A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
AGORA, É A ESCOLA QUE QUEREMOS E NADA MAIS!
WELLINGTON ALVES ARAGAO1
Resumo:
Lutar pelo acesso à terra e lutar pelo acesso à escola na própria terra é, sem dúvida, um dos mais
honrados caminhos para o campesinato brasileiro. Essa lógica permeou o entendimento dos
camponeses do Assentamento Campo Verde, no município de Pedras de Fogo – PB. Aqui,
apresentaremos ainda que de forma resumida, tanto a luta pela terra quanto a luta pela construção de
uma escola no próprio assentamento, além de discutirmos sobre o Projeto Político Pedagógico da
referida escola, para tanto, também levantamos algumas questões sobre a importância da Educação
no Campo e da Educação do Campo, além de também discutirmos sobre os resultados obtidos pela
pesquisa de mestrado acadêmico que se propôs a analisar tanto o universo camponês quanto o
universo educacional do assentamento em questão.
Palavras-chave: Assentamento; Escola; Educação no/do Campo; Projeto Político Pedagógico
Resumen:
Lucha por el acceso a la tierra y luchar por el acceso a la escuela en su propia tierra es, sin duda, uno
de los caminos más honrados para el campesinado brasileño. Esta lógica ha calado en la mente de
los campesinos que anidan Campo Verde, en la ciudad de Pedras de Fogo - PB. A continuación,
presentamos aunque sea brevemente, tanto en la lucha por la tierra y la lucha para construir una
escuela en el asentamiento en sí, así como discutir sobre el Proyecto Pedagógico Político de esta
escuela, por lo tanto, también planteó algunas preguntas acerca de la importancia de la Educación en
el campo y la Educación Rural, así como discutir los resultados obtenidos por la investigación de
maestría académica que se dispuso a analizar tanto el universo campesino como el universo
educativo de lo asentamiento en cuestión.
Palabras-clave: Asentamiento; Colegio; Educación en/de Campo; Proyecto Político Pedagógico
1
- Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Goiás.
E-mail de contato: [email protected]
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1 – Introdução
O presente artigo é resultado de um capítulo de uma dissertação de mestrado
em Geografia defendida em agosto de 2011 que discorre sobre questões agrárias e
a Educação do Campo. Sendo seu último capítulo o que aborda sobre a insistência
de um grupo de pais e mães de um assentamento rural na microrregião do litoral sul
paraibano que após a conquista definitiva da terra não hesitaram em cobrar das
autoridades competentes uma escola de Ensino Fundamental I para seus filhos. A
microrregião em análise é uma das maiores produtoras de cana-de-açúcar do
Estado da Paraíba, entretanto, a mesma possui forte tradição no campesinato, tendo
sido palco de diversos conflitos e ocupações envolvendo posseiros, trabalhadores
rurais e latifundiários. O desejo de ter uma escola no próprio assentamento era tão
ardente quanto o de ter a posse da terra. Os filhos dos agricultores do Assentamento
Campo Verde para ter acesso ao ensino primário (Fundamental I) eram conduzidos
em caminhão pau de arara para outros assentamentos da região, ou tinham que
fazer o deslocamento à pé de cerca de 1 hora até a escola mais próxima.
Depois de muitas promessas por parte da Secretaria Municipal de Educação
e que nunca foram cumpridas, os pais se reuniram na associação local e decidiram
ocupar a referida secretaria e só sair de lá com a garantia de que a escola seria
construída no assentamento e que nenhuma criança ficaria desprovida do
atendimento educacional necessário. A importância política desse ato de ocupação
revelava a realidade cotidiana vivenciada por aqueles agricultores que não
encontraram outro meio de fazer pressão sobre as autoridades competentes para
acelerar o processo de criação do próprio assentamento. Da mesma forma a
ocupação da Secretaria Municipal de Educação também foi o instrumento legal que
encontraram para pressionar as autoridades locais a cumprir com a promessa
empenhada durante uma cerimônia religiosa em 1997 que oficializou a nova vida em
comunidade naquele assentamento rural.
Enquanto muitas pessoas que conheceram a longa espera dos assentados
pela conquista definitiva daquela terra achavam que ela era o único elemento
importante nos anseios daqueles agricultores, acreditando, inclusive, que já se
davam por satisfeitos apenas pela posse da mesma, foi aí que se enganaram, pois
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eles queriam algo a mais, algo tão importante quanto a terra – queriam educação.
Os assentados de Campo Verde mesmo sendo majoritariamente analfabetos e/ou
semianalfabetos, demonstraram que a educação dos seus filhos era muito
importante e que estavam dispostos a enfrentar qualquer intempérie para fazer valer
o direito à educação garantida pela LDB 9394/96. O título deste artigo é uma
referência a uma fala de uma jovem mãe assentada que não se conformava com a
ausência de uma escola na comunidade para atender tanto seus filhos quanto os
filhos dos demais companheiros assentados.
2 – Metodologia
Para a construção deste artigo, realizamos pesquisas de cunho bibliográfico e
documental, além de uma pesquisa de campo onde foi possível executar diversas
entrevistas semiestruturadas envolvendo a direção da escola, seus respectivos
docentes e membros da comunidade local. Nela, foram abordados tópicos como a
formação profissional, o local de residência dos docentes, o currículo escolar, o
calendário escolar, os conteúdos ministrados nas aulas, a capacitação para o
trabalho em escolas rurais, dentre outras questões que também envolviam o
universo camponês.
3 – O fim da luta pela posse da terra e o início da luta pela escola
A tão desejada terra para viver e trabalhar já não era mais um sonho, era uma
realidade que todos ainda ficavam perplexos ao comentar. Eram os homens os que
mais se empolgavam nas rodas de conversas sobre o longo período de dias que
passaram sob os barracões de lona à margem do caminho de acesso à antiga
Fazenda Imbé. Muitos deles estavam ao lado de suas companheiras e filhos(as), já
outros haviam deixado sua esposa e filhos(as) em casas de familiares, pois,
temendo algum confronto direto com o proprietário da fazenda, acharam por bem
poupá-los de algum dano moral ou mesmo físico.
Com o passar dos dias, as famílias recém-assentadas foram se organizando
através de um lento processo que dependia da construção das casas da agrovila,
pois na medida em que as casas eram construídas, as famílias já poderiam ocupá-
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las e dar prosseguimento à normalidade do convívio comunitário. Nas reuniões
informais e nas assembleias entre os assentados, sempre existiam questionamentos
sobre o que fazer para educar as crianças e os jovens assentados, pois antes da
formação daquele assentamento a vida deles transcorria normalmente, as crianças e
os jovens estudavam nas escolas próximas ou nas cidades onde moravam.
No mesmo ano em que ocorreu a entrega do termo de posse aos assentados
de Campo Verde (1997), o MST/PB, mesmo não auxiliando no período do
acampamento, se fez presente numa reunião com os assentados e propôs a criação
de um espaço de alfabetização para as crianças e os jovens daquele assentamento.
Esta ação do MST resultou num convite para que as pessoas interessadas em
alfabetizar as crianças e os jovens daquela comunidade recebessem treinamento
específico em João Pessoa, além de um auxílio mensal de R$ 100,00 que seria
pago durante a vigência do programa de alfabetização.
Mesmo havendo auxílio financeiro, foram poucos os interessados, porém,
algumas mulheres aceitaram a proposta e se deslocaram ao Teatro Paulo Pontes,
na capital, para receber a devida formação ofertada pelo MST. Ao término da
mesma, elas saíram em busca dos interessados para formar suas turmas de
alfabetização. Esse intento de alfabetizar as crianças e os jovens do assentamento
não vingou, mesmo depois de as turmas já estarem formadas. Nessa perspectiva,
as famílias passaram a discutir nas assembleias a construção de uma escola para
atender as crianças e os jovens no próprio assentamento.
Tal reivindicação soou como justa pelas lideranças da comunidade, que
passaram a exigir junto ao INCRA a construção de uma unidade escolar. Após os
devidos esclarecimentos sobre essa reivindicação, aquela comunidade assentada foi
orientada a buscar junto à prefeitura local a construção de uma escola na
comunidade. Então, se deslocaram em comissão à sede do município para solicitar
à Secretaria Municipal de Educação que assumisse o compromisso com a educação
das crianças e dos jovens do assentamento. A prefeitura “forçadamente” acatou a
proposta e assumiu o compromisso de contratação das professoras que haviam sido
capacitadas pelo MST, fornecendo também o que era necessário para que as aulas
tivessem início no ano seguinte.
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O ano de 1998 foi o marco dessa empreitada pela educação no
assentamento, as aulas ocorriam no período da noite, no casarão da antiga Fazenda
Imbé distante cerca de 30 minutos da agrovila. Todo o percurso de ida e volta era
feito à pé pelas professoras e por cerca de 30 alunos que contavam com o auxílio de
um lampião usado tanto para a caminhada quanto para a ministração das aulas.
Essa iniciativa foi o primeiro e o mais importante passo para reestabelecer o
convívio habitual das crianças e dos jovens com a escola. Ainda que a estrutura
improvisada naquele momento não oferecesse grande estímulo à permanência
desses jovens nas aulas, existiam muitos alunos que tinham interesse em aprender
a ler e a escrever corretamente, conforme relatou uma das professoras que iniciou o
processo de alfabetização com as crianças e os jovens daquele assentamento.
Após alguns meses de caminhada, esse percurso se tornou muito cansativo
para todos, pois durante o dia, as professoras e os jovens trabalhavam na roça e
passados cerca de seis meses, muitos alunos já apresentavam indisposição para a
caminhada ao antigo casarão, neste caso, uma das professoras muito preocupada
com a evasão dos alunos, resolveu transferir as aulas para o terraço de sua casa,
mesmo sendo pequeno para comportá-los era a melhor opção para continuar seu
trabalho de alfabetização. Durante muito tempo as aulas ocorreram ali até a
construção de um galpão ao lado da casa dessa mesma professora, e com a ajuda
do seu marido, o construiu com recursos próprios.
No galpão/escola, existia uma turma multisseriada de jovens e adultos da 1ª e
2ª séries do Ensino Fundamental I, já as crianças foram para o galpão da
associação de trabalhadores rurais na própria comunidade. Como resultado desse
interesse pela escolarização no próprio assentamento, essa iniciativa de alfabetizar
as crianças e os jovens do assentamento se prolongou por mais dois anos. O mais
importante nessa atitude, foi o fato de existir a preocupação com a educação das
crianças e dos jovens daquela comunidade. O interesse de alfabetizá-los mesmo em
condições desfavoráveis de infraestrutura foi imprescindível para que toda a
comunidade entendesse que precisariam se mobilizar para construir uma escola e
ofertar uma educação de mais qualidade para atender toda comunidade.
A Educação no Campo foi uma causa que toda comunidade de Campo Verde
não mediu esforços para conseguir. Na fala de uma assentada que vivenciou esse
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período, percebe-se a importância da implantação dessa unidade escolar dentro do
próprio assentamento:
Foi uma coisa muito boa, nós faláva que seria bom pra nossos filhos
estudar aqui na vila mermo, a escola era uma coisa que tava faltano aqui,
pois a terra nós já tinha conseguido, mas essa conquista só seria completa
se nossas criança pudesse aprender a ler e a escrever pra não crescer sem
sabedoria como nós (Agricultora assentada de Campo Verde, 2011).
A preocupação dos novos assentados com a educação dos filhos e filhas fica
demonstrada nesta fala. Outro detalhe significativo foi o entendimento de que seria
bom que as crianças fossem escolarizadas no próprio assentamento, já que uma
das alternativas utilizadas para que elas tivessem acesso à escola era o
deslocamento para outras comunidades rurais, mais especificamente para a
comunidade de Una de São José, distante cerca de 15 quilômetros do
Assentamento Campo Verde, ou ter que se deslocar para estudar nas escolas da
zona urbana.
Nos movimentos sociais do campo, a discussão sobre o acesso à educação
não se restringe ao fato de ela apenas ser ofertada aos camponeses, mas que seja
ofertada onde eles estão. Portanto, eis a importância do conceito de Educação no
Campo, ou seja, também educar onde os discentes vivem, sem ser obrigados a se
deslocar para outros lugares em busca de um bem que poderia ser ofertado no
mesmo local onde residem. Damasceno (1993) esclarece que a realidade da vida no
campo não deve, em momento algum ser suprimida, pois ao analisá-la
profundamente, pode-se enxergar suas perspectivas e aprender muito com elas. A
autora afirma que
Para isso, torna-se necessário captar e interpretar o sentido que os próprios
camponeses tem de sua realidade, aprender com eles como vivem, como
pensam, como produzem suas concepções, desvelando assim, sua
mentalidade, suas novas direções e perspectivas (DAMASCENO, 1993, p.
54).
No tocante à educação ofertada onde os discentes estão – no campo – é
importante relembrar que essa educação também seja “do campo”, pois ela precisa
ser pensada a partir da realidade desses discentes, ela precisa ser feita por eles e
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para eles, pela própria comunidade, por professores que conheçam a realidade
camponesa, por militantes de movimentos sociais camponeses, enfim, por pessoas
que mesmo não sendo camponesas, reconheçam que a realidade camponesa exige
um tratamento diferenciado da realidade urbana. Por isso, não são poucos os
assentamentos brasileiros que exigem e lutam por uma educação no campo e do
campo. Essa prática de requerer a educação dos gestores públicos não foi uma
atitude isolada dos assentados de Campo Verde, trata-se de uma tendência que
vem ocorrendo com mais frequência, na medida em que os camponeses tomam
conhecimento do que querem reivindicar coletivamente, estão exercendo seus
direitos de cidadãos. Porém, nem sempre essas escolas camponesas que surgiram
da reivindicação popular junto aos governantes locais trazem consigo uma educação
“do campo”, mas são apenas escolas no campo, conforme abordado anteriormente.
Sobre essa realidade do campo brasileiro, Batista (1996) esclarece que
As demandas das lutas pela educação se dirigem ao Estado porque os
movimentos entendem que é dele o dever de prover a educação pública. No
entanto é preciso saber se essas lutas resultaram em alguma
modificação/direção na política educacional adotada pelo Estado voltada
para os interesses dos segmentos que reivindicam a educação pública
(BATISTA, 1996, p. 147).
A clareza encontrada na fala dessa autora, nos inquieta quanto às reais
intenções daqueles que atendem as reivindicações das classes populares do campo
brasileiro. Outro aspecto importante que deverá ser avaliado pelos movimentos
sociais do campo é que nem sempre requerer algo significa que seja bom para
todos. No caso específico da educação, não é interessante um assentamento rural
receber do estado ou do município uma escola que ofereça uma educação
dissociada de sua realidade camponesa, onde se destoa à própria ação da luta pela
terra que os camponeses vivenciaram antes da criação do assentamento.
A Educação do Campo é uma reivindicação justa dos camponeses e dos
movimentos sociais do campo, como o MST e a CPT, que têm como aliados vários
intelectuais, pesquisadores e instituições que defendem as causas camponesas, e
que explicitam que os povos do campo não deverão ser excluídos da oferta de uma
educação que atenda suas expectativas como camponeses que vivem e trabalham
para garantir o andamento da sua produção familiar no campo, em contraposição às
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“plantations” que em geral, concentram renda e geram exclusão, além de causar
dependência da nossa economia junto aos países importadores das nossas
commodities agrícolas. Também é importante frisar que são muitos os casos de
disputas por terras que, com recorrente vitória das elites sobre os camponeses,
ocorre a eliminação da história de vida deles. Na maioria dos casos, eles são
expropriados e expulsos das terras onde construíram, ao longo de décadas, uma
história de trabalho, amor e dedicação ao campo, ao chão em que viviam.
3.1 A Escola Municipal João Alexandre da Silva e o Projeto Político
Pedagógico (PPP) – realidade e desafios
Só em 2000, três anos após a criação do assentamento, iniciou-se a
construção de uma unidade escolar destinada a alfabetização das crianças e jovens
do assentamento. A construção dessa unidade escolar obedeceu ao cronograma de
construção de duas salas de aula, uma secretaria, dois banheiros e uma cantina.
A escola foi inicialmente denominada de Escola Municipal de Campo Verde,
em alusão ao nome do próprio assentamento, porém, em 2006 ocorreu sua
ampliação com a construção de mais uma sala de aula, conferindo-lhe uma área
construída de 341 m². Após essa reforma, a escola foi reinaugurada e passou a se
chamar Escola Municipal João Alexandre da Silva, em homenagem a um antigo
morador. A escola passou a oferecer o Ensino Fundamental I (1º ao 5º anos) diurno
e EJA (1º ao 5º anos) noturno. Já outros jovens foram contemplados com um
transporte escolar mais adequado para as localidades rurais mais próximas que
tinham escolas com o ensino regular como o Ensino Fundamental II e o Ensino
Médio.
Apesar de a Escola João Alexandre da Silva atender formalmente às crianças
e aos jovens do Assentamento Campo Verde, percebe-se que alguns desafios ainda
estão postos, dentre eles, destaco o fato de que seu calendário, seu currículo
escolar e suas metodologias empregadas no processo ensino-aprendizagem
precisam se aproximar do que propõem a LDB 9394/96, a Resolução do CNE/CEB 1
– 2002 e ainda do documento produzido pela Articulação Nacional Por Uma
Educação do Campo: Declaração de 2002, quando reconhecem que
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Os povos do campo têm uma raiz cultural própria, um jeito de viver e de
trabalhar, distinta do mundo urbano, e que inclui diferentes maneiras de ver
e de se relacionar com o tempo, o espaço, o meio ambiente, bem como de
viver e de organizar a família, a comunidade, o trabalho e a educação. Nos
processos em que produzem sua existência vão também se produzindo
como seres humanos (In: ARROYO; CALDART; MOLINA, 2008, p. 208).
O que se espera de uma escola camponesa é que os elementos que
compõem a cultura do campo sejam preservados, pois o campo apresenta suas
próprias especificidades. Sua cultura é diferente da cultura urbana, não sendo mais
possível admitir que tais escolas privilegiem mais a cultura urbana e secundarize a
camponesa. Por isso, é que a mobilização em defesa da Escola do Campo ganha
expressivamente mais defensores convencidos de que os povos do campo têm o
direito de participar das discussões didático-pedagógicas que envolvem a educação
que lhes é disponibilizada.
Outro desafio aqui apresentado e que requer maior atenção da Secretaria
Municipal de Educação é que a escola do Assentamento Campo Verde oferece
como ensino regular apenas o Ensino Fundamental I (do 1º ao 5º ano), e ao concluir
esse ciclo de estudos, a maioria das crianças do assentamento precisam se
deslocar até a sede do município ou para a comunidade rural de Una de São José
para cursar regularmente o Ensino Fundamental II e o Ensino Médio. Os pais
unanimemente concordaram que o ideal seria que a Escola Municipal João
Alexandre da Silva também oferecesse o Ensino Fundamental II, para que houvesse
a possibilidade de seus filhos permanecerem mais tempo na própria comunidade.
Esse anseio dos pais das crianças e dos jovens do Assentamento Campo Verde se
coaduna com o entendimento de Ribeiro (2010, p. 173) quando afirma que “na
atualidade, o movimento camponês faz um diagnóstico que evidencia a necessidade
de políticas públicas dirigidas aos interesses dos trabalhadores da terra”. Segundo
ela, existe a reivindicação de uma educação desde a Educação Infantil até o Ensino
Médio, que por sua vez, representam o Ensino Básico no próprio espaço de vivência
dos camponeses assentados.
Analisando os Parâmetros Curriculares Nacionais de Geografia (1998),
conclui-se ser importante associar o ensino da Geografia à realidade dos discentes,
pois alguns conceitos básicos da Geografia como: Território, Região, Paisagem e
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Lugar, estão tanto direta quanto indiretamente integrados à vida dos discentes e das
pessoas como um todo, cabendo aos professores que estão mais próximos dos
discentes assumir a responsabilidade de trazer à tona a discussão sobre a
valorização da realidade vivenciada por eles:
É imprescindível o convívio do professor com o aluno em sala de aula, no
momento em que pretender desenvolver algum pensamento crítico da
realidade por meio da Geografia. É fundamental que a vivência do aluno
seja valorizada e que ele possa perceber que a Geografia faz parte do seu
cotidiano, trazendo para o interior da sala de aula, com a ajuda do
professor, a sua experiência (BRASIL – PARÂMETROS CURRICULARES
NACIONAIS DE GEOGRAFIA, 1998, p. 30).
No caso dos discentes camponeses, sua realidade e experiências cotidianas
não poderão ficar de fora do processo de ensino-aprendizagem, pois dialogar sobre
o dia-a-dia desses educandos facilitará a prática do ensino e estimulará neles o
desenvolvimento da capacidade crítica de pensar, repensar e transformar para
melhor o lugar onde vivem, tendo por base a concepção do coletivo e do comum.
Para Pontuschka; Paganelli; Cacete (2009, p. 75) os PCN’s de Geografia,
elaborados para uso no Ensino Fundamental, “propõem um trabalho pedagógico que
visa ampliar as capacidades dos alunos de observar, conhecer, explicar, comparar e
representar as características do lugar onde vivem”. Entretanto, para que esses
objetivos sejam plenamente alcançados é preciso que haja um trabalho articulado
pelos docentes no sentido de trazer o cotidiano dos educandos para sua pauta de
atuação pedagógica.
4 – Resultados
O principal resultado das pesquisas bibliográfica, documental e de campo
realizadas entre os anos de 2009 e 2011 foi a produção de uma dissertação de
mestrado defendida em agosto de 2011 no Programa de pós-graduação em
Geografia da Universidade Federal da Paraíba. Além, claro, de uma série de rodas
de conversas com docentes, discentes, lideranças sindicais e comunitárias sobre a
importância da educação do/no campo, sobre o PRONERA e sobre a importância do
ato político que os assentados tiveram ao ocupar a Secretaria Municipal de
Educação exigindo a construção de uma escola para atender seus filhos.
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No entanto, destaco que o principal objetivo deste trabalho acadêmico foi o de
contribuir criticamente para que alguns pontos educacionais estruturantes relativos à
educação camponesa sejam reavaliados pela direção da escola, pelos docentes e
pela Secretaria Municipal de Educação. Entendemos que os diversos temas aqui
discutidos
se
prestem
a
melhorar
quantitativamente
e
principalmente
qualitativamente os investimentos na educação camponesa, não apenas na escola
pesquisada, mas também nas outras escolas dos assentamentos rurais do município
paraibano de Pedras de Fogo.
5 – Considerações finais
Depois de toda perseverança a escola foi construída através do esforço
coletivo e da perseverança daqueles que acreditaram na luta pela educação no/do
campo. Foi um ato politizado, mesmo partindo majoritariamente de pessoas sem
grande instrução escolar, mas com uma grande instrução da vida. Hoje, é
significativo o número de jovens e adultos que conseguiram uma formação técnica
ou superior graças ao empenho das assentadas e assentados de Campo Verde que
não se conformaram apenas com a posse da terra, mas que entenderam que a
educação os ajudaria a permanecer nela. Romper diversas barreiras impostas pela
burocracia governamental e pela elite latifundiária é uma árdua missão, mas que se
traduz num grande momento de união e empoderamento por parte dos camponeses
que descobriram desde muito tempo que lutar coletivamente é uma das principais
armas contra o descaso e a falta de políticas públicas adequadas para os povos do
campo.
6 – Referências
ARROYO, M. G; CALDART, R. S; MOLINA, M. C. (Orgs.). Por uma educação do
campo. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.
BATISTA, M. S. X. Os movimentos sociais e as lutas por educação. In: CALADO, A.
J. F. (Org.). Movimentos Sociais, Estado e Educação no Nordeste. João Pessoa:
Idéia, 1996. p.137-154.
BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. CÂMARA DE EDUCAÇÃO
BÁSICA. Resolução CNE/CEB n.º 02, de 11 de setembro de 2001. Diretrizes
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Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Diário Oficial da União,
14 de setembro de 2002.
BRASIL. LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL - LDB: Lei nº
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DAMASCENO, M. N. A construção do saber social pelo camponês na sua prática
produtiva e política. In: THERRIEN, J; DAMASCENO, M. N. (Coords.). Educação e
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Formação e trabalho pedagógico).
PONTUSCHKA, N. N; PAGANELLI, T. I; CACETE, N. H. Para ensinar e aprender
Geografia. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2009. (Coleção Docência em Formação –
Série Ensino Fundamental).
RIBEIRO, M. Movimento camponês, Trabalho e Educação: liberdade, autonomia,
emancipação: princípios/fins da formação humana. 1. ed. São Paulo: Expressão
Popular, 2010.
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