por Computador I (DAC I), Técnicas de Representação
I (TR I), Desenho Auxiliado por Computador II (DAC II), Plástica
e Técnicas de Representação II (TR II). É importante observar
que a disciplina Geometria Descritiva (GD) não pertencia a ele e
sim ao eixo chamado Fundamentação, sendo a única deste
ligada às práticas de desenho. Para este estudo, essa disciplina
será incluída no conjunto da área da representação gráfica nas
análises seguintes.
94
No eixo denominado Projeto, encontravam-se as seguintes
referentes à Geometria plana foram mantidos, embora de modo
disciplinas: Comunicação Visual I; Projeto Arquitetônico I (PA
mais resumido, quando comparada à situação anterior, em uma
I), Projeto Arquitetônico II (PA II), Projeto Arquitetônico III (PA
nova disciplina chamada Introdução ao Desenho (ID). Vale
III), Projeto Arquitetônico IV (PA IV), Arquitetura de Interiores I,
notar que essa disciplina, agora também abordava alguns
Projeto Arquitetônico V (PA V), Projeto Urbanístico I,
assuntos relacionados ao desenho de perspectivas.
Paisagismo, Comunicação Visual II, Projeto Arquitetônico VI
(PA VI), Projeto Urbanístico II, Projeto Arquitetônico VII (PA
VII), Projeto Urbanístico III, Pesquisa em Arquitetura e
Urbanismo, Trabalho Final de Graduação (TFG).
Em paralelo a ela, os conteúdos referentes à Geometria
espacial e aos sistemas de projeção eram contemplados na
disciplina Geometria Descritiva (GD), mas mantendo a mesma
abordagem mais abstrata e matemática da formatação anterior.
Comparando as matrizes 26.1 e 26.2, observamos que a área
Pontos, retas e planos e suas relações eram estudados sem
de representação gráfica, composta antes por seis disciplinas,
qualquer rebatimento direto ou indireto nas práticas ligadas ao
passa a ter oito matérias (incluída aqui a Geometria
projeto de Arquitetura ou mesmo ao estudo dos poliedros.
Descritiva) que totalizavam 648 horas de aula, 258 horas a
mais em relação à matriz anterior, já se levando em
consideração a alteração do valor da hora/aula (h/a) do
crédito, que passou de 15 para 18 h/a. Além do incremento de
carga horária, houve uma reorganização das sequências e
prerrequisitos embora percebamos uma manutenção da
estrutura básica dos conteúdos e algumas fragilidades quanto
ao rebatimento desses assuntos na realidade do projeto.
A análise de seus projetos de ensino mostra que os assuntos
Vale comentar que essa disciplina, em especial, foi objeto de
uma alteração em seu projeto de ensino. A nova proposta,
elaborada por uma equipe liderada por nós, procurava diminuir
a distância entre a Geometria de Gaspar Monge e a sua
aplicação no projeto. O novo conjunto de unidades trazia em
suas 72 horas de aula, 44 voltadas ao estudo dos poliedros
que, como já mencionado, acreditamos serem mais coerentes
com a realidade arquitetônica.
95
Essas duas disciplinas (ID e GD) passaram a ser
Ambas tinham foco instrumental que priorizava o aprendizado
prerrequisitos de Técnicas de Representação I, responsável
dos softwares, como pode ser visto nos seus projetos de
pelo ensino do desenho arquitetônico. Considerando-se,
ensino, embora o projeto da primeira não faça menção a
como já expresso, que o desenho de Arquitetura é uma
nenhuma ferramenta específica como acontece na segunda.
aplicação direta desses dois assuntos, a posição da
Esse tipo de abordagem pode ser justificado pela posição que
disciplina se mostrava agora mais consistente do que na
elas ocupavam na estrutura curricular.
situação anterior.
A oferta de ambas acontecia, respectivamente, no primeiro e
A disciplina Informática, que possuía as várias incoerências
segundo semestres. Isso acabava fazia que o aluno recém-
já discutidas, foi desmembrada em duas, que se chamavam
adimitido tivesse contato precoce com os instrumentos digitais.
Desenho Auxiliado por Computador I e II (DAC I e DAC II),
A natural inexperiência do calouro, tanto em desenho quanto
sendo a primeira responsável pelos assuntos do desenho
em projeto, impossibilitava uma abordagem mais plural no
digital vetorial, tanto em ambiente bidimensional quanto
sentido do uso das ferramentas digitais, tanto como
tridimensional, além de também ser prerrequisito para TR I.
instrumentos de representação quanto de reflexão do projeto.
O principal programa usado para o primeiro assunto era o
A carga horária total delas era de 144 horas, representando
AutoCAD, enquanto o SketchUp cobria o segundo tópico.
22,22% do total da área de representação e expressão.
Como também observado na primeira matriz curricular, TR I
A disciplina DAC II cobria os conteúdos relacionados à
tinha posição de destaque podendo ser considerada a mais
manipulação de imagem digital, tanto em mapas de bits
importante matéria que antecedia a sequência de projetos
quanto de forma vetorial. Para o estudo de cada um dos
arquitetônicos e urbanísticos. Malgrado, porém, a maior
assuntos, eram adotados, respectivamente, o Photoshop e o
coerência didática observada, os projetos de ensino
CorelDraw.
retrocitados apontam para uma circunstância que posicionava
96
o ensino da Geometria como assunto autônomo e sem
3. Suas unidades de conteúdo mostram-se bastante densas,
nenhuma ligação direta com as atividades práticas do
com uma abordagem detalhada dos processos geométricos de
projetar, ou seja, as diretrizes que levavam o aluno ao
construção das perspectivas de projeção paralela (ortogonal e
desenho arquitetônico denotavam foco predominantemente
obliqua) e cônica, chegando inclusive ao estudo das sombras.
teórico.
O mesmo pode ser observado em Desenho de Observação,
ofertado no primeiro semestre e única disciplina com
abordagem explícita sobre desenho à mão livre. Embora
notemos mudanças em seu projeto de ensino, o foco
principal se manteve na representação da realidade
construída que domina 81,48% (88 horas) da sua carga
horária, cabendo aos 18,52% (20 horas) restantes os
assuntos ligados ao uso do croqui como instrumento para
exercícios de criação que, embora válidos, não poderiam ter
rebatimento projetual, dada a natural imaturidade dos alunos
nesse quesito.
Embora não se possa negar a importância desses assuntos
sob a óptica conceitual e também como instrumento de
desenvolvimento da visão e do raciocínio espacial, a
configuração do seu conteúdo parece superdimensionada, visto
que o mesmo foi formatado em um momento, já descrito por
Cardoso (2005), do uso das ferramentas computacionais, em
especial da modelagem tridimensional virtual, tanto para fins de
representação como de auxílio na concepção de projetos.
Observamos também, um sombreamento de assuntos dessa
disciplina (Unidade VIII – Perspectivas) com a última unidade
da disciplina Introdução ao Desenho.
No semestre em que o discente inicia a sequência de
projetos arquitetônicos, ele também cursava a disciplina
chamada Técnicas de Representação II (TR II). Fica muito
claro pelo seu projeto de ensino que seu alvo de estudos são
os sistemas de projeção perspectiva, comentados no capítulo
Nessa nova conformação de matérias, até o discente alcançar
seu primeiro projeto arquitetônico, ele cursava um total de 972
horas de aulas, 168 a menos do que na situação anterior. É
importante lembrar que, apesar do crédito ter subido de 15 para
97
18 horas, a disciplina Projeto Arquitetônico I foi deslocada do
uma separação de assuntos e uma escassez de vínculos entre
quarto para o terceiro semestre, refletindo nessa redução.
essas áreas como será detalhado na seção seguinte.
Dessas 972 horas, 468 (48,14% do total) tratavam do ensino
do desenho (analógico e digital), enquanto na situação
anterior, somente 25,43% (das disciplinas cursadas até o PA
4.2.2 Interdisciplinaridade – o desenho e o projeto
I) tinham esse foco.
Baseado no exposto antes, podemos afirmar que o incremento
de carga horária e a reordenação de conteúdos e prerrequisitos
Vale ressaltar que em nenhum momento se nota qualquer
do novo PPC refletiram pelo menos em uma proposta mais
menção ao uso dos sistemas digitais e/ou analógicos nas
coesa de metodologia do ensino do desenho aplicado à
praticas de concepção de projetos. Também não há nada
Arquitetura. A sucessão de tópicos mostrava-se agora mais
que evidencie, mesmo nas disciplinas notadamente
consistente, na medida que as matérias demonstravam uma
instrumentais, qualquer conteúdo que faça referência às
hierarquia mais nítida que culminava no aprendizado do
técnicas híbridas descritas por Perrone (1993), detalhadas
desenho arquitetônico durante a disciplina Técnicas de
por Leggitt (2004) e discutidas no capítulo 3.
Representação I.
Nessa matéria, contudo, deveriam estar concentrados, em
Como depreendemos, houve uma readequação significativa
somente 72 horas de aula, todos os assuntos básicos referentes
dos conteúdos e um incremento de carga horária na área de
ao desenho técnico aplicado à Arquitetura. A disciplina abrangia
representação gráfica. Apesar disso, o texto dos projetos de
conteúdos que iam desde o estudo das normas da Associação
ensino das disciplinas do eixo Projeto não deixam evidente o
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) até o desenho de
modo como esses assuntos e habilidades desenvolvidos
plantas, cortes e fachadas, tanto em meios analógicos como em
poderiam ser explorados na prática projetual. Parece haver
meio digital (AutoCAD) como revela o seu projeto de ensino.
98
A análise desse documento mostra, entre outras coisas, que
Mediante a leitura dos projetos de ensino das disciplinas de
sua carga horária correspondia a somente 15,38% do total das
projeto (Projeto Arquitetônico I ao VII), podemos constatar,
horas dedicadas à representação gráfica, além de ser a única
mais uma vez, essa separação. O desenho, tanto nas suas
com abordagem diretamente ligada ao projeto de Arquitetura.
versões analógicas quanto digitais, não aparece em nenhum
Aqui vale salientar o fato de que não havia nenhuma disciplina
momento como instrumento de concepção e reflexão do
que privilegiasse o desenho aplicado ao projeto urbanístico.
projeto. Quando termos relacionados à representação gráfica
A baixa carga horária observada, além da natural imaturidade e
inexperiência dos alunos, faziam com que a disciplina
abraçasse somente o estudo do desenho de residências
aparecem nos textos, eles parecem se referir somente a
produtos gráficos a serem entregues nas etapas de
desenvolvimento do projeto.
dúplex unifamiliares. Isso se mostrava insuficiente para as
Os projetos de ensino também não exprimem regularidade
necessidades de representação gráfica dos edifícios de maior
quanto à definição das etapas que o aluno deveria usar como
porte abordados nas disciplinas de projeto. Podemos observar
orientação no desenvolvimento de seu projeto. Em alguns
as consequências disso em alguns produtos gráficos de alguns
textos, não fica evidente quando aconteceriam as fases
trabalhos finais de graduação como será detalhado no capítulo
Análise, Síntese, Avaliação e Representação ou mesmo as
5.
etapas de produção (concepção, apresentação e
Além dessas limitações, e apesar da coerente sequência
documentação) já discutidas no Capítulo 2.
didática de tópicos, verificamos, também, pelo menos pela
Em relação ao uso do desenho à mão livre como instrumento
análise dos textos dos projetos de ensino, uma separação
de projeto, uma excessão pode ser constatada no projeto de
entre o ensino do desenho e da Geometria das suas
ensino de Projeto Arquitetônico II. Em sua Unidade III, cujo
aplicações práticas, mais especificamente ligadas à área de
objetivo é a definição do partido arquitetônico, resta claro que a
projeto.
análise e avaliação de todas as informações coletadas,
99
necessárias à adoção do partido arquitetônico da edificação,
disciplinas de desenho e de projeto arquitetônico, focos
devem ser explicados por meio de um texto e croquis.
deste estudo, constatamos, nos textos dos seus projetos de
Resta claro, nessa unidade, a cobrança do uso de croquis
como instrumento de comunicação e registro das ideias do
aluno, com origem no desenvolvimento gráfico do partido
adotado. Essa abordagem pode ser considerada válida, mas
denota uma incoerência fundamental. O uso do croqui como
instrumento de registro de ideias em situações de projeto
ensino, alguma coerência didática, na medida em que o
ensino do desenho e do projeto obedece uma hierarquia de
incremento de complexidades. Apesar disso, é notória,
também, especificamente na área de representação gráfica,
uma separação entre os assuntos da Geometria e do
desenho e o seu rebatimento no projeto.
nunca teria sido abordado em nenhuma das disciplinas de
Essa ruptura, constatada nesta análise, é expressa desde as
desenho tanto em suas vertentes conceituais quanto
primeiras disciplinas sobre representação gráfica e
instrumentais. Vale lembrar que a única disciplina que fazia
Geometria, e parece acontecer de modo mais evidente na
menção ao uso do desenho no processo criativo era Desenho
disciplina Técnicas de Representação I que, como já
de Observação, mas, mesmo assim, em um momento de
exposto, não conseguia atender às necessidades gráficas
pouca ou quase nenhuma experiência e/ou maturidade do
das disciplinas de projeto. Nessas últimas, como já
aluno nas relações com o projeto de Arquitetura.
comentado, o desenho é tratado somente como pacotes
Como vemos nas Tabelas 3 e 4, até o aluno atingir seu projeto
final de curso (Trabalho Final de Graduação), disciplina de
estudo desta dissertação, ele passava por seis disciplinas
ligadas à representação gráfica, sete disciplinas de projeto
arquitetônico, três de projeto urbanístico e uma de projeto
paisagístico. Se levadas em consideração somente as
gráficos de registro de entrega das propostas projetuais dos
alunos, e os instrumentos, tanto analógicos quanto digitais,
são desconsiderados como ferramentas de reflexão do
projeto.
100
4.3 A disciplina Trabalho Final de Graduação
sob o ponto de vista didático, é submeter o trabalho a uma
avaliação crítica anterior à banca final, mas também de dar
A disciplina Trabalho Final de Graduação (TFG) faz parte do
conhecimento, à comunidade acadêmica, sobre a produção do
eixo Projeto da matriz curricular 26.2 adotada em 2004 pela
curso, bem como de estimular o debate arquitetônico e
UNIFOR. Essa disciplina, posicionada no décimo semestre
urbanístico entre docentes e discentes dentro da instituição.
letivo, é precedida por outra chamada Pesquisa em
Arquitetura e Urbanismo (PAURB), locada no semestre
O período no qual o evento acontece não favorece que o
anterior. O principal objetivo da PAURB é produzir um texto
projeto esteja em um nível avançado de definições e isso nem
monográfico, no qual devem ser abordados os conceitos
mesmo é desejado dentro da metodologia da disciplina.
teóricos e onde há de estar registrado o levantamento de
Podemos afirmar, tomando como base o que foi detalhado no
dados do projeto a ser desenvolvido no semestre seguinte.
Capítulo 2, que os trabalhos estão, em sua maioria, entre as
Essa pesquisa é orientada, obrigatoriamente por um
etapas de concepção e apresentação (estudo preliminar), mas
professor com graduação em Arquitetura e Urbanismo,
ainda com forte presença de ações de análise, síntese,
pertencente ao quadro docente da instituição. Esse mesmo
avaliação e representação.
professor continuará orientando o aluno no semestre
seguinte, em seu projeto final de graduação.
Apesar disso, nessa etapa, já se pode observar intersecções
das fases bem como idas e voltas à fase de representação.
Durante o semestre de desenvolvimento do TFG, existem
Com suporte no que foi discutido no Capítulo 3, acreditamos
alguns compromissos que devem ser cumpridos pelo aluno,
que é justamente pelo caráter de indefinição que, para o
sendo o principal deles a Qualificação do TFG. Nesse evento,
registro gráfico (representação), o desenho à mão livre se
os alunos são obrigados a apresentar o estudo preliminar do
mostra mais adequado. As barreiras enfrentadas pelos
seu projeto para uma banca de professores e para a
discentes, entretanto, tanto no âmbito pessoal quanto das
comunidade acadêmica. O objetivo principal desse momento,
limitações da sua própria formação gráfica, repercutem,
101
entre outras coisas, na já citada deficiência gráfica e falta de
A forma de apresentação dos projetos é livre, mas deve ser feita
estímulo ao uso do desenho à mão livre. Observa-se essa
obrigatoriamente em equipamentos de projeção do tipo
ausência, tanto no processo de desenvolvimento e estudo do
Datashow. O aluno pode usar recursos digitais, analógicos e/ou
seu TFG, quanto como recurso de apresentação.
híbridos para produzir os desenhos, embora haja uma
orientação geral, por parte da coordenação do TFG e de alguns
Ciente desses problemas, o colegiado do curso, em acordo
orientadores, para o uso do desenho à mão livre.
com a coordenação do TFG (composta por nós à época),
adotou, em 2011, a obrigatoriedade de o aluno apresentar,
Depois da qualificação, o aluno deverá preparar o conjunto final
tanto na qualificação quanto na defesa da banca final, um
para a entrega à banca de defesa. Esse conjunto deve ser
histórico dos croquis produzidos durante a concepção e
entregue para a coordenação do curso e é composto
discussão de seu projeto. Esse requisito teve como objetivo
basicamente pela monografia, desenvolvida no semestre
estimular, tanto nos alunos como nos professores, a prática
anterior, pelas pranchas de desenhos técnicos e pelas
da reflexão do projeto por meio do croqui. Além disso, ela
perspectivas. A parte textual do conjunto deve conter, de acordo
também se mostrou eficiente como recurso de registro do
com as diretrizes da disciplina Pesquisa em Arquitetura e
processo e, por consequência, como mecanismo de
Urbanismo, os conceitos teóricos relativos ao seu objeto de
legitimação da autoria do aluno, podendo inclusive ser usado
estudo, além dos dados levantados, como: índices urbanísticos
como referência na avaliação da banca final.
do terreno, programa de necessidades, levantamentos
topográficos, diagnósticos urbanos, dentre outros. Na disciplina
A princípio, a obrigação do uso do desenho à mão livre diz
TFG, esse texto deve ser acrescido da defesa escrita do projeto
respeito somente à fase de concepção do projeto, mas em
e é nesse momento que os croquis deveriam ser inseridos,
nenhum momento as regras da disciplina proíbem o uso
embora isso nem sempre ocorra.
dessa técnica para os desenhos de apresentação, seja para
a banca de qualificação ou para a banca final.
102
Durante todo o processo, o concludente produz basicamente
alunos, também sob a orientação de um professor arquiteto (na
quatro produtos: a monografia teórica do seu tema com a
maioria das vezes o mesmo que o orientará no TFG), já
defesa final escrita; a apresentação (PowerPoint) para a banca
estudaram os conceitos, tecnologias, legislação e o programa
de qualificação; a apresentação (PowerPoint) para a banca
de necessidades referentes ao tema escolhido, além da
final; o conjunto de pranchas com os desenhos técnicos.
escolha do terreno. Dessa forma, os agentes do processo,
A partir de 2010, todo o material passou a ser recebido em
mídia CD-ROM. No CD, todos os arquivos (textos e desenhos)
devem estar gravados em formato PDF. A monografia deve
orientador e discente, já têm em mãos, mas principalmente na
do último, as informações necessárias para dar início aos
estudos de concepção do projeto.
estar em arquivo único, assim como cada prancha de desenho
Pelo exposto, percebemos que, quando o aluno inicia a
deve ser gravada em arquivos, separadamente. A entrega dos
disciplina final de seu curso, todas as condições para
arquivos PowerPoint com as apresentações não é obrigatória.
desenvolver o projeto já estão configuradas. Assim, o
A metodologia adotada na disciplina Trabalho Final de
Graduação determina que cada aluno seja orientado por um
professor da instituição, pertencente ao quadro de docentes do
curso de Arquitetura e que tenha obrigatoriamente graduação
em Arquitetura e Urbanismo, mas podendo ter pós-graduação
em áreas afins.
A orientação deve acontecer por meio de encontros
presenciais pelo menos uma vez por semana. Vale lembrar
que essa disciplina foi antecedida por PAURB, na qual os
concludente encontra uma situação favorável para expor suas
ideias. Essa exposição se dará pelo desenho. A maneira como
isso ocorre e os instrumentos utilizados, foco desta pesquisa,
serão detalhados e discutidos no capítulo 5.
103
5 O USO DO DESENHO NO TRABALHO FINAL DE
GRADUAÇÃO
disciplinas de projeto, contemplaria uma considerável coleção
de exemplares gráficos, com relativo amadurecimento, que
poderiam retratar, pelo menos em parte, a instrumentalização
Como demonstrado até aqui, os processos de criação e
registro gráfico em projetos arquitetônicos e urbanísticos
podem acontecer por intermédio de vários tipos de desenho,
técnicas e instrumentos, assim como do monólogo e/ou do
diálogo entre dois ou mais personagens. No que se refere ao
desenho, este estudo aponta como esse assunto é tratado
dentro do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo da
gráfica do estudante de Arquitetura ante às situações de
projeto. Deste modo, nos projetos aí desenvolvidos, seria
possível observar um panorama do estado do uso dos recursos
gráficos por parte do aluno concludente. Acreditamos que essa
produção também reflete o que o discente acumulou de
experiências extracurriculares no que diz respeito a expressão
gráfica.
Universidade de Fortaleza e como ele converge ou não para a
aplicação em práticas de projeto, mais especificamente, nas
Já foi mencionado que os discentes matriculados no TFG
fases de concepção e de apresentação.
devem cumprir uma série de compromissos para obter a
Como estudo de caso para essa dissertação, foram analisados
os projetos desenvolvidos para a disciplina Trabalho Final de
Graduação (TFG) da instituição supracitada. A escolha desse
material parte do pressuposto de que a coleção de assuntos e
disciplinas ligados à representação e expressão gráficas tem
como um dos objetivos fundamentais fornecer as bases
gráficas necessárias para as disciplinas de projeto e, dentre
elas, o TFG. Dessa forma, acreditamos que a produção
observada nessa disciplina, que culmina na sequência de
aprovação. No final do processo, o discente deve entregar à
coordenação do curso, para arquivamento, o conjunto
composto pela sua monografia e pelos desenhos do projeto.
Nesse material, devem estar contidos os registros gráficos
(croquis de estudo, desenhos de apresentação e desenhos
técnicos) produzidos ao longo da disciplina. Como se percebe,
esse material encerra valioso conteúdo gráfico capaz de revelar
elementos e rotinas inerentes ao modo como o estudante usa o
desenho na criação e na apresentação de seu projeto.
104
Neste capítulo, serão avaliados os desenhos coletados nos
5.1 Coleta e critérios de seleção
TFGs que pertencem ao banco de dados físico e digital da
coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo,
O acervo de TFGs da UNIFOR contava, de 2003 até o final do
guardados nas salas P14 e J6 do Campus da UNIFOR. A
semestre 2014.1, com 274 CD-ROMs e 286 conjuntos
análise buscará identificar o comportamento gráfico do
impressos, contendo basicamente dois tipos de documentos: a
discente e quais são, caso existam, as convergências e
monografia de pesquisa do tema desenvolvido no TFG e as
divergências com a matriz curricular cursada pelos autores
pranchas do projeto defendido na banca final. Vale lembrar que
dos projetos. Também será traçado um panorama dos
a monografia tem início um semestre antes, na disciplina
métodos, instrumentos e características das peças gráficas
Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo e que, na disciplina
produzidas pelos ex-discentes.
Trabalho Final de Graduação, ela é complementada com a
A avaliação será feita em dois momentos. No primeiro, mais
parte referente à defesa escrita do projeto. É importante deixar
generalista, serão considerados os dados quantitativos e
registrado o fato de que esses números podem ser objeto de
alguns quesitos qualitativos relativos a todo o material
alterações visto que muitos alunos só depositam o trabalho
reunido, ou seja, os 2.091 desenhos encontrados. No
corrigido algum tempo depois de sua defesa. Esse tempo varia
segundo momento, mas específico, será feito o estudo de
bastante, podendo ser até mesmo de vários anos.
caso dos trabalhos considerados mais relevantes de toda a
Todos os arquivos digitais principais (monografia e projeto)
amostra. Os critérios de escolha e justificativas serão
encontram-se em formato PDF. Em alguns CDs, foram
mostrados logo agora.
observadas quebras de protocolo por parte do aluno. Dessa
forma, foram encontrados arquivos de imagem digital (JPG) e
de apresentação de slides (PPT). Nas monografias, que são
entregues em arquivo único, são inseridos os croquis de
105
estudo e, em alguns casos, desenhos analógicos usados para
ocorrência de desenho com alguma característica analógica
apresentação do projeto. No mesmo documento também está
entrou na seleção inicial. É importante comentar que, por esse
o texto de fundamentação teórica do projeto (já detalhado) no
critério, a peça gráfica não precisava ter sido confeccionada
qual o ex-discente também relata suas intenções e partido
por métodos totalmente manuais, bastando haver qualquer
adotado. Esse foi o principal material usado na pesquisa.
indício de ação analógica. Deste modo, trabalhos que
contivessem, por exemplo, somente desenhos híbridos, já
O CD-ROM também contém todas as pranchas técnicas do
projeto. Nesse caso, cada arquivo equivale a uma prancha.
Em alguns casos, as perspectivas finais de apresentação
estavam inseridas nessas pranchas. Esse material só foi
levado em consideração em alguns exemplos específicos e/ou
na análise dos estudos de caso individuais.
discutidos no capítulo 3, foram considerados.
Inicialmente foram analisados todos os trabalhos arquivados
na Coordenação do curso, desde o ano de 2009 até o primeiro
semestre de 2014. O recorte temporal tomou como base a
análise feita no capítulo 3. Procuramos usar uma amostra de
alunos que tivessem sido formados por uma só estrutura
Como já exposto, o foco deste trabalho é o desenho analógico
curricular para minimizar algumas variáveis. Dessa forma,
usado para estudo, concepção e apresentação dos projetos
todos os trabalhos avaliados pertencem a ex-alunos formados
finais de graduação. Dessa forma, o primeiro critério de
na matriz 26.2. Embora durante a pesquisa tenham sido
classificação adotado foi bastante simples e eliminou todos os
encontrados bons conjuntos de peças gráficas produzidas por
trabalhos que não traziam registro de desenhos feitos por
alunos formados de 2003 a 2008, elas foram descartadas.
métodos analógicos. Nesse momento, não foram levadas em
Dentro do recorte temporal foram identificados 39 trabalhos
consideração a quantidade de desenhos dessa natureza no
arquivados de forma impressa sendo 25 do ano de 2009 e 14
conjunto de documentos do aluno nem suas características.
de 2010. Esse material também foi considerado na pesquisa.
Qualquer trabalho onde se verificou pelo menos uma
A primeira triagem, como já comentado, descartou todos os
106
trabalhos que não continham desenhos analógicos. Essa seleção
inicial permitiu a visualização prévia, nos trabalhos que continham
desenhos válidos, de todo o material arquivado. Isso possibilitou a
identificação de algumas características gráficas e também de
tipos de desenhos. Com essa constatação, foi feito um
levantamento quantitativo, buscando dados relativos aos
desenhos em três vertentes: quanto ao tipo, à técnica de
confecção e ao uso de cores.
Dessa forma, para o primeiro critério, foram identificados cinco
tipos básicos de peças gráficas: diagramas, plantas, cortes,
Figura 56 - Diagrama para estudo de implantação. Fonte: Acervo da
coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autor: Arthur
Braun.
fachadas e perspectivas. Com suporte no que foi expresso no
capítulo 3, foram considerados diagramas aquelas manifestações
gráficas que continham elementos genéricos, cuja finalidade era
de visualização de organogramas, programa de necessidades,
relações entre elementos, dentre outros. É importante registrar o
fato de que, para ser considerado um diagrama, o desenho não
podia conter elementos gráficos com características da simbologia
arquitetônica, tais como portas, árvores, caminhos, paredes,
Figura 57 - Estudo de ângulos para projeto de edifício. Fonte: Acervo da
coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autor: Camila
Bezerra Pereira.
escadas etc. As figuras 56 e 57 ilustram alguns exemplos dessa
tipologia.
Para as plantas foram consideradas todas as suas categorias
107
– plantas de situação, locação, planta baixa, coberta e plantas
de pavimentos. No caso de projetos urbanísticos, qualquer
recorte da área urbana de estudo representada em projeção
horizontal entrou na contagem das plantas. Para as
perspectivas, também foi adotada a mesma postura, podendo
elas ser de projeção cilíndrica ou cônica. Para todos os
desenhos (plantas, cortes, fachadas e perspectivas), foram
aceitos tanto aqueles que mostravam a totalidade da
edificação, quanto os que exibiam somente alguma parte do
edifício, do ambiente urbano ou somente um detalhe
construtivo. As figuras 58 e 59 exibem alguns exemplos.
Figura 58 - Coleção de desenhos de estudos. 2 plantas, 3 fachadas e 1
perspectiva. Fonte: Acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo
da UNIFOR. Autor: Luma Oliveira
Pode-se dizer que na contagem foi considerada muito mais a
intenção de registro do aluno do que as características
gráficas do desenho. Sendo assim, se o desenho
demonstrava que o autor estava registrando sua ideia por
meio de seções, ele seria contabilizado como corte. Se a
manifestação gráfica ocorria em projeções no plano horizontal,
seria contada como planta. Se ocorresse o registro de uma
projeção em plano vertical, ele seria anotado como elevação
e, se fosse um desenho de vista múltipla, seria registrado
como perspectiva.
108
Como já discutido, observamos que hoje existe grande
diversidade de técnicas que misturam recursos analógicos e/ou
digitais. Dessa forma, para a avaliação do material coletado, o
outro critério adotado se refere aos recursos utilizados na
produção dos croquis, havendo duas possibilidades: desenhos
produzidos sem a participação de recursos digitais (técnica
analógica) [Fig. 59] e desenhos produzidos com a participação de
recursos digitais (técnica híbrida) [Fig. 60].
Apesar de algumas evidências poderem denunciar os
instrumentos utilizados para a feitura das peças gráficas, optamos
Figura 59 - Perspectivas de estudo para detalhes construtivos. Fonte:
Acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR.
Autor: Fernando Melônio
por não considerar as ferramentas usadas no levantamento, pois
cremos que haveria grande possibilidade de incorrer em erros.
Dessa forma, para esse levantamento de dados, foi considerado o
aspecto final do desenho, ou seja, se o registro tinha evidências
do uso de qualquer recurso digital, ele foi considerado como
híbrido, caso contrário, como analógico. Em alguns casos, como
será detalhado nos estudos de caso individuais, o texto do exdiscente fazia menção ao modo como o estudo foi feito, revelando
os instrumentos usados. Em outros casos, as entrevistas
Figura 60 - Corte esquemático colorido digitalmente. Fonte: Acervo da
coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autor:
Nikassio Freire
aplicadas (Apêndice D) também apontaram para algumas pistas a
esse respeito.
109
Sabemos que os croquis digitalizados podem ser objeto de
intervenções digitais para melhoramentos de contraste, brilho e
limpezas de sombras e/ou imperfeições da mídia utilizada, mas,
para esse quesito, é importante esclarecer que esse tipo de
edição não foi considerada para classificar a técnica do desenho
como híbrida.
No quesito cores, a avaliação tentou manter a objetividade das
demais. Foi considerado como colorido todo desenho que
continha qualquer outra informação de cor [Fig. 62] que fosse
diferente do preto e/ou do cinza-grafite, quando houvesse pelo
Figura 61 - Estudo de percursos para o projeto de uma praça. Fonte: Acervo
da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autor:
José Aderson A. Passos
menos um deles. Baseado nisso, croquis feitos em sépia,[Fig. 61]
por exemplo, seriam considerados monocromáticos. A escolha
desse critério baseia-se na suposição, confirmada por Lapuerta
(1997), de que esse recurso é importante na visualização e
setorização das decisões projetuais por parte dos alunos, além de
determinante para a legibilidade nos sistemas de projeção, como,
por exemplo, o Datashow.
Todos os itens foram cruzados e organizados em tabela única
(Apêndice A). A organização das linhas e colunas permitiu, ao final
do levantamento, conseguir os quantitativos dos desenhos com
três características distintas. Sendo assim, por exemplo, podemos
111
concepção e apresentação, discutidas no Capítulo 2, procuramos
selecionar, dentro do conjunto de desenhos encontrados, somente
aqueles trabalhos que contivessem os desenhos produzidos como
recurso de estudo e/ou de diálogo entre o aluno e seu orientador,
assim como os desenhos que foram confeccionados para a
apresentação, tanto para a banca de Qualificação do TFG quanto
para a banca final de defesa. Por esse critério, dos 34 conjuntos
pré-selecionados restaram 15.
Como terceiro filtro consideramos a maneira como os desenhos se
relacionavam com o texto. Nesse caso, foram escolhidos os
trabalhos que usaram os croquis paralelamente ao texto para
defender a concepção de seu projeto. Aqui restaram os cinco
Figura 63 - Estudo de implantação. Fonte: Acervo da coordenação
do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unifor. Autor: Bruna
Costa.
trabalhos que julgamos serem os mais adequados para os
estudos de caso individuais.
Para esses cinco projetos, outros critérios de avaliação foram
aplicados. O primeiro levou em consideração o foco desta
pesquisa. Dessa forma, buscamos separar quais seriam os
desenhos de estudo e quais seriam os desenhos de
apresentação. Foram considerados “desenhos de estudos”
aqueles que faziam parte do histórico de croquis, caracterizando-
112
se como registro de ideias. Foram considerados como “desenhos
de apresentação” aqueles que apontavam para uma
representação gráfica de um determinado aspecto do projeto,
possuindo características gráficas de arte-final. As diferenças
entre esses dois quesitos podem ser observadas nas Figuras 63,
64, 65 e 66.
Em todos os casos (desenhos de estudo ou de apresentação,
analógicos ou híbridos) foram avaliados como os principais tipos
de desenho adotados (plantas, cortes, fachadas e perspectivas)
eram usados no desenvolvimento do projeto. A menor quantidade
Figura 64 - Implantação para apresentação na Qualificação. Fonte: Acervo
da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unifor. Autor:
Bruna Costa.
de desenhos nessa última seleção permitiu que fossem avaliadas
as características das peças gráficas (traços, sombras, texturas,
cores) e os instrumentos e técnicas utilizadas para sua execução.
Também foi investigado o modo como essas características se
relacionavam com o estudo do projeto e com a formação do aluno.
É importante observar que alguns dos critérios poderiam não
existir. Dessa forma, alguns conjuntos de desenhos não exibiam,
por exemplo, o uso de cores. Em outros casos, não foram
encontrados todos os tipos de desenho (plantas, cortes, fachadas
e perspectivas) ou não continham exemplares de técnicas mistas
113
ou analógicas. Os detalhes serão discutidos posteriormente.
Para coleta e organização das peças gráficas, foi usado o recurso
de captura de tela para desmembrar os desenhos do restante do
arquivo. Para garantir um mínimo de qualidade gráfica, a captura
foi feita na tela de um iPad quarta geração, que possui 2048x1536
pixels de resolução, respeitada a resolução original da imagem.
Uma vez separados os desenhos de seus arquivos PDF, eles
foram organizados em pastas devidamente identificadas pelos
nomes dos autores.
Figura 65 - Perspectiva de estudo. Fonte: Acervo da coordenação do curso
de Arquitetura e Urbanismo da Unifor. Autor: Aline Guedes.
Para complementar as observações e/ou confirmar algumas
impressões conseguidas no material gráfico, foram aplicados dois
questionários, sendo o primeiro (Apêndice B) aos professores
orientadores e o segundo (Apêndice D) aos alunos selecionados
para os estudos de caso.
A seguir, será feita a análise geral dos dados. Com era esperado,
a maior incidência de croquis acontece desde os trabalhos
defendidos depois do semestre 2011.2, quando foi implementada
(depois de reunião do colegiado do curso) a obrigação do aluno
apresentar o histórico de croquis como quesito da sua
Figura 66 - Perspectiva de apresentação. Fonte: Acervo da coordenação do
curso de Arquitetura e Urbanismo da Unifor. Autor: Aline Guedes.
114
qualificação. Apesar disso, observamos também um
5.2 Apresentação e análise dos resultados
considerável número de trabalhos sem nenhuma menção ou
registro de desenhos analógicos, como será detalhado mais
Foi coletado um total de 2.091 peças gráficas, sendo que,
adiante.
destas, 1.278 são desenhos analógicos e/ou híbridos e 813 são
totalmente digitais. Todas foram usadas ou na fase de
Nos trabalhos nos quais eles apareciam, verificamos que há
muita variação de técnicas gráficas, tipologias e quantidades.
Em alguns momentos os alunos tomam partido do desenho
como elemento para explicar suas intenções de projeto e em
concepção ou na fase de apresentação dos projetos. Elas
estão em 122 trabalhos dos 295 avaliados. Os números
apontam para algumas constatações e podem indicar
fragilidades e potenciais a serem explorados.
outros ele apenas aparece durante o texto sem nenhum tipo
de referência. Também percebemos considerável diversidade
Dada a quantidade considerável de desenhos, optamos aqui
e irregularidade nos aspectos gráficos, como será
por explanar primeiro sobre as impressões gerais percebidas
demonstrado na sequência.
durante a coleta e organização do material, usando alguns
exemplos para ilustrar as observações. Tabelas e gráficos
serão usados para explicar os dados. Na sequência, de acordo
com o exposto antes, serão mostrados os estudos de caso.
Na primeira avaliação geral, algumas constatações já puderam
ser feitas. Quanto ao tipo de projeto, apesar de somente
18,30% deles serem de temática ligada ao urbanismo, a
pesquisa conseguiu levantar que o percentual de ocorrências
de desenhos analógicos nesse tipo de projeto é praticamente
igual ao observado em projetos de Arquitetura. A diferença foi
116
Tabela 6 - Quantidade de TFGs com registros analógicos e/ou híbridos,
por ano
registro gráfico somente em 2012 e por força de uma decisão do
colegiado, talvez esteja na própria estrutura curricular do curso,
ANO
TFGs
COM DESENHOS
ANALÓGICOS/
HÍBRIDOS
2009
47
14
29,79%
De acordo com o já levantado, a Matriz Curricular 26.2, que
2010
54
11
20,37%
formou os alunos dessa amostragem, tinha ao todo cinco
2011
61
18
29,51%
disciplinas que tratavam especificamente da representação
2012
66
40
60,61%
gráfica, sete disciplinas de projeto arquitetônico, três de projeto
2013
53
33
62,26%
urbanístico e uma de paisagismo. Quando, porém, procuramos
2014
14
6
42,86%
nas ementas e conteúdos dessa mesma matriz termos como
Total
295
122
41,36%
“croquis” e/ou “desenho à mão livre” somente o primeiro é
Fonte: Acervo do autor
PERCENTUAL
avaliada no capítulo 4.
encontrado e em apenas uma disciplina do eixo de projeto
(Projeto Arquitetônico II). Os dois termos são achados em única
disciplina do eixo Representação e Expressão (Desenho de
Observação), que se encontra no primeiro semestre quando os
alunos ainda não adotam práticas de projeto.
Nas demais disciplinas, além da ausência dessas palavraschave, também não são identificados capítulos e/ou frases que
façam qualquer menção ao uso desses recursos. Nota-se,
portanto, que parece existir uma lacuna entre as disciplinas que
contemplam o cabedal de conhecimentos da área de desenho e
117
as disciplinas de projeto arquitetônico (inclusive o Trabalho
A falta de formalização do ensino/aprendizagem do desenho à
Final de Graduação), onde esses assuntos deveriam ser
mão livre nas disciplinas dos eixos Representação e Expressão e
aplicados.
Projeto parece também não repercutir na ausência dessas
habilidades nos alunos concludentes. Acreditamos que haja muito
Apesar de observada a ausência quase total dos termos
retrocitados das ementas e conteúdos das disciplinas de
projeto, sabemos que existe o estímulo ao uso do croqui
como instrumento de concepção de projeto por parte de
alguns docentes, como revela o resultado do questionário
mais a falta de hábito no uso do croqui e/ou da percepção de
como o desenho à mão livre poderia ser explorado no processo
de projeto. Uma das consequências disso foi a necessidade da já
comentada cobrança, a partir de 2012, do uso desse instrumento
como quesito básico da Qualificação do TFG.
aplicado a eles (Apêndice B).
Vale registrar o fato de que a baixa incidência de croquis
De acordo com os dados (Apêndice C), todos os orientadores
revelaram que cobram o uso de croquis na concepção do
projeto e nos estudos preliminares, tanto nas disciplinas de
projeto quanto no TFG. Alguns informaram que também
exigem que esse recurso seja usado para a apresentação dos
inseridos nos trabalhos de 2009 a 2011 não quer dizer que eles
não tenham sido usados durante os TFGs dessa época, mas os
números parecem revelar o desinteresse e/ou a desorientação do
aluno, nesse período, sobre as possibilidades de usá-lo como
componente do histórico de seu projeto final de graduação.
projetos. Praticamente 50% dos professores que
responderam ao questionário anotaram que o uso do croqui é
Não é objetivo desta pesquisa mensurar se esse requisito trouxe
obrigatório enquanto a outra metade relata que solicita o uso
ou não incremento na qualidade dos projetos, mas é certo que a
do desenho à mão livre, mas deixa a critério do aluno usá-lo
obrigação de o formando exibir a concepção do projeto por meio
ou não. Percebemos, portanto, que, embora o documento que
de croquis, pelo menos, o induziu a produzir esse tipo de
norteia o curso pareça relegar esse recurso ao segundo
desenho e explicitou tanto as suas deficiências quanto as suas
plano, isso não se reflete na atitude dos docentes.
habilidades gráficas.
118
É interessante observar que esperávamos que o histórico de
croquis e a descrição do processo de concepção do projeto
estariam em todos os arquivos das monografias, mas isso só foi
observado em 41,08% dos casos.
Alguns fatores podem explicar esse dado. Um deles se dá pelo
próprio processo da disciplina. De acordo com o levantamento,
notamos que a obrigatoriedade de mostrar um histórico de
croquis aumentou o uso desse recurso na confecção do TFG.
Basta ver quantos exemplos foram encontrados no ano de 2012,
quando o requisito foi implementado, em comparação com 2009.
Percebemos, entretanto, que esse item obrigatório não atingiu
todos os concludentes e/ou seus orientadores. Em algumas
situações, como mostra o exemplo da Figura 67, a discente
Figura 67 - Implantação colorida com lápis de cor. Fonte: Acervo da
coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autor: Ana
Lúcia Figueiredo.
apresentou um só exemplo de croqui na defesa escrita do projeto
e mesmo ele não aparenta ser um desenho de estudo, mas sim
de apresentação.
Em nenhum dos casos descritos, é possível concluir que não
houve o uso dos croquis durante o desenvolvimento do projeto/
orientação; e as respostas do questionário aplicado aos
orientadores confirma isso. Parece ficar explícito, entretanto, que
o autor deu pouca importância a esse recurso e/ou tentou usá-lo
119
somente para cumprir um dos requisitos da disciplina. Essa
hipótese ganha força, quando comparamos esses exemplos com
aqueles que usaram fartamente os croquis no seu projeto.
Percebemos, nesses casos, que a evolução do pensamento
encontrou no registro de esboços um forte e importante aliado na
defesa do projeto. As Figura 68 e 69 mostram exemplos desses
casos.
Figura 68 - Estudos de volumetria. Fonte: Acervo da coordenação do curso
de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autor: José Berlan Filho
Algumas outras especulações podem ser suscitadas. Sabemos,
por exemplo, que existe uma tendência natural, já descrita por
Edwards (2000), por parte de algumas pessoas, de menosprezar
e/ou abandonar aqueles registros gráficos que não se
enquadrariam nos modelos de desenhos bonitos ou bem
acabados. Dessa forma, passada a fase na qual a apresentação
dos croquis é obrigatória, o autor os abandona e/ou seleciona
somente aqueles que julga dignos de compor seu conjunto de
entrega final.
Os números levantados dão força a essa hipótese. De todos os
conjuntos analisados, somente em 41,36% dos casos
observamos de desenhos analógicos e/ou híbridos. Entre os 122
Figura 69 - Desenhos diversos para estudo de edifício. Fonte: Acervo da
coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autor: Camila
Bezerra
trabalhos que contêm esses desenhos, 39 têm cinco ou menos
registros dessa natureza, o que equivale a 31,96% do total.
120
Dentro desses 39 conjuntos, dez trazem somente um exemplar
de desenho com ação analógica. Em muitos casos, os desenhos
de estudo não aparecem ou não ocorrem em quantidade
suficiente para caracterizar estudos aprofundados.
Se esses números não são capazes de revelar que somente
esses desenhos tenham sido confeccionados durante o
processo, eles certamente revelam que, para esses alunos, seus
Figura 70 - Croqui inicial e resultado final. Fonte: Acervo da coordenação
do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autor: Ivaldo
Castanhede
croquis não foram considerados suficientemente relevantes para
participarem da defesa escrita de suas ideias, já que foram
excluídos da entrega final do TFG para a banca.
Observemos na Figura 70 o comparativo entre o único croqui
apresentado pelo autor do projeto e o resultado da implantação
de seu conjunto. No seu texto, o ex-discente declara que o croqui
representa sua “ideia inicial”. Percebe-se que o resultado final
tem coerência com essa primeira ideia, mas, ao mesmo tempo
revela que possivelmente o aluno não tenha atravessado as
etapas previstas por Lawson (2011) e discutidas no capítulo 2. A
Figura 71 - Croqui inicial e resultado final. Fonte: Acervo da coordenação do
curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autor: Bruna Diógenes.
primeira ação de síntese e registro não passou, pelo menos não
através do uso de croquis, pelas revisões do autor até chegar ao
resultado final.
121
A escassez de registros de estudos também pode ser explicada
pela ansiedade natural dos estudantes, mesmo os concludentes,
em considerar o projeto resolvido já nos primeiros sinais de
solução. Também é preciso considerar que, como apontado pela
entrevista feita com os professores, muitos optam por discutir e
estudar o projeto diretamente no computador por meio de
ferramentas como, por exemplo, o AutoCad. Sobre isso, os
docentes revelaram que a apresentação dos estudos do projeto
por meio de recursos digitais, tanto em 2D quanto em 3D, é
Figura 72 - Croquis de estudo Fonte: Acervo da coordenação do curso de
Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autor: Juliana Guerreiro
bastante frequente.
Na Figura 71, vemos mais um exemplo de um desenho declarado
como “de estudo" por outra autora e o resultado final apresentado
em banca. Percebemos a fragilidade técnica do registro, que
parece misturar uma seção de terreno com uma perspectiva
axonométrica, além da também frágil relação com a proposta
final.
Tanto nesses exemplos como em outros, nota-se uma grande
variedade de características que deixam evidenciado o grau de
amadurecimento gráfico do concludente, como pode ser visto nas
Figura 73 - Croquis de estudo Fonte: Acervo da coordenação do curso de
Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autor: Nikassio Freire
Figuras 72 e 73. Sabe-se, e Edwards (1997) também nos
confirma, que a falta de prática e de referências gráficas pode
122
resultar em desenhos com aspecto infantil, mesmo que
embora se saiba que ela não existe. Esse pensamento,
produzidos por adultos. A autora deixa claro que não há nada
acreditamos, atrapalha a relação entre o concludente e os
de anormal nisso, uma vez que nesses casos a imagem
croquis de estudo.
impregnada na mente do agora adulto ainda é a dos desenhos
feitos enquanto criança.
Podemos tentar fazer alguma especulação sobre qual seria o
comportamento dos alunos se as normas da disciplina os
Os problemas didáticos e lapsos de conteúdos já discutidos
obrigassem a inserir todos os produtos gráficos na entrega final.
dão um indicativo para explicar esse problema. O uso de
Parece evidente que os números seriam bem maiores, mas
croquis como instrumento de projeto não é abordado nas
também devemos considerar que a inclusão espontânea desses
disciplinas de fundamentação gráfica. A falta de referências e
registros cria um filtro natural de exemplares, na medida que é
de exercício constante do desenho à mão livre no ato projetual
razoável admitir que esses desenhos não estariam presentes se
causa desconforto e insegurança aos alunos. Ciriani1 apud La
não tivessem sido considerados relevantes pelo autor para
Puerta (1997, p. 103) nos dá uma pista das razões que levam
explicar seu pensamento ao desenvolver o projeto.
a essa insegurança, quando comenta sobre os sentimentos de
prazer ou de angústia que alunos podem ter no ato de
projetar. Nas palavras do autor, “al principio, el placer aparece
cuando la angustia de representar mal es vencida”. Essa "má
representação” pode ser notada no material colhido. É notória
a falta de amadurecimento gráfico e como consequência
direta disso vem o receio do aluno em explicitar os croquis
produzidos. Parece haver, na concepção do aluno, uma
relação direta entre desenhos bem feitos e bons projetos,
Foi observado também que, em alguns trabalhos, o aluno
aparenta estar somente cumprindo a exigência da disciplina. Em
um dos conjuntos, por exemplo, observamos que todos os
desenhos de plantas e cortes tinham sido produzidos em meio
digital, mas com a aplicação de filtros que simulavam o desenho
à mão livre. Notamos aqui uma distorção do uso do croqui, na
medida em que as características e possibilidades inerentes ao
registro livre, defendidas por Laseau (2001) e já discutidas, são
abandonadas, ficando somente a “estética gráfica”, ou seja, o
1 Ciriani, Henri Eduard. Letters Ouverts en el Catálogo Imagenes et Imaginaires …, p.142
125
Por outro lado, esse número também pode revelar uma atenção
exagerada dos alunos à representação em plano horizontal,
limitando sua percepção às suas duas dimensões (larguras e
profundidades) enquanto que a altura, que complementaria os
aspectos espaciais, tanto interna quanto externamente, ficaria
relegada a segundo plano. Considerando o que afirma Zevi
(2009), se a planta é incapaz de oferecer todos os aspectos
necessários para perceber a arquitetura em sua totalidade, outros
recursos gráficos deveriam entrar em cena. Seriam eles os
cortes, as fachadas e as perspectivas.
Figura 76 - Conjunto de plantas de estudo. Fonte: Edição do autor a partir do
acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR.
Autoria dos desenhos: Tamirys Soares Sena.
Sobre os dois primeiros, os números mostram que seu uso é
pequeno quando comparado às plantas e às perspectivas,
destacando as fachadas, que só aparecem em 6,28% dos casos.
Já foi detalhado que, segundo Fraser e Henmi (1994), o uso de
somente duas dimensões no desenho de cortes e fachadas
permite maior concentração em determinados aspectos de um
edifício, sendo essa uma das características da força desse tipo
de representação. O que percebemos, contudo, é que é
justamente a abstração da projeção em plano vertical que talvez
Figura 77 - Perspectiva NPR com resultado da proposta. Fonte: Edição do autor
a partir do acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da
UNIFOR. Autoria dos desenhos: Tamirys Soares Sena.
afaste o aluno desse recurso. Vale lembrar que plantas, cortes e
fachadas são visualizações difíceis de serem percebidas nas
126
obras construídas de Arquitetura.
Isso também fica latente quando se observa a quantidade de
perspectivas que representam 27,63% do total. O número
surpreende, na medida em que essa seria a representação que
traria mais dificuldades técnicas para a confecção, mas parece
que aqui prevalece o que é defendido por Ching e Juroszek
(2007). O fato de a perspectiva proporcionar a múltipla visão
(visualização de várias faces) do objeto e de oferecer uma
representação mais próxima da realidade, quando comparada
aos cortes e fachadas, atrai o aluno. O que a pesquisa constatou,
Figura 78 - Estudos em perspectiva. Fonte: Edição do autor a partir do
acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR.
Autoria dos desenhos: Maria Consuelo Nóbrega
entretanto, foi que, de uma maneira geral, os desenhos carecem
de apuro técnico e precisão. Em muitos casos, não é possível
definir em qual categoria a perspectiva se encaixa, como pode
ser percebido nas Figuras 78 e 79.
Vale lembrar que a matriz curricular que formou esses arquitetos
possuía uma disciplina específica e bastante detalhada sobre
perspectivas. Com o suporte dessa cadeira, esperávamos um
resultado gráfico mais consistente. É fácil perceber, entretanto,
que os discentes, após serem aprovados nessa disciplina, dão
prioridade ao uso dos programas de modelagem para conseguir
as perspectivas dos projetos acadêmicos. Sendo assim, quando
127
tomam a iniciativa de fazer perspectivas usando croquis, faltamlhes conhecimento e práticas necessárias. É preciso deixar claro
que a ausência de correção geométrica não invalida os desenhos
como estudo. Se eles tiverem sido capazes de registrar o
pensamento do autor e de orientá-lo na tomada de decisões,
então terão sido exitosos.
A quantidade de desenhos sofre algumas variações quando são
considerados os projetos de edificação, em comparação com os
projetos de temática urbanística. As Tabelas 8 e 9 mostram esses
números. Os dados apenas comprovam que determinados
desenhos são mais adequados a alguns tipos de projeto. Nos
projetos envolvendo questões urbanísticas, os cortes aparecem
Figura 79 - Estudos em perspectiva. Fonte: Edição do autor a partir do acervo
da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR. Autoria dos
desenhos: Arthur Braun.
na frente das plantas, principal estrela dos projetos de edifícios,
mas perdem o posto de primeiro lugar para os diagramas. Como
era esperado, o número de desenhos de elevações decresce
bastante, enquanto as perspectivas mantêm um percentual
similar ao que acontece nos projetos de Arquitetura.
Ao mesmo tempo que esses dados revelam uma tendência ao
uso de tipos de desenhos de acordo com os tipos de projeto eles
também explicitam alguns aspectos que merecem atenção. Em
ambos os casos, projetos de arquitetura e projetos urbanísticos, a
128
Tabela 8 - Quantidades de desenhos, por tipologia e tema do projeto
principal forma de representação são os diagramas, as projeções
horizontais e verticais (plantas, cortes e fachadas) que
ARQUITETURA
TIPO DE
DESENHO
TOTAL
PERCENTUAL
DIAGRAMAS
96
10,28%
PLANTAS
362
38,76%
CORTES
128
13,70%
FACH/ELEV
74
7,92%
PERSPECTIVAS
274
29,34%
Total
934
100,00%
correspondem, respectivamente, a 70,66 % e 77,33% dos
desenhos usados, o que pode indicar mais uma vez uma atenção
menor aos aspectos espaciais das propostas.
Também foi constatado no levantamento o fato de que o desenho
à mão livre não está restrito aos critérios da disciplina, ou seja,
esse recurso não é usado somente para apresentar o histórico de
croquis de estudo. Observamos que há uma quantidade
considerável de uso desse recurso como instrumento de
Fonte: Acervo do autor
confecção de desenhos de apresentação. Como não há
Tabela 9 - Quantidades de desenhos, por tipologia e tema do projeto
obrigação dentro da disciplina, acreditamos ser essa uma opção
espontânea do aluno e/ou sugestão do seu orientador.
URBANISMO
TIPO DE DESENHO
TOTAL
PERCENTUAL
DIAGRAMAS
95
27,62%
PLANTAS
76
22,09%
CORTES
89
25,87%
FACH/ELEV
6
1,74%
PERSPECTIVAS
78
22,67%
que usa desenhos técnicos feitos em programas CAD e/ou
Total
344
100,00%
modelos tridimensionais genéricos como base para a confecção
Fonte: Acervo do autor
Vale ressaltar, entretanto, a ideia de que esses desenhos são
fortemente subsidiados pelos recursos digitais, como mostram os
dados da Tabela 10. Nela, se percebe que praticamente 1/3 dos
desenhos analógicos tive a intervenção de algum recurso
computacional. A técnica que aparece com maior frequência é a
de plantas, cortes, fachadas e perspectivas com acabamentos à
129
Tabela 10 - Quantidades de desenhos por técnica de confecção
mão livre geralmente, em caneta e lápis de cor. Um exemplo
pode ser visto na Figuras 80.
CARACTERÍSTICAS
TOTAL
PERCENTUAL
ANALÓGICOS
942
73.71%
Apesar disso, notamos também que o computador é usado pelo
HÍBRIDOS
336
26.29%
aluno prioritariamente como recurso de representação gráfica
Total
1,278
100.00%
seja por técnica híbrida ou totalmente digital. Somente em alguns
Fonte: Acervo do autor
episódios, foi constatado o uso de softwares simuladores para
auxiliar nas decisões de projeto. Um exemplo pode ser visto na
Figura 81.
O uso dos recursos eletrônicos somente como instrumento de
representação
observado na maioria dos trabalhos, embora
evidencie, segundo Cardoso (2005), uma subutilização dessas
ferramentas, parece coerente com o modo como os ex-alunos
foram orientados durante curso. De acordo com o relatado no
capítulo 4, as atividades das disciplinas específicas, da área de
computação gráfica aplicada, eram trabalhadas em separado da
realidade dos projetos com foco prioritário no aprendizado
instrumental. Situação semelhante observamos nas disciplinas de
projeto. Mais uma vez, vale lembrar que esse tipo de orientação
Figura 80 - Perspectiva de apresentação a partir de base do SketchUp. Fonte:
Edição do autor a partir do acervo da coordenação do curso de Arquitetura e
Urbanismo da UNIFOR. Autoria dos desenhos: Renata Freitas
pode ter ocorrido por parte de alguns professores, mesmo que os
documentos da disciplina (projeto de ensino) não o fizessem.
Mesmo assim, esse tipo de aplicação foi quase inexistente ou,
130
pelo menos, pouco registrado na defesa escrita dos projetos.
Aqui cabe uma observação feita por nós que não guarda relação
direta com o foco de estudo, mas que revela uma rotina dos
alunos em relação ao uso do computador e às perspectivas
finais. O levantamento quantitativo da amostra revelou que, como
já esperado, 100% das perspectivas finais foram produzidas por
meio de ferramentas digitais ou, pelo menos, de forma híbrida.
Elas aparecem até mesmo no caso em que os alunos optaram
por usar o desenho à mão livre para os desenhos de
apresentação.
Figura 81 - Modelagem 3D usada para estudos. Fonte: Edição do autor a
partir do acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da
UNIFOR. Autoria dos desenhos: Davi Felício Fiúza
Apesar disso, não há grande variação no tipo de software
utilizado. A maioria desses produtos gráficos foi gerada no
SketchUp. Essas constatações não surpreendem, visto que esse
instrumento, além de ter elevado grau de aceitação entre os
discentes, é a principal ferramenta digital ensinada no curso. Um
dado, entretanto, chamou-nos a atenção. De todas as
perspectivas eletrônicas usadas para a apresentação dos
projetos, 65% delas tinham acabamento final (Rendering) do tipo
NPR (Non Photo Realistic) que tem como principal característica
o aspecto similar ao do desenho artístico e analógico. Em dois
dos casos estudados, os alunos optaram, inclusive, por usar esse
132
Tabela 11 - Quantidades de desenhos por uso de cores
O uso de cores se mostrou muito presente na amostra coletada,
CARACTERÍSTICA
TOTAL
PERCENTUAL
como é notório nos percentuais da Tabela 11. Percebemos na
COLORIDOS
853
66,74%
análise dos desenhos que esse recurso gráfico não tem por
MONOCRO
425
33,26%
objetivo a representação realista dos materiais especificados nos
Total
1278
100,00%
projetos. O que constatamos é o uso da cor como elemento
Fonte: Acervo do autor
gráfico para apresentar intenções de acabamentos, para
estabelecer hierarquias de funções ou compor legendas
indicativas como visto na Figura 84.
Podemos também notar que, de maneira geral, os desenhos
coletados não denotam graves erros de âmbito geométrico
embora sejam carentes quanto à hierarquia de traços,
principalmente quando se consideram aqueles usados para
apresentação. O fato de a apresentação acontecer
obrigatoriamente em dispositivos de projeção com resolução
máxima de 800x600 pixels (Datashow) força o aluno a digitalizar
os croquis e isso nem sempre é feito de maneira correta,
ocasionando a perda de qualidade e até mesmo de legibilidade.
Já foi dito que a única disciplina que aborda diretamente o ensino
do desenho à mão livre no curso da UNIFOR é Desenho de
Observação, e ela se encontra no primeiro semestre. Depois há
somente uma menção à palavra croquis na disciplina Projeto
133
Arquitetônico II e a total ausência de procedimentos didáticos
para o ensino desse recurso. Apesar desse hiato, a resposta dos
alunos à solicitação de apresentar croquis no desenvolvimento do
TFG parece satisfatória e demonstra que, apesar de não haver
treinamento e/ou ensinamentos diretos desse instrumento, há
alguma habilidade adquirida. Acreditamos que ela possa vir de
cursos extracurriculares, do próprio estímulo de alguns
professores nas disciplinas de projeto e/ou do interesse natural
de alguns discentes.
A seguir serão mostrados os estudos de caso. Para esses
trabalhos, a avaliação foi mais minuciosa e contou com as
informações obtidas em questionário aplicados aos autores dos
projetos.
Figura 84 - Uso da cor nos croquis. Fonte: Edição do autor a partir do
acervo da coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR.
Autoria dos desenhos: Lisiane Freitas
134
5.3 Estudo de caso 1: TFG de Luana Ferreira Cavalcante
Arquiteta: Luana Ferreira Cavalcante.
Ano/Semestre da defesa do TFG: 2013/1.
Orientador(a): Prof. Mário Antônio da Silva Guerra Roque.
Tema: Complexo de Cinema do Ceará.
Matriz Curricular: 26.2.
Instrumentos analógicos utilizados:
Canetas tipo Unipin,
canetas Tombow, lápis 2B, lapiseiras 0.7 e 0.9, papel manteiga,
papel formatos A4 e A3 (texto da entrevistada).
Ferramentas digitais utilizadas: Sketchup, CorelDraw e o
AutoCAD em computador pessoal.
Data dos desenhos: Janeiro a julho de 2013.
Peças gráficas: Plantas e perspectivas.
Autoria: Todos os desenhos analógicos e digitais foram
produzidos pela autora do projeto.
Resumo do projeto: O projeto da ex-discente propõe, através de
edificações predominante horizontais, um complexo de salas de
cinema e equipamentos correlatos em um terreno que abarca
dois quarteirões localizado na zona sul de Fortaleza às margens
de sua principal avenida, a Washington Soares.
Respostas do questionário: Apêndice E.
135
O partido do projeto surgiu da concepção de que um
equipamento urbano de grande porte, como o aqui
proposto, deve possuir total relação com o seu
entorno imediato e com a cidade. Assim, desde o
início houve a preocupação para que a forma dos
blocos contribuísse para a melhor relação do
conjunto com a cidade. Desta forma, pensou-se em
dispor os edifícios a partir de um ponto central,
sempre levando em consideração a ventilação, a
insolação, a topografia acentuada do terreno, os
acessos principais e as visuais mais marcantes.
(CAVALCANTE, 2013, p. 60)
As palavras da autora do projeto deixam claro que, nos seus
estudos iniciais, a relação dos edifícios com seu entorno imediato
era ponto fundamental do partido adotado. Essa postura aponta
Figura 85 - Estudos de implantação.
a razão pela qual foi dada grande atenção a plantas e
Fonte: Complexo de Cinema do Ceará - Pág. 61a
perspectivas aéreas, como será detalhado a seguir. A escolha
pelas projeções ortográficas em vista superior, como já exposto
antes e afirmado por Fraser e Henmi (1994), mostra-se pelas
suas características, adequada para o estudo das massas e suas
relações com o lote e com os seus acessos.
Podemos observar nos croquis de estudo a evolução das
decisões da ex-discente no sentido de organizar espacial e
geometricamente os volumes principais do complexo proposto.
136
Os desenhos [Fig. 85], feitos a lápis sobre papel sulfite, mostram
inicialmente três formas básicas que se interceptam, mas de
forma quase aleatória e aparentemente sem rigor geométrico. As
linhas rapidamente esboçadas parecem querer ter alguma
relação com os centros geométricos do elemento em formato de
meia-lua, mas os traços não demonstram isso.
Como também afirma a autora, a convergência dos edifícios para
um centro é outro ponto norteador das suas decisões e como
consequência disso o elemento principal, que abrigará as salas
Figura 86 - Estudos de layout dos ambientes. Fonte: Complexo de Cinema
do Ceará - Pág. 61a
de cinema, acaba tomando forma dominante e diferenciada na
proposta, sendo a única constante em todos os esboços.
Enquanto ele vai sendo refinado geometricamente observamos
que as edificações anexas vão passando por variações em
formato e posição.
Nos cinco primeiros croquis [Fig. 85], fica nítido o modo como as
ideias vão sendo filtradas em uma dinâmica gráfica que tem as
características do que é definido por Perrone (2008) como Croqui
Especulativo. Independentemente da quantidade real de
desenhos usados para se chegar ao resultado final, acreditamos
que, como já mencionado, estes sejam os registros gráficos
137
eleitos pela própria autora como síntese de suas preocupações.
Observa-se nos dois últimos desenhos maior correção
geométrica acompanhada de maior detalhamento das plantas. Já
se pode perceber a divisão dos compartimentos que abrigarão o
programa de necessidades. Os grafismos ainda são muito
simples e estilizados. Uma só linha representa as paredes.
A primeira ampliação de escala do conjunto [Fig. 86] é relativa à
quarta opção de planta do primeiro grupo de croquis [Fig. 85] e
nela já se podem notar manchas, setas e rabiscos sobrepostos
ao desenho principal, denotando a provável inquietação da
Figura 87 - Estudos coloridos. Fonte: Complexo de Cinema do
Ceará - Pág. 61b
autora quanto a questões funcionais. O lote aparece pela
primeira vez representado por um retângulo que abraça todos os
blocos. Um dos ambientes traz linhas paralelas que marcam o
que viria a ser a distribuição de assentos em um auditório.
É importante lembrar aqui a importância que os códigos e
símbolos arquitetônicos, definidos por Lawsson (2002) além das
leis da percepção apregoadas por Arnheim (1998), têm nesse
contexto. Os elementos gráficos são extremamente abstratos e
138
simplórios, mas seu posicionamento, escala e relação com o
contexto remetem a interpretá-los como objetos da Arquitetura.
Duas opções de plantas são apresentadas agora em cores [Fig.
87 e Fig. 88]. O uso desse recurso gráfico não tem qualquer
relação com os materiais de construção e sim com a setorização
funcional do complexo. O texto surge nesse momento dando a
ideia de maior definição quanto à distribuição dos ambientes. O
uso da caneta marcando os contornos das edificações com
traços mais espessos aponta para uma aproximação com a
solução desejada embora ainda se observem variações formais
Figura 88 - Estudos coloridos. Fonte: Complexo de Cinema do Ceará Pág. 61b
nas formas e se percebam duas propostas, sendo uma mais
fragmentada do que a outra.
O desenho mostrado na Figura 89, embora com alterações em
relação aos anteriores, indica a escolha pela implantação mais
fragmentada. Mais uma vez a caneta aparece como demarcadora
dos limites dos edifícios que agora surgem mais detalhados e
resolvidos mediante um desenho digital.
A base em CAD é usada como suporte mais preciso para o
estudo das áreas entre os volumes. A cor agora marca jardins,
áreas pavimentados, calçadas e caminhos. Observam-se setas
139
em vermelho, ressaltando outro ponto importante defendido pela
autora: os acessos pulverizados e apontando para o que ela
entende ser a atração principal do projeto, ou seja, o bloco das
salas de cinema e museu. Em seu texto, há inclusive uma defesa
metafórica dessa solução espacial no sentido de destacar a
importância da chamada sétima arte. Nos seus dizeres,
A centralidade ocorre como meio de exaltar o
Edifício Central, que abriga o Museu da Produção
Cinematográfica Cearense. A importância de levar
as visuais do projeto para este bloco é uma
referência a necessidade de maior visibilidade que o
cenário cinematográfico cearense tanto precisa – e
merece. (CAVALCANTE, 2013 p. 61).
Figura 89 - Estudos coloridos. Fonte- Complexo de Cinema do
Ceará - Pág. 62
Nesse mesmo texto, a autora faz referência ao uso de alturas
diferenciadas nos blocos, ressaltando sua importância na
manutenção da ventilação e iluminação natural das edificações.
O discurso parece incoerente com os desenhos de estudo que
focam na solução em planta. Somente após uma modelagem
tridimensional produzida pelo programa Sketchup, percebem-se
as intenções plásticas do projeto em sua totalidade. Mediante
uma projeção bidimensional do modelo 3D [Fig. 90], surge aquela
140
que seria, nesse momento, a implantação definitiva na qual se
pode ler, por meio das sombras projetadas alguma informação de
altura.
Essa configuração já traz novas definições em relação ao último
croqui avaliado. Aqui percebe-se o uso dos sistemas digitais não
só como suporte de representação gráfica, mas também como
instrumentos de estudo do projeto, como já discutido nas
afirmações de Cardoso (2005). Durante a modelagem, feita
também pela autora, foram sendo percebidas novas
Figura 90 – Implantação a partir de modelo 3D. Fonte- Complexo de
Cinema do Ceará - Pág. 63
possibilidades e problemas, resultando na solução final [Fig. 91].
A perspectiva é aérea e, embora não mostre uma visão possível
pelo observador mais comum, é bastante didática.
As imagens, apesar de geradas em meio digital, não são de
acabamento realista. Alguns elementos como, por exemplo, as
árvores e figuras humanas bidimensionais, surgindo dos passeios
e jardins como silhuetas denunciam a despreocupação da autora
Figura 91 - Perspectiva aérea. Fonte: Complexo de Cinema do Ceará - Pág. 65
com esse aspecto [Fig. 92 e 93]. As perspectivas se enquadram
na categoria NPR (Não fotorrealista), já mencionada.
141
Essa atitude gráfica se repetirá nas perspectivas seguintes, agora
sim, apresentadas na altura de um observador comum. Fica
evidente que o recurso gráfico, ao mesmo tempo, é caracterizado
como o desenho de apresentação definido por Fraser e Henmi
(1994), mas, como também comenta o autor, não tem intenção
de ser um produto artístico. Sua função é de apresentar,
prioritariamente, a configuração espacial, deixando em segundo
plano os acabamentos de materiais e efeitos de luz.
Figura 92 - Perspectiva em altura de observador no plano do chão.
Fonte: Complexo de Cinema do Ceará - Pág. 73
Embora só duas imagens sejam mostradas nesta pesquisa foram
usadas 12 perspectivas com essas características na defesa da
ex-aluna. Isso deixa mais evidente a importância dada, desde os
primeiros croquis, à configuração espacial resultante da
implantação dos blocos no terreno. Apesar disso, vale registrar
que não foram observados, no conjunto de seu trabalho, croquis
de estudo que buscassem a visualização dessa intenção antes
do uso dos recursos computacionais.
As perspectivas geradas pelo modelo do SketchUp aparentam ter
função tanto especulativa quanto de apresentação, ou seja,
Figura 93 - Perspectiva em altura de observador no plano do chão.
Fonte: Complexo de Cinema do Ceará - Pág. 76
decisões e/ou alterações do projeto podem ter sido tomadas
durante o seu processo de confecção.
142
5.4 Estudo de caso 2: TFG de Bruna Gripp Ibiapina
Arquiteta: Bruna Gripp Ibiapina.
Ano/Semestre da defesa do TFG: 2011/2.
Orientadoras: Profa. Carla Camila Girão e Profa. Amíria Brasil.
Tema: Planejamento Estratégico e a Cidade de Guaramiranga: Uma
proposta para o Desenvolvimento Urbano Local.
Matriz Curricular: 26.2.
Instrumentos analógicos utilizados: Papel vegetal, lapiseiras de
grafite mais grosso e lápis aquarela.
Ferramentas digitais utilizadas: Sketchup, CorelDraw e o
AutoCAD em computador pessoal.
Data dos desenhos: Julho a novembro de 2011.
Peças gráficas: Diagramas, plantas, cortes, e perspectivas.
Autoria: Todos os desenhos analógicos e digitais foram produzidos
pela autora do projeto.
Resumo do projeto: O trabalho, além de fazer levantamento
qualitativo das atividades e da ocupação urbana da cidade de
Guaramiranga, também propõe, de forma conceitual e generalista,
estratégias de reordenamento de algumas atividades, o redesenho
e a criação de alguns equipamentos de uso coletivo. Essa cidade,
inserida no Maciço de Baturité, é importante polo turístico e cultural
do Ceará.
Respostas do questionário: Apêndice F
143
Como já comentado, durante a avaliação de todo o material, foi
constatada grande variedade na maneira como os alunos
concludentes exploraram o uso do desenho na defesa escrita de
seu projeto. De todos os trabalhos coletados, este se mostrou
como o que mais usou o croqui como instrumento de análise e de
estudo do projeto, além de recurso didático para sua defesa. Ao
longo de todo o trabalho, podemos perceber a intima relação do
texto com os croquis em uma dinâmica que ora analisa ora
propõem intervenções. Em ambos os casos, o desenho é o meio
utilizado para registrar impressões assim como para apresentar
soluções.
O conjunto de desenhos é bastante diverso, sendo composto por
uma grande quantidade de diagramas e mapas. De uma forma
geral, foi observado que os projetos com temática ligada ao
urbanismo usavam os mapas como principal recurso para registrar
Figura 94 - Croqui de setorização da cidade de Baturité. Fonte: Planejamento
Estratégico e a Cidade de Guaramiranga: Uma proposta para o
Desenvolvimento Urbano Local - Pág. 23
graficamente os dados coletados nos diagnósticos. O principal
instrumento utilizado foi o desenho vetorial em cores,
possivelmente produzidos em CorelDraw e/ou AutoCAD, mas, em
diversas ocasiões, foram percebidas ações analógicas efetuadas
em mapas digitais, como, por exemplo, a pintura a lápis. Nesse
estudo de caso, parte dos mapas e diagramas utilizou essa
técnica, mas em diversas ocasiões eles foram confeccionados
145
Nota-se a maior presença de elementos geométricos, inseridos
posteriormente de forma digital, e o uso das cores, a lápis, em
plantas obtidas de forma vetorial. Na figura 96, podemos perceber
essa técnica. É interessante observar que a legenda, presente em
vários outros mapas, usa textos digitais, mas os elementos
gráficos são analógicos e fazem referências tanto às cores quanto
ao próprio grafismo usado no desenho principal.
Na medida em que ocorre a transição entre a apresentação do
diagnóstico e a demonstração das ideias do projeto, os desenhos
mudam algumas características geométricas, mas mantêm seu
Figura 96 - Mapa de infraestrutura do Maciço de Baturité. Fonte: Planejamento
Estratégico e a Cidade de Guaramiranga: Uma proposta para o
Desenvolvimento Urbano Local - Pág. 28
caráter lúdico. As três primeiras propostas, das oito que a exdiscente indica para a região, sugerem a criação de um centro de
pesquisa, além do incentivo à produção agrícola e de flores, mas
sem apontar para o desenho de edifícios e/ou de equipamentos.
Dessa forma, na sua justificativa, os desenhos são bastante
abstratos (diagramas) [Fig. 97] e mostram, por meio de curvas
sinuosas e cores, além da relação entre os municípios, a
localização vocacionada a ser atendida pela proposta da arquiteta.
Mais uma vez a cor, em lápis aquarelado, é elemento didático que
Figura 97 - Croquis de localização das propostas. Fonte: Planejamento
Estratégico e a Cidade de Guaramiranga: Uma proposta para o
Desenvolvimento Urbano Local - Pág. 48
orienta a leitura do desenho no qual podemos observar textos
digitais e caligrafados.
146
As propostas de números 4 e 6 têm maior relação com elementos
arquitetônicos e desenho de mobiliário urbano. Elas indicam a
criação de parques urbanos e o estabelecimento de parâmetros
para edificações sustentáveis. Dessa forma, como seria esperado,
as peças gráficas mudam de configuração e passam a assumir
características do desenho arquitetônico, mas de uma forma
intuitiva e ainda lúdica. O texto é permeado por uma coleção de
plantas, cortes, elevações e perspectivas [Fig. 98] que ilustram as
intenções da autora para os equipamentos.
A linguagem, descontraída e sem qualquer rigor técnico deixa
claro que essas propostas de edifícios e equipamentos não serão
detalhadas, ficando no nível conceitual. Os desenhos, menos pela
configuração técnica e mais pelo minimalismo de elementos
gráficos, pode ser comparado ao que propõem Leggitt (2004) para
propostas conceituais, embora não se observe, em nenhum deles,
qualquer base digital. A autora, mesmo tendo mudado os tipos de
desenho, parece manter a mesma postura adotada para os
diagramas, ou seja, os desenhos têm caráter intuitivo e, em várias
oportunidades, é notória, inclusive, a ausência de uma escala
determinada.
Figura 98 - Croquis com propostas conceituais. Fonte:
Planejamento Estratégico e a Cidade de Guaramiranga: Uma
proposta para o Desenvolvimento Urbano Local - Pág. 51
Não há como definir com precisão em qual categoria as
147
perspectivas [Fig. 99] se enquadram (isométricas, dimétricas etc),
mas é evidente a opção pela projeção obliqua ou por algum tipo
de axonometria, talvez reflexo da já comentada dificuldade de
execução das perspectivas de projeção cônica ou simplesmente
pelas características dos elementos que se quer representar.
Como é possível notar até aqui, o uso da aquarela conferiu aos
desenhos um caráter peculiar, lembrando em vários momentos os
croquis da arquiteta Lina Bo Bardi que, como declara essa autora
Figura 99 - “Axonometria" de equipamento para parque. Fonte:
Planejamento Estratégico e a Cidade de Guaramiranga: Uma proposta
para o Desenvolvimento Urbano Local - Pág. 52
na entrevista, foi fonte de inspiração para sua produção gráfica.
Os cortes [Fig. 100] surgem com maior força e, de maneira
coerente, quando o trabalho avança para as propostas de
intervenção no sistema viário. Eles são os principais protagonistas
na representação das intervenções nas vias, aparecendo, com
esse objetivo, em 17 oportunidades de um total de 22. Esses
desenhos continuam intuitivos e a ausência de escala é
denunciada em certas ocasiões pela representação dos
automóveis, das figuras humanas e pelas cotas das seções das
ruas. Mais uma vez fica evidente o descompromisso com o rigor
técnico que parece não invalidar a leitura e tampouco a
Figura 100 - Cortes e planta do sistema viário. Fonte: Planejamento
Estratégico e a Cidade de Guaramiranga: Uma proposta para o
Desenvolvimento Urbano Local - Pág. 55
compreensão das propostas do projeto que, até esse momento,
são evidentemente conceituais e generalistas.
148
Na medida em que o texto avança e as propostas se tornam mais
concretas, percebemos que os desenhos [Fig. 101 e 102] vão
ganhando mais detalhes e notamos a maior participação dos
recursos digitais, assim como maior cuidado com as escalas e a
técnica de execução. Mesmo assim, o aspecto lúdico e
descontraído persiste, conferindo uma unidade gráfica ao conjunto
e um elevado nível de personalização ao trabalho.
As características listadas até aqui não encontram rebatimento em
nenhuma das disciplinas de desenho cursadas e citadas pela exaluna na sua entrevista (Anexo 2). Notória é a influencia que a
Figura 101 - Planta de detalhe do sistema viário. Fonte: Planejamento
Estratégico e a Cidade de Guaramiranga: Uma proposta para o
Desenvolvimento Urbano Local - Pág. 79
arquiteta Lina Bo Bardi tem na sua produção gráfica e como o uso
da aquarela, usado por ela desde criança, tem força de influência
até mesmo para determinar o comportamento dos elementos
digitais que sempre aparecem em tons pastéis.
Figura 102 - Corte de detalhe do sistema viário. Fonte: Planejamento Estratégico e a Cidade
de Guaramiranga: Uma proposta para o Desenvolvimento Urbano Local - Pág. 79
149
Ao contrário do que acontece com os outros TFGs avaliados
(compostos por croquis + texto + pranchas técnicas +
perspectivas), o conjunto de peças gráficas usadas na defesa
escrita é o único de todo o trabalho. Isso faz com que todos os
desenhos tenham função de estudo/concepção, de apresentação
e de documentação, mesmo que para essa última seja de forma
conceitual. Em uma organização bastante didática, textos e
desenhos se complementam e levam o leitor a compreender como
aconteceram as análises e propostas da, hoje, arquiteta e
Figura 103 - Planta híbrida com detalhes do passeio. Fonte: Planejamento
Estratégico e a Cidade de Guaramiranga: Uma proposta para o
Desenvolvimento Urbano Local - Pág. 85
urbanista.
Como já comentado, na medida em que as propostas passam a
apontar para áreas de menor envergadura, os desenhos ganham
mais detalhes e mais apuro [Fig. 103 e 104], mas sempre
mantendo as características já apontadas. O trabalho, além de
singular, também explicita a coragem e a personalidade da autora,
que, para representar e demonstrar suas ideias e propostas de
intervenção, abriu mão das imagens realistas e dos desenhos
tecnicamente precisos.
Figura 104 - Perspectiva. Fonte: Planejamento Estratégico e a Cidade de
Guaramiranga: Uma proposta para o Desenvolvimento Urbano Local - Pág.
87
150
5.5 Estudo de caso 3: TFG de Danússia Baracho Teixeira
Arquiteta: Danússia Baracho Teixeira.
Ano/Semestre da defesa do TFG: 2013/2.
Orientador(a): Prof. Marcos Bandeira de Oliveira.
Tema: Escola de Design.
Matriz Curricular: 26.2.
Instrumentos analógicos utilizados: Escalímetro, papel-manteiga
e vegetal, lápis de cor, lapiseira, canetas UniPin.
Ferramentas digitais utilizadas: SketchUp, CorelDraw e o
AutoCAD em computador pessoal.
Data dos desenhos: Julho a novembro de 2013.
Peças gráficas: Plantas, cortes, fachadas, detalhes construtivos e
perspectivas.
Autoria: Todos os desenhos analógicos e digitais foram produzidos
pela autora do projeto.
Resumo do projeto: Esse trabalho apresenta o projeto de uma
Escola de Design na zona Sul da Capital cearense, região
detentora do segundo metro quadrado mais caro de Fortaleza. A
proposta, com forte apelo formal, procura respeitar a topografia do
terreno tentando manter um diálogo com o entorno através de
edificações ricas em atrativos visuais e espaciais.
Respostas do questionário: Apêndice G.
151
Como detalhado antes, a rapidez, a espontaneidade e o caráter
indefinido são algumas características que fazem dos croquis um
dos instrumentos gráficos preferidos para os estudos iniciais de um
projeto. São justamente esses aspectos que despertam a atenção
nesse trabalho.
Os desenhos deixam evidente a inquietação da autora na busca de
soluções de âmbito funcional e formal e/ou da definição de seu
partido que, de acordo com o observado no histórico de croquis,
parece mudar algumas vezes. As características gráficas, e até
mesmo o modo como os desenhos são dispostos de forma
Figura 105 - Folha de croquis. Fonte: Escola de Design (TFG) - acervo da
autora
espontânea na folha de papel, deixam claro o caráter especulativo
apontado por Perrone (2008) e Ching (1990).
Os estudos iniciais, mostrados nas figuras 105 e 106, mostram
fragmentos de edifícios representados quase que em forma de
diagramas. Podem ser identificadas seções e projeções em plano
horizontal e vertical, mas não resta clara a relação entre as partes,
se há uma escala definida ou mesmo quais os tipos de desenho
usados (plantas, cortes ou fachadas).
O terreno não é usado nos estudos iniciais, o que – assim como
também foi observado no Estudo de Caso 1 – expõe a ação de
154
Figura 110 - Croquis de estudo para pavimentos do edifício principal. Fonte:
Escola de Design (TFG) - Pag. 33
A sequência de desenhos da figura 110 mostra as diversas
alterações na planta da principal edificação. É possível
enxergar as sobreposições de traços características do
processo de investigação. O quarto desenho da série, já com
um elemento de ligação entre dois blocos, traz aquela que
seria a alternativa mais próxima ao que foi defendido na
banca final [Fig 111].
Nota-se, entretanto, que o croqui difere da planta final
revelando que o desenho em CAD também foi usado para
tomada de novas decisões e para promover alterações no
Figura 111 - Planta final apresentada à banca. Fonte: Escola de Design (TFG)
projeto.
157
5.6 Estudo de caso 4: TFG de Luma Holanda Vasconcelos
Arquiteta: Luma Holanda Vasconcelos.
Ano/Semestre da defesa do TFG: 2013/2.
Orientador(a): Prof. Francisco Edilson P Aragão.
Tema: Parque Lagoa da Maraponga.
Matriz Curricular: 26.2.
Instrumentos analógicos utilizados:
Papel manteiga, papel
vegetal, papel ofício, folhas A3, lápis de cor, canetas Unipin,
lapiseiras, lápis 2B, borracha, canetinhas, lápis de carvão, giz de
cera, esquadros, régua, escalímetro, compasso.
Ferramentas digitais utilizadas: AutoCad, CorelDraw, Sketchup,
Prezi, Google Earth em computador pessoal.
Data dos desenhos: Julho a novembro de 2013
Peças gráficas: Diagramas, plantas, cortes, fachadas, detalhes
construtivos e perspectivas.
Autoria: Todos os desenhos analógicos e digitais foram produzidos
pela autora do projeto.
Resumo do projeto: O projeto apresenta, de forma conceitual e
generalista, proposta de implantação de um parque ao redor da
Lagoa da Maraponga, importante recurso hídrico e área de lazer da
região sudoeste de Fortaleza.
Respostas do questionário: Apêndice H
159
desenho, o que recomendam Hutchison (2012) e Reid (2002),
comentado no Capítulo 3.
Na sequência, o mesmo tipo de técnica é aplicado no desenho
nomeado pela autora como “Implantação” [Fig. 118]. Ele passa a ter
características de desenho de apresentação e é a base para as
várias ampliações dos diversos setores propostos no projeto. É
importante notar que os detalhes não são ampliados graficamente.
Ocorre apenas uma aproximação digital que pode ter sido feita ou
por redimensionamento da imagem ou por alguma ferramenta de
Figura 119 - Detalhe de setor. Fonte: Parque Lagoa da Maraponga
(apresentação).
visualização (Zoom e/ou Pan), como pode ser visto nas figuras 119
e 120. Apesar de ser alternativa viável, a ausência de escala gráfica
prejudica a leitura e a percepção do percentual de ampliação.
Observa-se que a pintura, agora com acabamento mais refinado, é
complementada por manchas aplicadas posteriormente por algum
recurso digital. A vegetação é desenhada de forma analógica, via
lápis de cor, e observa-se a diferenciação das tipologias vegetais
por tons de verdes e/ou por características gráficas.
A marcação dos caminhos, os polígonos representando edificações,
os piers e os limites do próprio parque são acrescentados de forma
Figura 120 - Detalhe de setor. Fonte: Parque Lagoa da Maraponga
(apresentação).
digital. Isso confere um caráter não uniforme ao seu acabamento
160
gráfico. A textura e a irregularidade natural do lápis
concorrem e contrastam fortemente com a homogeneidade
da pintura sólida digital.
A mesma planta geral é usada de uma maneira pouco
observada nos TFGs avaliados. Mediante sua inserção em
um modelador tridimensional, ela é apresentada quase que
Figura 121 - Perspectiva geral Fonte: Parque Lagoa da Maraponga
(apresentação).
em toda sua extensão somente no planto XY, enquanto
alguns pequenos volumes se elevem no eixo Z. A autora
nomeia esse desenho [Fig. 121] como perspectiva, mas,
embora isso não esteja incorreto, a ilustração não explora
toda a potencialidade desse tipo de visualização.
De acordo com o expresso no Capítulo 3 e defendido por
Leggitt (2004), para esse tipo de técnica esperar-se-ia uma
ação analógica para acrescentar, via desenho à mão livre, os
demais detalhes à imagem. Com base nas demais peças
gráficas da própria autora, [Fig.123 a 127], cremos que não
faltariam habilidades a ela, mas isso não ocorreu.
A proposta da hoje arquiteta previa, para o parque, a
construção de alguns equipamentos, sendo eles: quiosques,
Figura 122 - Detalhes do pequeno anfiteatro. Fonte: Parque Lagoa da
Maraponga (apresentação).
estações de ônibus, mirante, restaurante e edifícios
161
administrativos. Todos eles foram apresentados na sua defesa
oral de forma conceitual e o único instrumento gráfico para
isso foi o desenho à mão livre. Esses equipamentos não são
representados nem mesmo nas pranchas técnicas.
O conjunto (Fig, 122 a 127] é bem interessante e didático.
Cada exemplar é ilustrado por um grupo diversificado de
desenhos (plantas, elevações, cortes e perspectivas) coloridos
prioritariamente a lápis de cor. A mesma técnica e
características observadas antes se repetem aqui, ou seja,
Figura 123 - Estação. Fonte: Parque Lagoa da Maraponga
(apresentação).
alguns desenhos recebem intervenção digital posterior na sua
pintura.
A cores são exploradas em alguns momentos para sugerir
algum tipo de acabamento de material e em outros para
marcar setores de uso dentro de um edifício. Apesar do
intenso emprego de cores, não se notam sombras nem
mesmo nas perspectivas.
Não há indícios do uso de recursos digitais anteriores às
ações analógicas. Tanto os desenhos de projeção ortogonal
quando as perspectivas denotam algumas irregularidades
Figura 124 - Quiosque. Fonte: Parque Lagoa da Maraponga
(apresentação).
gráficas que não chegam a prejudicar sua leitura, mas que
legitimam a técnica usada na sua confecção, o desenho à
162
mão livre. Nas perspectivas, também é notório o
isolamento entre o objeto e o contexto no qual ele
estaria inserido, ou seja, o parque.
A opção pela representação com ênfase nos
edifícios parece condizente com o que defende
Massironi (1982), e é certo que reforça os seus
detalhes, mas, por outro lado, transfere para quem
vê os desenhos a responsabilidade de imaginar
como a paisagem abraçaria tais equipamentos. Essa
postura não é incorreta, mas pode fazer com que
algumas decisões de projeto escapem do domínio
do seu autor.
Figura 125 - Mirante. Fonte: Parque Lagoa da Maraponga (apresentação).
Ainda sobre as perspectivas, a ausência de
desenhos representando a escala humana, a
vegetação e o mobiliário urbano dificulta a leitura
das reais proporções dos equipamentos. Destaca-se
aqui o mirante, cujas proporções, mostradas no
desenho conceitual da Figura 125, não parecem
equivalentes às do volume (cor magenta) que o
representa na Figura 121, assinalado pela elipse
vermelha.
163
O trabalho completo tem ao todo 28 pranchas técnicas. Nelas o
projeto é detalhado, principalmente, por meio de plantas e
cortes. Chama a atenção o fato de que em nenhum momento
são utilizadas perspectivas provenientes de modeladores 3D
(Ex: SketchUp), nem são usadas imagens realistas para ilustrar
a proposta. Ao contrário, a atração principal da apresentação,
preparada pela ex-discente para a banca final, são os
desenhos à mão livre.
A proposta, além de se diferenciar dos outros trabalhos
defendidos na UNIFOR pelas características das peças
Figura 126 - Restaurante. Fonte: Parque Lagoa da Maraponga
(apresentação).
Figura 127 - Prédio da administração. Fonte: Parque Lagoa da Maraponga
(apresentação).
gráficas, revela também a coragem e a confiança da autora em
seus croquis.
164
5.7 Estudo de caso 4: TFG de Nicole Campos Fiúza
Arquiteta: Nicole Campos Fiuza.
Ano/Semestre da defesa do TFG: 2009/1.
Orientador(a): Profa. Márcia Cavalcante e Prof. Marcos Bandeira
de Oliveira.
Tema: Curso de Gastronomia UNIFOR.
Matriz Curricular: 26.2.
Instrumentos analógicos utilizados: Papel, lápis, lapiseiras,
canetas coloridas, escalas, esquadros, pranchetas.
Ferramentas digitais utilizadas: Autocad, Sketchup.
Data dos desenhos: Fevereiro a junho de 2009.
Peças gráficas: Plantas, cortes, fachadas, detalhes construtivos e
perspectivas.
Autoria: Todos os desenhos analógicos foram produzidos pela
autora do projeto.
Resumo do projeto: O projeto sugere a criação de uma edificação,
de forte apelo formal e locada em terreno dentro do Campus da
UNIFOR, que abrigaria o curso de Gastronomia da instituição.
Respostas do questionário: Apêndice I
165
A coleção de desenhos com ação analógica desse
trabalho traz algumas particularidades em relação aos
demais TFGs avaliados. Uma delas diz respeito à
constatação da quase ausência de desenhos de estudo
com foco na funcionalidade, e a outra, talvez reflexo da
primeira, se refere à quantidade de perspectivas usadas
para o estudo das questões formais da edificação.
Figura 128 - Fachada lateral do resultado final. Fonte: Curso de Gastronomia da Unifor
(TFG) prancha 12/15
O programa de necessidades, relativamente simples, é
resolvido pela autora em um só bloco principal de
estrutura modular. Esse bloco é atravessado, em formato
de cruz latina, por dois grandes balanços sustentados por
um pilar central de onde saem tirantes. Os desenhos das
Figuras 128 e 129 mostram, em dois desenhos técnicos, o
aspecto final do projeto. Por eles, é possível entender
melhor a busca da autora, relatada em seu texto, por um
partido que privilegiava a forma.
Essa constatação ganha força quando são observados os
croquis de estudo usados na defesa escrita e também na
sua apresentação para a banca final [Fig. 130 a 137]. O
Figura 129 - Planta do pavimento 1. Fonte: Curso de Gastronomia da Unifor (TFG)
prancha 07/15
conjunto de perspectivas, quase todas analógicas, mostra
a evolução do partido. É interessante observar que o
166
Figura 130 - Estudos de volumetria. Fonte: Curso de Gastronomia da
UNIFOR (TFG) p.53
pensamento e as ideias da autora. Por exemplo, sobre o esboço
mostrado na Figura 131, a autora exprime,
Primeiramente foi pensado em fazer um grande bloco com um
grande pátio interno e um anexo em estrutura metálica e vidro
para dar uma certa transparência para aqueles que passassem
pela rua. (FIUZA, 2009, p.53).
Figura 131 - Estudos de volumetria. Fonte: Curso de Gastronomia da
UNIFOR (TFG) p.53
O mesmo pode ser observado nas perspectivas das Figuras 132,
desenho vai amadurecendo na medida em que a
133 e 134. É interessante observar que essas perspectivas não
edificação vai se aproximando do resultado esperado
têm uma definição precisa quanto ao tipo. Os três primeiros
pela autora. As primeiras perspectivas [Fig. 130 e 131]
desenhos parecem perspectivas cavaleiras desenhadas com base
são bastante volumétricas, mas parecem ter proporções
em um esboço de fachada, enquanto os dois últimos se apoiam
destoantes em suas dimensões. Apesar disso, já
em eixos isométricos, embora com alguns problemas de
apresentam o elemento ondulado nas fachadas que viria
paralelismo.
a ser determinante na definição plástica do edifício.
Apesar disso, a aparente confusão gráfica não parece ter sido
Enquanto o projeto vai avançando, os desenhos vão
problema para a autora que, mais uma vez através de seu texto,
ganhando detalhes. As perspectivas, embora denotem
mostra coerência com o que tentava representar. Termos como
incorreções na sua construção geométrica, expõem o
“grande balanço no bloco central", “varanda” e "teto verde”,
167
expressos em sua defesa escrita, têm seus respectivos
representantes nessas peças gráficas mesmo que desenhados
com alguma incorreção geométrica. Observa-se o uso das cores
e texturas como representantes dos acabamentos desejados
para os materiais das fachadas.
Figura 132 - Estudos de volumetria. Fonte: Curso de Gastronomia da UNIFOR
(TFG) p.54
Na continuação de sua defesa, a ex-discente volta a fazer
referências ao modo como o projeto vai mudando, e é válido
observar como essas mudanças vão se refletindo nos desenhos
apresentados [Fig. 135 e 136]. Nota-se que agora as
perspectivas ganham detalhes construtivos mais bem definidos e
proporções mais coerentes. Há também uma definição mais clara
quando ao tipo de perspectiva (cônica com dois pontos de fuga
Figura 133 - Estudos de volumetria e plantas. Fonte: Curso de Gastronomia
da UNIFOR (TFG) p.54
principais), além de um incremento na qualidade gráfica.
A técnica não muda muito ao longo do processo. A paleta de
cores se mantém praticamente a mesma e o traço, as vezes a
caneta e às vezes a lápis de cor, é o elemento gráfico definidor
dos volumes, assim como dos brises e cobogós, elementos
também mencionados ao longo do texto. As cores, como já
comentado, tem nítida função de investigação estética.
Figura 134 - Estudos de volumetria. Fonte: Curso de Gastronomia da UNIFOR
(TFG) p.54
O último conjunto de desenhos, mostrados na Figura 137, deixa
169
claro, quando comparados à imagens finais [Fig. 138 e 139], que o
edifício estava praticamente resolvido, pelo menos no que diz
respeito à sua proposta plástica.
Pode-se observar que os desenhos mantêm a coerência gráfica,
mas, nesse momento, subsidiado por uma base volumétrica
produzida em SketchUp, as perspectiva ganham nova
configuração geométrica, mostrando-se bastante coerentes com o
resultado final. Vale frisar que essa base volumétrica foi usada
como substrato para o último momento de investigação durante o
Figura 138 - Perspectiva final. Fonte: Curso de Gastronomia da UNIFOR (TFG)
prancha 15/15
qual a autora pôde verificar a composição final de suas fachadas.
Ao contrário do observado na maioria dos TFGs, não foi
observado o uso excessivo de plantas como desenho de estudo.
Apesar disso esses desenhos foram bastante explorados pela
autora para apresentar, por uma técnica híbrida, os layouts dos
diversos tipos de salas e espaços de uso coletivo [Fig. 140 e 141].
Os desenhos, usados para ilustrar o texto, foram feitos com os
mesmos materiais analógicos empregados nas perspectivas, por
cima de uma base em CAD.
Figura 139 - Perspectiva final. Fonte: Curso de Gastronomia da UNIFOR (TFG)
prancha 15/15
De maneira geral, constatamos, nesse estudo de caso, o uso do
desenho como elemento definidor da uma proposta de projeto e
como instrumento didático da defesa escrita da autora.
171
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
padronização dos resultados gráficos e metodologias de
projeto, embora saibamos que existam similaridades em
alguns métodos e que alguns produtos gráficos como, por
A investigação feita nesta dissertação aponta para algumas
constatações e abre caminho para outras discussões no que
exemplo, as chamadas maquetes eletrônicas, não se
diferenciem muito entre profissionais diversos.
se refere, especificamente, ao uso dos registros gráficos
durante o processo de projeto. É certo que a avaliação geral
Os estudos em curso na área de metodologia de projetos,
de todos os TFGs de 2009 a 2014 da UNIFOR, assim como
alguns deles discutidos aqui, deixam clara a diversidade de
dos cinco estudos de caso específicos, consegue constituir
variáveis envolvidas, assim como as complexidades
um panorama dos processos gráficos dos ex-discentes dessa
encontradas nas tentativas de sistematizar esses processos.
instituição durante o seu último projeto acadêmico, mas
Com base no que foi investigado nessa dissertação, podemos
acreditamos que os dados quantitativos e as avaliações
também afirmar que os mecanismos de representação
qualitativas podem encontrar retratos similares em outras
gráfica, que auxiliam e registram esse percurso, demonstram-
escolas do país.
se tão plurais e complexos quanto o próprio processo de
A suspeita toma como base a universalização das
ferramentas e técnicas gráficas, principalmente daquelas que
projeto, mas carecem de orientação, tanto aos profissionais
quanto aos estudantes, durante seu desenvolvimento.
usam instrumentos digitais, bem assim das facilidades cada
A computação gráfica, como se viu, não eliminou
vez maiores de comunicação que permitem a troca de
instrumentos nem as técnicas analógicas, mas se somou à
informações, o treinamento, a aquisição de equipamentos
elas. Fica constatado, pelo exposto, que cada técnica e cada
(tanto analógicos quanto digitais) e o acesso a programas
tipo de desenho tem características singulares que podem ser
gráficos. Vale observar, no entanto, que essa espécie de
exploradas nas mais diversas situações e etapas do processo
globalização dos instrumentos e técnicas não significou a
de projeto, não sendo possível estabelecer "o que" é mais ou
172
menos adequado "a que". Haverá o momento do risco
habilidades, além de treinamento para a manipulação de
analógico no papel ou na tela de um tablet LCD, da construção
instrumentos e aplicação de técnicas.
virtual de um edifício, do risco sobre o desenho digital
impresso, da impressão tridimensional, da maquete de papel,
Essas habilidades e esse treinamento ultrapassam os limites
da pintura digital sobre o desenho à mão livre e outros mais.
da Geometria (plana e espacial), do desenho arquitetônico e
Ficou evidente, também, que nenhuma dessas ações é
urbanístico e da computação gráfica. Ele solicita, de alunos e
propriedade específica do momento de concepção, nem da
de profissionais, o domínio das questões tectônicas, além da
fase de apresentação, tampouco da documentação do projeto.
percepção e composição do espaço construído. Mesmo
Cada etapa poderá explorar o que cada ferramenta tem de
considerando somente o desenho analógico, em especial o
mais adequado para oferecer. Essa diversidade é benéfica,
uso dos croquis para estudos, que a priori requereriam menos
mas, ao mesmo tempo, requer orientação além de
apuro técnico e/ou refino gráfico para sua confecção, há uma
conhecimentos técnicos, instrumentais e conceituais. Saber
coleção mínima de técnicas gráficas e sintaxe visual, como
manipular um software ou possuir um conjunto com dezenas
também de requisitos instrumentais para a representação do
de lápis de cor não conferirá a nenhum usuário as habilidades,
espaço tridimensional (existente ou imaginado) mediante
os saberes necessários nem a capacidade de aplicar esses
projeções ortográficas e/ou de perspectivas, além de, é claro,
instrumentos nas práticas de projeto com eficiência.
saberes relacionados ao objeto que se pretende representar,
seja ele o edifício, o espaço urbano ou uma peça de
A pesquisa confirma a existência de um desenho específico
aplicado à Arquitetura que, mesmo que se alimente dos
conceitos básicos da expressão gráfica, possui características
únicas. Esse desenho, nas suas vertentes analógica, digital e
híbrida, tem peculiaridades e requer conhecimento teórico
específico, assim como o desenvolvimento de certas
mobiliário.
Dessa forma, o ensino e a aprendizagem desse "desenho de
arquiteto" também deveria envolver a capacitação da mente,
no sentido de capacitar o discente a, concomitantemente ao
processo de criação e busca de soluções, representar
173
graficamente suas ideias de forma expressiva, comunicativa e
projeto quanto no TFG. Apesar disso, sabe-se que, tanto nos
vinculada à construção. Sabemos, porém, que isso raramente
ateliês quanto na orientação, há uma separação entre projeto
acontece. A falta de orientação para o uso dos novos
e representação gráfica. Sobre isso, cremos que alguns
recursos, tanto no âmbito gráfico quanto de metodologia de
docentes se colocam na posição de "professores de projeto” e
projeto, fica clara pelos dados e pela avaliação qualitativa do
que, na defesa dessa auto titulação, se recusam a orientar e/
material coletado. A matriz curricular, analisada no estudo de
ou ensinar recursos gráficos que subsidiem as investigações
caso, evidencia a separação entre o ensino/aprendizagem do
projetuais. Essa recusa pode acontecer por mera convicção
desenho e sua relação com a realidade do projeto.
do professor de que o desenho deve ser ensinado antes do
projeto ou porque ele simplesmente não domina e/ou não
Sob o ponto de vista gráfico, percebemos que os
está interessado em aprender novos expedientes gráficos.
ensinamentos relativos ao desenho de Arquitetura, embora
não tenham abandonado por completo as práticas analógicas,
Algumas características encontradas no material avaliado
em especial o uso do desenho à mão livre, estão cada vez
corroboram as observações postas até aqui. Por exemplo, a
mais inclinados para a priorização das ferramentas digitais. Já
grande atenção dispensada ao estudo e à apresentação dos
em relação às questões do processo de projeto, nota-se
projetos por meio de alguns desenhos específicos aponta
também que, tanto para o analógico quanto para o digital, não
para alguns possíveis lapsos do processo de ensino-
parece haver vinculação entre esse ensino-aprendizado
aprendizado em termos gráficos, técnico-construtivos e/ou
gráfico e o seu reflexo no projeto e/ou no domínio dos
arquitetônicos.
espaços construídos.
Destaca-se, por exemplo, o predomínio do uso de plantas em
A entrevista aplicada aos professores (Apêndice B) constatou
relação aos demais tipos de desenho (Apêndice A), em
que todos consideram importante o uso do croqui no projeto e
especial os cortes e fachadas (os números levantados na
que a maioria exige essa prática tanto nas disciplinas de
pesquisa foram confirmados também pela entrevista aos
174
docentes). A princípio, não é possível apontar essa
exigências dos programas de necessidades, enquanto
constatação como um procedimento equivocado, mas, além
relegam a segundo plano a definição dos espaços internos e
do foco exagerado nesse tipo de representação, parece haver
externos, assim como a composição das fachadas e a
também a desvinculação entre o que é desenhado em
investigação das questões construtivas do objeto
projeção horizontal e o seu rebatimento na realidade
arquitetônico e/ou urbanístico. Os edifícios se tornam
tridimensional. A baixa incidência de uso de cortes e
produtos de uma extrusão, mal pensada, das suas plantas.
elevações durante os estudos denuncia a falta de
Em alguns casos, observa-se que os edifícios recebem algum
investigação, na terceira dimensão, do que supostamente
tratamento por meio de revestimentos superficiais e
estaria resolvido nas outras duas dimensões. A inabilidade
epidérmicos e/ou peles paralelas às suas paredes de
gráfica para confeccionar e/ou perceber como cortes e
vedação, na tentativa de tornar o projeto mais palatável.
fachadas poderiam ser úteis ao raciocínio espacial e/ou
técnico construtivo pode ser uma razão para essa
Os espaços urbanos, pensados e representados
desproporção. Vê-se aqui um exemplo de como a intervenção
prioritariamente por meio de plantas e cortes, não tem suas
do professor orientador poderia diminuir essa diferença, assim
qualidades espaciais estudadas, por exemplo, por
como direcionar o discente para um uso mais adequado de
perspectivas com observador na altura do pedestre. Não são
certos tipos de desenho para determinadas situações de
incomuns os projetos urbanísticos cujas caixas de rua e de
projeto.
passeio estão corretamente dimensionados, assim como seus
acessos, mobiliário urbano e elementos da vegetação.
A grande atenção dada às plantas também pode indicar um
desequilíbrio entre os esforços dirigidos à busca de soluções
de cunho funcional em relação à investigação das questões
Entretanto não se percebe o rebatimento dessas definições
técnicas na qualificação do espaço que sofreu a intervenção
projetual e nem seu registro através de perspectivas.
plásticas, espaciais, de conforto ambiental e/ou técnicoconstrutivas. Observa-se intensa preocupação em atender as
As perspectivas, apontadas no levantamento como o segundo
175
tipo de desenho preferido pelos discentes, quando
práticas de projeto e são substituídas pelos sistemas digitais.
desenhadas à mão livre para estudos, têm baixa qualidade
Uma proposta didática que abraçasse a exploração dos
técnica na maior parte dos episódios. Nota-se que, por serem
recursos da modelagem tridimensional e a espontaneidade e
desenhos que permitem uma visualização prévia mais
rapidez do desenho à mão livre talvez fosse mais adequada e
imediata das ideias, elas tomam o lugar dos cortes e
sofresse menor rejeição.
fachadas. Apesar disso, é notória a grande dificuldade na sua
confecção por parte dos discentes. Em vários desenhos
Ainda sobre isso, a pesquisa comprovou a intensa presença
dessa natureza, não é possível indicar se a peça gráfica tem
dos instrumentos digitais como auxiliares da confecção e
origem ou se instaura por meio de uma perspectiva
edição dos desenhos analógicos, mas também mostrou a
axonométrica ou cônica, assim como se nota uma desatenção
ausência de conteúdos sobre técnicas híbridas nas disciplinas
e/ou incapacidade em estabelecer proporções corretas entre
avaliadas. Isso revela mais uma vez a desatualização
os elementos componentes do desenho (figura humana,
curricular e também indica a real necessidade de reforço no
vegetação e elementos construtivos). A atrofia causada pelos
ensino de técnicas mistas que possam aliar as
recursos computacionais parece explicar em parte essa
potencialidades do desenho à mão livre com os recursos
constatação. É interessante observar, entretanto, que mesmo
computacionais.
quando as perspectivas são totalmente geradas por
computadores, recursos como sombras, texturas, cores,
escala humana e posição do observador são explorados de
forma confusa e às vezes equivocada.
A pesquisa como um todo reforça a pertinência do desenho
analógico nas práticas de projeto acadêmico, mas deixa
evidente que falta continuidade de orientação para sua
correta aplicação. Os estudos de caso individuais
Deduzimos, portanto, que as técnicas de perspectiva
demonstram o interesse e o esforço do concludente para
lecionadas na disciplina específica (Técnicas de
explorar o croqui como meio legítimo do seu processo de
Representação II) não encontram continuidade de uso nas
projeto, ao mesmo tempo em que externam algumas
176
dificuldades técnicas dos alunos em produzi-los. Em dois dos
entre o objetivo que se pretende alcançar dentro de uma
cinco trabalhos analisados, o uso do desenho analógico foi
projeto e os meios utilizados para tanto. Esperamos, por
mais incisivo e corajoso. Os croquis foram utilizados tanto
exemplo, que o aluno, normalmente imaturo graficamente,
como instrumento de estudo quanto como apoio didático da
seja capaz de produzir uma perspectiva com dois pontos de
defesa do projeto, chegando, inclusive, a assumir o papel de
fuga e que ela tenha suas proporções e relações espaciais
desenhos de apresentação no lugar das modelagens
bem resolvidas, mesmo sabendo-se ser esse um desenho de
tridimensionais e renderings realistas.
difícil confecção. Para esse mesmo exercício, contudo,
dificilmente se orienta o aluno a fazer uma modelagem 3D
Os outros três estudos de caso individuais, assim como os
outros TFGs avaliados, confirmaram que, uma vez
estimulados a usar o desenho à mão livre, os alunos, além de
básica e, com base nela, delinear de forma preliminar suas
ideias sem preocupações com pontos de fugas e/ou
proporções exatas.
demonstrarem alguma habilidade para a confecção de
croquis, também expõem processos particulares que, podem
De maneira geral, observamos que o desenho, quando
parecer estranhos em determinados momentos, mas são
totalmente analógico, atende às necessidades de reflexão e
legítimos e, à sua maneira, participam e auxiliam os discentes
investigação do projeto, ao passo que, nas suas vertentes
a tomar diversas decisões.
digital e híbrida, o foco maior é a representação para fins de
Restou, também, evidenciado na pesquisa o fato de que há
três tipos básicos de técnicas: analógica, digital e híbrida.
Como já comentado, porém, fica evidente que a mistura do
digital e do analógico não é reconhecida nos processos
didáticos que parecem sempre se inclinar para um ou para o
outro. Uma das consequências disso é a falta de coerência
apresentação de projeto. Foi constatado baixo índice de uso
dos recursos computacionais para fins de estudos do projeto.
A principal função das modelagens 3D é a produção das
perspectivas digitais, embora não seja possível afirmar se
durante a confecção desses desenhos, quando produzidos
pelo próprio autor, não houve ações de investigação.
177
Em síntese, é válido asserir que os dados, apesar de não
parece fundamental. A capacidade desse público de se
serem conclusivos, explicitam alguns pontos que podem ser
atualizar e de se interessar pelas novidades tecnológicas,
usados como parâmetros para nortear decisões didáticas
bem como de adequar as ferramentas digitais às suas
(com ênfase nas questões da representação gráfica) das
necessidades, não pode ser ignorada. Aliar essa energia e
disciplinas de projeto, do próprio TFG, das disciplinas de
essa constante renovação à maturidade e ao acúmulo de
desenho e, principalmente, da inter-relação delas. A pesquisa
experiências dos mestres talvez seja, nos dias de hoje, a
traz questionamentos e produz novas dúvidas, mas também
técnica híbrida que pode trazer os melhores resultados para o
evidencia que o uso do desenho à mão livre continua
desenvolvimento e amadurecimento da representação gráfica
pertinente no meio acadêmico. Apesar disso, é preciso anotar
aplicada ao projeto de Arquitetura e Urbanismo.
que ele acontece hoje dentro de um cenário plural, cercado
de recursos computacionais e que, por isso, não pode ser
encarado de maneira conservadora ou atrelada a processos
anteriores ao uso dos sistemas digitais.
Concluímos também, ser preciso definir e assumir, dentro dos
currículos acadêmicos, um conjunto de desenhos específico
para as práticas do arquiteto que abrace todas as
possibilidades tecnológicas analógicas e digitais. Também é
necessário que haja uma apresentação, aos alunos, das
características e potencialidades de cada tipo de desenho/
técnica dentro do projeto e do universo que esse "desenho de
arquiteto" abraça. Trazer o discente para essa discussão
178
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MOLA, Francesc Zamora. The Sketch Book. Barcelona: Loft Publications, 2010.
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MONTENEGRO. Gildo A. Desenho Arquitetônico. 2. ed. 7. reimpressão. São Paulo: Edgar Blücher, 1995.
OLIVEIRA, Olivia de. Lina Bo Bardi: sutis substâncias da arquitetura. São Paulo: Romano Guerra, 2006.
PEREIRA, Miguel Alves. Arquitetura, texto e contexto: o discurso de Oscar Niemeyer. Brasília: Editora Universidade de
Brasília, 1997.
PERRONE, R.A.C. O Desenho Como Signo da Arquitetura. Tese (Doutorado). São Paulo: USP, 1993.
PERRONE, R.A.C. Os croquis e os processos de projeto de Arquitetura. Tese (Livre-Docência). São Paulo: FAUSP, 2008.
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SOUZA, Pablo Gleydson. A Representação em Projetos de Arquitetura: concursos para teatros em Natal e em Quebec.
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UNIVERSIDADE DE FORTALEZA. Projeto Pedagógico do Curso de Arquitetura e Urbanismo. Fortaleza: UNIFOR, 2004.
UNIVERSIDADE DE FORTALEZA. Projeto Pedagógico do Curso de Arquitetura e Urbanismo. Fortaleza: UNIFOR, 2013.
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YEE, Rendow. Desenho Arquitetônico: um compêndio visual de tipos e métodos. 3a ed. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos e
Científicos Editora, 2009.
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WMF Martins Fontes, 2009.
TRABALHOS FINAIS DE GRADUAÇÃO USADOS COMO ESTUDO DE CASO
CAVALCANTE, Luana Ferreira. Complexo de Cinema do Ceará. Monografia (Graduação). Fortaleza: UNIFOR, 2013. CD-ROM.
FIÚZA, Nicole Campos. Curso de Gastronomia da UNIFOR. Monografia (Graduação). Fortaleza: UNIFOR, 2009. CD-ROM.
IBIAPINA, Bruna Gripp. Planejamento Estratégico e a Cidade de Guaramiranga: Uma proposta para o Desenvolvimento
Urbano Local. Monografia (Graduação). Fortaleza: UNIFOR, 2011. CD-ROM.
TEIXEIRA, Danússia Baracho. Escola de Design. Monografia (Graduação). Fortaleza: UNIFOR, 2013. CD-ROM.
VASCONCELOS, Luma Holanda. Parque Lagoa da Maraponga. Monografia (Graduação). Fortaleza: UNIFOR, 2013. CD-ROM
184
APÊNDICES
190
APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO APLICADO AOS PROFESSORES
191
APÊNDICE C - RESPOSTAS DO QUESTIONÁRIO APLICADO AOS PROFESSORES
192
APÊNDICE D - QUESTIONÁRIO APLICADO ÀS ALUNAS SELECIONADAS PARA OS ESTUDO DE CASO
193
194
195
APÊNDICE E - RESPOSTAS AO QUESTIONÁRIO – ESTUDO DE CASO 1
Data das respostas: 26/05/2014 21:27:06
Nome completo: Luana Ferreira Cavalcante
Nome do professor orientador
Mário Antonio da Silva Guerra Roque
Título do trabalho final de graduação
Complexo de Cinema do Ceará
Ano da defesa
2013
Você costuma desenhar (desenho à mão livre, modelarem 3D, pintura, desenho vetorial) em dispositivos portáteis como
tablets e/ou aparelhos celulares? Se SIM, em qual equipamento e com quais aplicativos?
Não
Qual sua faixa etária na época de seu TFG?
23 a 27 anos
Você considera o desenho à mão livre importante para o trabalho do arquiteto? (De 1 a 5 sendo 1 o menos importante)
3
Como você classificaria suas habilidades para fazer desenhos à mão livre? (De 1 a 5 sendo 1 o menos importante)
3
Como você classificaria seu grau de interesse e de uso do desenho à mão livre? (De 1 a 5 sendo 1 o menos importante)
Não uso, mas tenho interesse em usar/aprender
196
Durante as ORIENTAÇÕES do seu TFG, quais foram os recursos utilizados por VOCÊ para comunicar e discutir suas
ideias com seu orientador?
Desenho à mão livre, Modelagem digital bidimensional (Ex: AutoCAD, Corel Draw ou outros) Durante as ORIENTAÇÕES do seu
TFG, quais foram os tipos de DESENHO utilizados por VOCÊ para comunicar e discutir suas ideias com seu orientador?
Plantas, Cortes
Na fase de CRIAÇÃO/CONCEPÇÃO do seu TFG, quais os INSTRUMENTOS utilizados por você para pensar o projeto?
Desenho à mão livre, Modelagem digital tridimensional (Ex: SketchUp, ou outros)
Na fase de CRIAÇÃO/CONCEPÇÃO do projeto, quais os DESENHOS utilizados por você para pensar o projeto?
Plantas, Cortes, Perspectivas
Na fase de APRESENTAÇÃO do projeto, quais os INSTRUMENTOS utilizados por você para representar o projeto?
Desenho à mão livre, Modelagem digital tridimensional (Ex: SketchUp, ou outros), Maquetes físicas
Na fase de APRESENTAÇÃO do projeto, quais os DESENHOS utilizados por você para representar o projeto?
Plantas, Cortes, Perspectivas
Na fase de DOCUMENTAÇÃO do projeto, quais os INSTRUMENTOS utilizados por você para confeccionar os desenhos
técnicos?
Modelagem digital bidimensional (Ex: AutoCAD, Corel Draw ou outros)
Na fase de DOCUMENTAÇÃO do projeto, quais os DESENHOS utilizados por você para confeccionar os desenhos
técnicos?
Plantas, Cortes, Fachadas, Detalhes construtivos
Das disciplinas de desenho listadas abaixo quais você considera que foram fundamentais para formar sua base
gráfica?
Desenho de Observação, Desenho Auxiliado por Computador I (DAC I), Técnicas de Representação I
Das disciplinas de desenho listadas abaixo quais você considera que tiveram conteúdos e/ou atividades didáticas
relacionadas com as práticas de projeto?
Desenho Auxiliado por Computador I (DAC I), Técnicas de Representação I
197
Durante as disciplinas de projeto listadas abaixo você foi orientado(a) pelo(a) professor(a) a usar algum instrumento e/ou
método específico de representação gráfica como parte dos requisitos do PROCESSO DE PROJETO e/ou DIDÁTICO DA
DISCIPLINA tais como: desenho à mão livre, desenho assistido por computador, maquetes digitais ou físicas, etc.? Se
sim, quais foram as disciplinas e os métodos adotados?
Em Projeto Arquitetônico I fui orientada a usar apenas o desenho à mão livre aliado à maquete eletrônica. Em Projeto
Arquitetônico III, IV, V, VI e Trabalho Final de Graduação foi sugerido o uso do desenho à mão livre nas fases iniciais do projeto e
então o uso do desenho assistido por computador nas fases seguintes. A maquete física foi exigida também nas disciplinas de
projeto V, VI e Trabalho Final de Graduação.
Quais disciplinas do seu curso você considera que foram fundamentais para definir sua metodologia de concepção de
projetos e por que?
O projeto arquitetônico, para mim, se inicia com um croqui. A disciplina de Desenho de Observação foi a primeira a apresentar
esta forma de representação, e a primeira a me ensinar técnicas de desenho à mão livre. Foi durante as disciplinas de Projeto
Arquitetônico que aprendi a importância e o significado do croqui na arte de criar, estudar e pensar o projeto arquitetônico. Já na
fase de estudo preliminar de um projeto, eu começo a desenhar no computador. Em Desenho Auxiliado por Computador 1 pude
conhecer os principais programas de desenho arquitetônico, aprendendo os princípios básicos do desenho no computador.
Quais foram suas experiências profissionais e/ou acadêmicas fora da universidade (estágios, cursos, eventos) e como
você acha que elas influenciaram seu processo de representação gráfica e de projeto?
Fora da universidade eu tive dois estágios. O primeiro foi na área de arquitetura de interiores, no qual pude aperfeiçoar minhas
habilidades no uso no Sketchup. O segundo foi na área de arquitetura e urbanismo, onde pude trabalhar com um arquiteto que
fazia uso do desenho à mão livre durante o processo de criação e, as vezes, apresentação. É importante salientar que este
mesmo arquiteto possuiu um formação acadêmica bem diferente da minha, em sua época de faculdade só existia o desenho à
mão, o que fez com que ele dominasse completamente as diversas técnicas de desenho em arquitetura. A meu ver, isso
acrescenta muito nos seus desenhos assistidos por computador, pois ao dominar completamente a técnicas de perspectiva e de
desenho técnico em geral, seus resultados no computador sempre ficam exemplares. Neste segundo estágio, pude aprender a
utilizar o CorelDraw e o Revit Architecture. Vejo muitas influências de projeto retiradas no convívio com o arquiteto Ricardo
Muratori. Fui muito influenciada por sua forma de pensar e projetar arquitetura. Porém acredito que graficamente eu desenvolvi
um apreço pessoal pela perspectiva não realista do Sketchup. Sempre gostei de um “desenho mais livre” para as apresentações,
com muitas cores e poucos textos explicativos, e o Sketchup e o desenho à mão foram as técnicas que mais me agradaram
198
durante meu período na universidade. O meu desenho técnico de arquitetura também foi influenciado pelo tempo que passei
trabalhando no escritório do Ricardo, no qual aprendi como representar melhor alguns elementos construtivos no Autocad. Vale
ressaltar também que sempre tive o costume de acompanhar sites e ler revistas de arquitetura, nos quais era comum ver uma
nova forma de representação, e assim pude extrair o que achava mais interessante e tentar aplicar no meu processo de
representação gráfica.
Quais instrumentos e técnicas de desenho ANALÓGICO você costumava usar durante as disciplinas de projeto (P.A.s,
P.U.s e Paisagismo)?
Os instrumentos eram basicamente canetas tipo unipin, canetinhas tombow, lapis 2b, lapiseiras 0.7 e 0.9, papel manteiga, papel
a4 e a3. A técnica era essencialmente o uso de croquis a nível de estudos iniciais do projeto. Algumas vezes houve o uso destes
croquis para apresentações de estudos preliminares.
Quais instrumentos e técnicas de desenho DIGITAL você costumava usar durante as disciplinas de projeto (P.A.s, P.U.s e
Paisagismo)?
O instrumento principal era o computador e os softwares eram o sketchup, o coreldraw e o autocad.
FIM DA ENTREVISTA 1
199
APÊNDICE F - RESPOSTAS AO QUESTIONÁRIO – ESTUDO DE CASO 2
Data das respostas: 17/11/2014 17:55:14
Nome completo: BRUNA GRIPP IBIAPINA
Nome do professor orientador
CARLA CAMILA GIRÃO e AMIRIA BRASIL
Título do trabalho final de graduação
Planejamento Estratégico e a Cidade de Guaramiranga: Uma proposta para o Desenvolvimento Urbano Local
Ano da defesa
2011
Você costuma desenhar (desenho à mão livre, modelarem 3D, pintura, desenho vetorial) em dispositivos portáteis como
tablets e/ou aparelhos celulares? Se SIM, em qual equipamento e com quais aplicativos?
Não
Qual sua faixa etária na época de seu TFG?
23 a 27 anos
Você considera o desenho à mão livre importante para o trabalho do arquiteto? (De 1 a 5 sendo 1 o menos importante)
5
Como você classificaria suas habilidades para fazer desenhos à mão livre? (De 1 a 5 sendo 1 o menos importante)
3
Como você classificaria seu grau de interesse e de uso do desenho à mão livre? (De 1 a 5 sendo 1 o menos importante)
Uso, mas tenho interesse em aperfeiçoar minhas habilidades
200
Durante as ORIENTAÇÕES do seu TFG, quais foram os recursos utilizados por VOCÊ para comunicar e discutir suas
ideias com seu orientador?
Desenho à mão livre, Modelagem digital bidimensional (Ex: AutoCAD, Corel Draw ou outros), Maquetes físicas
Durante as ORIENTAÇÕES do seu TFG, quais foram os tipos de DESENHO utilizados por VOCÊ para comunicar e
discutir suas ideias com seu orientador?
Plantas, Mapas
Na fase de CRIAÇÃO/CONCEPÇÃO do seu TFG, quais os INSTRUMENTOS utilizados por você para pensar o projeto?
Desenho à mão livre, Maquetes físicas
Na fase de CRIAÇÃO/CONCEPÇÃO do projeto, quais os DESENHOS utilizados por você para pensar o projeto?
Plantas, Perspectivas, Mapas
Na fase de APRESENTAÇÃO do projeto, quais os INSTRUMENTOS utilizados por você para representar o projeto?
Desenho à mão livre, Modelagem digital bidimensional (Ex: AutoCAD, Corel Draw ou outros), Maquetes físicas
Na fase de APRESENTAÇÃO do projeto, quais os DESENHOS utilizados por você para representar o projeto?
Plantas, Cortes, Perspectivas
Na fase de DOCUMENTAÇÃO do projeto, quais os INSTRUMENTOS utilizados por você para confeccionar os desenhos
técnicos?
Desenho à mão livre, Modelagem digital tridimensional (Ex: SketchUp, ou outros), Modelagem digital bidimensional (Ex:
AutoCAD, Corel Draw ou outros), Maquetes físicas
Na fase de DOCUMENTAÇÃO do projeto, quais os DESENHOS utilizados por você para confeccionar os desenhos
técnicos?
Plantas, Cortes, Perspectivas, Detalhes construtivos
Das disciplinas de desenho listadas abaixo quais você considera que foram fundamentais para formar sua base gráfica?
Geometria Descritiva, Desenho de Observação, Desenho Auxiliado por Computador I (DAC I), Desenho Auxiliado por
Computador II (DAC II)
201
Das disciplinas de desenho listadas abaixo quais você considera que tiveram conteúdos e/ou atividades didáticas
relacionadas com as práticas de projeto?
Desenho de Observação, Desenho Auxiliado por Computador I (DAC I), Desenho Auxiliado por Computador II (DAC II)
Durante as disciplinas de projeto listadas abaixo você foi orientado(a) pelo(a) professor(a) a usar algum instrumento e/
ou método específico de representação gráfica como parte dos requisitos do PROCESSO DE PROJETO e/ou DIDÁTICO
DA DISCIPLINA tais como: desenho à mão livre, desenho assistido por computador, maquetes digitais ou físicas, etc.?
Se sim, quais foram as disciplinas e os métodos adotados?
Em todos os PAs, com exceção do PA I que foi todo feito a mão na prancheta, o processo se iniciava a mão livre para
desenvolver conceitos, depois desenhos a mão com auxilio de réguas e escalimetro, posteriormente desenhos técnicos
em cad e por fim perspectivas a mão ou por sketchup. O único que foi pedido maquete física foi o PA VI. PU I desenho a mao livre. PU II - desenho a mao livre e em cad. PU III _ desenho a mao livre e em cad
Quais disciplinas do seu curso você considera que foram fundamentais para definir sua metodologia de concepção de
projetos?
Projeto Urbano
Quais foram suas experiências profissionais e/ou acadêmicas fora da universidade (estágios, cursos, eventos) e como
você acha que elas influenciaram seu processo de representação gráfica e de projeto?
O que influenciou diretamente no meu projeto foi a participação no grupo de pesquisa da UNIFOR por mais ou menos 2 anos e a
participação em eventos como encontros, bienais de arquitetura, Anpur e etc. No processo de representação gráfica eu, desde
criança, sempre desenhei com lápis aquarela e por influencia dos desenhos da Lina Bo Bardi eu defini essa técnica para
representar meu projeto.
Quais instrumentos e técnicas de desenho ANALÓGICO você costumava usar durante as disciplinas de projeto (P.A.s,
P.U.s e Paisagismo)?
Quase sempre utilizei para desenhos o papel vegetal, lapiseiras de grafite mais grosso e lápis aquarela. Em algumas disciplinas
gostava de utilizar papelão, jornal, caixas, papel reciclado, colagens e tintas para apresentação de trabalhos.
Quais instrumentos e técnicas de desenho DIGITAL você costumava usar durante as disciplinas de projeto (P.A.s, P.U.s e
Paisagismo)?
CAD, SKETSHUP E CORELDRAW
FIM DA ENTREVISTA 2
202
APÊNDICE G - RESPOSTAS AO QUESTIONÁRIO – ESTUDO DE CASO 3
Data das respostas: 19/11/2014 01:06:17
Nome completo: Danússia Baracho Teixeira
Nome do professor orientador
Marcos Bandeira de Oliveira
Título do trabalho final de graduação
Escola de Design
Ano da defesa
2013
Você costuma desenhar (desenho à mão livre, modelarem 3D, pintura, desenho vetorial) em dispositivos portáteis como
tablets e/ou aparelhos celulares? Se SIM, em qual equipamento e com quais aplicativos?
Não
Qual sua faixa etária na época de seu TFG?
23 a 27 anos
Você considera o desenho à mão livre importante para o trabalho do arquiteto? (De 1 a 5 sendo 1 o menos importante)
4
Como você classificaria suas habilidades para fazer desenhos à mão livre? (De 1 a 5 sendo 1 o menos importante)
2
Como você classificaria seu grau de interesse e de uso do desenho à mão livre? (De 1 a 5 sendo 1 o menos importante)
Não uso, mas tenho interesse em usar/aprender
Durante as ORIENTAÇÕES do seu TFG, quais foram os recursos utilizados por VOCÊ para comunicar e discutir suas
ideias com seu orientador?
203
Desenho à mão livre, Modelagem digital tridimensional (Ex: SketchUp, ou outros), Modelagem digital bidimensional (Ex:
AutoCAD, Corel Draw ou outros), Maquetes físicas.
Durante as ORIENTAÇÕES do seu TFG, quais foram os tipos de DESENHO utilizados por VOCÊ para comunicar e
discutir suas ideias com seu orientador?
Plantas, Cortes, Fachadas, Detalhes construtivos
Na fase de CRIAÇÃO/CONCEPÇÃO do seu TFG, quais os INSTRUMENTOS utilizados por você para pensar o projeto?
Desenho à mão livre, Modelagem digital tridimensional (Ex: SketchUp, ou outros), Modelagem digital bidimensional (Ex:
AutoCAD, Corel Draw ou outros)
Na fase de CRIAÇÃO/CONCEPÇÃO do projeto, quais os DESENHOS utilizados por você para pensar o projeto?
Plantas, Fachadas
Na fase de APRESENTAÇÃO do projeto, quais os INSTRUMENTOS utilizados por você para representar o projeto?
Desenho à mão livre, Modelagem digital tridimensional (Ex: SketchUp, ou outros), Modelagem digital bidimensional (Ex:
AutoCAD, Corel Draw ou outros), Maquetes físicas
Na fase de APRESENTAÇÃO do projeto, quais os DESENHOS utilizados por você para representar o projeto?
Plantas, Cortes, Fachadas, Perspectivas, Detalhes construtivos
Na fase de DOCUMENTAÇÃO do projeto, quais os INSTRUMENTOS utilizados por você para confeccionar os desenhos
técnicos?
Modelagem digital bidimensional (Ex: AutoCAD, Corel Draw ou outros)
Na fase de DOCUMENTAÇÃO do projeto, quais os DESENHOS utilizados por você para confeccionar os desenhos
técnicos?
Plantas, Cortes, Fachadas, Detalhes construtivos
Das disciplinas de desenho listadas abaixo quais você considera que foram fundamentais para formar sua base gráfica?
Desenho Auxiliado por Computador I (DAC I), Técnicas de Representação I, Técnicas de Representação II
Das disciplinas de desenho listadas abaixo quais você considera que tiveram conteúdos e/ou atividades didáticas
relacionadas com as práticas de projeto?
204
Introdução ao Desenho, Desenho Auxiliado por Computador I (DAC I), Técnicas de Representação I
Durante as disciplinas de projeto listadas abaixo você foi orientado(a) pelo(a) professor(a) a usar algum instrumento e/
ou método específico de representação gráfica como parte dos requisitos do PROCESSO DE PROJETO e/ou DIDÁTICO
DA DISCIPLINA tais como: desenho à mão livre, desenho assistido por computador, maquetes digitais ou físicas, etc.?
Se sim, quais foram as disciplinas e os métodos adotados?
Em todas, com exceção de Paisagismo, foi utilizado o desenho assistido por computador. Os métodos usados em
Paisagismo foram desenho à mão livre e maquete física. Também houve maquete física em Projeto Arquitetônico V e
VI e TFG. Os desenhos à mão livre foram mais valorizados em Projeto Arquitetônico V, Projeto Urbanístico I,
Paisagismo, Projeto Urbanístico II e TFG.
Quais disciplinas do seu curso você considera que foram fundamentais para definir sua metodologia de concepção de
projetos e por que?
Projeto Arquitetônico, Técnicas de Representação I, DAC I, Sistemas Estruturais I
Quais foram suas experiências profissionais e/ou acadêmicas fora da universidade (estágios, cursos, eventos) e como
você acha que elas influenciaram seu processo de representação gráfica e de projeto?
Os estágios ajudaram a desenvolver o desenho dos detalhes e a analisar melhor quais informações gráficas são suficientes
para o entendimento do projeto. Já nos eventos, como Congressos e Fóruns, a qualidade gráfica dos projetos apresentados
ajuda a perceber e raciocinar de que maneira os desenhos explicativos do projeto podem ser organizados de maneira simples e
didática.
Quais instrumentos e técnicas de desenho ANALÓGICO você costumava usar durante as disciplinas de projeto (P.A.s,
P.U.s e Paisagismo)?
Escalímetro, papel manteiga e vegetal, lápis de cor, lapiseira, canetas UniPin
Quais instrumentos e técnicas de desenho DIGITAL você costumava usar durante as disciplinas de projeto (P.A.s, P.U.s
e Paisagismo)?
AutoCAD, SketchUp, Corel Draw
FIM DA ENTREVISTA 3
205
APÊNDICE H - RESPOSTAS AO QUESTIONÁRIO – ESTUDO DE CASO 4
Data das respostas: 18/11/2014 10:00:29
Nome completo: Luma Holanda Vasconcelos
Nome do professor orientador
Francisco Edilson P Aragão
Título do trabalho final de graduação
Parque Lagoa da Maraponga
Ano da defesa
2013
Você costuma desenhar (desenho à mão livre, modelarem 3D, pintura, desenho vetorial) em dispositivos portáteis como
tablets e/ou aparelhos celulares? Se SIM, em qual equipamento e com quais aplicativos?
Sim, tablet, sketchbook
Qual sua faixa etária na época de seu TFG?
23 a 27 anos
Você considera o desenho à mão livre importante para o trabalho do arquiteto? (De 1 a 5 sendo 1 o menos importante)
4
Como você classificaria suas habilidades para fazer desenhos à mão livre? (De 1 a 5 sendo 1 o menos importante)
3
Como você classificaria seu grau de interesse e de uso do desenho à mão livre? (De 1 a 5 sendo 1 o menos importante)
Uso, mas tenho interesse em aperfeiçoar minhas habilidades
Durante as ORIENTAÇÕES do seu TFG, quais foram os recursos utilizados por VOCÊ para comunicar e discutir suas
ideias com seu orientador?
Desenho à mão livre, Modelagem digital bidimensional (Ex: AutoCAD, Corel Draw ou outros)
206
Durante as ORIENTAÇÕES do seu TFG, quais foram os tipos de DESENHO utilizados por VOCÊ para comunicar e
discutir suas ideias com seu orientador?
Plantas, Fachadas, Perspectivas
Na fase de CRIAÇÃO/CONCEPÇÃO do seu TFG, quais os INSTRUMENTOS utilizados por você para pensar o projeto?
Desenho à mão livre
Na fase de CRIAÇÃO/CONCEPÇÃO do projeto, quais os DESENHOS utilizados por você para pensar o projeto?
Plantas, Fachadas, Perspectivas
Na fase de APRESENTAÇÃO do projeto, quais os INSTRUMENTOS utilizados por você para representar o projeto?
Desenho à mão livre, Desenho instrumentado em prancheta (régua paralela, esquadros, compasso e outros), Modelagem digital
tridimensional (Ex: SketchUp, ou outros), Modelagem digital bidimensional (Ex: AutoCAD, Corel Draw ou outros), Maquetes
físicas
Na fase de APRESENTAÇÃO do projeto, quais os DESENHOS utilizados por você para representar o projeto?
Plantas, Cortes, Perspectivas, Detalhes construtivos
Na fase de DOCUMENTAÇÃO do projeto, quais os INSTRUMENTOS utilizados por você para confeccionar os desenhos
técnicos?
Desenho à mão livre, Desenho instrumentado em prancheta (régua paralela, esquadros, compasso e outros), Modelagem digital
tridimensional (Ex: SketchUp, ou outros), Modelagem digital bidimensional (Ex: AutoCAD, Corel Draw ou outros)
Na fase de DOCUMENTAÇÃO do projeto, quais os DESENHOS utilizados por você para confeccionar os desenhos
técnicos?
Plantas, Cortes, Fachadas, Perspectivas, Detalhes construtivos
Das disciplinas de desenho listadas abaixo quais você considera que foram fundamentais para formar sua base gráfica?
Introdução ao Desenho, Desenho Auxiliado por Computador I (DAC I), Técnicas de Representação I, Técnicas de Representação
II
Das disciplinas de desenho listadas abaixo quais você considera que tiveram conteúdos e/ou atividades didáticas
relacionadas com as práticas de projeto?
Desenho de Observação, Introdução ao Desenho, Desenho Auxiliado por Computador I (DAC I), Desenho Auxiliado por
Computador II (DAC II), Técnicas de Representação II
207
método específico de representação gráfica como parte dos requisitos do PROCESSO DE PROJETO e/ou DIDÁTICO DA
DISCIPLINA tais como: desenho à mão livre, desenho assistido por computador, maquetes digitais ou físicas, etc.? Se
sim, quais foram as disciplinas e os métodos adotados?
Desenho à mão livre, maquete física, maquete digital, desenho assistido por computador.
Projeto urbanístico I e II, Projeto arquitetônico III e V, Paisagismo.
Quais disciplinas do seu curso você considera que foram fundamentais para definir sua metodologia de concepção de
projetos e por que?
Planejamento urbano I e II, projeto urbanístico I, II e III, paisagismo, projeto arquitetônico III e V, sistemas estruturais,
pesquisa.
Quais foram suas experiências profissionais e/ou acadêmicas fora da universidade (estágios, cursos, eventos) e como
você acha que elas influenciaram seu processo de representação gráfica e de projeto?
Estágios em que tinha que utilizar muitos softwares para elaboração de projetos.
Visitas técnicas acadêmicas e profissionais que ajudam a ter uma maior e melhor percepção do ambiente e suas
necessidades.
Quais instrumentos e técnicas de desenho ANALÓGICO você costumava usar durante as disciplinas de projeto (P.A.s,
P.U.s e Paisagismo)?
Desenho à mão livre.
Papel manteiga, papel vegetal, papel ofício, folhas A3, lápis de cor, canetas unipin, lapiseiras, lápis 2B, borracha,
canetinhas, lápis de carvão, giz de cera, esquadros, régua, escalímetro, compasso.
Quais instrumentos e técnicas de desenho DIGITAL você costumava usar durante as disciplinas de projeto (P.A.s, P.U.s e
Paisagismo)?
Laptop, desktop, AutoCad, corelDraw, Sketchup, Prezi, Google Earth.
FIM DA ENTREVISTA 4
208
APÊNDICE I - RESPOSTAS AO QUESTIONÁRIO – ESTUDO DE CASO 5
Data das respostas: 18/11/2014 14:26:36
Nome completo: Nicole Campos Fiúza
Nome do professor orientador
Márcia Cavalcante e Marcos Bandeira de Oliveira
Título do trabalho final de graduação
Curso de Gastronomia Unifor
Ano da defesa
2009
Você costuma desenhar (desenho à mão livre, modelarem 3D, pintura, desenho vetorial) em dispositivos portáteis como
tablets e/ou aparelhos celulares? Se SIM, em qual equipamento e com quais aplicativos?
Não
Qual sua faixa etária na época de seu TFG?
23 a 27 anos
Você considera o desenho à mão livre importante para o trabalho do arquiteto? (De 1 a 5 sendo 1 o menos importante)
4
Como você classificaria suas habilidades para fazer desenhos à mão livre? (De 1 a 5 sendo 1 o menos importante)
2
Como você classificaria seu grau de interesse e de uso do desenho à mão livre? (De 1 a 5 sendo 1 o menos importante)
Não uso, mas tenho interesse em usar/aprender
Durante as ORIENTAÇÕES do seu TFG, quais foram os recursos utilizados por VOCÊ para comunicar e discutir suas
ideias com seu orientador?
209
Desenho à mão livre, Modelagem digital tridimensional (Ex: SketchUp, ou outros), Modelagem digital bidimensional (Ex:
AutoCAD, Corel Draw ou outros)
Durante as ORIENTAÇÕES do seu TFG, quais foram os tipos de DESENHO utilizados por VOCÊ para comunicar e
discutir suas ideias com seu orientador?
Plantas, Cortes, Fachadas, Perspectivas, Detalhes construtivos
Na fase de CRIAÇÃO/CONCEPÇÃO do seu TFG, quais os INSTRUMENTOS utilizados por você para pensar o projeto?
Desenho à mão livre, Desenho instrumentado em prancheta (régua paralela, esquadros, compasso e outros), Modelagem digital
tridimensional (Ex: SketchUp, ou outros), Modelagem digital bidimensional (Ex: AutoCAD, Corel Draw ou outros)
Na fase de CRIAÇÃO/CONCEPÇÃO do projeto, quais os DESENHOS utilizados por você para pensar o projeto?
Plantas, Cortes, Fachadas, Perspectivas, Detalhes construtivos
Na fase de APRESENTAÇÃO do projeto, quais os INSTRUMENTOS utilizados por você para representar o projeto?
Desenho à mão livre, Desenho instrumentado em prancheta (régua paralela, esquadros, compasso e outros), Modelagem digital
tridimensional (Ex: SketchUp, ou outros), Modelagem digital bidimensional (Ex: AutoCAD, Corel Draw ou outros)
Na fase de APRESENTAÇÃO do projeto, quais os DESENHOS utilizados por você para representar o projeto?
Plantas, Cortes, Fachadas, Perspectivas, Detalhes construtivos
Na fase de DOCUMENTAÇÃO do projeto, quais os INSTRUMENTOS utilizados por você para confeccionar os desenhos
técnicos?
Desenho à mão livre, Desenho instrumentado em prancheta (régua paralela, esquadros, compasso e outros),
Modelagem digital tridimensional (Ex: SketchUp, ou outros), Modelagem digital bidimensional (Ex: AutoCAD, Corel
Draw ou outros)
Na fase de DOCUMENTAÇÃO do projeto, quais os DESENHOS utilizados por você para confeccionar os desenhos
técnicos?
Plantas, Cortes, Fachadas, Perspectivas, Detalhes construtivos
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Das disciplinas de desenho listadas abaixo quais você considera que foram fundamentais para formar sua base gráfica?
Desenho de Observação, Introdução ao Desenho, Desenho Auxiliado por Computador I (DAC I), Desenho Auxiliado por
Computador II (DAC II), Técnicas de Representação I, Técnicas de Representação II
Durante as disciplinas de projeto listadas abaixo você foi orientado(a) pelo(a) professor(a) a usar algum instrumento e/
ou método específico de representação gráfica como parte dos requisitos do PROCESSO DE PROJETO e/ou DIDÁTICO
DA DISCIPLINA tais como: desenho à mão livre, desenho assistido por computador, maquetes digitais ou físicas, etc.?
Se sim, quais foram as disciplinas e os métodos adotados?
PA´s, Arquitetura de Interiores, PU´s e Trabalho Final de Graduação.
Quais disciplinas do seu curso você considera que foram fundamentais para definir sua metodologia de concepção de
projetos?
As disciplinas relacionadas a técnicas de desenho, tanto na prancheta quanto no computador e os PA´s.
Quais foram suas experiências profissionais e/ou acadêmicas fora da universidade (estágios, cursos, eventos) e como
você acha que elas influenciaram seu processo de representação gráfica e de projeto?
Os estágios com certeza são de grande importância para a minha vida acadêmica. Conseguimos aprender a
desenvolver meios de comunicação em desenho diretamente a um cliente "real", para que o projeto saia do papel e vire
realidade.
Quais instrumentos e técnicas de desenho ANALÓGICO você costumava usar durante as disciplinas de projeto (P.A.s,
P.U.s e Paisagismo)?
Papel, lápis, lapiseiras, canetas coloridas, escalas, esquadros, pranchetas.
Quais instrumentos e técnicas de desenho DIGITAL você costumava usar durante as disciplinas de projeto (P.A.s, P.U.s e
Paisagismo)?
Autocad, Sketchup.
FIM DA ENTREVISTA 5
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Marcos Bandeira de Oliveira - início