O CAMINHO ( XL ) Prof. Prudêncio Ramão Almiron O paradoxo sempre surpreende Nada mais surpreendente, quando a lógica do pensamento humano defronta-se com o paradoxal: o escuro mostra-se em caminho sob a luz; a morte que põe fim ao trânsito apresenta-se como vida permanente; o instante entreabre-se como eterno; o amargo o sabor adoça; a dor encaminha à cura; a tristeza preambula a inebriante paz. Nada mais é edificado que o de repente sempre o foi. Oh! Surpresas... que se nos apossam. As sombras da noite davam cor ao céu de lua nova que entenebrava os locais e os horizontes de cada ponto onde alguém se situava. A cela de Cipriano e Julião aparentava não poder ser vislumbrada, no entanto os encarcerados sentiam-se em situação oposta da noite anterior. Apesar de não poderem serem vistos pelos demais que, por acaso, passassem pelo corredor, lá dentro eles conseguiam apreciar a obra construída por Cipriano: o crucifixo que para eles estava posto como um farol que os permitia deixar seus pensamentos desbravarem planos de existências e viajarem com seus pensamentos em busca de um local fantástico onde um sol imponente dispunha sob árvores frondosas de sombras refrescantes, onde brisas suavemente sopravam, varrendo a verde relva, sobre a qual rolavam multicoloridas flores que se soltaram de suas plantas matrizes. Julião com os olhos arregalados e boca entreaberta perguntava a Cipriano o que é isso agora? Como podemos estar a ver tais belezas, enquanto ao redor tudo, para os demais são trevas? Cipriano respondia que isso eram promessas? Promessas do que? Insistia Julião. Promessas do que podemos ter e disso fazermos parte, se resolvermos a cumprir aquilo que nos toca em razão dos males, erros que até então temos cometido, respondeu Cipriano. Quem te disse isso? Inquiriu Julião. Luís Osório em suas preleções semanais e também Francisco que me vem visitar em sonho, quando adormeço, disse Cipriano, secando, com a ponta do lençol, uma lágrima que lhe escorria pelo rosto. Continuou: antes, porém, devo atravessar aquele vale cheio de árvores espinhentas e feras malvadas que me espreitam. Convido-te para seres meu companheiro, venhas, se estiveres pronto para os sacrifícios que nos estão reservados. Ambos adormeceram, porém as vivências oníricas persistiram, deixando o paraíso para trás e altas montanhas foram fazendo-se mais próximas até que chegaram à beira de um profundo e largo precipício que se mostrava tenebroso e era gélido com espaços preenchidos por urros, guinchos e miados horripilantes, encobertos por uma mata densa. A noite fez-se longa, mas o dia clareou os ambientes, afugentando o sono e, despertos, foram chamados para as suas rotinas de presidiários, levantar, fazer a higiene, ir ao refeitório e depois ao trabalho. Era uma quinta-feira e às 16,00 horas, de forma certeira, idêntica, rotina infalível, Luís Osório estava, agora, na biblioteca do presídio, em uma mesa separada, posta em um canto do salão, a espera de Cipriano. Este que pontualmente se apresentou ao seu sempre interlocutor. Luís Osório não se surpreendeu, pois já esperava que tal ocorresse, e sabia que era esse o dia. Cipriano veio acompanhado de Julião. Este com ares de receoso, aproximou-se e de sua estatura de um metro e noventa e sete centímetros de um corpanzil compacto e negro, cabisbaixo procurava vislumbrar Luís Osório de via transversa. Luís Osório com seus aproximados um metro e oitenta, corpo atlético, braços longos e de musculatura bem delineada, estendeu-lhe os braços e num abraço acolheu Julião como se esse fosse um menino que chegava após um longo trajeto que fizera, perdido, por vir sem rumo definido. Disse a Julião: Deus esteja contigo, assim como já está com Cipriano. Fez Julião e Cipriano sentarem-se lado a lado, junto à mesa em frente para ele. Luís Osório sempre tendo entre seus dedos o cordão de couro com o crucifixo de madeira rústica, anunciou e iniciou a contar uma história de um viajante que somente andava descalço e à noite. O objetivo do peregrino era encontrar a Luz. Assim continuou a narração para os dois atentos ouvintes. Passaram-se os minutos enquanto o convertedor, com voz baixa, suave quase hipnotizante, desenvolvia o conto do romeiro solitário notívago e assim culminou, com a explicação sobre o sentido dessa, uma hora após e anunciou a ambos que deveriam começar a buscar a conversão de mais prisioneiros, sendo que Cipriano desenvolveria a escolha dos apenados objetivados, faria os primeiros contatos e, assim começariam a formar um grupo que seria por todos trabalhados, inclusive ele, Luís Osório, enquanto Julião assessoraria e daria segurança a Cipriano, já que o trato com prisioneiros era algo que merecia tato e cautela, pois eles eram energias puras adversas do bem e poderiam pretender reagir à conversão. Convite: acesse, na Internet, as páginas e o blog do Professor Almiron que tem este endereço: www.professoralmiron.com.br . Obs.: O site está ainda em manutenção e está sendo liberado em partes. Estão com acesso as páginas de prosa, poesia, tese de doutorado, artigos científicos, porém carentes de revisão ortográfica, titulação, aulas ministradas no Curso de Direito do campus de Alegrete, da URCAMP, e o blog nos qual os leitores podem postar suas ideias. Obrigado pela atenção.